A INSERÇÃO DO DISPOSITIVO INTRAUTERINO PELOS ENFERMEIROS: A FALTA DE CONHECIMENTO DA POPULAÇÃO SOBRE INSERÇÃO DO DIU PELOS ENFERMEIROS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11263722


Amanda Dávila Da Silva
Isaely Souza Aquino
Leticia Sthefany Da Silva Dias
Orientador (a): Prof. Esp; Mestre Lorena Campos Santos


RESUMO

O objetivo do trabalho é mostrar a falta de conhecimento da sociedade em relação a inserção do DIU por enfermeiros, mostrando que existe uma extrema necessidade de informações e educação sobre o procedimento. Objetivo: O presente trabalho tem o intuito de contribuir para o avanço do conhecimento acerca da inserção do Dispositivo Intrauterino (DIU) pelos enfermeiros, trazendo assim mais autonomia, conhecimento e capacitação para os mesmos, e  ampliando o acesso ao uso do método contraceptivo, que contribui para os direitos reprodutivos das mulheres, diminuindo casos de gravidez indesejada. Além disso, temos o devido intuito de esclarecer que o enfermeiro tem autonomia e é respaldado para inserção do DIU. Método: Foram utilizadas pesquisas por meio de uma revisão integrativa da literatura, com artigos pesquisados e publicados nas bases de dados MediLine, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Scientific Eletronic Librany Online (SciELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Pubmed, contemplando os anos de 2017 a 2023, sendo mantidos para a escrita 15 artigos. Desenvolvimento: foram analisados artigos de competência abrangente no que diz respeito à atuação do enfermeiro na atenção da saúde da mulher. Tendo em foco a inserção do dispositivo intrauterino pelo enfermeiro. Dentre eles, manuais de relevância internacional e padronizações do Ministério da Saúde, os quais elucidaram a linha de pesquisa do presente estudo. Conclusão: Destaca a importância de promover a conscientização sobre a capacidade dos enfermeiros de realizar a inserção do DIU, um método contraceptivo altamente eficaz e de baixo custo. A falta de conhecimento da sociedade sobre essa prática realizada por enfermeiros, ressalta a necessidade urgente de educação pública para garantir que as pessoas estejam informadas sobre todas as opções contraceptivas disponíveis e possam fazer escolhas informadas sobre sua saúde reprodutiva. Além disso, a ampliação do acesso à inserção do DIU pelos enfermeiros pode desempenhar um papel significativo na redução das taxas de gravidez não planejada e no fortalecimento dos serviços de saúde reprodutiva em comunidades em todo o mundo.

Palavras-chave: DIU, Planejamento familiar, Saúde sexual, Saúde reprodutiva, Enfermagem

ABSTRACT

The work highlights a significant deficiency in the public’s understanding of IUD insertion by nurses, indicating a need for greater education and clarification about this procedure. Objective: this research is aimed at promoting a broader and more informed understanding among the public about IUD insertion by nurses, aiming to reduce knowledge gaps and provide detailed information about the procedure. Furthermore, the aim is to strengthen public confidence in nurses’ ability to carry out this practice, encouraging greater acceptance and access to the IUD as a safe and effective contraceptive method. Method: this is an integrative review of the literature, with articles researched and published in the databases MediLine, Scientific Electronic Library Online (SciELO), Virtual Health Library (VHL), Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS) and Pubmed, covering the years 2017 to 2023, with 15 articles being maintained for writing. Development: comprehensive competence articles were analyzed regarding nurses’ role in men’s health care, focusing on breast cancer. Among them, manuals of international relevance and standards from the Ministry of Health, which elucidated the line of research of the present study. Conclusion: Highlights the importance of promoting awareness about nurses’ ability to insert the IUD, a highly effective and low-cost contraceptive method. The lack of knowledge about this practice highlights the urgent need for public education to ensure that people are informed about all available contraceptive options and can make informed choices about their reproductive health. Additionally, expanding access to IUD insertion by nurses can play a significant role in reducing unplanned pregnancy rates and strengthening reproductive health services in communities around the world.

Keywords: IUD, Family planning, Sexual health, Reproductive health, Nursing

1  INTRODUÇÃO 

Nos últimos anos, a discussão em torno da saúde sexual e reprodutiva tem ganhado destaque, e um dos tópicos frequentemente debatidos é a inserção do DIU (Dispositivo Intrauterino) por enfermeiros. Esta prática tem sido objeto de debates intensos, especialmente no que diz respeito à sua segurança, eficácia e ao papel dos profissionais de enfermagem na prestação de serviços de saúde relacionados à contracepção. Segundo dados do Ministério da Saúde, os enfermeiros são responsáveis pela expansão do acesso ao DIU, realizando 61% das inserções na Região Norte, 43,6% na Região Nordeste e mais de um terço das inserções na Região Centro-Oeste em 2022. No entanto, o acesso ao DIU ainda é baixo, com apenas 4 em cada 100 brasileiras em idade fértil e sexualmente ativas utilizando esse método contraceptivo. (NOTA TÉCNICA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2023).

O Planejamento Familiar ou Reprodutivo de acordo com a Lei n.º 9.263/1996.  “deve incluir acesso à informação e a todos os métodos e técnicas para concepção e anticoncepção, cientificamente aceitos, e que não coloquem em risco a vida e a saúde das pessoas, de acordo com a Lei do Planejamento Familiar,”. Tendo em vista esta concepção é fundamental o processo de educar e transferir conhecimento para desenvolvimento de adolescentes, jovens e adultos. Para uma boa abordagem é importante que tenha grupos para debates mais que possam ter conversas individuais também de acordo com Ministério da Saúde (2010).

Os adolescentes têm direito e acesso de informações sobre educação sexual e saúde reprodutiva justamente para que não tenha gravidez indesejada e prevenção de doenças transmissíveis sexualmente, o acesso a diversas informações e fundamental para que possam ter toda autonomia sobre seu próprio corpo, além disso é necessário enfatizar que adolescentes têm direito a total privacidade com o médico para que possa ter mais segurança em suas escolhas e para cessar dúvidas. Logo percebemos que os auto cuidados íntimos começam na adolescência de acordo com Ministério da Saúde (2010).

Atualmente o sistema único do (SUS), disponibiliza uma variedade de métodos contraceptivos temporários ou reversíveis gratuitamente para a população brasileira, justamente para que possam diminuir o índice de gravidez indesejada, os contraceptivos tem fim de garantir um planejamento familiar, permitindo que mulheres possam ter escolhas sobre sua saúde sexual e reprodutiva de acordo com Ministério da Saúde (2010).

Sendo um direito previsto em lei, conferindo à mulher a autonomia para decidir sobre a sua vontade de ter filhos, é de suma importância existir uma conscientização sobre este assunto, para que seja assegurado que todas as opções de prevenção sejam plenamente compreendidas e acessíveis, permitindo a tomada de decisões embasadas e coerentes com os objetivos individuais de cada pessoa de acordo com Martins et al (2023).

Visando proporcionar suporte às pessoas no âmbito do planejamento reprodutivo, existe um sistema que abrange tanto aspectos de concepção quanto de contracepção. Este sistema desempenha um papel de suma importância, tanto para casais que desejam aumentar sua família, onde irão auxiliar a organização para a chegada de um novo membro, quanto para aqueles que optam por não ter filhos, propagando informações sobre diversos métodos contraceptivos. Entre esses métodos, temos o Dispositivo Intrauterino (DIU), um método que é reversível e de longa duração, sendo disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) de acordo com Prokopczuk et al., (2022).

Mesmo tendo uma alta taxa de eficácia e podendo ser utilizado por diversos grupos de mulheres como na adolescência, no pós parto e pós aborto, o DIU ainda é pouco utilizado no Brasil, isto pode ocorrer devido ao início da atividade sexual na adolescência onde a mulher sente vergonha de buscar auxilio com profissionais da área da saúde, como a falta de informação dos profissionais para estas mulheres a respeito dos benefícios e segurança deste dispositivo de acordo com Morais et al (2021).

Garantir que as mulheres tenham acesso aos tipos de contracepção, pode agregar significativamente para a redução da mortalidade materna e de complicações adversas, como exemplo o aborto. Estas são situações que representam riscos à saúde para a sociedade, especialmente quando se trata de grupos populacionais vulneráveis e em situação de desigualdade, de acordo com Rodrigues et al (2023).

O objetivo geral é compreender as vantagens da inserção do dispositivo intrauterino (DIU) pelos enfermeiros, identificando os benefícios relacionados aos custos e aumento do acesso ao método contraceptivo, compreender como isto influencia na educação no âmbito do planejamento reprodutivo, a autonomia dos profissionais e a redução à gravidez não planejada proporcionando uma visão abrangente e equilibrada sobre o tema.

Como objetivos específicos: identificar as principais vantagens na acessibilidade do método contraceptivo na inserção pelo enfermeiro, considerando a abrangência destes atendimentos e a redução de custos por ser um método contraceptivo de baixo custo, compreender como a inserção do  DIU pode proporcionar qualidade de vida para suas usuárias, identificando impactos na satisfação das mulheres em escolher a hora em que irão iniciar ou não sua maternidade, compreender o impacto da inserção do DIU para os enfermeiros em ter esta autonomia e ampliar seu conhecimento.

O presente trabalho busca contribuir para o avanço do conhecimento acerca da inserção do Dispositivo Intrauterino (DIU) pelos enfermeiros, trazendo assim mais autonomia, conhecimento e capacitação para os mesmos, e ampliando o acesso ao método contraceptivo, que contribui para os direitos reprodutivos das mulheres, diminuindo casos de gravidez indesejada.

A inserção do DIU é uma opção de contracepção eficaz, que pode ser utilizada por um longo período de tempo, de baixo custo e disponibilizada gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) porém ainda é pouco utilizada no Brasil, isto pode está sendo ocasionado pela desinformação sobre o uso do DIU pela sociedade e pelos profissionais da saúde.

Com base nas informações apresentadas, fica evidenciado a necessidade de disseminar conhecimento sobre as vantagens e desvantagens do DIU, quem pode realizar a consulta, prescrição e inserção do mesmo, a fim de despertar o interesse e expandir para que seja um assunto abordado com todo o público alvo.

2  MATERIAIS E MÉTODOS 

Trata-se de um estudo de revisão da literatura do tipo bibliográfica integrativa, descritiva e retrospectiva com fontes de informação bibliográfica e análise qualitativa e quantitativa.

A revisão da literatura ou revisão bibliográfica tem como objetivo fazer um levantamento do conhecimento disponível na área, identificando as teorias produzidas, analisando-as e avaliando sua contribuição para compreender ou explicar o problema objeto da investigação. É por meio da revisão ampla da literatura científica que o pesquisador passará a conhecer a respeito de quem escreveu, o que já foi publicado, quais aspectos foram abordados e as dúvidas sobre o tema ou sobre a questão da pesquisa proposta Fontelles et al. (2009).

A pesquisa descritiva tem como objetivo apenas a observar, registrar e descrever as características de um determinado fenômeno ocorrido em uma amostra ou população, sem, no entanto, analisar o mérito de seu conteúdo Fontelles et al. (2009). Desse modo, no presente estudo o cunho descritivo será apenas para observar, registrar e descrever as características dos estudos encontrados na literatura científica.

O Estudo será retrospectivo devido ao fato que o estudo retrospectivo é desenhado para explorar fatos do passado, ou seja, pode-se delinear para retornar, do momento atual até um determinado ponto no passado, há vários anos. Assim, o presente estudo buscará artigos dos últimos dez anos para compor a amostra.Fontelles et al. (2009).

A análise de cunho qualitativo se deve ao fato que o estudo qualitativo de pesquisa é apropriado para quem busca o entendimento de fenômenos complexos específicos, em profundidade. Assim o pesquisador busca entender o fenômeno em estudo, seja ele de natureza social e cultural, mediante descrições, interpretações e comparações, sem considerar os seus aspectos numéricos em termos de regras matemáticas e estatísticas Fontelles et al. (2009).

Serão adotadas para a realização deste estudo as seguintes etapas: Formulação de uma questão norteadora de pesquisa; busca na literatura para identificar o tema escolhido; seleção dos estudos/artigos a serem incluídos na revisão; avaliação da literatura e análise e síntese dos dados.

A busca na literatura compreendeu o período de 2010-2023, mediante levantamento nas seguintes bases de dados: BDENF – Banco de dados em enfermagem; LILACS – Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde e MEDLINE is the National Library of Medicine’s (NLM).

Tabela 1 – Síntese da busca da literatura

BASE DE DADOSDESCRITORESENCONTRADOSSELECIONADOS


BDENF
(tw:(DIU)) AND (tw:(ENFERMAGEM)) AND (tw:(CUIDADOS DE ENFERMAGEM))1405
LILACS (tw:(DIU)) AND (tw:(ENFERMAGEM)) 2102 
MEDLINE(tw:(DISPOSITIVOS INTRAUTERINOS)) AND (tw:(ENFERMAGEM)4902
  TOTAL8409

Fonte: Elaborado Pelos Autores, 2024.

Para a Seleção dos estudos/artigos para compor a amostra do estudo, serão adotados como critérios de inclusão: todos os artigos científicos disponíveis na íntegra on-line nas bases de dados supracitadas; artigos em português e inglês; e artigos que utilizarem alguns dos descritores que foram utilizados nesta pesquisa. Já como critérios de exclusão foram adotados: relatos de casos; documentos oficiais e não oficiais; capítulos de livros; teses; dissertações; notícias editoriais; sites e textos não científicos.

Em seguida os resultados obtidos pela busca nos bancos de dados e obedecendo rigorosa e criteriosamente aos critérios aqui estabelecidos tanto de inclusão como de exclusão, será realizada uma exaustiva leitura dos artigos, no intuito de verificar a sua adequação às questões norteadoras, com o intuito de fazer uma avaliação da literatura encontrada (Figura1).

Figura 1: Fluxograma de Seleção dos Artigos

Fonte: Elaborado pelos Autores, 2024.

3  RESULTADOS E DISCUSSÕES

Após análise em bases de dados, ressaltamos a utilização dos descritores que norteiam esta pesquisa, bem como, a leitura reflexiva com intuito de obter um desfecho e alcançar os objetivos propostos para tal estudo, foram organizados 3 (três) pilares do saber, os quais descrevem-se a seguir.

Quadro 2 – Estratégia de análise dos artigos filtrados pelo fluxo de seleção. Distrito Federal, Brasília, Brasil, 2024.

AUTOR/ANOTÍTULOOBJETIVORESULTADO
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).SAÚDE SEXUAL E SAÚDE REPRODUTIVA.Objetivo: tratar sobre assuntos como planejamento familiar, prevenção de ISTs, cuidados pré-natais, parto e outros temas de saúde reprodutiva. Auxilia os profissionais de saúde a proporcionar assistência de excelência.
(DE FARIAS MORAIS, 2021).Perfil das mulheres submetidas à inserção do dispositivo intrauterino de cobre na Atenção Primária à Saúde de municípios da Paraíba  Objetivo: Traçar o perfil das mulheres submetidas à inserção de DIU de cobre na Atenção Primária à Saúde (APS) de municípios da Paraíba.A idade das mulheres variou de 15 a 50 anos, sendo a idade média de 27,4 anos, 158 (64,2%) usuárias eram casadas ou estavam em união consensual e 150 (61%) mulheres apresentavam pelo menos o ensino médio completo. Na amostra, 110 (44,7%) mulheres exerciam alguma atividade remunerada e 97 (39,4%) declararam-se do lar. Foram observadas 27 (11%) nulíparas e 215 (87,4%) mulheres com pelo menos um filho, sendo uma média de 1,6 filhos por mulher. Dentre as adolescentes do estudo, 15 (75%) tinham pelo menos um filho
(DIAS, 2022)Prática avançada de enfermagem no planejamento reprodutivo – Inserção de dispositivo intrauterino: Um relato de experiênciaObjetivo: relatar a experiência de enfermeiros na colocação de dispositivos intrauterinos (DIU), no âmbito das práticas avançadas de enfermagem. A realização dos treinamentos para a colocação dos DIUs favoreceu a aplicação de uma assistência diferenciada, inteiramente baseada em evidências científicas.
RODRIGUES, (2023)PLANEJAMENTO REPRODUTIVO E INSERÇÃO DE DISPOSITIVO INTRAUTERINO REALIZADA POR MÉDICOS E ENFERMEIRAS NO BRASILObjetivo: analisar os registros referentes à consulta de planejamento reprodutivo e a inserção do dispositivo intrauterino realizadas por enfermeiros e médicos na Atenção Primária à Saúde do Brasil, no ano de 2021.foram registrados no país 18.243 procedimentos sobre a inserção do DIU com prevalência da atuação do profissional médico, exceto no estado de Roraima; e o quantitativo de 54.186 consultas de planejamento reprodutivo com hegemonia de 41.184 (76%) do profissional enfermeiro em relação aos médicos 13.002 (24%).  
(MARTINS,2023)Barreiras enfrentadas pelos enfermeiros na ampliação da inserção do dispositivo intrauterino em pacientes no contexto das Unidades Básicas de Saúde

Objetivo: Verificar as barreiras enfrentadas pelos enfermeiros na ampliação da inserção de dispositivo intrauterino (DIU) em pacientes no contexto das Unidades Básicas de Saúde. Observou-se que a maioria não realizou treinamento de inserção de DIU (86,4%), não possuíam experiência de inserção (100%) e nem segurança na técnica (71,2%). Ademais, o DIU não é inserido (83,3%) nas unidades de saúde e, para a inserção, há necessidade de realização de exames (84,8%), como ultrassonografia transvaginal (76,2%), exames de citologia oncótica (92,1%) e teste de gravidez (76,2%).
3.1 Análise do planejamento familiar com promoção a saúde

De acordo com a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), regulamentada pela Portaria nº 2.436, de 21 de setembro de 2017, a atenção primária à saúde (APS) é reconhecida por fornecer uma gama de intervenções que abrangem desde a promoção da saúde até a vigilância em saúde, oferecidas de forma coletiva para indivíduos e famílias. Esta abordagem inclui ações voltadas para a promoção da saúde, prevenção de doenças, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos, cuidados paliativos e vigilância sanitária, conforme apontado por Busatto et al. (2024).

No decorrer do século XX, ocorreu um período marcado por mudanças democráticas, durante o qual o movimento feminista ganhou destaque. Nesse contexto, as mulheres passaram a reivindicar uma série de direitos, incluindo aqueles relacionados à saúde reprodutiva, planejamento familiar e bem-estar geral, conforme observado por Busatto et al. (2024).

Com isso, foi desenvolvido um documento de assistência integral à saúde da mulher. Esse programa serviu para dar apoio à saúde da mulher (PAISM). O Ministério da Saúde teve a intenção de promover capacitações para profissionais do serviço. Essas capacitações visavam estimular as atividades dentro das assistências. Logo, podemos afirmar que este programa foi desenvolvido com o intuito de que os profissionais de enfermagem estivessem à frente de todas as etapas de cuidados à mulher, incluindo promoção, prevenção e recuperação da saúde. (Busatto, Luiza Santos et al., 2024).

No que pode ser observado, o enfermeiro tem um grande papel no planejamento familiar. Para que haja uma atuação correta, foram adotados cursos de capacitação, nos quais os profissionais devem exercer um conjunto de ações de educação e saúde. (MOZZAQUATRO E ARPINI, 2017). Destaca-se que este sistema foi colocado em prática para que as mulheres tenham plena consciência de que sua liberdade de fertilidade e controle afetivo é uma decisão própria.

Ainda que a população não tenha gestão familiar, existe uma lei que assegura que os cidadãos tenham direito a um planejamento familiar, conforme o § 7º do art. 226 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Esta lei responsabiliza o Estado por fornecer ferramentas de educação e saúde, de modo a oferecer atendimento integral para mulheres e homens pelo Sistema Único de Saúde (SUS). (MOZZAQUATRO E ARPINI, 2017).

3.2 O impacto da falta da inserção do DIU pelos Enfermeiros

O dispositivo intrauterino (DIU) é amplamente utilizado como método contraceptivo em todo o mundo, apresentando uma prevalência significativa em diferentes regiões. Nos Estados Unidos, sua prevalência é de 8,6%, na Europa chega a 11%, enquanto na China atinge 41%. No entanto, no Brasil, estima-se que menos de 2% das mulheres em idade fértil façam uso desse método. O DIU Tcu 380ª, feito de plástico flexível revestido de cobre, é inserido na cavidade uterina para prevenir a gravidez, conforme descrito por Lopes, Galvão e Guedes (2022).

A inserção do DIU tem sido uma demanda crescente, porém enfrenta desafios de acesso para as mulheres. Uma das principais dificuldades é a escassez de médicos ou equipes multiprofissionais capacitadas para realizar o procedimento. No entanto, enfermeiros que receberam treinamento e capacitação adequados têm respaldo legal para executar a inserção. Isso se deve em parte à existência de ferramentas de avaliação da prática profissional do enfermeiro na inserção do DIU, o que contribui para a segurança do paciente e para o desenvolvimento desse serviço nas consultas de enfermagem (Lopes, Galvão e Guedes, 2022).

Para capacitar os profissionais, são utilizadas diversas ferramentas de desenvolvimento. Isso inclui materiais teóricos que abordam especificações e contraindicações do método, seu mecanismo de ação, duração e potenciais efeitos. Além disso, o treinamento prático é essencial e deve ser supervisionado por profissionais experientes, que podem fornecer suporte e esclarecer dúvidas durante o processo de inserção ou remoção do DIU (Lopes, Galvão e Guedes, 2022).

O Protocolo de Enfermagem apoia o crescimento do acesso, o treinamento teórico, a certificação da prática e a organização dos processos em clínicas. Assim que o enfermeiro estiver qualificado, estará respaldado pela legalização da realização do procedimento, pois os enfermeiros são capazes da prática a inserção do DIU (DA SILVA BARRETO et al., 2022).

De 2018 a 2021, foram realizadas mais de 2024 inserções de DIU por enfermeiros, sendo 50% dessas mulheres residentes em áreas de interesse social e sujeitas a gravidez indesejada. O uso deste método impactou diretamente na sociedade, devido reduzir o número da fila de espera, trazendo com que outras pessoas também pudessem escolher por utilizar o método, pois tinham que aguardar menos tempo para colocá-lo. Logo a demanda aumentou e o tempo de espera para inserção foi reduzido (DA SILVA BARRETO et al., 2022).

No monitoramento pós-inserção do DIU por enfermeiros, foram observadas poucas intercorrências. Em 1.347 procedimentos estudados, nenhum apresentou falha contraceptiva. Apenas 0,2% tiveram doenças inflamatórias, 1,9% expulsão do dispositivo, 0,07% transfixação parcial do útero e 5,5% alteração na posição do DIU (DA SILVA BARRETO et al., 2022).

Outro estudo confirma a capacidade dos enfermeiros na inserção e retirada do DIU. Isso implica na valorização do enfermeiro e na ampliação dessas ações na enfermagem em clínicas e unidades básicas de saúde, com o objetivo de proporcionar à população um planejamento familiar eficaz (DA SILVA BARRETO et al., 2022).

Contudo percebe-se que os enfermeiros estão capacitados para atendimento, consultas, inserção e retirada do DIU. Portanto, a extensão do acesso à saúde é necessária para melhorar a qualidade da assistência. É importante que as evidências científicas e experiências sejam divulgadas para evitar discussões sobre a qualidade e competência do enfermeiro (DA SILVA BARRETO et al., 2022).

3.3 O papel da enfermagem no processo de conscientização do planejamento familiar e inserção do DIU

A enfermagem desempenha um papel fundamental no processo de conscientização e promoção do planejamento familiar, bem como na inserção de dispositivos intrauterinos (DIU). Através de sua presença constante na atenção primária à saúde, os enfermeiros têm a oportunidade de estabelecer uma relação próxima e de confiança com as mulheres, o que facilita a abordagem de questões relacionadas à saúde reprodutiva. Segundo Busatto et al. (2024), a atenção à saúde da mulher na atenção primária requer uma abordagem holística que considere não apenas aspectos físicos, mas também emocionais e sociais, e os enfermeiros são bem posicionados para fornecer essa abordagem integral.

Um dos papéis-chave dos enfermeiros é fornecer informações precisas e baseadas em evidências sobre métodos contraceptivos, incluindo o DIU, conforme destacado por Silva et al. (2024). Eles podem educar as mulheres sobre os benefícios e possíveis efeitos colaterais de diferentes métodos, ajudando-as a fazer escolhas informadas que atendam às suas necessidades individuais e preferências de planejamento familiar. Moura e Silva (2004) ressaltam que a informação adequada é uma medida essencial de promoção da saúde reprodutiva, e os enfermeiros desempenham um papel fundamental na disseminação dessas informações dentro das comunidades.

A inserção do DIU é outra área em que os enfermeiros desempenham um papel importante. Rodrigues et al. (2023) destacam que tanto médicos quanto enfermeiros estão envolvidos nesse processo no contexto brasileiro. Os enfermeiros são frequentemente responsáveis pela realização de procedimentos relacionados ao planejamento familiar, incluindo a inserção de DIUs, especialmente em áreas onde o acesso aos serviços médicos pode ser limitado. Sua formação inclui treinamento específico para realizar esses procedimentos de forma segura e eficaz, conforme mencionado por Mozzaquatro e Arpini (2017).

Além de fornecer informações e realizar procedimentos, os enfermeiros desempenham um papel crucial no suporte emocional e no acompanhamento das mulheres durante o processo de planejamento familiar e uso do DIU. Eles podem oferecer aconselhamento individualizado, esclarecer dúvidas e preocupações, e monitorar de perto os efeitos do DIU sobre a saúde reprodutiva da mulher, contribuindo assim para uma experiência positiva e uma escolha contraceptiva bem-sucedida (Nunes da Silva et al., 2024). O papel da enfermagem no processo de conscientização do planejamento familiar e inserção do DIU é multifacetado e essencial para garantir o acesso equitativo a serviços de saúde reprodutiva de qualidade.

3.4 As vantagens do dispositivo intrauterino

O DIU é um método seguro e apresenta diversas qualidades, como ter uma longa durabilidade de 05 a 10 anos, abrange um grande quadro de mulheres como adolescentes, mulheres que estejam amamentando e no puerpério e também que estão no período de perimenopausa, o DIU de cobre que é não hormonal apresenta vantagens também para mulheres que não possam fazer o uso de métodos anticoncepcionais que contém hormônios. (Kelm, 2023).

No Brasil o dispositivo é de fácil acesso sendo disponibilizado gratuitamente, fornecendo assim o acesso à contracepção às mulheres de todas as classes sociais. Tem uma alta taxa de eficácia, sendo um dispositivo intrauterino ele é prático pois não é suscetível de esquecimento ofertando mais liberdade para suas usuárias, é um método reversível permitindo a mulher a retirada do dispositivo quando obtiver o desejo de engravidar, criando assim um planejamento reprodutivo. (Nogueira; Ferreira; Medeiros, 2023).

O DIU de cobre tem uma durabilidade de até 10 anos, tem um baixo custo e sua eficácia não é reduzida por outros medicamentos. Já o DIU de Mirena pode reduzir ou cessar o fluxo menstrual, é indicado para quem tem endometriose e para mulheres que estão no período de perimenopausa. o DIU de cobre com prata tem uma melhor eficácia se comparado com a pílulas anticoncepcionais e por ser mais menor sua inserção é mais fácil se comparado com os outros tipos. (Pereira; Cardoso; Batalhão, 2021).

O DIU de Kyllenna também apresenta benefícios como ser indicado para mulheres que tenham o útero pequeno e que apresentam cólicas menstruais, pois ele diminui as cólicas e pode suspender o fluxo menstrual. Tem um dos menores índices de falhas de anticoncepcionais pode ser utilizado durante a amamentação, mulheres que apresentam risco de trombose também podem fazer o uso do mesmo. (Pereira; Cardoso; Batalhão, 2021).

A diferença entre esses tipos de DIU estão associadas entre os que são hormonais e não hormonais, tempo de validade, indicações, composição, efeitos em cada organismo, o mais indicado por faixa etária. Por isto é necessário ser realizada uma avaliação para a escolha do DIU que mais se enquadre dentro das necessidades de cada usuário. (Pereira; Cardoso; Batalhão, 2021).

4    CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta revisão enfatiza uma lacuna significativa na compreensão pública sobre a inserção do DIU pelos enfermeiros. A falta de conhecimento sobre esse aspecto crucial da prática de enfermagem pode acarretar diversas implicações, incluindo acesso limitado a esse método contraceptivo altamente eficaz e seguro, além de equívocos e hesitações por parte do público. Apesar de os enfermeiros estarem bem preparados e capacitados para realizar a inserção do DIU, a conscientização do público é vital para evitar mal-entendidos e hesitações por parte dos pacientes. Isso pode resultar na subutilização do DIU, apesar de sua eficácia comprovada na prevenção da gravidez.

É essencial ressaltar que este estudo aborda uma lacuna específica de artigos sobre a inserção do DIU por enfermeiros. O DIU, embora seja um método contraceptivo eficaz, não recebe muita atenção da população em geral, especialmente entre as mulheres em situações vulneráveis. Muitas delas desconhecem que o SUS oferece esse método contraceptivo, o que afeta significativamente a falta de informação e acesso. É uma luta constante garantir que todas as mulheres saibam sobre todas as opções contraceptivas disponíveis para elas no nosso SUS. Outra barreira encontrada é a falta de conhecimento sobre a habilidade dos enfermeiros treinados em inserir o DIU por parte dessas mulheres. Essa falta de informação pode levar a filas nos serviços de saúde e, consequentemente, a gravidezes indesejadas.

        É fundamental divulgar essas informações para que as mulheres possam tomar decisões informadas sobre seu planejamento familiar e tenham todos os direitos de acesso garantidos pelo sistema de saúde. Superar as barreiras de acesso à inserção do DIU por enfermeiros é crucial para proteger a saúde das mulheres e prevenir gravidezes não planejadas. Na última análise, é essencial implementar uma estratégia abrangente que envolva a educação pública para garantir que todas as mulheres tenham acesso a opções contraceptivas seguras e eficazes, promovendo o planejamento familiar e o bem-estar da comunidade.

Este estudo obteve êxito ao alcançar seu objetivo final, destacando de maneira clara e direta a existência de um grande déficit de conhecimento na sociedade em relação ao método contraceptivo DIU e à capacidade dos enfermeiros treinados e capacitados para sua inserção. Ao evidenciar essa lacuna, contribuímos para a promoção de políticas públicas mais eficazes e para o desenvolvimento de programas contínuos de educação sobre esse tema em diversos grupos sociais.

REFERÊNCIAS

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