REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10963291
Solano Pinto Cordeiro1
Maria do Perpetuo Socorro Nascimento Conceição2
Giovanni Tavares Rodrigues3
Lais Jeconias de Sena Xavier4
Maria de Jesus de Souza e Silva Simões5
Silvia Rejane Oliveira dos Santos Alves6
RESUMO – O estudo em questão destinou-se a compreender como ocorre a interconexão da Psicologia e do Serviço social no contexto da Terapia Comunitária, bem como, os papeis que cada área de atuação exerce frente à comunidade e suas ferramentas de intervenção. Este trabalho delineou-se por meio do método de revisão bibliográfica e, configurou-se em cunho documental quantitativo e qualitativo, pois todos os dados fornecidos ao largo da construção deste, foram alcançados por meio de leitura e análise, realizando-se revisão ordenada com bases de coleta de dados; e, por conseguinte a análise de dados foi feita com base nos critérios de inclusão e exclusão delineadas na metodologia. A partir da análise dos resultados, foi entendido que houve um crescimento gradativo de publicações a respeito do tema proposto e, que a Terapia Comunitária vem ganhando espaço como meio de aproximação e de intervenção no contexto social. Foi elucidado também que, a ontologia popular se apresenta levando em consideração a cultura, a realidade socioeconômica, questões étnicas e dentre outros fatores, bem como, suas contingências, o que propõe um cuidado principalmente ético no cerne da atuação profissional de Psicólogos e Assistentes Sociais como agentes facilitadores, interventivos e, esclarecendo-se seus papeis dentro do processo de atendimento à saúde.
PALAVRAS-CHAVE: Terapia Comunitária. Psicologia e Serviço Social: Interconexões. Ferramentas de Intervenção da TC. Comunidade.
1. INTRODUÇÃO
O interesse pelo tema “A interconexão da Psicologia e do Serviço social no contexto da Terapia Comunitária”, surgiu através dos estudos dispostos referenciando dúvidas a respeito da Terapia Comunitária (TC) e suas faces frente à multidisciplinaridade que circunscreve as profissões mencionadas no tema. Não obstante, ao longo deste trabalho o conceito Terapia Comunitária será tratado como TC. O primeiro passo, para que entendamos o processo de interconexão que a TC possui com as profissões aludidas é, abordar sobre o surgimento desta no contexto social como possibilidade interventiva perante as demandas da comunidade.
Para tanto, a elucidação do tema circunscreve uma quantidade de possibilidades, bem como, hipóteses a respeito de como se dá essa interconexão de profissões que abrangem a multidisciplinaridade, principalmente no campo da saúde pública, o que de certa forma permeia a produção de subjetividade e intersubjetividade frente às demandas da comunidade.
Assim sendo, a partir do tema surgiu à necessidade de delimitação do seguinte problema: Como ocorre a interconexão da Psicologia e do Serviço social no contexto da Terapia Comunitária? Ademais, esta proposição de interpelação abre margens para diversos olhares diante do tema aludido acima, bem como, amplia o caminho discursivo que se tecerá mais a frente.
Deste modo, as formações e profissões que fazem uso da TC como meio interventivo são inúmeras, no entanto a primeira hipótese em resposta ao problema se dá partindo da atuação de profissionais do Serviço social da Psicologia como campos de saberes que se desenvolvem principalmente de forma psicossocial, onde as aplicações se dão em vários lugares e ethos dentro de um panorama social/comunitário. Em uma segunda resposta, pode-se idealizar a respeito da interconexão destes saberes como promotores de espaços de fala e mediação que conduz a partilha de situações inquietantes que provocam sofrimento emocional em diversas pessoas, criando assim um ambiente favorável para que estas se sintam apoiadas pela equipe de saúde da família, e procurem buscar estratégias mais eficazes que ajudem a resolver seus problemas. Nada obstante, em terceiro lugar e não menos importante, pode-se inferir a respeito da relação da TC com estas profissões gerando direcionamentos às pessoas ao caminho da cidadania como seres de direitos, alcançando também pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Em vista disso, o Objetivo Geral deste trabalho é: Compreender como ocorre a interconexão da Psicologia e do Serviço social no contexto da Terapia Comunitária. Neste caso, compreender o fenômeno que conecta estes saberes fará com que surja o entendimento a respeito da imprescindibilidade que está em volta do fazer e da atuação destes enquanto dispositivos de medição dentro do espetáculo dos serviços de atendimento público. Partindo desta premissa, os Objetivos Específicos são: (a) Descrever o papel da Psicologia e do Serviço Social como mediadores no fazer da Terapia Comunitária, (b) Identificar ferramentas de intervenção utilizadas pela Psicologia e pelo Serviço Social no contexto comunitário; e, (c) Indicar como as ferramentas da terapia comunitária são utilizadas pela psicologia e pelo serviço social.
A relevância deste estudo está amalgamada no constructo de produção de conhecimento em conformidade com a disseminação de assuntos informativos a respeito da Terapia Comunitária como meio de intervenção, ou seja, à medida que este trabalho expõe sua temática, este estará indo em direção a um lugar que está arraigado ao cunho científico. Há também contribuição acadêmica em sentidos mais técnicos que alcancem profissionais que se interessem pela questão que aqui se explicita, bem como, social no que concerne ao contexto verossímil para pessoas que queiram entender assuntos relevantes a este mote e suas maneiras de aplicação de acordo com a realidade contemporânea.
O caráter científico deste trabalho foi fundamentado no Método de Revisão de Literatura/Bibliográfica que abrange também o meio documental quantitativo e qualitativo, ou seja, todos os recursos literários foram embasados em leituras e análise de trabalhos que compunham: livros, artigos, revistas e dentre outros materiais. Destinou-se também, ao processo de análise de dados contido nos documentos revisados e, suas características conceituais a respeito do tema proposto.
2. Desenvolvimento
De acordo com Costa (2010) a construção da TC no contexto brasileiro, se deu nos espaços clínico-ambulatoriais e, por conseguinte, se expandiu para além dos limites da qual surgirá. Ademais um dos expoentes oriundos desta intervenção, foi o médico psiquiatra Alberto Barreto, psiquiatra este que cogitou a práxis da TC no âmbito nacional, produzindo assim um livro chamado: “Terapia Comunitária passo a passo” publicada em 2005 pela Gráfica LCR Fortaleza, que possibilitou e possibilita a orientação e a atuação interventiva da TC. Pode-se evidenciar também que, não houve apenas este teórico neste campo, no entanto, trataremos a TC tendo como base os pressupostos abordados por Alberto Barreto e outros autores brasileiros.
Um dos achados referentes aos motivos pelos quais houve necessidades de engendrar uma intervenção que pudesse abarcar questões voltadas para a comunidade pressupõe-se através da ótica de Barreto (2005) que argüi a TC como sendo um meio interventivo que tem por finalidade o processo terapêutico em um cerne coletivo, isto é, “grupal” que tem como escopo o alcance da promoção da saúde e atenção em nível primário à saúde mental, bem como, elucida e direciona as pessoas ao caminho da cidadania como seres de direitos, alcançando também pessoas em situação de vulnerabilidade social. Deste modo, buscando outros conceitos:
“[…] Inicialmente essa modalidade de terapia foi denominada de “Terapia a la carte” pelo seu criador, pois naquele momento a participação de todos do grupo já era valorizada, espaço esse aberto para que cada um colocasse seu sofrimento, sua dor. O termo Terapia Comunitária foi sendo utilizado na medida em que os grupos eram realizados e discutidos com os alunos da Universidade. Hoje a Terapia Comunitária está implantada em 17 estados brasileiros. A partir das experiências nos vários cantos do Brasil, constatou-se que o mais importante é transformar o unitário em comunitário, o indivíduo em coletivo” (CAMAROTTI et al., 2010 apud COSTA, 2010, p. 9)
Caricio (2010) afirma que no Brasil a TC possui pouco mais de 22 anos e em todo território nacional estão instaurados aproximadamente 50 instituições de capacitação no contexto das Pós-Graduações Lato Sensu, onde houve cerca de 15.000 profissionais especializados nesta área. A autora afirma ainda que a TC esteja ganhando novos espaços dentro do contexto internacional e, por conseguinte, todas as formações oferecidas pelas instituições de Pós-Graduações Lato Sensu, seguem devidamente normas e critérios promulgados pela Associação Brasileira de Terapia Comunitária.
No contexto nacional tal modalidade interventiva está sendo principal ferramenta na Estratégia de Saúde da Família (ESF) que é a porta de entrada para o ingresso do usuário na rede de cuidados, as ações voltadas para a atenção integral à saúde e, deverá ser executada desde o nível básico de atenção à saúde até a alta complexidade (FERREIRA et al., 2009).
Arruda (2011) discorre que o surgimento da TC que se deu na década de 80 vem se mimetizando junto aos movimentos instaurados em decorrência da Política Nacional de Atenção Básica. Desde então, como fora supramencionado o desenvolvimento desta prática vem se integrando a saúde pública e, também na atuação dos profissionais que fazem parte da constituição histórica deste quadro. As interconexões da Psicologia e do Serviço Social são traçadas pelas formas de ingresso às equipes de atenção à saúde como, por exemplo, em programas de residência multiprofissionais. Nesse meio, os profissionais atuantes entram em contato com a interação entre equipes de trabalho que se configuram com a inter-relação com áreas diferenciais que contribuem na tomada de decisões éticas destes, isto é, essas decisões implicam na pluralidade vivencial dos seres humanos (GOMES & Silva, 2017).
O Serviço Social se apresenta como profissão inserida na divisão social e técnica do trabalho, regulamentada pela Lei 8.662/1993, que através dos planos, programas, projetos vislumbra desmistificar tal prática. Com a concepção de uma profissão crítica, contribui-se com as demais profissões esclarecendo aos diversos setores pertencentes à Política de Saúde, proporcionando clareza quanto às suas competências e atribuições profissionais (GOMES & SILVA, 2017, p. 196).
Em contrapartida o desempenho do Assistente Social se concretizou de forma a fazer parte em definitivo do grupo de profissões da área de saúde mental, o que agregou em avanços significativos na Reforma Psiquiátrica, atualizando o contexto onde eram pautados temas como saúde/doença. Para isso, o conluio da atuação do profissional em questão não se delimita apenas a visitas domiciliares e dentre outras questões que são tomadas e idealizadas de forma errônea, em relação à ótica que se tem a respeito da profissão. Deve-se levar em conta que mediante a sociedade as atribuições aqui elucidadas, vão para além de instrumentos ou ferramentas, pois se estes não forem conduzidos por intervenções, pode haver perda de rudimentos específicos à condução inclusiva de usuários dos serviços de saúde, principalmente quando se fala de saúde mental (GOMES & Silva, 2017).
Assim como foi mencionado outrora, o profissional da área de Psicologia também participou do movimento voltado para a Reforma Psiquiátrica e da Luta Anti-manicomial. Nesse contexto, atualização da psicologia no espaço da saúde, veio agindo como estopim motivacional da atuação desta dentro dos motes da prevenção e da promoção da saúde em grupos inter e multidisciplinares em espaços institucionais e comunitários (AGUIAR & RONZANI, 2007).
A psicologia (social) comunitária utiliza-se do enquadre da psicologia social, privilegiando o trabalho com os grupos, buscando colaborar para a formação da consciência crítica e “para a construção de uma identidade social e individual orientadas por preceitos eticamente humanos” (FREITAS, 1996, p. 73 apud AGUIAR & RONZANI, 2007, p. 14).
Compreende-se então que, essas profissões possuem tanto interconexões no campo da práxis quanto em questões que envolvem a historicidade que construíram e constroem suas atuações. É neste momento que a TC se imbrica como ferramenta de condensação e ordenação de grupos de profissionais de saúde que permeiam o espaço da saúde mental, isto é, tais grupos são inseridos de maneira a formar sintagmas terapêuticos em serviços de atenção psicossocial (ARRUDA, 2011).
Para Barreto (1997) o papel que estas profissões têm de desempenhar através da Terapia Comunitária é de trazer a família para um espaço de diálogo interativo que a faça sair de si mesma, da sua dor, da paralisia do seu potencial criativo, resgatando o papel de cuidado, geradora e mantenedora do amor. Barreto (2005, p. 51) nos lembra ainda que “[…] não podemos esquecer que é a parte sadia que fica ao redor da ferida que vai ajudar na cicatrização.” Em função disso, deve-se pensar em promover reflexões na comunidade, cujo foco seja a participação efetiva na sociedade, resgatando o sentido de semelhança, de confiança e de esperança.
À medida que a comunidade pensa coletivamente em seus problemas e nas suas soluções reflete também sobre seus direitos e deveres, sobre a utilização da rede de serviços existente em seu bairro, o seu papel em relação a ela e, efetivamente, as possibilidades de participação ativa na construção da cidadania começando assim a edificar a própria vida. Isso significa, não só desenvolver o afeto entre as pessoas, o que por si só já seria gerador de grande mudança na vida de cada um, mas através da possibilidade das pessoas dialogarem e interagirem entre si, permeando estratégias que possam construir uma perspectiva própria de vida e redescobrir o próprio sentido dela. (ANDERSON et al., 2015)
A Terapia Comunitária não se propõe a resolver problemas, mas a formar redes solidárias de fortalecimento da auto-estima de pessoas, famílias e comunidades, ou seja, os grandes papeis se constroem no momento do encontro com as demandas emanadas do outro, no entanto este outro pode ser tanto uma instituição, ou até mesmo a comunidade em geral ou um pessoa, apenas (MEDEIROS, 2005).
As ferramentas e as intervenções utilizadas tanto pela psicologia quanto pelo serviço social, estão embasadas segundo Ferreira Filha Mo (2010) a Teoria Sistêmica, que enfatiza a questão de que as crises e os problemas individuais só podem ser resolvidos se percebidos dentro de um contexto maior, que inclui o biológico, o psicológico e a sociedade; a Teoria da Comunicação aponta para o fato de que esta é o elemento que une os indivíduos no seu grupo social.
No entanto todo comportamento é comunicação e pode se dar de forma verbal e não-verbal, indo além das palavras; a Antropologia Cultural chama a atenção para as diferentes culturas onde as pessoas estão inseridas, sendo um elemento de referência fundamental na identidade pessoal e grupal (FERREIRA FILHA & CARVALHO, 2010).
Umas das primeiras formas de intervenção são os encontros ou rodas de Terapia Comunitária onde as pessoas sentam-se lado a lado, de modo que seja possível a visualização dos participantes entre si. Tais encontros se desenvolvem de acordo com cinco etapas, a saber: acolhimento, escolha do tema, contextualização, problematização e encerramento (CARVALHOSA & DOMINGOS, 2010).
Na fase de Acolhimento o terapeuta acomoda os participantes, de preferência, em grande círculo para que todos possam olhar para a pessoa que está falando. Em seguida, são informadas as regras da terapia: fazer silêncio, falar da própria experiência, não dar conselhos e nem julgar, sugerir uma música, piada, poesia, conto que tenha alguma ligação com o tema (BARRETO, 2005).
Na fase seguinte, escolha do tema, o terapeuta estimula os participantes a falar sobre aquilo que os está fazendo sofrer. Prosseguindo, ocorre a Contextualização. A partir desse movimento são obtidas mais informações sobre o assunto escolhido. Para facilitar a compreensão é permitido lançar perguntas para maior esclarecimento do problema para que se possa compreendê-lo no seu contexto (FERREIRA FILHA & CARVALHO, 2010).
Segundo Barreto (2005) a terapia comunitária (TC) serve de exemplo demonstrativo da capacidade de criação e organização do nosso povo. Ela não pode ser entendida apenas como um “procedimento terapêutico em grupo com caráter de atenção primária em saúde mental desenvolvido na comunidade através de equipes institucionais de voluntários”, ou seja, esta vai muito mais além deste conceito e busca a gênese estrutural das demandas sociais.
Tendo postas todas essas questões, daqui para frente será apresentada a metodologia, resultados e discussão, bem como, dados e conclusão a respeito da temática, seus achados e contrapontos encontrados ao longo da construção deste estudo.
3. METODOLOGIA
Tendo como ótica a discussão e os arcabouços teóricos que abordaram o tema proposto, foi necessário que se fizesse um estudo em espaço estatístico que proporcionou bases que permearam as afirmações aqui evidenciadas. A partir disso, o ponto alto deste artigo foi repleto de visões de mundo de vários autores (as) e, mesmo que estes estivessem em movimentos que buscassem outras matizes, foi possível correlacioná-los há um único lugar, em direção às questões aqui levantadas.
Tendo como base em J. bras. pneumol (2011), esta pesquisa tem caráter de revisão bibliográfica e, configura-se em cunho documental quantitativo e qualitativo, pois todos os dados fornecidos ao largo da construção desta, foram alcançados por meio de leitura e análise, realizando-se revisão ordenada com bases de coleta de dados do período de 01 a 25 de julho de 2020, tendo como fontes o Scientific Electronic Library Online (SciELO), PESIC (Periódicos Eletronico em Psicologia), Periódicos Ufjf, Ares Unasus, Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Periódicos Fclar UNESP e dentre outros. Em sua totalidade aproximadamente 60 obras de variados tipos, contidas em: revisados livros, artigos, revistas, manuais, teses de doutorado, sites e outros. Foi selecionado aproximadamente o quantitativo de 20 trabalhos (as) que explanaram a respeito do tema proposto, as quais fundamentaram a estrutura teórica que compõe este estudo.
Para que houvesse uma elaboração concisa foi utilizado como modelo, o trabalho de Carvalho & Montenegro (2012) intitulado “Metodologias de Comunicação no Processo de Educação em Saúde”, a qual serviu como simulacro estrutural para que as respostas buscadas fossem mais abrangentes. Nesse sentido, foram procurados os seguintes termos: “Terapia Comunitária”, “O papel da Psicologia e do Serviço Social no contexto da Terapia Comunitária”, “História da Terapia Comunitária”, “Ferramentas e Intervenções da Terapia Comunitária”, “Indicadores da eficácia da Terapia Comunitária”, “Saúde Mental e Processos Psicossociais” e dentre outros. A partir disso foram conjecturados critérios de inclusão dos artigos para a construção e elaboração da revisão bibliográfica, dentre eles estão: 1) Obras que abordassem sobre as temáticas que permeassem o tema “A interconexão da Psicologia e do Serviço social no contexto da Terapia Comunitária”, 2) Que a linguagem contida na obra estivesse em português, espanhol ou inglês, 3) Que as obras possuíssem anos de publicação em volta dos anos de 1987 a 2018, 4) Estudos realizados dentro do contexto nacional. Os critérios de exclusão permeiam a seguinte esfera: 1) Artigos que não contemplassem a temática, 2) Artigos anteriores ao ano 1987, 3) Que a linguagem contida nas obras não estivesse em consonância com o português, espanhol ou inglês, 4) Estudos não realizados dentro do contexto nacional.
Desta maneira, seguindo a metodologia proposta e tendo como base os critérios de inclusão e exclusão já circunscritos, obedecendo à seguinte estrutura de planejamento (GIL AC, 2006): leitura de caráter exploratório; leitura e processo seletivo, bem como, a postergação de subsídios que contemplassem os cernes dos objetivos e da temática em questão; leitura de cunho analítico e realização de analise textual; e, por fim execução de leitura voltada para a interpretação e construção de discurso.
4. RESULTADOS & DISCUSSÃO
Partindo das 60 obras pesquisadas no processo inicial, foram preteridas 32 para o desenvolvimento de leitura, fichamento e análise. Nesse processo exclui-se 28 na primeira etapa, já na segunda e última etapa foram excluídos oito trabalhos, sendo que apenas 20 destas foram selecionadas para compor o corpo teórico do estudo e, buscaram-se assim os que abordaram as características do processo de “interconexão da Psicologia e do Serviço social no contexto da Terapia Comunitária”.
Dentre as obras selecionadas, dezenove estavam em linguagem nacional e uma havia sido publicada em espanhol. Ademais, os trabalhos concernentes a publicação ficaram entendidos entre 1987 e 2018, no entanto os artigos que contemplaram os anos 1987, 2007, 2009, 2015, 2017 e 2018, foram utilizados neste estudo de forma exígua, pois de todos estes, foram utilizados apenas um de cada ano respectivamente. Dos anos de 2005, 2006, 2011 e 2012, foram utilizadas duas obras correspondentes a cada ano e, por último, as obras mais utilizadas corresponderam ao ano de 2010 que por sua vez contemplou seis trabalhos.
Das obras selecionadas houve um número menor de Manuais e Relatos de Experiência, que contemplaram apenas um trabalho para cada categoria. Em relação a Livros, foram apenas utilizados três trabalhos por nesta categoria; por conseguinte os materiais relacionados a Revistas contabilizaram um total de cinco obras utilizadas e, por fim o maior numeral de materiais contidos neste estudo foi encontrado em Periódicos Digitais, contabilizando dez trabalhos em todo o corpo teórico da pesquisa.
Contextualizando a respeito dos resultados, o crescimento de publicações ocorreu exponencialmente desde a década 80 aos dias atuais, mesmo que não haja incentivos necessários à pesquisa, ainda sim, houve um estopim que se materializou pelo fato do tema estar em desenvolvimento e atualização.
Levando em consideração outros aspectos, os trabalhos encontrados e selecionados, caminharam para o mesmo lugar, visto que, estes se correlacionaram como, por exemplo, em achados de Araújo et al. (2018) que escreveu o artigo denominado “La Terapia Comunitaria: creación de redes de solidaridad en un Centro de Salud Familiar”, mostrando que a TC vai mais além do que uma técnica psicoterápica grupal para os pobres, sua importância se manifesta não só no atendimento aquela pessoa em sofrimento psíquico.
Desta maneira, esta realiza um resgate muito profundo, indo além das questões eminentemente psíquicas, costurando e fortalecendo o campo das múltiplas identidades culturais do nosso povo, seja ele de qualquer grupo étnico, social, religioso. Além disso, possuir a energia necessária para continuar promovendo a intervenção cultural nas referências tradicionais sobre a loucura, ainda presente no imaginário da sociedade brasileira.
Guimarães (2006) aponta a relação entre a Terapia Comunitária e a rede de Saúde Mental e, segundo a autora, tal intervenção se estabelece naturalmente nos campos operacionais, políticos e ideológicos.
Entretanto, vale ressaltar que na forma como a autora abre tais parênteses, é necessário olhar para como esta ferramenta se conceitua e no que se propõe a realizar, ou seja, torna-se fundamental ressaltar que as características próprias da Terapia Comunitária sejam diretamente preservadas. A TC não pode se restringir apenas à rede da saúde mental e, ainda, deve ser muito mais abrangente, pois envolve a conscientização da população e, proporciona o resgate do coletivo, nos processo sociais.
No cerne deste escopo, a partir de Barreto (2005), Barreto (1997), Guimarães (2006), Lazarte (2010) e demais autores, pôde-se entender que a proposta da TC é de romper com o paternalismo e com a manutenção da miséria existencial das populações na medida em que investe basicamente na capacidade dessa população de se auto-gerir resgatando a identidade cultural e os valores de cidadania e de auto-estima.
Lazarte (2010) afirma que a TC esteja intrinsecamente articulada com as medidas de promoção da saúde, entendendo aqui essa promoção como fazendo parte das medidas eficazes de proteção das populações e dos grupos de risco.
Uma das correlações que pôde ser feita entre os artigos, referencia o quanto a TC como meio de aproximação aos serviços de saúde, tem se mostrado eficaz, bem como, tem um papel imprescindível no que tange o serviço oferecido pela rede pública no contexto psicossocial.
A questão final apontada nos materiais analisados, especificamente por Arruda (2011) no artigo “Saúde mental na comunidade: a terapia comunitária como dispositivo de cuidado”, foi a de quê este meio tem em vista o modo como a ontologia popular se apresenta, levando em consideração a cultura, a realidade socioeconômica, questões étnicas e dentre outros fatores, bem como, suas contingências, o que propõe um cuidado principalmente ético no cerne da atuação profissional de Psicólogos e Assistentes Sociais como agentes facilitadores dentro do processo de atendimento à saúde.
5. CONCLUSÃO
Este estudo possibilitou a compreensão da interconexão entre Psicologia e Serviço Social, no uso da Terapia Comunitária como meio interventivo no contexto social e da saúde. Pôde-se entender que além do crescimento de profissionais especializados na área em questão desde a década de 80, houve também uma atualização significativa na forma de manejo no processo atuação em vários contextos de atendimento de usuários do Sistema Único de Saúde (SUS).
Além do que, foi possível apontar que as interconexões feitas a partir das profissões aqui aludidas, foram dadas em meio ao fazer no mote psicossocial, multiprofissional, interdisciplinar, bem como, em processos relacionados à saúde coletiva. Ademais, foi notório o apontamento das formas interventivas dentro da TC, onde estão as rodas de conversa e Terapia Comunitária, o acolhimento, a escolha do tema, contextualização, problematização e o encerramento.
Não obstante, houve também processos elucidativos indicados nos resultados, a respeito da consonância dos trabalhos ao falarem da TC de maneira a caminharem na mesma direção. Outra questão apontada foi de que, na verossimilhança da atuação da TC como método interventivo, está direcionada a orientação, bem como, o resgate do processo de cidadania, deixando esclarecido à comunidade que as pessoas possuem direitos e papeis dentro do espetáculo social. Houve também, delineamento de instâncias como: Política Pública de Atenção Básica e Características da Rede de Apoio Psicossocial; as quais foram sinalizadas como lugares e posições de atenção à população em geral por meio da rede de Atenção à Família.
Apesar de ser um rudimentar esboço do que se tratou a temática em questão, esse trabalho buscou de forma clara e científica evidenciar em seu dorso o que fora proposto, bem como, deixar-se em aberto para que recaiam sobre si outros olhares. No entanto, é necessário ressaltar que este não possui fim em si mesmo e que a partir dele, possam ser feitas outras pesquisas neste campo que é imensurável como potencialidade de saberes e conhecimentos.
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¹ Pós-graduado em Psicologia Escolar e Educacional, Saúde Coletiva e Psicopedagogia Clínica. Faculdade Venda Nova do Imigrante (FAVENI). Av. ngelo Atoé, 888 Venda Nova do Imigrante, ES, CEP: 29375-000. Faculdade Boas Novas (FBN). Av. Rodrigo Otávio, 1655 – Japiim, Manaus – AM, 69077-000. E-mail do Autor: solanopsi.sc@gmail.com
² Pós-graduada em Trabalho Social com Famílias e Sociedade e em Gerontologia e Família. Faculdade Venda Nova do Imigrante (FAVENI). Av. ngelo Atoé, 888 Venda Nova do Imigrante, ES, CEP: 29375-000. Faculdade Metropolitana de Manaus (FAMETRO). Av. Constantino Nery, 3470 – Chapada, Manaus – AM, 69010-160 E-mail do Autor, marianascimento265@gmail.com
³ Acadêmico do Curso de Bacharelado em Psicologia. Faculdade Boas Novas (FBN). Av. Rodrigo Otávio, 1655 – Japiim, Manaus – AM, 69077-000. E-mail do Autor, escritoriojuridicodrgiovanni@gmail.com
4 Acadêmica do Curso de Bacharelado em Psicologia. Faculdade Boas Novas (FBN). Av. Rodrigo Otávio, 1655 – Japiim, Manaus – AM, 69077-000. E-mail do Autor, laisena.23@gmail.com
5 Acadêmica do Curso de Bacharelado em Psicologia. Faculdade Boas Novas (FBN). Av. Rodrigo Otávio, 1655 – Japiim, Manaus – AM, 69077-00. 0E-mail do Autor, mjesus27@hotmail.com
6 Acadêmica do Curso de Bacharelado em Psicologia. Faculdade Boas Novas (FBN). Av. Rodrigo Otávio, 1655 – Japiim, Manaus – AM, 69077-000. E-mail do Autor, silvia-rejane@hotmail.com