A TEIA DE ESCREVIVÊNCIAS CONSTRUÍDA PELO COLETIVO MULHERES DO LER: UMA EXPERIÊNCIA INSTIGADORA INICIADA NA PANDEMIA DA COVID 19 NA BAIXADA FLUMINENSE

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102412131744


                                                              Veronica Cunha[1]
Sandra Regina Sales[2]
Roberta Renoir[3]
Loide Azevedo[4]
Cilene Maria Cavalcanti[5]
Adriana Conceição[6]


RESUMO

O objetivo deste artigo é apresentar o COMLER-Coletivo Mulheres do Ler, que começou o seu trabalho na cidade de Queimados, Baixada Fluminense do Rio de Janeiro. Inicialmente o trabalho se constituia na turma Mulheres do Ler, que nasceu da problematização política à época, em seguida ampliou-se em rodas de conversas mensais que recebiam mulheres de diversos perfis, escolarizadas ou não. O encontro de configurava para discutir demandas apresentadas pelas próprias mulheres, algumas vezes com a presença de profissionais convidados, tais como psicólogas, educadores físicos, advogadas, dentre outros. A pesquisa utilizou uma abordagem teórico-metodológica que se reporta ao conceito de escrevivência,em uma pesquisa documental que revisita os cinco volumes do livro Mulheres do Ler e o repositório virtual do Coletivo na plataforma Instagram. Buscamos conhecer a trajetória do grupo e analisar quais são as transformações provocadas na vida da mulheres participantes.O trabalho terá cooperação dos teóricos como Conceição Evaristo (2020),Paulo Freire (1997), bell hooks[7](2021), Lélia Gonzalez(2020) e Beatriz Nascimento (2020), entre outros. A pesquisa revelou o poder das escrevivências de mulheres negras em aquilombamento e traz alguns anúncios para a luta contra o racismo e o sexismo, bem como contribui para um olhar de potência literária sobre a Baixada Fluminense.

ABSTRACT

The objective of this article is to present the “COMLER-Mulheres do Ler” collective, which began its work in the city of Queimados, Baixada Fluminense of Rio de Janeiro. Initially, the work consisted of the Women of Reading class, which was born from the political problematization at the time, then expanded into monthly conversation circles that received women of different profiles, inserted in the school context or not. The meeting was set up to discuss demands presented by the women themselves, sometimes with the presence of invited professionals, such as psychologists, physical educators, lawyers, among others. The research used a theorical-methodological approach which reports itself to the concept of “escrevivência”, in a documental research of the five books “Mulheres do Ler” and the virtual place they use on Instagram. We are willing to know the trajectory of the group and analyze what are the changes made by this project in women’s life. This work will have the cooperation of some authors like Conceição Evaristo (2020), Paulo Freire (1997), Bell Hooks (2021), Lélia Gonzalez (2020), and Beatriz Nascimento (2020). The research revealed the power of “escrevivência” of black women who are together in this journey, bringing some announcement to the fight against racism and sexism, contributing and looking at this project with a literary potential about Baixada Fluminense.

KEY WORDS: Black women, Escrevivências, Collective, Racism, Baixada Fluminense

A teia de escrevivências construída pelo Coletivo Mulheres do LER: uma experiência instigadora iniciada na pandemia da Covid 19 na Baixada Fluminense

Ao se deslocar, o corpo negro suporta dois continentes de memória. Aqui ele teve que inventar sua própria história e ela passa pelo corpo, porque além de ser guardião da memória, o corpo foi a matéria a ser utilizada e buscada. Para nós negros estarmos hoje no Brasil, em algum momento da História alguém foi buscar um corpo negro.

Beatriz Nascimento

INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como objetivo tratar sobre a trajetória do COMLER-Coletivo Mulheres do Ler, que é fruto do projeto Semeando Sorrisos que formou  uma turma de alfabetização chamada  Mulheres do Ler, no bairro São Roque,em Queimados , na Baixada Fluminense. O projeto existe desde 2011, entretanto, por ocasião do golpe à presidenta Dilma Rousseff e a emblemática afirmativa da Revista Veja “bela,recatada e do lar”[8]. O trabalho ampliou-se para círculos de cultura, nos moldes freireanos, onde uma vez por mês as mulheres se reuniam para discutir temas de seu interesse. Com a chegada da pandemia,esse trabalho passa para o formato remoto,através de algumas plataformas on line.

Figura 1: Vanda Cristina na turma de alfabetização

E, com o passar das semanas de isolamento social , as mulheres começam a produzir as suas escrevivências, denunciam o racismo, a misoginia, as desigualdades sociais e até mesmo a ausência de um lugar onde elas pudessem ser as protagonistas de suas próprias histórias. Desta maneira, tendo a escrevivência como ferramenta teórica-metodológica, onde a condição de existência da mulher negra periférica se manifesta através do texto literário, duas pedagogas voluntárias começam a promover formações e orientação para que o grupo se organizasse de forma efetiva, convidando para a teia outros fios-parceria. Neste movimento, surge a ideia de compilar os escritos: nasce o primeiro livro MULHERES DO LER, reunindo o trabalho de 26 mulheres.

Vejamos os versos da Mulher do Ler Lóide Azevedo (2020), que carrega os anseios de uma linhagem de mulheres na história da Baixada Fluminense:

Sou Maria

Sou Maria de todas as letras

 Sou Maria dos livros

Sou Maria do saber

 Sou Maria dos desejos

 Sou Maria do fazer

 Sou Maria dos milagres

Sou Maria do querer

O anjo anunciou à Maria: -Você terá um bebê!

Sou Maria mãe

Sou Maria da favela

Sou Maria dos rincões

Sou Maria do balé

Sou Maria do xaxado

Sou Maria do funk, Sou Maria do crochê

Sou Maria das pa’’’’avras

Sou Maria dos dizeres

Sou Maria do ouvir

Sou Maria do construir

Sou Maria do aprender

 Sou Maria todo dia

Sou Maria podes crer!

Sou Maria! Sou Maria! Sou Maria!

Fundamentação Teórica

Discutimos aqui neste artigo de que maneira a produção de texto dessas sujeitas dentro do COMLER mobilizou, durante a pandemia de covid 19[9], a construção de uma outra história possível e necessária. Uma história que “ensina comunidade”, como afirma a escritora bell hooks (2020). É intrigante buscar nos textos dessas mulheres como a emancipação  está apoiada pela escrevivência como metodologia de produção e estabelecimento de diálogo. Para tanto, convidamos escritoras como Conceição Evaristo (2020),Paulo Freire (1997), bell hooks (2021), Lélia Gonzalez (2020) e Beatriz Nascimento (2020),e outras pesquisadoras que podem ser conhecidas ao visitar o repositório virtual[10] do Coletivo Mulheres do Ler.

A escrita que se pretende libertadora, também dói e traz medo e, ao mesmo tempo, serve como vingança, como “um modo de ferir o silêncio imposto, ou ainda, executar um gesto de teimosa esperança” (Evaristo, 2005, p. 202). É uma construção cotidiana tomar a discursividade como referência; pois para nós, mulheres negras, não é algo dado. Neusa dos Santos Souza (2022) nos ajuda na compreensão de que saber-se negra é viver a experiência de ter sido avassaladoramente acachapada em sua identidade, desorientada em suas perspectivas e submetida a responsabilidades que alienam o ser. Contudo, é também, e sobretudo, a experiência de comprometer-se a resgatar sua história e recriar-se em suas potencialidades.Eis a denúncia e o anúncio deste coletivo(Freire, 1996)

 Conceição Evaristo nos auxiliou na busca por um levante de mãos escritoras com/na EJA-Educação de Jovens e Adultos oferecida a essas mulheres e nos mostrou outros fazeres literários:

A ideia de escrevivência talvez possa trazer algo novo para a teoria da literatura pensar. Parece-me que o conceito de autoficção, de escrita de si, de narrativas do eu, e até de ego-história, quando um historiador resolve, por meio do aparato da ciência que ele conhece, narrar a sua vida, como sujeito histórico, como sujeito da história de seu tempo, o conceito de Escrevivência pode ser pensado por parâmetros diferentes dos colocados para pensar as categorias citadas anteriormente (Evaristo, 2020, p.38).

Acompanhando ao longo de décadas mulheres negras na modalidade EJA, alunas e professoras, percebemos que grande parte delas não se sente competente com as palavras. O racismo faz com que elas pensem que são menos capazes que outras pessoas. Mulheres que dizem não saber ler, escrever, não ter o que falar ainda que, ao longo dos encontros, apresentem experiências muito importantes. Por isso, assumir a escrevivência  como opção teórico-metodológica tem a ver com olhares estéticos outros, comprometidos com a partilha de vivências e experiências que reivindicam, não só outras vozes e histórias, mas também outras temporalidades, visto que “que não contém numa linearidade progressiva, em direção a um fim”, mas se movimenta num tempo espiralar “simultaneamente retrospectivo e prospectivo no qual incluem todos os seres e todas as coisas” (Martins, 2021, p. 206-207).

 A produção de saberes destas mulheres, ainda que oriundas de famílias que ao longo da vida reafirmaram a negação delas como produtora de conhecimento e posicionando-as a partir dos trabalhos subalternizados, transgride. O que precisamos fazer é saber como isto se dá. O movimento da mulher frente ao mundo promove o engajamento na comunidade e produz novas perspectivas de vida com as próprias mulheres para além da escolarização, a partir da autoria. Sabemos dos resultados que a educação promove, contudo, nos aguça a curiosidade entender que histórias não escritas as histórias escritas estão produzindo. Doravante a intencionalidade deste trabalho não ser um tratado que demonstre apenas a experiência do COMLER, mas que, em conhecendo o pessoal,  politize-se o eu, como nos ensina bell hooks (2019), não nos furtaremos a responsabilidade de produzir a nossa própria escrevivência.

Figura 2: Encontro Virtual das MUlheres do Ler

Desta forma, pensando sobre como se dá o processo em que determinadas mulheres, que nascem e crescem em ambientes não letrados, rompem com o lugar não sonhado e criam espaços de insubordinação, alinhavamos esses fios-linha e buscamos formar uma teia que apresente a escrita de mulheres negras mais pobres, saltando da ‘escrita de si’ para um entrelaçamento das vivências umas das outras, sejam elas Marias-Nova ou Marias-Velha (Evaristo, 2017b).

Apoiamos este artigo também no conceito de amor trazido por bell hooks (2020) quando chama a nossa atenção para a necessidade de compreendê-lo não como um sentimento, mas sim como uma forma de olhar o mundo e se relacionar com ele, lembrando-nos de que a ética amorosa se consolida nas ações em coletivo. hooks nos apresenta uma forma peculiar de se relacionar com os outros e instiga as discussões do Coletivo Mulheres do Ler, trazendo um movimento de compromisso  com o território  da cidade de Queimados e com a sociedade como um todo. A autora nos diz que “sempre pensar o amor como uma ação, em vez de um sentimento, é uma forma de fazer com que qualquer um que use a palavra dessa maneira automaticamente assuma responsabilidade e comprometimento” (hooks, 2020, p. 55).

No caso das mulheres,  bell hooks sugere que são elas que movimentam a comunidade com suas práticas amorosas, haja vista que ao serem preteridas, constroem coletivamente uma forma de se amarem e dividirem amor, pois “não é uma tarefa fácil amar a si mesma” (hooks, 2020, p. 94).

Irmanadas com e para essas mulheres, temos refletido juntas neste estudo, perguntando-nos: De que forma as escrevivẽncias do COMLER promovem transformações no município de Queimados ? E também: Será que a escrevivência se constitui como uma metodologia emancipatória  para o grupo de mulheres que compõem um coletivo?

Para tanto, dedicamo-nos a pensar sobre duas ações do COMLER no período de 2020-2024: Quarta de Afroafetos e as Oficinas de leitura e escrita

Caminhos metodológicos

Conceição Evaristo afirma que “escrevivência possa ser também um operador teórico para se pensar em uma nova escrita da história da literatura brasileira” (EVARISTO, 2023, p. 47). Desta forma, observamos como se deu a atividade Quartas de Afroafetos e a oficina de leitura/escrita através da leitura cuidadosa dos cinco volumes Mulheres do Ler e os encontros virtuais, iniciados por uma das pedagogas voluntárias. As mulheres poderam dar entrevistas, conversar sobre literatura, falar de suas trajetórias e criar um ambiente seguro onde possam  recitar poesias em seu pretuguês, como nos ensinou Lélia Gonzalez(2021). É como diz a letra do samba[11] composta pela mulher do ler Lina Veloso em homenagem ao Coletivo:

Maria do lar

Deixou de ser

Agora é Mulher do Ler

Deixou sua vida vazia

a louça na pia

panela e o fogão.

Saiu foi para a cidade

cursou faculdade

tem anel na mão

Desenvolvimento

Entendemos que os encontros dessas mulheres nas rodas de conversas virtuais foram além de processos educativos fundamentais para que não se perdesse o vínculo. Esses encontros constituíram uma formação ética, estética e política que, aliando-se com o incômodo dessas mulheres com a ausência de atendimentos básicos, tais como: consultas com psicólogas, alimentação adequada,encaminhamentos nas situações de violência doméstica, dentre outros.

Os encontros mensais foram considerados insuficientes e nasceu assim o grupo homônimo de WhatsApp, como uma ferramenta imediata de apoio às mulheres. A partir daí foram se achegando outras mulheres interessadas na dinâmica proposta. Neste grupo, para além das demandas prementes, começamos a ter uma espécie de intercâmbio literário, onde postávamos  poesias, receitas, músicas e serviços oferecidos pelas membras[12].

O COMLER constituiu-se como um movimento social dentro do território e decidiu lançar um livro com as escrevivências produzidas e incentivar outras mulheres na perspectiva de escrita tecida por várias mãos e ancestralidades. A publicação foi realizada com financiamento coletivo e, a partir da divulgação de suas histórias,as mulheres conseguiriam inspirar outras mulheres e mobilizá-las para que acessem os seus direitos, principalmente o direito de existir. Coletivos como Mulheres do Ler configuram-se como espaços de acolhimento, trocas de afeto e construção de novas formas de fortalecimento  para grupos vulnerabilizados  por políticas públicas excludentes.

O Coletivo Mulheres do Ler é uma experiência que une as mulheres de Queimados, pois identificamos ao longo da pesquisa o entrelaçamento com várias frentes na cidade, tais como Golfinhos da Baixada, Casa Dalva, Ampara, dentre outros. Ele se configurou em um aquilombamento que produz força e condições materiais para que as mulheres negras, aonde quer que estejam, possam levantar a cabeça e se apresentarem como donas de onde pisarem(Nascimento,2020). É uma pisada forte e amorosa que ativa possibilidades de transformação,é uma maneira  de confirmar o que podemos ser e o “que o amor faz de nós” (hooks, 2020, p. 50).

Hoje,participam do Coletivo Mulheres do Ler, quase 100 mulheres. Além das formações para a organização dos livros anualmente, são realizadas campanhas de saúde emocional, fortalecimento social,  prevenção contra o câncer de mama, a importância da escolarização, a promoção das artesãs locais, além de inúmeras ofertas de cursos e outras possibilidades de empoderamento.

Essas campanhas que permanecem no Coletivo remetem ao Projeto inicial Semeando Sorrisos que ainda desenvolve as atividades em parceria. A saúde feminina é ainda um aspecto muito importante do trabalho, devido a incompetência  do poder público no atendimento aos mais pobres. Destacamos também a oficina de tranças que acontece no Projeto Trançando Leituras, onde enquanto algumas mulheres trançam os cabelos e são trançadas, outras contam e ouvem histórias, além de maquiagem e outros serviços. Todo o trabalho é feito por voluntárias que, na maioria das vezes,foram em algum momento também assistidas pelo Coletivo.

Ao longo desses 13 anos de trabalho(9 anos com o Semeando Sorrisos e 4 anos já  como Mulheres do Ler) visualiza-se a responsabilidade e amorosidade com que são desenvolvidas as ações. Em um lugar de tantos nãos, onde a liberdade de viver é sufocada, trazemos Conceição Evaristo falando sobre a escrita como uma  forma de ser livre e de ocupar o lugar da falta de respostas

“Escrever é dominar o mundo”, conclui Clarice. Não tenho a experiência de domínio algum. A escrita nasceu para mim como procura de entendimento da vida. Eu não tinha nenhum domínio sobre o mundo, muito menos sobre o mundo material. Por não ter nada, a escrita me surge como necessidade de ter alguma coisa, algum bem. E surge da minha experiência pessoal. Surge na investigação do entorno, sem ter resposta alguma. Da investigação de vidas muito próximas à minha. Escrevivência nunca foi uma mera ação contemplativa, mas um profundo incômodo com o estado das coisas.  É uma escrita que tem, sim, a observação e a absorção da vida, da existência (Evaristo,2020  p 34)

Recorremos também a Sueli Carneiro quando pensamos na contribuição do Coletivo nesta balança desigual onde

“na base dessa contradição perdura uma questão essencial acerca dos direitos humanos: a prevalência da concepção de que certos humanos são mais ou menos humanos do que outros, o que, consequentemente, leva à naturalização da desigualdade de direitos. Se alguns estão consolidados no imaginário social como portadores de humanidade incompleta torna-se natural que não participem igualitariamente do gozo pleno dos direitos humanos” (CARNEIRO, 2011,p. 15).

O COMLER possibilita que as mulheres não deem como normal a forma como são tratadas, sufocando as suas existências, como se tivessem menos valor.Essas mulheres exercem o seu poder de fala e deslocam -se .

Figura 3 : lançamento do volume V do livro Mulheres do Ler

 Escrevivendo com Vanda Cristina: da negação de direitos à escrevivência como emancipação

Neste momento artigo, desejamos apresentar efetivamente a escrita de uma das mulheres do COMLER. Escolhemos Vanda Cristina Damasceno do Reis, a primeira aluna da turma de alfabetização Mulheres do Ler.Vanda Cristina(2024), agora como autora em um dos volumes[13] dos livros do Coletivo, apresenta-se assim na mini biografia no livro Mulheres do Ler V: Cartas para Conceição Evaristo:

Meu nome é Vanda, nasci no estado do Rio de Janeiro. Tenho 8 filhos, sou casada, tenho 58 anos e sou moradora do município de Queimados, RJ. Faço parte do Coletivo Mulheres do Ler( p. 115)

É muito interessante ver a Vanda afirmar “faço parte do Coletivo Mulheres do Ler. Ela ainda está se apropriando dos signos linguísticos e, mesmo que tenha se envolvido com a produção dos livros desde o primeiro volume, só na edição V e com a mediação solidária de Isabel Almeida, Vanda se encorajou na publicação da sua escrevivência. Lélia Gonzalez(2020) já nos auxiliava na reflexão quando diz que “nesse sentido, o feminismo negro possui sua diferença específica em face do ocidental: a solidariedade, fundada numa experieência histórica comum.”(p. 103)       .                      

 A solidariedade também entrelaçou a vida da Vanda com o Semeando Sorrisos há alguns anos. Jéssica, sua filha, era atendida pelo Coletivo e sempre foi uma criança alegre e participativa, ainda que tivesse um problema de coração congênito e muitas vezes chegasse ofegante à sede do projeto. Não conseguia respirar. Para além da debilidade de saúde, Jéssica e sua família não conseguiam respirar de várias outras maneiras. Muita gente não consegue respirar no Brasil e por todo mundo. O projeto de exterminar negros e negras foi muito bem construído e permanece eficaz no que tange à invisibilização da conquista de si.

.

Entre luzes e sons, só encontro o meu corpo antigo. Velho companheiro das ilusões de caçar a fera. Corpo de repente aprisionado pelo destino  dos homens de fora. Corpo-mapa de um país longíquo que busca outras fronteiras que limitem a conquista de mim. Quilombo-mítico que me faça conteúdo das sombras das palmeiras. Contornos irrecuperáveis que minhas mãos tentam alcançar. Beatriz Nascimento no Filme Orí)

 Na perspectiva de trabalhar para a diminuição das desigualdades sociais na cidade de Queimados, inicialmente o projeto atendia apenas crianças e adolescentes. Mas, quando conhecemos mulheres negras como Vanda, compreendemos que precisávamos fazer alguma coisa para elas e,sobretudo, com elas. Quando Jéssica veio a falecer, estava acontecendo um atendimento domiciliar em sua residência e , sem dúvida alguma, foi uma das experiências mais intensas do projeto. O telefone tocou e era do hospital, pedindo pra levar roupas e documentos. Na periferia, entende-se na prática o que é coletivo e, imediatamente, surgiram crianças de todos os lados e o quintal, que já comportava 5 famílias,floresceu com boa parte dos atendidos e atendidas nas ações semanais naquele bairro.

Quando, umas com as outras, compartilhamos formas de processar a dor e o luto, nós,mulheres negras,desafiamos os velhos mitos que nos fariam reprimir nossos sentimentos para parecermos “fortes”…nós, mulheres negras, devemos nos perguntar individualmente: onde em nossa vida nós temos espaço para reconhecer nossa dor e expressar o luto?Se não podemos identificar esses espaços,então precisamos criá-los.”(hooks, 2023 p. 122, 123)

Por conseguinte, as questões chamadas de práticas urgiam. É quase sempre assim com os mais pobres. Desta maneira, os voluntários precisaram levar as roupas para que Jéssica fosse sepultada, após os trâmites do denominado “enterro social”. A partir desse entrelaçamento doloroso e necessário, Vanda começou também a ajudar no projeto e se tornou uma incansável colaboradora, atuando em todas as ações possíveis. Exímia cozinheira, iniciou a sua escrevivência colocando, como diria Rubem Alves , seus saberes com sabor.Organiza-se almoços comunitários e lá estava Vanda Cristina, toda sorridente com as suas panelas.

De fato, para muitas pessoas exploradas e oprimidas, a luta para criar uma identidade e nomear a própria realidade é um ato de resistência, pois o processo de dominação -seja a colonização imperialista, o racismo ou a opressão machista-tem nos esvaziado de nossa identidade, desvalorizado nossa linguagem, nossa cultura, nossa aparência.(hooks, 2019.p. 226)

Ainda que não estejamos discutindo pelo invés da identidade, consideramos importante refletir com hooks, à medida que nos convida à reflexão sobre um processo de nomear a realidade e trata esse processo como um ato de resistência. O movimento pelo qual Vanda é constituída e constitui,traz em seu bojo uma teia complexa cujos fios são de apagamento. Começamos a compreender melhor isto quando nos aproximamos mais e percebemos o constrangimento de Vanda por não conseguir assinar os relatórios do projeto de voluntariado quando terminava uma ação. “Sempre faltava-lhe um óculos.” Nascia  assim a primeira turma de alfabetização do Semeando Sorrisos,como já destacamos no início do artigo, pois havia outras “Vandas” voluntárias que estavam no Semeando Sorrisos.

 Na carta escrita com o auxílio de Isabel Cristina[14] e que compõe a edição V do COMLER, Vanda Cristina(2024) diz:  comecei a trabalhar com 9 anos para ajudar meus pais, minha mãe pegava todo meu dinheiro, né.(p. 115) É importante ressaltar que não podemos romantizar a maternidade negra. São inúmeras as violências sofridas pelas Vandas do Brasil e seria realmente surpreendente se elas não reproduzem isto.

Contudo, Vanda Cristina, essamulher “que  trabalha de segunda a segunda” (p.115)afirma que “e em vista do que era antes, hoje sou bem mais feliz”(p 115) O que nos faz equilibrar sempre os sentimentos? Que mundo é esse em que mulheres negras trabalham desde os 9 anos de idade? Que mundo é esse onde crianças estão cuidando de crianças? Que mundo é esse onde trabalhar de segunda a segunda é possível?

Cabe aqui um fato importante da nossa realidade histórica: para nós, amefricanas do Brasil e de outros países da região – e também para as ameríndias -, a consciência da opressão ocorre antes de tudo por causa da raça. A exploração de classe e a discriminação racial constituem as referências básicas da luta comum de homens e mulheres pertencentes a  um grupo étnico subordinado. A experiência histórica da escravidão negra, por exemplo, foi terrível e sofridamente vivida por homens e mulheres, sejam crianças, adultos ou idosos. E foi dentro da comunidade escrava que se desenvolveram formas político-culturais de resistência que hoje nos permitem continuar uma luta plurissecular pela libertação. (Gonzalez, 2020 p. 147)

Trazemos aqui uma situação vivenciada durante as aulas de alfabetização, onde não raras vezes Vanda Cristina pegava no lápis e dizia que preferia a colher de pau na cozinha. A pergunta que desejamos fazer é: o que nós, mulheres negras, chamamos de preferência ? Os modos de vidas que nos impõem, os lugares pré-estabelecidos condicionam as nossas vidas e nos fazem acreditar que fizemos escolhas. Quando temos que buscar um fazer e lutar pela sobrevivência , não há muito o que escolher .

E quando negros não usufruem de uma escolarização completa, quando não podem consumir bens culturais como livros, ida à teatro, cinema, concertos musicais, etc… E quando negros não estão em lugares de ponta nas universidades, nas grandes multinacionais, nas empresas particulares, nos cargos políticos… E quando negros compõem a grande maioria das favelas, das periferias das grandes cidades e são grande parte das vítimas de um descuido ou de uma violência do Estado… Não há um caráter profundamente racista da sociedade brasileira? A pobreza no Brasil tem cor.” Gonzalez, 2020 p.141

Repare na declaração de Vanda quando diz  “em Queimados conheci a Veronica, ela é uma irmã(p. 115). É preciso descolar a ideia que os coletivos tecem junto com as suas membras uma relação piegas e assistencial,com uma metodologia vertical .Quando nos ajudamos não é em um formato colonial do “eu tenho,você não tem “. É uma maneira transgressora que diz : se eu tenho você também tem. Em Irmãs do Inhame, bell hooks(2023) nos chama à atenção para o que a vida em comunidade pode trazer-nos. Segundo a autora,juntas conseguimos lidar com os vazios da vida e comprometermo-nos em um processo de recuperação e libertação mútua. Viver em comunidade seria um espaço de cura e “o foco na construção de uma comunidade necessariamente desafia uma cultura de dominação que privilegia o bem-estar individual em detrimento do esforço coletivo”(p.179)

Quando Vanda Cristina começa a conhecer as autoras negras e a se perceber como uma “mulher do ler “, ela começa a compreender as  contradições que o seu dia a dia impunha . Começa a trazer para as aulas e reuniões mensais do grupo algumas questões tais como: eu preciso me cuidar também né. Porque eles(esposo e filhos) me esperam pra fazer a comida ? Já não basta tudo o que cozinho fora !?

O movimento feminista teria sido, e será, mais apelativo para as massas de mulheres abordando os poderes que as mulheres exercem, mesmo quando chama a atenção para a discriminação sexista, para a exploração e para a opressão. A ideologia feminista não deveria encorajar as mulheres (como o sexismo encoraja) a acreditarem que são impotentes. Deveria explicar às mulheres o poder que exercem diariamente e mostrar- lhes formas de utilizar esse poder para resistirem ao domínio e à exploração sexista. O sexismo nunca tornou as mulheres impotentes. Não suprimiu a sua força, nem a explorou.O reconhecimento dessa força, desse poder, é um passo que as mulheres, juntas, podem dar no sentido da libertação (HOOKS, 2019, p.75)

Vanda Cristina começou a construir uma revolução entre os seus. Acompanhando as filhas na escola, na renovação de matrícula ia, como era de costume, colocar o dedo na almofada de tinta.Quando é interpelada por uma das funcionárias da escola que , segundo ela , conhecia a trajetória do coletivo Mulheres do Ler: Vanda, soube que você aprendeu no Coletivo a escrever o seu nome . Ela nos conta com um sorriso de canto de boca: “A moça falou vamos com calma, no seu tempo. Hoje você vai assinar a renovação de matrícula da sua filha.” Vanda fala sobre a situação com uma mistura de lágrimas e risos.A partir daí , percebemos como a postura dela mudou. A escrita com lápis e papel reposiciona as pessoas . Com o passar das semanas , dos meses , ela se familiariza com o lápis tanto quanto se familiarizou com a colher de pau. Ela aprendia junto com a autoria negro feminina que a colher também escrevia. Escrevia junto com ela as  escrevivências de uma mulher negra que sabia onde queria chegar. Vanda escrevia outras histórias para a filha e “um dia, e agora ela haveria de narrar, de fazer soar, de soltar as vozes, os murmúrios, os silêncios, o grito abafado que existia, que era de cada um e de todos.Maria -Nova, um dia escreveria a fala de seu povo. (Evaristo,2006, p. 161)

            Vanda Cristina(2024),ao concluir a sua carta para Conceição Evaristo , fala de ver os seus filhos “na presença do Senhor”. Precisaríamos dialogar com ela e pesquisar o que realmente essa afirmativa quer dizer, no entanto, sabemos que para a classe popular, em especial , esse espaço da religião,ainda que com todas as suas contradições,tem ocupado um lugar de relevância na vida de muitas pessoas. A ausência do Estado, o que a nossa pesquisa bem mostra ao longo dos fios na teia desta tese, abre brechas de possibilidades que podem ser preenchidas pelo fundamentalismo religioso e fazer vítimas, como vimos acontecer com o próprio Coletivo, haja vista que o grupo perdeu o espaço físico de atuação dentro de  um sistema que se mostrou racista e misógino. Para mulheres negras como Vanda, “estar na presença do Senhor” ainda é a via que poderá fazer com que menos meninos e meninas negras entrem na estatística, como mais um”guri”..

Vanda Cristina é uma mulher do ler que sempre cuidou das pessoas da comunidade. Ainda que tenha sido analfabetizada(Souza,2022) por um Estado omisso que invisibiliza os mais pobres e pretos, ela é uma mulher que não sucumbiu, como também afirma Elza Soares, ainda que tivesse que reprimir muitos sentimentos.

A prática de se reprimir os sentimentos como estratégia de sobrevivência continuou a ser um aspecto da vida dos negros, mesmo depois da escravidão. Como o racismo e a supremacia dos brancos não foram eliminados com a abolição da escravatura, os negros tiveram que manter certas barreiras emocionais. E, de uma maneira geral, muitos negros passaram a acreditar que a capacidade de se conter emoções era uma característica positiva. No decorrer dos anos, a habilidade de esconder e mascarar os sentimentos passou a ser considerada como sinal de uma personalidade forte. Mostrar os sentimentos era uma bobagem. (HOOKS, 2010, p. 3).

No ano de 2021, quando sondadas pela secretaria de educação e a coordenadoria de promoção da igualdade racial na cidade de Queimados, a coordenação colegiada do Coletivo não exitou em indicar a Sra. Vanda Cristina Damasceno dos Reis.

Figura 4: Vanda Cristina no lançamento de Mulheres do Ler Edição V

Ainda que em sua carta à Conceição Evaristo Vanda Cristina exalte a importância do trabalho coletivo em sua vida,enfatizando a importância da nossa atuação ao afirmar “(…)sabe tratar as pessoas e na hora que eu mais precisei, ela estava com as mãos estendidas e o pouquinho que eu sei ler, aprendi com ela. Me sentia envergonhada por não saber ler e escrever meu nome e ela, com toda a paciência do mundo, me ajudou.” (p. 115) são só dela os  créditos de seus avanços. Vanda Cristina, assim como as personagens de Conceição Evaristo, é a imagem da sujeita negra que, mesmo com as marcas da exclusão inscritas na pele,atravessando passado e presente, com muita coragem reescrevem uma história de resistência. Uma História que não foi feita para elas, mas, como o título do livro de Beatriz Nascimento, é possível uma história escrita por mãos negras. Vanda faz a sua escrevivência e “borra a História”. É como afirma Conceição Evaristo(2021)

Pensar a Escrevivência como um fenômeno diaspórico e universal, primeiramente me incita a voltar a uma imagem que está no núcleo do termo. Na essência do termo, não como grafia ou como som, mas, como sentido gerador, como uma cadeia de sentidos na qual o termo se fundamenta e inicia a sua dinâmica. A imagem fundante do termo é a figura da Mãe Preta, aquela que vivia a sua condição de escravizada dentro de sentidos na qual o termo se fundamenta e inicia a sua dinâmica. A imagem fundante do termo é a figura da Mãe Preta, aquela que vivia a sua condição de escravizada dentro da casa-grande. Essa mulher tinha como trabalho escravo a função forçada de cuidar da prole da família colonizadora. Era a mãe de leite, a que preparava os alimentos, a que conversava com os bebês e ensinava as primeiras palavras, tudo fazia parte de sua condição de escravizada. E havia o momento em que esse corpo escravizado, cerceado em suas vontades, em sua liberdade de calar, silenciar ou gritar, devia estar em estado de obediência para cumprir mais uma tarefa, a de “contar histórias para adormecer os da casa-grande”. E a Mãe Preta se encaminhava para os aposentos das crianças para contar histórias, cantar, ninar os futuros senhores e senhoras, que nunca abririam mão de suas heranças e de seus poderes de mando, sobre ela e sua descendência. Foi nesse gesto perene de resgate dessa imagem, que subjaz no fundo de minha memória e história, que encontrei a força motriz para conceber, pensar, falar e desejar e ampliar a semântica do termo. Escrevivência, em sua concepção inicial, se realiza como um ato de escrita das mulheres negras, como uma ação que pretende borrar, desfazer uma imagem do passado, em que o corpo-voz de mulheres negras escravizadas tinha sua potência de emissão também sob o controle dos escravocratas, homens, mulheres e até crianças. E se ontem nem a voz pertencia às mulheres escravizadas, hoje a letra, a escrita, nos pertencem também. (p.30)

A professora doutora Fernanda Felisberta(2011) alerta-nos sobre esse processo complexo ao trazer uma importante pergunta em sua tese:” Como falar de produção textual específica de um grupo que ainda segue da própria margem tentando legitimar todos os seus saberes?”(p. 22)

Não temos a pretensão da resposta, mas seguimos com as pistas oferecidas pelas Mulheres do Ler.

Considerações finais

Acompanhamos aqui as escrevivências dos fios-mulheres do ler na teia do Coletivo, pois ainda que o COMLER continue no enfrentamento às bases do pensamento ocidental, eurocentrado, somos capazes de escreviver o mundo e a nós mesmos por outras penas. Lélia entrou na luta de várias formas e uma delas foi no campo discursivo. A antropóloga faz um trabalho comprometido e corajoso ao utilizar a linguagem para criticar contundentemente  um sistema que sempre fez com que nós, mulheres negras, tivéssemos os nossos “falares” cerceados.

Lélia Gonzalez (2020) nos ajuda a pensar sobre como  a população negra em diáspora aqui no Brasil é colocada a todo tempo sob uma condição particular de opressão, pois afeta não somente sua realidade direta, mas também as estruturas sociais. A antropóloga observa  que o movimento feminista ascendeu nos debates relativos à sexualidade, violência, classe e social e outros, os colocando em pauta perante as massas, mas deixando de lado um dos temas centrais quando devemos pensar a transformação social do Brasil: a raça. Esta condição explica a necessidade e dá origem à elaboração de um novo feminismo por Lélia Gonzalez e por tantas outras mulheres negras.

Figura 5:  Mulheres do Ler no SESC Nova Iguaçu

 Destacamos assim , a importância de Coletivos como o COMLER, pois o movimento construído por iniciativas feministas negras não propõe um mero exercício de escrever a vivência; como se anuncia nas rodas virtuais e especificamente  nas publicações do livro Mulheres do LER, que já está caminhando para a VI edição. Vemos um aquilombamento onde, uma história de nãos direcionados às mulheres negras, nos ensinam que a escrevivência não é a escrita de si que se resolve nela mesma,  esgotando-se na própria sujeita,como nos orienta a pesquisadora Conceição Evaristo(2020).

Vanda Cristina é um exemplo do que buscamos tratar, bem como as outras “Vandas” espalhadas pela cidade de Queimados e pelos Brasis. Vanda, bem como cada uma de nós, aprende que a nossa escrevivência não se esgota na pessoa individualizada.  As “Vandas” vão se achegando ao Coletivo e com elas vai se desenhando uma outra Queimados: mulher e negra.

É como diz a professora doutora Neuza Oliveira (2023)

 “o Coletivo Mulheres do Ler escolheu ir longe (…), o coletivo ressignifica a vida a partir de uma metodologia negra de se escrever para curar as feridas, escrever para transformar a realidade, escrever para empoderar outras mulheres e traçar caminhos outros para as mulheres que estão por vir” ( p. 93)

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[1] Doutora em Educação PPGEDUC/UFRRJ

[2] Professora Doutora é coordenadora do GEPEJA PPGEDUC/UFRRJ

[3] Doutora em Educação PPGEDUC/UFRRJ

[4] Arte-educadora e professora aposentada da Rede Municipal de Educação/PMQ

[5] Neuropsicopedagoga , professora e membro do coletivo Mulheres do Ler

[6] Especialista em AEE, professora e membro do Coletivo Mulheres do Ler

[7] bell hooks desejava que seu nome fosse escrito em letra minúscula, a fim de que sua obra ganhasse destaque e não seu nome.

[8] Disponível em  https://rima.ufrrj.br/jspui/handle/20.500.14407/8901

[9] Em 2019 e 2020, o vírus SARS-COV2 se tornou responsável por causar a infecção COVID-19,causando a pandemia,

[10] Perfil @ mulheresdoler no Instagram

[11] Disponível em https://youtu.be/bkEBUzwaWDI?si=yZ5CNfL3xLEJeWqg

[12] Utilizamos a palavra no feminino como uma escolha ideológica de enfrentamento.

[13] O Coletivo Mulheres do Ler publica um livro por ano com financiamento coletivo. Apenas no ano de 2022 o grupo conseguiu um fomento pela lei Aldir Blanc, que é uma lei de incentivo à cultura.

[14] Isabel Cristina é uma das escritoras e voluntárias no Coletivo. É uma pedagoga que se formou durante esses anos de trabalho do COMLER e torna-se organizadora da edição V em 2024, homenageando Conceição Evaristo,saindo do lugar de empregada doméstica na cidade do Rio de Janeiro.