A MEDIAÇÃO DE CONFLITOS NO AMBIENTE ESCOLAR COMO INSTRUMENTO DE CONSCIENTIZAÇÃO SOCIAL

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7786298


Cynara Siqueira Pessoa


RESUMO

A mediação escolar é utilizada pela escola como uma ferramenta que tem a função de auxiliar na definição das suas principais prioridades estratégica, buscando sanar os conflitos internos de modo que as necessidades de todos sejam atendidas da melhor forma possível. Assim, o estudo tem como objetivo geral analisar sobre a mediação de conflitos como instrumento de conscientização social. Para alcançar essa proposta, a metodologia do estudo fundamentou-se em uma pesquisa bibliográfica com dados secundários tendo como principais instrumentos de coleta, livros, artigos e revistas que abordam o tema em estudo. Sabe que a violência escolar é um dos grandes problemas nas instituições de ensino, os quais podem ser identificados de várias formas, não somente em relação a violência física, afetando também o emocional e psicológico dos envolvidos. Refere-se a um problema da atual sociedade, que muitas vezes vai além dos limites da escola, afetando toda a sociedade, sendo necessário orientação para o enfrentamento e solução do problema.

Palavras-chave: Escola. Mediação de conflito. Conscientização social.

ABSTRACT

School mediation is used by the school as a tool that has the function of helping to define its main strategic priorities, seeking to resolve internal conflicts so that everyone’s needs are met in the best possible way. Thus, the study has the general objective of analyzing the mediation of conflicts as an instrument of social awareness. To achieve this proposal, the methodology of the study was based on a bibliographical research with secondary data, having as main collection instruments, books, articles and magazines that address the subject under study. He knows that school violence is one of the major problems in educational institutions, which can be identified in several ways, not only in relation to physical violence, but also affecting the emotional and psychological aspects of those involved. It refers to a problem in today’s society, which often goes beyond the boundaries of the school, affecting the whole of society, requiring guidance to face and solve the problem.

Keywords: School. Conflict mediation. Social awareness.

1 INTRODUÇÃO

Uma das questões a ser combatida refere-se à violência no ambiente escolar, que para sanar tais problemas faz-se necessário compreender sua origem e variáveis internas, dentre elas: projeto político pedagógico e regras. Além destes, é preciso entender também os fatores externos que contribuem para violência no ambiente escolar, os quais podem ter relação direta ou indireta com os reflexos sociais.

Nesse sentido, a mediação de conflito no ambiente educacional tem como propósito desenvolver uma conscientização em relação aos direitos e deveres de todos aqueles que fazem parte desse contexto, de modo que sejam estabelecidas práticas de comunicação e diálogo participativo nas escolas.

No ambiente escolar, a proposta da mediação não se limita apenas a solução de conflitos já existentes, podendo ser aplicado também como forma de prevenção e transformação dos alunos, apresentando-se como instrumento de conscientização social. Dessa forma será possível sensibilizar a todos para implementação da prática da mediação, isso porque, este instrumento apresenta-se como um processo construtivo, educativo e também pedagógico. Outro ponto a ser destacado com a mediação escolar, é que as ações desenvolvidas estão relacionadas a cultura de paz.

Assim, conforme o explanado, o estudo tem como objetivo geral analisar sobre a mediação de conflitos como instrumento de conscientização social.

2 GESTÃO DE CONFLITO E A MEDIAÇÃO NO AMBIENTE ESCOLAR

Para entender os conflitos inerentes ao ambiente escolar, faz-se necessário compreender o conceito e classificação de conflitos. Assim, ao tratar sobre o tema conflitos, observa-se que assim como antigamente, nos dias atuais, não somente na comunidade em geral, mas no âmbito escolar é comum haver algum tipo de conflito, que envolve crianças, adolescentes, jovens e adultos. Contudo, é importante mencionar que os conflitos é algo inerente ao homem, considerado, de certa forma, natural ao convívio social, seja no ambiente escolar ou em outras instituições.

No entanto, o conflito é visto de forma positiva quando este gera entre os envolvidos um questionamento de algo que pode ser melhorado, ou seja, surge para que seja gerada uma solução de um problema, sendo sob essa perspectiva é importante para o desenvolvimento e crescimento humano. No entanto, o conflito também pode gerar efeitos negativos, em que há uma predominância de intolerância e não visa uma solução saudável, em que há um predomínio de violência e agressão nos diálogos (VINHA et al., 2011). Complementando esse entendimento, Chrispino (2007, p. 16) apresenta a seguinte definição para conflito:

[…] toda opinião divergente ou maneira diferente de ver ou interpretar algum acontecimento. A partir disso, todos os que vivemos em sociedade temos a experiência do conflito. Desde os conflitos próprios da infância, passamos pelos conflitos pessoais da adolescência e, hoje, visitamos pela maturidade, continuamos a viver com o conflito intrapessoal ou interpessoal […]. São exemplos destes a briga de vizinhos, a separação familiar, as guerras, o desentendimento entre alunos.

Ao acompanhar os meios de comunicação, é perceptível o aumento expressivo nos índices de violência envolvendo jovens, o que é preocupante, haja vista que os conflitos e a condução para solução deveriam ser pautados no respeito e mediado pela justiça, e não pela violência. Segundo Berg (2017, p. 299), “o índice de mortalidade de adolescentes, que vem crescendo ultimamente, também preocupa e demostra a violência que prevalece no país, muitos não chegam nem a fase adulta”.

De acordo com os especialistas, um dos grandes desafios no ambiente escolar vem sendo o fenômeno crescente da violência, que segundo Vinha et al. (2011, p. 266) “[…] o aumento da violência e dos conflitos também tem sido identificado nas instituições educativas, os alunos geralmente optam pela resolução de seus conflitos com colegas através da agressão, verbal ou física”. Para o autor, trata-se de um reflexo da própria sociedade em que impera um alto preconceito, marcado principalmente pela desigualdade social, que evidencia a intolerância, desrespeito ao próximo aumentando os índices de violência em todos os cenários. Complementando esse entendimento, Chrispino (2007, p. 216) lista algumas causas para conflitos no ambiente escolar:

Com a massificação, trouxemos para o mesmo espaço alunos com diferentes vivências, expectativas, sonhos, valores, culturas e com diferentes hábitos, mas a escola permaneceu a mesma! Parece obvio que este conjunto de diferenças é causador de conflitos que, quando não trabalhados, provocam uma manifestação violenta. Eis, na nossa avaliação, a causa primordial da violência escolar.

Ainda segundo o autor supracitado, em sua maioria, os professores não estão preparados para mediar os conflitos de forma saudável, haja vista que os alunos não conseguem compreender que um diálogo respeitoso é o ponto principal para se chegar a uma solução do conflito e que as partes envolvidas não saiam machucadas. Vinha et al. (2011, p. 271), complementando esse entendimento afirmam que:

Escolas que trabalham numa perspectiva construtivista encaram os conflitos como naturais, necessários ao desenvolvimento da criança, assumindo parte importante do currículo e não sendo considerados apenas problemas que precisam ser administrados. São vistos como excelentes oportunidades de para se trabalhar regras e valores por indicarem o que a criança precisa aprender.

Ainda segundo o autor, é notório que a situação conflitosa precisa ser mediada e acompanhada com atenção, não podendo desconsiderar achando que irá se resolver sozinha. Para isso, é preciso conduzir de forma respeitosa para que os envolvidos no conflito possam chegar a um entendimento. Para Vinha et al. (2011), a maioria dos métodos colocados em prática pelos professores não apresentam um resultado satisfatório, pois, de certa forma, não são conduzidos de forma respeitosa e ética como deve ser proposto por uma instituição de ensino. Assim, como consequência, não é alcançado uma solução do conflito, gerando na verdade prejuízos diretos ou indiretos para as partes envolvidas. Com isso “O professor acaba se sentindo despreparado para mediar conflitos, tanto de aluno para aluno, quanto de aluno para professor” (CHRISPINO, 2007, p. 216).

Complementando esse entendimento, Vinha et al. (2011, p. 275) destacam que “a fragilidade pedagógica e organizacional, bem como a falta de projetos que atentem práticas restaurativas, são grandes dificultadores para a mediação dos conflitos na escola”. No entanto, é de suma importância estabelecer um ambiente de harmonia e paz na instituição de ensino, para que tal ação reflita na própria sociedade.

No entendimento de Vicentin (2011, p. 244) sobre essa temática, “diversas situações de conflitos entre pessoas ocorrem em nosso meio quase que diariamente, essas situações podem ocorrer tanto na família, no trabalho e nas mais diversas situações”. Segundo o autor, seja qual for o contato feito, a ação poderá resultar na exposição do conflito, haja vista que cada pessoa tem um ponto de vista e as ideias e modo de ver a situação é diferente para cada um. Contudo, para que o conflito seja resolvido, é preciso que as pessoas sejam receptivas, estejam de bem consigo mesmas e compreendam o ponto de vista do outro. Segundo Vicentin (2011, p. 237) a resolução para o conflito pode resultar no distanciamento entre uma das partes envolvidas, ou seja:

Na convivência diária com a pessoa que tende a agressividade está condição é comum, já que os conflitos interpessoais como já citamos fazem parte da natureza humana e das diferenças das pessoas. Sendo assim, as pessoas que tendem a resolver suas diferenças com outras pessoas de forma agressiva ou violenta normalmente são rejeitas pelo entorno social e até mesmo pelas pessoas mais intimas, como os familiares.

Em contrapartida, o autor menciona ainda que com a autoestima baixa, juntamente com a dificuldade de demonstrar um certo sentimento sem agredir a outra parte, pode de certa forma refletir um estilo agressivo. Para os especialistas, “[…] quando uma pessoa é agressiva ela sofre com problemas internos, mesmo que ela não perceba imediatamente” (VICENTIN, 2011, p. 237). Tal fato acontece, pois, a pessoa se sente inferiorizada, que está sendo usada, gerando relações de conflito, assim como também há a dificuldade em estabelecer uma relação de convívio com as outras pessoas.

Contudo, no momento de desentendimento, a pessoa que faz uso de estratégias afirmativas, ou seja, estabelece um diálogo e demonstra respeito e honestidade nas suas palavras, transmitindo seu ponto de vista sem agredir ao outro, faz com que a outra parte também se expresse sem elevar o tom da conversa, expressando, de forma respeitosa, seu ponto de vista. Segundo Chrispino (2007, p. 218) esta é a “forma correta de chegar a uma solução e posteriormente um resultado positivo e de forma justa para ambos os lados”.

Segundo o autor, esse tipo de conduta gera resultados positivos, haja vista que “essas ferramentas não acarretam danos a si mesmo, assim como para os outros envolvidos, contribuindo assim para um ambiente mais tranquilo e que desenvolve a paz entre as pessoas” (CHRISPINO, 2007, p. 16). O autor explica ainda que, todo conflito que é conduzido de forma respeitosa, sem desafiar o outro de forma agressiva, tem chances maiores de ser resolvido com possibilidades no desenvolvimento cognitivo e também afetivo.

No entanto, para que ocorra um desenvolvimento cognitivo, faz-se necessário que “ocorra acerca das diversas circunstancias de um conflito, já que a solução afirmativa engloba o falar e o ouvir e todas as discussões e as mais variadas possíveis soluções que foram pensadas e discutidas, surgem das respostas e soluções de outros evolvidos” (VICENTIN, 2011, p. 239). Em relação ao desenvolvimento afetivo, este tem como base uma contestação e manifestação de sentimento entre as partes. Dessa forma, também irá contemplar sentimentos e características únicas de cada um dos envolvidos no conflito, favorecendo para o restabelecimento do bem-estar dos envolvidos na situação conflituosa. Ainda sobre essa temática, o autor explica que:

Partindo desta discussão sobre as tendências de reação diante dos desentendimentos uma questão surge: será que os sujeitos tendem a adotar estilos únicos de resolver conflitos? No cotidiano observamos pessoas que hora agem de uma maneira, ora de outra, muitas vezes usando estratégias opostas, como a agressividade e a submissão. É comum também observarmos indivíduos que adotam determinadas estratégias dependendo do contexto que estão. Quem nunca tomou conhecimento de uma pessoa que reage de forma submissa no trabalho, porém é inflexível e exigente com seus familiares, podendo chegar inclusive à agressividade física (VICENTIN, 2011, p. 241).

Para um melhor entendimento dessa temática, o autor supracitado cita técnicas que podem ser utilizadas para solução dos conflitos interpessoais, assim como sobre as prováveis incompatibilidades, que são: “[…] agressivo, submisso e assertivo, acompanha repercussões pessoais e interpessoais. […] o número de pessoas que resolvem os conflitos de forma agressiva parece estar aumentando, especialmente entre os jovens” (VICENTIN, 2011, p. 241).

Segundo o autor, o comportamento agressivo de uma das partes acaba exercendo uma coerção, desrespeitando não somente a opinião do outro, mas também seus sentimentos. Com relação a atitude submissa, Vicentin (2011, p. 288) explica que “apesar do fato de aparentar ser inocente, é tão ou igual mais prejudicial do que o agressivo, pois ele contribui para a ligação de desigualdade e de injustiça”. Com isso, o autor entende que mais na frente pode ser desenvolvido um sentimento de inferioridade e infelicidade que pode perpetuar por toda a sua vida adulta. Já em relação ao estilo assertivo, segundo Vinha et al. (2011, p. 301) “é aquele que contribui para o bem-estar próprio e interpessoal. Certamente nos questionamos qual o pretexto que uma pessoa tem ao resolver seus desentendimentos de determinada forma ou de outra?”

Observa-se assim que alguns questionamentos estão envolvidos no tema em questão, sendo este complexo e extenso, mas que devido a sua importância para o contexto atual é preciso ser discutido analisando as possibilidades de agir no contexto familiar e no ambiente escolar, para sanar os conflitos de forma harmoniosa e respeitosa. Assim, tendo como premissa de que ninguém nasce com o instinto agressivo, assertivo ou mesmo submisso, e levando em consideração a forma como o outro é acolhido no convívio social. Vicentin (2011, p. 258) destaca que:

[…] além das ações que ocorrem no momento do conflito, costumam levar os alunos a desequilíbrios internos necessários para a construção de estruturas psicológicas mais evoluídas. Estamos certos também que favorece nos alunos ações mais assertivas diante dos desentendimentos interpessoais não é possível com intervenções únicas ou com soluções pré-determinadas.

Complementando o entendimento do autor supracitado, Vinha et al. (2011, p. 278) citam como opção para mediar os conflitos a Justiça Restaurativa, que de acordo com sua proposta se aplica da seguinte forma: “após a ocorrência do conflito, reunir todos os envolvidos para que entrem em um consentimento acerca de como lidar com as circunstâncias do ato e as implicações posteriores”. Segundo os autores, o mediador seria um adulto habilitado para tal função, sendo envolvido posteriormente representantes para conduzir a mediação para as partes envolvidas. Na prática restaurativa, Vinha et al. (2011, p. 278) citam os princípios que fundamentam essa ação, que são: “diálogo, respeito mútuo, horizontalidade e construção colaborativa de acordos”.

Para avaliar se essa prática apresentaria resultados satisfatórios, foram selecionadas inicialmente três escolas públicas. No entanto, o resultado não foi satisfatório por diversos fatores, dentre eles, aceitação dos professores e gestores escolar, além da falta de um espaço destinado para tal fim. Visando superar essas dificuldades, Vinha et al. (2011, p. 290) sugeriram:

Essas considerações relacionadas às dificuldades dos educadores indicam que um processo eficiente de estudo não pode ocorrer apenas de forma eventual; é preciso que seja periódico e sistemático. É necessário constantemente estudar; aplicar; analisar; discutir; comparar; relacionar; trocar e refletir […], num processo contínuo, atuando nos sistemas solidários do ‘fazer’ e do ‘compreender’ do educador.

Observa-se com a explicação dos autores supracitados que ao tratar sobre o tema conflito, é preciso fazer uma relação com a liberdade e empoderamento consciente, em outras palavras, “em capacitação para o mediador, afinal o conhecimento e o saber não vem do nada, é preciso estudar para compreender e saber fazer, é necessário buscar cada vez mais, pois as transformações são constantes” (VINHA et al. 2011, p. 290).

Para os especialistas, a violência é resultado das ações da sociedade, contudo, no ambiente escolar é preciso um olhar diferenciado para não refletir essa realidade. Dessa forma, é de suma importância que sejam desenvolvidos projetos para a comunidade escolar, propondo técnicas de mediação, que possibilitem um diálogo entre as partes, permitindo que seja feita uma reflexão das ações, compreendendo as consequências dos atos.

2.1 Da indisciplina na sala de aula à violência no ambiente escolar

Ao fazer uma análise sobre o tema violência, percebe-se que este inicia-se contra uma pessoa e a ameaça é uma violência, que pode provocar danos tanto de ordem física ou material, sendo este visto como sendo uma violação da liberdade moral dos outros. As ameaças acontecem entre pessoas do mesmo sexo, opostos, faixas etárias diversificadas, nas escolas, na vizinhança, no trabalho, ou seja, em todo lugar onde você tiver contato com os outros elementos.

Grande parte das ameaças entre os estudantes e os professores advém das condições relativas ao comportamento dentro e fora da sala, ausência nos trabalhos pedidos e principalmente em relação às notas. Conforme citação da autoria; se ele (o professor) não for um pouco bonzinho, acabará se machucando, no contrário se o professor for fazer uso das suas atribuições dentro do que deve ser, ele sairá machucado, assim como destacado por Berg (2017, p.50).

Fica uma situação insustentável entre alunos e mestres em decorrência destes fatos, que por qualquer motivo, desencadearia um problema de relevância imprevisível. Sobra também para os funcionários mais graduados, como coordenadores, diretores, dentre outros, acontecendo devido às penalidades mais sérias, como suspensões, conversas com os responsáveis ou até chegando à expulsão do aluno infrator. Sem se quer falar nada diretamente, os alunos tendem a ter uma reação e forma grosseira, agressiva ao extremo, devido ao roteiro adotado por professores e que são por eles tidas como uma violência à sua rotina, normalmente devido ao regulamento da escola, que são cotidianas como a disciplina, os horários e a data prevista no calendário escolar, das provas que serão aplicadas, para testar os conhecimentos e o aprendizado ministrados. Porém, raramente eles dizem o porquê ou quais paralelos, compreendem no universo escolar; como violação dos seus direitos, que devam ser rechaçados com diversas ameaças.

Quanto às ameaças devem ou não gerar agressões físicas, o que iria ocasionar um terrível ambiente desfavorável a um bom relacionamento interpessoal, entre as partes envolvidas. Estatísticas revelam que muitas violências são cometidas a partir dos estudantes com agressões físicas, pois eles não temem pelas punições ou retaliações. Ao analisar as brigas, Abramovay e Rua (2003, p. 52) destacam parte de uma conversa com o grupo focal de alunos de escola pública de São Paulo.

É o cara que se você esbarrar nele, você pode jurar que já ta morto. Olha mais morto mesmo! Teve uma ‘treta’ (briga) aqui que ataram o cara e esfregaram a cara dele no muro; desse de pedra, sabe? Esfregaram e rasgaram a cara dele todinha. Empurraram ele nos espinhos.

Mediante análise da citação acima, reforça-se que as brigas possuem um elevado grau de significância dentro dos diferentes tipos de violência dentro das escolas. Elas são muito usuais nos estabelecimentos de ensino, tendo abrangência dos modelos social dos adolescentes, até aos métodos mais brutais que são conhecidos por eles. O modo de agredir, que é usualmente utilizado, começa por verbalizar ameaças e sentir-se “poderoso”, falta não reação do oposto. É nesse momento que se torna muito mais problemático, por limites entre o tolerável e o insuportável, não sendo possível fixar a responsabilidade dos alunos.

Berg (2017, p. 201) ainda afirma que, “normalmente, fica quase impossível dizer o que são ameaças ou brigas, não se tendo condições de traçar parâmetros comparativos entre ambos; o mais comum são as discussões e os empurra-empurra”. As desavenças são tidas como fatos do cotidiano, beirando a vulgarização do ato de violência e a sua oficialização como um modelo das soluções dos problemas, por eles criados. Na maioria das vezes, as brigas acontecem devido a certos tipos de brincadeiras entre eles, tendo ou não consequências mais violentas. No entanto, as próprias brincadeiras iniciam e terminam em brigas, pancadas.

As estatísticas apontam que irá prevalecer entre os estudantes, uma condição comportamental que dispensa à autoridade policial ou mesmo até os familiares para ajudar a solucionar as querelas existentes, que são executadas por um conjunto de pessoas; devendo incentivar novas confusões. Essa condição de reagir às violências sofridas é um dado de suma importância, que faz parte da educação cultural que integra a mesma violência no mundo dos estudantes.

Com tudo isso, é motivo para partirem para brigar e acertar as diferenças entre si. Um fator também preponderante é a desavença entre os alunos de classes diferentes, como também de outros turnos; conforme comentário: “eu acho que só porque são do terceiro, imaginam que possam mandar no colégio” (ABRAMOVAY; RUA, 2003, p. 52).

Na maior parte das vezes, os estudantes do período noturno, dizem que são hostilizados pelos que estudam no turno diurno, conforme os membros diretores afirmam, e que devido a serem mais velhos, existe a suspeição de que já mexem com o narcotráfico e praticam roubos ou assaltos. Sem contar da confrontação de alunos de outros colégios, que disputam a “primazia” de serem os mais valentes, poderosos, capazes de resolver tudo com exacerbada violência, dentro e fora do seu bairro, a limitação dos locais de determinados grupos não permitem a “invasão”. Existe o mútuo auxílio entre os estudantes de determinados colégios e os colegas, saem em seu auxílio para brigarem (BERG, 2017).

Atualmente, o que mais se tem noticiado é sobre a violência sexual, muito mais que outros crimes, perpetrados contra as pessoas. Ela gera sérios problemas, principalmente entre os mais jovens, não sendo vistos como crime, sério e cabível de punição, sendo assim, conhecendo a impunidade, os agressores, indivíduos com comportamento doentio, se aproveitam.

A violência sexual, não é somente a que é submetida ao ato sexual, pode ser encarada como um gesto, um afago, propostas indecorosas, dentre outras. Na escola, por exemplo, o assédio sexual na maioria das vezes, parte do educador, professor, para o aluno, normalmente o foco são as pessoas do sexo feminino, que inclui as chamadas “brincadeiras” e chegando até ao estupro.

Tanto podem partir dos adultos que compõem a escola, como também dos alunos; não é difícil ouvir comentários sobre assédios homossexuais recebidos pelos rapazes que também não estão livres deste tremendo e grave abuso do desvio de conduta do agressor.

Vários são os depoimentos, que relatam convites aos jovens para irem a um motel, mediante pagamento, aproveitando-se, na maioria das vezes, as carências dos alunos em geral, incentivando com esta ação, o início para a prostituição. Se culpa as moças, por serem “provocativas”, em relação às vestimentas, o modo de ser, o seu relacionamento, algumas escolas optam por restringir o uso de roupas, que não convém ao estabelecimento de ensino, ajuda muito, mais ainda é insuficiente.

Em diversos depoimentos, quanto ao assédio parte dos professores, a coordenação da escola toma as medidas cabíveis, no entanto, o que mais acontece é a mera “ameaça” de comunicar o caso à polícia, as escolas têm aversão a esse tipo de acontecimento, pois iria ocasionar um imenso descrédito em relação a comunidade estudantil, quanto a sua autoridade e principalmente competência para educar centenas de jovens em formação. Um depoimento dentro da estatística, realçou a proposta de um educador para que se fizesse “programas”.

Aconteceu também no meu colégio e realmente existia o assédio mesmo. Eu ficava conversando com o professor no colégio. Estava desempregado, e necessitando de dinheiro, foi então que ele disse: ‘eu sei um jeito fácil de você ganhar dinheiro’, não dando importância ao fato, imaginei que tudo não passava de uma brincadeira. Foi quando por curiosidade, tempos depois, eu perguntei: ‘professor, qual é o tipo de trabalho?’ Então ele falou: é que existem uns amigos meus que saem assim, é um dinheiro fácil; pedi que explicasse melhor, foi quando ele falou, para a minha surpresa, que se tratava de um programa como homossexuais. Não comentei com ninguém, mas disse a ele que caso viesse acontecer de novo eu iria lhe arrumar uma confusão e levaria o fato a diretoria do colégio’ (Grupo focal com alunos, escola pública, em Vitória, ES). (ABRAMOVAY; RUA, 2003, p.53).

No caso de conflitos, confusões e brigas, a primeira coisa a ser utilizada são as armas, no contexto atual da sociedade contemporânea, chegando até aos estabelecimentos de ensino. Eles acham que se tornam temidos e os maiorais, por serem portadores de algum tipo de armas; que irá impor moral por conta desse tipo de procedimento.

Devido à facilidade de se adquirir qualquer tipo de arma, as de fogo, as chamadas armas brancas, tipo punhal, faca, e o que se tem em casa na cozinha. De nada adiantou a lei que proíbe o porte de armamento, muito pelo contrário, fez foi aumentar o contrabando e a venda ilegal, para quem se dispuser a pagar o valor cobrado; conforme as estatísticas nacionais e internacionais sobre o fato.

No Brasil, os números apontam que o número de armas de fogo, apreendidas nas escolas, é bem menor do que das armas brancas, facilmente encontradas, até mesmo dentro de casa. Utilizam-se de chaves de fenda, correntes de bicicletas, facas de pão, dentre inúmeras outras.

Conforme dados coletados pelas autoras; algumas vezes, os indivíduos imaginam que somente o revolver é uma arma, esquece-se, que existe dezenas de armas que diariamente ceifam, as vidas humanas; conforme comentário de um educador tinha na sala dele, “um aluno que todo dia, durante a aula, portava uma faca de tamanho pequeno, tão letal como um revólver, tesoura, um punhal etc.” (ABRAMOVAY; RUA, 2003, p.54).

O centro pedagógico das instituições escolares comenta que é usual acharem com os alunos armas, dos mais diversos tipos. Para alguns pais (não tão responsáveis, como deveriam) acham natural os filhos andarem armados para se defenderem, ao invés de inibir o seu uso, eles até incentivam essa prática amoral. Os estudantes alegam que é fácil comprar armas de fogo, por meio dos colegas. Eles conhecem as particularidades para a compra e comentam: “depois você paga, vai pagando pouco a pouco e com todas as facilidades de pagamento”. (ABRAMOVAY; RUA, 2003, p.55).

Em várias regiões, sequer era exigida a autorização para a compra de armas. Criou-se um empecilho maior com a “lei do desarmamento”, tendo na própria polícia, como um dos maiores fornecedores. Existem também as armas de brinquedo, importados, que são verdadeiras cópias dos originais, e os alunos se aproveitam da falta de punição, para portarem e amedrontar os seus colegas.

Há um percentual, em torno de 9% a 18% dos alunos, alegaram ter visto os alunos portando armas de fogo dentro da escola. No entanto, a diretoria averiguou e chegou a concluir que entre 2% a 8%, bem menor que o percentual dos alunos, os membros que fazem a escola, usam armas, sendo que não são notados e nem notificados, conforme mencionado por Abramovay e Rua (2003, p.54).

O porte de qualquer tipo de armas assinala não tão unicamente efetivas violências, como também etapas que vulgarizam atos violentos, até quando não são informadas. Deve ser levado em consideração o acesso fácil que os alunos têm às armas pertencentes aos pais e outros da família, não se tendo o cuidado de manter escondida, a fim de evitar transtornos futuros.

Enquanto existir entre os estudantes uma cobertura em relação a quem porta, quem negocia, empresta e que cedo ou tarde, irão desencadear a violência, há necessidade de se acabar com esta condição cultural, entre os alunos, e, infelizmente, o percentual tem aumentado de forma negativa o número de meninas que passaram também a se utilizar das armas, e as usam quando há um conflito entre elas. Ao responder a uma estatística, os professores de escolas públicas mostraram-se sem condições de tentar proibir o acesso de alunos armados.

Como outro modelo de violência, é a destruição do que pertencente à escola, tais como muros pichados, cadeiras destruídas, banheiros com desenhos e frases obscenas, o equipamento pertencente a todos, independentemente de ser um patrimônio do domínio público. É um ato de vandalismo social contra o estabelecimento de ensino.

Pesquisas realizadas indicam que é maior a ação dos vândalos quando são associadas às gestões administrativas escolares, que fazem uso do autoritarismo, sem diálogos, ou ao contrário, deixam ao largo e fazem vista grossa aos problemas que existem e deveriam ter uma solução, afim de evitar algo pior. Devido aos diretores e os educadores que ignoram os alunos, não observando o quanto é importante escutá-los e também devido a constantes trocas de diretores e professores, que migram para outras profissões.

3 MEDIAÇÃO ESCOLAR COMO INSTRUMENTO DE CONSCIENTIZAÇÃO SOCIAL

Ao tratar sobre o tema mediação de conflitos pelo diálogo, destaca-se o entendimento de Chrispino (2007), que defende o posicionamento de que a massificação da educação proporcionou um aumento na quantidade de alunos, trazendo para o ambiente escolar pessoas de culturas distintas, tendo como consequência uma ampliação do campo de conflitos e debates devido ao convívio social diversificado.

Ainda, segundo Chrispino (2007), o conflito não necessariamente apresenta-se como algo negativo, ruim, ou que deva ser evitado, pois, dependendo da forma como é tratado, o conflito, por ser uma manifestação natural na relação ente os homens, é visto pelos especialistas como necessário para o desenvolvimento humano, para os grupos sociais, assim como no âmbito cultural e político. Chrispino (2007, p. 17) destaca os pontos positivos do conflito, que na maioria das vezes não são levados em consideração por aqueles que acreditam que o conflito gera apenas danos negativos, a saber:

Ajuda a regular as relações sociais; ensina a ver o mundo pela perspectiva do outro; permite o reconhecimento das diferenças, que não são ameaça, mas resultado natural de uma situação em que há recursos escassos; ajuda a definir as identidades das partes que defendem suas posições; permite perceber que o outro possui uma percepção diferente; racionaliza as estratégias de competência e de cooperação e ensina que a controvérsia é uma oportunidade de crescimento e de amadurecimento social

Como pode ser visto, trata-se de um tema complexo, pois deve-se analisar o contexto em que está ocorrendo o conflito, assim como as partes envolvidas nele. Jares (2007) complementando o entendimento do autor supracitado, destaca a impossibilidade em determinar uma resposta contundente que posso ser aplicada eficazmente em todos os conflitos.

No caso da violência, Silva (2016) vê como um ato gravíssimo de transgressão do homem em sociedade, isso porque, afeta não somente o físico, mas também a integridade, a saúde ou mesmo a liberdade devido a ação praticada pelo outro. No entendimento do autor, ir de encontro ao direito do outro é um desrespeito, além de deficiência do próximo em não saber lidar com as diversidades, que resultam em agressões entre alunos e professores.

No contexto escolar, a violência, no entendimento da socióloga Charlot (2002) apresenta-se como um correlato da sociedade como a escola, assim como também da correlação entre às práticas definidas pela instituição e ensino e as políticas públicas, sendo visto também, tanto no âmbito da sociedade como da educação, uma manifestação que substitui a palavra, haja vista que este se manifesta quando não existe a possibilidade de uma comunicação por palavras.

Diante de tudo que vem sendo visto, nos últimos anos, a violência no ambiente escolar vem tomando grandes proporções que afetam o meio social, o que é preocupante, pois tais práticas conflituosas preocupam não somente o meio acadêmico, mas se apresenta como objeto de preocupação da sociedade em geral.

Fazendo uma leitura na literatura acadêmica, observa-se que há uma indicação para que as práticas de boa convivência sejam desenvolvidas, pois trata-se de uma prática importante e indispensável para manter um ambiente inclusivo e acolhedor nas escolas, com um relacionamento fundamentado no diálogo e assim os conflitos sejam resolvidos através da comunicação. Sammons (2008, p. 298) destaca então o papel do diretor escolar para a manutenção e cumprimento das diretrizes escolares, incluindo nesse contexto, a mediação de conflito, pois, “[…] dependendo desse agente, sobremaneira, a manutenção de um clima escolar favorável e adequado ao desenvolvimento de todos”.

Bordenave (1991) também destaca, para consecução da educação, dois importantes fatores, que são a comunicação e o diálogo, sendo o principal propósito da escola o desenvolvimento educacional. Assim, ao propor a mediação no ambiente escolar, este não se limita apenas a resolução de conflitos, visando também a prevenção, de modo que sejam propostos projetos educativos interdisciplinares, de modo que seja estabelecido um novo olhar para o problema, promovendo assim a cultura de paz, com o intuito de propagar sentimento de respeito mútuo e de tolerância.

4 CONCLUSÃO

Com o desenvolvimento do estudo, observou-se que, como parte da sociedade, as instituições de ensino passam por diversos conflitos, seja por casos de bullying, indisciplina em sala de aula, agressão física entre alunos. Mas, os conflitos não se limitam apenas entre alunos, sendo percebido também entre aluno e professor, professores e gestão escolar e escola entre pais.

Nas instituições escolares, para mediar os conflitos nas escolas, um dos maiores desafios é proporcionar um ambiente de trabalho integrado e construtivo, em favor do ensino e atendendo nas necessidades de toda comunidade escolar, assim como desenvolver projetos valorizando as relações interpessoais.

Essa não é uma tarefa fácil, e para ajudar, a mediação vem sendo proposta como instrumento para intermediar as intervenções de modo que todos tenham condições necessárias para construir uma relação social saudável, a partir do diálogo e pacificação social.

REFERÊNCIAS

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