ARTIFICIAL INTELLIGENCE AS A TOOL FOR EFFICIENCY IN PUBLIC ADMINISTRATION
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202411122213
Marcos Rafael Coelho1
Marcelo Ribeiro Silva2
Resumo
O presente artigo explora o crescente papel da Inteligência Artificial na otimização de operações governamentais e na melhoria da prestação de serviços públicos. Com foco nas capacidades da IA de processar e analisar grandes volumes de dados, o artigo discute como essa tecnologia pode ser utilizada para aumentar a eficiência, a transparência e a responsividade nos serviços governamentais.
O texto aponta algumas aplicações da IA na administração pública, incluindo a análise e processamento de dados em larga escala, a automação de processos burocráticos e a personalização de serviços ao cidadão. Essas tecnologias, equipadas com aprendizado de máquina e processamento de linguagem natural, permitem uma melhor gestão de recursos, rapidez no atendimento ao cidadão e uma operação mais eficiente e menos suscetível a erros humanos.
Além dos benefícios, o artigo também aborda os desafios associados à implementação da IA no setor público, como questões técnicas, éticas e de privacidade. Preocupações com viés algorítmico, qualidade dos dados e integração com sistemas legados são discutidas como desafios a serem enfrentados. O artigo enfatiza a necessidade de políticas robustas e treinamento adequado para funcionários públicos como essenciais para uma integração bem-sucedida da IA.
Finalmente, a discussão conclui com a visão de que, enquanto a IA tem o potencial de transformar significativamente a administração pública para melhor, é vital uma abordagem cuidadosa e regulada. O sucesso dessa integração depende não apenas de avanços tecnológicos, mas também do comprometimento com práticas éticas e o desenvolvimento de políticas públicas que orientem seu uso responsável e ético.
Palavras-chave: Inteligência artificial. Administração pública. Eficiência governamental. Privacidade de dados. Automação de processos.
Abstract
The article “Artificial Intelligence as a Tool for Efficiency in Public Administration” explores the growing role of AI in optimizing government operations and improving the delivery of public services. Focusing on AI’s capabilities to process and analyze large volumes of data, the article discusses how this technology can be used to enhance efficiency, transparency, and responsiveness in government services.
The text highlights several key applications of AI in public administration, including large-scale data analysis and processing, automation of bureaucratic processes, and customization of services to citizens. These technologies, equipped with machine learning and natural language processing, enable better resource management, faster citizen service, and more efficient operations less susceptible to human errors.
Beyond the benefits, the article also addresses the challenges associated with implementing AI in the public sector, such as technical, ethical, and privacy issues. Concerns about algorithmic bias, data quality, and integration with legacy systems are discussed in detail. The article emphasizes the need for robust policies and adequate training for public employees as essential for successful AI integration.
Finally, the discussion concludes with the view that while AI has the potential to significantly transform public administration for the better, a careful and regulated approach is vital. The success of this integration depends not only on technological advancements but also on a commitment to ethical practices and the development of public policies that guide its responsible use.
Keywords: Artificial Intelligence. Public Administration. Government Efficiency. Data Privacy. Process Automation.
1. INTRODUÇÃO
A ascensão da inteligência artificial (IA) tem remodelado várias facetas da sociedade contemporânea, promovendo transformações significativas desde o setor privado até o coração das instituições governamentais. A capacidade da IA de processar e analisar grandes quantidades de dados com eficiência e precisão oferece uma oportunidade única para revolucionar a administração pública. Este artigo busca explorar como a IA pode ser empregada como uma ferramenta estratégica para aumentar a eficiência das operações governamentais, melhorando a prestação de serviços públicos e fortalecendo a tomada de decisões baseada em evidências.
No contexto da administração pública, a eficiência e a transparência são fundamentais para garantir a confiança do público e a eficácia dos serviços oferecidos. Os desafios contemporâneos, incluindo a necessidade de resposta rápida a situações dinâmicas e a gestão de recursos limitados, tornam a inovação tecnológica uma necessidade incontornável, sobretudo quando as restrições orçamentárias para a execução de serviços públicos estão cada vez mais presentes. A inteligência artificial, com suas diversas aplicações, desde a automação de processos até a análise preditiva, apresenta-se como uma solução promissora para enfrentar esses desafios. Além disso, a IA pode ajudar a personalizar a interação entre cidadãos e governo, oferecendo respostas mais rápidas e precisas, o que é essencial em um ambiente cada vez mais digital e interconectado.
Este trabalho tem como objetivo principal elucidar o papel da IA na transformação da administração pública. Serão abordados casos de sucesso, desafios e as implicações éticas do uso da IA em contextos governamentais. Através de uma análise detalhada e crítica, o artigo visa contribuir para um entendimento mais profundo sobre como as ferramentas de IA podem ser integradas efetivamente para melhorar os processos administrativos e a entrega de serviços públicos.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA
2.1. Aplicações da Inteligência Artificial na Administração Pública
Uma das principais aplicações da IA na administração pública é a análise e o processamento de grandes volumes de dados. Governos ao redor do mundo geram e coletam enormes quantidades de dados que, quando eficientemente analisados, podem oferecer vislumbres valiosos para a tomada de decisão e a formulação de políticas. Algoritmos de aprendizado de máquina são utilizados para identificar padrões, prever tendências e otimizar a alocação de recursos. Por exemplo, técnicas de machine learning têm sido empregadas para prever a demanda por serviços públicos, como saúde e transporte, permitindo uma gestão mais eficaz desses recursos.
Nesse ponto, insta registrar que Machine Learning (ML) é uma área da inteligência artificial (IA) que se concentra em ensinar computadores a aprender a partir de dados, sem a necessidade de instruções explícitas. Em vez de programar regras específicas, algoritmos de ML constroem automaticamente conjuntos de regras baseadas em padrões observados nos dados. Isso permite que as máquinas façam previsões ou tomem decisões com base em novos dados, aplicando modelos que foram “treinados” para identificar padrões ou relações específicas (SCHNEIDER; GUO, 2018).
No contexto da ciência e tecnologia, o aprendizado de máquina tem se tornado essencial em diversas áreas, como saúde, comércio, educação e manufatura, proporcionando maior precisão na análise de dados e permitindo decisões baseadas em evidências (JORDAN; MITCHELL, 2015). Diferentes abordagens de ML, como redes neurais e máquinas de suporte vetorial, são utilizadas para realizar tarefas que envolvem reconhecimento de padrões e classificação, sendo aplicadas em sistemas de recomendação, detecção de fraudes e até mesmo na medicina para análise de imagem e previsão de respostas a tratamentos (WALJEE; HIGGINS, 2010).
Uma característica fundamental do ML é a capacidade de adaptação. Com o aumento dos dados de aprendizado, os algoritmos melhoram continuamente seu desempenho, tornando-os altamente eficazes em áreas onde as condições ou os dados mudam frequentemente, como no mercado financeiro e em redes sociais (DIETTERICH, 1996).
Tem-se que o aprendizado de máquina é um campo versátil e poderoso da inteligência artificial que utiliza dados e algoritmos para permitir que máquinas realizem previsões, classifiquem informações e tomem decisões, aplicando-se a um vasto espectro de aplicações modernas.
Outro aspecto significativo da IA na administração pública é a automação de processos burocráticos. Robôs de software, ou bots, são programados para realizar tarefas repetitivas e rotineiras que antes eram feitas manualmente por funcionários. Isso não só aumenta a eficiência, reduzindo o tempo de processamento e os erros humanos, mas também permite que os funcionários públicos se dediquem a tarefas mais complexas e de maior valor. Um exemplo prático é a automação de processos de concessão de licenças e autorizações, onde a IA verifica a conformidade dos pedidos com as normas vigentes, agilizando significativamente o processo.
A IA também está revolucionando a maneira como os serviços são prestados ao cidadão. Chatbots inteligentes e assistentes virtuais, equipados com capacidades de processamento de linguagem natural, estão sendo utilizados para oferecer atendimento ao cidadão 24 horas por dia. Esses sistemas podem responder a perguntas frequentes, guiar os usuários através de processos governamentais e até mesmo coletar feedback para melhorar continuamente os serviços. Além disso, a análise de sentimentos baseada em IA permite que os órgãos governamentais entendam melhor as preocupações e necessidades dos cidadãos, adaptando suas estratégias de acordo.
Aplicações de IA também são fundamentais na prevenção de fraudes e na melhoria da segurança pública, servindo de ferramenta essencial à segurança pública de instituições. Sistemas de IA analisam padrões em grandes conjuntos de dados para identificar atividades suspeitas que possam indicar fraudes em benefícios sociais, evasão fiscal, ou mesmo ameaças à segurança. Tais sistemas não apenas detectam irregularidades com maior rapidez do que os métodos tradicionais, mas também aprendem continuamente para se tornarem mais eficientes na previsão de futuras ocorrências de fraude.
2.2. Desafios e considerações éticas na implementação da Inteligência Artificial na Administração Pública
A implementação de sistemas de IA na administração pública enfrenta vários desafios técnicos, incluindo a integração com sistemas legados, a necessidade de infraestrutura tecnológica adequada e a escassez de habilidades técnicas entre os funcionários públicos. Além disso, a qualidade dos dados é um fator crítico, pois dados imprecisos ou incompletos podem levar a decisões mal informadas ou enviesadas por parte dos sistemas de IA. Como destacado por Zhao, Blaabjerg e Wang (2020), a aplicação efetiva da IA exige uma infraestrutura robusta e dados de alta qualidade para evitar resultados ineficazes e erros de processamento.
As questões éticas e de privacidade são de particular importância na adoção de tecnologias de IA na administração pública. Isso porque, com a capacidade de processar grandes volumes de dados pessoais, existe o risco significativo de violação da privacidade dos cidadãos se esses dados não forem manuseados com os mais altos padrões de segurança e confidencialidade. Ademais, a transparência nas decisões automatizadas é essencial para manter a confiança pública, conforme discutido por Henman (2020), que enfatiza a importância de sistemas de IA que sejam transparentes e compreensíveis para os cidadãos.
O viés algorítmico é outro desafio significativo, pois os modelos de IA podem perpetuar ou até amplificar preconceitos existentes nos dados utilizados para treiná-los. É vital que as agências governamentais implementem práticas rigorosas de auditoria e teste para detectar e mitigar esses vieses. Para tanto, o envolvimento de equipes diversificadas no desenvolvimento de IA pode ajudar a identificar e corrigir preconceitos, promovendo uma maior equidade nas decisões automatizadas.
Porém, não é possível esquecer que a conformidade com as regulamentações e leis existentes é fundamental para uma correta implantação dessa tecnologia nas instituições públicas. Os sistemas de IA devem ser projetados para operar dentro dos quadros legais estabelecidos para a proteção de dados e privacidade. E, para tanto, a implementação de IA deve ser acompanhada de políticas claras e orientações regulatórias para garantir que as tecnologias não apenas melhorem a eficiência, mas também respeitem os direitos e liberdades individuais.
2.3. Futuros desenvolvimentos e tendência da Inteligência Artificial na Administração Pública
Os avanços contínuos em tecnologias de inteligência artificial prometem revolucionar ainda mais as operações governamentais. A convergência da IA com outras tecnologias emergentes, como o blockchain e a Internet das Coisas (IoT), pode levar a sistemas governamentais mais seguros, transparentes e interconectados. Por exemplo, a integração da IA com o blockchain pode melhorar a segurança e a transparência das transações e registros governamentais, minimizando fraudes e aumentando a confiança pública.
Sobre o assunto, destaca-se que blockchain é uma tecnologia de registro distribuído que armazena informações em blocos, formando uma cadeia, e garantindo a segurança dos dados por meio de criptografia. Originalmente desenvolvida para viabilizar transações de criptomoedas como o Bitcoin, a blockchain possibilita o armazenamento de dados de forma descentralizada, sem a necessidade de uma autoridade central, o que aumenta a integridade e a transparência dos registros (PIERRO, 2017; BECK et al., 2017).
Além de sua aplicação em criptomoedas, a blockchain possui um potencial de uso amplo em setores como financeiro, saúde e logística. Sua resistência à alteração de dados e a capacidade de executar contratos inteligentes (smart contracts) são características que ampliam suas possibilidades de aplicação, promovendo transações mais seguras e automáticas em diversas indústrias (BECK et al., 2017; RADANOVIC; LIKIĆ, 2018).
Por ser um sistema imutável e resistente a fraudes, a blockchain também oferece soluções para rastreabilidade e gestão de dados de forma confiável, reduzindo a dependência de intermediários, como bancos e outras instituições centralizadas, e mitigando riscos associados a essas intervenções (ZHANG; XUE; LIU, 2019).
Pode-se dizer que a blockchain é uma tecnologia inovadora com potencial de transformar processos de registro e transação em múltiplos setores, promovendo maior segurança, transparência e eficiência.
Outro ponto importante que deve ser destacado é a personalização como tendência crescente, onde a IA será utilizada para adaptar os serviços governamentais às necessidades individuais dos cidadãos. Sistemas inteligentes poderão analisar dados em tempo real para oferecer recomendações personalizadas, desde opções de saúde pública até serviços de educação e bem-estar social. Esta abordagem não só melhora a eficiência dos serviços, mas também aumenta a satisfação do cidadão e o engajamento com as iniciativas governamentais.
À medida que a IA se torna mais integrada às funções do governo, também será essencial desenvolver políticas públicas que orientem seu uso ético e responsável. Os governos precisarão estabelecer diretrizes claras sobre questões como privacidade de dados, consentimento e transparência das decisões automatizadas. A formulação de políticas também deverá considerar o impacto socioeconômico da automação, garantindo que as transformações tecnológicas beneficiem todos os segmentos da sociedade.
Para que a IA alcance seu potencial máximo na administração pública, será essencial superar os desafios de implementação relacionados à infraestrutura tecnológica, à falta de habilidades digitais entre os funcionários públicos e à resistência às mudanças. Programas de capacitação e desenvolvimento profissional serão essenciais para preparar os trabalhadores do setor público para as demandas de um ambiente cada vez mais digitalizado. Além disso, parcerias entre o setor público e privado podem ser estratégicas para acelerar a adoção de novas tecnologias e compartilhar conhecimentos técnicos.
3. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
A inteligência artificial (IA) está reformulando profundamente a administração pública através de uma série de transformações multifacetadas. Desde a análise avançada de dados em larga escala até a automação de processos burocráticos e a personalização dos serviços ao cidadão, a IA demonstra um potencial significativo para melhorar tanto a eficiência operacional quanto a qualidade dos serviços públicos oferecidos. Contudo, a adoção dessa tecnologia não está isenta de desafios consideráveis, incluindo preocupações com privacidade de dados, potenciais vieses algorítmicos e a exigência por infraestruturas tecnológicas robustas e adequadas.
Para aproveitar ao máximo as vantagens e minimizar os riscos associados à IA na esfera pública, é crucial que os governos implementem práticas responsáveis e fundamentadas em evidências científicas. Isso inclui o desenvolvimento e implementação de políticas rigorosas que regulamentem o uso da IA,focando especialmente em questões éticas, privacidade de dados e transparência das operações. Além disso, é essencial expandir os programas de capacitação para prover os servidores públicos com as competências necessárias para manipular tecnologias emergentes e compreender as implicações do seu uso. O fomento à pesquisa e ao desenvolvimento também é vital para impulsionar a inovação e enfrentar os desafios técnicos específicos que surgem no contexto da administração pública.
A colaboração intersectorial entre o setor público, o setor privado e as instituições acadêmicas é outra estratégia importante para acelerar a adoção eficaz da IA, possibilitando um compartilhamento rico de conhecimentos, recursos e melhores práticas. Além disso, é fundamental que todas as implementações de IA sejam submetidas a um monitoramento e avaliação contínuos para assegurar que atendam a seus objetivos propostos sem causar impactos negativos inesperados.
À medida que nos movemos em direção a uma era cada vez mais influenciada pela digitalização, a capacidade dos governos de integrar a inteligência artificial de forma ética e eficaz será determinante para o sucesso futuro. Comprometer-se com a inovação responsável e seguir uma abordagem orientada por princípios são passos essenciais para assegurar que a administração pública não apenas acompanhe os avanços tecnológicos, mas também os utilize de forma benéfica e protetora para os cidadãos. A IA oferece uma ferramenta transformadora para a governança, mas deve ser gerida com prudência para garantir que seu potencial seja plenamente realizado de maneira justa e transparente.
REFERÊNCIAS
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JORDAN, M. I.; MITCHELL, T. Machine learning: trends, perspectives, and prospects. Science, v. 349, p. 255-260, 2015.
HENMAN, P. Improving public services using artificial intelligence: possibilities, pitfalls, governance. Asia Pacific Journal of Public Administration, v. 42, n. 4, p. 209–221, 2020.
PIERRO, M. D. What Is the Blockchain?. Computing in Science & Engineering, v. 19, p. 92-95, 2017.
RADANOVIC, I.; LIKIĆ, R. Opportunities for Use of Blockchain Technology in Medicine. Applied Health Economics and Health Policy, v. 16, p. 583-590, 2018.
SCHNEIDER, W.; GUO, H. Machine Learning. The Journal of Physical Chemistry. B, v. 122, n. 4, p. 1347, 2018.
WALJEE, A.; HIGGINS, P. Machine learning in medicine: a primer for physicians. The American Journal of Gastroenterology, v. 105, p. 1224-1226, 2010.
ZHANG, R.; XUE, R.; LIU, L. Security and Privacy on Blockchain. ACM Computing Surveys (CSUR), v. 52, p. 1-34, 2019.
ZHOU, S.; BLAABJERG, F.; WANG, H. An overview of artificial intelligence applications for power electronics. IEEE Transactions on Power Electronics, v. 36, n. 4, p. 4633-4658, 2021. Artigo 9200511.
1Mestrando em Administração Pública na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, campus de Campo Grande – MS;
2Docente do Curso de Mestrado em Administração Pública da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, campus de Campo Grande – MS