REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202511171456
Clidenor Noronha Freitas Santos1; Ana Júlia Andrade Muniz2; Antônio Carlos Costa Oliveira Filho3; Rafael Pires Martins4; Ryan Diniz Santos5; Nelson Agapito Brandão Rios6; Francisco Honeidy Carvalho Azevedo7
Resumo
O objeto de estudo desse artigo é a terapia cognitivo-comportamental no tratamento da dependência química. Essa pesquisa partiu da seguinte questão: como a terapia cognitivo-comportamental pode auxiliar no tratamento do dependente químico? O estudo parte da hipótese que a terapia cognitivo-comportamental compõe uma ferramenta relevante para auxiliar no complexo tratamento do dependente químico. Isto posto, o objetivo desse artigo é identificar as interfaces da terapia cognitivo-comportamental no tratamento do dependente químico. Foi realizada uma revisão integrativa através da busca de publicações físicas e de artigos na Scientific Electronic Library Online (SciELO) utilizando os descritores: terapia cognitivo-comportamental, dependência química, tratamento do dependente químico. A partir desse processo foram selecionados 12 artigos. O resultado da pesquisa demonstrou que os estudos que relacionam a Terapia cognitivo-comportamental com o tratamento da dependência química, e sinalizam para a necessidade de mais pesquisas sobre o tema. O estudo concluiu que a terapia cognitivo-comportamental e os seus modelos derivados e as abordagens complementares formam um arcabouço amplo e promissor nesse processo de intervenção e tratamento da dependência química.
Palavras-chave: Terapia cognitivo-comportamental. Dependência Química. Tratamento.
Abstract
The object of study of this article is cognitive-behavioral therapy in the treatment of chemical dependency. This research started from the following question: how can cognitive-behavioral therapy help in the treatment of chemical dependency? The study is based on the hypothesis that cognitive-behavioral therapy constitutes a relevant tool to assist in the complex treatment of chemical dependency. Given this, the objective of this article is to identify the interfaces of cognitive-behavioral therapy in the treatment of chemical dependency. An integrative review was carried out through the search for physical publications and articles in the Scientific Electronic Library Online (SciELO) using the descriptors: cognitive-behavioral therapy, chemical dependency, treatment of chemical dependency. From this process, 12 articles were selected. The research results demonstrated that studies linking cognitive-behavioral therapy with the treatment of chemical dependency indicate the need for further research on the subject. The study concluded that cognitive-behavioral therapy, its derived models, and complementary approaches form a broad and promising framework in the intervention and treatment process of chemical dependency.
Keywords: Cognitive-behavioral therapy. Chemical dependence. Treatment.
1. Introdução
Na contemporaneidade ocorre um crescimento significativo no abuso de álcool e outras drogas. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde, Organização Mundial de Saúde (OMS, 2023) a dependência de drogas lícitas ou ilícitas é considerada uma doença. Conforme o Relatório Mundial sobre Drogas (2023), do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), observou que cerca de 284 milhões de pessoas — na faixa etária entre 15 e 64 anos — utilizaram drogas em 2020, 26% a mais do que dez anos antes, portanto, ocorreu uma ascendência nos números.
Os percentuais também indicam que no Brasil ocorreu uma maior incidência no uso de drogas lícitas e ilícitas. Segundo o Ministério da Saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS), em 2021, escriturou 400,3 mil atendimentos a pessoas com transtornos mentais e comportamentais ocasionados pelo uso abusivo de drogas e álcool. O número mais expressivo dos pacientes é do sexo masculino com idade de 25 a 29 anos.
Os dados aqui apresentados sugerem que a questão do uso abusivo de drogas lícitas e ilícitas exige a formulação de políticas de saúde pública para mitigar os efeitos desse contexto. Entretanto, a intervenção ou mesmo a estruturação de políticas públicas nesse enredo é uma tarefa complexa que exige uma visão multi e interdisciplinar, englobando aspectos sociais, econômicos, financeiros e médicos, por exemplo.
Nesse sentido, inúmeras formas de intervenção junto ao paciente com dependência química são sugeridas, por exemplo, as fundamentadas no menor dano ou aquelas que preconizam a total abstinência da substância (Souza; Ronzani, 2020). O fato é que o processo de tratamento da dependência química é complexo e exige dos profissionais que atuam nesse contexto escolher a melhor abordagem, levando em conta aspectos individuais e coletivos do paciente.
No campo da Psicologia a Terapia Cognitivo-Comportamental no tratamento de comportamentos adictos é uma abordagem relevante. Estudos de Brandtner; Serralta (2016), Garcia et al (2018), Zaneatto; Laranjeira (2018) e Lopes; Silveira (2020) sugerem resultados positivos no tratamento da adicção. O número de estudos que relacionam as Terapias cognitivo-comportamentais ao tratamento de dependência química ainda são pouco explorados. Nesse sentido, esse artigo procura contribuir com esse debate extremamente necessário em uma sociedade em que a dependência química se amplia de forma exponencial, auxiliando na produção de massa crítica sobre esse conteúdo que ainda apresenta hiatos, demandando, portanto, mais investigações sobre o tema.
Assim, segue a seguinte questão: como a terapia cognitivo-comportamental, seus derivados e abordagens complementares podem auxiliar no tratamento da dependência química? A partir dessa perspectiva evidencia-se o seguinte objetivo que é identificar a relação da Terapia cognitivo-comportamental com seus derivados e abordagens complementares no tratamento da dependência química.
2. Metodologia
Esse estudo consistiu de uma revisão integrativa da literatura que teve como questão norteadora: como a terapia cognitivo-comportamental, seus derivados e abordagens complementares podem auxiliar no tratamento da dependência química? Para o desenvolvimento dessa pesquisa utilizamos como mecanismo de busca artigos postados na Scientific Electronic Library Online – SciELO.
Foram utilizados os seguintes descritores: “terapia cognitivo-comportamental”, “dependência química”, “tratamento do dependente químico”. Esses termos foram utilizados isoladamente ou em conjunto para busca de material crítico sobre o tema. No levantamento dos dados foram considerados os seguintes critérios de exclusão: artigos duplicados, resumo desalinhado com o objeto da pesquisa e artigos com mais de quinze anos de publicação. Foi efetuada ainda uma pesquisa bibliográfica em livros físicos que versassem sobre o tratamento da dependência química e as terapias cognitivo-comportamentais.
Os resultados e discussão foram feitos de forma descritiva, com a categorização dos resultados de cada artigo selecionado, baseando-se na similaridade de conteúdo. Com base nisso, foram elaboradas categorias analíticas conforme os conteúdos encontrados nos resultados dos artigos, que foram agrupados segundo a semelhança entre os temas abordados.
3. Resultados e discussão
A partir do cruzamento de todos os dados foram encontrados um N = 22 artigos (Universo) e foram selecionados n = 12 artigos (amostra). A análise dos estudos incluídos na amostra dessa revisão integrativa aponta para a relevância do tema, uma vez que entender a relação entre a Terapia cognitivo-comportamental e seus derivados e abordagens complementares no tratamento da dependência química pode contribuir para ampliar o leque de estratégias para lidar com esse problema de saúde pública tão grave e ajudar a apontar caminhos possíveis para a condução do tratamento deste tipo de agravo.
A análise dos achados foi conduzida com base em um diálogo crítico com os autores que abordam essa temática. A discussão dos estudos selecionados como amostra está estruturada em categorias baseadas nos aspectos centrais dessa temática e alinhadas com os objetivos do presente estudo.
3.1 A dependência química
O termo dependência química, embora sempre seja o mais usual, dá perspectiva para uma compreensão segundo a qual determinado componente químico provoca a dependência. Isto é, a dependência química pode ser entendida como uma doença causada pelos efeitos de uma substância. Isto posto, o objeto droga torna-se responsável por causar a doença (Santiago, 2017).
Entretanto, é relevante salientar que esse entendimento não é pacificado na literatura que trata do tema. Importante contribuição de Cordeiro (2018, p. 24) faz uma distinção necessária para a compreensão da dependência química: Uso (seria experimentar ou consumir esporadicamente ou de forma episódica, não acarretando prejuízos por conta disto; Abuso ou uso nocivo (há algum tipo de consequência prejudicial, seja social, psicológica ou biológica); Dependência (perda do controle no consumo, e os prejuízos associados são mais evidentes).
Conforme Schimith; Murta; Queiroz (2015) em uma pesquisa efetuada com dirigentes de instituições que assistem dependentes químicos demonstra que a dependência química foi entendida da seguinte maneira: doença (curável/incurável); falta de amor; falta de caráter. Nesse sentido, podemos inferir que o indivíduo é marcado pela falta: faltam-lhe amor e caráter, em razão disso ele é dependente químico.
Nessa perspectiva Laranjeira (2018, p. 170) comenta que, ainda que a visão do desenvolvimento da dependência química gere controvérsias, colocando lado a lado os que põem a biologia como fator central para o surgimento do transtorno e aqueles que acreditam que o dependente não é uma vítima da doença, mas sim o responsável por sua recuperação; ainda que os vários tratamentos oferecidos para o manejo desse transtorno tragam resultados positivos, mas não dispensem a necessidade de mais estudos para apoiar em evidências as melhores práticas.
Ainda que convivamos, profissionais e pacientes, com o estigma social que considera a dependência química um problema mais moral do que de outra ordem, todas as evidências corroboram a primeira afirmação. A dependência química, um fenômeno considerado de ordem multifatorial, pode ser tratada e, em muitos casos, com sucesso.
A OMS (2024) considera a dependência química como uma doença crônica e progressiva, que se agrava com o passar do tempo, além de provocar outras doenças e ser fatal. É um transtorno mental caracterizado por um conjunto de sinais e sintomas decorrentes da utilização de drogas. Conforme Schimith; Murta; Queiroz (2015, p. 01), a dependência química é uma síndrome crônica com sintomas cognitivos, psicológicos, comportamentais e físicos. Existe um padrão patológico de autoadministração repetida, que geralmente resulta em tolerância, abstinência e comportamento compulsivo de uso da substância. Há preocupação intensa em obter a substância; perda de controle do uso; e uso persistente a despeito de prejuízos evidentes […]. Tolerância e dependência física não são critérios indispensáveis ao diagnóstico da Dependência Química.
Conforme a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), as substâncias geradoras de dependência são: álcool, tabaco, cocaína e derivados como o crack e a pasta-base, maconha, alucinógenos, solventes e inalantes, a exemplo da cola de sapateiro e acetona, estimulantes como anfetaminas e cafeína, opióides, sedativos e hipnóticos (Schimith; Murta; Queiroz, 2015).
A dependência química provoca mudanças comportamentais importantes, além de problemas de saúde que desestruturam o indivíduo e sua família, por exemplo. Além de danos à saúde física e vida social, a dependência química provoca danos à saúde mental do paciente, suscitando em um tratamento complexo e da necessidade de intervenção de múltiplos profissionais para assistir o dependente químico em todas as suas dimensões.
Como assinala Zanelatto; Laranjeira (2018, p. 16), a dependência de substâncias é considerada um fenômeno complexo, inserido em um contexto de igual complexidade, dada a quantidade de variáveis que nele interferem e que, ao mesmo tempo, por ele são influenciadas. O tratamento desse transtorno, portanto, deve ser planejado considerando-se inúmeras condições e objetivando a obtenção de desfechos mais positivos.
Esses são apenas alguns indicativos ressaltados pelo comportamento que expressam a dependência química. Ocorrem outros elementos que incitam para esse diagnóstico como a fissura (Forte impulso subjetivo para usar a substância, com ruminações cognitivas sobre a substância e intenso desejo em assegurar o seu suprimento) e a abstinência (Síndrome que ocorre quando a dose sérica de uma substância é significativamente reduzida ou interrompida, ou um medicamento com mecanismo de ação tipo antagonista é administrado), por exemplo, segundo Henriques; Kessler; Alves Neto (2015).
Observamos que ocorrem uma gama de atenções, como já salientado, tornando o tratamento do dependente químico muito complexo. Nesse sentido, observamos que os profissionais devem conhecer essas dimensões, sob pena de negligenciar o tratamento, caso não se atente as perspectivas multidimensionais envolvidas. A partir do diagnóstico da dependência química inúmeras formas de intervenção são salientadas, dentre as quais as terapias, que compõem um mosaico de possibilidades de intervenção.
3.2 A Terapia Cognitivo-Comportamental
As terapias cognitivo-comportamentais (TCCs) emergem no final dos anos de 1960 com a insatisfação associadas aos modelos de intervenção terapêutica, a exemplo da psicanálise. Podemos dizer que ocorre paralelo a esse contexto mudanças nas ciências cognitivas “as práticas da terapia comportamental não eram suficientemente abrangentes para favorecer uma compreensão mais ampla de problemas emocionais complexos e seu tratamento”, conforme Falcone (2018, p. 96).
Segundo o autor retrocitado, as TCCs abrangem diferentes modelos teóricos e de intervenção, os quais apresentam aspectos em interseção como elementos diferenciados, tanto em suas bases teóricas quanto na prática clínica. O que esses enfoques têm em alinhamento é a ênfase nas estruturas de significado e nos processos de elaboração da informação.
Nesse sentido, Falconi (2018, p. 99), ressalta que a premissa básica das TCCs refere-se à afirmação de que um processo interno e oculto de cognição (pensamentos) influencia as emoções e os comportamentos de uma pessoa. Um mesmo evento pode ser interpretado por diferentes indivíduos como agradável, ameaçador ou hostil, e, dependendo dessa interpretação, a pessoa poderá se sentir satisfeita, amedrontada, enraivecida ou deprimida; consequentemente, ela se comportará de forma espontânea, retraída ou agressiva. A implicação clínica para essa premissa está na possibilidade da atividade cognitiva ser identificável e acessível, mesmo que, a princípio, o indivíduo não esteja consciente dela.
A terapia cognitivo-comportamental apresenta algumas abordagens, que devidamente apresentam suas especificidades implicando em ações profissionais distintas. É possível classificar essas abordagens como alinhadas em três eixos: a reestruturação cognitiva, cognitivo-comportamentais e construtivistas. A partir dessa massa crítica podemos indagar como esses recursos disponibilizados podem auxiliar o dependente químico na busca pela abstinência e sua permanência nesse estado.
3.3 A Terapia Cognitivo-Comportamental no Tratamento da Dependência Química
Segundo Laranjeira (2018, p.15) sobre a influência das terapias cognitivo-comportamentais (TCCs) no tratamento da dependência química assinala que as intervenções psicoterápicas baseadas nos modelos cognitivo-comportamentais têm se mostrado eficazes nos tratamentos de vários transtornos psiquiátricos, entre eles, a dependência de substâncias. O conhecimento e a experiência dos profissionais envolvidos no processo e nos desdobramentos deste auxiliam os pacientes dependentes na construção de um caminho de compreensão do problema da dependência que os leve a um estilo de vida saudável, sem o uso de drogas.
Conforme Zanelatto (2018) as terapias cognitivo-comportamentais (TCCs) têm sido referenciadas como abordagens eficazes no tratamento de inúmeros transtornos psiquiátricos – incluindo o transtorno por uso de substâncias –, e a aplicação desse conjunto de técnicas no contexto do tratamento tem se mostrado eficaz tanto para o alcance como para a manutenção da abstinência em usuários de álcool, tabaco ou substâncias ilícitas. A partir dessas considerações, ora mencionadas, devemos questionar quais seriam as nuances presentes nas TCCs que contribuem para o processo de recuperação e manutenção da abstinência dos dependentes químicos.
De acordo com Falcone (2018, p. 102) a terapia cognitivo-comportamental (reestruturação cognitiva e cognitivo-comportamentais) apresenta os seguintes atributos: atribuição dos transtornos emocionais a disfunções no processamento cognitivo; foco nos problemas específicos e na mudança da cognição para que ocorra a mudança do afeto; terapia de tempo limitado ou mais reduzido do que as outras modalidades de psicoterapia; tratamento de estilo educativo.
O fato é que possuímos um conjunto de intervenções que na base busca a racionalização do dependente químico em relação ao uso da substância.
Serra (2018) explica que a TC fundamenta-se na proposição, essencialmente construtivista, […] de que as respostas emocionais e comportamentais não são influenciadas diretamente por situações, mas pela forma como essas situações são processadas ou construídas. Nesse sentido, emoções e comportamentos seriam uma função das representações do real, das interpretações de eventos internos ou externos ou do significado a eles atribuído. Em outras palavras, interpretações, representações ou atribuições de significado atuam como variáveis mediacionais entre o real percebido pelo sujeito e seus comportamentos e emoções.
De acordo com Silva (2018), segundo a proposta de Aaron Beck o modo como um indivíduo interpreta uma situação específica influencia seus sentimentos, suas motivações e ações. Essas interpretações, por sua vez, são estruturadas pelas crenças ativadas pelas situações.
O modelo cognitivo baseia-se, portanto, na racionalidade teórica de que o afeto e o comportamento de um indivíduo são, em grande parte, determinados pela maneira como ele compreende o mundo. Isto posto, mais relevante do que a situação real é a análise que o indivíduo faz a respeito dela. Um mesmo evento pode, portanto, desencadear distintas emoções (tristeza, raiva, ansiedade, etc.) e comportamentos, entre eles o uso de substâncias psicoativas. Conforme Silva (2018).
Moraes; Boschetti (2018, p. 283), destacam os seguintes estágios de promoção do indivíduo, quando na aplicação da terapia cognitiva: 1. Pré-contemplação – Não há intenção de interromper o uso; 2. Contemplação – O indivíduo torna-se mais consciente dos problemas relacionados ao uso de SPAs e considera ações para mudar; 3. Preparação – Ocorrem ações parciais para cessação ou alteração nos padrões atuais de uso; 4. Ação ou mudança – Ocorrem ações concretas com o objetivo de cessar o uso; 5. Manutenção – A abstinência é mantida, e são promovidas mudanças no estilo de vida.
Conforme os autores retrocitados a TC oferta instrumentos que dão suporte no enfrentamento de situações relativas a cada uma dessas fases, utilizando-se de técnicas específicas. Conforme Silva (2018), por exemplo, quando em um momento de exposição social, um indivíduo cujo esquema cognitivo é de inadequação pode ativar crenças disfuncionais, como “eu não faço nada direito” (crença central) e, por isso, sentir-se ansioso. Essa mesma situação de exposição social pode acionar, em um outro indivíduo, crenças disfuncionais do tipo “eu não sou uma pessoa de que se possa gostar”, e ele se sentirá, então, triste. Em uma terceira pessoa, ainda, pode impulsionar crenças como “as pessoas são intolerantes e perigosas”, e ela, portanto, se sentirá amedrontada e com raiva.
Observamos, portanto, que ocorrem possibilidades de inúmeros sentimentos, que de acordo com a crença, podendo levar o indivíduo ao craving por substâncias, de acordo com seus pensamentos automáticos constituindo o seu pensamento cognitivo.
Silva (2018, p. 127). Sobre a terapia cognitiva e a dependência química, assim conclui que o problema central de um usuário de substâncias psicoativas é um conjunto de crenças relacionadas ao uso, derivadas e diretamente relacionadas com suas crenças centrais básicas a respeito de si mesmo, do mundo e do outro. As crenças centrais, construídas por meio da história de vida precoce e experiências passadas, tais como “Sou desamparado”, “Sou infeliz”, “Não sou querido” ou “Sou vulnerável”, podem ser ativadas diante da exposição a substâncias psicoativas, desenvolvendo um segundo grupo de crenças relacionadas ao uso – “Só consigo lidar com o desconforto psíquico se usar”, “Usando droga, consigo me incluir”, “Se usar, vou ser querido pelos amigos”
Inúmeros derivados da terapia cognitivo-comportamental são utilizados no tratamento da dependência de substâncias, além da terapia cognitiva, conforme Zanelatto (2018) a terapia cognitivo-comportamental das habilidades sociais e de enfrentamento é aplicada e adaptada para o alcance de melhores resultados nessa população específica, mantendo duas premissas centrais: o papel central das habilidades no enfrentamento das situações de risco, em que gatilhos específicos podem ocasionar tanto o lapso quanto a recaída, e o desenvolvimento de habilidades voltadas para o desempenho eficaz de cada paciente, não utilizando, portanto, um protocolo único para todos.
As TCCs estruturam um mosaico de intervenções e técnicas que utilizam diversos instrumentos analíticos da condição do dependente químico que alçam propósitos desde habilidades sociais para evitar recaídas a procedimentos para tomadas de decisão assertivas para sua permanência na sobriedade, como por exemplo, diferenciar razão de emoção, reverter visões negativas de si, ou seja, imprimir novas estratégias comportamentais, mudando crenças e hábitos com a finalidade de ampliar o engajamento do indivíduo e, portanto, aumentando as possibilidades de desfechos positivos quando no tratamento da dependência química.
As TCCs são utilizadas em populações específicas como idosos, adolescentes, mulheres, jovens, adultos no âmbito dos mais diversos vícios como maconha, álcool, crack, cocaína dentre outros. É relevante salientar que as TCCs compõem uma das inúmeras agendas necessárias para o tratamento da dependência química, entretanto, como salienta Laranjeira (2018, p. 17), sobre a demanda multifacetada necessária para intervir na dependência química, entre as principais abordagens de tratamento estão o manejo farmacológico, as intervenções psicoterápicas, o suporte oferecido nos grupos de mútua ajuda (tanto para dependentes quanto para familiares), as ações integradas nas internações voluntárias e involuntárias em clínicas especializadas, nas moradias assistidas ou em comunidades terapêuticas formadas por leigos conhecedores do problema e de seu manejo (hoje com crescente especialização). A experiência mostra que a combinação das várias abordagens oferece ao paciente uma atenção customizada, atendendo-o naquilo que ele mais precisa.
Isto posto, observamos que as TCCs constituem um relevante arcabouço de ações que podem dialogar com as mais diversas abordagens que contribuem para o tratamento da dependência química.
4. Conclusão
O universo das TCCs é amplo e se desdobra em inúmeras teorias que combinadas ou isoladas formam uma massa crítica relevante utilizada para intervir em diversas demandas psiquiátricas e psicológicas. A busca por um modelo de tratamento da dependência química, por exemplo, constitui um desafio para os profissionais que atuam nesse contexto. Nesse sentido, as TCCs expõem técnicas que podem potencializar resultados mais eficazes junto ao tratamento do dependente químico, ou seja, tornar o indivíduo hábil para permanecer sóbrio e evitar recaídas.
É relevante esclarecer que as TCCs buscam posicionar o dependente químico em uma perspectiva mais racionalizada e consciente de sua doença, ressignificando as crenças que mobilizam sua permanência no vício. As TCCs, portanto, formam um conjunto de técnicas poderosas no âmbito da psicoterapia direcionando para mudanças comportamentais, movimentando o indivíduo de maneira progressiva para sua reabilitação.
Esse artigo constitui uma pesquisa sintética sobre as TCCs e como essas imprimem interfaces no tratamento da dependência química. É relevante salientar que as TCCs são apenas um dos instrumentos utilizados e necessários para o tratamento da dependência química, entretanto, de acordo com os estudos, aqui destacados, esse conteúdo mostra-se bastante promissor, quando na sua utilização nesse dramático fenômeno: a dependência química.
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ZANELATTO, Neide A. LARANJEIRA, Ronaldo. Organizadores. O Tratamento da Dependência Química e as Terapias Cognitivo-Comportamentais. Um Guia para Terapeutas. Porto Alegre: Artmed, 2018.
1Psicólogo pós-graduado em Terapia Cognitivo-Comportamental. Graduando em Medicina. Centro Universitário Tecnológico de Teresina (UNI-CET). E-mail: Clidenor86@gmail.com
2Graduanda em Medicina. Centro Universitário Tecnológico de Teresina (UNI-CET). E-mail: najuhmuniz@gmail.com
3Massoterapeuta clínico. Graduando em Medicina. Centro Universitário Tecnológico de Teresina (UNI-CET).
E-mail: carlospersonale@hotmail.com
4Graduando em Medicina. Centro Universitário Tecnológico de Teresina (UNI-CET). E-mail: rafaellttader@hotmail.com
5Graduando em Medicina. Centro Universitário Tecnológico de Teresina (UNI-CET). E-mail: ryandinniz@gmail.com
6Mestre em Engenharia de Materiais (UFMG). Docente do curso de Medicina do Centro Universitário Tecnológico de Teresina (UNI-CET). E-mail: nelson17.rios@gmail.com
7Doutor em Biologia Celular e Molecular Aplicada à Saúde (ULBRA-RS). Docente do curso de Medicina do Centro Universitário Tecnológico de Teresina (UNI-CET). E-mail: honeidy@gmail.com
