THE RELATIONSHIP BETWEEN SPIRITUALITY/RELIGIOSITY, MENTAL HEALTH AND QUALITY OF LIFE OF ONCOLOGICAL PATIENTS: A SYSTEMATIC REVIEW
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7760633
Cristiane da Silva Lima1
Thaís Silva Machado2
Tiago de Moura Siena3
RESUMO:
O diagnóstico de câncer está relacionado a importantes consequências para as pacientes. O quadro da patologia compromete fatores relacionados à qualidade de vida do paciente, e nesse sentido, surge à estreita relação entre elementos, os quais são a espiritualidade/religiosidade, saúde mental e qualidade de vida do paciente. Diante disso, o objetivo deste estudo foi analisar a relação entre a espiritualidade/religiosidade e a promoção de saúde mental e qualidade de vida de pacientes oncológicos. Enquanto metodologia, o estudo caracteriza-se em uma pesquisa exploratória e descritiva, com abordagem qualitativa, efetuado por meio de uma revisão integrativa da literatura, compreendendo o período de 2018 a 2023. Enquanto principais resultados destacam-se que, o diagnóstico do câncer pode impactar a vida do paciente por estar vinculado a dor e sofrimento, onde a espiritualidade/religiosidade oferece suporte para tentar reduzir toda essa dor, proporcionando ao indivíduo um melhor enfrentamento. Diante da existência de um processo de desamparo e que compromete a saúde emocional do paciente oncológico, surge o papel e a importância da espiritualidade/religiosidade como elemento de melhora da saúde mental desses pacientes, permitindo ressignificações sobre o processo de adoecimento, esperança para cura, menores índices de ansiedade e depressão, bem como suporte e conforto para pacientes terminais. Conclui-se assim que, a espiritualidade/religiosidade possui relações expressivas com a saúde mental e qualidade de vida de pacientes oncológicos, sendo necessária uma atenção maior nas políticas públicas e nas atuações dos profissionais da saúde.
Palavras-chave: Espiritualidade/Religiosidade. Pacientes oncológicos. Saúde mental. Qualidade de vida.
ABSTRACT:
The diagnosis of cancer is related to important consequences for patients. The condition of the pathology compromises factors related to the patient’s quality of life, and in this sense, there is a close relationship between elements, which are spirituality/religiosity, mental health and the patient’s quality of life. Therefore, the objective of this study was to analyze the relationship between spirituality/religiosity and the promotion of mental health and quality of life of cancer patients. As a methodology, the study is characterized by an exploratory and descriptive research, with a qualitative approach, carried out through an integrative literature review, covering the period from 2018 to 2023. As main results, it is highlighted that the diagnosis of cancer can impact the patient’s life because it is linked to pain and suffering, where spirituality/religiosity offers support to try to reduce all this pain, providing the individual with better coping. Faced with the existence of a helplessness process that compromises the emotional health of cancer patients, the role and importance of spirituality/religiosity emerges as an element of improvement in the mental health of these patients, allowing reinterpretations of the process of illness, hope for healing, lower rates of anxiety and depression, as well as support and comfort for terminally ill patients. It is therefore concluded that spirituality/religiosity has significant relationships with the mental health and quality of life of cancer patients, requiring greater attention in public policies and in the actions of health professionals.
Keywords: Spirituality/Religiosity. Oncology patients. Mental health. Quality of life. Psychology.
1. INTRODUÇÃO
O presente estudo aborda sobre o tema da espiritualidade/religiosidade mediante o câncer. Dessa forma, buscou-se analisar as relações existentes mediante a qualidade de vida e saúde mental em pacientes oncológicos. Pois Marques e Pucci (2021) apontam que, ao contrário do que muitos pensam a espiritualidade não tem o mesmo significado que a crença religiosa, pois enquanto a crença religiosa fornece um ensinamento e uma forma de acolher os seguidores, a espiritualidade contém o significado que um indivíduo dá à sua vida, à sua capacidade de transcendência e à forma como lida com a sua experiência, o modo de vida do sujeito. No entanto, nesse estudo serão utilizadas as duas concepções, indiferente às suas conceitualizações, para analisar as relações estabelecidas.
O câncer é uma doença de crescimento acelerado, que apresenta em muitos casos sintomas silenciosos, até o diagnóstico em si, descoberta casualmente, por meio de exames médicos de rotina, tornando-se um elemento sombrio na vida daquele que foi diagnosticado, sendo “uma espécie de cidadania mais onerosa”, ou seja, uma dupla nacionalidade sob quem está doente e quem não está (SOTANG, 1984).
De acordo com Barreto et al (2016), o câncer é um relevante transtorno de saúde pública em diferentes países, sendo encarregado por mais de seis milhões de mortes a cada ano, caracterizando aproximadamente 12% de todas as razões de morte no mundo. Ainda que as taxas maiores de ocorrência de câncer sejam achadas em países desenvolvidos, dos dez milhões de novas condições novas anuais de câncer, cinco milhões e meio são determinados nos países em desenvolvimento.
A determinação de câncer tem, normalmente, resultado avassalador na vida da pessoa que o adquire, seja pelo medo às desfigurações e mutilações que as intervenções podem provocar, seja pelo anseio do óbito ou pelos diversos danos, quer seja social ou material, que habitualmente ocorrem. O diagnóstico de câncer está relacionado a importantes consequências para as pacientes em virtude dos tratamentos e intervenções realizadas. Os sintomas são provenientes do próprio tumor ou do tratamento relacionado, incluindo fadiga, distúrbios do sono, dor, náuseas, depressão e ganho de peso. Desta forma, na maioria das vezes, esses efeitos indesejados costumam impactar na diminuição da qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS) dos pacientes. A avaliação da QVRS é dividida em cinco escalas funcionais, sendo elas: física, cognitiva, emocional, social e desempenho de papel (BINOTTO, 2018).
A qualidade de vida e bem-estar dos pacientes oncológicos a saúde mental constitui-se como prioridade entre profissionais de diversas especialidades. A saúde mental de sujeitos acometidos com câncer necessita ser análise de estudo dos profissionais da área da Psicologia, visto que o foco é que tais pacientes consigam superar todas as barreiras que impeçam uma tranquilidade na fase de convivência com a doença, visto que a felicidade e reconstrução de vida ativa das pacientes são fundamentais para o dia a dia de indivíduos que vivem com o diagnóstico de câncer (FORNAZARI; FERREIRA, 2010).
Dentre os suportes que os indivíduos acometidos com câncer podem ter, um de grande valia é a religião, visto que aspectos como religiosidade e fé, tornam-se aliados de diversos indivíduos que se sentem fracassados e derrotados por saberem que estão acometidos por doenças incuráveis, assim o enfrentamento das aflições é muito usual que seja acompanhado por uma religião (ARAÚJO et al., 2022). Dessa forma, o estudo delineou-se pela questão norteadora: No que a espiritualidade/religiosidade pode beneficiar os pacientes oncológicos?
Observa-se a necessidade de discussão científica do referido tema, pois estudos relacionados à temática são foco de releituras contínuas, bem como, da criação de ensaios, estudos de caso relacionados, pesquisas de campo e bibliográficas, todos construídos nessa dimensão, destacando-se, portanto, a sua relevância acadêmica.
O estudo se justifica pelo fato de o paciente oncológico estar em um momento fragilizado, seja pelo diagnóstico do câncer, bem como pelas incertezas da cura e dos impactos da doença; assim a religião pode oferecer ao indivíduo um conforto e uma melhora na forma de enfrentar o processo relacionado à enfermidade, crendo em algo ou alguma divindade maior que possa auxiliá-lo a passar por esse momento tão doloroso e às vezes final.
Portanto, estabeleceu-se enquanto objetivo principal analisar a relação entre a espiritualidade/religiosidade e a promoção de saúde mental e qualidade de vida de pacientes oncológicos, a partir de uma revisão sistemática. Enquanto objetivos específicos, buscou-se apontar os prejuízos para saúde mental e problemas psíquicos que o câncer pode causar e contextualizar espiritualidade/religiosidade no cotidiano do tratamento de pacientes oncológicos.
1.1 Revisão bibliográfica
Para a construção deste projeto de pesquisa e com a intenção de verificar como a temática do câncer e sua relação com a religiosidade vêm sendo estudada, foi realizada uma breve pesquisa com materiais bibliográficos que se aproximam do tema pretendido pelas pesquisadoras. Os materiais encontrados, frutos dessa pesquisa realizada, serão informados a seguir.
Em um estudo sobre cuidados de enfermagem aos pacientes oncológicos e à família, Vicenzi et al. (2013) relatam que, além das alterações físicas, como dor, efeito adversativo da terapia e mutilações, o câncer desencadeia um impacto psicológico, provocando o aparecimento de sentimentos de diferentes intensidades e naturezas. Deste modo, vivenciar o processo de adoecer por câncer sujeita no imaginário dos indivíduos como sendo uma doença traumatizante, a qual origina sentimentos de angústia, sofrimento e medo para os pacientes e os familiares. Nesse sentido, o vínculo com os profissionais da saúde é de tamanha relevância na luta das adversidades impostas por esta doença, assim como a religiosidade, na qual o paciente pode se apegar e ter um processo da doença de maneira mais leve, pois crer em algo divino e que pode auxiliá-lo.
Figueiredo et al. (2017) discutiram que a confirmação do diagnóstico de câncer é um fato que transforma a vida das pessoas. O câncer é uma doença com métodos de tratamento complexos, que causará muitas dificuldades, obstáculos e enfrentamentos no processo de busca pelo tratamento, o que é muito difícil para as pessoas que já vivenciaram essa doença (sejam elas pacientes e / ou seus familiares / cuidadores) a vida tem um impacto negativo. Dentre eles, destacam-se: dificuldade de mudança da residência para serviços médicos especializados; afastamento e permanência prolongada de casa; dificuldades financeiras decorrentes do tratamento; medo do desconhecido e das inseguranças; falta de informação dos profissionais sobre as condições clínicas; mudanças nos hábitos de vida causadas pelo tratamento. Quanto à espiritualidade ela tem se mostrado eficaz nos casos do fim da vida, trazendo o indivíduo às vezes pra mais perto da família, se reconciliando com alguém, acreditando que há algo além do sofrimento, passando seus últimos ou duradouros instantes com a doença com mais força, pois acreditam que não estão só, há uma divindade ou uma pós vida boa para ele e isso faz que todo processo se torne mais leve e precioso pois o restante de vida que ainda há estará sendo proveitoso para rever a vida e seu viver.
Assim, o apoio da religião a pacientes oncológicos submetidos a mais diversas formas de tratamento, e até mesmo quando não há mais possibilidade terapêutica tem como foco permitir um conforto sobre todos os processos envolvidos na doença, possibilitando ao indivíduo se fortalecer de fé e crenças, para uma melhor absorção e entendimento do tratamento e das etapas envolvidas no processo (FORNAZARI; FERREIRA, 2010).
O Câncer é a designação dada a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum a multiplicação desordenada de células, que envolvem órgãos e tecidos. Dividindo-se aceleradamente, estas células tendem a ser muito incontroláveis e agressivas, ocasionando a composição de tumores, que podem espalhar-se para outras áreas do corpo. Os diferentes tipos de câncer correspondem aos vários tipos de células do corpo. Quando iniciam em tecidos epiteliais, como mucosas ou pele, são identificados carcinomas. Se o ponto de partida são os tecidos conjuntivos, como cartilagem, músculo ou osso, são considerados sarcomas (SOUSA et al, 2015).
Diante da existência de um processo de desamparo e que compromete a saúde emocional do paciente oncológico, surge o papel da religiosidade como elemento de melhoria da saúde mental desses pacientes.
De acordo com Inca (2014, p. 135):
O diagnóstico oncológico, em qualquer idade, exemplifica evidentemente o tipo de evento imprevisto e idiossincrático que desafia os recursos cognitivos e emocionais do sujeito, a par de outras vivências características de etapas do ciclo vital. Na velhice, a doença vem se somar a necessidades muito próprias de comunicação com o outro, agravando o sentimento de desesperança do idoso, em lugar de propiciar ocasião a um rito de passagem dos laços familiares a uma busca pessoal de sentido (transcendência). Na fase inicial do diagnóstico, a esperança – que é uma palavra de origem religiosa – aparece, em geral, focalizada na cura. No processo de diagnóstico e tratamento, devem ser levados em consideração o significado que a vida e a morte têm para o indivíduo, sua história, seus valores éticos, culturais, religiosos, o momento em que isso ocorre, as experiências pessoais e familiares anteriores, o estado emocional, entre outros. Tudo isso reflete de forma significativa como o indivíduo reage, se posiciona e se manifesta durante essa nova situação em sua vida.
Os indivíduos na evidência de um tumor maligno passam a compreendê-lo como uma doença fatal, e isso estará relacionado à orientação direcionada ao paciente e a família. O câncer, é encarado por muitos pacientes, como uma doença relacionada a terminalidade, pois o diagnóstico de câncer, muitas vezes, lembra o fim, e os pacientes passam a refletir sobre a morte em relação ao adoecimento, independentemente de o paciente encontrar-se realmente em uma situação de terminalidade (KUBLER-ROSS, 1981).
De acordo com Sontag (1984, p. 36):
Grande parte da popularidade e da persuasão da psicologia vem da sua condição de sublimado espiritualismo: uma maneira leiga e pretensamente científica de afirmar o primado do “espírito” sobre a matéria. Aquela realidade inelutavelmente material – a doença – pode ser dada uma explicação psicológica. Em última análise, a própria morte pode ser considerada um fenômeno psicológico, as doenças podem ser avaliadas por um ângulo psicológico. Basicamente, a doença é interpretada como um acontecimento psicológico.
As pessoas possuem apego religioso relacionados à fé que corresponde ao método de uso quando se enfrenta determinada doença, principalmente as doenças que remetem a terminalidade e que comprometem a qualidade de vida do indivíduo, nesse sentido, é importante considerar o entendimento e impacto que a religiosidade mantém sobre o paciente, para que seja favorecida a estratégia de atendimento e atuação do psicólogo, sendo importante a verbalização do paciente, em relação a seus medos, reconheça as prioridades daquele paciente (SIMONETTI, 2016).
De acordo com Silva; Aquino; Santos (2008) discutem sobre as estratégias de enfrentamento utilizadas ao longo do diagnóstico de câncer e seu tratamento, quando do enfrentamento da doença pelos pacientes com busca na minimização dos elementos associados ao sofrimento relacionado ao quadro. O câncer desencadeia diferentes reações emocionais, mantendo-se interação com a cognição ao receber o diagnóstico, pois há uma conexão entre emoção, crenças e comportamento e a forma como estas ativam as cognições, modificando o compreender da patologia, podendo gerar transtornos emocionais. Vale salientar, que quanto aos pacientes que não manifestaram reação emocionais durante o diagnóstico, relataram a interligação do pensamento religioso, encarando-se a utilização de estratégias relacionadas à religião, como forma de enfrentamento.
De acordo com INCA (2015, p. 56):
O autor relata que é comum que essas mulheres utilizem estratégias de enfrentamento religiosas/espirituais na busca de uma atitude positiva perante a doença, demonstrando mais força, assim como apresentam maior tendência a ajudar os outros. Outro tipo de enfrentamento bastante utilizado pelos pacientes durante o percurso da doença é o enfrentamento espiritual/religioso. Em função do grande impacto do diagnóstico oncológico e da mobilização de sentimentos angustiantes, grande parte dos pacientes considera a fé e a espiritualidade como recursos para obtenção de esperança e apoio diante do adoecimento por câncer. Há uma estreita relação entre religiosidade e saúde mental, por isso, é fundamental buscar o que é pessoal e significativo na vida de cada um. É preciso que se perceba como o paciente entende, interpreta e vive a sua experiência de estar doente, como é tocado pela finitude e como relaciona isso com sua fé em Deus ou em outra figura de crença. Nesse contexto, aparecem muitas visões em relação à doença, tais como: castigo ou punição, teste, destino, fatalidade, expressão de fim, possibilidade de transformação da vida, entre outras expressões. Também podem surgir desapontamentos, sentimentos de abandono ou revolta em relação a Deus para aqueles que são religiosos. Outros podem aprofundar a sua fé. São necessárias a tolerância, a paciência e a sensibilidade do psicólogo. É preciso poder acolher sentimentos controversos, sem ter a necessidade de modificá-los imediatamente e principalmente sem repreender ou censurar (INCA, 2015).
Simonetti (2016) aponta que os psicólogos direcionam o paciente com seu próprio encontro, para a compreensão da sua experiência sobre o adoecimento, onde o reconhecimento da atuação e benefícios da consulta psicológica será direcionada para a melhor recuperação do paciente, estando a estratégia baseada no atrelar das situações, tanto do tratamento com o profissional, quando do uso da fé, não desassociando-as, mas utilizando a escuta qualificada, compreendo as necessidades do paciente, compreendo toda a sua subjetividade.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de um estudo exploratório e descritivo, com abordagem qualitativa, efetuado por meio de uma revisão integrativa da literatura. Nessa abordagem, descrições abrangentes permitem que os leitores reconheçam diversas pesquisas que conduzem mais investigações sobre temas específicos. Além de descrever seu estado atual de conhecimento, o método também permite distinguir descobertas científicas de opiniões e ideias, promovendo a ampliação do conhecimento (GALVÃO; SAWADA; TREVIZAN, 2004).
A busca na literatura científica foi realizada por meio de três bases de dados eletrônicas: SciELO Brasil (Scientific Electronic Library Online), LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e PePsic. Foram pesquisados artigos científicos disponíveis nas bases de dados estipuladas, cuja busca se realizou a partir dos seguintes descritores em Português: ‘Espiritualidade/religiosidade’ and ‘Pacientes oncológicos’ and ‘Tratamento’ and ‘Saúde mental’ and ‘Qualidade de vida’.
Em relação aos critérios de inclusão, foram utilizados: a) artigos científicos completos, em Português publicados entre 2018 e 2023; b) artigos que tratassem da temática da espiritualidade/religiosidade com pacientes oncológicos. Excluiu-se artigos científicos que não foram publicados na íntegra, publicações em anais, resumos expandidos, guias, editoriais, notas técnicas, portarias, resenhas e artigos duplicados.
Para esse estudo, utilizou-se da análise temática. De acordo com Minayo, Souza e Paula (2010) esse método contribui principalmente para o entendimento do universo das práticas, a partir da análise dos temas presentes nos estudos selecionados e assim relacionando o conteúdo semântico – os significantes desses temas com as variáveis psicossociais, culturais e contextuais. Após esse processo, foram organizados os estudos selecionados conforme quadro 1, que favoreceu a discussão dos mesmos.
Figura 1: Fluxograma dos artigos selecionados
Fonte: elaborado pelas autoras, 2023
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para a presente pesquisa, foram selecionados ao total de 12 estudos (quadro 1), que condizem com os objetivos propostos.
Quadro 1: Artigos Selecionados.
ANO | AUTORES | TÍTULO | OBJETIVOS |
2018 | Cléria Maria Bittar; Reivane Lopes Cassiano; Laura Nascimento Silva | Espiritualidade e religiosidade como estratégia de enfrentamento do câncer de mama: relato de um grupo de pacientes | Conhecer o papel da espiritualidade no enfrentamento do tratamento de pacientes que sofreram mastectomia. |
2019 | Ana Celi Pallini et al. | Percepções de pacientes oncológicos sobre espiritualidade: Um estudo qualitativo | Verificar as percepções sobre a espiritualidade de pacientes oncológicos em processo de tratamento. |
2020 | Jéssica de Abreu Arruda | A influência da espiritualidade/religiosidade no apoio aos pacientes oncológicos em quimioterapia: um olhar a partir da avaliação do índice de religiosidade de Duke | Analisar a influência da espiritualidade como apoio ao enfrentamento de pacientes oncológicos em quimioterapia no Instituto do Câncer São José, integrado ao Hospital São José do Avaí, no município de Itaperuna/RJ. |
2020 | Laura Fernandes Ferreira et al. | A Influência da Espiritualidade e da Religiosidade na Aceitação da Doença e no Tratamento de Pacientes Oncológicos: Revisão Integrativa da Literatura | Analisar a produção científica nacional e internacional, acerca dos temas espiritualidade, religiosidade e pacientes oncológicos. |
2020 | Rogevando Rodrigues Nunes | Compreender como a espiritualidade e a religiosidade influenciam a experiência dos pacientes com câncer | Analisar produções científicas disponíveis na literatura brasileira sobre a importância da espiritualidade e da religiosidade como suporte para pacientes oncológicos |
2021 | Guilherme Cabral Colares; Lindisley Ferreira Gomides | Impacto da espiritualidade e da religiosidade na modulação da dor em pacientes oncológicos | Reunir dados da literatura sobre o coping religioso espiritual (CRE) e a sua relação com a dor em pacientes oncológicos. |
2021 | Thayná Cristhina Soares Marques; Silvia Helena Modenesi Pucci | Espiritualidade nos cuidados paliativos de pacientes oncológicos | Analisar de que forma a espiritualidade pode influenciar positivamente no tratamento oncológico e em cuidados paliativos, e contribuir com a melhora da qualidade de vida destes pacientes |
2021 | Getúlio Yuzo Okuma et al | Espiritualidade, Religiosidade, Distress e Qualidade de Vida em Pacientes Oncológicos | Avaliar a relação entre o distress, a qualidade de vida e a prática espiritual e religiosa (ER) em pacientes recém-diagnosticados com câncer, na primeira linha de tratamento quimioterápico |
2022 | Marcos Vítor Naves Carrijo et al | Espiritualidade, religiosidade e qualidade de vida em pacientes oncológicos: um estudo transversal | Analisar as implicações da espiritualidade e religiosidade na qualidade de vida de pacientes oncológicos terminais. |
2022 | Ana Clara de Andrade Patrício; Rebecca Alves Aguiar Athayde; Thiago Antonio Avellar de Aquino | A influência da espiritualidade e da religiosidade no sentido de vida dos pacientes oncológicos | Investigar a influência da espiritualidade e da religiosidade no sentido de vida dos pacientes oncológicos |
2022 | Michelly do Nascimento Pires et al | Espiritualidade e fé diante do tratamento de pacientes oncológicos: revisão integrativa | Identificar a espiritualidade e fé diante do tratamento de pacientes oncológicos. |
2023 | Lívia Maria Pordeus Coura Urtiga. | Espiritualidade e religiosidade: influência na terapêutica e bem-estar no câncer | Analisar, por meio de revisão sistemática de literatura, a produção científica nacional e internacional para aferir se práticas religiosas e espirituais facilitam a adesão terapêutica e melhoram a qualidade de vida da população com câncer |
Fonte: autoria própria.
A partir dos estudos selecionados, percebeu-se a divisão em três principais categorias: 1) o papel e influências da espiritualidade/religiosidade; 2) A percepções dos próprios pacientes mediante da espiritualidade/religiosidade e 3) produções científicas sobre a importância da espiritualidade/religiosidade no tratamento oncológico. Dessa forma, nossa análise a seguir se baseará nessas três categorias.
3.1 Papel e influências da espiritualidade/religiosidade no tratamento oncológico
Pallini et al. (2019), descrevem um estudo qualitativo com 10 pacientes com câncer, uma amostra de mulheres, para investigar estilos de enfrentamento religioso em pacientes com câncer. Os resultados mostram que a espiritualidade contribui para a adesão ao tratamento, melhora da qualidade de vida e da saúde mental, além de diminuir o estresse, fator que facilita o trabalho e a gestão profissional.
Da mesma forma, de acordo com Arruda (2020), os profissionais de saúde oncológicos estão reconhecendo a importância de valorizar o papel da espiritualidade/religião no atendimento ao paciente, explorando suas preocupações espirituais como prática de enfermagem. Enfrentar uma doença potencialmente incurável pode despertar sentimentos de desesperança, medo e raiva, bem como questões sobre significado e propósito. Esses sentimentos podem afetar as escolhas de cuidados dos pacientes, a qualidade de vida e a satisfação com os cuidados. Acredita-se que pacientes com câncer que se envolvem em atividades que promovam saúde mental positiva tenham melhor qualidade de vida e sejam mais responsivos ao tratamento.
A espiritualidade, a fé e a crença são consideradas necessárias para o conforto e enfrentamento do estresse gerado pelo câncer. As práticas espirituais durante a doença, incluindo crenças, valores e rituais, podem levar aos seguintes benefícios: Aumenta sentimentos de força, calma e confiança; promove o autocuidado e auxilia na recuperação e recuperação; promove suporte espiritual e emocional na comunidade; contribui para aumentar o sentimento de pertencimento à comunidade; dá sentido à vida, aos amigos e à família (NUNES et al., 2020).
O apoio religioso e/ou espiritual pode ser uma estratégia eficaz na luta contra o câncer. A espiritualidade preenche a lacuna na superação ou minimização das consequências dos processos de adoecimento, principalmente em relação às esferas psicológica e emocional (NUNES et al., 2020).
Nesse sentido, Marques e Pucci (2021) afirmam que pacientes diagnosticados com câncer vivenciam emoções complexas permeadas por aspectos de dor, raiva, tristeza, medo, etc., e que essa mistura de emoções pode levar à depressão e/ou ansiedade. Em sua pesquisa, os autores descobriram que a espiritualidade ajudou os pacientes com câncer a entender sua situação.
Okuma et al. (2021) constataram que a espiritualidade e as práticas religiosas são recursos relevantes para responder ao diagnóstico e tratamento de pacientes brasileiros com câncer atendidos em hospitais públicos de referência. Esses pacientes vivenciam doenças emocionais e físicas graves, reforçando a utilidade de avaliações biopsicossociais e psiquiátricas de rotina para identificar pacientes de risco que poderiam se beneficiar de apoio psicológico e até mesmo espiritual; ambos considerados importantes no componente de tratamento do câncer.
Patrício, Athayde e Aquino (2022) destacam a relação entre significado, espiritualidade e crenças religiosas em pacientes com câncer, o que os leva além de si mesmos. Descobrir a espiritualidade dá significado aos pacientes com câncer, ajudando-os a lidar com sua doença e a dar sentido ao que parece inexplicável, dando-lhes conforto físico e esperança de cura.
Pires et al. (2022) citam um estudo sobre a vivência espiritual de mulheres diagnosticadas com câncer de mama observaram que a maioria das entrevistadas sentiu medo e tristeza após o diagnóstico, porém, buscaram forças diante de sua crença na continuidade do tratamento, o conforto espiritual, ajuda a aproximar o entrevistado de Deus, que está sempre com ele e o conforta.
Urtiga et al. (2023) destacaram em seu estudo que os pacientes oncológicos que utilizam a religião de forma positiva possuem maior capacidade de enfrentamento da patologia e assim são mais capazes de aderir às condições impostas pelo estado físico e mental além de desenvolver o autocuidado.
Os autores Urtiga et al. (2023) ainda enfatizam que muitas pessoas diante do câncer contam com apoio religioso e conforto, o que pode reduzir os estressores e melhorar o estado psicossocial. Da mesma forma, as pessoas religiosas mostram maior tolerância para eventos negativos porque buscam significado em suas crenças.
3.2 Percepção dos pacientes sobre a espiritualidade/religiosidade em seu tratamento oncológico
Em outro estudo citado por Pallini et al. (2019), as crenças dos pacientes não foram abaladas, pelo contrário, os dados mostraram que esse diagnóstico aumentou a intensidade mental desses pacientes, pois nele se encontravam ajuda e esperança. Inclusive, em alguns pacientes que foram abandonados pelos médicos, atribuindo à fé a responsabilidade de sua melhora. Neste estudo, concorda-se que a fé é o suporte e a força para superar as dificuldades e para melhor aderir ao tratamento e melhorar a qualidade de vida.
Ainda de acordo com Pallini et al. (2019), citando um estudo com 10 pacientes diagnosticados com câncer avançado que foram entrevistados sobre sua experiência com cuidados paliativos. Os dados mostraram que os participantes encontraram esperança e apoio na fé e naquilo em que acreditavam, não apenas para enfrentar sua nova condição de saúde, mas também para encontrar esperança e confiança na cura. Além disso, eles são mais capazes de representar o significado da morte e uma possível vida após a morte. A espiritualidade mostrou-se importante em momentos de vulnerabilidade e foi enfatizada como suporte para sobreviver à dor e ao sofrimento.
Nesse sentido, Arruda (2020) afirma que, no que diz respeito ao cuidado espiritual, que é considerado parte importante do cuidado e deve ser avaliado pelo paciente, no caso da oncologia é importante que a tradição espiritual esteja no momento de diagnóstico, bem como o período de tratamento.
A espiritualidade e as crenças religiosas auxiliam no enfrentamento do câncer durante sua história natural. Ambos impactam positivamente na qualidade de vida dos pacientes com câncer. Podem surgir após o diagnóstico de uma doença, quando a vida carece de sentido e os pacientes buscam algo que a humanize; ou podem ser anteriores ao diagnóstico, tendo grande impacto na vida e na cultura do indivíduo, tornando-se diagnóstico e tratamento Fonte de força e esperança no processo (FERRERA et al., 2020).
O sofrimento mental é um sintoma comum no momento do diagnóstico, especialmente em pacientes com CA avançado. Muitas vezes, é desencadeado por uma complexa interação de vários fatores, incluindo consciência da morte, perda de entes queridos, relacionamentos e eu, e perda de controle sobre o transcendente e interior. Nesses momentos, os pacientes começam a ter dúvidas sobre o sentido da vida e procuram o E/R para tentar resolver essas questões, pois o conhecimento humano é limitado (COLARES; GOMIDES, 2021).
Ferreira et al. (2020) em sua revisão bibliográfica constataram que as entrevistas relataram um aspecto positivo do apoio espiritual, pois a crença proporcionou uma forma construtiva de pensar. A espiritualidade pode criar um novo significado na morte de um paciente com câncer e devolver o significado à vida do paciente. Esses achados são consistentes com um estudo transversal relatando que pacientes com câncer com doença mental experimentam um estado de luto associado à falta de sentido na vida.
Marques e Pucci (2021) constataram em seu estudo com pacientes oncológicos que embora esses pacientes tivessem uma linha espiritual e crenças religiosas antes do diagnóstico, relataram maior necessidade de religião e reuniões religiosas após o diagnóstico. Nos casos em que não há mais cura, os autores afirmam que, diante do diagnóstico de morte, o sujeito amadurecido tem mais facilidade em aceitá-la como curso natural da vida, pois examina sua própria experiência de satisfação e alegria.
Carrijo et al. (2022), destacaram que em decorrência da religiosidade, 95% da população brasileira relatou ser religiosa, o mesmo estudo mostrou associação entre crenças religiosas, estado de saúde e melhor qualidade de vida, principalmente nos aspectos espiritual, psicológico e emocional, também foi mencionado que esses aspectos podem estar associados a menores níveis de ansiedade, depressão, estresse e parâmetros hematológicos. No estudo, os participantes que relataram “sentir a presença de Deus em suas vidas” pontuaram mais alto em “conectados à presença espiritual” e tiveram maior envolvimento em aceitar e lidar com os gastos do fim dos tempos. A “paz interior” está associada ao “estilo de vida e esforço para praticar a religião em todas as áreas da vida”.
3.3 Importância da espiritualidade/religiosidade sobre a qualidade de vida
A contribuição de Bittar, Cassiano e Silva (2018) é enfatizar que a espiritualidade pode fornecer novas perspectivas sobre a doença, mudar a forma como as pessoas vivenciam e veem os problemas e melhor aliviar a dor e o sofrimento que surgem durante o curso da doença. Tanto a espiritualidade quanto a religião permitem que as pessoas se apeguem a um poder superior que as ajuda em momentos difíceis.
Questões sobre a espiritualidade e seu impacto na saúde são importantes para a adesão ao tratamento e a busca pela qualidade de vida e bem-estar. Tentativas de equilíbrio emocional e espiritual podem se refletir no corpo, levando a sensações de bem-estar, tranquilidade e paz, condições críticas para a qualidade de vida e saúde (BITTAR; CASSIANO; SILVA, 2018).
Arruda (2020) destacou que as experiências espirituais cotidianas estão associadas a mais autoconfiança, menos medo de enfrentar o câncer e mais apoio social. A fé fornece aos pacientes o contexto para incorporar experiências difíceis em suas vidas, ajudando a promover maior bem-estar e melhor qualidade de vida. Grandes centros oncológicos já incluem a espiritualidade em seus cuidados.
A espiritualidade é um fenômeno interligado com raízes e culturas tradicionais que funde corpo e mente e dá sentido, força e fé à jornada contra o câncer. O desenvolvimento espiritual é importante porque faz parte da dimensão irredutível de todo ser humano, independentemente da sua identidade espiritual, cultural, religiosa ou outra (FERREIRA et al., 2020).
Segundo Nunes et al. (2020) Pacientes oncológicos muitas vezes se deparam com a falta de sentido na vida, seja por movimentos externos como equipe de cuidado, distância e falta de atenção de amigos e familiares, seja por aspectos subjetivos e unidimensionais associados à experiência da doença. Os pacientes buscam estabelecer sentido em vida, principalmente por meio das crenças religiosas, que lhes oferecem a possibilidade de compreensão, apoio, conforto, sensação de controle e outras estruturas de significado na doença.
De acordo com Okuma et al. (2021) O uso de espiritualidade e religiosidade está associado a menores escores de sofrimento, ausência de problemas familiares e melhor qualidade de vida, sugerindo um possível efeito protetor contra a experiência do câncer. Além disso, os autores apresentam resultados que sugerem os potenciais benefícios da prática da espiritualidade e das crenças religiosas como estratégia adaptativa no câncer.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio deste estudo, pode-se observar a importância da espiritualidade na vida do ser humano, principalmente diante de situações difíceis, como o diagnóstico e tratamento de uma doença tão temida como o câncer. Devido ao aumento substancial de sua incidência nos últimos anos, há necessidade de se discutir e ampliar as pesquisas nessa área, principalmente porque essas discussões facilitam pensar em novas formas de prevenção e melhorar o tratamento e os cuidados prestados.
Dada à importância da saúde mental para pacientes com câncer, é fundamental incorporar uma avaliação sistemática de tais necessidades nos cuidados de saúde, pois se encontra associada a melhores resultados de saúde, habilidades de enfrentamento e qualidade de vida e menor incidência de câncer, ansiedade e depressão.
Pôde-se observar um efeito positivo da crença religiosa/espiritualidade na qualidade de vida da amostra, principalmente pela manifestação de enfrentamento da dor e da incerteza associada ao tratamento oncológico.
A espiritualidade e as crenças religiosas são fatores relevantes no enfrentamento do câncer, inclusive em pacientes hospitalizados, pessoas que estão sujeitas a um ambiente com muitas limitações e riscos. A espiritualidade e/ou crenças religiosas oferecem esperança, podendo trazer benefícios como força, melhora do humor, tranquilidade e autoconfiança. Uma mentalidade construtiva e confiante é comprovadamente um ganho que a espiritualidade oferece. Esse otimismo é essencial para levar a vida cotidiana de maneira agradável.
O apego à espiritualidade e à religião tem um impacto positivo no bem-estar biopsicossocial dos pacientes com câncer: melhora a qualidade de vida, o bem-estar e a vitalidade, e ajuda a reduzir o estresse, os efeitos da dor, fadiga ou percepções de ameaças à vida. Além disso, pacientes com espiritualidade e crenças religiosas podem ter maior probabilidade de receber tratamento contra o câncer, além de maior esperança e positividade durante o curso da doença.
Dadas as características a priori da sociedade brasileira e o fato de que muito mais casos de câncer surgirão nos próximos anos, a crença religiosa e a espiritualidade devem ser fortalecidas e estimuladas no contexto das políticas públicas e dos profissionais de saúde, como forma de humanizar o tratamento, transformando realidade, beneficiando a população atingida.
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1Cristiane da Silva Lima, graduando em Psicologia no Centro Universitário São Lucas, 2023. E-mail:cristialima@gmail.com.
2Thaís Silva Machado, graduando em Psicologia no Centro Universitário São Lucas, 2023. E-mail: Thassmachado@gmail.com.
3Orientador. Psicólogo. Mestre em Administração. Professor do curso de Psicologia do Centro Universitário São Lucas. E-mail: sienapsico@hotmail.com