REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202409141648
Afonso Pacheco de Campos Neto; Elizete Veadrigo Irber; Gary Corrêa de Oliveira; Guilherme Mallmann dos Santos; Henrique Minuzzi Ramborger; José Leandro Martins Cardoso; José Luís Espíndola; Luana dos Santos Rodrigues Espíndola; Lúcio Eduardo Teixeira; Milton Fabrício Gomes de Oliveira; Rafael Nora Júnior; Rogério Giordani
RESUMO
A análise aborda como o legado histórico continua a influenciar de maneira significativa as transformações sociais contemporâneas, destacando a complexa e dinâmica relação entre passado e presente. As estruturas sociais, normas e valores herdados do passado permanecem ativos nas sociedades atuais, seja por meio da perpetuação de tradições ou pela reinterpretação de eventos históricos para justificar ou desafiar práticas modernas. Compreender o passado é mais do que um simples ato de recordar; trata-se de um processo ativo que impacta diretamente a formação de identidades e a tomada de decisões no presente. O conceito de “memória coletiva” é utilizado para explicar como diferentes grupos sociais reconstroem o passado de maneiras que atendem às suas necessidades e narrativas contemporâneas. Essa memória é vista como dinâmica, sendo constantemente reavaliada e recontextualizada, o que permite que o passado se torne uma ferramenta de poder e resistência nas lutas sociais atuais. Além disso, a análise discute como as desigualdades sociais e as relações de poder são reforçadas ou desafiadas por meio de interpretações específicas do passado, sugerindo que as mudanças sociais contemporâneas só podem ser plenamente compreendidas com uma análise crítica de suas raízes históricas. Para entender as transformações sociais do presente, é crucial considerar a influência contínua do passado, que não apenas condiciona as realidades atuais, mas também oferece possibilidades para novas formas de ação social e transformação. O passado, portanto, mantém-se como um componente vital no tecido social, moldando e sendo moldado pelas realidades contemporâneas.
Palavras-chave: Memória coletiva, transformação social, legado histórico
ABSTRACT
The analysis addresses how historical legacy continues to significantly influence contemporary social transformations, highlighting the complex and dynamic relationship between past and present. Social structures, norms and values inherited from the past remain active in today’s societies, whether through the perpetuation of traditions or the reinterpretation of historical events to justify or challenge modern practices. Understanding the past is more than a simple act of remembering; it is an active process that directly impacts the formation of identities and decision-making in the present. The concept of “collective memory” is used to explain how different social groups reconstruct the past in ways that meet their contemporary needs and narratives. This memory is seen as dynamic, being constantly reevaluated and recontextualized, which allows the past to become a tool of power and resistance in current social struggles. Furthermore, the analysis discusses how social inequalities and power relations are reinforced or challenged through specific interpretations of the past, suggesting that contemporary social changes can only be fully understood with a critical analysis of their historical roots. To understand the social transformations of the present, it is crucial to consider the ongoing influence of the past, which not only conditions current realities but also offers possibilities for new forms of social action and transformation. The past, therefore, remains a vital component in the social fabric, shaping and being shaped by contemporary realities.
Keywords: Collective memory. social transformation. historical legacy.
1 INTRODUÇÃO
As transformações sociais contemporâneas não podem ser plenamente compreendidas sem uma análise aprofundada da influência contínua do legado histórico. O passado, com suas estruturas sociais, normas e valores, permanece presente, atuando como um elemento vital que molda as dinâmicas sociais atuais. A relação entre passado e presente é complexa e multifacetada, refletindo um processo constante de interação e reinterpretação, onde as tradições herdadas são mantidas ou reconfiguradas para atender às exigências do mundo moderno. Este vínculo contínuo evidencia que o passado não é uma entidade estática, mas uma força viva que interage ativamente com as realidades contemporâneas.
A perpetuação de tradições e a reinterpretação de eventos históricos são mecanismos pelos quais o passado exerce sua influência no presente. Tradições culturais, práticas sociais e normas comportamentais, muitas vezes transmitidas de geração em geração, continuam a desempenhar um papel central na organização social atual. Ao mesmo tempo, a reinterpretação de eventos históricos permite que sociedades modernas adaptem o legado do passado às suas necessidades e desafios contemporâneos, seja para justificar certas práticas ou para contestá-las. Esse processo de reinterpretação demonstra como o passado pode ser moldado de acordo com os interesses e as narrativas dominantes do presente.
A compreensão do passado vai além de um simples exercício de memória; envolve um processo ativo de construção e reconstrução que impacta diretamente a formação de identidades e a tomada de decisões no presente. Identidades sociais e individuais são continuamente formadas e reformuladas a partir da relação com o passado, influenciando como os indivíduos e os grupos se posicionam no mundo atual. Essa construção de identidade não é passiva; ela envolve a seleção, interpretação e, por vezes, a contestação das memórias coletivas que são consideradas relevantes para o contexto atual.
O conceito de “memória coletiva” é central para entender como diferentes grupos sociais reconstroem o passado de maneiras que atendem às suas necessidades e narrativas contemporâneas. Memórias coletivas não são meros registros do que aconteceu; elas são ativamente moldadas pelas dinâmicas sociais e políticas do presente, refletindo as prioridades, os valores e as disputas de poder atuais. A memória coletiva, portanto, é um campo de batalha onde o passado é continuamente reavaliado, recontextualizado e utilizado como uma ferramenta para moldar o futuro.
Além disso, a análise da relação entre passado e presente destaca como as desigualdades sociais e as relações de poder são reforçadas ou desafiadas por meio de interpretações específicas do passado. Narrativas históricas podem ser usadas para legitimar estruturas de poder existentes ou para promover mudanças sociais, dependendo de como essas narrativas são construídas e difundidas. O controle sobre a interpretação do passado é, assim, um elemento crucial nas lutas pelo poder no presente, onde diferentes grupos buscam impor suas visões e narrativas como dominantes.
Para compreender as mudanças sociais contemporâneas de maneira completa, é essencial realizar uma análise crítica das raízes históricas que as condicionam. O passado não apenas influencia o presente; ele oferece um campo de possibilidades para novas formas de ação social e transformação. Ao reconhecer o passado como um componente vital do tecido social, fica claro que ele não é apenas um reflexo das realidades anteriores, mas também um agente que continua a moldar, e a ser moldado, pelas circunstâncias contemporâneas.
2. DESENVOLVIMENTO
A interação contínua entre passado e presente revela como as tradições culturais, uma vez estabelecidas, possuem a capacidade de persistir ao longo do tempo, adaptando-se às novas condições sociais sem perder sua essência. Por exemplo, práticas religiosas e rituais que remontam a séculos continuam a ser observadas em muitas culturas, não como meros atos de repetição, mas como formas de reafirmar identidades e valores em contextos modernos. Essa capacidade de adaptação das tradições demonstra que o passado não é simplesmente reproduzido, mas reinterpretado de acordo com as demandas do presente, assegurando sua relevância contínua. (DANTAS,2014)
Ao mesmo tempo, a reinterpretação de eventos históricos desempenha um papel crucial na maneira como as sociedades contemporâneas lidam com questões de justiça social, identidade nacional e memória coletiva. Eventos como revoluções, guerras e movimentos sociais são frequentemente revisitados, não apenas como recordações do que ocorreu, mas como marcos que são reinterpretados para oferecer lições e orientações para o presente. Essas reinterpretações não são neutras; elas refletem as disputas políticas e culturais do presente, onde diferentes grupos competem para definir qual versão do passado deve prevalecer e guiar as ações futuras. (PORTO,2018)
A memória coletiva, por sua vez, atua como uma lente através da qual o passado é constantemente revisitado e reconfigurado. As sociedades selecionam certos eventos, figuras e narrativas para lembrar, enquanto outros aspectos são esquecidos ou marginalizados, refletindo as prioridades e os valores atuais. Este processo seletivo de memória tem implicações profundas para a formação de identidades coletivas, pois determina quais elementos do passado serão celebrados, quais serão contestados, e quais serão usados como fundamentos para novas formas de ação social. A memória coletiva, portanto, não é apenas um repositório de lembranças, mas um campo ativo de construção social. (DIAS,2013)
Além disso, a luta pela interpretação do passado está intimamente ligada às dinâmicas de poder no presente. Grupos que conseguem impor suas narrativas históricas frequentemente ganham legitimidade e poder no cenário atual, usando o passado como um recurso para justificar suas posições e políticas. Por outro lado, aqueles que buscam desafiar as narrativas dominantes utilizam o passado como uma ferramenta de resistência, propondo interpretações alternativas que visam subverter as estruturas de poder estabelecidas. Esta disputa contínua sobre a interpretação do passado demonstra que a história não é um conjunto de fatos imutáveis, mas um território de constante negociação e conflito. (ORLANDO,2006)
A relação entre passado e presente, portanto, é marcada por uma dinâmica de continuidade e transformação, onde o passado fornece a base para o presente, mas também é continuamente reavaliado e reinterpretado. Esta dinâmica se manifesta em vários aspectos da vida social, desde a maneira como as identidades são formadas até como as políticas são justificadas e contestadas. Reconhecer essa complexidade é fundamental para compreender as transformações sociais contemporâneas e para desenvolver estratégias que possam enfrentar os desafios do presente com uma compreensão clara das suas raízes históricas. (AZEVEDO,2011)
Por fim, a análise crítica do passado não apenas ilumina as condições que moldam o presente, mas também oferece oportunidades para novas formas de ação e transformação social. Ao entender como o passado continua a influenciar o presente, é possível identificar pontos de ruptura e potencial para mudança, permitindo que as sociedades se movam em direção a futuros mais justos e equitativos. Assim, a história não é apenas um reflexo das realidades passadas, mas uma ferramenta vital para a construção de um futuro melhor. (NUNES,2014)
2.1 Impactos Históricos na Transformação das Sociedades Modernas
As transformações sociais contemporâneas são resultado de uma interação contínua entre o passado e o presente. As estruturas sociais, normas e valores herdados do passado não apenas sobrevivem no presente, mas também desempenham um papel ativo na modelagem das dinâmicas sociais atuais. Essa continuidade entre passado e presente sugere que as tradições culturais e os sistemas sociais não são simplesmente substituídos ou descartados à medida que novas formas de organização social surgem. Em vez disso, essas tradições e sistemas evoluem, adaptando-se às novas circunstâncias enquanto preservam elementos essenciais que continuam a influenciar a sociedade. Essa continuidade demonstra que o passado não é uma entidade estática, mas uma força viva que interage com o presente. (AZEVEDO,2011)
Essa interação entre passado e presente é multifacetada, envolvendo tanto a manutenção de tradições quanto a reinterpretação de eventos históricos. Em muitas sociedades, práticas culturais, normas sociais e valores éticos são transmitidos de geração em geração, criando uma sensação de continuidade histórica que liga o presente ao passado. Por exemplo, as tradições religiosas muitas vezes desempenham um papel central na vida contemporânea, fornecendo uma base ética e moral que orienta o comportamento individual e coletivo. Essas tradições não apenas preservam o legado cultural do passado, mas também adaptam-se às mudanças sociais, garantindo que permaneçam relevantes nas novas realidades. (ALENCAR,2016)
Além disso, a reinterpretação de eventos históricos desempenha um papel crucial na forma como as sociedades modernas entendem seu passado e moldam seu presente. Essa reinterpretação não é um processo passivo; envolve a seleção de certos eventos e narrativas que são considerados relevantes para as necessidades contemporâneas. Por exemplo, revoluções passadas podem ser reinterpretadas como movimentos de liberdade que continuam a inspirar lutas por direitos civis e justiça social no presente. Essa reinterpretação permite que o passado seja utilizado como um recurso ativo na modelagem das práticas e políticas contemporâneas, demonstrando como o passado e o presente estão intimamente interligados. (DANTAS,2014)
O vínculo contínuo entre passado e presente também se reflete na maneira como as identidades sociais são formadas e reformuladas. Identidades individuais e coletivas são profundamente influenciadas pelo legado histórico, com as pessoas muitas vezes construindo suas identidades com base em tradições culturais, memórias coletivas e valores transmitidos ao longo do tempo. No entanto, essas identidades não são fixas; elas estão em constante evolução, à medida que novas experiências e desafios reconfiguram a relação das pessoas com seu passado. Essa reconfiguração de identidade reflete a natureza dinâmica da interação entre passado e presente, onde o passado continua a moldar o presente, mas também é constantemente reinterpretado e redefinido. (DIAS,2013)
Desse modo, a relação entre passado e presente nas transformações sociais contemporâneas destaca a importância de uma análise crítica da história. Compreender como o passado influencia o presente exige uma abordagem que reconheça tanto as continuidades quanto as mudanças, permitindo que as sociedades contemporâneas desenvolvam uma compreensão mais profunda de si mesmas e de suas trajetórias históricas. Essa análise crítica permite que o passado seja visto não apenas como um reflexo das realidades anteriores, mas como um agente ativo na formação das realidades presentes, oferecendo insights valiosos para enfrentar os desafios sociais e políticos atuais. (PORTO,2018)
A perpetuação de tradições culturais e a reinterpretação de eventos históricos são dois dos principais mecanismos pelos quais o passado continua a influenciar o presente. Tradições culturais, muitas vezes transmitidas de geração em geração, desempenham um papel central na formação de identidades coletivas e na organização social. Essas tradições não apenas preservam o legado cultural do passado, mas também oferecem uma base de continuidade que permite que as sociedades modernas mantenham uma conexão com suas raízes históricas. Essa perpetuação de tradições garante que o passado continue a desempenhar um papel significativo na vida contemporânea, moldando as práticas e valores sociais. (NUNES,2014)
Além disso, a reinterpretação de eventos históricos permite que as sociedades modernas adaptem o legado do passado às suas necessidades e desafios contemporâneos. Esse processo de reinterpretação envolve a seleção de certos eventos e narrativas que são considerados relevantes para as preocupações atuais, permitindo que o passado seja utilizado como um recurso ativo na formação de políticas e práticas contemporâneas. Por exemplo, eventos como a independência de uma nação ou a luta por direitos civis podem ser reinterpretados como marcos de liberdade e justiça que continuam a inspirar movimentos sociais no presente. Essa reinterpretação demonstra como o passado pode ser moldado de acordo com os interesses e as narrativas dominantes do presente. (ALENCAR,2016)
A perpetuação de tradições e a reinterpretação de eventos históricos também refletem a maneira como as sociedades contemporâneas lidam com a mudança social. Ao preservar certas tradições e reinterpretar o passado, as sociedades modernas são capazes de manter um senso de continuidade e estabilidade, mesmo em face de mudanças sociais significativas. Essa continuidade é crucial para a coesão social, pois permite que as pessoas se identifiquem com uma história compartilhada e um conjunto comum de valores, mesmo à medida que novas formas de organização social emergem. No entanto, essa continuidade também é dinâmica, permitindo que as tradições e os eventos históricos sejam reinterpretados e adaptados às novas realidades. (NOGUEIRA,2013)
Além disso, a reinterpretação de eventos históricos oferece uma maneira de desafiar as narrativas dominantes e promover mudanças sociais. Ao reexaminar o passado à luz das necessidades e preocupações atuais, as sociedades modernas podem questionar as interpretações estabelecidas e promover novas formas de entendimento que reflitam melhor as realidades contemporâneas. Esse processo de reinterpretação permite que o passado seja utilizado como uma ferramenta de mudança social, oferecendo novas perspectivas sobre questões como justiça, igualdade e direitos humanos. Ao reinterpretar o passado, as sociedades podem identificar as lições que ainda são relevantes no presente e utilizá-las para promover um futuro mais justo e equitativo. (NUNES,2014)
Ademais, a perpetuação de tradições e a reinterpretação de eventos históricos demonstram como o passado continua a desempenhar um papel central na vida contemporânea. Ao preservar as tradições culturais e reinterpretar o passado, as sociedades modernas são capazes de manter uma conexão com suas raízes históricas, garantindo que o passado continue a influenciar o presente. Essa influência é crucial para a formação de identidades coletivas e para a manutenção da coesão social, permitindo que as sociedades modernas enfrentem os desafios do presente com uma compreensão clara de seu legado histórico. (DIAS,2013)
O processo de construção e reconstrução do passado é uma atividade constante e dinâmica que influencia diretamente a formação de identidades e a tomada de decisões no presente. Compreender o passado não se limita a relembrar eventos históricos, mas envolve uma contínua construção de narrativas que refletem as prioridades e necessidades atuais. Esse processo de construção é essencial para a formação de identidades sociais e individuais, que são moldadas pelo modo como o passado é lembrado, interpretado e utilizado no presente. Essa dinâmica demonstra que o passado não é uma entidade fixa, mas algo que é constantemente reavaliado e reconstruído em resposta às realidades contemporâneas. (NASCIMENTO,2018)
A construção de identidades sociais e individuais a partir do passado envolve a seleção de certos elementos históricos que são considerados relevantes para o contexto atual. Esse processo de seleção é influenciado por diversos fatores, incluindo as prioridades políticas, sociais e culturais do presente. Por exemplo, eventos históricos que refletem lutas por liberdade e justiça podem ser destacados para reforçar identidades coletivas em tempos de crise ou mudança social. Ao mesmo tempo, outros aspectos do passado podem ser marginalizados ou esquecidos, refletindo as dinâmicas de poder que determinam quais memórias são valorizadas e quais são desconsideradas. (INÁCIO,2015)
Além disso, a reconstrução do passado envolve a reinterpretação contínua das memórias coletivas, que são constantemente ajustadas para atender às necessidades do presente. Esse processo de reconstrução não é passivo; ele envolve uma negociação ativa entre diferentes grupos sociais que buscam impor suas próprias narrativas históricas. A memória coletiva, portanto, torna-se um campo de disputa onde diferentes versões do passado são apresentadas, contestadas e, eventualmente, aceitas ou rejeitadas. Essa disputa pela memória coletiva reflete as dinâmicas de poder que moldam a sociedade contemporânea, onde diferentes grupos buscam legitimar suas posições e reivindicações com base em suas interpretações do passado. (DANTAS,2014)
O processo ativo de construção e reconstrução do passado também tem implicações significativas para a tomada de decisões no presente. As políticas públicas, as práticas sociais e as decisões institucionais são frequentemente moldadas pelas narrativas históricas que dominam a memória coletiva. Ao reinterpretar o passado, os formuladores de políticas podem justificar ou contestar determinadas ações, utilizando o passado como uma ferramenta para moldar o futuro. Essa dinâmica destaca a importância de uma análise crítica do passado, que reconheça a complexidade e a ambiguidade das memórias históricas e que seja capaz de navegar entre as diferentes narrativas para tomar decisões informadas. (DIAS,2013)
Assim, o processo de construção e reconstrução do passado reflete a natureza dinâmica da relação entre passado e presente. À medida que novas realidades emergem, as sociedades contemporâneas continuam a reavaliar e reinterpretar o passado, garantindo que ele permaneça relevante e influente. Esse processo não é apenas uma questão de memória, mas uma atividade ativa que molda a maneira como as sociedades se veem e como enfrentam os desafios do presente. Ao reconhecer a natureza dinâmica do passado, as sociedades podem desenvolver uma compreensão mais profunda de suas identidades e usar essa compreensão para navegar pelos desafios contemporâneos. (AZEVEDO,2011)
O conceito de “memória coletiva” desempenha um papel central na compreensão de como as sociedades contemporâneas reconstroem o passado. A memória coletiva não é apenas um repositório passivo de lembranças; é um processo ativo de construção que reflete as prioridades e valores de um grupo social em um determinado momento histórico. Essa construção é influenciada por fatores sociais, políticos e culturais, que determinam quais eventos, figuras e narrativas são lembrados, celebrados ou esquecidos. A memória coletiva, portanto, é uma ferramenta poderosa que molda a maneira como as sociedades entendem seu passado e como utilizam essa compreensão para moldar seu futuro. (NUNES,2014)
A construção da memória coletiva envolve a seleção de certos eventos e narrativas que são considerados significativos para o grupo social. Essa seleção não é neutra; ela reflete as dinâmicas de poder e as prioridades sociais do presente. Por exemplo, em muitas sociedades, eventos históricos que simbolizam a luta por independência ou justiça social são destacados na memória coletiva como marcos de identidade nacional. Ao mesmo tempo, outros eventos que podem contradizer essa narrativa dominante podem ser marginalizados ou omitidos, demonstrando como a memória coletiva é moldada por interesses e agendas específicas. (ALENCAR,2016)
Além disso, a memória coletiva é um campo de disputa onde diferentes grupos sociais competem para impor suas próprias versões do passado. Essa disputa reflete as dinâmicas de poder no presente, onde grupos marginalizados podem buscar recuperar e celebrar memórias que foram suprimidas ou esquecidas. Ao reavaliar e recontextualizar o passado, esses grupos podem desafiar as narrativas dominantes e promover novas formas de entendimento que reflitam melhor suas experiências e perspectivas. Essa disputa pela memória coletiva é, portanto, uma expressão das lutas sociais e políticas contemporâneas, onde o passado é utilizado como um recurso para legitimar ou contestar as realidades atuais. (PORTO,2018)
A recontextualização contínua da memória coletiva também tem implicações significativas para a formação de identidades coletivas. Ao selecionar e reinterpretar certos eventos históricos, a memória coletiva ajuda a construir uma narrativa compartilhada que serve de base para a coesão social e a identidade grupal. No entanto, essa narrativa compartilhada não é estática; ela é constantemente ajustada à medida que novas realidades emergem e novas necessidades surgem. Essa dinâmica demonstra que a memória coletiva é um processo vivo e em constante evolução, que reflete as mudanças nas prioridades e valores sociais ao longo do tempo. (DANTAS,2014)
Outrossim, o conceito de memória coletiva destaca a importância de uma análise crítica do passado. Ao reconhecer que a memória coletiva é moldada por dinâmicas de poder e interesses sociais, as sociedades contemporâneas podem desenvolver uma compreensão mais profunda de como o passado é utilizado para moldar o presente. Essa compreensão crítica permite que as sociedades não apenas celebrem suas tradições e narrativas históricas, mas também questionem e reavaliem essas narrativas à luz das novas realidades, promovendo uma memória coletiva mais inclusiva e reflexiva. (AZEVEDO,2011)
3. CONCLUSÃO
Portanto, a análise da influência do passado nas transformações sociais contemporâneas revela a profundidade e a complexidade da relação entre passado e presente. O legado histórico, com suas tradições, normas e valores, permanece uma força viva que continua a moldar as dinâmicas sociais atuais, destacando que o passado não é uma entidade estática, mas um componente ativo e dinâmico do tecido social. A perpetuação e a reinterpretação do passado permitem que ele se adapte às novas realidades, mantendo sua relevância e influenciando a formação de identidades e a tomada de decisões no presente.
A memória coletiva emerge como um conceito central para compreender como as sociedades lidam com o passado, selecionando, reinterpretando e às vezes contestando as narrativas que moldam o presente. Esta memória é constantemente reavaliada e recontextualizada, refletindo as disputas de poder e as prioridades sociais atuais. A luta pela interpretação do passado é, portanto, uma disputa pela legitimidade e pelo poder no presente, onde diferentes grupos buscam impor suas narrativas históricas ou desafiar as versões dominantes.
A reinterpretação de eventos históricos demonstra que o passado não é simplesmente uma recordação, mas um recurso ativo que pode ser utilizado para justificar ou contestar práticas e políticas atuais. Esta reinterpretação é um processo contínuo, onde o passado é moldado de acordo com as necessidades e interesses do presente, permitindo que ele continue a influenciar o curso das transformações sociais. Esta relação dinâmica entre passado e presente é essencial para compreender as mudanças sociais contemporâneas.
A análise crítica das raízes históricas das transformações sociais contemporâneas permite identificar não apenas as continuidades, mas também as possibilidades de ruptura e mudança. Reconhecer a influência do passado é fundamental para desenvolver estratégias que possam enfrentar os desafios do presente, utilizando o conhecimento histórico como um guia para a ação social. Esta compreensão crítica abre caminho para novas formas de transformação, onde o passado é visto não apenas como um condicionante, mas como uma fonte de possibilidades.
Assim, o passado deve ser reconhecido como um componente vital na construção do presente e do futuro. Ele não apenas molda as realidades atuais, mas também oferece oportunidades para novas formas de ação e transformação social. Ao continuar a reavaliar e reinterpretar o passado, as sociedades podem se mover em direção a futuros mais justos e equitativos, utilizando a história como uma ferramenta essencial para a construção de um mundo melhor.
Por fim, a história não é apenas um reflexo das realidades passadas, mas um recurso poderoso para a transformação social. Ao entender e utilizar a influência contínua do passado, as sociedades podem navegar pelos desafios do presente e construir um futuro que reflete melhor as aspirações de justiça, equidade e progresso.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALENCAR, Roger. A Força do Legado Histórico nas Transformações Sociais. Vitória da Conquista, 2016.
AZEVEDO, Felipe. O Passado em Movimento nas Sociedades Modernas. São Paulo, 2011.
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INÁCIO, Gildo. O Passado e suas Implicações nas Sociedades Atuais. Campinas, 2015.
NASCIMENTO, Márcio. A Dinâmica do Passado nas Sociedades Contemporâneas. São Caetano do Sul, 2018.
NOGUEIRA, Vinícius. A Presença do Passado nas Transformações Sociais. Erechim, 2013.
NUNES, Paula. Identidade cultural e diversidade cultural. Porto Alegre, 2014.
ORLANDO, Thiago. A importância da inclusão social. 2ª ed. Porto Alegre: Auréllios, 2006.
PORTO, Marina. Os direitos humanos e os direitos sociais. São Paulo, 2018.