A TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL PARA O TRATAMENTO DA FOBIA ESPECÍFICA DE DIREÇÃO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11106548


Caroline Haussman dos Santos 1
Régio Marcos Pinto Abreu Filho 2
Ellen Marianne dos Santos 3


RESUMO

Este estudo teve como objetivo realizar um levantamento sobre o contexto da Psicologia do Trânsito e medo de dirigir. Posteriormente este estudo verificou a aplicabilidade da Terapia Cognitivo Comportamental no contexto da fobia específica com base em estudos anteriores já realizados em pacientes residentes nas cidade do Brasil. Métodos: Foi utilizado como critério de busca plataformas como: Lilacs, Google Acadêmico, Scielo e Pepsic. As palavras chaves utilizadas foram: fobia de direção; Terapia Comportamental; Fobias específicas e tratamento para fobias específicas. Foi utilizado como critério os últimos cinco anos e estudos que abordavam as fobias específicas de direção no contexto Brasileiro. Resultados: Foram encontrados ao todo 196 artigos e excluídos do critério de pesquisa 57 para analise mais aprofundada.

Palavras – chaves: Psicologia do Trânsito; Fobias específicas; Terapia Cognitivo Comportamental

ABSTRACT

This study aimed to survey the context of Traffic Psychology and fear of driving. Subsequently, this study verified the applicability of Cognitive Behavioral Therapy in the context of specific phobia based on previous studies conducted in patients residing in cities in Brazil. Methods: Platforms such as Lilacs, Google Scholar, Scielo, and Pepsic were used as search criteria. The keywords used were: driving phobia; Behavioral Therapy; Specific Phobias, and treatment for specific phobias. The last five years were used as the criteria, and studies addressing specific driving phobias in the Brazilian context were included. Results: A total of 196 articles were found, and 57 were excluded from the search criteria for further analysis.

Keywords: Traffic Psychology; Specific Phobias; Cognitive Behavioral Therapy.”

INTRODUÇÃO

As fobias específicas são caracterizadas por serem transtornos de ansiedade que afetam cerca de 5% da população, mais especificamente 13% das mulheres e 4% dos homens (Barnhill  et al. 2015) A Fobia específica é definida como um medo irracional e persistente, que muitas vezes é tido como desproporcional ao estímulo exposto e que para o indivíduo apresenta-se como perigo iminente. (CID 10)

Como muitos transtornos fóbicos, a Fobia específica tem como foco primordial a esquiva dos estímulos aversivos e portanto, a evitação dos mesmos, levando o paciente a não realizar diversas atividades que o coloquem na situação temida.

A fonte causadora de ansiedade por variar amplamente. Exemplos comuns de Fobias são: Fobia de Agulha; animais; ambientes fechados; altura, entre outros, até o medo de  direção, foco do presente estudo.

Os sintomas mais comuns apontados pelo DSM 5 são: sensação de desmaio; corpo trêmulo, coração acelerado, suor excessivo, náuseas, boca seca, pânico, ansiedade, sentimentos de pavor e falta de ar. (DSM5)

Atualmente, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é considerada a abordagem psicoterápica mais eficaz para o tratamento das fobias específicas, com taxas de melhora de até 70% . Prazeres et. al (2007) endossam este dado ao afirmar que  desde a década de 70 diversos estudos mostraram que terapias de base cognitivo-comportamental são tratamentos eficazes que produzem uma melhora em 60-85% dos pacientes em geral.

A TCC surgiu em 1960 quando Aaron Beck concebeu uma psicoterapia estruturada, de curta duração, voltada para o presente, direcionada para a solução de problemas atuais e a modificação de pensamentos e comportamentos disfuncionais (inadequados e/ou inúteis). O modelo cognitivo proposto pelo autor parte da ideia de que quando os indivíduos passam a fazer uma avaliação mais realista e adaptativa dos seus pensamentos, ocorrem mudanças em seu estado emocional e no comportamento (BECK, 2013).

Beck (1964) afirma que a TCC parte do pressuposto que é preciso trabalhar as crenças básicas do indivíduo sobre si mesmo e o mundo para assim realizar as modificações das crenças disfuncionais subjacentes a fim de produzir a melhora duradoura.  A abordagem atua diretamente sobre o sistema de esquemas e crenças, tendo como objetivo promover sua reestruturação e auxiliar na resolução de problemas. Rangé (2003) sinaliza que no modelo cognitivo os pensamentos recorrentes evocam respostas cognitivas, sob a condição de pensamentos automáticos disfuncionais. 

As estratégias mais utilizadas dentro da TCC para o tratamento das Fobias consistem em discussão dos pensamentos automáticos, sinalizando o medo disfuncional e dos esquemas de responsabilidade do paciente. Portanto, através da conceitualização cognitiva e automonitoramento é possível verificar os pensamentos automáticos e as crenças disfuncionais do cliente. Posteriormente é feita a modificação de interpretações irrealistas, por meio da reestruturação cognitiva.  O questionamento socrático também é uma técnica muito importante e usada pelos terapeutas além de ser eficaz no momento da psicoeducação e das estratégias de exposição do paciente. (Prazeres et al. 2007).

Dentre as intervenções utilizadas na TCC para sintomas de ansiedade encontra-se a exposição e prevenção de resposta (EPR). Esta técnica tem como premissa o enfraquecimento da associação entre a o estímulo temido e o aumento dos sintomas da ansiedade. Portanto, no modelo da EPR são realizadas exposições prolongadas de forma gradual com o objetivo de confrontar o estímulo relacionado ao conteúdo e interromper os comportamentos ansiogênicos associados a ele (Formiga, 2012). O modelo explica que a eficácia em obter o alívio leva o cliente a toda vez que manifestar novas fobias, tornando a repetição uma forma de evitação dos medos e consequentemente do seu desaparecimento por meio da habituação. (Cordioli, 2008). Antony (2011) adiciona que a “exposição” remete ao enfrentamento repetido e sistemático das situações e objetos fóbicos, ou seja, sugere o contato com o estímulo aversivo que o cliente tende a evitar. Portanto, enquanto a exposição é caracterizada pelo enfrentamento gradual dos estímulos fóbicos.

No modelo EPR, as exposições são realizadas de duas maneiras: ao vivo e imaginária. Esta técnica consiste em realizar o enquadramento hierárquico dos estímulos aversivos (considerando uma escala de 1 a 10 para cada situação) e estimular o cliente a enfrentar com o auxílio do terapeuta, cada uma das situações temidas de forma gradual, levando em consideração que o objetivo da exposição é habituar o nível de ansiedade do cliente. Na exposição imaginária o terapeuta solicita que o cliente crie cenas que lhe são consideradas como aversivas e que verbalize todos os detalhes de forma vívida, causando assim o desconforto similar à vivência do acontecimento. Outra forma de exposição imaginária consiste em solicitar que o cliente escreva com detalhes algum acontecimento contendo o estímulo aversivo. Após escrever, o cliente deve ler rapidamente e repetidas vezes a história (deve ser curta e deve ser contada no máximo em 4 minutos). O objetivo de ambas as formas de exposição é dessensibilizar o cliente para que ao visualizar a cena ou contar a história, vá diminuindo o limiar de ansiedade até a habituação.  Esse tipo de exposição é realizado quando não é possível realizar a exposição in vivo, ou seja, a exposição real, quando há o contato direto com fator fóbico.

Tendo a Fobia específica de direção e a Terapia Cognitivo Comportamental como foco central, este trabalho buscou realizar uma uma revisão de literatura sobre as intervenções comportamentais voltadas para o medo de dirigir.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

É de entendimento da área da Psicologia que as fobias específicas alcançam um grande número de pessoas na população Brasileira, seja uma fobia de agulhas ou uma fobia de voar, a fobia específica vem sendo cada vez mais estudada e recorrentemente falada no campo da Psicologia e Psiquiatria. Para o melhor entendimento sobre este contexto, o manual diagnóstico e Estatístico de transtornos mentais (DSM 5) fala sobre os transtornos fóbicos assinalando que podem ser caracterizados como um medo e ansiedade  quando o indivíduo está diante de situação específica ou objeto em particular, logo, o indivíduo tende a evitar o estímulo aversivo, visto que, caso exposto o nível de ansiedade deste indivíduo pode subir ao ponto de ocasionar um ataque de pânico (Castillo, 2000).

O DSM aborda que este medo e ansiedade são considerados desproporcionais ao perigo real, afetando de maneira geral vida e o comportamento dos sujeitos. Para além, afirma que  o medo e a ansiedade podem estar ligados a um evento vivenciado ou observado que é considerado traumático para o individuo, no todavia, pode ocorrer do sujeito não se recordar do evento inicial que causou a fobia específica. (Guimarães et al. 2015)

Para ser diagnosticado a Fobia Específica, o medo e a ansiedade ao estimulo fóbico precisa estar presente por pelo menos 6 meses, causando prejuízo em mais de um campo da vida do sujeito e apesar de não possuir uma lista oficial sobre quais são as fobias específicas, o DSM sugere as seguintes  categorias principais: Fobia de animais; fobias de alturas, chuva, escuro; sangue, lesões; injeções; situações específicas como por exemplo (voar, andar de elevador, dirigir); e outros como por exemplo asfixia, barulhos altos, afogamento, palhaços, máscaras e etc.

Ramos (2007) cita que esta classificação de fobias específicas facilita o diagnóstico e posteriormente evita o uso de extensas listas de situações ou objetos.

No que diz respeito à busca por tratamento, a literatura aponta uma grande resistência para buscar ajuda, visto que em diversos casos o desconhecimento à respeito das abordagens disponíveis, o receio de confronto com o objeto temido e o fracasso já experimentado em tratamentos anteriores e não eficazes são frequentemente evidenciados (Oliveira et al. 2011)

De acordo com Mognon et al. (2017) os sujeitos que possuem problemas ansiosos ao dirigir muitas vezes acreditam estar sendo observados e julgados por outras pessoas, tendo sempre uma sensação de avaliação comportamental constante no momento em que estão dirigindo. Além disso, Segundo Corassa (2000) Dentre as características mais comuns no medo de dirigir  e as questões relatadas na prática clínica, são citados o  receio de errar e acabar machucando alguém, de ser criticado por alguém, de perder o controle do veículo e  sofrer um acidente ou de atropelar um pedestre.

O autor afirma que tratamento para quem possui Fobia de dirigir consiste na busca por psicoterapia de base comportamental, e em sua grande maioria deve utilizar a exposição às situações temidas no transito, através da  desensibilização in vivo ou pela exposição à realidade virtual (VRET)

MÉTODO

Para a elaboração desta pesquisa foi realiza um uma revisão não sistemática da literatura acerca do tema: Fobias específicas e terapia cognitivo comportamental no contexto Brasileiro.  Foram adicionados aos critérios de busca materiais já publicados na íntegra constituídos por livros e artigos. A priori foram realizadas buscas sobre transtornos ansiosos e Fobias específicas em geral e tratamentos para o transtorno. O critério selecionado para a busca foram estudos realizados entre 2015 a 2020 em contexto Brasileiro. Após selecionados os estudos que abordavam o tema da fobia específica, foram selecionados os artigos que abordavam a fobia específica de direção e o tratamento da terapia cognitivo comportamental como critério interventivo.

As plataformas utilizadas para a busca foram Lilacs, Scielo, e Pepsic e foram utilizados os seguintes descritores: Terapia cognitivo comportamental e fobias específicas; Fobia de direção e tratamento; Terapia comportamental intervenção; Transtornos ansiosos e Fobias específicas no Brasil e medo de dirigir. Os descritores foram  pesquisados em Português, Inglês e Espanhol.  Foram encontrados ao todo 196 artigos e excluídos do critério de pesquisa 57 para analise mais aprofundada

RESULTADOS

Foram encontrados ao todo 159 estudos que abordavam o tema das Fobias específicas em geral, no entanto, quando pesquisado especificamente sobre fobias de direção, este número caiu.  Na plataforma Scielo foram encontrados 15 estudos que abordavam o tema Fobias especificas, no entanto, apenas 8 estudos Brasileiros, e apenas 2 que abordavam a terapia cognitivo comportamental para o tratamento de fobias específicas. Na plataforma Pepsic, foi encontrado 1 artigo sobre fobia de direção e o mesmo não abordava o tema da terapia cognitivo comportamental. Na plataforma Lilacs foram encontrados 10 artigos abordando o tema “fobia de direção” e destes, 3 abordavam o tema da terapia cognitivo comportamental.

Dentro dos critérios excludentes, de 26 artigos expostos nas três plataformas citadas, um total de 5 artigos puderam ser considerados para analise deste estudo

CONCLUSÃO

Segundo Mognon (2017) em estudos internacionais como por exemplo, Estados Unidos e Nova Zelândia, a fobia de direção vem ocupando uma posição de destaque nos debates na literatura cientifica, no entanto, foi evidenciado que os estudos  realizados acerca da fobia de direção no  Brasil só apareceram na literatura por volta de 2015.

Dos 5 artigos analisados, 4 citaram a terapia cognitivo comportamental como aliada no tratamento para a fobia de direção. Isso denota que apesar da literatura escassa sobre o tema, já se tem demonstrado que a mesma pode demonstrar resultados positivos na melhora do transtorno.

Acerca de estudos realizados no Brasil sobre a fobia de direção, um estudo realizado por Cantini et al. (2015) avaliou 93 sujeitos de ambos o sexos concluiu que 50,5%o tinham medo de dirigir e relatavam a falta de prática (35,5%), além disso, Almeida et al. (2005) apontam que o contexto sociocultural se faz relevante para compreender os aspectos que podem ocasionar o  medo da direção.  

Durante o estudo sobre a fobia de direção toda a literatura aponta a importância do estudo relacionado a fatores culturais, isso pois o contexto do trânsito está ligado a todo um processo de gênero, escolaridade, nível socioeconômico.   O estudo de Mognon (2017) corrobora com esses dados afirmando, por exemplo, que as mulheres são as que mais sofrem com a fobia de direção (mulheres na faixa etária dos 30 aos 45 anos) isso pois em grande parte do contexto Brasileiro, muito se aborda sobre a crença cultural de que mulheres dirigem pior que homens.  Bottega (2016) assinala essa marcante diferença de gênero no trânsito citando que as mulheres possam ter ansiedade de direção por sofrerem desqualificação social quanto a sua habilidade no trânsito.

No entanto, apesar de serem considerados minoria, homens possuem maiores dificuldades na busca de ajuda visto que a o contexto cultural que exerce uma forte pressão para que o homem seja um bom motorista, isso se explica pelo fato de meninos receberem desde muito criança carrinhos de brinquedo. Outro dado importante é que Segundo dados do IBGE (2015) e citado no estudo de Bottega (2016) grande parte dos acidentes no trânsito são provocados ou envolvem homens ao volante.

Haydu et al. (2016) apontam a  terapia de exposição por meio de realidade virtual (VRET), amplamente usada na terapia cognitivo comportamental como crescente e promissora no tratamento da fobia de Direção. Esta técnica consiste na exposição virtual e controlada do paciente que possui fobia de direção, isso permite que o terapeuta consiga controlar de maneira mais eficaz as variáveis do contexto.) Costa et al. (2010) afirmam que ao final do tratamento utilizando como método o VRET, 83% dos motoristas voltaram a dirigir e diminuíram os sintomas ansiosos na condução de veículos.

Bellina (2009) desenvolveu um método de tratamento chamado “Terapia do Volante” que consiste em sucessivos enfrentamentos à respeito do estimulo aversivo de dirigir, no entanto, nesta técnica o terapeuta está presente no carro. Logo, a técnica é caracterizada por ser uma abordagem de dessensibilização sistemática, também amplamente abordada no contexto da terapia cognitivo comportamental.

Tramontin e Mello (2018) citam ainda abordagens de Corassa e Mestre (2000) que afirmam a superação da fobia ao volante utilizando técnicas da terapia cognitivo comportamental abordando a modelação do comportamento através do terapeuta, em conjunto com técnicas cognitivas como a descatastrofização, a modificação de crenças centrais e intermediárias do indivíduo e o treino assertivo.

Mognon et al. (2017) abordam  estudos descrevendo as intervenções para o tratamento são em sua maioria o relaxamento e respiração, dessensibilização in vivo, dessenbilização sistemática e uso de simuladores de direção mais conhecidos como VRET. (Kraft e Kraft, 2004; Wald e Taylor, 2000; Walshe et al., 2003; Wellman, 1978; Rosetto, 1983).

Apesar da literatura científica apresentar de forma muita escassa o contexto da fobia de direção e o tratamento através da terapia cognitivo comportamental, foi possível perceber que em grande parte dos estudos encontrados que abordaram técnicas de tratamento para o controle do medo ao dirigir.

Além disso, se faz necessário maior atenção por parte do campo da ciência, visto que no contexto brasileiro o número de estudos se faz insuficiente para embasar a eficácia da abordagem no contexto do transtorno.

Apesar disso, foi possível perceber fatores como gênero, sociedade, cultura, classe social e outra variáveis que propiciam o aparecimento de sintomas ansiogênicos no volante, isso por si só já denota uma necessidade de maiores questionamentos por parte da literatura científica.

REFERÊNCIAS

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1 UFRJ

2 Souza Marques

3 UFRRJ