A PEDAGOGIA HISTÓRICO REFLEXIVA E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202412182148


Glleyce Kelly dos Santos Chaves1
Neuzi Jesus de Morais2
Patrícia Rodrigues de Barros3
Telma Rodrigues de Souza Gomes4
Valéria Gomes da Silva Figueiredo5


RESUMO

Este estudo propõe uma reflexão acerca da pedagogia histórica e reflexiva, conceitos e referenciais teóricos sobre docência e formação de professores/as na educação básica, destacando seus desafios. O presente texto tem por objetivo fazer uma reflexão a respeito da formação pedagógica e a pedagogia histórico-reflexivas nos dias atuais. Os aportes teóricos utilizados neste trabalho estão fundamentados em autores como: Carvalho (2019), Paro (2014), Libâneo (2012), Saviani (2013), Freire (2011), dentre outros que nos auxiliaram na construção do pensamento reflexivo. O estudo aponta para a necessidade de engajamento por parte dos/as professores/as em seus percursos formativos e no exercício de sua profissão, visando à transformação social e à busca por uma educação de qualidade. 

Palavras-chave: Pedagogia Reflexiva; Formação de professores; Educação. 

INTRODUÇÃO

A Pedagogia Histórico Reflexiva surge como uma proposta pedagógica que busca formar professores autônomos, críticos e reflexivos, capazes de transformar a realidade social por meio da educação. Essa abordagem é essencial na Educação Básica para promover uma educação libertadora e comprometida com o desenvolvimento integral dos alunos. Neste artigo, vamos analisar como a Pedagogia Histórico Reflexiva influencia a formação dos professores da Educação Básica, destacando seus princípios e implicações na prática docente. Segundo Paulo Freire, a essência humana requer uma atuação crítica e consciente no mundo para vivenciar a liberdade e a subjetividade. Se o indivíduo adota uma visão alienante da história e da sociedade, sua atuação será limitada. A capacidade criadora e transformadora da realidade é construída historicamente, não sendo herdada geneticamente. Portanto, a ação educativa é moldada pela organização social e pelas gerações passadas.

Para iniciarmos a nossa reflexão partimos do contexto atual que vivenciamos na Educação. Uma vez que está atravessada por situações que tiram do professor sua principal função que é a mediação do conhecimento para as atividades técnicas que interferem em seu fazer pedagógico. Assim, conforme ocorrem às alterações em função dos procedimentos adquiridos pela sociedade ocorre a transformação na escola na construção de uma a pedagogia histórica – reflexiva que defende uma pedagogia transformadora no qual incluí “[…] uma sociedade na qual as relações humanas e a vida humana são plenas de conteúdo, em oposição ao caráter unilateral, abstrato e vazio das relações humanas na sociedade capitalista” (DUARTE, 2011, p. 18).

Assim, a educação como compromisso ético-político voltado para a humanização, conscientização e para a ação de liberdade no pensamento educativo de Freire, não está dissociado de concepção de civilidade, tendo em vista que, no contexto da prática educativa, entrecruza diferentes projetos. Isso pressupõe que pensar em outro projeto de educabilidade, no contexto social em que vivemos, implica em perguntar quem somos e queremos ser.

No contexto de influência e contradição social, em que vivemos acreditai-vos, essa geração é de uma luz admirável, sejais sempre professores de vida. O que caracteriza uma postura amorosa e esperançosa no poder de criação e recriação da inteligibilidade educativa que prospectiva a libertação humana. Isso porque, “a educação tem uma contribuição significativa à cidadania, compreensão e ampliação da consciência de democracia, liberdade e emancipação humana” (CARVALHO, 2019, p. 19). Por isso, que o projeto de educabilidade libertadora vislumbra a relação de pertencimento do ato pedagógico, como possibilidade de comunicabilidade educativa, como conectividade de relação de proximidade afetiva, comprometido com o desenvolvimento integral do estudante.

1. Compreendendo a Pedagogia Histórico-Reflexiva

Para o desenvolvimento de nossa reflexão partimos do pressuposto de que “a escola tem o papel de possibilitar o acesso das novas gerações ao mundo do saber sistematizado, do saber metódico, científico” (SAVIANI, 2011, p. 66), ou seja, por meio dela, deve ser dada oportunidade e condições para que as crianças possam usufruir desse direito.

Entendendo a Pedagogia Histórico Reflexiva: É como se fosse um mix de ideias do Karl Marx, Friedrich Engels e Paulo Freire. Segundo Paulo Freire, a educação é vista como um processo que é influenciado pela história, pela sociedade e pela política, especialmente pelas contradições do mundo capitalista em que vivemos. O professor aqui não é só alguém que passa conhecimento, mas sim um pensador crítico e agente de transformação, que ajuda os alunos a relacionarem o conhecimento científico com a realidade deles. A prática de ensino é meio que um ciclo de reflexão e ação, em que o professor analisa sua própria prática, intervém na realidade e constroi novos saberes junto com os alunos.

De acordo com Libâneo (2021, p. 222) a “Educação é o ato de produzir direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens”, ou seja, nas palavras do pesquisador a educação deve ser levada em consideração o processo histórico de aquisição do conhecimento, pois é por meio dele que a criança evolui com o sujeito.

2. Princípios e Fundamentos da Pedagogia Histórico Reflexiva na Formação de Professores

A formação de professores na Pedagogia Histórico Reflexiva é baseada em alguns princípios fundamentais que não podem ser ignorados. Primeiramente, é essencial acabar com a separação entre teoria e prática, unindo o conhecimento científico com a realidade social e a prática em sala de aula. Além disso, é crucial integrar o ensino, a pesquisa e a extensão, para que o professor possa construir conhecimento e intervir na sociedade de forma eficaz.

Outro ponto importante é formar professores críticos e reflexivos, capazes de analisar a realidade social, questionar as desigualdades e propor mudanças significativas. E, é claro, os professores devem ter autonomia para decidir sobre sua prática docente, currículo e métodos de ensino. Por fim, a formação deve comprometer os professores com a luta por uma sociedade mais justa e igualitária. Afinal, o papel do educador vai muito além da transmissão de conhecimento, ele também deve ser um agente de transformação social. (Saviani, 2008,p. 218-221)

Freire explica que “sem teoria na verdade, nós nos perdemos no meio do caminho. Mas por outro lado, sem a prática nós nos perdemos no ar”. Assim, fica explícita a importância da relação teoria e prática, bem como da necessidade que o educador se torne um pesquisador. Ele complementa afirmando que “Só na relação dialética contraditória, prática-teoria, nós nos encontramos e, se nós perdemos, às vezes, nos reencontramos por fim”. (FREIRE, 2005, p.135).

3. Implicações para a Prática Docente

A Pedagogia Histórico Reflexiva tem um grande impacto na prática docente, fazendo com que os professores tenham que: 

– Ser críticos e reflexivos: É importante que os professores consigam analisar de forma crítica a sociedade, seus próprios conhecimentos e sua maneira de ensinar.

– Praticar a investigação-ação: Os professores precisam desenvolver a habilidade de investigar sua própria prática, identificar problemas, criar hipóteses, intervir e avaliar os resultados.

– Trabalhar em equipe: Colaborar com outros professores, pais e a comunidade é essencial para construir um projeto educativo em conjunto.

– Valorizar os saberes dos alunos: Reconhecer e utilizar o conhecimento dos alunos como base para o processo de ensino-aprendizagem.

– Promover a transformação social: Utilizar a prática docente como uma forma de promover mudanças sociais e construir uma sociedade mais justa e igualitária.

É fundamental que os professores estejam preparados para esses desafios e se comprometam com uma educação mais reflexiva e transformadora. Freire, 1987.

De acordo com Paro (2014, p. 22), o processo de utilização dos conteúdos é independente da forma ou do método de ensino. Uma vez que este método ignora tanto o professor e o aluno do processo educativo. De acordo com o pesquisador, o ensino “fica reduzido ao fim e ao cabo, a uma exposição de conhecimentos e informações, sem qualquer consideração pela subjetividade do educador ou do educando”.

Nesse sentido, inserimos nossa reflexão, uma vez que a produção social do saber é histórica, por tanto não é obra de cada geração independente das demais (SAVIANI, 2011, p. 66). Vale ressaltar que essa prática permanece até os dias atuais nas escolas brasileiras. A prática tradicional de Educação.

Nesse contexto de mudança, Paro (2014) nos apresenta que o primeiro passo para alterar essa realidade vivenciada em muitos lugares é partir para o conceito de educação que consiste na apropriação da cultura. Para o pesquisador, deve ser entendida de forma que abranja “conhecimentos, informações, valores, crenças, ciência, arte, tecnologia, filosofia, direito, costumes, tudo enfim que o homem produz em sua transcendência da natureza” (PARO, 2014, pp, 23-24).

4. Desafios e Perspectivas

Enfrentar os desafios e explorar as perspectivas da Pedagogia Histórico Reflexiva na formação de professores da Educação Básica é uma tarefa árdua, mas repleta de oportunidades. Entre os obstáculos que precisamos superar estão a desvalorização da profissão docente, a falta de infraestrutura nas escolas públicas, o currículo tradicional engessado e a falta de apoio institucional. Mas, com determinação e criatividade, podemos transformar esses desafios em oportunidades de crescimento e inovação. Apesar dos desafios, a Pedagogia Histórico Reflexiva se apresenta como uma alternativa promissora para a formação de professores da Educação Básica, contribuindo para a construção de uma educação emancipadora e libertadora. Superar os desafios mencionados exige um esforço conjunto de governos, instituições de ensino, professores e sociedade civil. (Libâneo, 1998). 

Contudo, para que essa mudança aconteça, o professor deve pensar de forma correta pelo professor ou, “mais amplamente, à escola, o dever de não só respeitar os saberes com que os educandos, sobretudo os das classes populares, chegam a ela — saberes socialmente construídos na prática comunitária” (FREIRE, 2011, p. 27).

Pois de acordo com Freire (2011, p. 21), “quando vivemos a autenticidade exigida pela prática de ensinar-aprender, participamos de uma experiência total, diretiva, política, ideológica, gnosiológica, pedagógica, estética e ética, em que a boniteza deve achar-se de mãos dadas com a decência e com a seriedade”.

5. Conclusão 

O texto aqui construído buscou apresentar uma reflexão sobre a pedagogia histórica reflexiva relacionando-a com a prática pedagógica da atualidade. Dessa forma, em virtude do que foi discutido ao longo deste trabalho, foi possível constatar que a pedagogia histórico reflexiva executa uma visão acerca do conhecimento humano nos moldes da formação cultural e busca entender as relações entre a educação e os elementos construídos a partir da realidade social. 

Em suma, podemos dizer que a pedagogia histórico-reflexiva é uma ferramenta poderosa para os professores da educação básica. Ao olhar para a história e refletir sobre sua prática, eles podem impactar de maneira mais significativa a vida de seus alunos. É essencial que os educadores estejam abertos a novas abordagens e práticas pedagógicas, sempre buscando melhorar e proporcionar experiências de aprendizagem enriquecedoras. A pedagogia histórico-reflexiva oferece um caminho para isso, estimulando a reflexão crítica e a construção de conhecimento de forma contextualizada e significativa.

Dessa forma, “a reflexão sobre a Educação, portanto, não consiste unicamente em vê-la como relações pedagógicas ou de orientação do desenvolvimento individual”, busca assim, “compreendê-la partindo da análise objetiva das relações sociais vigentes, das formas econômicas, dos interesses sociais em jogo, pois a prática educativa é sempre a expressão de determinada forma de organização das relações sociais na sociedade” (LIBÂNEO, 2021, p. 232).

Portanto, é necessário que tenhamos uma abertura suficiente para que possamos reconhecer e colocar em prática os princípios que norteiam a pedagogia histórica – crítica reflexiva como forma de libertar alunos do meio opressor imposto pelo capital.

A pedagogia pensada por Freire, transforma em suporte de leitura, porque caracteriza respeito, acolhimento, amorosidade, diálogo, escuta e pergunta que se estrutura na práxis dialética da pesquisa-ensino e aprendizagem (CARVALHO, 2020). É no envolvimento com a luta do povo, que potencializa o surgimento de novo movimento, novas ideias e nova cultura que impulsiona a formação permanente.

Referências

  • CARVALHO, Ademar de Lima, “A formação de professor e a organização do trabalho pedagógico na escola”. In: A formação centrada na escola e a organização do trabalho pedagógico: o espaço do professor. – Curitiba: CRV, 2019. p. 17-28.
  • CARVALHO, Ademar de Lima. “Formação e docência: processos críticos dialógicos”. In: Culturas e práticas sociais: leituras freireanas / LaudemirLuiz Zart e Loriége Pessoa Bitencourt (orgs.). – Cáceres: Unemat Editora, 2020. p. 17-38.
  • DUARTE, N. Vigotski e o “aprender a aprender”: críticas às apropriações neoliberais      e  pós-modernas da teoria vigotskiana. 4. ed. Campinas: Autores Associados, 2011.
  • Freire, Paulo. Pedagogia da esperança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
  • FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo, Paz e Terra, 2011.
  • FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987, 17ª edição. 
  • FREIRE, Paulo. A Educação na Cidade. 6ª ed. São Paulo: Cortez, 2005.
  • Gadotti, Moacir. História das ideias educativas no Brasil. São Paulo: Cortez, 2008.
  • Libâneo, José Carlos. Democracia e educação. São Paulo: Cortez, 2004.
  • LIBÂNEO, José Carlos.  Pedagogia como Ciência da Educação: objeto e campo investigativo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. 
  • LIBÂNEO, José Carlos. Adeus professor, adeus professora? Novas exigências educacionais e profissão docente. São Paulo: Cortez, 1998.
  • PARO, Vitor Henrique. Educação como exercício de poder: crítica ao senso comum em educação. 3 ed. – Cortez, 2014.
  • Saviani, Dermeval. Pedagogia histórico crítica: primeiras aproximações. São Paulo: Cortez, 1987.
  • SAVIANI, Dermeval. A pedagogia no Brasil: história e teoria. Campinas: Autores Associados, 2008a.

1Graduada em Licenciatura em Ciências da Natureza com habilitação em Biologia pela IFMT Campus São Vicente centro de referência de Jaciara. Professora Efetiva da Educação Básica da Secretaria Municipal de Jaciara do Estado de Mato Grosso. E-mail: glleyce.chaves@edu.mt.gov.br
2Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI) – Campus de Frederico Westphalen. E-mail: a110235@uri.edu.br Orcid: https://orcid.org/0009-0005-0797-7345.
3Graduada em Licenciatura Plena em Atendimento Educacional Especializado (AEE) pela Faveni- Guarulhos- SP. Professora Efetiva da Educação Básica da Creche Padre Lothar, Pós Graduação em Atendimento Educacional Especializado (AEE) pela Invest- Cuiaba-MT / Email: patrícia.barros01@hotmail.com / https://orcid.org/0009-0009-1694-4835
4Graduada em Ciências Físicas e Biológicas, Química pela Universidade Federal do Estado de Mato Grosso (UFMT). Professora Efetiva da Educação Básica do Estado de Mato Grosso. Mestranda em Educação pela Universidade Federal de Ronodonópolis (UFR). E-mail: telma.rodrigues@aluno.ufr.edu.br Orcid: https://orcid.org/0009-0003-5765-9092
5Graduada em Licenciatura Plena em Pedagogia  pela Campus da ANHANGUERA – RONDONÓPOLIS/MT. Professora Efetiva da Educação Básica da Creche Padre Lothar / Email: Valeriagf1988@gmail.com