A SOMATIZAÇÃO COMO FORMAS DE EXPRESSÃO DO SER

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12661011


Keiti Aparecida Custodio;
Orientador: Elias Grossmann.


RESUMO

Este artigo aborda a somatização como uma forma de expressão do ser humano, focalizando a manifestação de sintomas somáticos e seu impacto no cotidiano dos pacientes. A análise objetiva sensibilizar profissionais de saúde quanto à somatização como uma comunicação do sofrimento psíquico através do corpo, destacando a necessidade de um olhar mais abrangente e reflexivo nas abordagens de cuidado. Utilizando-se de revisão bibliográfica de autores psicanalíticos renomados como Freud, Winnicott e Ferenczi, e de pesquisas recentes sobre somatização e psicanálise, o estudo busca interligar teorias clássicas e contemporâneas com as vivências práticas na saúde pública e privada. O método consistiu em revisão de literatura e análise crítica das práticas observadas. Os resultados mostram que, na contemporaneidade, conflitos psíquicos resultantes de angústias sociais e culturais são frequentemente expressos por meio de sintomas somáticos. Destaca-se a necessidade de abordagens interdisciplinares que contemplem a singularidade do sujeito para um tratamento mais eficaz e humanizado. Considera-se que a compreensão ampla dos sintomas psicossomáticos pode melhorar significativamente a resposta ao sofrimento dos pacientes, promovendo um cuidado mais integral e personalizado.

Palavras-chave: Somatização; Corpo; Psicanálise; Contemporaneidade.

1 INTRODUÇÃO

A somatização como forma de expressão do SER, busca trabalhar a temática do corpo e dos sintomas somáticos e como eles afetam o cotidiano dos pacientes, ampliando a discussão acerca do tema. A somatização, pode ser percebida como uma forma de comunicação do sofrimento do psiquismo por meio do corpo, utilizando de múltiplas sintomatologias, que é singular a cada sujeito. Ao reconhecer a somatização como uma forma de expressão do psíquico, “do não dito”, busca sensibilizar o olhar do profissional da saúde para a temática, e gerar reflexões para o psicoterapeuta nas formas de cuidado de sujeitos que estão em sofrimento.

No contato com a experiência prática da psicologia nos atendimentos ao Sistema Único de Saúde e no consultório privado, possibilitou a observação que, mesmo em circunstâncias sociais distintas, no quesito de vulnerabilidades sociais, familiares, violências, entre outros, os sintomas somáticos se manifestam de forma individual, proporcionando sofrimento psíquico aos sujeitos que o experenciam.

É comum surgirem sintomas em momentos de conflitos psíquicos, tais como dores, paralisias, cegueira, entre outros, que podem afetar o cotidiano dos pacientes, trazendo prejuízos significativos para os mesmos e/ou seus familiares, esses sintomas, precisam ser continuamente pesquisados e explorados na clínica da psicologia e na medicina (psiquiatria), para que profissionais da saúde possam compreender melhor esses sintomas e o que busca manifestar por meio deles.

O corpo, é muito mais do que um organismo físico, ele é vivo. Construímos experiências por meio do corpo, transmitimos emoções, sensações, desejos, vivências… Com ele nos relacionamos, sentimos, abraçamos, beijamos, tocamos, sendo extremamente importante para o psiquismo e para a relação com o outro, desde a infância, precisamos do corpo para conhecer o mundo, experimentar coisas novas e diferentes, expressar frustrações, demonstrar afeto e cuidado, e o termo SER, se relaciona, a esse processo de “SER humano”, de estar vivo de poder sentir e ser sentido.

Na medicina contemporânea atendendo ao neoliberalismo e sua necessidade de produção e respostas rápidas, aumenta-se a naturalização do uso de fármacos para dores, a busca por curas milagrosas e soluções rápidas, de forma que o indivíduo se apresente sempre produtivo. Atendendo essa demanda, cria-se essa fragmentação das áreas de médicas, a fim de suprir a necessidade de compreensão do corpo humano e sua complexidade. Por outro lado, esse efeito anestésico, apenas resolve uma demanda efêmera e não trata o indivíduo como um SER integral.

Diante dos conflitos supracitados, esse trabalho tem o propósito de refletir sobre os sintomas somáticos, por meio da interlocução entre os saberes, promovendo um olhar diferenciado em torno das singularidades e especificidades do sujeito, utilizando referenciais que permitam a compreensão dos sintomas somáticos para a psicanálise, a utilização por meio destes pelo psiquismo como formas de expressão na contemporaneidade, e a busca pelo olhar do profissional de saúde para as questões psíquicas e no acolhimento ao sofrimento.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Os sintomas somáticos, são uma temática que instiga as múltiplas áreas da saúde, sendo amplamente analisados/estudados principalmente por psicanalistas, desde a época de Freud com a histeria. Ao escutar as histéricas Freud, compreende o corpo como um lugar de expressão do inconsciente para o aparecimento de conflitos, o corpo, aqui representa uma via de expressão do que ainda não foi acessado ou levado a consciência (Oliveira; Winter, 2019).

Para a psicanálise, os sintomas observados nos pacientes histéricos, estavam relacionados a “vida psicossexual” e aos “desejos recalcados”, segundo o autor, os sintomas histéricos, eram um resultado da junção do psíquico e do somático. No texto “os três ensaios sobre a sexualidade e outros trabalhos”, é possível entender que no caso “Dora”, por exemplo, ao utilizar a técnica de associação livre, Freud, reconhece que ao deixar o paciente falar e conduzir os atendimentos, consegue acessar com uma maior facilidade o inconsciente e compreender os conflitos relacionados aos sintomas presentes (Freud; Breuer,1996b).

Segundo Freud, durante suas revisões de casos, realiza pontuações nas diferenças entre os sintomas somáticos e a histeria, para o autor, nem todo sintoma somático está ligado a histeria, mas, a histeria está frequentemente interligada aos sintomas somáticos. Para ele, os sintomas motores, poderiam ser representantes de eventos traumáticos, sendo relacionados a neurose (Freud; Breuer, 1996a).

Na clínica da psicologia, é muito comum observar queixas de pacientes a dores de cabeça, sintomas em situações ansiógenas como insônias, paralisação de membros ou partes do corpo, cegueira, ambos sintomas sem justificativas orgânicas para que possam ocorrer. O corpo para a psicanálise, é muito mais do que o funcionamento biológico do organismo, é algo que já se constituí antes mesmo do nascimento, no imaginário dos cuidadores (Oliveira; Winter, 2019).

Para Winnicott, “a existência humana é essencialmente psicossomática”, nessa perspectiva, o autor constrói a importância de não ocorrer a divisão entre mente e corpo, sendo importante compreender que a psique e o soma estão simultaneamente relacionados. O autor pontua que o “corpo é vivo” e por ser vivo e estar experienciando coisas o tempo todo em conjunto com a psique é algo que não pode ser estudado ou dissociado um do outro (Dias, 2017).

Por meio do nosso corpo, experienciamos tudo o que ocorre ao nosso redor, para além das palavras ditas, mas os gestos, o jeito, a tonalidade da voz, por ele (corpo), sentimos a vida, medos, inseguranças, que compõem o viver. O corpo é um representante extremamente importante de nós mesmos e, contudo, também pode ser um gerador de conflitos, levando em consideração a cultura, sociedade em que está inserido (Celes; Lindenmeyer, 2020).

Para a medicina contemporânea, o corpo, como sendo um objeto de estudo científico e biológico é dividido entre as áreas do conhecimento com separações por partes de funcionamento do organismo, (ortopedista, ginecologista, urologista, otorrinolaringologista, entre outras), sendo dividido em especialidades médicas, na nossa sociedade, colocamos o médico em um lugar de saber sobre o corpo e a cura para o sofrimento.

A compreensão dos sintomas somáticos na medicina, ainda é pouco explorado por médicos de outras especialidades, além da psiquiatria, e o cuidado com o paciente, pode ser diferente, após resultados de exames e dificuldades em conclusões e fechamento de diagnósticos populares (Miguel, et al., 2020).

Winnicott, pontua sobre a constituição da psique no corpo, e como esse processo ocorre por meio da relação entre cuidador e bebê, a importância dele, para a amplitude das experiências individuais. (Dias, 2017). O cuidado médico para esses sujeitos é de extrema importância no que se refere a validação e compreensão do sofrimento, levando em conta que a maioria dos pacientes que podem sofrer com esses sintomas, carregam um histórico de vida complexo com violências e vulnerabilidades envolvidas, podendo os sintomas, ocuparem um lugar que “compõem a identidade do indivíduo” e tornando-se um único meio de expressão e afetos da sua singularidade (Miguel, et al., 2020).

Os transtornos somáticos, sempre enfrentaram preconceito pela medicina, por muitas vezes instigarem o saber médico com olhar biológico/científico. A psicanálise, nesse sentido consegue contribuir com a saúde, olhando de forma totalitária aos mecanismos de defesa e o sujeito, bem como as formas de conseguir enfrentar os conflitos psíquicos. Freud, prefere focar nos estudos dos pacientes neuróticos, não utilizando, com frequência o termo de somatização, mas, com a constituição da psicanálise e sua construção histórica, ao dar lugar de fala aos pacientes, a mesma, se apresenta de forma revolucionária para a compreensão da manifestação de sintomas no corpo. (Gonçalves; Ribeiro, 2023).

Para o pai da psicanálise, era importante reconhecer o poder das palavras, e como elas podem influenciar diretamente no nosso psíquico e no nosso físico, o trabalho de um psicanalista, é fundamental, proporcionando um espaço de escuta e acolhimento para a fala, sendo ela, um passo importante para recuperação e cura.

Na perspectiva de Winnicott e Ferenczi, por exemplo, o papel do corpo e de manifestações psíquicas que emergem nele, vai para além de manifestações pulsionais, dentro dessa perspectiva psicanalítica, o corpo é contínuo e as experiencias vividas nele, e o que expressamos por meio dele, está relacionado a importância dele e de habitarmos ele cotidianamente (personalização) e na relação e experiências corporais com o outro “O corpo pode ser considerado, portanto, como uma plataforma de expressão na medida em que se manifesta sempre como objeto de uma elaboração imaginativa” (Santos; Peixoto, 2019).

Na contemporaneidade, o corpo, tem se tornado parte essencial da nossa identidade, as gerações, presentes nas redes sociais, onde tudo é visto e acompanhado em tempo real, tem valorizado cada vez mais padrões de “corpos magros e belos e a busca pelo ser saudável” (Fortes; Winograd; Perelson, 2018).

Para Winnicott, as manifestações corporais e seus adoecimentos, possuem significados para o psiquismo, sendo os sintomas de doença, também dotadas de sentido e de sofrimento (Santos, Peixoto, 2019). Pensando na atualidade, onde recentemente, o Brasil foi identificado com um dos países com maior índice de pessoas ansiosas no mundo (Carvalho, 2023) e normalizando sintomas como insônia, arritmia cardíaca, dificuldade para respirar, demonstra, o quanto nossa sociedade está adoecida e a importância da busca pelo autoconhecimento se faz necessária para a compreensão singular dessas manifestações.

Contudo, para a psicanálise, o corpo não pode ser considerado somente no seu funcionamento biológico, psíquico ou no campo das representações, o corpo é um conjunto de funcionalidades do sujeito psíquico e o contexto histórico e cultural na qual pertence.

Considerando o somático e as formas de expressão do SER, bem como com o olhar a atualidade, é possível perceber o quanto a imagem corporal está cada vez mais em alta, e o quanto estamos sempre em exposição (sendo vistos), mesmo que a distância, por redes sociais, encontrando identificações e construindo relações com o outro.

Os sintomas somáticos podem ser utilizados como formas de expressão e representação do sofrimento no corpo, e quando não possuí um acolhimento, validação ou tratamentos necessários a patologia, pode se agravar, tornando-se, os sintomas o centro da vida do sujeito, e o desamparo pela ausência de diagnósticos, respostas e momentos de expressar suas angústias, podem ser extremamente difíceis para as pessoas que enfrentam esse adoecimento.

3 METODOLOGIA

O Trabalho de Conclusão de Curso foi elaborado, de acordo com as pesquisas, e os conhecimentos adquiridos durante o curso de pós-graduação, relacionando com as experiências nos atendimentos a população com demandas relacionadas aos sintomas somáticos, presentes, em diferentes contextos como no contato com o Sistema único de Saúde, bem como, nos consultórios particulares.

Para a construção dessa pesquisa foram realizadas revisões em livros de autores psicanalíticos como Winnicott, Ferenczi e Freud, para fundamentação e levantamento histórico, bem como direcionando filtros de busca, em torno de trabalhos com os temas da somatização e psicanálise, publicados a partir de 2018, em sites e revistas universitárias, como Google Academyc, Scielo, PucSP, visando compartilhar e proporcionar conhecimentos atuais em relação a temática, no entanto, foi possível perceber uma dificuldade no encontro de publicações recentes voltadas ao conteúdo.

Procurou-se relacionar os conteúdos abordados no decorrer das aulas da pós-graduação de Psicanálise e Análise do Contemporâneo, especificadamente dos conteúdos do módulo “O papel do corpo e as matrizes sexuais” e em cursos de extensão voltados ao tema da somatização (SOMA) pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (IPQ), bem como intercalados as vivencias e experiências profissionais na atuação dos atendimentos clínicos.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Na contemporaneidade, o corpo, tem ganhado um amplo espaço na identidade e personalidade dos sujeitos. Hoje, por meio das redes sociais, todas as experiências são compartilhadas por vídeos, fotos, textos, e não estar inserido nesse contexto de exposição ou não atender as cobranças culturais relacionadas à aparência, pode gerar um tipo de exclusão social.

Nesse contexto, vale a pena ressaltar o impacto do neocapitalismo nas formas de olhar para o trabalho, segundo essas perspectivas, somos seres que precisamos produzir o tempo todo, e não só produzir como ser produtivo o máximo possível, na atualidade, estamos vivenciando uma gama de novas patologias como “burnout”, que relaciona a manifestação de sintomas no corpo (dor de cabeça, pressão alta) ao esgotamento físico e emocional adquirido no ambiente de trabalho.

No livro, a sociedade do espetáculo de Debord, publicado em 1997, faz uma crítica sobre a exposição da vida e proporciona reflexão em torno do capitalismo, e como a influência e a propagação de informações em massa, pode transformar o nosso psiquismo e a nossa realidade (Debord, 1997).

Na sociedade do espetáculo, onde tudo é exposto, como preservamos a singularidade e a individualidade do viver? Na nossa sociedade, uma das maiores cobiças é de ter uma vida feliz, sem espaço para tristezas, vulnerabilidades e humanidades, o exposto é o que o outro quer ver, a melhor pose, o melhor ângulo, acompanhado do melhor filtro e o que fica evidente é o corpo, as coisas, as conquistas, não tendo espaço e nem tempo para frustração. (Debord, 1997).

Para o desenvolvimento psíquico, é importante, o contato e o afeto, com o cuidador, em um ambiente ‘suficientemente bom’ para a construção de representações psíquicas, sendo elas de extrema importância para ampliar a constituição de recursos individuais para a expressão de emoções, no entanto, se o indivíduo não apresenta estruturas psíquicas para SER (ser humano dentre todas as suas singularidades), ou sente-se desamparado, em momentos de angústias, pode enfrentar conflitos que vão precisar encontrar vias de serem expressados, podendo um deles ser o corpo e/ou sintomas somáticos (Fortes; Winograd; Perelson, 2018).

O corpo é um mecanismo extremamente importante para o sujeito, e que em momentos de conflitos/angústias, as representações e afetos que o acompanham podem ocasionar em uma perturbação da consciência, podendo ser convertidos em experiências corporais inconscientes que em algumas situações podem manifestam como sintomas que possuem um significado para o psiquismo.

É importante, relacionar, os conflitos na contemporaneidade e a importância da constituição psíquica, pois, em cuidadores ausentes, a conversão corporal, pode ser uma forma encontrada para conseguir expressar as angústias psíquicas. É comum acompanharmos crianças de dois anos de idade, já habituadas com o uso das tecnologias utilizando celulares, tablets, consumindo conteúdos infantis instantaneamente, e aquietando choros e manifestações de angústias, frustrações, com o uso dessas tecnologias. Ferenczi, faz apontamentos em suas obras, sobre a criança mal acolhida, e como podem surgir emoções que desencadeiam comportamentos (conscientes ou inconscientes) autodestrutivos com o passar dos anos (Ferenczi, 1992).

Nos constituímos por meio da interação e do contato com o outro, e buscamos representar e construir nossa identidade por meio de identificações e trocas no ambiente em que vivemos, em uma sociedade, adoecida, que apresenta altas taxas de ‘ansiedade’ é importante falar e refletir sobre saúde mental e a busca pelo autoconhecimento.

Ao pensar no contexto cultural de alta visibilidade e padrões corporais, não estar dentro desses padrões e cumprir as expectativas sociais, podem gerar conflitos e insatisfações psíquicas acerca de fatores relacionados a aparência e fenótipo, podendo ocasionar em transtornos graves relacionados a aparência e a busca por pertencimento a um padrão e/a um determinado grupo.

O reconhecimento do indivíduo, pela medicina, como um ser único, apropriando-se de dados em torno das vulnerabilidades, contextos sociais e culturais, presentes na singularidade do sujeito, não o separando em partes de um corpo, mas acolhendo o indivíduo de forma totalitária se faz necessário (Azambuja, 2023). O papel da medicina no caso de pacientes somáticos, é extremamente importante para aceitação e compreensão do sujeito diante de seu sofrimento (Miguel, et al., 2020).

Os sintomas somáticos podem interferir no saber médico e a reação dos mesmos diante do paciente, podendo realizar os encaminhamentos para diversas especialidades, buscando diferentes diagnósticos, o que prejudica a aceitação do indivíduo sobre o seu sofrimento e da parte do profissional não conseguindo elaborar o ‘não-saber’ sobre o outro e não ter todas as respostas (Azambuja, 2023).

Diferenciar a “dor” e o “sofrimento”, segundo Birman, se faz de extrema importância na contemporaneidade, para o autor, a dor, está relacionada a algo subjetivo do sujeito, algo que só cabe a ele resolver, enquanto o sofrimento, proporciona a ideia de que se pode pedir ajuda ao outro, na atualidade, a psiquiatria “floresce”, por oferecer anestésico a dor, sem precisar compreendê-la (Birman, 2022).

Diante dessa reflexão, a psicanálise, por outro lado, tem o papel fundamental, pela busca dos significados e da compreensão do inconsciente e das expressões que ocorrem por via corporal, fortalecendo o EGO fragilizado e construindo com o sujeito novas possibilidades de expressões por meio da fala, e da comunicação, dando ao individuo a possibilidade de poder SER. O Ego para a psicanálise é a parte do psiquismo que é consciente (o EU), e é responsável pelas nossas percepções dos acontecimentos cotidianos. Para Ferenczi, o EGO é amplo, e está em constante expansão tendo como base as experiências e vivências cotidianas (Hentz et al., 2023)

Os sintomas psicossomáticos, podem aparecer em qualquer momento da vida do indivíduo, podendo ser reconhecido como um mecanismo de defesa, ou como escape para ‘ansiedades infantis’, no entanto, é importante o reconhecimento do psicólogo ou psicanalista desses sintomas, do sofrimento que pode ocasionar ao sujeito e a busca pela simbolização (Macêdo, 2021).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse estudo tem como objetivo proporcionar uma reflexão acerca dos sintomas psicossomáticos, e como eles podem ser utilizados como expressão de sofrimento psíquico do indivíduo.

A somatização, vista como uma das formas de expressão do SER, é extremamente importante, ser compreendia e explorada, por profissionais de saúde que estão em contato com indivíduos em sofrimento físico e ou psíquico. Hoje em decorrência das redes, o contato, entre as pessoas, passa a diminuir e a comunicação se torna mais precária, o que pode afetar, as formas de adoecimento e expressão das singularidades. Outro, ponto extremamente relevante, é acerca do neocapitalismo e como ele traz afetações ao sujeito, com novas formas de sofrimento e oferta de “cuidado”, voltados a medicalização para a retomada do indivíduo ao modo de produção.

Reconhecemos o papel das redes sociais, e o quão estão presentes no cotidiano, observamos também a importância da autoimagem e do que vai ser visto pelo outro, nos fazendo refletir sobre outras formas de adoecimento, e como elas (as redes sociais) podem influenciar na individualidade, e na singularidade das expressões desse sofrimento.

A comunicação entre os profissionais da saúde, e a troca de saberes se faz necessário para oferecer uma qualidade de vida aos indivíduos, ampliando a compreensão de seu estado psíquico, suas especificidades e as formas de cuidado.

O processo do adoecimento do corpo, sendo de qualquer patologia, pode ser traumático para o indivíduo, sendo necessário, possuir espaços para conseguir expressar suas angústias em torno do adoecimento, e refletir sobre suas afetações e quais as formas de cuidado, bem como as limitações que pode ocasionar na vida e no cotidiano da pessoa.

É importante ressaltar as mudanças percebidas na medicina atual, por parte de alguns profissionais, na oferta de “cuidado humanizado”, compreendendo o sujeito em meio a sua singularidade, mas ainda se faz necessário muitos avanços em relação ao olhar e o cuidado da clínica ampliada e do compartilhamento entre os saberes das diferentes áreas da saúde.

É extremamente importante reconhecer também o papel da psicanálise no cuidado e no olhar diferenciado em torno dos sujeitos e da somatização, nas formas de cuidado e de encontro por representações, simbolizações sobre a temática, não reduzindo sintomas corporais, a meros diagnósticos e conseguindo proporcionar espaços de amparo, escutas e acolhimento individual e singular, se adaptando a cada demanda e a cada exigência do ser humano.

REFERÊNCIAS

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