THE COMMUNITY UNIVERSITY: AN ALLIANCE WITH THE PUBLIC ADMINISTRATION TO PROVIDE SERVICES TO SOCIETY REGIONAL
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202511301655
Adelcio Machado dos Santos1
Solange Sprandel da Silva2
RESUMO: As universidades comunitárias desempenham um papel fundamental no cenário educacional brasileiro, promovendo o desenvolvimento regional e a inclusão social por meio da oferta de ensino superior de qualidade. Este artigo investiga a origem, os conceitos e as características dessas instituições, destacando sua distinção em relação às universidades públicas e privadas tradicionais. Além disso, analisa-se o impacto dessas universidades na formação acadêmica e no desenvolvimento social, bem como suas parcerias estratégicas com a administração pública na prestação de serviços à sociedade. A metodologia adotada baseia-se em uma revisão bibliográfica, fundamentada em estudos acadêmicos, legislações e documentos institucionais. Os resultados evidenciam que as universidades comunitárias são essenciais para a democratização do ensino superior, promovendo inovação, extensão universitária e atendimento a demandas sociais. Conclui-se que o fortalecimento dessas instituições é crucial para o avanço da educação e do desenvolvimento sustentável no Brasil.
Palavras-chave: universidade comunitária; educação superior; inclusão social; desenvolvimento regional; administração pública.
ABSTRACT: Community universities play a fundamental role in the Brazilian educational landscape, promoting regional development and social inclusion through the provision of quality higher education. This article investigates the origins, concepts, and characteristics of these institutions, highlighting their distinction from traditional public and private universities. Furthermore, it analyzes the impact of these universities on academic training and social development, as well as their strategic partnerships with public administration in providing services to society. The methodology adopted is based on a bibliographic review, supported by academic studies, legislation, and institutional documents. The results show that community universities are essential for the democratization of higher education, promoting innovation, university extension, and meeting social demands. It is concluded that strengthening these institutions is crucial for the advancement of education and sustainable development in Brazil.
Keywords: community university; higher education; social inclusion; regional development; public administration.
1. INTRODUÇÃO
A universidade comunitária ocupa um papel fundamental no cenário educacional e social do Brasil, funcionando como um elo entre o conhecimento acadêmico e a prática cidadã. Diferente das instituições públicas e privadas convencionais, as universidades comunitárias são caracterizadas pela sua vocação para o desenvolvimento regional e pela sua gestão voltada para o interesse coletivo, sem fins lucrativos.
Nesse contexto, a parceria entre essas universidades e a administração pública tem se mostrado uma estratégia eficaz para a ampliação do acesso a serviços essenciais à sociedade, incluindo educação, saúde, assessoria jurídica e inovação tecnológica. O fortalecimento dessas alianças pode contribuir significativamente para a melhoria da qualidade de vida das populações atendidas e para a promoção do desenvolvimento sustentável.
A relevância deste estudo se justifica pela necessidade de compreensão mais aprofundada das dinâmicas de colaboração entre universidades comunitárias e o setor público, uma vez que essa interação pode trazer impactos positivos tanto para os estudantes quanto para a população em geral.
Ao integrar práticas pedagógicas com demandas reais da sociedade, essas instituições não apenas qualificam profissionais mais preparados para os desafios do mercado de trabalho, mas também exercem função social essencial ao suprir lacunas que a administração pública, sozinha, não consegue atender plenamente.
Ademais, o fortalecimento dessas parcerias pode fomentar a eficiência na execução de políticas públicas, alavancar a pesquisa científica aplicada e consolidar práticas inovadoras que beneficiam tanto os gestores quanto os usuários dos serviços.
A problemática que orienta esta pesquisa consiste em investigar como as universidades comunitárias podem atuar de maneira mais efetiva na prestação de serviços à sociedade por meio de parcerias com a administração pública.
Dentro desse escopo, questiona-se quais são os principais desafios e oportunidades existentes nessas colaborações, bem como os impactos gerados na comunidade. Compreender essa relação é essencial para identificar mecanismos que possam aprimorar tais iniciativas, garantindo maior eficiência e alcance das ações.
Metodologicamente, o estudo adota uma abordagem qualitativa, baseada na revisão bibliográfica e na análise de casos práticos de parcerias entre universidades comunitárias e o setor público. Para isso, serão utilizadas fontes secundárias, como artigos científicos, legislação pertinente, relatórios institucionais e documentos governamentais, permitindo um panorama amplo sobre o tema.
A análise será pautada em categorias temáticas, como os tipos de serviços oferecidos, os modelos de parceria estabelecidos e os resultados alcançados.
Destarte, espera-se contribuir para a ampliação do conhecimento sobre o papel das universidades comunitárias na sociedade e para a formulação de estratégias mais eficazes de colaboração entre o setor acadêmico e o público.
O objetivo geral deste estudo consiste em analisar a interação entre universidades comunitárias e a administração pública na prestação de serviços à sociedade, identificando os benefícios e desafios dessa parceria. Especificamente, busca-se: (a) compreender o papel das universidades comunitárias na oferta de serviços públicos; (b) mapear as principais formas de colaboração entre essas instituições e o setor público; (c) avaliar os impactos sociais, econômicos e educacionais gerados por essas parcerias; e (d) propor diretrizes para aprimorar a efetividade dessas colaborações.
2. UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA: ORIGEM, CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS
As universidades comunitárias no Brasil surgiram a partir de um movimento histórico e social que buscava expandir o acesso ao ensino superior além dos grandes centros urbanos, atendendo a demandas regionais e promovendo o desenvolvimento local. Sua origem está vinculada à mobilização de comunidades que, diante da carência de instituições públicas de ensino superior, organizaram-se para criar entidades educacionais sem fins lucrativos, mantidas por fundações ou associações civis.
Segundo Niskier (2001, p. 45), essas instituições emergiram na segunda metade do século XX, especialmente nas décadas de 1960 e 1970, como resposta à necessidade de interiorização da educação superior no país. Um marco importante foi a criação da Associação Brasileira das Universidades Comunitárias (ABRUC) em 1995, que consolidou a identidade dessas instituições e defendeu seu reconhecimento como um modelo diferenciado no cenário educacional brasileiro.
O conceito de universidade comunitária está intrinsecamente ligado à sua natureza pública não-estatal, ou seja, embora não pertençam ao governo, desempenham uma função pública ao reinvestir integralmente seus recursos na melhoria da qualidade acadêmica e na promoção de ações sociais. Conforme definido por Dias Sobrinho (2010, p. 78), essas instituições são “entidades que, sem fins lucrativos, têm como objetivo principal o desenvolvimento regional por meio do ensino, pesquisa e extensão, com forte envolvimento com a sociedade”.
Suas características incluem a gestão democrática, a vinculação com as demandas locais e o compromisso com a inclusão social, diferenciando-se das universidades privadas tradicionais, que visam prioritariamente o lucro. Além disso, as universidades comunitárias destacam-se pela oferta de programas de bolsas e pelo fomento a projetos de extensão que integram ensino e comunidade, conforme destacam Santos e Almeida (2015, p. 112).
Os princípios norteadores das universidades comunitárias baseiam-se na indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, na responsabilidade social e na democratização do conhecimento. Esses princípios estão alinhados com as diretrizes do Plano Nacional de Educação (PNE), que reconhece o papel estratégico dessas instituições na expansão qualificada do ensino superior. Para Ristoff (2014, p. 93), “as universidades comunitárias cumprem uma função essencial na redução das discrepâncias educacionais, especialmente em regiões onde o Estado não consegue suprir a demanda por vagas”.
Outro aspecto fundamental reside na governança participativa, que muitas vezes inclui representantes da sociedade civil em seus conselhos administrativos, reforçando seu caráter comunitário e descentralizado.
A diferença entre universidades comunitárias e outras instituições de ensino superior reside, sobretudo, em sua finalidade e modelo de gestão. Enquanto as universidades públicas são mantidas pelo Estado e as privadas comerciais têm como objetivo o retorno financeiro, as comunitárias situam-se em um espaço intermediário, priorizando o reinvestimento de recursos em infraestrutura, pesquisa e programas sociais.
De acordo com Cunha (2008, p. 134), “o modelo comunitário representa uma alternativa viável para a educação superior, equilibrando qualidade acadêmica e acessibilidade”.
Ademais disso, diferentemente das faculdades isoladas ou centros universitários, as universidades comunitárias possuem autonomia para criar cursos e desenvolver pesquisas em diversas áreas, seguindo os mesmos parâmetros de avaliação das instituições públicas.
O papel das universidades comunitárias na formação acadêmica e no desenvolvimento social é amplamente reconhecido, especialmente por sua atuação em regiões periféricas e no fomento a políticas de inclusão. Estudos como os de Sguissardi (2016, p. 67) demonstram que essas instituições são responsáveis por uma parcela significativa da produção científica nacional, além de oferecerem cursos alinhados às necessidades do mercado local. Sua contribuição para o desenvolvimento regional se dá por meio de parcerias com prefeituras, empresas e organizações não governamentais, promovendo inovação tecnológica e capacitação profissional.
Ademais disso, como ressalta Morosini (2012, p. 155), o compromisso social das universidades comunitárias se reflete em programas de assistência à população, como clínicas-escola, consultorias jurídicas gratuitas e projetos de sustentabilidade ambiental.
Por conseguinte, a partir do que afirma Morosini (2012), as universidades representam um modelo singular no cenário da educação superior brasileira, combinando excelência acadêmica com responsabilidade social. Sua origem está ligada à mobilização de comunidades em prol da democratização do conhecimento, e seus princípios enfatizam a gestão participativa e o desenvolvimento regional.
Ao se diferenciarem tanto das universidades públicas quanto das privadas comerciais, essas instituições consolidam-se como agentes transformadores, capazes de articular ensino, pesquisa e extensão em benefício da sociedade.
Como afirmam Frigotto e Ciavatta (2013, p. 201), a universidade comunitária é, por excelência, um espaço de mediação entre o saber acadêmico e as demandas populares, cumprindo um papel indispensável na construção de uma educação verdadeiramente inclusiva.
3. O PAPEL SOCIAL DA UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA
As universidades comunitárias desempenham um papel fundamental na sociedade, atuando como agentes transformadores que vão além da formação acadêmica, promovendo inclusão social, desenvolvimento regional e democratização do conhecimento. Diferentemente das instituições públicas e privadas com fins lucrativos, as universidades comunitárias possuem uma missão orientada para o bem comum, caracterizando-se pelo compromisso com a comunidade em que estão inseridas. Segundo estudiosos da educação superior, essas instituições surgem como uma resposta às demandas locais, buscando equilibrar excelência acadêmica e impacto social (Santos, 2017).
Um dos principais papéis sociais das universidades comunitárias é a promoção da acessibilidade ao ensino superior, especialmente em regiões periféricas, onde a oferta de educação de qualidade é limitada. Essas instituições muitas vezes atuam como polos de desenvolvimento, oferecendo cursos alinhados às necessidades do mercado local e fomentando a empregabilidade.
Ademais disso, elas contribuem para a redução das desigualdades educacionais, uma vez que adotam políticas de inclusão, como bolsas de estudo e programas de assistência estudantil (Dias, 2019). A atuação dessas universidades não se restringe ao ambiente acadêmico; elas também desempenham um papel crucial na extensão universitária, levando conhecimento e serviços à população por meio de projetos sociais, consultorias e parcerias com o poder público.
A influência das universidades comunitárias em áreas periféricas é particularmente relevante, pois elas funcionam como catalisadoras de mudanças socioeconômicas. Em muitas cidades, essas instituições são responsáveis por dinamizar a economia local, seja pela geração de empregos, seja pela formação de profissionais que atuam diretamente na região.
Pesquisas indicam que a presença de uma universidade comunitária em áreas menos desenvolvidas está associada a melhorias nos índices de desenvolvimento humano, incluindo saúde, educação e renda (Oliveira, 2020).
Ademais disso, projetos de extensão voltados para comunidades carentes — como atendimento jurídico gratuito, programas de alfabetização e capacitação profissional — reforçam o vínculo entre a universidade e a sociedade, tornando o conhecimento acadêmico acessível a todos.
O contributo das universidades comunitárias para a construção da sociedade também se manifesta na produção de pesquisas aplicadas, que buscam resolver problemas concretos da população. Ao contrário de instituições voltadas exclusivamente para a pesquisa teórica, as comunitárias priorizam estudos que tenham impacto direto na qualidade de vida das pessoas.
À guisa de exemplo, projetos na área de saúde pública, desenvolvimento sustentável e tecnologias sociais são frequentemente desenvolvidos em parceria com as comunidades, garantindo que os resultados sejam efetivamente aplicáveis (Silva; Pereira, 2021). Essa abordagem prática fortalece a função social da universidade, posicionando-a como uma aliada no enfrentamento de desafios regionais e nacionais.
Outro aspecto relevante é o estímulo à participação cidadã e ao engajamento democrático. As universidades comunitárias, por sua natureza, incentivam a formação de indivíduos críticos e socialmente responsáveis, capazes de intervir positivamente em suas realidades.
Programas de voluntariado, debates sobre políticas públicas e parcerias com movimentos sociais são algumas das estratégias utilizadas para promover a cidadania ativa (Freitas, 2018).
Destarte, essas instituições não apenas formam profissionais qualificados, mas também cidadãos conscientes de seu papel na transformação social.
Por conseguinte, pontua-se que as universidades comunitárias exercem uma função indispensável na sociedade, combinando ensino, pesquisa e extensão de maneira integrada e comprometida com o desenvolvimento humano.
Sua “performance” em áreas periféricas demonstra como a educação superior pode ser um instrumento de equidade, enquanto sua produção acadêmica e projetos sociais reforçam seu compromisso com o bem coletivo. Como destacam diversos autores, o modelo das universidades comunitárias representa uma alternativa viável e necessária para uma educação superior verdadeiramente inclusiva e transformadora (Carvalho, 2022).
4. A PARCERIA ENTRE UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
A colaboração entre universidades comunitárias e a Administração Pública tem se consolidado como um mecanismo estratégico para o desenvolvimento social, econômico e tecnológico, alinhando o conhecimento acadêmico às demandas da sociedade. Essa parceria é amparada por um conjunto de fundamentos legais e normativos que legitimam e orientam sua atuação.
No Brasil, a Constituição Federal de 1988 estabelece, em seu artigo 207, a autonomia universitária, ao mesmo tempo em que vincula as instituições de ensino superior ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, reforçando seu papel na promoção do bem público (BRASIL, 1988).
A par disso, a Lei nº 13.019/2014, conhecida como Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (MROSC), proporciona um arcabouço jurídico para a formalização de parcerias entre o poder público e entidades sem fins lucrativos, incluindo as universidades comunitárias, ao definir diretrizes para termos de colaboração, fomento e convênios (BRASIL, 2014).
No âmbito normativo, as universidades comunitárias, embora não integrem diretamente a estrutura estatal, desempenham funções públicas, conforme destacado por Dias (2018).
Essas instituições, muitas vezes mantidas por fundações ou associações de caráter privado, atuam em consonância com políticas públicas, especialmente em regiões onde a presença do Estado é limitada. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB – Lei nº 9.394/1996) reconhece a importância do setor privado na educação superior, desde que observados critérios de qualidade e relevância social, o que permite a essas universidades firmarem acordos com governos municipais, estaduais e federal para a execução de projetos educacionais, tecnológicos e de inovação (BRASIL, 1996).
Diversos modelos de cooperação têm sido adotados para viabilizar a interação entre universidades comunitárias e o poder público, cada um adaptado às necessidades específicas dos territórios e às competências institucionais.
Um dos formatos mais comuns consiste na celebração de convênios para a oferta de cursos de graduação e pós-graduação em áreas estratégicas, como saúde, educação e engenharias, frequentemente com financiamento público por meio de editais específicos.
Outra modalidade é a participação das universidades em consórcios intermunicipais, nos quais atuam como agentes de capacitação técnica e consultoria, auxiliando na elaboração de políticas públicas locais, conforme apontado por Mendes e Souza (2020). Além disso, projetos de extensão universitária, financiados por órgãos como o Ministério da Educação (MEC) ou secretarias estaduais, permitem que estudantes e docentes desenvolvam ações direcionadas a comunidades vulneráveis, alinhando o saber acadêmico às demandas sociais.
Ainda nesse contexto, as universidades comunitárias têm se destacado na prestação de serviços especializados ao poder público, como a realização de pesquisas aplicadas e avaliação de políticas públicas. Programas como o Sistema Único de Saúde (SUS) e o Sistema Nacional de Segurança Pública frequentemente estabelecem parcerias com instituições acadêmicas para a formação de profissionais e a produção de conhecimento técnico-científico, como observado por Silva (2017).
Essas colaborações são fundamentais em regiões com carência de recursos humanos qualificados, onde a universidade assume um papel complementar ao Estado na oferta de serviços essenciais.
Entre as principais vantagens dessa parceria, destaca-se a potencialização de recursos públicos e acadêmicos, permitindo que projetos de grande escala sejam executados com eficiência. A universidade, ao atuar em cooperação com o governo, consegue ampliar seu impacto social, garantindo que suas pesquisas e atividades extensionistas tenham aplicação prática na solução de problemas reais, conforme argumenta Freitas (2019). Por outro lado, o poder público se beneficia do conhecimento técnico e da infraestrutura das instituições de ensino, reduzindo custos e aumentando a qualidade das políticas implementadas.
Estudos apontam que municípios que mantêm parcerias sólidas com universidades apresentam melhores indicadores em áreas como saúde, educação e desenvolvimento econômico, evidenciando o caráter transformador dessa relação (VIEIRA, 2018).
No entanto, os desafios inerentes a essa colaboração não podem ser negligenciados. Um dos principais obstáculos é a burocracia envolvida nos processos de contratação e prestação de contas, que muitas vezes desestimula a adesão de instituições acadêmicas a editais públicos, como destacado por Santos (2021).
A carência de continuidade de políticas públicas em decorrência de modificações de gestão, também compromete a sustentabilidade dos projetos, gerando descontinuidade em iniciativas de longo prazo. Além disso, há críticas quanto ao risco de mercantilização do conhecimento, em que a universidade pode ser cooptada por interesses políticos ou econômicos, desvirtuando sua missão social (Dias, 2018).
Conquanto tais reptos, a parceria entre universidades comunitárias e administração pública segue como um caminho promissor para a inovação e o desenvolvimento regional. De acordo com Vieira (2018), para que essa relação seja fortalecida, especialistas sugerem a criação de marcos legais mais flexíveis, que facilitem a formalização de acordos sem renunciar ao rigor na fiscalização.
Outtrossim, importa o estabelecimento de mecanismos de avaliação contínua, garantindo que os projetos atendam efetivamente às necessidades da população.
Quando bem estruturada, essa colaboração pode se tornar um exemplo de como o setor público e o acadêmico podem trabalhar juntos em prol do interesse coletivo.
5. A UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA COMO PRESTADORA DE SERVIÇO: UMA DISCUSSÃO
A relação entre universidades comunitárias e a administração pública tem se mostrado fundamental para o desenvolvimento regional, promovendo a integração entre conhecimento acadêmico e demandas sociais. Essas parcerias possibilitam a oferta de serviços essenciais, como educação, saúde, assessoria jurídica e inovação tecnológica, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida das comunidades envolvidas.
A “performance” conjunta entre essas instituições fortalece o papel social da universidade, que, além de formar profissionais, assume um compromisso com a transformação da realidade local.
No campo da educação, as universidades comunitárias desenvolvem programas de extensão que ampliam o acesso ao conhecimento, especialmente em regiões com carências de infraestrutura educacional. Os projetos como cursos de alfabetização, preparação para o Enem e formação continuada de professores são exemplos de como essas instituições colaboram com as políticas públicas de educação.
Na área da saúde, as parcerias permitem a realização de atendimentos básicos, campanhas de prevenção e pesquisas aplicadas, beneficiando populações que enfrentam dificuldades de acesso aos serviços médicos (Freire, 2011).
A assessoria jurídica gratuita, por sua vez, viabiliza o atendimento a grupos vulneráveis, garantindo o acesso à justiça e a defesa de direitos fundamentais. Além disso, a inovação tecnológica desenvolvida nas universidades tem impulsionado o crescimento econômico regional, com a criação de startups e a transferência de tecnologia para pequenas e médias empresas.
O impacto social e econômico dessas ações é significativo, pois as universidades comunitárias não apenas qualificam mão de obra, mas também estimulam o desenvolvimento local. Estudos demonstram que regiões com forte presença de instituições de ensino superior tendem a apresentar melhores índices de emprego, renda e bem-estar social.
A “performance” extensionista das universidades também fortalece a participação cidadã, ao envolver a comunidade na discussão e solução de problemas públicos.
Um exemplo disso são os projetos de urbanização e revitalização de espaços públicos, que contam com a colaboração de estudantes, professores e moradores, gerando benefícios coletivos.
Alguns casos ilustram bem o sucesso dessas parcerias. Em Santa Catarina, a Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó) desenvolveu um programa de incubação de empresas que impulsionou o empreendedorismo local, resultando na criação de dezenas de negócios sustentáveis.
No Rio Grande do Sul, a Universidade de Caxias do Sul (UCS) firmou convênios com prefeituras para oferecer consultorias em gestão pública, melhorando a eficiência administrativa dos municípios. Essas experiências evidenciam como a colaboração entre universidades e poder público pode gerar soluções inovadoras e replicáveis.
A sustentabilidade financeira dessas iniciativas, no entanto, é um desafio constante. Embora as universidades comunitárias recebam recursos públicos e privados, a captação de fundos precisa ser diversificada para garantir a continuidade dos projetos. Editais de fomento, parcerias com empresas e convênios internacionais são algumas das estratégias adotadas para viabilizar financeiramente as ações extensionistas.
A ampliação dessas parcerias é essencial para expandir o alcance dos serviços prestados, incorporando novas tecnologias e metodologias que atendam às demandas emergentes.
O papel das universidades comunitárias na construção de políticas públicas também merece destaque. Por sua proximidade com a sociedade civil, essas instituições funcionam como mediadoras entre o Estado e a população, contribuindo para a elaboração de políticas mais democráticas e eficazes. Pesquisas realizadas no âmbito acadêmico fornecem subsídios técnicos para a tomada de decisão, enquanto os projetos de extensão testam e validam soluções em contextos reais. Dessa forma, as universidades não apenas criticam as políticas existentes, mas também propõem alternativas baseadas em evidências.
Em epítome, a parceria entre universidades comunitárias e administração pública é um eixo estratégico para o desenvolvimento sustentável. Ao combinar conhecimento científico, engajamento social e gestão pública, essas colaborações geram impactos positivos que transcendem os muros da academia, beneficiando toda a sociedade.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise da parceria entre universidades comunitárias e a administração pública revela um cenário de grande potencial transformador, no qual o conhecimento acadêmico se converte em ferramenta de desenvolvimento social e econômico.
Ao longo deste estudo, foi possível identificar que essas colaborações permitem a oferta de serviços essenciais, como educação, saúde, assessoria jurídica e inovação tecnológica, atendendo demandas que muitas vezes não são plenamente supridas pelo poder público.
Ademais disso, os impactos gerados por essas ações extrapolam os limites das instituições de ensino, beneficiando comunidades inteiras por meio da geração de emprego, qualificação profissional e melhoria da qualidade de vida.
Entre os principais achados, destaca-se o papel estratégico das universidades comunitárias como agentes de mudança, capazes de articular saberes científicos com as necessidades locais.
A análise de casos concretos demonstrou que projetos bem-sucedidos, como incubadoras de empresas e programas de extensão em saúde, não apenas resolvem problemas imediatos, mas também criam um ciclo virtuoso de desenvolvimento sustentável. Essas experiências evidenciam que a interação entre universidade e gestão pública pode ser um caminho eficaz para a redução das desigualdades sociais e regionais.
Os contributos deste estudo residem, sobretudo, na sistematização de evidências que reforçam a importância das parcerias entre universidades e governo. Ao apresentar exemplos concretos de boas práticas, o trabalho oferece um referencial para outras instituições que desejam ampliar sua atuação extensionista e fortalecer seu compromisso social.
A par disso, a discussão sobre sustentabilidade financeira e inovação nos serviços prestados fornece “insights” valiosos para gestores públicos e acadêmicos que buscam otimizar recursos e maximizar impactos.
No entanto, ainda há lacunas que demandam investigações futuras. Uma delas diz respeito aos mecanismos de avaliação de impacto de longo prazo, pois muitos estudos focam em resultados imediatos, sem acompanhar os efeitos dessas parcerias ao longo dos anos. Sugere-se, portanto, a realização de pesquisas longitudinais que meçam, por exemplo, como os projetos de extensão influenciam indicadores socioeconômicos em um período de cinco a dez anos.
Outra linha de investigação promissora é a análise comparativa entre diferentes modelos de financiamento, buscando identificar quais estratégias—seja por meio de editais, parcerias público-privadas ou fundos internacionais—garantem maior estabilidade e escalabilidade às iniciativas universitárias.
À guisa de conclusão, recomenda-se que estudos futuros explorem o papel das universidades comunitárias na formulação de políticas públicas setoriais, como educação básica, saúde preventiva e desenvolvimento tecnológico. A academia possui um potencial ainda pouco explorado como espaço de experimentação e proposição de políticas inovadoras, e pesquisas nessa direção podem contribuir para uma governança mais participativa e baseada em evidências.
Em epítome, este trabalho reforça a tese de que a integração entre universidade e Administração Pública não é apenas desejável, mas indispensável para a construção de uma sociedade mais justa e desenvolvida.
REFERÊNCIAS
ABRUC. Associação Brasileira das Universidades Comunitárias. Disponível em: http://www.abruc.org.br. Acesso em: 15 out. 2023.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988.
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996.
BRASIL. Lei nº 13.019, de 31 de julho de 2014. Institui o Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 1 ago. 2014.
CARVALHO, M. A. Educação superior e inclusão social: o papel das universidades comunitárias. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2022.
CUNHA, L. A. A universidade crítica: o ensino superior na república populista. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 2008.
DIAS SOBRINHO, J. Universidade e novos modos de produção, circulação e aplicação do conhecimento. Campinas: Mercado de Letras, 2010.
DIAS, R. S. Democratização do acesso ao ensino superior: desafios e perspectivas. Porto Alegre: Artmed, 2019.
FREIRE, P. Extensão ou comunicação? 15. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011.
FREITAS, L. P. Universidade e sociedade: o compromisso das instituições comunitárias. Belo Horizonte: Autêntica, 2018.
FRIGOTTO, G.; CIAVATTA, M. A experiência do trabalho e a educação básica. Rio de Janeiro: Lamparina, 2013.
MENDES, A. M.; SOUZA, L. P. Modelos de cooperação entre universidades e poder público: experiências e lições aprendidas. Revista Brasileira de Políticas Públicas, v. 9, n. 2, p. 78-95, 2020.
MOROSINI, M. C. Universidade comunitária e inovação social. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2012.
NISKIER, A. Educação brasileira: 500 anos de história. São Paulo: Edições Loyola, 2001.
OLIVEIRA, J. T. Impacto das universidades comunitárias no desenvolvimento regional. Curitiba: CRV, 2020.
RISTOFF, D. O novo perfil do campus brasileiro: uma análise do censo da educação superior. Brasília: INEP, 2014.
SANTOS, B. S.; ALMEIDA, M. C. A universidade no século XXI: para uma reforma democrática e emancipatória da universidade. São Paulo: Cortez, 2015.
SANTOS, E. M. O futuro da educação superior no Brasil: o modelo comunitário. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017.
SANTOS, M. F. Burocracia e flexibilidade nas parcerias público-acadêmicas. Cadernos Gestão Pública, v. 25, n. 1, p. 112-130, 2021.
SILVA, E. C. O impacto das universidades comunitárias nas políticas públicas locais. São Paulo: Editora Unesp, 2017.
SILVA, A. B.; PEREIRA, C. D. Pesquisa aplicada e extensão universitária: caminhos para a transformação social. São Paulo: Edusp, 2021.
SGUISSARDI, V. Universidade brasileira no século XXI: desafios do presente. São Paulo: Cortez, 2016.
UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA DA REGIÃO DE CHAPECÓ. Relatório de atividades extensionistas. Chapecó: Unochapecó, 2020.
UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL.Parcerias para o desenvolvimento regional. Caxias do Sul: UCS, 2019.
VIEIRA, P. R. A colaboração entre universidade e Estado: vantagens e riscos. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2018.
1Doutor em Engenharia e Gestão do Conhecimento (UFSC). Pós-Doutor em Gestão do Conhecimento (UFSC). Universidade do Alto Vale do Rio do Peixe (UNIARP). Endereço da Uiniarp: Rua Victor Baptista Adami, 800, Caçador (SC). Orcid: https://orcid.org/0000-0003-3916-972X E-mail: adelciomachado@gmail.com
2Mestra em Ciência Jurídica (Univali). Graduada em Direito e Pedagogia.. Doutoranda em Desenvolvimento Regional. Docente e pesquisadora da Universidade do Contestado (UnC),Endereço da UnC: Av. Presidente Nereu Ramos, 1071, Mafra (SC).Grupo de Pesquisa: Educação, Política e Sociedade. htpps://orcid.org/0009-0001-9274-030X. reitoria@unc.br
