REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11194543
Richard Barbosa Coimbra1; Lídia Alves Pereira2; Geórgia Ribeiro Carvalho3; Bruno Campos de Souza4; Isadora Leal Galvão Navarro e Melo5; Beatriz Lemos Baptistela6; Ana Beatriz Nunes Paiva do Amaral7; Ana Carolina Vilela Orsi8; Elias José Guedes Lima9; Taynara Fraga da Silva10; Fabiana Sousa de Macedo11; Orientador: Victor da Costa Sacksida Valladão12
Resumo
A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) é uma condição médica caracterizada pelo retorno anormal do conteúdo gástrico do estômago para o esôfago, o que pode causar sintomas e até mesmo dano ao tecido esofágico. Esta condição decorre do funcionamento inadequado do esfíncter esofágico inferior (EEI), que normalmente funciona como uma válvula entre o esôfago e o estômago, prevenindo o refluxo dos ácidos estomacais. Logo, esta revisão narrativa de literatura reuniu artigos das principais bases de dados objetivando indicar quais são as opções cirúrgicas disponíveis para o tratamento da DRGE. Percebeu-se que os principais métodos de terapia cirúrgica para o tratamento de DRGE incluem: fundoplicatura de Nissen, fundoplicatura parcial, esfincteroplastia de Hill, gastropexia e implantação de dispositivos.
Palavras-chave: Refluxo Gastroesofágico; Cirurgia Geral; Terapêutica.
1. INTRODUÇÃO
A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) é uma condição médica caracterizada pelo retorno anormal do conteúdo gástrico do estômago para o esôfago, o que pode causar sintomas e até mesmo dano ao tecido esofágico. Esta condição decorre do funcionamento inadequado do esfíncter esofágico inferior (EEI), que normalmente funciona como uma válvula entre o esôfago e o estômago, prevenindo o refluxo dos ácidos estomacais (CLARRETT e HACHEM, 2018; RICHTER e RUBENSTEIN, 2018).
A DRGE pode ser influenciada por vários fatores, incluindo obesidade, dieta, estilo de vida sedentário, tabagismo e consumo de álcool. Além disso, condições como hérnia de hiato, onde uma parte do estômago se protrai para o tórax através do hiato diafragmático, também podem predispor ao desenvolvimento da DRGE (MUNGAN e ŞIMŞEK, 2017; ANTUNES, ALEEM e CURTIS, 2023).
Sem tratamento adequado, a DRGE pode levar a complicações sérias, como esofagite erosiva, estreitamento esofágico (estenose), úlceras esofágicas, e um aumento do risco de esôfago de Barrett, uma condição pré-maligna onde o tecido esofágico normal é substituído por tecido anormal mais resistente ao ácido.
Em 2021, um estudo feito por TARASZEWSKA afirma o seguinte:
A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) é uma das doenças mais comuns do trato gastrointestinal superior. O sintoma mais característico da doença é a azia, que ocorre pelo menos uma vez por semana. A prevalência da doença varia e, dependendo da região do mundo, pode afetar desde alguns até mais de 30% da população adulta. Estima-se que na Polónia esta doença possa afectar até 35,5% dos adultos que relatam doenças abdominais. Se não for tratada, a doença pode levar a complicações graves, incluindo condições pré-cancerosas e adenocarcinoma esofágico. A farmacoterapia é considerada o tratamento de primeira linha em pacientes com DRGE, mas as modificações no estilo de vida, incluindo mudanças na dieta, são um elemento importante de apoio ao tratamento da doença. Muitos fatores podem contribuir para o desenvolvimento da doença. Entre eles, existem fatores não modificáveis, como idade, sexo ou fatores genéticos, e fatores modificáveis, como estilo de vida, dieta, peso corporal excessivo. Os fatores de risco do estilo de vida que podem contribuir para os sintomas da DRGE incluem peso corporal excessivo, particularmente obesidade, consumo moderado/alto de álcool, tabagismo, atividade física pós-prandial e vigorosa, bem como falta de atividade física regular. Muitos estudos indicam alimentos/produtos gordurosos, fritos, azedos, condimentados, suco de laranja e toranja, tomate e conservas de tomate, chocolate, café/chá, bebidas carbonatadas e álcool como desencadeadores dos sintomas da DRGE. Hábitos alimentares como padrão alimentar irregular, grande volume de refeições, refeições pouco antes de dormir podem estar correlacionados com os sintomas da DRGE. O papel do estilo de vida, da dieta e dos hábitos alimentares como fatores de risco para a DRGE não é claramente compreendido e os resultados dos estudos disponíveis são frequentemente contraditórios. A determinação de fatores de risco modificáveis para esta doença e seus sintomas é importante para uma prevenção dietética eficaz e dietoterapia da DRGE.
Apesar da opção terapêutica baseada em uso de fármacos associados às mudanças de dieta e estilo de vida, alguns casos mais severos podem necessitar de uma abordagem cirúrgica para sua resolução (SHARMA e YADLAPATI, 2021; NESS-JENSEN et al., 2016).
Portanto, tendo em vista a grande importância de abordar os aspectos deste tema, o estudo presente possui o objetivo principal de indicar quais são as opções cirúrgicas disponíveis para o tratamento da doença do refluxo gastroesofágico.
2. METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão narrativa de literatura que utilizou artigos publicados de forma integral e gratuita nas bases de dados U.S. National Library of Medicine (PUBMED) e Scientific Electronic Library Online (SciELO). Deu-se preferência para a bibliografia publicada nas línguas inglesa, portuguesa, espanhola e francesa, considerando o domínio de pelo menos um autor do estudo em cada idioma, garantindo uma tradução mais fidedigna do conteúdo revisado. O unitermo utilizado para a busca foi “Gastroesophageal Reflux”, presente nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS).
Objetivando uma abordagem mais atual acerca do objetivo almejado, um recorte temporal foi incorporado à filtragem, que incluiu pesquisas publicadas nos últimos dez anos. No entanto, livros referência da medicina também foram consultados no intuito de melhor conceituar os termos aqui utilizados, trazendo maior assertividade e confiabilidade aos resultados obtidos pela pesquisa.
Durante o mês de abril de 2024, os autores deste estudo se dedicaram a uma busca minuciosa pelos estudos elegíveis dentre aqueles encontrados. A seleção incluiu a leitura dos títulos dos trabalhos, excluindo aqueles cujo tema não era convergente com o aqui abordado. Posteriormente, realizou-se a leitura integral dos estudos e apenas 50 dos 1445 artigos encontrados foram utilizados aqui de alguma forma, conforme exemplificado pelas figuras a seguir (Figura 1 e 2):
Figura 1 – Artigos encontrados na PUBMED: metodologia utilizada
Fonte: De autoria própria, 2024.
Figura 2 – Artigos encontrados na SciELO: metodologia utilizada
Fonte: De autoria própria, 2024.
Além disso, vale também ressaltar que o presente estudo dispensou a submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), tendo em vista que não aborda e nem realiza pesquisas clínicas em seres humanos e animais. Por conseguinte, asseguram-se categoricamente os preceitos dos aspectos de direitos autorais dos autores vigentes previstos na lei brasileira (BRASIL, 2013).
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS
Pode-se dizer que existem cinco opções de tratamento cirúrgico para o tratamento da doença do refluxo gastroesofágico (DRGE): fundoplicatura de Nissen, fundoplicatura parcial, esfincteroplastia de Hill, gastropexia e implantação de dispositivos (sistema LINX e EndoCinch) (CHHABRA e INGOLE, 2022; DAĞLI e KALKAN, 2017; JUNG et al., 2021; LIANG et al., 2022; TALLEY e IRANI, 2021).
Primeiramente, a fundoplicatura de Nissen é a cirurgia mais comum para tratar a DRGE. Neste procedimento, a parte superior do estômago (fundo) é enrolada em torno da parte inferior do esôfago, criando uma barreira mecânica para o refluxo ácido. Essa “camisa” reforça o esfíncter esofágico inferior (EEI) e impede que o conteúdo do estômago volte para o esôfago. É realizada geralmente por laparoscopia, o que reduz o tempo de recuperação e minimiza a dor pós-operatória (QUILICI, SANTANA e GALVÃO-ALVES, 2019)
Quanto à técnica de fundoplicatura parcial, pode-se afirmar que existem variações da técnica onde apenas uma parte do fundo do estômago é usada para envolver o esôfago. Exemplos incluem a fundoplicatura de Toupet (270 graus) e a fundoplicatura de Dor (anterior, 180 graus). Estas são geralmente utilizadas em pacientes que têm problemas de motilidade esofágica, pois podem menos provavelmente causar complicações como dificuldade em engolir (disfagia).
A esfincteroplastia de Hill é um procedimento menos comum que envolve o aperto do ligamento ao redor do EEI, aumentando sua pressão e impedindo o refluxo. Não envolve a criação de uma “camisa” ao redor do esôfago, o que pode ser uma vantagem em certos casos clínicos específicos (DANI e PASSOS, 2011).
Já a gastropexia é um procedimento raramente usado que fixa o estômago à parede abdominal para prevenir o refluxo. É mais frequentemente utilizado em casos de hérnia hiatal gigante ou quando outros procedimentos não são viáveis (BLAKE et al., 2022).
Quanto à implantação de dispositivos, o sistema LINX é um dispositivo mais recente, que consiste em um anel de pequenos ímãs cirúrgicos, é colocado ao redor do esfíncter esofágico inferior. Os ímãs ajudam a manter o esfíncter fechado para impedir o refluxo, mas ainda permitem que ele se abra durante a deglutição. Esta opção é minimamente invasiva e reversível. Já o EndoCinch é um procedimento endoscópico que envolve suturar o EEI para apertá-lo, embora não seja tão comum quanto as outras opções devido a resultados mistos em termos de eficácia a longo prazo (MAHMOOD et al., 2003; NOOM, DUNHAM e DUCOIN, 2023; RETTURA et al., 2021; SCHIZAS et al.. 2020).
Ademais, cada um desses tratamentos tem seus próprios benefícios, riscos e indicações específicas, e a escolha de um procedimento sobre outro depende das condições médicas específicas do paciente, da severidade dos sintomas, da presença de complicações da DRGE, e das preferências do paciente e do cirurgião. É crucial uma discussão detalhada entre um gastroenterologista e um cirurgião especializado em tratamentos gastrointestinais para avaliar a melhor opção terapêutica para cada caso individual.
4. CONCLUSÃO
Os principais métodos de terapia cirúrgica para o tratamento de DRGE incluem: fundoplicatura de Nissen, fundoplicatura parcial, esfincteroplastia de Hill, gastropexia e implantação de dispositivos (sistema LINX e EndoCinch).
Ademais, os autores deste estudo entendem que há diversas lacunas existentes no trabalho no que diz respeito à grande abrangência do tema e suas peculiaridades. Logo, fomenta-se novas pesquisas que visem preencher essas lacunas e disseminar conhecimento científico.
REFERÊNCIAS
ANTUNES, C.; ALEEM, A.; CURTIS, S.A. Gastroesophageal Reflux Disease. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023.
BLAKE, K.E. et al. Comparing anterior gastropexy to no anterior gastropexy for paraesophageal hernia repair: a study protocol for a randomized control trial. Trials, v. 23, n. 1, p. 616, 2022.
BRASIL. Lei Nº 12.853. Brasília: 14 de agosto de 2013. Acesso em 01 de novembro de 2023.
CHHABRA, P.; INGOLE, N. Gastroesophageal Reflux Disease (GERD): Highlighting Diagnosis, Treatment, and Lifestyle Changes. Cureus, v. 14, n. 8, p. e28563, 2022.
CLARRETT, D.M.; HACHEM, C. Gastroesophageal Reflux Disease (GERD). Missouri Medicine, v. 115, n. 3, p. 214-218, 2018.
DANI, R.; PASSOS, M.C.F. Gastroenterologia Essencial. 4ª edição. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2011.
DAĞLI, Ü.; KALKAN, İ.H. The role of lifestyle changes in gastroesophageal reflux diseases treatment. Turkish Journal of Gastroenterology, v. 28, Suppl 1, S33-S37, 2017.
JUNG, H.K. et al. 2020 Seoul Consensus on the Diagnosis and Management of Gastroesophageal Reflux Disease. Journal of Neurogastroenterology and Motility, v. 27, n. 4, p. 453-481, 2021.
LIANG, S.W. et al. Current advances in the diagnosis and management of gastroesophageal reflux disease. Tzu Chi Medical Journal, v. 34, n. 4, p. 402-408, 2022.
MAHMOOD, Z. et al. Endocinch therapy for gastro-oesophageal reflux disease: a one year prospective follow up. Gut, v. 52, n. 1, p. 34-39.
MUNGAN, Z.; ŞIMŞEK, B.P. Which drugs are risk factors for the development of gastroesophageal reflux disease? Turkish Journal of Gastroenterology; v. 28, Suppl 1, p. S38-S43, 2017.
NESS-JENSEN, E. et al. Lifestyle Intervention in Gastroesophageal Reflux Disease. Clinical Gastroenterology and Hepatology, v. 14, n. 2, p. 175-182, 2016.
NOOM, M.J.; DUNHAM, A.; DUCOIN, C.G. Resolution of Roemheld Syndrome After Hiatal Hernia Repair and LINX Placement: Case Review. Cureus, v. 15, n. 4, p. e37429.
RETTURA, F. et al. Refractory Gastroesophageal Reflux Disease: A Management Update. Front Med (Lausanne), 8:765061, 2021.
RICHTER, J.E.; RUBENSTEIN, J.H. Presentation and Epidemiology of Gastroesophageal Reflux Disease. Gastroenterology, v. 154, n. 2, p. 267-276, 2018.
SCHIZAS, D. et al. LINX® reflux management system to bridge the “treatment gap” in gastroesophageal reflux disease: A systematic review of 35 studies. World J Clin Cases, v. 8, n. 2, p. 294-305, 2020.
SHARMA, P.; YADLAPATI, R. Pathophysiology and treatment options for gastroesophageal reflux disease: looking beyond acid. Annals of the New York Academy of Sciences, v. 1486, n. 1, p. 3-14, 2021.
TALLEY, N.J.; IRANI, M.Z. Optimal management of severe symptomatic gastroesophageal reflux disease. J Intern Med, v. 289, n. 2, p. 162-178, 2021.
TARASZEWSKA, A. Risk factors for gastroesophageal reflux disease symptoms related to lifestyle and diet. Rocz Panstw Zakl Hig, v. 72, n. 1, p. 21-28, 2021.
QUILICI, F.A.; SANTANA, N.P.; GALVÃO-ALVES, J. A gastroenterologia no século XXI: manual do residente da Federação Brasileira de Gastroenterologia. Barueri: Editora Manole, 2019.
1Graduando em Medicina pelo Centro Universitário Atenas. richard.barbosa705@gmail.com
2Graduanda em Medicina pelo Centro Universitário Atenas. lidiaalvesp3@gmail.com
3Graduanda em Medicina pela Universidade Professor Edson Antônio Velano. georgia.ribeirocarvalho@gmail.com
4Graduando em Medicina pela pela Universidade Professor Edson Antônio Velano. brunoops2@outlook.com
5Graduanda em Medicina pela Universidade Professor Edson Antônio Velano. isadora.leal@aluno.unifenas.br
6Graduanda em Medicina pelo Centro Universitário Atenas. beatrizbaptistela@hotmail.com
7Graduanda em Medicina pela Universidade Potiguar. anabeatriznpa@gmail.com
8Graduando em Medicina pelo Centro Universitário Atenas. anacarolina.orsi@yahoo.com.br
9Médico pela Universidade de Vassouras, Residente de Cirurgia Geral pelo Hospital Municipal Dr. Munir Rafful. ejguedeslima@gmail.com
10Médica, residente em Cirurgia Geral pelo Hospital Municipal Dr. Munir Rafful. taynarafraga71@gmail.com
11Médica pelo Instituto Tocantinense Presidente Antonio Carlos Porto (ITPAC Porto). byannasousa@hotmail.com
12Médico pela Universidade Federal de Rondônia, residente em Cirurgia Geral no Hospital Universitário UFSC Seria como último autor, pois ele é orientador do trabalho. E-mail: victordcsvalladao@gmail.com