A VISÃO DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS NO CONTEXTO ESCOLAR

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102410181416


Clarice Vieira Lima
Elaine De Oliveira
Eny Pinheiro Dos Santos
Maros Antônio Coelho Ribeiro da Silva
Marlene Maria de Araújo
Sandra Beatriz de Jesus Sousa
Ordália  Ferreira dos Santos


Resumo: – O Pressente estudo realizou com o objetivo de contribuir para o processo de discussão sobre a questão conceitos-termos como deficiente-auditivo, surdo-mudo, e mudo com o intuito de desconstruir as conotações negativas que esses nomes implicam na representação social e na identidade cultural dos indivíduos surdos. Percepção nos ambientes sociais como a interação de aula entre professores surdos e alunos ouvintes. Os registros são realizados e analisados por meio  de perspectivas etnográficas em contextos de ensino de Língua Brasileira de Sinais.

Perpassando pela história da educação de surdos no Brasil, a identidade e a cultura do surdo e aluno no âmbito escolar.

Palavras Chaves: – Educação de Surdos, Direito e Respeito.

Abstract: – The senses study conducted with the aim of contributing to the process of discussion of the issue terms and concepts-poor-hearing, deaf-mute and mute in order to deconstruct the negative connotations these names imply social representation and cultural identity of deaf individuals. Perception in social environments such as classroom interaction between teachers deaf and hearing students. Records are made ​​and analyzed using ethnographic perspectives within teaching of Brazilian Sign Language.
Traversing the history of deaf education in Brazil, the identity and culture of the deaf and student in the school.

Key-Words.:- Deaf Education, Law and Respect

I-INTRODUÇÃO.

O presente artigo, problematiza – a partir de alguns apontamentos feito por meio de   pesquisas de cunho etnográfico (ERICKSON, 1986, 1992) desenvolvidas em contextos de ensino de LIBRAS para ouvintes. Proporcionando uma reflexão sobre o conflito trazido pelas designações deficiente-auditivo, surdo-mudo, e mudo, observados na interação de sala de aula com professores surdos e seus alunos ouvintes e a importância da alfabetização na LIBRAS para alunos surdos com professores surdos ou professores ouvintes (interpretes).

Aborda de uma forma bem sucinta sobre a historia dos surdos no Brasil, a cultura e identidade surda e o aluno no âmbito escolar.

Skliar   afirma que é por meio desse deslocamento das oposições conceituais da Educação Especial para uma Educação para Surdos e também das nomeações deficiente auditivo (e todos os seus sinônimos) para surdo ou seja, através de mudanças nas representações e narrações sobre o surdo e a surdez que poderemos melhor enxergar os múltiplos e diversos recortes identitários dos surdos e contribuir para que se possa sair do discurso da deficiência para o da diferença; afinal, aponta-nos Skliar (1997: 33), “a construção das identidades não depende da maior ou menor limitação biológica, e sim de complexas relações lingüísticas, históricas, sociais e culturais”. Acrescentaria nesta discussão a idéia apontada por Carvalho (2003: 61) no sentido de nos desvincularmos da educação especial a partir de uma “visão substantiva” para começarmos “a construir o especial na educação, numa visão adjetiva”.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O trabalho foi realizado dentro de uma abordagem qualitativa, o que só trouxe benefícios, uma vez que se pôde estar diretamente ligada às percepções dos professores surdos e alunos ouvintes. Essa abordagem dá margem a conhecer os motivos para compreender a visão dos alunos ouvinte em relação Língua de Sinais  

O método de trabalho privilegiado neste científico apresenta três etapas metodológicas: exploração, observação e avaliação.

            Na etapa inicial, estão incluídas as primeiras observações, com a finalidade de adquirir maior conhecimento sobre o fenômeno e possibilitar a seleção dos aspectos que serão investigados. É justamente nesta etapa inicial que se processa o desenvolvimento de uma pesquisa de cunho bibliográfico/documental e etnográfico.

             Fazenda (1997, p.15) enfatiza que

a realidade empírica é complexa, mas objetiva. Não traz nela mesma ambiguidade. O homem individual é subjetivo porque é incapaz de separar o objeto da concepção que faz dele, o que vê do que imagina e, sobretudo, porque é incapaz de ler, na observação, o processo que determina um fenômeno particular momentâneo (mesmo porque, dificilmente, ele se evidenciaria nesta situação).

 Em todos os momentos da pesquisa, os professores eram informados e observou-se  a postura em enfatiza que Libras é uma língua e que ser surdo não é deficiência.

Conviver com os professores surdos foi extremamente gratificante adentrar neste novo universo.

Após a realização das entrevistas, elas foram transcritas pelo próprio investigador, pois, neste momento, sempre comparava as respostas com as anotações do comportamento, atitude e gestos de cada entrevistado. Em seguida, após uma leitura geral dos dados, procedeu-se à análise.

Na primeira parte do trabalho, evidenciam-se os elementos da pesquisa, momento específico, em que se descreve a problemática e a problematização de cunho prático/científicos, cujos aspectos são responsáveis pelo desencadeamento da discussão do tema privilegiado neste trabalho.

As falas e relatos que seguem é um ponto importante para se possam olhar as posturas e praticas frente a surdez. Pois por meio delas perceberemos que ainda há preconceito, todavia há muitos cursos e as pessoas estão buscando conhecer e interagir com essa língua.

2. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE SURDOS NO BRASIL

A história se inicia a partir de 1855 quando houve a  primeira iniciativa de educação de surdos quando o professor francês surdo Ernest Huet, a convite de D. Pedro II, veio ao Brasil e preparou um programa que consistia em usar o alfabeto manual e a Língua de Sinais da França. Apresentou documentos importantes para educar os surdos, mas ainda não havia escola especial. Solicitou então ao imperador D. Pedro II um prédio para fundar uma escola. Então em 1857 em 26 de setembro, através da Lei 839, assinada por D. Pedro II, fundou-se o então Instituto Nacional de Educação dos Surdos-Mudos, atualmente Instituto Nacional de Educação dos Surdos (INES) no Rio de Janeiro. Huet foi Diretor do Instituto de Surdos de Paris e do INESM.

3. A IDENTIDADE E A CULTURA DO SURDO

O surdo tem uma identidade e uma cultura própria e é muito disseminado pelos surdos e ouvintes em muitos ambientes sociais que discutem a articulam questões próprias à área de surdez, e somos permeados, sejamos surdos ou ouvintes, por múltiplas identidades culturas, já afirmava Gesser, 2006:136-144.No singular, a afirmação sublinha a ideia do plurismo identitário e cultural , E é essa ideia que a pesquisadora surda Karin Strobel acertadamente procura desconstruir quando fala de várias culturas surdas.

Gladys Perlin é a primeira surda a obter o titulo de doutorado no Brasil. Trabalha como professora adjunta da universidade Federal de Santa Catarina no Centro de Educação, sendo integrante do Grupo de Estado Surdos (GES).

Ao analisarmos sua historia, vemos que a cultura surda foi marcada por muitos estereótipos, seja através da imposição da cultura dominante, seja das representações sociais que narram o povo surdo como seres deficientes. Muitos autores escreveram lindos livros sobre oralismo, bilinguismo, comunicação total, ou sobre os sujeitos surdos…Mas eles realmente conhecem-nos? Sabem o que é a cultura surda? Sentiram na própria pele como é ser surdo?Esta é uma reflexão importante a ser feita atualmente, porque as metodologias citadas não foram criadas pelo povo surdo e sim por ouvintes. Não que seja errado, mas essas metodologias não seguem a cultura surda… O que o povo surdo almeja realmente é a pedagogia surda. Para comunidade ouvinte que está em maior sintonia com o povo surdo – os parentes, amigos, interpretes, professores de surdos-, reconhecer a existência da cultura surda não é fácil, porque no seu pensamento habitual acolhem o conceito  unitário da cultura e, ao aceitarem a cultura surda, eles tem de mudar as suas visões usuais si as reconhecerem a existência de varias culturas, de compreenderem os diferentes espaços culturais obtidos pelos povos diferentes. Mas não se troca somente de reconhecerem a diferença cultural do povo surdo, e sim, além disso, de perceberem a cultura surda através do reconhecimento de suas diferentes identidades, suas histórias , suas subjetividades, suas línguas, valorização de suas formas de viver e de se relacionar .

Mas a afirmação “O surdo tem uma identidade e uma cultura própria “ tem outra face, pois é extremamente significativa no processo de afirmação coletiva de grupos minoritários, que não apenas se exprime no singular  “uma” mas também está escrita no adjetivo  “própria “. “Cultura própria” sugere a ideia de um grupo que precisa se distinguir d a maioria ouvinte para marcar sua visibilidade, e única forma de obter coesão é criada a partir de uma “pseudo” uniformidade coletiva .em grande medida, funciona como “sobrevivência cultural” entre excluídos e desprovidos, portanto , de poder e voz. É muito comume natural ouvir discursos d oposição às culturas ouvintes pregando a homogeneidade cultural surda. Esse é, sem dúvida, um posicionamento essencialista que, por sua vez, tem em vista a afirmação, a valorização e o reconhecimento cultural, já que “ é a coesão, a uniformidade que dá ao grupo visibilidade, ou seja, serve para que o grupo se autoconstitua como tal graça a essa aceitação dessa visão por parte de quem os exclui”(Gesser,2006:138).

Os surdos, sabemos, têm características culturais que marca seu jeito de ver, sentir e se relacionar com o mundo, e a cultura do povo surdo “é visual, ela traduz – se de forma visual’ (Quadros.2002:10). Todavia     não se pode criar o mito de que o surdo não compartilharia de outras culturas como por exemplo, das culturas ouvintes. E ISSO – é importante que se diga- não os  torna     menos surdos. Afinal, como aponta de Certeau (1995:233), a cultura é, gostemos ou não, o” o flexível”; ela é produtiva dinâmica, aberta plural e está em constante transformação, pois é construída situacionalmente em tempos e lugares particulares. Utilizando metáforas, o historiador –sociológico afirma que a cultura pode ser inventada ou criada da mesma forma que uma “planificação urbanística ; capaz de criar uma composição de lugares, de espaços ocupados e espaços vazios, que permitem ou impedem a circulação”, mas, ao se aproximarem os “habitantes”, todos os planos  do urbanista são “perturbados”- “as maneiras de utilizar o espaço” ou as maneiras como se faz uso cultural fogem a essa planificação. Da mesma forma, a questão da identidade:

Ela não é um fenômeno unitário que contenha em si qualquer essência definitória ,mas é uma construção feita em múltiplas direções estas muitas vezes contraditórias(Maher, 1996;29)

Qualquer tipo de aversão dos surdos às culturas ouvintes, especialmente nessa fase de transição e de emancipação politico-ideológica, é natural e compreensível, e os relatos históricos se encarregam de mostrar como e por que essa relação ´é cheia de conflitos e tensões. Mesmo que o discurso atual seja um discurso de “contrarreação” aos grupos dominantes (sociedade ouvinte), todos nós somos perpassados e contaminados pelas culturas com as quais estamos em contato. Pensar o surdo no singular, com uma identidade e uma cultura surda, é apagar a diversidade e o multiculturalismo que distingue o surdo negro da surda mulher, do surdo cego, do surdo índio, do surdo cadeirante, do surdo homossexual, do surdo oralizado, do surdo de lares ouvintes, do surdo de lares de surdo, do surdo gaúcho, do surdo paulista, do surdo de zonas rurais…(Skdiar,1998;Gesser, 2006,2008).

Portanto é importante lembrar que nem todos os surdos são iguais, pois são seres diferentes como qualquer outra, mas que tem algo em comum entre eles a surdez e a língua de sinais.

O professor surdo é importante para que o ouvinte passe a compreender seu universo e entender sua cultura e identidade.

Em todo os cursos de LIBRAS  que participamos, podemos observar que havia por parte dos professores surdos um tempo, nas aulas, dedicado a explorar e esclarecer as conotações que o termo deficiente auditivo e seus derivados populares carregam. A seguir há uma descrição de uma ação do professor surdo a quem estarei me referindo pelo nome de Leandro:

Em sua primeira aula de LIBRAS, o professor Campos  traz uma transparência e pede a uma aluna ouvinte que leia em voz alta. O título da transparência é “postura frente à surdez”. Em seguida escreve no quadro as palavras deficiente auditivo, surdo-mudo e surdo, e nos pergunta se sabemos a diferença. Algumas alunas ficam trocando olhares. Então ele aborda falando que o termo deficiente auditivo ou D.A. Não devem ser utilizados porque também são preconceituosos e  o termo é errado porque faz as pessoas pensarem que o surdo não tem língua.  Então   surdo-mudo nunca deve ser usado porque o surdo tem aparelho fonador e se for treinado ele fala com voz. E finaliza dizendo que o termo correto é surdo. Uma aluna questionou   “porque no curso de licenciatura a gente aprende que é deficiente?” Outra aluna argumentou o seguinte: Essa diferença realmente só aprendemos com o dono da língua,ou seja, o professor surdo,  né!

Em outra aula ministrada em outro curso  por outro professor surdo onde participamos como alunas pesquisadoras, o professor vamos chamá-lo de (Val) faz uma abordagem sobre este mesmo assunto, veja a seguir.

“Vocês sabem quem inventou o termo deficiente auditivo? Tudo iniciou há muito tempo atrás, este termo surgiu porque os médicos acreditavam que os surdos eram uns coitadinhos. (pausa e suspiro) Não quero apenas ensinar LIBRAS para vocês, mas explicar como é a vida do surdo, da cultura e nossa identidade, porque essa historia de dizer que surdo não fala que é mudo está errado… são termos preconceituosos”.

Percebemos que   tais termos são de suma importância para a vida dos surdos. Neste último exemplo, o professor surdo e mostra que este termo(deficiente não algo novo). Val  procura sinalizar em sua fala a perspectiva da diversidade, da visibilização da língua, da identidade do surdo como indivíduo pertencente a um grupo cultura. E um dos caminhos encontrados pelos professores é deixar claro como tais termos inferiorizam e discriminam os surdos de uma forma geral, e como são rejeitados por eles próprios e também dentro da comunidade surda.

Nas interações foi possível observar nas aulas de ensino da LIBRAS que havia, por parte dos alunos ouvintes. O importante é sair do discurso da deficiência para o discurso do reconhecimento político da surdez como diferença, a partir do momento que haja conscientização e com isso desenvolver mudanças

Em uma das entrevistas, perguntei a um grupo de quatro ouvintes (três alunas) como elas viam a língua de sinais e os indivíduos surdos. Um dos alunos do grupo diz o seguinte na entrevista:

na sociedade TODOS acham que o surdo vive uma deficiência e que eles são incapazes (…) eu sei que é que não é fácil lidar com o surdo com naturalidade.  EU mesmo né! Antes tinha medo de me aproximar deles porque achava eles anormais, Mas depois passei a me interessar e   hoje eu entendo a importância da língua de sinais,  então quando você vê um surdo que é PROFESSOR como o nosso aqui dando aulas da sua língua e falando para os alunos ouvintes que os surdos não escutam mas que isso não significa que são deficientes mentais ou retardados como a maioria imagina que é, então me envergonho da minha atitude que tinha, mas ainda bem que hoje posso entender e agir diferente. Aluna “A”

comecei a conviver mais com os surdos e quando comecei a entendê-los na sua comunicação eu… eu percebi que eles querem que chamem eles de SURDOS sabe? Não dar para negar que eles tem uma perda auditiva, mas chamarmos de deficiente auditivo e ficam revoltados, porque se sentem inferiorizado e discriminados.Aluna “B”

Antes achava desnecessário a língua de sinais nas universidades, depois que passei a conhecer este universo percebi o tanto que é importante e que todo curso deve ter como disciplina obrigatória e não optativa. E apresenta de um professor surdo é fundamental, pois entramos em sua cultura, ninguém melhor para explicar sobre sua cultura. Aprendi que  os surdos mesmos preferem ser chamados de surdo, por uma CULTURA,  que se trata de uma DI-FE-REN-ÇA e não de deficiência propriamente (…)  Aluna “C”

Na vida dos surdos a construção da identidade deficiente e todas as questões pejorativas permanecem mais presente que imaginamos, portanto a surdez é tanto uma construção cultural como um fenômeno físico. A forma dessa construção cultural é, sem dúvida, uma expressão de valores culturais mais amplos, significados através de uma ordem superposta anterior a ordem majoritária ouvinte que busca “normalizar a anormalidade” (FOUCAULT, 2001).

Os surdos têm sido visto desde muito tempo como um deficiente e percebe-se claramente nas falas das entrevistadas.

Percebe-se que muitos estão conscientizando da importância desta língua(Libras) e que uma pessoa por sem muda é um ser normal e que deve estar inserido no seio da sociedade como qualquer outro sem descriminação.Mas ainda é uma luta que permanece, em virtude disso,  as universidades estão incorporando a Libras nos currículos e está havendo muitos cursos paralelo para que a sociedade passe a conhecer e se interessar pelo assunto.

Ser diferente não que dizer ser anormal, porque a sociedade em si é diferente em tudo , apenas tem opções e ações iguais para manter o equilíbrio social.

Como afirma GESSER, A definição da surdez sob a perspectiva da diferença supõe, no mínimo, estabelecer quatro dimensões inter-relacionadas: a dimensão política, a dimensão ontológica visual, a presença de múltiplas identidades surdas e a [não] localização da surdez nos discursos sobre a deficiência.

No período do intervalo questionamos informalmente a um grupo de alunas ouvintes  que estavam de bate-papo sobre o que haviam aprendido durante a aula?

Uma argumentou “é muito difícil, pois temos dificuldade de expressar com fluência, mas acredito se treinamos muito conseguiremos”. Outra diz que o curso lhe oferece uma oportunidade para ter mais contato com o surdo e aprender um pouco mais sobre a cultura surda. Uma outra aluna olha rapidamente e indaga: “o que você já aprendeu da cultura surda?”. Sem hesitar, a aluna respondeu: “muitas coisas, que eles têm uma identidade surda e não aquela coisa da deficiência, pois têm uma língua própria e se expressam através dela. O principal para nós é saber que os surdos têm uma língua própria, a língua de sinais”.A aluna que fez a pergunta falou: Amiga assim você vai conseguir tirar nota dez(risos).

Então o que sabe sobre cultura surda? Lane et allii (1996: 67) apontam que a língua de sinais exerce três papéis fundamentais na comunidade surda: “é um símbolo de identidade social, um meio de interação social, e um repositório de conhecimento cultural”. O momento em que a aluna responde a  sua amiga o que ela havia aprendido da cultura surda, há uma sugestão de que a língua de sinais marca a identidade cultural do surdo (“eles têm uma identidade surda e não aquela coisa da deficiência, pois têm uma língua própria”). Fica  claro  que na comunidade surda a língua de sinais (LS) confere ao surdo uma libertação dos moldes e visões imposta pela sociedade e pelos médicos , pois desvia a concepção da surdez como deficiência e incorpora  uma concepção da diferença lingüística e cultural.

A LS é, portanto, um símbolo importante de identidade cultural; mas o surdo também constrói também na língua portuguesa  sua  cultura e identidade.  por exemplo. O problema está em que o português de que o surdo faz uso (escrito e oral este último no caso de surdos oralizados) é também estigmatizado, uma vez que não atinge as expectativas impostas e desejadas por uma maioria de ouvintes.

Para discorrer sobre essa questão, Silva (2005: 139),  discute a escrita do surdo mostrando que, nela, uma outra relação é estabelecida e que outros aspectos estão sendo privilegiados. Esses aspectos são, por sua vez, incompatíveis com os esperados pela sociedade ouvinte letrada. Assim, pode-se dizer que o surdo se re-apropria, re-emprega a escrita de outra forma, como um “português surdo”, e, ao marcar “sua própria história com essa língua e com essa maneira de escrever”, o surdo imprime nela marcas de sua identidade, ou seja, outra relação é estabelecida

Vale lembrar que Libras é outra língua e língua não se traduz e sim interpreta e os ouvintes devem compreender isto, tanto é que outra língua como inglês entre outras passa pelo mesmo processo.

Outra aluna ao voltarmos para sala ela comenta: “ Estou gostando muito das aulas, do professor. Apesar de ele ser às vezes muito rígido, mas se não impor como vamos compreender,né! devemos ter a maior atenção!é..(sic)  ele nos conquista pela simpatia, enorme paciência e boa vontade.Mas acredito que ele não devia oralizar tanto nas  suas aulas, força muito,  e aquela voz as vezes me incomoda. Bom eu acho apenas que o professor está muito preso aos padrões culturais dos ouvintes. Ele poderia assumir mais a sua cultura surda”

Então ao se aproximarmos da aluna questionamos o que ela queria dizer com “o professor está muito preso aos padrões culturais dos ouvintes” e “ele poderia assumir mais a sua cultura surda”. Ela respondeu “ Bom vocês não viram que ele faz muito uso da oralização junto com os sinais,  além do português sinalizado para interagir com nós que somos  ouvintes; e acrescenta: “você viu outro dia ele usando o aparelho auditivo? Essa coisa da oralização, de usar recursos para ouvir” Também comentou  “ seu comportamento na sala de aula era um comportamento da cultura de aula ouvinte, e enfatizo cultura ouvinte ultrapassada, muito tradicional.

A aluna referia-se às cobranças com prova, nota, lições para casa, presença e também ao comportamento em relação  a ficar conversando com os colegas durante a aula, mascar  chicletes, sair sem pedir, em fim  estes vícios que se pega na universidade, mas se cobra tanto dos alunos do ensino fundamental e médio.

A argumentação  da aluna demonstra o seu desconforto e conflito em achar que o professor não está sendo “surdo”, já que não se comporta como tal. Então percebemos que existe neste contexto um “preconceito às avessas” que discrimina surdos de lares ouvintes e os surdos oralizados, por exemplo. O meio que ela utiliza-se para referi-se ao surdo e da cultura está ancorada em uma forma específica de ser e de agir, uma forma singular em que o trânsito entre culturas é mal visto.

5. O ALUNO SURDO NO AMBITO ESCOLAR.

A alfabetização do aluno surdo é necessário ver a leitura e a escrita como prática social e pensar na escola como um espaço inclusivo, possibilitando a que todos os alunos se torne leitores e com o aluno surdo não é diferente, mas isso ocorre por meio da Língua de Sinais

Em relação à inclusão do aluno surdo no contexto escolar, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB, nº 9394/1996) estabelece que os sistemas de ensino deverão assegurar, principalmente, professores especializado sou devidamente capacitados que possam atuar com qualquer pessoa especial nasala de aula.

Neste sentido, entende-se que o aluno surdo tem o direito de frequentar uma sala de aula da rede regular de ensino e de ser atendido pedagogicamente em suas necessidades. No entanto, a partir da análise dos instrumentos de pesquisa utilizados neste trabalho, percebe-se grandes dificuldades por parte das escolas para atender as necessidades educacionais destes alunos. Entende-se que, de acordo com a perspectiva da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, o professor deveria ser responsável por mediar e incentivar a construção do conhecimento do aluno surdo, através da sua interação com os alunos e do desenvolvimento de práticas e estratégias pedagógicas que atendam estes alunos em suas necessidades.

O triste é percebemos que, a grande maioria dos professores permanece ministrando suas aulas em uma perspectiva tradicional, ou seja, não existe uma mudança didático-metodológica para atender as necessidades pedagógicas deste aluno.

Sendo assim, percebemos que os processos de inclusão de alunos surdos na perspectiva de ambiente de aprendizagem em contexto de uma sala regular ainda estão em fase de implantação.

Na atualidade, o aluno surdo está sendo “incluído” na rede regular, mas apesar de estar numa sala regular há necessidade  de salas de aula apropriadas, recursos visuais, intérpretes e professores preparados e motivados para o desenvolvimento de novas práticas pedagógicas que atendam todos os alunos em suas peculiaridades educacionais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A história dos surdos no Brasil aconteceu porque D. Pedro II, tinha um filho surdo e precisava incorporá-lo no meio social, e não queria que fosse considerado bobinho como os demais, visto pela sociedade da época e que perdurou até pouco tempo.Então convidou um professor para  preparar  um programa que consistia em usar o alfabeto manual e a Língua de Sinais da França. Isto fez com que hoje em dia possamos ter escolas especializadas.

Com o surgimento da língua os alunos foram construindo sua própria cultura e identidade e cada ano que passa se fortalece.

Portanto a  alfabetização do aluno surdo é necessário ver a leitura e a escrita como prática social e pensar na escola como um espaço inclusivo, possibilitando a que todos alunos se torne leitores e com o aluno surdo não é diferente, mas isso ocorre por meio da Língua de Sinais

Em relação à inclusão do aluno surdo no contexto escolar, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB, nº 9394/1996) estabelece que os sistemas de ensino deverão assegurar, principalmente, professores especializado devidamente capacitados que possam atuar com qualquer pessoa especial na sala de aula.

Neste sentido, entende-se que o aluno surdo tem o direito de frequentar uma sala de aula da rede regular de ensino e de ser atendido pedagogicamente em suas necessidades. No entanto, a partir da análise dos instrumentos de pesquisa utilizados neste trabalho, percebe- se grandes dificuldades por parte das escolas para atender as necessidades educacionais destes alunos. Entende-se que, de acordo com a perspectiva da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, o professor deveria ser responsável por mediar e incentivar a construção do conhecimento do aluno surdo, através da sua interação com os alunos e do desenvolvimento de práticas e estratégias pedagógicas que atendam estes alunos em suas necessidades.

O triste é percebemos que, a grande maioria dos professores permanecem ministrando suas aulas em uma perspectiva tradicional, ou seja, não existe uma mudança didático-metodológica para atender as necessidades pedagógicas deste aluno.

Sendo assim, percebemos que os processos de inclusão de alunos surdos na perspectiva de ambiente de aprendizagem em contexto de uma sala regular ainda estão em fase de implantação. ‘ Na atualidade , o aluno surdo está sendo “incluído” na rede regular, mas apesar de estar numa sala regular há necessidade  de salas de aula apropriadas, recursos visuais, intérpretes e professores preparados e motivados para o desenvolvimento de novas práticas pedagógicas que atendam todos os alunos em suas peculiaridades educacionais.

Vale ressaltar que já houve um grande avanço, mas que precisamos melhorar cada dia mais, pois ainda falta profissional capacitado para tal especificidade em especial nas cidades de pequeno porte.

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