REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ma10202509031729
Miriam Eberhardt Kingeski*
RESUMO
A prevenção em saúde constitui um dos principais pilares da saúde pública moderna, promovendo ações sistematizadas que visam evitar o adoecimento da população, reduzir agravos e melhorar a qualidade de vida. Este artigo discute os níveis de prevenção (primária, secundária e terciária), a importância das políticas públicas e da atenção primária à saúde (APS), além de analisar desafios atuais enfrentados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no contexto brasileiro. Fundamentado em literatura científica e diretrizes institucionais, o texto reforça o papel da prevenção como estratégia custo-efetiva e essencial para a sustentabilidade dos sistemas de saúde.
Palavras-chave: Prevenção em saúde; Saúde pública; Atenção primária; Políticas públicas; Sistema Único de Saúde.
ABSTRACT
Health prevention is one of the main pillars of modern public health, promoting systematic actions aimed at preventing illness, reducing complications, and improving quality of life. This article discusses the levels of prevention (primary, secondary, and tertiary), the importance of public policies and primary health care (PHC), and analyzes the current challenges faced by the Unified Health System (SUS) in the Brazilian context. Based on scientific literature and institutional guidelines, the text reinforces the role of prevention as a cost-effective strategy essential for the sustainability of health systems.
Keywords: Health prevention; Public health; Primary care; Public policies; Unified Health System.
1. INTRODUÇÃO
A prevenção em saúde é um componente essencial da saúde pública, centrada na antecipação e mitigação de riscos à saúde individual e coletiva. Diferentemente da medicina curativa, que atua após o surgimento da doença, a prevenção busca intervir antes do aparecimento ou agravamento das condições de saúde, promovendo maior eficiência no uso dos recursos e resultados sustentáveis a longo prazo (1).
No Brasil, a prevenção é um dos princípios fundadores do Sistema Único de Saúde (SUS), estruturada sobretudo pela atenção primária, vigilância em saúde e promoção da saúde, sendo fundamentais para o alcance da equidade e da integralidade do cuidado (2).
2. Níveis de Prevenção em Saúde
Leavell e Clark definiram três níveis clássicos de prevenção:
Prevenção primária: ações que visam impedir a ocorrência da doença, como vacinação, saneamento básico, políticas de alimentação saudável, educação em saúde e práticas de atividade física;
Prevenção secundária: diagnóstico e tratamento precoce de doenças assintomáticas, por meio de exames de rastreamento e check-ups regulares;
Prevenção terciária: ações voltadas à reabilitação, controle de complicações e melhora da qualidade de vida de pacientes com doenças crônicas ou sequelas permanentes (3).
A ampliação desses níveis deve ser integrada à rede de atenção à saúde, especialmente na APS, para garantir respostas resolutivas e coordenadas ao longo do tempo.
3. A Prevenção na Saúde Pública Brasileira
3.1 Estratégia Saúde da Família (ESF)
A ESF é a principal porta de entrada do SUS e tem como missão reorganizar a prática assistencial a partir de ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde (4). Equipes multiprofissionais atuam de forma territorializada, identificando vulnerabilidades sociais e sanitárias, o que permite uma abordagem preventiva contínua e efetiva.
3.2 Vigilância em Saúde
A vigilância epidemiológica e a vigilância sanitária são instrumentos-chave na prevenção de agravos. O monitoramento de doenças transmissíveis, surtos, fatores ambientais e eventos adversos permite uma resposta rápida e coordenada às ameaças à saúde pública (5).
3.3 Promoção da Saúde
A promoção da saúde envolve estratégias intersetoriais que visam ampliar o controle da população sobre os determinantes sociais da saúde. A “Carta de Ottawa” destaca a necessidade de políticas públicas saudáveis, criação de ambientes favoráveis e desenvolvimento de habilidades pessoais como bases para a prevenção eficaz (6).
4. Impactos Econômicos e Sociais da Prevenção
Estudos apontam que investimentos em prevenção são significativamente mais custo-efetivos do que tratamentos curativos, especialmente em doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), que representam mais de 70% das causas de morte no Brasil (7). Estratégias preventivas nas DCNT podem reduzir em até 40% a incidência de doenças como diabetes, hipertensão e certos tipos de câncer (8).
Além disso, programas de prevenção reduzem internações, absenteísmo no trabalho, incapacidade funcional e desigualdades em saúde, gerando impacto direto sobre indicadores econômicos e sociais.
5. Desafios Atuais
Apesar dos avanços, a prevenção em saúde enfrenta inúmeros obstáculos no Brasil:
Subfinanciamento crônico do SUS;
Desigualdades regionais no acesso aos serviços de APS;
Resistência da população às práticas preventivas (vacinas, rastreamentos);
Fragmentação da rede de atenção e carência de integração entre níveis de atenção;
Crescente medicalização da sociedade e valorização do modelo curativo (9).
A superação desses desafios requer políticas públicas robustas, formação contínua de profissionais de saúde, uso de tecnologias de informação e maior participação social nos processos de decisão.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A prevenção é um componente estratégico e indispensável para a sustentabilidade da saúde pública. Fortalecer ações preventivas implica repensar o modelo assistencial, valorizando a atenção primária e promovendo políticas intersetoriais que enfrentem os determinantes sociais da saúde. Em tempos de transição epidemiológica e crise econômica, investir em prevenção é não apenas uma necessidade sanitária, mas também um imperativo ético e político.
REFERÊNCIAS
- World Health Organization. World health statistics 2020: monitoring health for the SDGs. Geneva: WHO; 2020.
- Brasil. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde; 2023.
- Leavell HR, Clark EG. Preventive medicine for the doctor in his community: an epidemiologic approach. 3rd ed. New York: McGraw-Hill; 1965.
- Brasil. Ministério da Saúde. Estratégia Saúde da Família (ESF). Brasília: Ministério da Saúde; 2021.
- Teixeira CF, Paim JS. Vigilância em saúde e os desafios para o SUS. Ciênc Saúde Colet. 2020;25(4):1353–62.
- World Health Organization. Carta de Ottawa para a promoção da saúde. Ottawa: WHO; 1986.
- World Health Organization. Noncommunicable diseases: key facts [Internet]. Geneva: WHO; 2022
[cited 2025 Aug 20]. Available from: https://www.who.int/news-room/factsheets/detail/noncommunicable-diseases
- Malta DC, Oliveira TP, Santos MAS, Andrade SSCA, Silva MMA, Stopa SR, et al. Doenças crônicas não transmissíveis: prioridades para enfrentamento no Brasil. Rev Saúde Pública. 2021;55:126.
- Pereira JM. Modelos assistenciais em saúde: desafios e perspectivas no SUS. Saúde Debate. 2020;44(126):12–23.
*Graduada em Enfermagem pela Universidade Luterana do Brasil/ Av. Farroupilha 800 Canoas/RS,
e-mail: miriam.kingeski@yahoo.com.br
Pós graduação Lato sensu em Saúde Pública com Ênfase em Saúde da Família/Centro Universitário Internacional Uninter, Curitiba/PR