A REPRESENTAÇÃO DO ARQUÉTIPO DE ÁRTEMIS E O MITO DE ATALANTA NO PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO DA MULHER

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8247312


Olivia do Nascimento da Rocha¹
Maicol de Oliveira Brognoli²


RESUMO

O arquétipo de Ártemis pode ser identificado em mulheres que buscam independência, liberdade e uma conexão mais profunda com a natureza, por exemplo. No entanto, quando este arquétipo se manifesta de forma desequilibrada, pode levar a comportamentos obsessivos, dificuldades de relacionamento e falta de empatia. Este artigo propõe-se a explorar o arquétipo de Ártemis, com foco no mito de Atalanta. O objetivo do estudo compreendeu: Analisar como o arquétipo de Ártemis por meio do mito de Atalanta influencia no processo de individuação da mulher, com base nos estudos de Jean Shinoda Bolen e da psicologia analítica. Sua pergunta problema embasou-se em: Como o arquétipo da deusa Ártemis em conexão com o mito de Atalanta podem se manifestar na psique e na jornada de individuação da mulher? A pesquisa se baseou em uma revisão bibliográfica, incluindo artigos científicos e livros, com o intuito de compreender o arquétipo e sua importância para a psicoterapia analitica. Os resultados mostram que ao analisar o mito de Atalanta, foi possível compreender como o arquétipo de Ártemis se manifesta na vida das mulheres e como este processo pode direcionar as mulheres a encontrarem uma conexão mais profunda consigo mesmas, no alcance de um equilíbrio psíquico. Diante do mito de Atalanta e do arquétipo de Ártemis, foi possível destacar as características, bem como as problemáticas relacionadas à inconsciência da deusa na vida das mulheres.

Palavras-chave: Mitologia Grega; Arquétipo de Ártemis; individuação; Psicologia Analitica.

INTRODUÇÃO

O presente artigo trata-se de um estudo abarcando a teoria junguiana, também conhecida como psicologia analítica, desenvolvida pelo psiquiatra suíço Carl Gustav Jung. 

Jung postulou que a psique humana é composta por diferentes níveis, incluindo o consciente, o inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo. O consciente é a parte da mente que estamos cientes e que experimentamos no dia a dia, sendo todos os conteúdos e memórias que podemos acessar livremente. O inconsciente pessoal contém memórias, experiências e traumas individuais vivenciados pelo sujeito que foram reprimidos ou esquecidos. Já o inconsciente coletivo é uma camada mais profunda que contém elementos universais compartilhados por toda a humanidade, como arquétipos e símbolos culturais (AMORIM, 2004).

Os arquétipos são padrões universais, o resíduo psíquico do desenvolvimento evolutivo humano que se acumulam em consequência de repetidas experiências ao longo de muitas gerações no inconsciente coletivo. Eles são representações simbólicas de aspectos fundamentais da experiência humana, como o herói, a mãe, o pai, o sábio, o animus (aspecto masculino na psique feminina) e a anima (aspecto feminino na psique masculina). Jung acreditava que os arquétipos influenciam nossos pensamentos, emoções e comportamentos, e que reconhecê-los e integrá-los é importante para o desenvolvimento pessoal e o processo de individuação (HALL et al., 2000).

O objetivo deste estudo pretendeu analisar como o arquétipo de Ártemis juntamente com o mito de Atalanta influenciam na formação da psique da mulher e como se dá o seu caminho da individuação, com base nos estudos de Jean Shinoda Bolen. Portanto liga-se as estórias dos mitos com a vida de mulheres reais embasadas nos conceitos da Psicologia Analítica.

Sob este prisma, para Hollis (2005), os mitos não são meras histórias antigas ou lendas, mas sim uma expressão simbólica das verdades fundamentais da existência humana. Os mitos podem nos ajudar a fornecer um contexto e uma estrutura para compreendermos nossa jornada individual e coletiva através da vida. 

Segundo Bolen (2020), o arquétipo de Ártemis representa a mulher livre e voltada para a sua própria individualidade. Ártemis é a caçadora, independente e destemida, que gera o bem as mulheres ao seu entorno e valoriza sua liberdade. Ela é conectada à natureza, às plantas, mas especialmente aos animais selvagens, e é uma líder em seu próprio caminho. Deste modo, o mito de Atalanta apresenta juntamente a influência do arquétipo de Ártemis suas principais características, ou seja, a forma com que estas mulheres são guiadas e seguem o seu caminho, através de suas forças e a determinação em realizar seus objetivos, bem como também as consequências de desafiar e ofender deuses. 

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

PSICOLOGIA ANALÍTICA: UM BREVE HISTÓRICO

A teoria Analítica surgiu no século XX e foi desenvolvida por Carl Gustav Jung (1875- 1961), filho único de Johann Paul Achiles e Emille Preiswerk, seu pai era pastor protestante e reverendo de uma igreja local. Jung entra no curso de medicina em 1895 e especializa-se em psiquiatria em 1900 e passa a trabalhar como assistente de Eugen Bleuder na clínica psiquiátrica Burgholzli. Em 1906, passou a trocar correspondência com Freud e teve seu primeiro encontro em 1907 em Viena, a partir desse momento passaram a ter uma parceria, Jung começa a colaborar e agregar para Psicanálise de Freud. No ano de 1908 Jung passou a atender no consultório particular em sua casa em Kusnacht, e em 1909 viaja com Freud para os EUA, onde profere a primeira conferência na Universidade de Clark, em Massachusetts. Em 1910 a Associação de Psicanálise (IPA) é fundada durante um congresso em Nuremberg, e Jung é eleito seu primeiro presidente. Entretanto, em 1912, Jung demonstra por meio de publicações desacordos com a Psicanálise, e em 1913 rompe definitivamente com Freud; mas é reeleito presidente e no ano seguinte de 1914, renuncia ao cargo (BIRMAN, 2006; STEIN, 2006; SILVEIRA, 1981).

A ruptura deu-se pela versão difundida e a diferença de ambos sobre a importância da sexualidade da constituição psíquica. Jung, relativizava, considerava que a estruturação do psiquismo era influenciada pelo simbolismo gerado pela cultura e pela religião. Assim, o interesse de Jung voltou-se aos aspectos culturais e religiosos e pela produção dos símbolos, e a preocupação em desvendar a alma (psique) humana (BOCK; FURTADO; TEXEIRA, 2009). 

O período após o rompimento foi marcado pelo desenvolvimento da teoria analítica, Jung viajou por diversos países interessado por pesquisar os diferentes aspectos de diversas culturas. Estudou diferentes filosofias, religiões e culturas viajando para lugares como Egito, Palestina, Índia e entrou em contato com xamãs e tribos aborígenes para ampliar seus conhecimentos. No dia 6 de junho de 1961, aos oitenta e seis anos de idade, Jung faleceu em sua casa em Kusnacht, deixando um vasto legado de conhecimento e descobertas sobre a psique humana (BIRMAN, 2006).

PERCORRENDO OS PRINCIPAIS CONCEITOS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA

Segundo Assis et al. (2015), a ciência psicológica junguiana descreve que em primeiro plano nos relacionamos com a psique consciente. Posteriormente, com a psique inconsciente que é explorada de forma indireta. “As únicas coisas do mundo que podemos experimentar diretamente são os conteúdos da consciência. […] tudo o que conhecemos a respeito do inconsciente foi-nos transmitido pelo próprio consciente” (JUNG, 1998, p. 3). Os conteúdos da consciência se relacionam a partir de um ponto de referência que Jung denominou de complexo do ego (VON FRANZ, 2004). 
Assis et al. (2015) explicitam que apesar de os elementos inconscientes não serem diretamente observáveis, Jung os classifica ao atingirem os domínios da consciência, em duas espécies:


[…] inconsciente pessoal que se compõe, primeiramente, daqueles conteúdos que se tornam inconscientes, seja porque perderam sua intensidade e, por isso, caíram no esquecimento, seja porque a consciência se retirou deles (é a chamada repressão) e, depois, daqueles conteúdos, alguns dos quais percepções sensoriais, que nunca atingiram a consciência, por causa de sua fraquíssima intensidade, embora tenham penetrado de algum modo na consciência (JUNG, 1984, p. 30).

O inconsciente coletivo destaca-se como a herança espiritual do desenvolvimento da humanidade. A consciência pode ser concebida como um fenômeno transitório, ou seja, ela é responsável por todas as adaptações e orientações de cada momento, onde seu desempenho pode ser comparado com a orientação no espaço (JUNG, 1984). 

Jung (1998) descreveu dois tipos de mecanismos de funcionamento da Libido, movimentos que recebem o nome de extroversão e introversão. “No extrovertido, a libido habitualmente flui conscientemente na direção do objeto, mas existe também a ação contrária que volta em direção do sujeito inconscientemente” (VON FRANZ, 2004, p. 31). “No caso do Introvertido ocorre o oposto, pois o sujeito passa a ter a impressão de que um objeto constantemente o esmaga” (VON FRANZ, 2004, p. 31).

Jung (1984) comenta sobre a existência de quatro funções básicas: Pensamento, Sentimento, Sensação, e Intuição, que são responsáveis pelo processamento dos conteúdos conscientes.

A Sensação é a função que, por via dos sentidos, informa o advento de algo no intelecto. Essas informações chegam como percepções sensoriais que orientam o sujeito a respeito da existência de algo fora. Porém esse algo, mediante um processo chamado por Jung de apercepção torna-se uma complexidade psíquica, a partir da associação de diversos processos psíquicos que combinados, produzem uma representação – imagem (ASSIS et al., 2015, p. 141).

Nesta perspectiva, o reconhecimento disso deriva de um processo que exprime o que uma determinada coisa é, e denomina-se esse processamento de Pensamento. É o pensamento que nos diz o que a coisa é em si (ASSIS et al., 2015). 

Pode-se dizer que algo é peculiar, e qualificá-lo referindo-se a uma tonalidade afetiva especial que a coisa tem. Portanto, a tonalidade afetiva implica uma avaliação. Em linguagem ordinária, este processo se chama Sentimento (ASSIS et al., 2015). “Este nos informa, através de percepções que lhe são inerentes, acerca do valor das coisas” (JUNG, 1998, p. 8). 

Para Jung (1984), a Intuição é uma das funções básicas da alma sendo a percepção das possibilidades inerentes a uma dada situação, não passando exatamente pelos sentidos, registrando-se a nível do inconsciente; “[…] é um fator dos mais naturais, dos mais normais e necessários, pois nos coloca em contato com o que não podemos perceber, pensar ou sentir, devido a uma falta de manifestação concreta” (JUNG, 1998, p. 11).  

DELIMITANDO UM POUCO MAIS OS CONCEITOS

O Self ou Si-mesmo, é o arquétipo da totalidade e o centro regulador da psique, ou um poder transpessoal que vai além do ego (SHARP, 1993). O self é compreendido como ponto central da personalidade, “em torno do qual todos os outros sistemas estão constelados. Ele mantém esses sistemas unidos e dá à personalidade unidade, equilíbrio e estabilidade” (HALL et al., 2000, p. 92). 

A psique é a personalidade como um todo (HALL; NORDBY, 1986). De acordo com a etimologia do termo, psique significava “alma” ou “espírito”. A psique abrange todos os pensamentos, sentimentos e comportamentos, funcionando como um guia que regula e adapta o indivíduo ao ambiente social e físico. Segundo Jung, a psique compõe-se de numerosos sistemas e níveis diversificados, porém interatuantes: a consciência (e o ego), o inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo (HALL; NORDBY, 1986).

A consciência: o ego e a persona. Nise da Silveira definiu o ego como um complexo de elementos numerosos, formando uma unidade bastante coesa para transmitir impressão de continuidade e de identidade consigo mesma. Assim, para que qualquer conteúdo psíquico se torne consciente terá de relacionar-se com o ego, sendo que as relações entre conteúdos psíquicos e o ego se darão na área do consciente (SILVEIRA, 1997). 

Ao se referir ao conceito de persona, ou a forma pela qual nos apresentamos ao mundo, Jung foi buscar no antigo teatro grego um termo que desse ao indivíduo a possibilidade de compor uma personagem. Deste modo, “persona é a máscara ou fachada ostentada publicamente com a intenção de provocar uma impressão favorável a fim de que a sociedade o aceite” (HALL; NORDBY, 1986, p. 36).

O inconsciente pessoal: os complexos e a sombra. De acordo com Silveira (1997), a denominação inconsciente pessoal relaciona-se às camadas mais superficiais do inconsciente, sendo as fronteiras com o inconsciente bastante imprecisas. Estariam aí incluídas desde as percepções e impressões subliminares dotadas de carga energética insuficiente para atingir o consciente; combinações de ideias ainda demasiado fracas e indiferenciadas; traços de acontecimentos ocorridos durante o curso da vida e perdidos pela memória consciente; recordações penosas de serem lembradas e, principalmente, grupos de representações carregados de forte potencial afetivo: os complexos. 

Fadiman e Frager (1986) explicam que encontramos no centro do inconsciente pessoal a sombra, ou o núcleo do material que foi reprimido da consciência. Para eles a sombra inclui aquelas tendências, desejos, memórias e experiências que são rejeitadas pelo indivíduo como incompatíveis com a persona e contrárias aos padrões e ideais sociais. Quanto menos reconhecida mais perigosa será. Contudo, a sombra não é apenas uma força negativa na psique, é também um depósito de considerável energia instintiva, espontaneidade e vitalidade, a fonte principal de nossa criatividade; se a sombra for totalmente reprimida, não só a personalidade se tornará trivial, mas também a pessoa ficará sujeita à mercê da revolta de sua sombra (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002). 

Outra característica do inconsciente pessoal é a possibilidade de agrupamento de conteúdos para formar uma constelação ou aglomerado; Jung deu a tais conteúdos o nome de complexos (HALL; NORDBY, 1986; HALL et al., 2000). 

Os complexos podem ser divididos em diferentes categorias (como complexo materno, complexo paterno, complexo de poder, complexo de inferioridade, etc.). Sob essa perspectiva, os complexos têm conexões com os arquétipos, o que significa que as experiências individuais sempre se relacionam com as experiências coletivas da humanidade, apesar das características pessoais exclusivas de cada complexo (SILVEIRA, 1981).

O inconsciente coletivo: os arquétipos são o resíduo psíquico do desenvolvimento evolutivo humano, se acumulam em consequência de repetidas experiências ao longo de muitas gerações. Jung atribui a universalidade do inconsciente coletivo à semelhança da estrutura do cérebro em todas as raças humanas, semelhança esta que se deve a uma evolução comum (HALL et al., 2000). Nas palavras de Jung “a forma do mundo em que a pessoa nasce já é inata nela como uma imagem virtual” (JUNG, 1945 apud HALL; NORDBY, 1986, p. 33). Além de arquivar todas as facetas reprimidas da personalidade, “esse inconsciente também armazena experiências e conflitos decisivos pelos quais o ser humano passa ao longo da história do seu desenvolvimento, ou seja, todo o seu conhecimento – lutas, fracassos, conflitos, temores básicos e anseios” (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002 apud AMORIM, 2004, p. 27). 

A Anima e o Animus são responsáveis por auxiliar o ego a entrar em contato com o inconsciente, a fim de aprofundar sua relação com o mesmo na busca e no caminho de individuação. Anima é a parte interior feminina da psique do homem e animus a parte interior masculina da psique da mulher, servindo ao equilíbrio do sistema psíquico, uma vez que compensam a atitude masculina ou feminina da consciência (AMORIM, 2004). 

Os símbolos – o inconsciente se expressa primariamente por meio de símbolos que são as manifestações exteriores dos arquétipos, visto que em razão de se encontrarem profundamente arraigados ao inconsciente coletivo, os arquétipos só podem expressar-se através dos símbolos (HALL; NORBY, 1986; FADIMAN; FRAGER, 1986). O símbolo está vivo, impõe-se e mobiliza a energia (SILVEIRA, 1997). 

A individuação para Jung (2015), consiste em um processo de integração dos conteúdos inconscientes e conscientes com o objetivo da busca por tornar-se a si mesmo. Afirma utilizar o termo processo de individuação para designar o processo pelo qual um ser torna-se um “individuum” psicológico, isto é, uma unidade autônoma e indivisível, uma totalidade. O processo de individuação parece não tender na direção da perfeição, mas da completude (VON FRANZ, 2004). “O homem só passa a ser responsável e capaz de agir, quando existe a seu modo” (JUNG, 1985, p. 25). 

Contudo, a individuação se destaca em um processo longo e sem finalização, ou seja, para toda uma existência (JUNG, 2015; STEIN, 2020).

A Imaginação Ativa, conforme Berni (2021), se caracteriza pela capacidade da psique humana em formar imagens e gerar símbolos que são provenientes do inconsciente que faz a utilização destas imagens para se comunicar com a consciência. Através da Imaginação Ativa é estabelecido uma forma de diálogo, possibilitando uma ponte de acesso ao self acessando informações até então desconhecidas à consciência. “Imaginação ativa é um diálogo que travamos com as diferentes partes de nós mesmo que vivem no inconsciente” (JOHNSON, 1989, p. 154).

Entre os conceitos desenvolvidos por Jung, a Sincronicidade se trata de um evento por vezes identificado como uma coincidência. O sincronístico, não respeita as leis da probabilidade do acaso, mas este é identificado pelo indivíduo que o experiência com muito significância. De forma mais abrangente, pode-se caracterizar a sincronicidade como algo muito além de um acontecimento improvável sendo este um fenômeno da natureza, superior a causalidade. Este conceito junguiano propõe o entendimento entre eventos diferentes que se complementam com a causalidade.

OS MITOS

Podendo ser categorizado como um constructo psicológico e cultural de importância para a atualidade, ele nos conecta ao mundo invisível. Em tempos em que o materialismo está sendo priorizado, o mito possibilita o acesso ao equilíbrio espiritual por intermédio dos símbolos e metáforas (HOLLIS, 2005). De acordo com Serbena (1999), o mito não é caracterizado como uma fuga da realidade, fantasia ou fabulação primitiva; constitui-se de uma realidade com formas de se posicionar e atribuir sentido à vida permanecendo atuante no mundo, satisfazendo as necessidades simbólicas, dando significado a psique e atuando como pano de fundo para a vida.

Interpretada através de imagens, esta energia é personificada por intermédio de metáforas baseada em deuses, tornando possível a abordagem do desconhecido. Para Hollis, (2005), a utilização dos deuses dá mais força a este termo, trazendo honra a estas energias. Estes materiais são constituídos de conteúdos simbólicos constituintes da psique humana, caracterizados em manifestações dos arquétipos do inconsciente. Os mesmos podem se apresentar através da mitologia, contos de fada e religiões (SERBENA, 1999).

Brandão (1986, p. 09) elucida que os mitos “delineiam padrões para a caminhada existencial através da dimensão imaginária”. Os mitos abrem para a consciência o acesso direto ao inconsciente coletivo através dos recursos da imagem e da fantasia. Mesmo os mitos mais hediondos e cruéis são úteis, uma vez que, nos ensinam através da tragédia os grandes perigos do processo existencial. Para o autor, “mito é, pois, a narrativa de uma criação: conta-nos de que modo algo, que não era, começou a ser” (BRANDÃO, 1986, p. 36).

O ARQUÉTIPO DA DEUSA ÁRTEMIS

O início do mito histórico da deusa Ártemis se originou na Grécia antiga. Conta-se que a partir de um relacionamento de Zeus (o deus supremo na mitologia) e Leto uma divindade da natureza nasceram os gêmeos Ártemis e Apolo. Porém, Hera, deusa esposa de Zeus, enfurecida com sua raiva, pôs obstáculos à Leto para que esta fosse impossibilitada de parir e sofresse muito neste processo. Ninguém queria ajudar Leto neste momento por medo de sofrer com a fúria de Hera. Leto conseguiu um local para parir os gêmeos na ilha de Delos, entretanto, primeiramente veio ao mundo Ártemis (BOLEN, 2021). Por consequência da fúria de Hera, Leto passou nove dias e nove noites sofrendo dores de parto até finalmente conseguir parir Apolo. Durante todo este período de sofrimento para parir seu segundo filho, devendo-se compreender que as divindades não são como os mortais, quem auxiliou Leto no parto de Apolo foi Ártemis, ficando posteriormente reconhecida como a deusa dos partos. Quando Ártemis atinge seu terceiro ano de vida, Leto leva os gêmeos ao Olimpo onde vive Zeus. Põe Ártemis em seu colo e diz que ela poderá ter tudo aquilo ao qual deseja. Ártemis pede a Zeus que tenha uma túnica suficientemente curta para que ela possa correr pela floresta entre as montanhas e as selvas, um arco e flecha e uma quadrilha de cães para que a ajude a caçar. Ártemis pede também ninfas para lhe acompanhar e finalmente pede que tenha a castidade eterna. Zeus concede todos seus desejos e independência para fazer suas próprias escolhas (BOLEN, 2021).

Assim se caracteriza o mito de Ártemis, manifestando aspectos em mulheres independentes, donas de suas próprias vidas e livres para fazerem suas próprias escolhas. Ártemis representa o movimento feminista, a irmandade e castidade de não pertencer a ninguém além de si mesma (BOLEN, 2020).

A partir da Leitura de Bolen (2021), pode-se entender que existem muitas formas de manifestação do arquétipo da deusa Ártemis constelado em mulheres. Muitas possuem a deusa manifestada enquanto arquétipo, em seus complexos precisando se conscientizar e acolher os conteúdos de sua sombra; outras necessitam compreender a magnitude e a força dessa deusa para buscar um equilíbrio em suas vidas. 

METODOLOGIA 

Para esta pesquisa se adotou o método qualitativo em que o sujeito e o objeto de conhecimento estão próximos favorecendo a subjetividade do pesquisador. A pesquisa qualitativa depende fundamentalmente, da competência teórica e metodológica da ciência social sendo um trabalho do qual se ampara no uso da intuição, imaginação e experiência (MARTINS, 2004). “A metodologia qualitativa, mais do que qualquer outra, levanta questões éticas, principalmente, devido à proximidade entre pesquisador e pesquisados” (MARTINS, 2004, p. 293).

 O presente estudo se caracteriza como uma revisão bibliográfica. Segundo Gil (2008), uma revisão bibliográfica envolve a busca por fontes de informação relevantes, como artigos científicos, livros, teses, dissertações e outros materiais acadêmicos. Essas fontes são rastreadas de forma crítica, com o objetivo de extrair informações relevantes, comparar diferentes perspectivas e identificar padrões ou tendências na literatura existente.

A população amostra foi composta por literatura relacionada ao tema de estudo, com base em artigos e livros. A literatura selecionada foi aceita a partir da variável de interesse. Como critério de inclusão aceitou-se somente as publicações que respondessem à questão do estudo proposto, e ainda: serem publicadas no idioma português – Brasil, incluindo todos os tipos de delineamentos metodológicos.  Como critério de exclusão se abordou todas as literaturas que não respondem aos critérios de inclusão descritos. 

A questão norteadora para esta pesquisa se designou em: Como o arquétipo da deusa Ártemis em conexão com o mito de Atalanta podem se manifestar na psique e na jornada de individuação da mulher?

A coleta de dados percorreu os seguintes passos: 1- Leitura exploratória dos materiais previamente selecionados (leitura que tem como objetivo verificar se a obra consultada é de interesse para o trabalho); 2- Leitura seletiva (leitura aprofundada nos materiais específicos que interessam à pesquisa) e 3- Registro das informações extraídas das fontes em instrumento específico (autores, ano, método, resultados e conclusões) (GIL, 2009). 

Após a coleta dos dados, se realizou uma leitura analítica do material selecionado para que este fosse ordenado e sumariado mediante as respectivas informações das fontes, possibilitando o processo das respostas propostas ao problema de pesquisa e os objetivos, efetivando uma análise descritiva dos conteúdos previamente estudados, visando estabelecer maiores compreensões e a ampliação do conhecimento sobre o tema pesquisado. Almejou-se elucidar os dados fazendo análises e discussões a partir das obras selecionadas (Quadro 1) para este estudo, realizando conexões com a perspectiva teórica da Psicologia Analítica. 

RESULTADOS

Quadro 1 – Obras selecionadas

Autor (a)Ano da ObraTítulo da Obra
BOLEN, Jean Shinoda2020Ártemis, A Personificação Arquetípica do Espírito Feminino Independente.
BOLEN, Jean Shinoda2021As Deusas e a Mulher, Nova Psicologia das Mulheres
JUNG, Carl Gustav2016O Homem e seus Símbolos
PEREIRA, Daniela2018O mito de Atalanta uma Mulher no Mundo Masculino
SILVA, Mirian Cardoso; COQUEIRO, Wilma dos Santos; FASCINA, Diego Luiz Miiller2019Entre o feminismo e o mitológico: A representação feminina em contos de Marcia Denser
STEIN, Murray2020Jung e o Caminho para Individuação
VON FRANZ, Marie-Louise1985A Sombra e o Mal nos Contos de Fada
Fonte: Autora, 2023.

DISCUSSÃO E ANÁLISE DO DADOS

A REPRESENTAÇÃO DO ARQUÉTIPO DE ARTEMIS NO MITO DE ATALANTA

Como visto no decorrer deste artigo, o arquétipo de Ártemis nos traz a representação do espírito da mulher indomável. A mulher com a ativação desse arquétipo tende a procurar seus próprios objetivos e realizar suas próprias escolhas. O mito de Atalanta, demonstra a personificação mortal do arquétipo de Ártemis através do desenvolvimento de sua história.

A autora narra que Atalanta foi uma princesa que nasceu na Arcádia. Seu pai, o rei, aguardava o nascimento de seu primeiro filho, esperando que fosse um primogênito homem. Ao nascer, Atalanta se torna a filha indesejada e o rei ordena que a levem para fora de seu reino, deixando-a em uma montanha para morrer. Atalanta se torna uma criança indesejada e rejeitada por seu próprio pai (PEREIRA, 2018).

Abandonada no alto da montanha, a princesa chora e acaba atraindo uma ursa que devido ao seu instinto materno, vai ao encontro do som do bebê e neste momento um vínculo é estabelecido. A ursa a recolhe, a amamenta e cuida de Atalanta, pois por mais distintos que sejam aparentemente os bebês humanos de bebês ursos, ambos ao nascerem são indefesos. As mães ursas têm por instinto proteger e ensinar a independência. Quando Atalanta fica maior e a ursa identifica que já está pronta para ser independente a deixa criar seu próprio caminho. Segundo historiadores a partir do momento que Atalanta e sua mãe ursa se separam, ela é encontrada por caçadores que a ensinam a caçar, falar e manusear arco e flecha (BOLEN, 2020).

No decorrer de sua vida, Atalanta em meio a mata encontra Meléagro, um príncipe que está caçando um urso na selva. Atalanta ouve o urso em sofrimento e busca o proteger, porém é tarde demais. Assim que Atalanta vê Meléagro, ataca-o e ambos entram em uma luta acirrada, onde nenhum cede, lutando por horas mantendo a igualdade de forças. Esta é a primeira vez que Atalanta luta com um homem e tem contato com a pele de outra pessoa, isso a faz sentir-se diferente, brotando emoções nunca vividas. A partir do momento que Meléagro vê Atalanta, se apaixona por ela ser diferente de todas as mulheres de seu reino, a vê como uma igual em forças. A partir de uma conexão mútua entre ambos se dá início a um relacionamento. Logo o rei, pai de Meléagro, precisa de auxílio com um enorme Javali solto em seu reino ao qual fora moldado e enviado pela deusa Ártemis pois o rei a ofendeu, deixando de honrar seus poderes nos ritos de deuses. O javali de Cálidon, como ficou conhecido, destrói tudo por onde passa, a fera é enorme e muito forte, fazendo com que pessoas não o consigam parar (BOLEN, 2020).

Com isso, o rei desenvolve uma força tarefa com o intuito de derrubar a fera, convocando os homens mais corajosos e guerreiros do reino. Meléagro e Atalanta se juntam a força tarefa nesta caçada, mas os guerreiros rejeitam e não aceitam a presença de uma mulher, diminuindo e subestimando a força de Atalanta. Meléagro a defendi e por fim se prossegue a continuidade da caçada. No decorrer da caçada ao Javali de Cálidon, muitos guerreiros são feridos, pisoteados e nenhum consegue sequer chegar perto de ferir ou matar o animal. Tratando-se de um animal perspicaz enviado por Ártemis, posiciona-se de forma que o grupo de guerreiros é impedido de atacá-lo em conjunto, fazendo com que cada um o ataque individualmente ou em par; nenhum dos guerreiros consegue acertar o animal. Entretanto, Atalanta enfrenta o Javali, é atacada pelo animal vindo em sua direção pronto para a esmagar. Portando seu arco e flecha, determinada com sua mira certeira, Atalanta acerta os olhos do animal atingindo seu cérebro. Com o ataque preciso de Atalanta o javali fica prostrado, ainda vivo Meléagro dispara o golpe final com sua espada, pondo fim a vida do Javali de Cálidon (PEREIRA, 2018; BOLEN, 2020).

Após a grande caçada, nenhum dos guerreiros aceita o fato de uma mulher receber o prêmio, ainda mais sendo este tão valioso relacionado a uma ação heroica; mais uma vez Atalanta é defendida por seu amado. Meléagro com a missão de fazer sua amada ser respeitada acaba matando seus tios que estavam em oposição, com isso a princesa consegue levar seu prêmio consigo. Posteriormente à caça, os amantes decidem comemorar juntos sozinhos em meio a selva, mas Meléagro sente fortes dores no peito e vem a morrer nos braços de Atalanta (BOLEN, 2020).

Com o fim trágico de seu relacionamento com Meléagro, Atalanta decide ir para longe do ambiente onde viveu tantas coisas com seu amado, seguindo para a terra onde nasceu, Arcádia. Chegando lá seu pai, o rei, reconhece Atalanta como sua filha um dia rejeitada. Como não conseguiu realizar o sonho do filho ideal, decide transformar Atalanta em sua sucessora reconhecida, pois ela demonstrou através de sua história que teve a capacidade de ser tudo aquilo ao qual desejou, porém, mulher. O rei decide que para Atalanta subir ao trono precisaria se casar tendo um marido para reinar ao seu lado. Atalanta propõe que seja feita uma corrida, na qual os pretendentes correm com ela, onde os perdedores são mortos e o vencedor, por fim, merecerá a sua mão (PEREIRA, 2018; BOLEN, 2020). 

O evento das corridas é iniciado e diversos pretendentes se oferecem para participar desta disputa. Atalanta é uma mulher confiante e tem ciência de que nenhum mortal poderá superá-la, pois sabe que é habilidosa tanto na corrida quanto no arco e flecha. Diversas corridas ocorrem e muitos pretendentes acabam por encontrar um fim trágico, a morte. Finalmente, resta o último pretendente, o único que está presente por amor e que conhece a dor vivida por Atalanta em sua história de amor em Cálidon com Meléagro (BOLEN, 2020).

Atalanta acabou sendo vencida por Hipômenes, descendente de Poseidon, ao qual buscou ajuda da Deusa Afrodite que concedeu ao jovem três maçãs de ouro para que ele as jogasse durante a corrida. Hipômenes jogou três vezes as maçãs de ouro na frente dos pés de Atalanta e por três vezes ela se distrai, atraindo sua atenção e retardando o passo de sua corrida, ao juntar a terceira maçã Atalanta foi superada não cruzando a linha de chegada em primeiro; seu coração é conquistado e Atalanta foi possuída pelo amor. No decorrer da história de Atalanta e de Hipômenes, ambos se unem e dividem sua vida juntos (BOLEN, 2020).

ARTEMIS: A MÃE URSA

Segundo Jung (2016), os arquétipos são padrões universais herdados, imagens, símbolos e temas que estão presentes no inconsciente coletivo da humanidade. São formas primordiais e atemporais consideradas componentes fundamentais da psique humana que influenciam a maneira como percebemos e interpretamos o mundo ao nosso redor. Os arquétipos podem se manifestar em diferentes formas, como personagens mitológicos (como o herói, a mãe, o sábio), símbolos universais (como o círculo, o sol, a água) e padrões de comportamento (como o nascimento, a morte, a jornada). Eles desempenham um papel importante na formação dos mitos, contos de fadas, religiões e até mesmo nos sonhos individuais (JUNG, 2016; STEIN, 2020).

Por meio da interpretação do mito de Atalanta, contido na obra de Bolen (2020), identifica-se na mãe ursa a representação de Ártemis como arquétipo norteador na vida da princesa. Logo após o abandono de Atalanta, o arquétipo de Ártemis se manifesta como símbolo da mãe ursa, que com todos os seus dons cuidou, tornando-se sua protetora, ensinando a coragem, instinto e independência física e emocional desde cedo.

Garotas criadas metaforicamente pela mãe ursa podem ser filhas nutridas pela mãe natureza, gostam de animais e encontram paz fora de casa, sentem-se mais seguras e livres sob uma árvore ou cuidando de um cavalo num estábulo do quem em um lar onde costumam ser negligenciadas e sofrer abusos (BOLEN, 2020, p. 40).

O arquétipo de Ártemis se manifesta logo cedo na vida dessas mulheres, guiando-as através de seu espírito independente. Bolen (2020) relata que as meninas negligenciadas no início de sua vida de alguma forma por seus familiares, seja pela ausência de presença, afeto, ou a conivência em ambiente hostil, assumem por consequência seus instintos necessitando tomar o controle de suas vidas, rejeitando sua vulnerabilidade.

Conforme Silva, Coqueiro e Fascina (2019), a mulher com a internalização arquetípica da forte deusa Ártemis, está ligada ao seu instinto de caça e comprometida em manter este posto de forma inconsciente. Esta mulher vai se identificar com os ideais de independência física e emocional. Estará preocupada com suas emoções, em fazer aquilo que lhe faz bem, gostando de liberdade e independência e uma vida cheia de conexões. Vai procurar ser apoio a outras mulheres que precisam de ajuda, estando envolvida em causas sociais pelos animais e/ou aquilo ao qual chame sua atenção. O casamento pode não ser sua prioridade e talvez nunca seja.

JAVALI DE CALIDON: OFENSA A DEUSA

A parte do mito envolvendo o javali de Calidon destaca a coragem e a destreza de Atalanta como caçadora, bem como os desafios enfrentados pelos heróis da mitologia grega em suas jornadas. Apesar da beleza identificada em mulheres corajosas, independentes e fortes, pode-se ver um sentimento de fúria e vazio existencial quando necessitam mostrar para si que são superiores aos homens. Constelam na psique o arquétipo da deusa Ártemis através da caça aos homens, ou seja, utilizando de sua sexualidade sem a permissão de se envolver emocionalmente, sempre em busca de sua melhor caça, alguém que supere a todas as outras, inconscientemente buscando ao Javali de Calidon (BOLEN, 2020).

Quando se fala do Javali de Calidon e sua simbologia, o conteúdo associado ao mito parece passar a imagem de uma mulher que sua manifestação arquetípica de Ártemis está vinculada a sua forma de se posicionar frente ao mundo, ou seja, a persona. Neste sentido, pensamentos e ideias contrárias são repelidas com agilidade em convicção baseada ao apoio em projeções arquetípicas as quais inflamam as emoções, gerando uma defesa paranoica. Se faz necessário promover a integração destas imagens à consciência, agregando opostos, indo ao encontro do self, renunciando tradições e tesouros herdados para então se diferenciar desta figura e assim transformar seu futuro (STEIN, 2020).

O desenvolvimento da consciência e a realização da identidade completa da personalidade, isto é, a individuação, exige a princípio que a pessoa rompa a identidade inconsciente com a persona, de um lado, e com as figuras da anima/animus, de outro (STEIN, 2020 p. 33).

 Conforme cita Stein (2020), quando se gera uma identificação com uma estrutura psicológica, como a persona neste caso, esta identificação impede a continuidade do processo de individuação, fixando assim o ego em aprendizados inconscientes, impondo suas exigências aprendidas através de memórias afetivas muitas vezes através de complexos experienciados na infância, tornando-se padrões na vida atual da pessoa. 

A mulher tipo Ártemis precisa entrar em confronto com o Javali de Calidon, ou seja, entrar em contato com seu animus negativo e dentre outros complexos inclusos em sua psique, conscientizando essa cólera interna não individualizada. De acordo com a leitura de Bolen (2020), pode-se observar em mulheres identificadas com este arquétipo, inconscientemente utilizam da máscara social para demonstrar em seu ambiente cultural a imagem de uma mulher forte, determinada que não se sucede a vulnerabilidade de pertencer ou necessitar de amparo.

São mulheres que dificilmente solicitam ajuda quando precisam e que muitas vezes são vistas como bravas e irredutíveis, estas mulheres hoje abraçam causas sociais por pessoas vulneráveis e minorias, principalmente através do movimento feminista, por vezes como uma justificativa de ajudar (dado que este arquétipo pode se manifestar pelo apoio a mulheres). Por fim acabam se vinculando e manifestando sua persona decorrente de um animus negativo e uma mulher não individuada. Pode-se ver esta manifestação através de mulheres que não conseguem dominar o Javali. Como consequência, essas mulheres transportam suas dores incompreendidas ao externo, se impondo de forma agressiva, não acolhendo sentimentos de tristezas e mágoas (BOLEN, 2020; STEIN, 2020). 

Portanto, estas mulheres acabam perdendo o controle sobre si e sobre como atingem as pessoas ao seu redor, transformando pequenos incidentes e motivos torpes em razão para destruir.  A mulher com a expressão arquetípica de Ártemis e complexos negativos não integrados a sua consciência, foi dominada pelo Javali, identificando-se com suas presas enormes, sua pele grossa; ela vai vestir sua armadura e passar por cima de qualquer coisa que não a reverencie e a ame como ela merece e quer (STEIN, 2020; BOLEN, 2020).

O CONFRONTO COM A SOMBRA E A CORRIDA DE HIPÔMENES

No decorrer do mito, após o fim doloroso de sua vida em Calidon e seu relacionamento com Meléagro, Atalanta sente-se desolada e decide regressar ao reino que nasceu, retornando ao pai. A partir da teoria analítica junguiana pode-se identificar este processo em Stein (2020), como o verdadeiro início ao processo de individuação, aquele em que se dá por meio de um impacto negativo que inflige dor ao ser identificado como um apelo da psique, porém inconsciente e por vezes negado.

Através da interpretação dos mitos pode-se identificar estes momentos de dor, sofrimento e desconforto como esse confronto inicial aos materiais inconscientes, quando um rei aparece doente, um monstro rouba mulheres, momentos de secas, guerras perdidas ou no caso de Atalanta, a perda de alguém a quem amava (JUNG, 2016; VON FRANZ, 1985). Atalanta está vivendo sua vida de forma inconsciente, até o momento que irrompe em seu âmago a necessidade de algo novo, tirando-lhe do tédio de viver o mesmo desde o início de sua vida na selva, o momento em que decide voltar a sua terra natal. Isso mostra através do mito a aceitação de integração do seu inconsciente a sua consciência, demonstrando a necessidade de mudança e a busca pelo Si-mesmo. 

A corrida de Atalanta com Hipômenes traz de forma mitológica o processo do confronto de uma mulher guiada pelo arquétipo de Ártemis com sua sombra. Até a corrida com seu futuro vencedor, Atalanta demonstra-se entediada com a vida que estava levando. Apesar de se demonstrar e posicionar como uma mulher poderosa e forte, em seu interior não estava satisfeita, o que pode ser encarado como uma resistência à integração de seus materiais inconscientes à consciência.

Na fase analítica da individuação, a identificação inconsciente do ego com tais figuras, entre elas as arquetípicas, torna-se o objeto de aná (em grego, “para cima”) + Iysis (em grego, “afrouxamento”, “dissolução”) (ou seja, análise = decomposição, separação). A pessoa precisa se libertar do poder e da influência dessas figuras (STEIN, 2020, p. 35).

Seu concorrente está ali por amor e busca a deusa Afrodite para ajudá-lo a conquistar Atalanta, tocando-a como nunca fora tocada antes. No decorrer da corrida, ou seja, do confronto com sua sombra, Atalanta tem acesso a emoções nunca compreendidas. Deve-se lembrar que desde que fora abandonada no início de sua vida ela identificou a necessidade de ser forte o suficiente e independente de qualquer pessoa ou sentimento.

Por intermédio das maçãs de Afrodite é compreendido coisas em sua sombra nunca identificadas, como a passagem do tempo, pois ao olhar através da primeira maçã Atalanta vê seu reflexo e com isso percebe que os anos se passaram e se faz necessário uma pausa para pensar sobre as fases da vida. A segunda maçã representa a importância do amor, trazendo lembranças de que o amor promove experiências maravilhosas, o confronto e compreensão das dores vivenciadas com a possibilidade de um novo amor, ressignificando os aspectos inconscientes negativos, pensando no amor e na fragilidade de forma positiva e consciente. A terceira maçã representa o anseio pela criação de algo novo através de um contato com Demeter a deusa da criação e da maternidade, despertando na consciência da mulher que nunca sonhou e pensou em ser mãe, o anseio em gerar a vida e a necessidade da mudança de caminho (BOLEN, 2020). 

Podemos aqui recordar que Ártemis é identificada como a deusa da caça e da lua, da independência e força feminina, se manifestando na imagem da mulher que não se dispõe a ser frágil e pertencer a alguém, muito menos a um homem, porém aparece Hipômenes um homem apaixonado que ama. Segundo Franz (2020), podemos analisar nos contos de fadas que todos os personagens de uma história são as sombras do outro, portanto nos mitos não se faz diferente, aqui vamos analisar esse acontecimento como o confronto da mulher com sua sombra e ao seu processo de integração.

No confronto com a sombra descrito acima, não se deve dizer que este processo conduzirá a mulher tipo Ártemis a paixão ou a maternidade, nem que mudará toda a vida e forma de pensar, mas sim que trará mudanças através da sua consciência sobre comportamentos inconsciente nunca justificados. Para Fadiman e Frager (1986), à medida que o material da sombra se torna consciente a sua capacidade de dominar é reduzida, ou seja, ao confrontar os conteúdos da psique inconsciente chega-se mais próximo do Self transformando as ações mais conscientes, menos influenciadas pelos seus aspectos rejeitados.

A mulher ao confrontar-se com a sombra, entra em processo de integração a todas aquelas informações que vem rejeitando no decorrer de sua vida. Desde a identificação com apenas um lado, aquele que se faz congruente com sua história e que a mantem a salva, até a agregação dos opostos, unificando imagens e ocorrendo a integração na consciência destes materiais antes inerentes ao Self. Deve-se recordar que a sombra se caracteriza em tudo aquilo que de alguma forma está presente na pessoa, porém é desconhecido, reprimido e rejeitado (STEIN, 2020; VON FRANZ, 1985).

No processo de integração da sombra a mulher tipo Ártemis precisará confrontar esses materiais rejeitados que são comumente opostos aos materiais aceitos por sua consciência, neste caso as características referentes as deusas Afrodite e Demeter são rotineiramente excluídas. Sendo assim, se faz necessário desenvolver coragem para enfrentar uma característica antes vista por si como algo ruim e defeituoso, o processo de confronto é desafiador, afinal, é uma tarefa bastante difícil admitir e expressar esta sombra por tanto tempo abnegada. 

Depois de um certo tempo as pessoas descobrem essas qualidades negativas em si mesmas e conseguem não apenas vê-las mas expressá-las, o que significa abdicar de certas idealizações e padrões. Isso acarreta sérias considerações e uma boa dose de reflexão, caso a pessoa em questão não queira ter uma ação destrutiva sobre as coisas que a cercam (VON FRANZ, 1985, p. 9).

Von Franz (1985) traz que a sombra pode ser observada quando há uma espécie de agressão ao outro, quando este pensa de forma oposta à sua. Trazendo para o contexto da mulher que entra em processo de confronto com a sombra, esta vem a se desenvolver a partir da análise por intermédio principalmente da imaginação ativa, fazendo a utilização de contos e estórias tais como os mitos e contos de fadas que têm como intuito aguçar e questionar a psique, despertando para uma consciência mais ampliada. 

CRUZANDO A LINHA DE CHEGADA

De acordo com Paris (1994 apud SILVA; COQUEIRO; FASCINA, 2019) a luta feminista na década de setenta trouxe de volta o mito da mulher amazona, provocando uma perturbação necessária na sociedade. Mulheres libertas, como as amazonas, reivindicavam seu direito de existir e de se mover sem se submeter aos homens, mobilizando-se nas ruas em busca de sua liberdade. Nesse contexto, a autora ressalta que o mundo da ficção também resgatou esse mito popular, apresentando diferentes versões de Mulheres Maravilha que despertam o interesse das jovens e atraem a atenção dos meninos.

Paris (1994 apud SILVA; COQUEIRO; FASCINA, 2019) enfatiza a importância destas amazonas, que abrangem a autonomia, liberdade de escolha e ação na formação da identidade das jovens, à medida que a geração atual se liberta das raízes opressoras e se tornam mulheres conscientes de si mesmas como sujeito, desconstruindo os preconceitos presentes da consciência masculina. Neste contexto, Ártemis, com sua força física, seu arco e flecha e sua relação com os animais é associada às características destas mulheres na atualidade.

Segundo Bolen (2020), o desejo feminista é semelhante ao da deusa Ártemis, motivado pela proteção das mulheres e crianças e pela punição daqueles que lhes causam danos. Essa perspectiva está em sintonia com a terceira onda feminista, que questiona, redefine estratégias falhas e valoriza sua independência e liberdade, não vendo os casamentos como seu objetivo imediato. Ela valoriza a si mesma, seu trabalho e seus desejos não se sentindo atraída por uma vida tranquila. É provável que tenha se envolvido em vários relacionamentos com homens ou mulheres, porém sem a intenção de se prender a alguém; pode viver com um homem sem nunca se casar. A mulher Ártemis, como dito anteriormente, vê as relações sexuais como parte de suas aventuras e explorações.

Em um momento crucial de sua vida, essa mulher se depara com a percepção de que a juventude não é algo eterno. Segundo Bolen (2021), essa fase se dá perto da segunda metade da vida, o que a leva a refletir sobre o caminho que tem trilhado e para onde está se dirigindo. O instinto criativo de Afrodite, auxiliado por Deméter, desempenha um papel moderador na vida de muitas mulheres que estão ocupadas e focadas em alcançar um objetivo específico. O conhecimento do próprio padrão arquetípico é informação valiosa, tal conhecimento ajuda a libertar mulheres das exigências pessoais e coletivas. 

No processo de desenvolvimento pessoal, a mulher é encorajada a explorar além dos aspectos característicos de Ártemis, ampliando seu potencial, voltando-se para a receptividade e o relacionamento interpessoal. É fundamental que ela se permita ser vulnerável, aprenda a amar e a se interessar por relacionamentos profundos pelo outro. Esta expansão pode ocorrer em diversos tipos de relacionamentos, mas principalmente o romântico, seja com um parceiro homem, mulher ou através da maternidade. Ou seja, agora a mulher reconhece Afrodite, Hera e Demeter (BOLEN, 2021).

Stein (2020) explica que seguir o caminho da consciência implica em assumir as consequências das escolhas arriscadas, sendo uma mulher independente e consciente, e não o apêndice de outras pessoas. Nessa fase a mulher está na jornada da individuação, dando continuidade a abertura do inconsciente e permanecendo consciente. Ao abrir-se para a intuição, a confiança em si mesma favorece a autoridade interna e o instinto. A mulher Ártemis que decidir estar do lado da intuição, verá que é possível, por exemplo, diminuir a carga de trabalho, aprender a relaxar e permitir-se amar ou considerar a maternidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme a revisão e leitura dos materiais referente a psicologia analítica desenvolvida por Carl Gustav Jung e outros autores que dialogam com esta teoria, pôde ser identificado que todas as pessoas possuem características individuais e coletivas. Os arquétipos, materiais universais alocados no inconsciente coletivo são fundamentais para o desenvolvimento da natureza da humanidade desde o início da vida de cada pessoa. Apesar de serem conteúdos primordiais e universais, se manifestam de forma singular em cada um. 

Todavia, percebe-se que o arquétipo da deusa Ártemis está ligado principalmente a mulheres que tiveram um início de vida conturbado no seu meio familiar, caracterizado por possíveis agressões, abandono físico ou emocional. Portanto, estas meninas compreendem que como principal dever está o fato de serem livres e autossuficientes. É compreendido que esses acontecimentos podem ocorrer com quaisquer pessoas, e mesmo ainda, as ações e sentimentos serem diferentes para cada uma, conforme a constelação do arquétipo de Ártemis, a formação da personalidade pode se dar neste pressuposto.

Conforme a proposta do presente estudo, foi possível identificar que o arquétipo de Ártemis pode manifestar-se de diferentes maneiras nas mulheres que são conduzidas de alguma forma por esta deusa. Como dito anteriormente, cada pessoa tem experiências únicas no decorrer de sua vida, através de seu ambiente cultural, suas influências, causalidades e sincronicidades. Conforme a revisão é evidenciado que essas mulheres podem desenvolver Ártemis em sua persona, manifestando-se de forma colérica ou seja de forma exacerbada; ou mesmo rejeitando a deusa, deixando-a em sua sombra. Conforme ambas as manifestações, se faz necessário um processo de individuação, conceito analítico que visa equilibrar os opostos e buscar uma vida mais autêntica e saudável para si.

Atualmente a mulher com a expressão arquetípica da deusa Ártemis é vista como uma mulher que dá conta de tudo o que for proposto a ela, que se comprometem em serem as melhores naquilo que fazem, cuidar da empresa, do trabalho, dos estudos e dos outros, claro que esse posicionamento traz conquistas, desafios e novas possibilidades, porém através destas qualidades identificadas como força acima de tudo, pode acabar deixando de visualizar as suas fragilidades, por vezes pode-se deixar de dar atenção ao seu emocional e sobrecarregar seu corpo e mente. Deixando de se perceber como alguém que também precisa de amparo, ajuda amor e carinho. Por serem vistas como mulheres admiráveis podem acreditar que não podem pôr o pé no freio, sentar-se e relaxar. 

Ademais a jornada de individuação é um processo longo que perdura por uma vida inteira dado que sempre se está vivendo e experienciando situações novas nunca vividas, ou seja, este processo nunca secará. No caminho da individuação a mulher tipo Ártemis vai acessar seus complexos, arquétipos e instintos que permeiam sua psique, um caminho que pode ser feito através da imaginação ativa com as contações de histórias, a análise dos sonhos, dentre outras técnicas, em busca de um “eu” pleno sem exigências sociais inconscientes governando suas vidas ou o mínimo possível delas.

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¹ Graduação em Psicologia pela Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC.

² Professor da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. Doutorando em Ciências Ambientais – PPGCA – UNESC. Mestre em Ciências Ambientais pela Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. Graduação em Psicologia pela Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. Especialização em Docência do Ensino Superior e EJA, Especialização em Psicologia Clínica, Especialização em AEE e Educação Inclusiva, Especialização em Psicologia Comportamental e Cognitiva, Especialização em Psicologia Social, Especialização em Psicologia Jurídica e Avaliação Psicológica, Especialização em Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico, Especialização em Psicologia Hospitalar, Especialização em Saúde Mental, Especialização em Neuropsicologia Clínica, Especialização em Psicologia Analítica, Especialização em Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade, Especialização em Psicossomática, Especialização em Psicologia Escolar e Educacional, Especialização em Psicologia e Orientação Profissional, Especialização em Psicologia Humanista: Abordagem Centrada na Pessoa e Especialização em Psicologia Transpessoal.