A LUDICIDADE NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12803336


Claudia Andrade de Castro Ribeiro
Juliana Cristina Santos
Estela Aparecida Oliveira Vieira


RESUMO: O lúdico no processo de ensino e aprendizagem é um instrumento que contribui em diversas habilidades do sujeito, sendo capaz de promover o aprendizado dos estudantes de maneira mais divertida. A partir deste olhar nos propomos a investigar, por meio de uma revisão de literatura, a importância do lúdico no processo inclusivo da criança com necessidade especial na escola. A partir da proposta de um estudo exploratório, fundamentado em revisão narrativa e análise qualitativa dos dados, buscamos na literatura livros e artigos que respondessem ao objetivo do estudo. Assim, os resultados e a discussão apresentada refletem a visão das autoras sobre o tema e dão ênfase na discussão da ludicidade como uma forma didático pedagógica de trabalhar a inclusão, enfatizando autores que corroboram com esta concepção, como: Winniccott; Stainback e Stainback; Rojo; Mantoan; Kishimoto; Huizinga entre outros. A revisão demonstrou que a ludicidade contribui positivamente para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social das crianças. A prática lúdica, integrada ao ambiente escolar, facilita a aprendizagem e promove um ambiente inclusivo e acolhedor. Os trabalhos indicam que o lúdico deve ser utilizado como estratégia pedagógica para promover a inclusão, respeitando e valorizando as diferenças individuais dos estudantes. Conclui-se que o lúdico é fundamental no processo de ensino e aprendizagem, especialmente para crianças com necessidades especiais, promovendo prazer na aprendizagem e desenvolvendo diversas capacidades cognitivas, motoras e sociais. Assim, a inclusão deve respeitar as diferenças individuais, criando atividades e espaços acessíveis que valorizem a identidade única de cada estudante.

Palavras-Chave: Inclusão. Ludicidade. Aprendizagem. Conhecimento.

ABSTRACT: The playful element in the teaching and learning process is an instrument that contributes to various abilities of the individual, being capable of promoting students’ learning in a more enjoyable manner. From this perspective, we propose to investigate, through a literature review, the importance of playfulness in the inclusive process of children with special needs in school. Through the proposal of an exploratory study, based on a narrative review and qualitative analysis of data, we sought in the literature for books and articles that answered the objective of the study. Thus, the results and discussion presented reflect the authors’ view on the topic and emphasize the discussion of playfulness as a didactic-pedagogical way of working on inclusion, highlighting authors who corroborate this conception, such as: Winnicott; Stainback and Stainback; Rojo; Mantoan; Kishimoto; Huizinga, among others. The review demonstrated that playfulness contributes positively to the cognitive, emotional, and social development of children. The playful practice, integrated into the school environment, facilitates learning and promotes an inclusive and welcoming environment. The works indicate that playfulness should be used as a pedagogical strategy to promote inclusion, respecting and valuing students’ individual differences. It is concluded that playfulness is fundamental in the teaching and learning process, especially for children with special needs, promoting pleasure in learning and developing various cognitive, motor, and social capacities. Inclusion must respect individual differences, creating accessible activities and spaces that value each student’s unique identity.

Keywords: Inclusion. Playfulness. Learning. Knowledge.

1. INTRODUÇÃO

O ser humano possui uma necessidade inata de se dedicar a atividades lúdicas independente da cultura ou idade. Huizinga (2000) distingue jogos e brincadeiras e atividades planejadas, destacando que o jogo é uma função cultural essencial que contribui para a formação da sociedade e da cultura. Em contraste, brincadeiras e atividades planejadas podem estar mais alinhadas com objetivos educativos ou recreativos, mas não possuem necessariamente a espontaneidade e a liberdade inerentes ao jogo puro. Huizinga enfatiza que a ludicidade está presente em todas as esferas da vida e que a decadência do elemento lúdico na cultura moderna representa uma perda significativa para a humanidade. Ele argumenta que o jogo é uma atividade voluntária e prazerosa, realizada dentro de certos limites de tempo e espaço, e regida por regras que são aceitas livremente, mas que são absolutamente obrigatórias durante o jogo, proporcionando uma sensação de alegria e tensão, para o autor, a cultura humana surge e se desenvolve sob a forma de jogo, sendo o jogo um aspecto essencial da vida social e cultural.

A ludicidade é vista por Kishimoto (1998) de forma abrangente, ela diferencia claramente os momentos de brincadeiras, jogos e atividades. Para ela, a ludicidade é um fenômeno cultural e social que envolve prazer, espontaneidade e liberdade nas atividades, sendo essencial para o desenvolvimento integral do indivíduo, permeia diversas formas de interação e aprendizado. As brincadeiras, segundo Kishimoto, são atividades espontâneas, muitas vezes sem regras fixas, a imaginação e a criatividade das crianças são predominantes, sendo caracterizadas pela liberdade de expressão e pela exploração do ambiente. Por outro lado, os jogos são atividades estruturadas com regras definidas e objetivos específicos, muitas vezes envolvendo um elemento de competição e requerem a aceitação das regras por todos os participantes e podem variar de simples a complexos. Já as atividades são tarefas planejadas que podem ter objetivos educacionais específicos e podem ou não envolver elementos lúdicos, são geralmente guiadas por um facilitador e são estruturadas para promover o aprendizado ou desenvolver habilidades específicas.

A Ludicidade segundo Kishimoto (2017) está relacionada ao brincar, uma ação livre iniciada e conduzida pela criança que proporciona prazer, relaxamento, e desenvolvimento de habilidades. O brincar é uma forma de expressão e comunicação para a criança, a ajudando a compreender e explorar o mundo ao seu redor, tanto no plano real quanto no imaginário. No entanto, para a autora a criança aprende a brincar, sendo este um processo que se dá mediado por outras crianças e adultos, promovendo o desenvolvimento cognitivo, emocional e social da criança. O jogo  para Kishimoto é uma importante manifestação da ludicidade, sendo uma atividade espontânea, prazerosa e voluntária, que segue regras específicas e envolve a participação ativa dos jogadores, podendo ser, por exemplo, jogos simbólicos ou de regras. 

Por conseguinte, a prática lúdica contribui de maneira benéfica para a aprendizagem, socialização, controle de emoções e ansiedade, devendo ser vista não apenas como uma forma de diversão ou passatempo, mas como uma estratégia pedagógica. Para Moraes et al (2021) estas suas características pedagógicas precisam ser especialmente consideradas principalmente no processo inclusivo que ainda avança lentamente nas escolas. O lúdico se destaca como um excelente recurso pedagógico nesse contexto, pois a metodologia lúdica no contexto escolar propicia uma didática prazerosa, que envolve a disciplina, a imaginação, fatores cognitivos, superação de medos, desafios, explorando raciocino, regras, limites, socialização e autonomia.

Do mesmo modo, o ambiente lúdico facilita a aprendizagem ao possibilitar o engajamento das crianças de forma ativa e prazerosa, tornando o processo educativo mais significativo e eficaz. A integração da ludicidade e da aprendizagem em um ambiente propício, de práticas planejadas com intencionalidade pedagógica, é sugerida por Kishimoto (2017). A autora propõe que educadores usem jogos e brincadeiras como ferramentas para atingir objetivos educativos específicos, promovendo um ambiente de aprendizagem dinâmico e motivador, no qual possa-se expressar a criatividade humana através do brincar e do jogo. Nesse ambiente as crianças são estimuladas a desenvolver sua imaginação, experimentar novas ideias e soluções e expressar sua criatividade de maneira única e inovadora. 

Uma vez que a ludicidade é inerente ao desenvolvimento humano, ela contribui como ferramenta no processo de ensino e aprendizagem de todos os estudantes. A literatura destaca inúmeros resultados positivos do emprego do lúdico como estratégia metodológica para os estudantes durante seu processo de escolarização, como apresentado no estudo de Corrêa, Silva e Pizzi (2022). Enquanto estratégia didático-pedagógica que enfatiza a liberdade de expressão e criação, tanto individual quanto coletiva, o lúdico oportuniza o desenvolvimento da criança. Este olhar sobre a ludicidade na educação nos suscitou o questionamento sobre o seu papel na educação especial na perspectiva da educação inclusiva e nos levou a propor para este trabalho o seguinte objetivo: investigar, por meio de uma revisão de literatura, a importância do lúdico no processo inclusivo da criança com necessidade especial na escola.

2. METODOLOGIA 

Neste estudo, optamos por uma abordagem qualitativa exploratória, utilizando a revisão narrativa para investigar a importância do lúdico no processo inclusivo da criança com necessidade especial na escola. A escolha desta metodologia é fundamentada na necessidade de uma ampla exploração de diversas fontes, como artigos acadêmicos, livros e relatórios, que nos permitam refletir sobre as possibilidades do uso do lúdico no ensino, na aprendizagem e no autodesenvolvimento dos estudantes inclusivos. A revisão narrativa, conforme Rother (2007), é adequada para oferecer uma visão abrangente e coesa do tema, permitindo uma análise crítica e integrativa da literatura existente. Desta forma os termos utilizados na pesquisa foram “lúdico” AND “inclusão” AND “equidade de ensino” no Google Scholar, no entanto incluímos estudos que abordam a ludicidade, o brincar e os jogos em contextos educacionais, especialmente em relação à inclusão de estudantes com deficiência. Assim, excluímos estudos que não possuíam relevância direta com o tema ou que não apresentavam dados empíricos ou teóricos significativos. Os dados coletados foram analisados qualitativamente, buscando identificar padrões, temas recorrentes e lacunas na literatura.

3. EM BUSCA DA EQUIDADE 

A educação deve ser de todos para todos e mesmo com os avanços na política de inclusão escolar ainda existem barreiras que dificultam manter e proporcionar o respeito às diferenças, o direito à escola. Mantoan (2009) defende que a inclusão escolar deve ser entendida como uma prática que valoriza a diversidade e busca adaptar o ambiente escolar para atender às necessidades de todos os estudantes, não apenas aqueles com deficiências. Isso envolve a criação de um ambiente educacional que reconheça e respeite as diferenças. A inclusão questiona tanto as políticas e organização da educação especial quanto a regular, propondo um modelo que atende às diferenças sem discriminar e sem segmentar estudantes em modalidades específicas de ensino.

No Brasil (2008) a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (PNEEPEI) representa um marco importante no contexto educacional brasileiro ao estabelecer diretrizes fundamentais para a inclusão de estudantes com necessidades especiais nas escolas regulares. Seu principal objetivo é garantir que todos os estudantes, independentemente de suas condições individuais, tenham acesso a uma educação de qualidade. Isso significa que a política reconhece e valoriza a diversidade dentro das salas de aula, promovendo um ambiente inclusivo onde cada estudante possa alcançar seu potencial máximo.

Desta maneira, documentos normativos como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais, se destina a todos os estudantes (Brasil, 2018). No entanto, este currículo necessita ser flexível e adaptativo para permitir a personalização do ensino e a inclusão de diferentes perspectivas culturais e sociais. Isso é fundamental para criar um ambiente de aprendizagem que valorize e respeite a diversidade.

Pois, se a educação é para todos, na educação inclusiva o conceito de diferença é central. Pan (2008) defende que a diferença deve ser reconhecida e valorizada como uma característica essencial da identidade de cada indivíduo, considerando-a uma parte fundamental da experiência humana que deve ser respeitada e celebrada. Em vez de ver a diferença como um obstáculo, ela a aborda como um elemento integral da diversidade humana. Pan argumenta que todas as pessoas têm o direito de serem tratadas com dignidade e respeito, independentemente de suas diferenças, como origem, habilidades ou deficiências. Assim, o direito à diferença é essencialmente um direito à inclusão e à participação plena na sociedade e na educação e a inclusão deve ser vista como um princípio orientador na educação e na sociedade, defendendo que a diferença deve ser considerada uma parte normal e valorizada da vida social e educacional. As práticas educativas e sociais devem, portanto, ser adaptadas para refletir e respeitar a diversidade cultural e social, as adaptações curriculares e pedagógicas precisam atender às diferentes necessidades dos estudantes, defendendo uma abordagem adaptativa e flexível no ensino e na gestão educacional.

Sob a perspectiva de uma educação crítica, Libâneo e Alves (2017) propõe que as desigualdades educacionais vão além da identificação dos problemas, assumindo uma postura propositiva e transformadora. Utilizando a abordagem histórico-crítica, os autores investigam as raízes socioeconômicas, políticas e culturais das disparidades educacionais, destacando os mecanismos que as perpetuam. Ele argumenta que tais desigualdades não são fortuitas, mas derivam do acesso desigual a recursos educacionais, políticas discriminatórias, padrões culturais que marginalizam certos grupos e estruturas institucionais que mantêm injustiças sociais e propõe uma educação crítica que não apenas conscientiza sobre esses problemas, mas também mobiliza para a transformação social. Isso requer conscientização crítica para enfrentar essas questões, preparando indivíduos para serem agentes de mudança através de um currículo inclusivo, que valorize a diversidade e promova o diálogo intercultural. As crianças vivem muitas diferenças de experiências adquiridas ao longo da sua vida.

Outro aspecto importante no desenvolvimento infantil é seu aspecto emocional, Winnicott (2015) explora como o brincar é essencial para o desenvolvimento emocional e psíquico das crianças. Ele argumenta que o brincar é um meio pelo qual as crianças experimentam a realidade, desenvolvem a criatividade e a capacidade de lidar com a realidade interna e externa. Através do brincar, as crianças podem expressar e trabalhar questões emocionais e sociais, o que pode ser particularmente relevante para crianças com necessidades especiais. Embora o foco principal de Winnicott não seja a inclusão no contexto escolar, seu trabalho pode oferecer insights sobre como criar ambientes de aprendizagem que respeitem e promovam a individualidade e as necessidades emocionais das crianças. A teoria de Winnicott sobre a importância do espaço de transição e do brincar pode ser aplicada para entender melhor como ambientes educativos podem ser adaptados para incluir crianças com diferentes necessidades, permitindo que todas possam explorar, interagir e se desenvolver de forma plena.

Froebel (Arce, 2004) propõe uma educação que respeite o desenvolvimento natural e espontâneo da criança, sem impor prescrições ou intervenções rígidas. Esse princípio é essencial na educação inclusiva, pois reconhece e valoriza as diferenças individuais, permitindo que cada criança se desenvolva no seu próprio ritmo. A abordagem inclusiva pode se beneficiar dessa visão ao promover uma educação que integra todos os estudantes em um ambiente harmonioso e respeitador das suas individualidades. Além disso, Froebel enfatiza a observação das atividades espontâneas da criança, como o jogo e a fala, para entender seu nível de desenvolvimento. Essa abordagem é crucial na educação inclusiva, pois permite que educadores identifiquem necessidades específicas e adaptem o ensino para atender a todas as crianças, incluindo aquelas com necessidades especiais.

A inclusão escolar perpassa a oportunidade e direitos iguais de aprender, socializar, desenvolver juntos tendo suportes necessários a cada necessidade. Stainback e Stainback (1999) aborda a ludicidade de forma a enfatizar a importância do jogo no desenvolvimento infantil, especialmente no contexto da educação inclusiva, sendo uma ferramenta fundamental para a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças. A ludicidade é um meio eficaz para incluir todas as crianças, independentemente de suas habilidades e necessidades especiais. Os autores argumentam que o jogo promove a interação social, a comunicação e a cooperação entre as crianças, criando um ambiente acolhedor e inclusivo. Eles ressaltam que o jogo pode ser adaptado para atender às diferentes necessidades dos estudantes, permitindo que todos participem ativamente e de forma significativa. Além disso apontam que o jogo facilita o aprendizado experiencial, onde as crianças aprendem fazendo, experimentando e explorando. Essa abordagem é crucial na educação inclusiva, pois respeita o ritmo individual de cada criança e valoriza suas experiências únicas.

O jogo o lúdico direcionado em sala de aula visando romper essas barreiras proporcionando a todos um ensino com equidade. O processo de ensino envolve aprendizagens que podem e devem ser adquiridas através da experiência lúdica, na qual jogos e brincadeiras são fundamentais para a construção do conhecimento e na formação cognitivas e psicológicas das crianças. Ao brincar, jogar as crianças utilizam-se da imitação de situações conhecidas, de processos imaginativos e da estruturação de regras, mesmo sendo uma situação imaginária, a brincadeira não pode dissociar suas regras da realidade Os jogos educativos revelam a verdadeira importância da brincadeira para o desenvolvimento dos estudantes, bem como para a obtenção de conhecimentos por parte dos educandos. Daí o nome “jogos educativos” tende a ocupar cada vez mais espaço em nossa linguagem de pedagogia, os jogos são importantes instrumentos de desenvolvimento de crianças e jovens (Nogueira 2020).

Na educação inclusiva, em uma visão socioconstrutivista de Vigotski, Leontiev e Elkonin (Arce, 1999) o desenvolvimento infantil é um processo influenciado pelo contexto sócio-histórico, destacando a importância de considerar o ambiente social e cultural das crianças, reconhecendo que todas têm potencial para aprender e se desenvolver em diferentes contextos. Em uma abordagem inclusiva, isso implica criar oportunidades de interação e colaboração entre todas as crianças, promovendo a inclusão social através de atividades lúdicas. Além disso, o desenvolvimento infantil não é uniforme e estático, mas sim passível de mudanças conforme o contexto histórico e social. 

As diferentes práticas de letramento podem contribuir para a inclusão de estudantes de diversas origens e contextos sociais na educação. Rojo (2009)  destaca a importância de reconhecer e valorizar os diferentes tipos de letramento que os estudantes trazem de suas experiências de vida. Isso inclui letramentos digitais, visuais e orais, além dos tradicionais letramentos escritos. Essa abordagem diversificada é fundamental para promover a inclusão social, permitindo que estudantes de diferentes origens culturais e sociais encontrem uma forma de se expressar e participar plenamente no ambiente escolar. Além disso, Rojo propõe práticas pedagógicas inovadoras, que são adaptáveis e sensíveis às necessidades dos estudantes, incentivando a criatividade e a participação ativa. No entanto, a implementação de letramentos múltiplos pode enfrentar desafios, como a falta de recursos e treinamento adequado para os professores. Pode haver também resistência por parte de algumas escolas e educadores em adotar novas práticas pedagógicas que se afastam do ensino tradicional focado exclusivamente no letramento escrito.

Para a educação inclusiva, a colaboração entre pares, a escuta ativa do professor e quando necessário a sua condução da atividade, reforça a necessidade de flexibilidade nas metodologias de ensino, adaptando-as para atender às diversas necessidades dos estudantes. A boa interação entre professor e estudante contribui significativamente para a construção da socialização e do conhecimento. Quando essa interação está ligada a uma didática lúdica, ela se torna uma grande contribuição para esse processo. Almeida (2013) complementa que as atividades lúdicas contribuem para o desenvolvimento e a aprendizagem da criança, pois colaboram na sua formação, no seu desenvolvimento pessoal e, consequentemente, no desenvolvimento de uma autoestima satisfatória. 

Rojo (2009) propõe diversas metodologias para a intervenção pedagógica que podem ser aplicadas no contexto da educação inclusiva. Entre elas, destaca-se a abordagem integrada de letramentos, que envolve integrar diferentes tipos de letramento (escrito, digital, visual, oral) nas atividades de sala de aula. Ela também sugere projetos colaborativos que permitam a colaboração e o compartilhamento de conhecimentos e habilidades entre os estudantes. O uso de tecnologias digitais é incentivado como ferramentas de aprendizagem para tornar o ensino mais acessível e relevante. Além disso, Rojo enfatiza a valorização das experiências culturais dos estudantes, promovendo um ambiente inclusivo e respeitoso.

O processo de inclusão e autonomia tem que ir além do âmbito escolar, tem que estar inserido em toda sociedade onde a criança está inserida. Sobre os recursos de tecnologias assistivas, Minetto (2008) ressalta que eliminar barreiras arquitetônicas, fazer adaptações necessárias ao espaço físico da escola, incluindo banheiros, pátios, rampas, carteiras especiais, selecionar materiais entre outros, são muito importantes. A autora enfatiza que tecnologias assistivas vão além do simples uso de ferramentas; elas são projetadas para apoiar a autonomia dos alunos e melhorar sua participação nas atividades escolares. Minetto discute como o currículo pode ser adaptado para atender às necessidades de todos os estudantes, enfatiza a necessidade de formação contínua para professores e a criação de ambientes de aprendizagem que apoiem a diversidade. 

Aranha (2010) abordando os desafios e as estratégias para promover uma integração efetiva e destaca que a inclusão vai além do simples acesso físico ao ambiente escolar, enfatizando a necessidade de garantir uma participação plena e significativa das crianças com deficiência. A autora explora a importância da criação de condições adequadas no ambiente escolar, incluindo ajustes no currículo, apoio emocional e social, e a sensibilização de educadores e da comunidade escolar. Além disso, Aranha discute a relevância do envolvimento das famílias e de políticas públicas que assegurem os direitos dessas crianças em um ambiente acolhedor.

Por meio da realização de atividades lúdicas, não existe por parte de quem as pratica, um olhar para o desigual, sendo nesse caso o de deficiência, ao contrário do que muitos imaginam. Vieira (2017) argumenta que crianças com deficiência intelectual devem ser abordadas de maneira que os docentes compreendam suas potencialidades para responder aos objetivos de aprendizagem, desenvolvimento e relações sociais. Ainda segundo a autora, para alcançar esses objetivos, as atividades devem ser projetadas para superar as limitações, indo além de simplesmente ajustar-se às insuficiências dos estudantes. Isso não implica em negar as dificuldades inerentes ao processo educacional ou à deficiência intelectual, mas sim reconhecê-las sem considerá-las determinantes e irreversíveis, ao contrário, apoiar no desenvolvimento de suas potencialidades. Os recursos lúdicos e as atividades lúdicas contribuem para auxiliar nas ações comunicativas que acontecem entre os estudantes e entre os docentes, intervenção direta e indireta do docente trás diferenças para o desenvolvimento dos estudantes, a perspectiva lúdica tem se renovado com o decorrer dos anos, onde visa substituir o ensino individual, onde cada estudante realiza isoladamente seus aprendizados.

CONCLUSÃO

Ao retomar a proposta de investigar, por meio de uma revisão de literatura, a importância do lúdico no processo inclusivo da criança com necessidade especial na escola ganha destaque o fato de que o processo de inclusão deve ser baseado no respeito às diferenças individuais, valorizando a identidade única de cada estudante. Isso envolve criar atividades e espaços inclusivos e acessíveis, reconhecendo, respeitando e potencializando as habilidades de cada um. Fica evidenciado que o brincar é fundamental para o desenvolvimento infantil, pois permite que as crianças descubram o mundo ao seu redor e aprendam a interagir com ele de maneira significativa.

Estimular a criança através da observação, exploração, associação, comparação, imaginação, simbolização e expressão é essencial para o seu desenvolvimento. Essa estimulação ocorre naturalmente através do afeto, conversas, brincadeiras e estabelecimento de regras. Assim, o uso lúdico é um dos principais pilares no processo de ensino e aprendizagem das crianças, especialmente daquelas com necessidades especiais. Ele é crucial para promover o prazer na aprendizagem e desenvolver diversas capacidades cognitivas, motoras, afetivas, éticas, estéticas, de relacionamento interpessoal e de inserção social.

Integrar o lúdico na rotina das crianças permite que elas experimentem o mundo de forma genuína e significativa. O brincar facilita a aprendizagem ao proporcionar prazer, interação e ensinamentos valiosos. A ludicidade pode ser utilizada de maneira estratégica para introduzir, reforçar ou sondar conteúdos educacionais, alinhando-se aos interesses dos estudantes e incentivando a satisfação na descoberta de novos aprendizados. Mesmo que este estudo se apresenta como uma revisão narrativa, ou seja, apresenta o viés do olhar dos autores sobre o tema, esses princípios destacam como o lúdico não apenas enriquece o ambiente educacional, mas também promove um desenvolvimento integral e inclusivo das crianças, valorizando suas individualidades e potencialidades.

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