A NEUROCIÊNCIA NA FORMAÇÃO DOS EDUCADORES E SUA CONTRIBUIÇÃO NO ENSINOAPRENDIZAGEM

NEUROSCIENCE IN THE TRAINING OF EDUCATORS AND ITS CONTRIBUTION TO TEACHINGLEARNING

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10249211015


Marilea dos Santos Carvalho


Resumo: Este estudo examina a integração da neurociência na formação de educadores, buscando entender como a aplicação de princípios neurocientíficos pode melhorar as práticas pedagógicas. E tem como objetivo principal investigar como a aplicação de princípios neurocientíficos pode influenciar as estratégias pedagógicas e melhorar os resultados de aprendizagem dos alunos. A fundamentação teórica abrange conceitos como plasticidade cerebral, sistemas de recompensa e a influência das emoções no aprendizado, com base em autores como Relvas (2017), Merzenich (2005) e Goleman (1995) dentre outros. Utilizando uma abordagem exploratória e qualitativa, apoiada em revisão bibliográfica, os resultados mostram que educadores treinados em neurociência adotam práticas pedagógicas mais eficazes, como o ensino ativo e o foco no bem-estar emocional dos alunos. No entanto, desafios como a resistência à mudança, a complexidade dos conceitos neurocientíficos e a sobrecarga curricular dificultam a adoção ampla dessas práticas. Apesar disso, a neurociência tem o potencial de transformar a educação, exigindo reestruturação curricular e oportunidades contínuas de formação para educadores, sendo essencial a continuidade das pesquisas para aprimorar as práticas educativas.

Palavras-chave: Neurociência, educadores, ensino aprendizagem.

1  INTRODUÇÃO

A integração da neurociência na formação de educadores é um tema de crescente interesse no campo da educação, refletindo uma busca por abordagens mais eficazes e baseadas em evidências para o ensino e aprendizagem. É pertinente enfatizar que com o avanço das tecnologias e metodologias de pesquisa em neurociência, tornou-se possível entender melhor como o cérebro aprende, processa informações e se adapta a novos conhecimentos e habilidades. Isso faz crer que essa compreensão tem potencial para transformar práticas pedagógicas, possibilitando que educadores desenvolvam estratégias mais alinhadas às necessidades cognitivas de seus alunos.

Atualmente, a inserção de conceitos neurocientíficos em programas de formação de professores visa não apenas enriquecer o conhecimento teórico dos educadores, mas também equipá-los com ferramentas práticas que podem diretamente impactar a eficácia do processo educacional. Assim, a neurociência emerge como um suporte fundamental na evolução das práticas educativas, propiciando um ensino mais adaptativo e inclusivo.

Este estudo delimita-se a examinar a incorporação de princípios neurocientíficos em programas de formação de educadores, investigando como essa integração influencia as estratégias pedagógicas e os resultados de aprendizagem dos alunos em ambientes educacionais variados.

Nessa perspectiva ressalta-se que a incorporação de princípios neurocientíficos na formação de educadores promove uma abordagem mais personalizada e eficaz no ensino, atendendo às necessidades individuais dos alunos de maneira diferenciada. Além disso, a compreensão dos processos neurológicos que afetam a motivação e o engajamento permite que os educadores desenvolvam estratégias para captar e manter o interesse dos alunos, utilizando técnicas como opinião positiva e atividades lúdicas que estimulam múltiplas áreas do cérebro. Essas práticas não apenas aumentam o engajamento, mas também contribuem para a superação de barreiras ao aprendizado, como ansiedade e estresse, criando um ambiente educacional mais acolhedor e propício ao desenvolvimento de habilidades cognitivas complexas.

Diante desse contexto o objetivo geral consiste em investigar como a incorporação de princípios neurocientíficos na formação de educadores pode influenciar as estratégias de ensino e melhorar os resultados de aprendizagem dos alunos. E como objetivos especificos analisar a eficácia das estratégias de ensino personalizado; examinar o impacto do treinamento neurocientífico em educadores; avaliar as mudanças nas práticas de avaliação e opinião.

Sabe-se que a integração da neurociência na formação de educadores representa uma evolução na pedagogia moderna, oferecendo princípios fundamentais sobre o funcionamento cerebral que podem revolucionar as práticas educativas. Para a sociedade, o impacto se traduz em práticas educacionais que podem efetivamente melhorar o desempenho acadêmico e a integração social, facilitando um ambiente de aprendizado mais inclusivo e adaptativo. Cientificamente, o tema contribui para a literatura ao explorar a transposição do conhecimento neurocientífico para contextos educacionais aplicados, preenchendo lacunas existentes entre teoria e prática e oferecendo um campo para futuras pesquisas. Dessa forma, este estudo apresenta atributos que podem influenciar políticas educacionais e práticas pedagógicas, beneficiando toda a estrutura educacional e, por consequência, a sociedade em geral.

No que diz respeito aos procedimentos metodológicos essa pesquisa é de natureza exploratória, explicativa e uma abordagem qualitativa. E quanto aos procedimentos técnicos é considerada bibliográfica, pois esta foi subsidiada por materiais inerentes aos temas que sustentam teoricamente esta pesquisa. Os autores que subsidiaram a pesquisa foram Relvas (2017), Merzenich (2005) e Goleman (1995), dentre outros.

Este artigo está estruturado em 05 seções. A primeira seção é a parte introdutória onde se escreve de forma sucinta o que aborda a referida pesquisa. A segunda seção é dividida em subseção e trata da fundamentação teórica baseada em estudiosos e teóricos da área pesquisada. A terceira seção consta os procedimentos metodológicos utilizados na consecução da pesquisa. A quarta seção trata da exposição dos resultados e discussão alcançados ao final da pesquisa. E por fim a quinta seção a qual aborda as considerações chegadas ao final da pesquisa seguida das referências consultadas.

2  FUNDAMENTOS DA NEUROCIÊNCIA

A neurociência, ao investigar o funcionamento do cérebro e suas implicações para o comportamento humano, oferece visão para compreender o campo da educação. Nesse sentido Relvas (2017) descreve que um dos conceitos fundamentais é a plasticidade cerebral a qual é aplicável à Psicopedagogia, uma vez que o Sistema Nervoso possui a capacidade de se ajustar às influências ambientais tanto durante o desenvolvimento infantil quanto na fase adulta, restaurando ou reorganizando funções que foram comprometidas por condições patológicas.

Esse entendimento é relevante  para educadores, pois sugere que, com a abordagem pedagógica correta, os alunos podem superar dificuldades e desenvolver novas habilidades, independentemente de sua idade ou condição prévia.

Face ao exposto, a neurociência tem demonstrado que diferentes formas de aprendizado, como o aprendizado ativo versus o passivo, afetam a forma como o cérebro se desenvolve. A esse respeito Zull (2002) argumenta que o envolvimento ativo dos alunos em atividades de aprendizado estimula diferentes regiões cerebrais, promovendo conexões neuronais mais fortes e duradouras.

Outro conceito relevante é o funcionamento dos sistemas de recompensa e motivação no cérebro, o qual Schultz (1998) descreve que a neurociência identifica que a dopamina, um neurotransmissor, desempenha um papel central na regulação do prazer e na motivação para o aprendizado. Isso implica que estratégias pedagógicas que incorporam elementos de recompensa, como feedback positivo ou o uso de jogos educativos, podem melhorar a motivação dos alunos e, consequentemente, seus resultados escolares.

Diante de tal situação Deci e Ryan (2000) ressalta em sua teoria da autodeterminação, e também enfatizam a importância da motivação intrínseca, que está intimamente ligada às estruturas de recompensa do cérebro. Eles argumentam que quando os alunos sentem que têm autonomia e estão envolvidos em atividades que consideram importantes, a ativação dos sistemas de recompensa é mais intensa, levando a um aprendizado mais profundo e duradouro.

Há de se considerar que o impacto das emoções no aprendizado, também é um campo explorado extensivamente por neurocientistas. Nessa instância Ledoux (1996) destaca que emoções positivas, como entusiasmo e curiosidade, facilitam o aprendizado ao fortalecer as conexões neuronais e melhorar a retenção de informações. Em contrapartida, emoções negativas, como ansiedade e

estresse, podem prejudicar a capacidade de concentração e memória. Nesse sentido, Goleman (1995) propõe que a inteligência emocional, ou a capacidade de reconhecer e gerenciar as próprias emoções e as dos outros, deve ser uma competência central no ambiente educacional.

Nesse contexto, educadores que compreendem esses mecanismos podem criar ambientes de aprendizado mais positivos e eficazes, promovendo não apenas o desenvolvimento cognitivo, mas também o bem-estar emocional dos alunos.

2.1 INTEGRAÇÕES DA NEUROCIÊNCIA NA FORMAÇÃO DE EDUCADORES

A integração da neurociência na formação de educadores tem sido uma questão cada vez mais discutida, especialmente em relação à adequação dos currículos atuais e à inclusão de conhecimentos neurocientíficos. Diante dessa realidade Relvas (2017) ressalta que a reestruturação dos currículos para incluir esses conhecimentos é essencial para preparar educadores capazes de promover uma aprendizagem consolidada e relevante.

Convém ressaltar que a integração da neurociência na educação não só enriquece o conhecimento dos professores, mas também contribui para a criação de ambientes de aprendizagem mais inclusivos e responsivos às diversas necessidades dos alunos. Portanto, a formação de educadores com uma base sólida em neurociência é um passo primordial para a evolução da educação contemporânea.

É preciso acentuar que os currículos de formação docente tradicionalmente se concentram em teorias pedagógicas, didáticas e psicológicas, mas frequentemente deixam de lado a compreensão profunda de como o cérebro aprende e processa informações. Nesse sentido Howard-Jones (2014), descreve que há uma lacuna entre as descobertas da neurociência e sua aplicação na prática educacional, o que compromete o potencial dos educadores em utilizar abordagens baseadas em evidências científicas para melhorar o aprendizado dos alunos. Fica patente, que essa falta de integração pode ser atribuída tanto ao desconhecimento dos educadores sobre a neurociência quanto à ausência de conteúdos neurocientíficos nos programas de formação. Diante disto é essencial que os currículos de formação docente sejam atualizados para incluir tópicos sobre o funcionamento cerebral, plasticidade neuronal, e os mecanismos que afetam a motivação e a memória, permitindo que os professores compreendam melhor as bases biológicas do aprendizado.

Sabe-se que a inclusão de conhecimentos de neurociência nos currículos de formação de educadores é defendida por diversos teóricos, que argumentam que essa abordagem pode revolucionar a prática pedagógica. A esse respeito Tokuhama-Espinosa (2011) sugere que a neuroeducação, um campo interdisciplinar que combina neurociência, psicologia e educação, deveria ser uma componente central nos programas de formação de professores. A referida autora ainda argumenta que, ao compreender como o cérebro aprende, os educadores podem adotar estratégias pedagógicas mais eficazes, que respeitam o ritmo e as capacidades individuais dos alunos. Isso indica, por exemplo, que, o conhecimento sobre a plasticidade cerebral pode ajudar os professores a criar ambientes de aprendizagem que incentivem o desenvolvimento de novas habilidades e a recuperação de funções cognitivas em alunos que enfrentam dificuldades.

Outro ponto a ser observado é a familiaridade com o impacto do estresse e das emoções no aprendizado pode capacitar os professores a desenvolverem ambientes de sala de aula que promovam o bem-estar emocional, facilitando um aprendizado mais efetivo.

No entanto, a prática dessa integração enfrenta desafios especialmente no que diz respeito à resistência à mudança e à reestruturação curricular. Nessa perspectiva Ansari, Coch e De Smedt (2011) discorrem que um dos principais obstáculos é a falta de preparação dos formadores de professores para ensinar neurociência, uma vez que muitos deles não possuem treinamento ou conhecimento aprofundado nessa área.

É necessário ressaltar que, existe um debate contínuo sobre quais aspectos da neurociência são mais relevantes e úteis para os educadores, considerando que o campo é vasto e em constante evolução. Ficou evidenciado que, a adaptação dos currículos para incluir neurociência requer não apenas a atualização dos conteúdos, mas também a formação continuada dos próprios formadores de docentes, garantindo que eles possam transmitir esses conhecimentos de maneira acessível e prática. Conforme se pode constatar a integração efetiva da neurociência na formação de educadores tem o potencial de transformar a educação, alinhando-a mais estreitamente com a forma como o cérebro realmente aprende e se desenvolve, mas isso exigirá uma abordagem sistemática e coordenada para superar as barreiras atuais.

2.2 CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA PARA  AS PRÁTICAS  PEDAGÓGICAS

A neurociência tem oferecido contribuições importantes para as práticas pedagógicas,   especificamente    ao  mostrar   como  o  cérebro    aprende  e   quais estratégias de ensino podem ser mais eficazes. Nesse sentido Merzenich, (2002) enfatiza que um dos principais conceitos trazidos pela neurociência é o da plasticidade cerebral, que se refere à capacidade do cérebro de reorganizar suas conexões neuronais em resposta à aprendizagem e à experiência. Enquanto Oliveira (2014) descreve que a neurociência fornece percepções de como diferentes tipos de memória são processados e armazenados, permitindo a criação de métodos que facilitam a retenção e a recuperação de informações.

Fica patente que este conceito desafia a ideia tradicional de que as capacidades cognitivas são fixas e sugere que todos os alunos têm o potencial de melhorar suas habilidades através de métodos de ensino apropriados. Desta forma, as práticas pedagógicas que estimulam a repetição e a prática deliberada podem promover a formação de novas conexões neuronais, facilitando o aprendizado.

Face ao exposto Goswami (2006) enfatiza que a  neurociência também destaca a importância de um ensino individualizado, que leva em consideração as diferentes fases de desenvolvimento do cérebro e as necessidades únicas de cada aluno. Diante disto ao adaptar as estratégias de ensino ao estágio de desenvolvimento e ao ritmo individual de aprendizagem, os educadores podem maximizar o potencial de cada aluno.

Outra contribuição importante é a relação entre emoções e aprendizagem. A esse respeito Carvalho (2011) descreve que estudos mostram que as emoções desempenham um papel fundamental no processo de aprendizagem, influenciando a motivação e o desempenho escolar dos alunos. Enquanto  Ledoux (1996) ressalta que pesquisas neurocientíficas demonstram que as emoções desempenham um papel central na modulação da memória e na atenção, dois fatores primordiais para o aprendizado. Como exemplo dessa situação Damasio (1994) descreve que quando os alunos experimentam emoções positivas, como curiosidade e entusiasmo, suas chances de retenção de informações aumentam  devido à ativação de regiões cerebrais associadas ao prazer e à recompensa. Em contrapartida, emoções negativas, como ansiedade e estresse, podem inibir a capacidade de concentração e prejudicar o processo de aprendizagem.

Baseado no exposto Guerra e Cosenza (2011) argumentam que ao compreender essa relação, os educadores podem criar ambientes de aprendizagem mais positivos e motivadores, que promovem o bem-estar emocional dos alunos e, consequentemente, melhoram os resultados educacionais. A inclusão de atividades que envolvem emoções positivas pode aumentar o engajamento e a participação dos alunos, tornando o aprendizado mais significante e duradouro.

Sabe-se que a neurociência tem contribuído para a identificação e o apoio a alunos com transtornos de aprendizagem. Relvas (2017) ressalta que o conhecimento das bases neurobiológicas permite aos educadores desenvolver intervenções mais eficazes e personalizadas. Isso inclui a adaptação de materiais didáticos e a implantação de estratégias de ensino diferenciadas que atendam às necessidades específicas de cada aluno. Dessa forma, a neurociência não apenas contribui para a criação de estratégias de ensino mais eficazes, mas também para a reestruturação dos ambientes e horários escolares de forma a otimizar o aprendizado.

2.3 IMPACTO DA FORMAÇÃO EM NEUROCIÊNCIA NOS RESULTADOS DO ENSINO APRENDIZAGEM

Os estudos que medem o impacto da formação em neurociências nos resultados dos alunos têm demonstrado resultados promissores, sugerindo que a aplicação dos conhecimentos neurocientíficos pode melhorar a eficácia do ensino e a aprendizagem dos estudantes.

Nessa perspectiva Howard-Jones (2014) destaca que educadores que recebem treinamento em neurociência tendem a adotar práticas pedagógicas mais informadas e adaptadas às necessidades cognitivas dos alunos. Esses professores são mais propensos a utilizar métodos que estimulam diferentes áreas do cérebro, como a aprendizagem ativa, que envolve os alunos em atividades práticas, debates e resolução de problemas.

A pesquisa realizada por Howard-Jones (2014) indica que essas abordagens podem melhorar a retenção de informações e a capacidade de resolução de problemas dos alunos. Desta forma  ao compreenderem melhor os processos de desenvolvimento cognitivo e emocional, os educadores podem identificar e intervir mais cedo em casos de dificuldades de aprendizagem, o que resulta em melhores resultados esclares.

Prosseguindo Thomas, Ansari e Knowland  (2019) examina o impacto de programas de formação em neurociências voltados para professores do ensino fundamental. O estudo realizado pelo referido autor mostrou que, após a formação, os professores demonstraram um aumento na compreensão de como o cérebro aprende, o que se traduziu em práticas de ensino mais eficazes. Constatou-se que, os professores começaram a aplicar estratégias como a prática espaçada e o ensino multimodal, que são suportadas pela neurociência como técnicas eficazes para melhorar a aprendizagem e a memória. Ainda de acordo com Thomas, Ansari e Knowland (2019) também observaram que as salas de aula cujos professores haviam passado por essa formação apresentaram um ambiente de aprendizagem mais positivo, com os alunos mostrando maior engajamento e melhor desempenho em avaliações padronizadas.

Baseado no exposto constat-se que esses resultados sugerem que o conhecimento neurocientífico não só melhora a prática pedagógica, mas também tem um impacto direto e positivo no desempenho escolar dos alunos.

Tokuhama-Espinosa (2011) argumenta que a neurociência pode oferecer uma base científica para muitas práticas pedagógicas, ajudando a filtrar as abordagens mais eficazes das menos eficazes. Ela destaca que a formação em neurociência permite que os educadores façam escolhas pedagógicas baseadas em evidências, em vez de modismos ou intuições não verificadas.

Objetivando explicitar o exposto Tokuhama-Espinosa (2011) cita estudos que mostram como a formação em neurociência ajudou os professores a evitar práticas ineficazes, como a instrução baseada em estilos de aprendizagem, que tem pouca ou nenhuma base neurocientífica. Constatouse assim que, esses professores começaram a adotar técnicas baseadas em evidências, como o ensino intercalado e a opinião imediata de que são suportados pela neurociência como métodos eficazes de ensino.

Desta forma a pesquisa de Tokuhama-Espinosa (2011) sugere que a formação em neurociência pode não só melhorar os resultados dos alunos, mas também promover um ensino mais eficiente e baseado em práticas comprovadas, contribuindo para um sistema educacional mais fundamentado em ciência.

Esquematizando poder-se-à dizer que ao entender como o cérebro processa informações, os professores podem adaptar suas abordagens para atender às necessidades individuais dos alunos, promovendo uma educação mais inclusiva e eficaz. A aplicação desses conhecimentos tem mostrado que, quando os educadores utilizam princípios neurocientíficos, os alunos demonstram maior motivação, melhor desempenho escolar e consequentemente maior satisfação com o processo de aprendizagem.

2.4 DESAFIOS E LIMITAÇÕES ENFRENTADOS NA INTEGRAÇÃO DA  NEUROCIÊNCIA NA FORMAÇÃO DE EDUCADORES

A integração da neurociência na formação de professores enfrenta diversos desafios e limitações, que vão desde a resistência à mudança nas instituições educacionais até a complexidade dos conteúdos neurocientíficos. Um dos principais desafios encontrados  é a resistência por parte de alguns educadores e formadores de professores em adotar novos paradigmas pedagógicos baseados em neurociência.

Conforme destaca Bruer (1997), muitos educadores ainda estão presos a métodos tradicionais de ensino e podem ver a neurociência como uma moda passageira ou algo irrelevante para a prática pedagógica cotidiana. Essa resistência é frequentemente acentuado pela falta de clareza sobre como os conhecimentos neurocientíficos podem ser aplicados de forma prática no ambiente escolar. Outro ponto constatado é a falta de formação prévia em ciências biológicas entre muitos educadores torna a neurociência um campo intimidante, o que dificulta ainda mais sua aceitação e aplicação prática.

Dentro desse comtexto pode-se ressaltar que outro desafio observado

está relacionado à complexidade dos conceitos neurocientíficos e à dificuldade de traduzi-los para um contexto educacional de forma que sejam compreensíveis e úteis para os professores. Outrossim, é bom lembrar que Howard-Jones (2010) aponta a neurociência como uma disciplina altamente técnica e em constante evolução, o que torna difícil para os professores se manterem atualizados sobre as descobertas mais recentes e compreenderem plenamente suas implicações para a prática pedagógica. Assim podemos destacar que essa complexidade é ainda mais acentuada pelo fato de que a pesquisa em neurociência educacional muitas vezes não oferece diretrizes claras ou específicas sobre como os professores podem aplicar esses conhecimentos em suas salas de aula. Como resultado, os educadores podem se sentir sobrecarregados ou frustrados ao tentar integrar esses conhecimentos em sua prática diária, levando à subutilização das descobertas neurocientíficas.

É importante esclarecer que há uma falta de recursos adequados e de tempo dentro dos programas de formação de professores para incluir a neurociência de maneira eficaz. Como observado por Tokuhama-Espinosa (2011), os currículos dos cursos de formação de professores já são bastante carregados com conteúdos pedagógicos tradicionais, o que deixa pouco espaço para a inclusão de novos tópicos como a neurociência. Mesmo quando esses conteúdos são incluídos, muitas vezes eles são apresentados de forma superficial ou teórica, sem a necessária ênfase na aplicação prática e na relevância para o ensino cotidiano. Isso pode levar a uma prática inadequada ou inconsistente das estratégias baseadas em neurociência nas escolas.

Outro aspecto a considerar é a falta de tempo e recursos a qual signifca também que muitos professores não têm acesso a oportunidades contínuas de desenvolvimento profissional em neurociência após a conclusão de sua formação inicial, o que limita sua capacidade de manter-se atualizados e de aplicar eficazmente esses conhecimentos ao longo de suas carreiras.

3  PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A metodologia utilizada na construção dessa pesquisa foi de natureza exploratória, explicativa e uma abordagem qualitativa.

Quando se trata de uma pesquisa bibliográfica, a pesquisa exploratória tem como objetivo principal fornecer mais informações sobre um determinado assunto, auxiliar na delimitação do tema, definir os objetivos ou formular hipóteses, além de possibilitar a descoberta de novos enfoques para o estudo em questão (Andrade, 2010).

A partir dessa presuposto, a natureza exploratória se confirma, uma vez que se trata de uma busca de informações a respeito da neurociência na formação dos educadores e sua contribuição no ensino aprendizagem. E será explicativa à medida que procurará identificar como a inclusão da neurociência na formação dos educadores pode auxiliar o ensino aprendizagem (Triviños, 1987).

A abordagem qualitativa considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa (Thiollente, 1992).

Quanto aos procedimentos técnicos a pesquisa é bibliográfica que de acordo com Gil (2009) é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. 

Diante desse contexto, esta pesquisa é considerada bibliográfica, pois foi subsidiada por materiais inerentes aos temas que sustentam teoricamente esta pesquisa. As fontes de informação consultadas primaram pela qualidade científica e foram constituídas por livros e artigos cientificos pesquisados em bases acadêmicas, no google books, sites de busca e revistas eletrônicas especializadas na temática.

4  RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos com a integração da neurociência na formação de educadores indicam que essa abordagem pode melhorar as práticas pedagógicas e os resultados de aprendizagem dos alunos. Howard-Jones (2014) ressalta que educadores treinados em neurociência tendem a adotar estratégias pedagógicas mais alinhadas às necessidades cognitivas dos alunos, como o aprendizado ativo, que envolve os estudantes em atividades práticas e debates. Nessa perspectiva essas abordagens, segundo Howard-Jones (2014), não só aumentam a retenção de informações, mas também aprimoram a capacidade de resolução de problemas, sugerindo que a formação em neurociência enriquece a prática pedagógica e impacta positivamente o desempenho escolar dos alunos.

Nesse sentido, a compreensão dos processos emocionais, como discutido por Ledoux (1996) e Goleman (1995), permite que os educadores criem ambientes de aprendizagem que promovem o bem-estar emocional dos alunos, o que é primordial para o aprendizado eficaz. Quando os professores aplicam esses conhecimentos em sala de aula, observam-se melhorias na motivação e no engajamento dos alunos, como destacado por Tokuhama-Espinosa (2011). A capacidade dos educadores de integrar aspectos emocionais no ensino contribui para a criação de um ambiente educacional mais inclusivo e adaptado às necessidades individuais, resultando em uma experiência de aprendizagem mais eficaz.

No entanto, a prática da neurociência na formação de educadores enfrenta desafios importantes. Diante desse contexto Bruer (1997) enfatiza que muitos educadores resistem a adotar novos paradigmas pedagógicos baseados em neurociência, muitas vezes por falta de clareza sobre como esses conhecimentos podem ser aplicados de forma prática. Desta forma essa resistência é intensificada pela falta de formação prévia em ciências biológicas, tornando a neurociência um campo intimidador para muitos professores. Essa barreira impede a adoção ampla de práticas pedagógicas informadas pela neurociência.

Outro desafio constatado é a complexidade dos conceitos neurocientíficos, que são frequentemente difíceis de traduzir para um contexto educacional de maneira prática e acessível. Howard-Jones (2014) destaca que a neurociência é uma disciplina altamente técnica e em constante evolução, o que dificulta a atualização dos educadores sobre as descobertas mais recentes. A falta de diretrizes claras sobre como aplicar esses conhecimentos em sala de aula leva à subutilização das descobertas neurocientíficas, o que limita seu impacto potencial na educação.

Sobre esse prisma convém ressaltar que a falta de recursos e tempo nos programas de formação de professores representa um obstáculo para a inclusão eficaz da neurociência na educação. Tokuhama-Espinosa (2011) aponta que os currículos dos cursos de formação já são sobrecarregados com conteúdos pedagógicos tradicionais, deixando pouco espaço para novos tópicos como a neurociência. Mesmo quando esses conteúdos são incluídos, muitas vezes são abordados de forma superficial, sem a ênfase necessária na aplicação prática, resultando em uma execução inconsistente das estratégias baseadas em neurociência. Esses desafios destacam a necessidade de uma reestruturação curricular e de oportunidades contínuas de desenvolvimento profissional para educadores, garantindo que possam aplicar eficazmente os conhecimentos neurocientíficos ao longo de suas carreiras.

5  CONSIDERAÇÕES FINAIS

As pesquisas bibliográficas propiciaram compreender que a integração da neurociência na formação de educadores emerge como uma ferramenta poderosa para a evolução das práticas pedagógicas. Este estudo demonstrou que a aplicação de conhecimentos neurocientíficos pode não apenas enriquecer o entendimento teórico dos educadores, mas também aprimorar a eficácia das estratégias de ensino, resultando em melhores resultados de aprendizagem para os alunos.

Desta forma a formação baseada em neurociência possibilita que os educadores desenvolvam abordagens mais personalizadas e adaptativas, alinhadas às necessidades cognitivas e emocionais dos alunos, contribuindo para um ambiente educacional mais inclusivo.

No entanto, observou-se que a integração não está isenta de desafios. A resistência à mudança entre os educadores, a complexidade dos conceitos neurocientíficos e a falta de formação prévia em ciências biológicas são obstáculos que dificultam a adoção ampla e eficaz das práticas pedagógicas baseadas em neurociência.  Outra questão constatada é  a sobrecarga dos currículos de formação docente, que tradicionalmente se concentram em teorias pedagógicas e psicológicas, deixa pouco espaço para a inclusão desses novos conhecimentos, resultando em uma aplicação superficial e, muitas vezes, ineficaz das estratégias neurocientíficas.

Diante desses desafios, torna-se imperativo repensar e reestruturar os currículos de formação de professores, garantindo que a neurociência seja integrada de maneira prática e acessível. Isso requer não apenas a atualização dos conteúdos curriculares, mas também a formação continuada dos próprios formadores de docentes, assegurando que possam transmitir esses conhecimentos de forma eficaz. O desenvolvimento de recursos e a criação de oportunidades contínuas de aperfeiçoamento profissional em neurociência são fundamentais para que os educadores possam se manter atualizados e aplicar esses conhecimentos ao longo de suas carreiras.

Este estudo mostra que a integração da neurociência na formação de educadores tem o potencial de transformar a educação, promovendo práticas pedagógicas mais eficazes e inclusivas. No entanto, para que essa transformação aconteça é necessário um esforço coordenado entre instituições de ensino, formuladores de políticas educacionais e educadores, a fim de superar as barreiras existentes e maximizar os benefícios que a neurociência pode oferecer à educação contemporânea. A continuidade das pesquisas neste campo é primordial para expandir o conhecimento e aprimorar as práticas educativas, contribuindo para a construção de um sistema educacional mais eficiente e equitativo.

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