A PARTICIPAÇÃO DA FISIOTERAPIA NA PREVENÇÃO DE COMPLICAÇÕES MUSCULOESQUELÉTICAS E INDEPENDÊNCIA FUNCIONAL EM CRIANÇA PORTADORA DE OSTEOGÊNESE IMPERFEITA

ALBIERO, José Francisco Gontan*; ROTA, Cleide Ana**
* Fisioterapeuta e Docente na Universidade Regional de Blumenau (FURB), ** Acadêmica de Fisioterapia da FURB
Resumo
Osteogênese imperfeita (OI) é uma patologia geneticamente transmitida, decorrente da diminuição na quantidade de colágeno, tornando o portador suscetível a fraturas pós-nascimento. Procurou-se determinar a importância do tratamento fisioterapêutico diante a OI, e como esta pode atuar na aquisição de independência funcional ao portador, e conseqüentemente auxiliar e orientar familiares. Realizou-se um estudo de caso, com entrevistas dirigidas aos pais e estagiários; e acompanhamento das habilidades motoras, com a aplicação dos testes da Escala de Desenvolvimento Motor (EDM) de ROSA NETO (2002), constituída por testes de avaliação da motricidade fina e global, equilíbrio, esquema corporal, organização espacial e temporal, e lateralidade. A fisioterapia comprovou-se benéfica no processo de reabilitação e contribuição para uma evolução no desenvolvimento neuropsicomotor em uma criança portadora de OI.
Palavras-chaves: osteogênese imperfeita, fisioterapia, desenvolvimento motor.
Introdução
A OI é uma doença do tecido conjuntivo de forma generalizada, transmitida geneticamente podendo ser por gene autossômico dominante ou recessivo; é um distúrbio hereditário do colágeno tipo I, devido mutações heterogêneas nos genes do colágeno. As características clínicas das crianças com OI variam de acordo com a natureza da herança genética, sendo a característica mais proeminente é a fragilidade óssea, que resulta em arqueamento e fraturas dos ossos longos. As fraturas consolidam-se em tempo normal, mas a formação de calo pode ser grande e de má qualidade e, tendem a diminuir conforme a criança cresce, em especial depois da puberdade. A criança com OI têm inteligência normal e personalidade alegre. A detecção precoce da OI é de suma importância na vida do paciente, pois alguns casos não são diagnosticados sendo tratados como fraturas comuns; e é de igual importância para o fisioterapeuta, que pode utilizar os recursos apropriados mais cedo. Quanto maior a antecedência no tratamento, melhor os resultados da fisioterapia com o paciente, que passa a se relacionar mais positivamente com os outros e levar uma vida mais produtiva e independente(11,15).
A fisioterapia neste caso pode proporcionar o relaxamento, melhorar o padrão da marcha, melhorar o tônus muscular, promover o aumento da resistência e o fortalecimento muscular, reeducar os músculos paréticos e atuar na aquisição moral e na independência do paciente. Considerando a importância da fisioterapia como coadjuvante no processo de reabilitação de inúmeras patologias, esse artigo tem como finalidade demonstrar a participação da fisioterapia na prevenção de alterações musculoesqueléticas em crianças com OI, aliada a um acompanhamento do desenvolvimento das habilidades motoras visando a deambulação e a independência funcional do paciente. É de extrema importância que o fisioterapeuta avalie os riscos para que sua intervenção evite ainda mais fraturas nessas crianças, pois o tratamento é delicado e complexo, e os resultados dependem da atuação do próprio fisioterapeuta. O tratamento na OI envolve a melhora da mobilidade, o auxílio para enfrentar os efeitos psicossociais da doença, e a prevenção de perdas ósseas adicionais; tendo sempre em vista a redução do risco de fraturas, habilidades motoras e independência(2,14).
Os problemas osteomusculares das crianças com OI, tais como fragilidade óssea, fraturas repetidas, articulações frouxas e músculos pequenos e fracos, as levarão à fisioterapia mais cedo ou mais tarde. O ideal seria a participação do fisioterapeuta desde os primeiros dias de vida, quando o profissional pode orientar os pais com respeito ao manuseio, ao posicionamento da criança e a melhor maneira de aumentar ao máximo os seus movimentos ativos. E deste modo a fisioterapia procura auxiliar na manutenção da independência funcional, na prevenção de assimetrias, desconfortos e complicações mais graves, promovendo a possibilidade de transferência, higienização e maior conforto ao paciente(10).
Metodologia
Caracteriza-se um estudo de caso, qualitativo quanto à organização dos conhecimentos e informações adquiridas dos pais e estagiários; e quantitativo quanto ao acompanhamento das habilidades motoras e aplicação dos testes da EDM. Sendo a utilização dos recursos fisioterapêuticos na área de neuropediatria e ortopedia pediátrica. Foi identificado um portador de OI no Ambulatório de Fisioterapia da FURB, na cidade de Blumenau, Estado de Santa Catarina, registrado no Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (CREFITO) em 28/09/1998, atendendo exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS); sendo ainda o sujeito da pesquisa selecionado intencionalmente a partir dos seguintes critérios de inclusão não-probabilísticos: criança com diagnóstico de osteogênese imperfeita do tipo I; residente na cidade de Blumenau, com idade entre 2 (dois) e 11 (onze) anos; do sexo masculino. O sujeito da pesquisa foi selecionado com idade inferior a 11 (onze) anos, devido às características do desenvolvimento motor, e à comprovação de que após a puberdade, a incidência de fraturas em portadores de OI é consideravelmente reduzida, e em muitos casos, extinta; e devido a aplicação da EDM. Elaborou-se este estudo de caso de acompanhamento por um período de 94 (noventa e quatro) dias, de uma criança portadora de OI do tipo I, para análise da participação da fisioterapia na manutenção e aprimoramento de sua independência funcional.
B.A., sexo masculino, nascido em 08/06/2001, natural da cidade de Blumenau, Estado de Santa Catarina; é na ordem gestacional o segundo filho, possui apenas 1 (um) irmão materno; sua mãe não sofreu abortos, realizou pré-natal durante sua gestação, não contraiu doenças, não foi usuária de drogas e não ingeriu bebida alcoólica; foi medicada com Buscopan no período gestacional, permaneceu durante 1h30m na sala de parto, sendo a duração do mesmo de aproximadamente 40 (quarenta) minutos. O sujeito da pesquisa nasceu de cesária, com 24 (vinte e quatro) semanas de gravidez, 1.490Kg, 42cm, chorou, apresentando apgar 7 (sete) e 8 (oito) ao nascimento; sua tipagem sangüínea (O+) é idêntica a do pai, observando-se a transmissão genética paterna da patologia. O sujeito da pesquisa permaneceu na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pós-nascimento, apresentou ainda no berçário, fraturas nas costelas, no fêmur do membro inferior esquerdo, e uma luxação no polegar. Logo após o período de internação, em sua casa, fraturou novamente o fêmur esquerdo devido à fragilidade óssea. Aos 4 (quatro) meses sofreu uma queda com sua mãe, onde fraturou o úmero e o punho do membro superior esquerdo.
Iniciou o tratamento fisioterapêutico aos 9 (nove) meses de idade, parando logo em seguida, após uma fratura no terço médio da tíbia direita. Retornou à fisioterapia com a idade de 1 (um) ano e 11 (onze) meses, para atendimento no Ambulatório de Fisioterapia da FURB, onde permanece até hoje sem o relato de intercorrências clínicas ortopédicas durante este período. B.A. foi amamentado até os 6 (seis) meses; conforme o histórico do seu desenvolvimento motor, controlou a cabeça e iniciou a fala aos 9 (nove) meses, sentou com 12 (doze) meses, engatinhou com 16 (dezesseis) meses, ficou em pé com 21 (vinte e um) meses, e andou com 24 (vinte e quatro) meses; atualmente apresenta esclerótica azulada, cicatrizes de drenos em região torácica, deformidade na parte proximal do fêmur esquerdo decorrente às fraturas, e pé direito em eversão devido a fratura de tíbia.
Aplicou-se uma ficha de avaliação fisioterapêutica, para avaliação de B.A. e obtenção de sua evolução do tratamento fisioterapêutico. Em cada início de um novo grupo de estágio no local de estudo, realizou-se uma reavaliação fisioterapêutica com novos objetivos e condutas. No período de troca de estagiários, todas as informações novas foram coletadas pela pesquisadora a respeito do paciente e do atendimento ambulatorial. O tratamento fisioterapêutico realizou-se 1 (uma) vez por semana, em dias pré-estabelecidos pelo Ambulatório de Fisioterapia da FURB, em uma sessão de 40 (quarenta) minutos, no período vespertino. B.A. submeteu-se ao atendimento juntamente aos estagiários de fisioterapia da FURB, que realizaram as condutas condizentes com seus objetivos, sendo as mesmas detalhadamente descritas a seguir; visando-se uma evolução no desenvolvimento motor normal. Durante a coleta de dados, utilizou-se a estatística analítica; os dados qualitativos foram adquiridos através de entrevistas direcionadas aos pais e estagiários de fisioterapia, sendo estas realizadas uma vez por mês do início ao fim desta pesquisa; os dados quantitativos que complementam a avaliação e foram coletados no primeiro e último dia de pesquisa; segundo os fundamentos de ROSA NETO (2002), promovem um enfoque de avaliação das habilidades motoras, seguindo uma série de metas que devem ser atingidas, avaliando-se 7 (sete) habilidades motoras fundamentais; a motricidade fina, motricidade global, equilíbrio, esquema corporal, organização espacial, organização temporal e a lateralidade.
A coleta de dados interveio de forma qualitativa através de entrevistas dirigidas aos estagiários de fisioterapia do Ambulatório de Fisioterapia da FURB, (no presente estudo denominados estagiários 1, 2 e 3); com o objetivo de verificar o tratamento direcionado ao sujeito da pesquisa, os objetivos almejados pelos referidos estagiários, as dificuldades encontradas, e as respostas do paciente ao tratamento proposto. Aplicou-se entrevista dirigida aos pais, com o objetivo de acompanhar o histórico de intercorrências clínicas de B.A.; investigar como comportou-se durante o acompanhamento fisioterapêutico, e durante as férias sem o devido tratamento; verificar as expectativas da família em relação à fisioterapia; e analisar a interação familiar com cada nova proposta de atendimento fisioterapêutico dos estagiários. A entrevista direcionada à mãe constava de questionamentos quanto ao histórico de saúde do paciente, opinião pessoal quanto ao tratamento fisioterapêutico, estado do paciente no período de ausência do tratamento, expectativas relacionadas à fisioterapia e a participação familiar no tratamento realizado com B.A. Aplicou-se a bateria de testes da EDM, e reaplicação da bateria de testes após os 94 (noventa e quatro) dias, para uma avaliação quantitativa do tratamento fisioterapêutico realizado no período da pesquisa. Analisou-se históricos de internação e saúde, alterações respiratórias e ortopédicas, e conseqüentes deformidades. Realizou-se avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor e orientações domiciliares, durante o acompanhamento longitudinal a esta criança.
Para o desenvolvimento do presente estudo utilizou-se instrumentos de medidas como uma entrevista simples, direcionada à mãe, com perguntas referentes à identificação dos hábitos da criança, e também com o objetivo de investigar suas repercussões em saúde. Durante a realização dos testes utilizou-se uma câmera digital da marca MITSUCA, modelo DC3000BR, com sensor CCD de 3.3 megapixels, capacidade de memória de 40MB; maleta da EDM, da qual utilizou-se o manual, a folha de respostas, e os instrumentos para aplicação dos testes como, 9 (nove) cubos de madeira coloridos, linha número 60 (sessenta) e agulha de costura (1cm x 1mm), banco de madeira de 15 cm de altura, corda de 1 (um) metro de comprimento, tabuleiro de montar com peças em formato de círculo, triângulo e quadrado, palitos de 2 (dois) comprimentos diferentes, sendo um de 5cm e outro de 6cm; bola de tênis, caneta, cartão colorido medindo 15cm x 25cm com um furo no centro de 0,5cm de diâmetro, tubo longo de plástico duro (simulando um telescópio), e bola de 6cm de diâmetro de plástico. Os dados coletados foram analisados posteriormente e distribuídos em forma de gráficos; as fotografias foram selecionadas em computador da marca LG pertencente à autora.
Análise dos resultados
Com a presente análise e discussão dos resultados, objetiva-se representar e explanar sobre a participação da fisioterapia na prevenção de complicações musculoesqueléticas, e independência funcional em uma criança portadora de OI. Os dados apresentados e analisados, condizem com critérios quali-quantitativos e, são demonstrados através de gráficos e tabelas, sendo discutidos com suporte literário e considerações pessoais. Realizou-se um estudo de caso, aplicando-se dois testes para uma avaliação pré e pós tratamento fisioterapêutico, avaliando sete habilidades motoras fundamentais. Sendo assim, expõe-se a seguir, a análise e discussão dos resultados obtidos com esta pesquisa.
Aplicou-se uma ficha de avaliação fisioterapêutica com a obtenção dos dados relatados a seguir, referentes à B.A. Chegou no colo da avó, inicialmente receoso, porém após um breve período, demonstrou-se muito comunicativo e afetuoso. Durante todo o período de coleta de dados, a avaliação de reflexos e posturas manteve-se inalterada nos dois primeiros meses; registrou-se ausente o reflexo tônico cervical assimétrico (RTCA); reflexo tônico cervical simétrico (RTCS); reflexo tônico labiríntico (RTL); reflexo de Gallant, reflexo de Babinski; preensão palmar e preensão plantar; reação de Moro; e a reação cervical de retificação. Registrou-se presente a reação corporal de retificação; reação protetora da cabeça; reação labiríntica de retificação; e os reflexos de extensão protetora dos braços para frente, para os lados e para trás. Um meio de diagnosticar possíveis desordens do sistema nervoso central, é observar os reflexos que perseveram; uma disfunção neurológica preserva um reflexo além da idade na qual deveria ter sido inibido pelo controle cortical; demonstra completa ausência de um reflexo; reações reflexas bilaterais desiguais; reações muito fortes ou muito fracas. Sendo assim, todos os reflexos ausentes e presentes no sujeito da pesquisa, demonstraram-se dentro da normalidade; já que os reflexos primitivos passam por inibição durante o primeiro ano de vida; e os reflexos posturais podem ser vinculados a movimentos voluntários posteriores(3,9).
Quanto às posturas, o sujeito da pesquisa em supino apresentou-se com cabeça e tronco simétricos, alcançando objetos com as duas mãos na linha média, com resposta ocular à estímulos visuais e sonoros, boa mobilidade em membros superiores (MMSS), membros inferiores (MMII) estendidos, sendo que o membro inferior direito permaneceu abduzido e os pés do paciente plantifletidos e rodados internamente. Rola de supino para prono com pouca dissociação. Em prono, apresentou cabeça e tronco simétricos, MMSS semi-fletidos com apoio de peso nos antebraços e acima da linha do ombro, bom controle de cabeça, transferindo peso para brincar, MMII estendidos e com boa mobilidade, porém não gosta desta postura. Sentado apresentou cabeça e tronco simétricos, senta sobre os calcanhares e brinca com as duas mãos; em long-sitting, cabeça e tronco alinhados, MMSS semi-fletidos, MMII estendidos, retroversão pélvica, pés permanecem plantifletidos e rodados internamente. O paciente realiza gatas e nesta postura permanece por pouco tempo, brinca, transfere peso e engatinha. Ajoelhado permanece por pouco tempo devido ao déficit de equilíbrio, chega na postura sozinho, brinca, mantém cabeça e tronco simétricos e MMSS com boa mobilidade. A postura semi-joelhos realiza somente com auxílio mas não permanece nela. Em pé a cabeça e o tronco permanecem simétricos, ombros elevados, adução de escápulas, MMSS levemente abduzidos, MMII semi-fletidos e pés evertidos com base alargada e déficit de equilíbrio. A marcha realizada apresentou assimetria, déficit de equilíbrio, pouca transferência de peso, MMSS e MMII abduzidos e semi-fletidos, base alargada, joelhos varos, pés em rotação externa, sem apoio de calcanhares e sem transferência de peso para o membro inferior direito. O tônus muscular do sujeito da pesquisa demonstrou-se eutônico, os objetivos de tratamento dos estagiários eram prevenir deformidades e encurtamentos, promover trocas posturais, melhorar o equilíbrio estático e dinâmico, manter e aprimorar a marcha.
O primeiro estagiário consultado, denominado nesta pesquisa de estagiário 1, realizou sua avaliação em 26/02/2004; sua conduta englobou o alongamento da musculatura de MMII, psoas, ísquiotibiais, tríceps-sural; a mobilização dos pés em inversão e eversão; trocas posturais, rolar de supino para prono e vice-versa, supino para long-sitting, sentado para em pé; controle de tronco e rotação de tronco no rolo, reações de proteção no rolo; gatas sobre o rolo; transferência de peso em MMSS no Physio Roll; ajoelhado e semi-ajoelhado alcançando objetos com os MMSS no chão e no alto; treino de marcha pelos MMSS. Em 09/03/2004 próximo ao final do atendimento do estagiário 1, foi enfatizado pela supervisora, maior necessidade de alongamentos de MMII e mobilizações dos pés à este paciente.
O estagiário 2 realizou sua avaliação em 31/03/2004; sua conduta constou de alongamento global de MMII; alongamento de MMSS, escalenos, trapézio, bíceps e flexores dos punhos; trocas posturais (gatas, joelhos, semi-joelhos, em pé); equilíbrio e reações protetoras na bola suíça; transferência de peso em MMII; em pé alcançar objetos no chão; equilíbrio na cama elástica; marcha no tatame; treino de marcha com facilitação pelo quadril. Em 28/04/2004, meados do atendimento realizado pelo estagiário denominado 2, a supervisora de estágio enfatizou a necessidade do paciente às reações de equilíbrio e treino de marcha.
O estagiário 3 realizou sua avaliação em 26/05/2004; sua conduta constou de alongamento global de MMII; trocas posturais; rotações de tronco; treino das reações de equilíbrio na bola; transferência de peso e apoio para levantar e alcançar objetos com o paciente de joelhos, semi-joelhos e em pé; alcançar objetos no chão com os MMII estendidos; treino de marcha e equilíbrio sobre o tatame, ao redor do tatame, na cama elástica e no solo.
Na última coleta de dados, terceiro mês de pesquisa, o paciente apresentou um início de alteração nas posturas ajoelhado, adquiriu mais equilíbrio e resistência muscular, permanecendo por maior tempo nesta postura; em semi-ajoelhado, realizou a postura com auxílio e conseguiu permanecer nela por um breve período; a postura em pé apresentou MMII mais estendidos e ganho de equilíbrio do paciente; na marcha sua postura sofreu alterações em MMSS menos abduzidos, maior transferência de peso em MMII e maior equilíbrio.
Quanto mais cedo iniciar-se a realização de atividades motoras, melhor a estimulação e a resposta aos estímulos. A estimulação é toda atividade que enriqueça o desenvolvimento físico, mental e social da criança e; dentro deste contexto, o fisioterapeuta é o profissional habilitado a trabalhar com a estimulação essencial, em uma criança portadora de OI (13). A importância das atividades motoras para o desenvolvimento global de uma criança, é comprovada cientificamente; descobrindo o mundo através de seu corpo, a criança desenvolve seu potencial cognitivo(4).
Aplicou-se entrevistas dirigidas à mãe, em 10/03/2004 e 14/06/2004; com o objetivo de acompanhar o histórico de intercorrências clínicas do paciente, que manteve-se inalterado durante o período da pesquisa, sem fraturas, sem internações, e sem a ingestão de medicamentos. A mãe relatou que seu filho sempre se comportou melhor durante o acompanhamento fisioterapêutico, e que durante as férias sem o devido tratamento, seu filho tende a aumentar a eversão nos pés, e a sofrer mais quedas devido à diminuição gradativa do equilíbrio. As expectativas da família em relação à fisioterapia sempre foram supridas, conforme os relatos da mãe do paciente, a fisioterapia sempre foi excelente para seu filho que mal engatinhava e em pouco tempo iniciou a marcha, seus primeiros passos independentes foram em outubro de 2003, com 2 (dois) anos e 4 (quatro) meses de idade. A obtenção da marcha depende da estabilidade da criança, e pode ser influenciada por fatores ambientais. Fraturas em MMII com imobilizações associam-se ao desuso da musculatura resultando em atrofias, aumento da fragilidade e maior insegurança na criança. Quando o sistema nervoso e a musculatura estiverem desenvolvidos quanto à aptidão, podemos presenciar leve aceleração no advento da locomoção ereta, e quando uma criança recebe encorajamento, assistência dos pais e apoio para os MMSS como em móveis por exemplo; os fatores físicos, hereditários e ambientais interagem para determinar o aparecimento do ato de caminhar independente na criança(5,9). Desta maneira, observa-se que o sujeito da pesquisa adquiriu uma marcha tardia devido à fragilidade óssea, resultante em imobilização por fratura femural proximal; cuidado excessivo da família, evitando incidentes com as quedas freqüentes afastando móveis e apoios; aquisição de insegurança do portador da OI; falta de estímulos da família; e longo período sem o acompanhamento fisioterapêutico.
A interação positiva da família com as condutas de atendimento dos estagiários, demonstrou-se na constante aplicação de estímulos ao paciente em casa por sua própria família, o que proporcionou menos quedas ao paciente, durante o período de férias do Ambulatório de Fisioterapia da FURB no início do ano de 2004. A mãe relatou que antes do tratamento fisioterapêutico seu filho sofria quedas constantes, o que já não ocorre, demonstrando uma diminuição no déficit de equilíbrio do paciente.
São inúmeros os fatores ligados ao desenvolvimento integral da criança, que interferem diretamente em seu desenvolvimento motor; deve-se reconhecer que existe interação entre a composição biológica do indivíduo, e suas próprias circunstâncias ambientais. O desenvolvimento de uma criança está diretamente relacionado à harmonia que ela estabelece em seu ambiente familiar; sendo o fisioterapeuta, um profissional atuante perante o paciente e sua família, observa-se que uma interação positiva entre a família e o profissional, tende a apresentar respostas favoráveis no tratamento ao paciente(7).
Aplicou-se a bateria de testes da EDM em 10/03/2004, e reaplicação da bateria de testes após 94 (noventa e quatro) dias, em 14/06/2004, para uma avaliação quantitativa do tratamento fisioterapêutico realizado no período da pesquisa. B.A. submeteu-se aos testes das habilidades motora fina, motora global, equilíbrio, esquema corporal, organização espacial, organização temporal e lateralidade. Nos testes das habilidades motoras; o número 1 (um) representa êxito nos resultados dos testes aplicados correspondentes à idade, o número ½ (meio) representa a utilização de apenas um dos membros (direito ou esquerdo), e o número 0 (zero) representa resultados negativos. Em 10/03/2004, B.A., com 2 (dois) anos e 9 (nove) meses de idade, apresentou os resultados da tabela I.
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Na avaliação motora(12) B.A., conforme a tabela I, apresentou um resultado ‘normal baixo’, idade motora de 2 (dois) anos e 5 (cinco) meses, atraso de 4 (quatro) meses em relação à sua idade cronológica. Apresentou dificuldades nas áreas de motricidade global e esquema corporal, e déficit de equilíbrio. Sua lateralidade já está estruturada, porém apresentou-se cruzada; durante os testes apresentou uma conduta colaboradora. A criança que evidencia a lateralidade cruzada, é vítima de desequilíbrios motores, e pode gerar dificuldades no aprendizado. A preferência manual flutua entre o nascimento e os seis anos, idade em que esta habilidade parece adquirida na maioria das crianças. A partir desta idade, a criança aprende a utilizar os conceitos de direita e esquerda(17). A lateralidade é de extrema importância na organização das demais variáveis do desenvolvimento motor, portanto uma alteração na lateralidade contribui ao baixo desempenho motor de uma criança(8). Após 94 (noventa e quatro) dias, os testes foram reaplicados e o sujeito da pesquisa, B.A., com 3 (três) anos e 6 (seis) dias de idade, apresentou os resultados da tabela II.
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Conforme a tabela II, B.A., apresentou um resultado ‘normal médio’, idade motora de 3 (três) anos e 1 (um) mês, dentro do esperado em relação à sua idade cronológica. Apresentou dificuldades nas áreas de motricidade global e equilíbrio. Sua lateralidade está estruturada e confirmou-se como sinistro completo; durante os testes apresentou uma conduta colaboradora. O perfil motor de B.A., foi traçado na tabela da EDM, e expressa-se graficamente a seguir.
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Comparando-se as tabelas I e II, e analisando os gráficos I, II e III, podemos observar pequenas aquisições em motricidade fina e motricidade global; aquisições em esquema corporal e organização espacial; significativa aquisição de equilíbrio; estagnação na organização temporal e definição da lateralidade.
A motricidade global está diretamente relacionada com o equilíbrio, portanto seus desempenhos estão correlacionados(9); o que comprova-se nesta pesquisa. Desta forma pode-se analisar que B.A., segundo a avaliação fisioterapêutica, relato da mãe, e confirmação na bateria de testes da EDM; possuía déficit significativo em equilíbrio, sendo sua independência funcional diretamente afetada. Após 94 (noventa e quatro) dias em tratamento fisioterapêutico semanal, enfatizando-se o alcançar objetos, aprimorando sua direcionalidade e lateralidade; enfatizando-se o trabalho da motricidade global com a cama elástica, jogar bola, ou mesmo brincar no cavalinho, o sujeito da pesquisa adquiriu equilíbrio de forma significativa, conseqüentemente adquirindo maior segurança e independência funcional.
O equilíbrio necessita de uma estruturação do esquema corporal e uma integração e perfeição dos mecanismos neuropsicomotores. Percebe-se que uma criança com equilíbrio debilitado como B.A., geralmente se mostra angustiada na execução dos movimentos coordenados e sua leitura do movimento é incorreta e precária, apresentando muitas vezes uma atenção reservada. Na evolução psicomotora é necessário que ele tome consciência do seu contato com o solo e com a mobilidade da articulação do pé e do tornozelo para uma progressão do equilíbrio(6); e conforme Anami e Andrade(16), o fisioterapeuta observa o desenvolvimento motor normal, oferecendo um ambiente rico em estímulos e oportunidades, auxiliando inclusive a família, proporcionando um desenvolvimento físico, mental e social mais saudável à criança.
Demonstra-se, que algumas das metas da fisioterapia para uma criança com OI são as habilidades motoras grosseiras próprias da idade, como rolar, alcançar brinquedos, sentar e levantar sem apoio. É importante incentivar o apoio de peso nos membros superiores e inferiores para promover o fortalecimento ósseo ativo e permitir que a criança seja o mais independente possível em termos funcionais; como observa-se nos resultados positivos desta pesquisa. A fisioterapia é um excelente meio para favorecer os movimentos ativos e para iniciar a sustentação do peso corporal, no lactente ou criança que apresenta OI(6,9).
A intervenção fisioterapêutica deve ser sempre encarada como um meio de suprir as necessidades do paciente e este, por sua vez, deve ser a parte mais importante do tratamento. Segundo Trevisan(16), sem um controle dos movimentos fundamentais de equilíbrio, a criança não obtém formas maduras de locomoção. A boa qualidade do desenvolvimento na infância, determina a formação de um indivíduo saudável em todos os sentidos, dando-lhes suporte bio-psico-social para viver bem. Pode-se dizer que a estimulação psicomotora precoce é realmente fundamental na qualidade do desenvolvimento de um ente humano preparando-o para enfrentar de maneira satisfatória sua vida. O aspecto essencial na estimulação psicomotora precoce é o fato de que ela proporciona um desenvolvimento adequado, ou ao menos mais satisfatório, na medida em que fornece os estímulos sensoriais e experiências motoras fundamentais para propiciar positivamente este desenvolvimento(1). Sendo assim, comprova-se o real valor e a importância da participação da fisioterapia em portadores de OI.
Conclusão
De acordo com a fundamentação teórica e os dados coletados com a mãe do sujeito da pesquisa, estagiários de fisioterapia da FURB, e considerações pessoais da autora, pode-se concluir que a participação da fisioterapia desde os primeiros anos de vida da criança, pode atuar de maneira preventiva e minimizar as complicações musculoesqueléticas decorrentes da OI do tipo I.
As habilidades motoras em uma criança portadora de OI, desenvolvem-se de maneira similar a de uma criança não portadora desta patologia, apresentando como diferencial, um significativo déficit de equilíbrio. Ressalta-se que seja de fundamental importância o acompanhamento fisioterapêutico, prevenindo os encurtamentos, as contraturas posicionais, e as possíveis deformidades instaladas devido à fraqueza e atrofia muscular; à insegurança gerada com a suscetibilidade à fraturas repetitivas ao que o sujeito é submetido; e à aquisição de equilíbrio, aprimoramento da marcha e independência funcional.
B.A. apresentou inicialmente um déficit em motricidade global, esquema corporal e rapidez, e principalmente em equilíbrio; os objetivos propostos foram alcançados. Percebeu-se a estagnação na recidiva de complicações musculoesqueléticas, e ainda uma progressão no DMNL, permanecendo ao final, dentro da normalidade em relação a sua idade cronológica. Demonstrou-se ainda um acréscimo na autoconfiança e independência do paciente. Desta maneira; pode-se concluir, que a participação da fisioterapia na prevenção de complicações musculoesqueléticas e independência funcional em uma criança portadora de OI, atuou de maneira eficaz demonstrando resultados positivos neste estudo de caso.
Na primeira coleta de dados, B.A. demonstrou na EDM um total de 88 (oitenta e oito) no quociente motor geral, indicando uma classificação ‘normal baixa’; 94 (noventa e quatro) dias após tratamento fisioterapêutico semanal, em uma nova coleta de dados, observou-se um quociente motor geral de 103 (cento e três), resultando na EDM de ROSA NETO (2002), em uma classificação ‘normal média’. Inicialmente analisou-se em B.A. uma lateralidade cruzada, que definiu-se em sinistro completo no exame final.
De acordo com as exposições relatadas, e informações adicionais a respeito desta patologia; concluiu-se que em uma criança portadora de OI, um tratamento fisioterapêutico realizado com ênfase em suas maiores necessidades, acompanhando as alterações de saúde junto aos familiares, avaliando neurologicamente a evolução de suas habilidades motoras funcionais, fornecendo orientações quanto a prevenção de acidentes domésticos aos pais, e gerando banco de dados para estudos posteriores, pode atuar de maneira preventiva na OI, e nas dificuldades encontradas ao longo da vida de seus portadores.
Aos pais e familiares, sugere-se o incentivo à fisioterapia, pois conforme Fernandes(16), é necessário que familiares vislumbrem na fisioterapia, uma ciência que prima pelo desenvolvimento humano em sua totalidade, de forma a garantir a melhoria das qualidades psicomotoras de uma criança.
Sugere-se aos profissionais e acadêmicos de fisioterapia, que mais estudos sejam elaborados sobre a participação da fisioterapia na OI, em crianças, adolescentes e também em adultos, visto que o desenvolvimento motor é um processo contínuo; esperando-se comprovar como nesta pesquisa, a participação positiva da fisioterapia em portadores de OI.
Referências
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