A INSERÇÃO DA CRIANÇA COM SÍNDROME DE DOWN NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202409231442


Juliano Mendonça Terra1
Niriam Maria Oliveira Mendonça2
Danielle Nunes Valadão3
Elina Martins Silva4


RESUMO

O desenvolvimento cognitivo do portador de Síndrome de Down se mostra usualmente marcado por concepções tradicionalmente estabelecidas e sedimentadas, que acabam por assumir o caráter de inquestionáveis, balizando as perspectivas e práticas adotadas nos procedimentos de reabilitação e na educação familiar e escolar. Contudo, com o avanço de pesquisas que investigam essa Síndrome, realizadas em diversos países e em vários campos do conhecimento, tem-se levantado que muitas dessas concepções se mostram errôneas e estereotipadas; necessitando serem revistas. Esse texto tem o objetivo de contribuir para aclarar algumas dessas concepções, sintetizando numa revisão bibliográfica algumas relevantes considerações em relação aos aspectos cognitivos e aos processos de aprendizagem do portador de Síndrome de Down, feitas a partir da década de 1990. Isso se faz importante, pois a revisão de concepções permite novas perspectivas de compreensão e de intervenção nos processos de desenvolvimento cognitivo dos portadores de Síndrome de Down, impulsionando a qualidade da aprendizagem desses. As dificuldades de aprendizagem, os distúrbios de conduta, a problemática de sua interação completam, mas não esgotam o quadro da educação do aluno com síndrome de Down. A criança com síndrome de Down têm idade cronológica diferente de idade funcional, desta forma, não devemos esperar uma resposta idêntica à resposta da “normais”, que não apresentam alterações de aprendizagem. Esta deficiência decorre de lesões cerebrais e desajustes funcionais do sistema nervoso. O fato de a criança não ter desenvolvido uma habilidade ou demonstrar conduta imatura em determinada idade, comparativamente a outras com idêntica condição genética, não significa impedimento para adquiri-la mais tarde, pois é possível que madure lentamente. É comum observar na criança Down, alterações severas de internalizações de conceitos de tempo e espaço, que dificultarão muitas aquisições e refletirão especialmente em memória e planificação, além de dificultarem muito a aquisição de linguagem. Crianças especiais como as portadoras de síndrome de Down, não desenvolvem estratégias espontâneas e este é um fato que deve ser considerado em seu processo de aquisição de aprendizagem, já que esta terá muitas dificuldades em resolver problemas e encontrar soluções sozinhas.

Palavras-chave: Aprendizagem, dificuldade, metodologias e inclusão.

1-INTRODUÇÃO

A ideia da educação inclusiva não se restringe apenas ao atendimento daqueles que são portadores de alguma deficiência. Ela deve, antes, buscar contemplar todos aqueles com quaisquer necessidades educativas.

Neste sentido, a educação inclusiva deve ter um olhar para cada aluno dentro da sala de aula. Isso porque as necessidades podem ser variadas: limitação intelectual, dislexia, discalculia, TDHA, vulnerabilidade, instabilidade emocional, desestrutura familiar, metodologia inadequada.

No entanto, precisamos ter em mente que ter um olhar individualizado é diferente de individualismo. Enquanto esse tipo de olhar busca entender cada pessoa nas suas diferenças, o individualismo é uma atitude egoísta de viver exclusivamente para si, sem depender dos outros e demonstrar pouca ou nenhuma solidariedade.

Somos criados para vivermos conectados a outras pessoas. Carregamos, dentro de nós, uma tremenda necessidade de pertencer a alguém, de estarmos ligados de forma mais íntima às pessoas.

Ter relacionamentos, trabalhar em grupo, fazer amigos e compartilhar a vida com alguém não é opcional. Seria contrário à nossa natureza e à forma como fomos criados por Deus. Relacionamento é uma necessidade. Deus nos planejou para relacionamentos. O aprendizado pode ser muito mais efetivo quando o aluno está interagindo com os demais colegas, com os pais e demais educadores. Nesse contexto o presente trabalho abordará a Síndrome de Down, deficiência presente em todas as classes sociais e que para uma eficiente inclusão deve ser abordada de forma científica.

Os portadores de deficiência com Síndrome de  Down  apresentam  especificidades físicas com semelhanças que  podem  ser notadas  em  seu fenótipo  desde  o  nascimento, contudo isso não ocorre em relação ao seu comportamento e ao seu padrão de desenvolvimento. Segundo Schwartzman (1995) não há um padrão estereotipado e previsível em  todas  as  crianças  portadoras  de  Síndrome  de  Down,  uma  vez  que tanto o  comportamento  quanto  o  desenvolvimento  da  inteligência não  dependem exclusivamente  da  alteração  cromossômica, mas também,  do  restante  do  potencial genético  bem  como  das  influências  do  meio  em  que vive.  A criança  deve  ser reconhecida  como  ela  é,  e  não  como  gostaríamos  que  fosse.  As  diferenças devem ser   um   ponto   de   partida   e   não  de   chegada   na   educação   para   desenvolver estratégias  e  processos  cognitivos adequados,  é  necessário dar  oportunidades educativas  apropriadas  a  cada  criança com  Síndrome  de  Down,  respeitando  seus modos e ritmos de aprendizagem.

Segundo “SCHWARTZMAN,1999”, a síndrome de Down é decorrente de uma alteração genética ocorrida durante ou logo após a concepção do feto. É a síndrome genética de maior incidência e tem como principal consequência a deficiência mental. A incidência da SD em nascidos vivos é de um para cada 600/800 nascimentos, tendo uma média de 8.000 novos casos por ano no Brasil. A grande incidência dessa patologia dentre as demais fortalece a necessidade de um atendimento especifico e bem estruturado.

Foi “John Langdon Down, médico inglês, que em 1866”, descreveu pela primeira vez as características de uma criança com a síndrome, também chamada de “mongolismo ou de trissomia do 21”. Todavia, esses termos soam totalmente inadequados e carregam uma série de preconceitos e descrições incorretas que devem ser evitados. Qualquer pessoa está sujeita a ter um filho com síndrome de Down, independente de raça ou condição socioeconômica. A síndrome de Down não é uma doença e também não é contagiosa. Não é decorrente de quedas, emoções fortes ou sustos que possam a vir a ocorrem durante a gravidez e sim, é um acidente genético que ocorre na divisão celular, um processo inatingível aos pais ou cientistas.

“John Langdon Down” relata que toda pessoa tem seu corpo formado por pequenas unidades chamadas células, que só podem ser vistas ao microscópio. Dentro de cada célula estão os cromossomos, que são os responsáveis por todo o funcionamento da pessoa. Os cromossomos determinam, por exemplo, a cor dos olhos, altura, sexo e também o funcionamento e forma de cada órgão interno, como o coração, o estômago e o cérebro. Cada uma de nossas células possui 45 pares ou duplas de cromossomos dentre de cada célula. Um desses pares de cromossomos, chamado de par 21, é que está alterado na síndrome de Down. A criança com síndrome de Down possui um cromossomos 21 a mais, ou seja, ela têm três cromossomos 21 em todas as suas células, ao invés de ter dois. É o que se diz de trissomia 21 portanto, a causa da síndrome de Down é a trissomia do cromossomo 21.

Podem-se encontrar outras alterações genéticas, que causam síndrome de Down. Decorrente de translocação, pela qual o autossomo 21, a mais, encontra-se fundido a outro autossomo. O erro genético também pode ocorrer pela proporção variável de células trissômicas, presente ao lado de células citogeneticamente normais. Essas alterações genéticas são menos frequentes, que a trissomia simples. As alterações genéticas decorrem de “defeito” em um dos gametas, que formarão o indivíduo. Os gametas deveriam conter um cromossomo apenas e assim a união do gameta materno com o gameta paterno geraria um gameta filho com dois cromossomos, como toda a espécie humana. Porém, durante a formação do gameta pode haver alterações e através da não-disjunção cromossômica, que é realizada durante o processo de reprodução, podem ser formados gametas com cromossomos duplos, que ao se unir a outro cromossomos pela fecundação, resulta em uma alteração cromossômica.

Para “SCHWARTZMAN,1999”, estas alterações genéticas alteraram todo o desenvolvimento e maturação do organismo e inclusive alteraram a cognição do indivíduo portador da síndrome. Além de conferirem lhe outras características relacionadas a síndromes. De forma geral algumas características do Down são: o portador desta síndrome é um individuo calmo, afetivo, bem humorado e com prejuízos intelectuais, porém pode apresentar grandes variações no que se refere ao comportamento destes pacientes. A personalidade varia de indivíduo para indivíduo e estes podem apresentar distúrbios do comportamento, desordens de conduta e ainda seu comportamento pode variar quanto ao potencial genético e características culturais, que serão determinantes no comportamento.

Atualmente, fala-se muito em educação inclusiva, educação esta capaz  de dar conta da diversidade e fazer com que o indivíduo seja inserido na sociedade da qual faz parte. A lógica da inclusão é uma ideia necessária, mas que precisa de mais organização e preparação, principalmente para o professor. O que se pode observar na maioria dos casos são professores  que  se  deparam com  situações  que  são impostas,  já  que  a  escola  é  obrigada  a  aceitar  o  aluno  independentemente  de condições  favoráveis, e  com  isso  em vez  de  incluí-lo  estará  talvez  agravando  suas limitações.

A  aprovação  da Lei  de  Diretrizes e  Bases  da  Educação  Nacional 9394/96 em seu art. 3º estabeleceu, entre outros princípios, o de “igualdade de condições para o acesso e permanência na escola” e adotou nova modalidade de educação para “portadores de necessidades especiais.” Desde  então,  a  temática  da  inclusão  vem sendo discutida, tanto no meio acadêmico quanto na própria sociedade.

De fato, não há em todo o universo duas coisas iguais. Vem daí, que a regra da igualdade consiste em aquinhoar desigualdade aos desiguais na medida em que desigualam. “Por isso; trata-se com desigualdade as pessoas iguais os tratam pessoas desiguais com igualdade seria desigualdade flagrante e não uma igualdade real como se pensaria”. (VOIVODIC, 2004, p. 25).

2-ENTENDENDO A SÍNDROME DE DOWN

A Síndrome  de  Down  é  a  mais  comum  e  conhecida  de  todas  as síndromes. A literatura em  geral  aponta para  várias  nomenclaturas  para esta síndrome, tais como: mongoloide, síndrome   da   acromicria   congênita, mongolismo, trissomia G, trissomia 21, síndrome de Langdon Down. Entretanto,  atualmente,  tem-se  utilizado,  prioritariamente,  a  terminologia  “Síndrome de Down” ou Trissonomia 21. (KOZIMA, 2007).

A síndrome  de  Down  pode  ocorrer  de  três  modos  diferentes:  o primeiro é devido a uma não-disjunção cromossômica total, no qual na medida em  que  o  feto  se  desenvolve,  todas  as  células  acabariam  por  adquirir  um cromossomo 21 extra. Uma segunda forma é a alteração que acontece quando a trissomia não afeta todas as células e, por isso, ganhou a denominação de forma “mosaica”  da  síndrome.  A terceira forma  que  pode  vir  a  acometer  os indivíduos  seria  por  translocação  gênica,  onde  todo,  ou um componente  do cromossomo extra encontra-se ligado ao cromossomo 21 (GONZALÉZ, 2007).

“Segundo Schwartzman 1999”, a síndrome de Down é marcada por muitas alterações associadas, que são observados em muitos casos. Geralmente, a identificação do individuo com essa síndrome é feita na ocasião do nascimento ou, logo, após, pela presença de combinação de várias características físicas:

  • Os olhos apresentam-se com pálpebras estreitas e levemente obliquas, com prega de pele no canto interno (prega epicântica);
  • A íris frequentemente apresenta pequenas manchas brancas (mancas de Brushfield);
  •  A cabeça geralmente é menor e a parte posterior levemente achatada. A moleira pode ser maior e demorar mais para se fechar;
  • A boca é pequena e, muitas vezes, se mantém aberta com a língua projetando-se para fora;
  • As mãos são curtas e largas e, às vezes, nas palmas das mãos há uma única linha transversal, de lado a lado, ao invés de duas;
  • A musculatura, de maneira geral, é mais flácida (hipotonia muscular);
  • Pode existir pele em excesso no pescoço que tende a desaparecer com a idade;
  • As orelhas são, geralmente, pequenas e de implantação baixa. O conduto auditivo é estreito;
  • Os dedos dos pés comumente são curtos e na maioria das crianças há um espaço grande entre o dedão e o segundo dedo. Muitas têm pé chato;

O bebê com síndrome de Down pode apresentar algumas ou todas estas características. É importante ressaltar que, como todas as crianças, eles também se parecerão com seus pais uma vez que herdam os genes deles e, assim, apresentaram características diferentes entre si, como: cor dos cabelos e olhos, estrutura corporal, padrões de desenvolvimento etc. Essas características determinam uma diversidade de funcionamento como aos indivíduos considerados normais.

Quanto às alterações fisiológicas podemos observar nos primeiros dias de vida uma grande sonolência, dificuldade de despertar, dificuldades de realizar sucção e deglutição, porém estas alterações vão se atenuando ao longo do tempo, à medida que a criança fica mais velha e se torna mais alerta.

A criança Down normalmente apresenta grande hipotonia e “segundo Hoyer e Limbrock, citado por Schwartzman 1999’’,o treino muscular precoce da musculatura poderá diminuir a hipotonia.

A hipotonia costuma ir se atenuando à medida que a criança fica mais velha e pode haver algum aumento na ativação muscular através da estimulação tátil “LOTT apud SCHWARTZMAN, 1999, p. 28”

2.1 AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM DA CRIANÇA PORTADORA DE SÍNDROME DE DOWN

Até pouco tempo atrás as crianças com Síndrome de Down eram consideradas incapazes de aprender e interagir no meio social, mas com a ampliação das políticas de inclusão esses sujeitos podem usufruir da oportunidade de vivenciar novos desafios no seio escolar e social.

A criança com síndrome de Down têm idade cronológica diferente de idade funcional, desta forma, não devemos esperar uma resposta idêntica à resposta da “normais”, que não apresentam alterações de aprendizagem. Esta deficiência decorre de lesões cerebrais e desajustes funcionais do sistema nervoso:

O fato de a criança não ter desenvolvido uma habilidade ou demonstrar conduta imatura em determinada idade, comparativamente a outras com idêntica condição genética, não significa impedimento para
adquiri-la mais tarde
, pois é possível que madure lentamente. (SCHWARTZMAN, 1999, p. 246).

A prontidão para a aprendizagem depende da complexa integração dos processos neurológicos e da harmoniosa evolução de funções especificas como linguagem, percepção, esquema corporal, orientação têmporo-espacial e lateralidade.

É comum observar na criança Down, alterações severas de internalizações de conceitos de tempo e espaço, que dificultarão muitas aquisições e refletirão especialmente em memória e planificação, além de dificultarem muito a aquisição de linguagem.

Crianças especiais como as portadoras de síndrome de Down, não desenvolvem estratégias espontâneas e este é um fato que deve ser considerado em seu processo de aquisição de aprendizagem, já que esta terá muitas dificuldades em resolver problemas e encontrar soluções sozinhas.

Outras deficiências que acometem à criança Down e implicam dificuldades ao desenvolvimento da aprendizagem são: alterações auditivas e visuais; incapacidade de organizar atos cognitivos e condutas, debilidades de associar e programar sequências.

Estas dificuldades ocorrem principalmente por que a imaturidade nervosa e não mielinização das fibras pode dificultar funções mentais como: habilidade para usar conceitos abstratos, memória, percepção geral, habilidades que incluam imaginação, relações espaciais, esquema corporal, habilidade no raciocínio, estocagem do material aprendido e transferência na aprendizagem. As deficiências e debilidades destas funções dificultam principalmente as atividades escolares:

Entre outras deficiências que acarretam repercussão sobre o desenvolvimento neurológico da criança com síndrome de Down, podemos determinar dificuldades na tomada de decisões e iniciação de uma ação; na elaboração do pensamento abstrato; no calculo; na seleção e eliminação de determinadas fontes informativas; no bloqueio das funções perceptivas (atenção e percepção); nas funções motoras e alterações da emoção e do afeto. (SCHWARTZMAN, 1999, p. 247)

No entanto, a criança com síndrome de Down têm possibilidades de se desenvolver e executar atividades diárias e até mesmo adquirir formação profissional e no enfoque evolutivo, a linguagem e as atividades como leitura e escrita podem ser desenvolvidas a partir das experiências da própria criança.

As inúmeras alterações do sistema nervoso repercutem em alterações do desenvolvimento global e da aprendizagem. Não há um padrão estereotipado previsível nas crianças com síndrome de Down e o desenvolvimento da inteligência não depende exclusivamente da alteração cromossômica, mas é também influenciada por estímulos provenientes do meio.

No entanto, o desenvolvimento da inteligência é deficiente e normalmente encontramos um atraso global. As disfunções cognitivas observadas neste paciente não são homogêneas e a memória sequencial auditiva e visual geralmente são severamente acometidas.

Foreman e Crews (1998), que partem do princípio de que as crianças portadoras de Síndrome de Down compreendem mais do que conseguem expressar, contestam esses pontos. Sua argumentação é a de que as crianças que foram expostas ao uso de sistemas de comunicação alternativos/ aumentativos, concomitantemente ao uso da linguagem oral, mostraram-se menos frustradas em suas relações interpessoais e de aprendizagem por conseguirem expressar melhor desejos e pensamentos, além de terem enriquecido sua linguagem básica com novos conceitos. Embora reconhecendo que o uso de sistemas alternativos/aumentativos não seja a solução definitiva para os problemas de linguagem do portador de Síndrome de Down, Foreman e Crews (1998) defendem que o uso desses sistemas permite que a criança alcance uma intervenção comunicativa de melhor qualidade junto ao seu meio, possibilitando e encorajando-a a “firmar-se” nesse meio com maior propriedade.

Considerando ainda que uma grande porcentagem dos portadores de Síndrome de Down apresenta variadas intercorrências visuais (que vão desde comprometimentos da acuidade visual até uma maior dificuldade de fixação olho-objeto devido à hipotonia dos músculos ópticos) e auditivos 3 , “Buckley e colaboradores 1993”, observam que alguns cuidados cotidianos na interação com o portador de Síndrome de Down podem impulsionar em muito o seu processo de aprendizagem. Entre esses cuidados está o apoiar em sinais e símbolos gráficos a fala e as instruções/informações dadas, falar clara e descritivamente – evitando o excesso de palavras, mas narrando ações/situações e usando adjetivos e advérbios que ajudem à composição de um todo compreensivo mais amplo, proporcionando adicionalmente “pistas” para facilitar a percepção dos códigos e padrões linguísticos cotidianamente usados na linguagem falada – e com a face voltada para a pessoa portadora e, sobretudo, para que se dê tempo e oportunidades para que essa processe as informações e comunique-se satisfatoriamente.

Recursos de treinamento da memória também foram utilizados por “Buckley e colaboradores 1993” como forma de intervir na defasagem da memória auditiva de curto-prazo, com resultados bastante positivos. Esse treinamento envolveu técnicas de rememoração da informação prévia enquanto nova informação estava sendo transmitida e de categorização das informações de forma a facilitar a recuperação dessas.

“Buckley e Bird 1994, cap. 4”, discutem várias formas de impulsionar o aprendizado matemático do portador de Síndrome de Down, considerando principalmente relevantes a utilização/ensino interdisciplinar (tanto em relação aos professores e pais, quanto em relação aos terapeutas) de vocabulário matemático, como por exemplo, aquele relacionado a medidas, volume, comparações, quantidade, ações – ponha mais um, quantas vezes você jogou…- e o uso de suportes para manter presente e recuperar a informação, tais como ábaco, quadros numerados, cartões com quantidade/numeral em relevo, números de borracha/plástico, objetos de contagem, computador, entre outros.

2.2- O PAPEL DA ESCOLA INCLUSIVA

A educação é um agente transformador  na  sociedade  e  a  escola visa  a  esta  transformação  conectando-se  com  a  realidade.  Segundo  Mills (2003)  a  educação  de  crianças  com  Síndrome  de  Down  é  uma  difícil  tarefa, pois     necessita     de     adaptações     de     ordem     curricular     que     requer acompanhamentos  de  educadores  pais  e  da  sociedade  para  que  se  definam seus objetivos e estratégias educacionais.

Tal educação deve atender   às   necessidades   educacionais   da criança com Síndrome de Down, buscando sempre seguir os princípios básicos da  educação  oferecida  às  crianças  no  ensino  regular,  considerando  suas necessidades  especiais,  sendo  indispensável  que  a  criança  receba  diversos estímulos.

Para tanto  é  na  escola  que  a  criança  tem  a  possibilidade  de  ser reconhecida  como  todas  as  outras  crianças,  que  tem  desejos,  fantasias, necessidade  de  cuidados,  proteção,  atenção,  afeto,  de  escutar  e  aprender, fatores que possibilitam seu desenvolvimento e sua inclusão.

Apesar de o desenvolvimento  da  criança  com  Síndrome  de  Down variar  de  criança  para  criança,  não  significa  que  seu  desenvolvimento  seja inferior  aos  demais,  pelo  contrário,  quando  o  aluno  é  bastante  estimulado e incentivado  a  dar  o  melhor  de  si  em  suas  tarefas,  ele  desenvolve  um  alto potencial para aprendizagem. Alguns adquirem habilidades na área das artes, dança dentre outras  áreas,  além  de  aprenderem  a  ler  e  escrever  na  escola. (Schwartzman, 2003).

Castro  e  Pimentel  (2009,  p.  305)  comentam  sobre  o  papel  que  a escola desempenha na educação da criança com Síndrome de Down:

É importante que  a  escola  tenha  no  seu  planejamento  diário atividades que exijam do sujeito com a síndrome trabalhos de cooperação,       organização,       constituição,       movimentos, compreensão,  exploração  de  propostas  lúdicas  e  materiais diversos para que a criança possa realizar atividades motoras como: pular, rolar, entre outras. Essas ações contribuirão para o desenvolvimento   social,   afetivo,   motor   e   da   linguagem. Quanto maior for a sua estimulação, mais internalizados serão os domínios.

Quando se  trata  da  aprendizagem  de  crianças  com  síndrome  de Down, observa-se que estes alunos têm um grande potencial para aprender e necessitam  de  estímulos  para  que  se  desenvolvam.  Segundo  Schwartzman (2003), observa-se que o progresso alcançado pelos alunos com Síndrome de Down  nas  últimas  décadas  pode  ser  devido  não  somente  à  eficácia  da estimulação precoce, mas, sem dúvida, também a outras situações específicas, principalmente com relação a atitudes familiares mais positivas, melhor atenção na   área   de   saúde,   atendimento   educacional   adequado   e   maior   nível socioeconômico e cultural do meio ambiente.

Quando a criança frequenta a escola, ela entra em um mundo novo e  adquire  progressivamente  conhecimentos  complexos  que  são  exigidos  na sociedade  e  são  indispensáveis  para  a  formação  do  indivíduo,  passando  do conhecimento  adquirido  para  um  conhecimento  fundamentado  e  regrado.  Na afetividade,  a  escola  apresenta  novas  formas  de  adaptação  social  além  do auxílio da família que ensina na interação com um novo grupo (Schwartzman, 2003).

A formação  e a atuação de professores na Educação Especial, bem como no ensino regular é substancial dentro das instituições de ensino sendo necessário  que  ele  amplie  seus  conhecimentos  no  que  tange  à  aspectos referentes à educação das crianças com Síndrome de Down desde a infância, pois,  provavelmente,  no  decorrer  de  sua  atividade  docente  encontrará  com esses alunos e será de grande valor saber como ensinar a estes para que não se sintam excluídos e não sejam excluídos pelo professor e por colegas e se desenvolvam  melhor  em seus  aspectos  cognitivos,  físicos  e  emocionas  na escola e na sociedade.

Uma preocupação  relevante  para  que  o  aluno  com  necessidade especial  se  desenvolva  de  forma  adequada  às  suas  especificidades  é  o ambiente, pois este precisa estar preparado e os educadores devem propiciar estímulos e recursos para que a aprendizagem aconteça, tendo em mente  as necessidades  de  os  professores  serem  assistidos  e  auxiliados  por  órgãos competentes  aprimorando  a  educação  do  aluno  especial  (Adamuz,  2003). Adamuz, (2003, p.35) comenta:

O professor deve ver seu aluno como um ser social e político, construtor do seu próprio conhecimento. Deve percebê-lo como alguém  capaz  de  estabelecer  uma  relação  cognitiva  e  afetiva com  o  meio,  mantendo  uma  ação  interativa  capaz  de  uma transformação    libertadora    e    propiciando    uma    vivencia harmoniosa com a realidade pessoal e social que o envolve. O professor devera,  ainda,  ser  o  mediador  entre  o  aluno  e  o conhecimento,       proporcionando-lhe       os      conhecimentos sistematizados.  Assim  nessa  visão,  o  professor  deixa  de  ser considerado o dono do saber e o aluno, um mero receptor de informações.

Portanto, é evidente  a  necessidade  de  os  professores  acreditarem no potencial dos seus alunos com Síndrome de Down, pois o professor exerce um importante papel no desenvolvimento da criança e é ele que irá mediar os conhecimentos   que   auxiliarão   a   criança   a   desenvolver-se   em   todos   os aspectos de seu crescimento tanto na escola quanto fora dela.

Por meio desta, é possível verificar a importância de a criança com Síndrome de  Down  frequentar  as  instituições  regulares  de  ensino,  além  de exercer  o  seu  direito  garantido  por  lei.

Para Schwartzman (2003), os professores desempenham um papel fundamental na identificação e encaminhamento das crianças com necessidades   educacionais   especiais,   e   as   escolas   de   ensino   regular, entendendo  que,  quando  a  criança  frequenta  a  escola  regular,  ela  será desafiada  constantemente,  de  modo  a  obter  resultados  mais  satisfatórios  e ampliar seu  e  desenvolvimento.  A educação  inclusiva  defende  a  educação democrática para todos. De acordo com Nunes; Saia e Tavares (2015. p.1109):

A Declaração de Salamanca ajudou a expandir o conceito de necessidades educativas especiais para   todo   aquele   que precisasse    da    adaptação    da    escola    para    que    suas necessidades   fossem   atendidas   e   a   escolarização,   assim, pudesse  se encaminhar.  Nesse sentido, a educação inclusiva nos lembra de que não apenas os alunos com deficiência têm sofrido dificuldades de  inserção  nos  espaços  escolares.  É a partir desse marco   que    a    educação    inclusiva    vai    se popularizando,   partindo   sim   da   educação   especial,   mais vislumbrando  uma  nova  concepção  de  educação:  a  escola precisa incluir não apenas os “especiais” mais todos os alunos.

A educação inclusiva é analisada com frequência por diversos autores, visto que todas as crianças  possuem  o  direito  à  educação  e  que  o acesso ao ensino regular lhes é garantido por lei. Independentemente de suas limitações, todos possuem o direito de terem condições adequadas para a sua educação, dever do Estado e papel da escola (ADAMUZ, 2003).

O professor especializado deve valorizar as reações afetivas de seus alunos e estar atento a seu comportamento global, para solicitar recursos mais sofisticados como a revisão medica ou psicológica. E outro fato de estrema importância na educação especial é o fato de que o professor deve considerar o aluno como uma pessoa inteligente, que têm vontades e afetividades e estas devem ser respeitados, pois o aluno não é apenas um ser que aprende.

A educação especial atualmente é prevista por lei e foi um direito adquirido ao longo da conquista dos direitos humanos. A garantia de acesso a educação e permanência da escola requer a prática de uma política de respeito às diferenças individuais “VAYER, 1989”.

2.3 PAPEL DA FAMÍLIA

O convívio com a família bem como a sua participação na educação da criança  com  Síndrome  de  Down  promove  o  desenvolvimento  tanto  em aspectos cognitivos e emocionais como em aspectos educacionais e motores.

Para Lipp, Martine  e   Menegotto   (2010)   quando   a   criança   é diagnosticada, com Síndrome de Down, há um impacto considerável na família, muitas    vezes    diminuindo    as    expectativas    dos    pais    em    relação    ao desenvolvimento  dos  filhos.  Assim, o trabalho  realizado  com  a  família  e  as escolas é essencial para a aceitação e inclusão da criança na sociedade, de modo que a família sinta que a criança realmente faz parte da sociedade como uma pessoa que tem capacidade para se desenvolver e aprender junto com as outras  crianças,  seja  na  escola,  seja  na  comunidade  com  a  participação  de todos.

A entrada da criança com  Síndrome  de  Down  na  escola, inicia-se com informação, apoio e assessoria às famílias, com o intuito de motivá-los a colaborar e participar dos objetivos a serem desenvolvidos no interior  da  escola.  É importante a  utilização  de  situações  e  recursos  que induzam a interação e a participação de crianças com síndrome de Down nas atividades escolares e familiares, despertando nelas a vontade de realizá-las e, com o tempo, generalizá-las (Schwartzman, 2003).

Para a criança com Síndrome de Down, é necessário que todas as etapas do seu desenvolvimento sejam respeitadas   e   o   planejamento psicomotor, ao ser bem direcionado, irá gerar habilidades que permitem que a criança desenvolva sua independência e crie expectativas que beneficiem sua adaptação com o mundo exterior. (Mills, 2003).

Ao incluir a criança com  Síndrome   de   Down   nos   centros   regulares de ensino, família e escola poderão trabalhar em conjunto para que o desenvolvimento da criança seja contínuo, os pais podem proporcionar o uso funcional  do  que  a  criança  aprende  na  CEI,  colocando  em  prática  o  que  ela aprende, melhorando sua autonomia pessoal e enriquecendo seu contato com atividades lúdicas.

Para tanto, Silva e Barreto (2012) argumentam sobre alguns fatores que facilitam o processo de aprendizagem da criança com Síndrome de Down ,   ressaltando   o   interesse   da   criança   pelos   jogos, competições  vontade  e  desejo  de  aprender  e  explorar  o  meio,  entre  outros aspectos  que  proporcionarão  um  maior  desenvolvimento  e  aprendizagem  da criança, por meio da utilização de variados estímulos e estratégias de ensino.

A escola e o professor, em contato com os pais, podem informá-los acerca do desenvolvimento e evolução das crianças orientando-os sobre como estimular a criança para que ela continue se desenvolvendo fora da escola.

A interação com crianças da mesma faixa etária é necessária, já que a criança aprende  por  meio  da  observação  e  da  exploração  do  meio  e  do contexto em que ela está inserida, o que favorece seu desenvolvimento e sua aprendizagem, tanto em aspectos intelectuais quanto físicos e emocionais.

Para Gonzáles (2007), os  pais  precisam  de  apoio  para  lidar  com  o filho com Síndrome de Down, situação comumente desconhecida. Eles podem apresentar ansiedade, dúvidas em relação à  educação  escolar.  A falta de esclarecimento, pode causar frustrações e levar à busca por soluções mágicas de situações vivenciadas no cotidiano.

Dessa forma, é necessário perceber que durante os primeiros anos de vida da criança com Síndrome de Down, os pais são as primeiras pessoas que estimularão a criança e o trabalho realizado nas instituições de ensino por professores e profissionais  especializados  só  poderão  dar  continuidade  se houver  o  consentimento  e  apoio  dos  pais  e  familiares.  Assim, é  papel  das famílias  procurar  atendimento  precoce  para  suas  crianças  com  Síndrome  de Down.

A estimulação precoce funcionará  quando, no  interior  da família,  a criança com Down encontrar condições adequadas para se desenvolver com o apoio, cuidados com a saúde e alimentação. Para Gonzáles (2007), a família pode oferecer estas condições dependendo da saúde mental da mãe e do pai, interação entre os  familiares,  características  dos  pais,  relacionamento  com  a criança,  características  da própria  criança, situação econômica, dentre outros fatores  que  facilitarão  ou  prejudicarão  o  desenvolvimento  e  evolução  da criança. Quando as características da família não são adequadas, pode ocorrer um atraso no desenvolvimento da criança.

Partindo destes  aspectos,  faz-se  necessário  pensar  o  papel  da família e da sociedade para o desenvolvimento da criança com Síndrome de Down analisando a importância do trabalho em conjunto para que os objetivos estabelecidos  com  a  estimulação  precoce  de  criança  sejam  atingidos  e  elas realmente tenham o direto a uma inclusão de fato.

3-CONCLUSÃO

Os dados obtidos leva a conclusão de que o desenvolvimento da criança depende da estimulação precoce, do enriquecimento do ambiente no qual ela está inserida e fundamentalmente do apoio da família, a qual é a base primordial para a aquisição de linguagem oral, principalmente nos primeiros anos de vida, quando a criança encontra-se em período de maturação orgânica e seu sistema nervoso esta sendo moldado pelas experiências e estímulos recebidos e internalizados. Essa estimulação oportuniza o desenvolvimento da criança de modo a proporcionar-lhe autonomia, autoestima, confiança, competências e condições  para  que  ela  se  torne  um  sujeito  ativo  dentro  da sociedade.

O trabalho feito nos permitiu perceber que os alunos com Síndrome de Down, estão tendo a oportunidade de participar de um processo de ensino-aprendizagem ancorado no uso de metodologias específicas que contemplem as singularidades de cada um, mesmo sabendo que ambos têm um ritmo de aprendizagem diferenciado e com isso, estão mostrando ao mundo que são capazes de realizar diversas atividades, superar barreiras e realizar sonhos.

Os downs, estão virando chefes de cozinha, abrindo seu próprio restaurante, descobrindo suas habilidades em arte, participando de propagandas de marcas famosas, virando jogadores de futebol, participando de peças de teatros, entre outros. Estão provando ao mundo que eles são capazes de fazer as mesmas coisas que uma pessoa considerada “normal”.

A educação especial é determinante no processo de estimulação inicial e cabe ao professor de turmas especiais, trabalhar suas crianças desenvolvendo nestas capacidades de praticarem atividades diárias, participar das atividades familiares, desenvolver seu direito de cidadania e até mesmo desenvolver uma atividade profissional. Para isso, profissionais especializados e cuidados especiais devem ser tomados, a fim de facilitar e possibilitar um maior rendimento e desenvolvimento educacional dos portadores de tal síndrome.

Enfim, a grande importância da estimulação se dá pela grande necessidade da criança de vivenciar experiências permitiram seu desenvolvimento, respeitando suas deficiências e explorando suas habilidades. Esse estudo permite aos familiares (mãe, pai, cuidadores…), aumentar suas possibilidades de observação e intervenção, objetivando aprimorar a  aprendizagem de seus filhos, que são crianças especiais, que tem dificuldades como qualquer outra pessoa e são também crianças capazes de vencer suas dificuldades e se desenvolverem.

4-REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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1Instituto Federal de Minas Gerais – IFMG
orcid 0009-0001-5700-5748

2Licenciada em Pedagogia
Universidade de Franca-Unifran

3Bacharel em Administração
Instituto Federal de Minas Gerais – IFMG
orcid: 0009-0005-8979-8622

4Bacharel em Administração
Instituto Federal de Minas Gerais – IFMG
orcid: 0009-0006-8430-3106