ABERTURA CORONÁRIA E AS FRATURAS OCORRIDAS NA INSTRUMENTAÇÃO DO TERÇO CERVICAL COM AS BROCAS GATES GLIDDEN E LARGO

CORONARY OPENING AND FRACTURES OCCURRING IN INSTRUMENTATION OF THE CERVICAL THIRD WITH GATES GLIDDEN AND LARGO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7975844


Ana Paula Mathara dos Santos1
Valéria Dias Santos2
Leonardo Fiori3
Paulo Roberto Marão de Andrade Carvalho4
Maria Fernanda Borro Bijella5
Rodrigo Jacon Jacob5
Rogerio Batista da Costa5
Joao Carlos Vicente de Barros Junior5
Regina Marcia Serpa Pinheiro5
Chimene Kuhn Nobre5


RESUMO

A endodontia é uma área da odontologia que se concentra no diagnóstico, tratamento e prevenção de doenças e lesões da polpa dentária e dos tecidos ao redor da raiz do dente. Durante a realização do procedimento de abertura coronária e de instrumentalização do terço cervical podem ocorrer fraturas, durante a utilização das brocas Gates Glidden e os Largos. Não existe um único motivo para essas ocorrências, portanto, o artigo busca apresentar através de uma revisão de literatura as principais causas da ocorrência dessas fraturas. O campo da endodontia busca promover a saúde bucal sendo um importante campo dentro da odontologia, por utilizar instrumentos e procedimentos invasivos, faz-se necessário a promoção de estudos, pesquisas e discussões que visem a segurança do paciente, assim como a redução de possíveis riscos, a exemplo das fraturas em decorrência de instrumentos. Como resultados, obteve-se como causas para as fraturas pela utilização de brocas Gates Glidden e Largos: curvaturas acentuadas no canal, falta de técnica do profissional, uso indevido das ferramentas, materiais dos instrumentos, e possíveis imprevistos durante o procedimento. 

Palavras-chave:  Endodontia. Broca Gates Glidden. Largo. Terço Cervical.

ABSTRACT

Endodontics is an area of dentistry that focuses on the diagnosis, treatment and prevention of diseases and injuries of the dental pulp and the tissues surrounding the tooth root. During the coronary opening procedure and the instrumentation of the cervical third, fractures can occur during the use of the Gates Glidden burs and the Largos. There is not a single reason for these occurrences, therefore, this article aims to present through a literature review the main causes of these fractures. The field of endodontics seeks to promote oral health, being an important field within dentistry, and because it uses invasive instruments and procedures, it is necessary to promote studies, research and discussions aimed at patient safety, as well as the reduction of possible risks, such as fractures due to instruments. As results, the causes of fractures due to the use of Gates Glidden and Largos burs were: accentuated curvatures in the canal, lack of professional technique, improper use of tools, the materials of the instruments, and possible unforeseen events during the procedure.

Keywords: Endodontia. Glidden Drill Gates. Largo. Terço cervical.

1 INTRODUÇÃO

O conceito de endodontia envolve o tratamento de problemas que afetam a polpa dentária, que é o tecido mole localizado no centro do dente. A polpa contém vasos sanguíneos, nervos e tecido conjuntivo, sendo responsável por nutrir e fornecer sensibilidade ao dente durante seu desenvolvimento. No entanto, quando a polpa está inflamada, infectada ou danificada devido a cáries, fraturas, trauma ou outras condições, é necessária uma intervenção endodôntica para preservar o dente.

O procedimento mais comum realizado na endodontia é a chamada terapia de canal radicular, popularmente conhecida como “tratamento de canal”. Consiste na remoção cuidadosa da polpa inflamada ou infectada, limpeza, modelagem e preenchimento dos canais radiculares com material obturador, seguido pela restauração do dente com uma obturação permanente ou coroa dental.

O objetivo da endodontia é aliviar a dor, eliminar a infecção e preservar o dente natural sempre que possível. Em casos mais complexos, pode ser necessário realizar procedimentos adicionais, como cirurgia endodôntica para tratar lesões na raiz do dente ou retratamento de canal para corrigir problemas persistentes após um tratamento inicial.

É importante ressaltar que a endodontia desempenha um papel fundamental na preservação da saúde bucal, pois permite manter os dentes naturais em função e estética adequadas, evitando a extração dentária e a necessidade de substituição por próteses ou implantes dentários.

A realização de um tratamento endodôntico segue etapas que devem ser respeitadas e bem conduzidas para que o resultado final alcance o sucesso. A abertura coronária é a primeira etapa do tratamento endodôntico e consiste no acesso à câmara pulpar através da face lingual e oclusal do dente, de modo a permitir um acesso direto aos canais radiculares. 

O objetivo da abertura coronária é permitir o acesso ao interior da cavidade pulpar, por meio da remoção do  teto  da  câmara  pulpar  e desgastes  em  regiões  específicas,  a  fim  de  realizarmos  um  correto  preparo biomecânico e obturação dos canais radiculares.

A abertura coronária deverá sempre ser realizada com razoável conhecimento da anatomia interna dentária, para que esse processo ocorra de forma segura e efetiva, antes da abertura é indicado a realização de uma radiografia. Através da radiografia o dentista obtém uma ideia espacial da conformação que a câmara pulpar, além da dimensão dessa concepção espacial, auxiliando no tratamento endodôntico. (ALVARES, 1995).

Outro ponto importante acerca do preparo cervical com brocas e a segurança durante o procedimento no preparo do canal, além de, reduzir o tempo despendido na realização do tratamento endodôntico. (ABOU-RASS; JASTRAD, 1982). 

No que versa sobre esse tratamento, cumpre destacar que apresenta três importantes etapas para o controle da infecção, sendo elas: o preparo químico-mecânico, medicação intracanal e a obturação do sistema de canais radiculares. (ABOU-RASS; JASTRAD, 1982).

O presente trabalho tem como objetivo geral discutir abertura coronária e as fraturas ocorridas na instrumentação do terço cervical com as brocas gates glidden e largo. Dando ênfase nas fraturas ocorridas com o uso destes instrumentos. O artigo utilizou como metodologia a revisão de literatura. 

2 MATERIAL E MÉTODOS

A metodologia utilizada neste projeto foi a revisão de literatura, busca-se um aprofundamento no tema  Abertura coronária e as fraturas ocorridas na instrumentação do terço cervical com as brocas Gates Glidden e Largo. Com isso procurou-se observar sucintamente sobre a endodontia é a paramentação e instrumentação na abertura coronária, sendo assim descrever como ocorre  a utilização das brocas durante o processo e as estratégias relacionadas.

A metodologia de revisão de literatura é um processo sistemático de busca, seleção, análise e síntese de informações relevantes sobre um determinado tópico de pesquisa. É uma etapa importante em estudos acadêmicos e científicos, pois permite identificar o estado atual do conhecimento sobre o assunto em questão e embasar teoricamente a pesquisa. (GIL, 2002)

Em sua obra intitulada “Como elaborar projetos de pesquisa” Antônio Carlos Gil, apresentou um modelo de passos e etapas a serem seguidos. Sendo eles: definição do problema; identificação das fontes; seleção dos estudos, análise crítica, síntese e por fim a escrita do trabalho. (GIL, 2002). 

Definição do problema de pesquisa inicia-se com a formulação de uma pergunta norteadora, clara e bem definida, que auxilia no direcionamento da pesquisa ao identificar estudos e literaturas relevantes. (GIL, 2002). No caso do atual trabalho, o questionamento norteador foi “  Quais as fraturas ocorridas na instrumentação do terço cervical com as brocas gates glidden e largo”. 

O próximo passo proposto pela metodologia proposta é a identificação das fontes de informação. O que incluiu a pesquisa das bases de dados acadêmicas, periódicos, livros, teses, conferências, entre outros. Seguido da seleção dos estudos, onde uma busca  sistemática nas fontes de informação, onde trabalhos e artigos pertinentes a construção do trabalho foram selecionados. Por fim, ocorreu a análise dos trabalhos e a construção da síntese seguida da escrita. (GIL, 2002).

Cumpre destacar que as bases utilizadas para a seleção das obras utilizadas na revisão de literatura foram: BVS ODONTOLOGIA (Biblioteca Virtual em Saúde e Odontologia), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), Business Source Complete (EBSCO) e Scientific Electronic Library Online (Scielo). 

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES 

3.1 Abertura coronária 

É um procedimento operatório por qual se abre a câmara pulpar, obtendo  um acesso direto à entrada dos canais radiculares. Na etapa da abertura coronária deve-se  relembrar a importância do conhecimento preciso da morfologia interna da câmara pulpar. também é de suma importância o conhecimento dos princípios fundamentais que regem esse ato operatório. (GRECCA; ET AL, 2020). 

Uma abertura coronária realizada de acordo com os princípios atuais deverá incluir o desgaste compensatório nos dentes anteriores superiores, é representado pela remoção do ombro palatino, os molares, é representado pela remoção das paredes da câmara pulpar, principalmente das mesias. (GRECCA; ET AL, 2020).

O Cirurgião-Dentista deve se deter a cada etapa do tratamento endodôntico com especial atenção, uma vez que estas são dependentes umas das outras. Dentre as etapas constituintes do tratamento endodôntico, a análise da anatomia interna dos dentes a serem tratados, previamente à abertura coronária, deve ser cuidadosamente observada para que se obtenha sucesso na terapêutica endodôntica. Dessa forma, um exame radiográfico periapical deve ser realizado para auxiliar no diagnóstico. Com uma técnica radiográfica e um processamento adequado, podemos obter um contraste ideal da radiografia de modo que se possa perceber qualquer alteração na densidade na imagem sugestiva de bi/trifurcação do canal radicular (LEONARDO; LEAL, 2005).  

A cavidade da abertura coronária deve ser preparada de acordo com a anatomia, respeitando a individualidade de cada caso. A forma de acesso inadequado, pode provocar vários acidentes e complicações no tratamento endodôntico. 

3.2 Terço cervical, médio e apical do canal radicular

Para as discussões que se seguem é necessário conceituar terço cervical, médio e apical do canal radicular. O canal radicular é a estrutura localizada no interior da raiz de um dente, que contém a polpa dental, composta por tecido conjuntivo, nervos e vasos sanguíneos. O canal radicular pode ser dividido em três partes principais: terço cervical, terço médio e terço apical. (GESTEIRA; ET AL, 2003,  PECORÁ; SAVIOLI; VANSAN, 2004)

Figura 1 Canais radiculares

(Imagem coletada da internet). 

Terço Cervical: É a porção do canal radicular mais próxima da coroa do dente, onde a raiz se conecta à superfície mastigatória. Nessa região, o canal radicular geralmente apresenta um formato mais alargado e ovalado. É comum encontrar a abertura dos canais acessórios (canais laterais) nessa área, que podem conectar-se ao canal principal. (GESTEIRA; ET AL, 2003, PECORÁ; SAVIOLI; VANSAN, 2004).

Terço Médio: É a porção intermediária do canal radicular, localizada entre o terço cervical e o terço apical. Nessa região, o canal radicular costuma ter um formato mais cilíndrico. O diâmetro do canal pode variar ao longo do terço médio, podendo apresentar constrições ou alargamentos em certos pontos. (GESTEIRA; ET AL, 2003, PECORÁ; SAVIOLI; VANSAN, 2004).

Terço Apical: É a porção mais distal do canal radicular, próxima à ponta da raiz. Nessa região, o canal radicular costuma se estreitar e adotar um formato cônico, tornando-se mais fino em direção à extremidade. É nesse terço que se localiza o forame apical, a abertura do canal na ponta da raiz, por onde passam os nervos e vasos sanguíneos que fornecem suprimento à polpa dental. (GESTEIRA; ET AL, 2003, PECORÁ; SAVIOLI; VANSAN, 2004).

Essa divisão em terços do canal radicular é importante para o tratamento endodôntico, também conhecido como tratamento de canal. Durante o procedimento, o dentista utiliza limas e outros instrumentos especiais para remover o tecido pulpar infectado ou inflamado e, em seguida, preenche o canal com material obturador para selá-lo e evitar infecções futuras. O conhecimento detalhado da anatomia dos terços cervical, médio e apical do canal radicular é essencial para um tratamento endodôntico eficaz. (GESTEIRA; ET AL, 2003, PECORÁ; SAVIOLI; VANSAN, 2004).

É importante destacar que a anatomia do canal radicular pode variar de acordo com o tipo de dente, a idade do indivíduo e outros fatores individuais. Além disso, existem variações anatômicas que podem incluir canais acessórios, curvas acentuadas e bifurcações. 

De acordo com Paiva e Antoniazzi (1988), a ação mecânica dos instrumentos endodônticos sobre a parede dentinária libera raspas de dentina e resíduos orgânicos, que, misturados às substâncias químicas, formam uma massa pastosa que tende a impregnar a superfície dentinária, sedimentando-se com mais intensidade na porção apical do canal.

A forma, o tamanho e o número dos canais radiculares é muito influenciado pela idade. Os canais radiculares são bem largos, os forames apicais amplos e os túbulos dentinários mais calibrosos e cheios de líquido tecidual. Com o passar dos anos, devido a fatores como lesões de cárie, idade ou oclusão, ocorre deposição de dentina secundária e terciária, e se dá a retração dos cornos pulpares. (PAIVA E ANTONIAZZI, 1988). 

Em dentes jovens, a câmara pulpar é bastante volumosa, com os cornos pulpares pronunciados, a cavidade é mais ampla. Em dentes de pacientes idosos, a câmara pulpar apresenta volume menor, decorrente de contínua deposição de dentina secundária nas paredes da cavidade pulpar (BERGER et al., 2011).

3.3 Brocas Gates Glidden e Largo: os parâmetros na utilização

De acordo com Lins (2009), entre os alargadores rotatórios adotados no tratamento endodôntico as brocas Gates Gidden são mais amplamente difundidas como alargadores rotatórios do terço coronário. O motivo dessa ampla utilização se encontra inicialmente porque ela é fácil de ser utilizada. Entretanto, durante alguns esse instrumento foi retirado por cirurgiões dentistas que rejeitavam a utilização de instrumentos rotatórios dentro do canal. 

As brocas Gates-Glidden são indicadas para a ampliação dos segmentos cervicais e médios dos canais radiculares antes da sua modelagem, porém têm como desvantagem a impossibilidade de movimentos pendulares pela fragilidade em sua zona de concordância, o que frequentemente leva à fratura desse instrumento. As brocas Gates Glidden também são utilizadas para preparos intra-articulares, ou seja, alisamento das paredes e preparo para pinos. (SYDNEY; BATISTA; DEONIZIO; 2008). 

As brocas Largo são utilizadas para dar um melhor afunilamento à entrada dos canais após a sua instrumentação. Estas brocas estabelecem um preparo para contenção intra-radicular, depois da obturação do canal. As brocas Largo são indicadas como auxiliares de preparo químico cirúrgico, tendo uma parte ativa mais longa e eficiente para o procedimento, sendo assim trazendo mais comodidade ao profissional para realizar corretamente o tratamento endodôntico do paciente. (SYDNEY; BATISTA; DEONIZIO; 2008).

As brocas Gates são muito utilizadas para canais e atuam no nível do terço cervical e no máximo até o terço médio do canal radicular. Geralmente são encontradas com numeração de 1 até 6 e nos comprimentos de 28 a 32 mm, sendo que a sua parte ativa pode alcançar até 19mm de profundidade. Tem a sua forma em formato de pera, sua ponta romba e inativa, a sua utilização deve ser feita de maneira cuidadosa para evitar a sua fratura ou um aquecimento significativo da estrutura dentária. (SYDNEY; BATISTA; DEONIZIO; 2008).

 Deve-se utilizar as brocas sempre com o canal inundado com a solução irrigadora, ou seja, este cuidado evita uma maior condensação de raspas de dentina na porção apical do canal e atenua o aquecimento. Sempre utilizando rotação máxima durante toda a manobra de introdução e retirada do instrumento do canal, uma parada no motor poderá oferecer dificuldades de sua remoção do local. (SYDNEY; BATISTA; DEONIZIO; 2008).

Nesse sentido, é alertado que nunca se deve imprimir movimentos de lateralidade ao instrumento, caso faça isso e se tais movimentos forem realizados poderão determinar sua fratura. É correto realizar apenas uma ou no máximo duas manobras de introdução e remoção do instrumento no interior do canal. Quem vai impor o número da broca a ser utilizada é a anatomia. (SYDNEY; BATISTA; DEONIZIO; 2008).

Os Objetivos a serem atingidos com as brocas Gates são dilatar e retificar os terços coronário e médio do canal e facilitar o acesso direto dos instrumentos endodônticos ao terço apical, sendo assim bem como a obturação. É importante não fazer o uso direto da Gates em canais atravessados, já que a função da broca é de ampliar, alargar um espaço já anteriormente aberto. (SYDNEY; BATISTA; DEONIZIO; 2008).

Uso da broca de Largo deve compatível ao diâmetro da entrada do canal. Deve utilizar sempre em rotação e não forçar a mesma, apenas o peso do contra-ângulo basta. Esta broca destina-se ao desgaste compensatório com movimentos de lateralidade ou horizontal. (SYDNEY; BATISTA; DEONIZIO; 2008, BATISTA; MATTOS; SYDNEY, 1998).

3.4 Fraturas causadas pela utilização de Brocas Gates Glidden e Largo

As condições clínicas que o profissional lida no dia a dia da prática endodôntica e que requerem intervenção incluem dentes com pulpite irreversível, com necrose e infecção pulpar e casos de retratamento. Durante o preparo químico-mecânico, os instrumentos endodônticos promovem a remoção mecânica de micro-organismos, seus produtos e tecidos degenerados, auxiliadas por uma substância química que, além de maximizar a remoção de detritos através da ação mecânica do fluxo e refluxo, também pode exercer um efeito químico significativo, desde que possua ação antimicrobiana e solvente de matéria orgânica. (ABOU-RASS; JASTRAD, 1982).

Entretanto, durante a remoção do tecido infectado ou danificado no canal radicular com os instrumentos de GG e Largo, fraturas podem vir a ocorrer e os motivos são variados. O primeiro motivo diz respeito a curvatura do canal, isso ocorre porque os canais radiculares nem sempre apresentam retidão, podendo apresentar curvaturas acentuadas.  (OLIVEIRA; SANTOS, 2018).

O segundo motivo é referente a manipulação e técnicas onde o profissional utiliza de força excessiva, aumentando consideravelmente a pressão dos instrumentos dentro do canal radicular. Nesse sentido, é importante que o profissional disponha de conhecimentos técnicos apropriados durante o procedimento, a fim de reduzir as chances de causar uma fratura. (OLIVEIRA; SANTOS, 2018).

 De acordo com Andretta (2009), entre as causas mais comuns de fraturas na abertura coronária se encontra nos casos em que se encontra câmara pulmonar atrésica ou calcificada. Nesse momento, a tentativa de localizar o canal utilizando brotas de alta rotação, com pontas esféricas ou ativas em níveis profundos pode acarretar uma perfuração. Como consequência, a perfura acarreta inúmeros problemas ao paciente como um processo inflamatório e a destruição da óssea nas áreas adjacentes. 

Seguindo a lógica, o terceiro motivo que causam fraturas é o uso incorreto desses instrumentos, como torcer ou alavancar, pode causar fraturas. É fundamental utilizar os instrumentos de acordo com as técnicas adequadas e seguir as orientações do fabricante. O tipo de material do instrumento também é uma das causas, uma vez que ao utilizar instrumentos de baixa resistência e qualidade podem ser mais propensos a fraturas. Somando-se a isso, cita-se também a fadiga do instrumento, que com o tempo e o uso repetitivo, podem sofrer fadiga de material, o que enfraquece sua estrutura e aumenta o risco de fratura. (OLIVEIRA; SANTOS, 2018).

A fratura por fadiga ocorre sem sinais visíveis de deformação anterior. Ao girar dentro de um canal curvo, o instrumento é submetido a tensões de tração e compressão, concentradas na região de curvatura máxima da raiz. A fadiga desses instrumentos é diretamente proporcional à amplitude de deformação a que são submetidos, que depende da geometria do canal e do diâmetro do instrumento no ponto de flexão máxima5,6. As condições mais severas de fadiga estão associadas a menores raios de curvatura do canal e instrumentos mais calibrosos. (TAVARES; ET AL, 2015).

Tavares; et al (2015) relata que a fadiga é importante pois é a maior causa individual de falhas em metais, essas falhas chegam a 90% de todas as falhas metálicas. Além disso, ela é imprevisível, e depende do número de ciclos e da intensidade na área flexionada. 

Sydney; Batista e Deonizio (2008), apontam três importantes observações durante a utilização de instrumentos rotatórios o acesso radicular: o ângulo de penetração, o quanto ele pode penetrar no canal e a sua cinemática.  O conhecimento sobre o ângulo na introdução desses instrumentos é de alta relevância, uma vez que se realizada de maneira errada pode acarretar em fraturas e desgastes em áreas de riscos. 

O segundo ponto versa sobre o quanto o instrumento pode ser introduzido no canal radicular, a regra é que a introdução não ultrapasse da parte reta do conducto para o início da parte curva. Por fim, a terceira observação é sobre a cinemática no procedimento, compreende-se por cinemática o estudo dos movimentos dos objetos e seus efeitos, ou seja, trata-se da capacidade técnica do profissional em ter destreza, conhecimento e boas técnicas na utilização dos instrumentos. (SYDNEY; BATISTA E DEONIZIO, 2008). 

No que versa sobre as brocas Gates Glidden, um artigo de investigação realizado por Silva; et al (2020), apontou que são tradicionalmente utilizadas nos procedimentos de pré-laparagem cervical, entretanto, estudos recentes concluíram que essas brocas quando utilizadas apresentam uma maior incidência nos casos de fissuras na dentina, quando comparada com outros instrumentos. 

A investigação teve como objetivo avaliar a resistência à fraturas de dentes que passaram por tratamentos de endodontia, após a pré-expansão cervical e preparação do canal radicular. Para isso foram utilizados 44 incisivos mandibulares, estes por sua vez foram divididos em quatro grupos (n=11), sendo eles: Grupo de controle – sem o pré alargamento; grupo Gates Glidden – brocas #2 e #3; WXN Instrumento Navigator 25.07; Easy – Instrumento ProDesign S 25.08. Como resultado da investigação, no teste de resistência, as brocas Gates Glidden enfraqueceram os incisivos mandibulares (p < 0,5), quando comparada aos outros instrumentos NiTi onde (p > 0,5). Cumpre destacar que a investigação apresentou como limitação a falta de informações sobre a idade dos incisivos. (SILVA; ET AL, 2020). 

O quarto e último motivo para as fraturas na utilização das brocas gates glidden e largo, são referentes aos imprevistos que podem surgir durante o procedimento, como a quebra de um instrumento prévio dentro do canal radicular, que resultam numa dificuldade em utilizar de forma correta os instrumentos subsequentes, aumentando assim o risco de fratura. (OLIVEIRA; SANTOS, 2018). 

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A endodontia é uma importante área dentro da saúde, como apresentado no inicio do trabalho, essa área tem como objetivo aliviar a dor, eliminar a infecção e preservar o dente natural sempre que possível. A promoção da qualidade de vida através da saúde bucal é o norte para o especialista em endodontia. 

Ao longo dos anos essa área foi se aperfeiçoando, com a promoção de pesquisas, estudos, discussões e inovações tecnológicas os tratamentos endodônticos foram apresentando alto nível de qualidade e redução significativa durante os procedimentos. Nesse sentido, a área busca sempre estar se atualizando, seja no que corresponde às técnicas ou na instrumentalização dos procedimentos.  

Durante o labor, o endodontista acaba tendo contato com pacientes que necessitam de tratamento específicos, sendo necessário por vezes que ocorra a abertura coronária e instrumentalização dentro do terço cervical. Durante o procedimento pode surgir a ocorrência de fraturas, cujo os motivos podem estar relacionados desde o material ao qual o instrumento é feito, a falta de técnicas, conhecimentos ou imprevistos.

As Brocas Gates Glidden e Largo são instrumentos utilizados durante a abertura coronária e a instrumentalização do terço cervical, durante o procedimento pode ocorrer que esses instrumentos possam sofrer fraturas, e os motivos são variados. Embora não haja estudos conclusivos de que esses dois instrumentos em específicos apresentam falhas que acarretam em suas fraturas, pesquisas recentes apontaram uma fragilidade nas Brocas de Gates Glidden. 

REFERÊNCIAS

ABOU-RASS, M.; JASTRAB, R. J. The use of rotary instruments as auxiliary aids to root canal preparation of molars. J Endod, v. 8, n. 2, p. 78-82, Feb., 1982. 

ALVARES, S. Endodontia clínica 2. ed. São Paulo: Santos, 1995.

BATISTA, Antonio; MATTOS, Natanael Henrique Ribeiro; SYDNEY, Gilson Blitzkow. Avaliaçäo da qualidade do preparo do canal radicular utilizando-se das brocas de Gates-Glidden e dos alargadores para contra-ângulo. JBC j. bras. odontol. clín, p. 10-9, 1998.

BERGER, C. R. et al. Endodontia clínica.São Paulo: Pancast, 2011. p. 417-36.

OLIVEIRA, Karen Cristina; SANTOS, Samylla Oliveira. ACIDENTES E COMPLICAÇÕES NA ENDODONTIA: fratura de instrumentos endodônticos revisão de literatura. 2018.

GESTEIRA, Maria de Fátima Malvar et al. Ação do EDTA sobre a camada residual nos terços cervical, médio e apical do canal radicular. 2003.

GRECCA, Fabiana Soares et al. Endodontia pré-clínica. 2020.

PAIVA, J. G.; ANTONIAZZI, J. H. Substâncias químicas. In: ______. Endodontia: bases para a prática clínica. 2. ed. São Paulo: Artes Médicas. 1988. p. 588-629. 

PÉCORA, Djalma Jesus; SAVIOLI, Ricardo Novak; VANSAN, Luis Pascoal. CIRURGIA DE ACESSO ENDODÔNTICO: endodontics – endodoncia. Revista USP. 2004. Disponível em < https://www.forp.usp.br/restauradora/acesso.htm>. Acesso em 10 de abril de 2023. 

SANTOS,  Paula, Juliana Pereira; DE SOUSA RODRIGUES, Héctor Michel. Importância dos avanços tecnológicos no sucesso do tratamento endodôntico: relato de caso clínico.

SYDNEY, Gilson Blitzkow; BATISTA, Antonio; DEONIZIO, Marili Doro. Acesso radicular. Revista Odontológica do Brasil Central, v. 17, n. 43, 2008. Disponível em <  https://robrac.org.br/seer/index.php/ROBRAC/article/view/56/46>. Acesso em 10 de abril de 2023. 

TAVARES, Warley Luciano Fonseca et al. Índice de fratura de instrumentos manuais de aço inoxidável e rotatórios de NiTi em clínicas de pós graduação em Endodontia. Arquivos em Odontologia, v. 51, n. 3, 2015.


1Acadêmica de odontologia. E-mail: anapmattara@gmail.com Artigo apresentado a Unironsapiens, como requisito para obtenção do título de Bacharel em odontologia, Porto Velho/RO, 2023.
2Acadêmica do curso de odontologia. E-mail: valeriasantos.odonto@gmail.com. Artigo apresentado a Unironsapiens, como requisito para obtenção do título de Bacharel em odontologia, Porto Velho/RO, 2023.
3Professor Orientador. Professor do curso de odontologia da Unironsapiens,. E-mail: leonardo.fiori@uniron.edu.br
3,5Professor do curso de Odontologia da Uniron.