A INFLUÊNCIA DA TECNOLOGIA DIGITAL NO DESENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS COM TEA: POTENCIAL E DESAFIOS.

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202501311732


Lenice Pastana Trindade1
Rosângila Louzada da Silva2
Maria Barbara da Costa Cardoso³


RESUMO

O artigo apresenta o tema Influência da tecnologia digital no desenvolvimento de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), visando analisar tanto os potenciais benefícios quanto os desafios da tecnologia associados ao seu uso. Teve condução de pesquisa com base em uma revisão crítica da literatura disponível, abordando temas como ferramentas digitais. O uso da tecnologia digital oferece diversas oportunidades para o desenvolvimento de habilidades comunicativas e sociais em crianças com TEA. Porém, se faz necessário, muita atenção para utilização da tecnologia digital, uma vez que a dependência excessiva de ferramentas digitais e seu uso inadequado pode apresentar riscos, incluindo o agravamento do isolamento social e a redução das interações face a face. O artigo também discute a importância da formação de profissionais para utilização dessas ferramentas nas práticas pedagógicas para crianças com TEA, bem como a necessidade de uma supervisão adequada, para maximizar os benefícios e abrandar os riscos associados ao uso da tecnologia. Por fim, a pesquisa esclarece que, embora a tecnologia digital possua um grande potencial para apoiar o desenvolvimento de crianças com TEA, é essencial equilibrar sua utilização com práticas que incentivem a socialização e o contato humano, garantindo uma abordagem holística no tratamento e na educação dessas crianças. Sugere-se que futuros estudos se concentrem na criação de diretrizes que orientem o uso eficaz da tecnologia no contexto do TEA.

Palavras-chave: Tecnologia. TEA. Ensino/aprendizagem.

 INTRODUÇÃO

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neurodesenvolvimental caracterizada por desafios na comunicação, na interação social e na presença de comportamentos restritivos e repetitivos. À medida que a sociedade avança, a tecnologia digital se torna uma ferramenta cada vez mais presente na vida cotidiana, incluindo a infância. Nos últimos anos, o uso de dispositivos digitais e recursos tecnológicos tem se expandido significativamente, oferecendo novas oportunidades e abordagens inovadoras no apoio ao desenvolvimento de crianças com TEA.

O objetivo principal desse artigo é investigar as maneiras pelas quais a tecnologia digital pode beneficiar o desenvolvimento de crianças com TEA, com foco em ferramentas e recursos que favorecem a aprendizagem, a comunicação e a socialização.

Vários estudos têm demonstrado que a tecnologia digital pode ser utilizada como um meio eficaz para facilitar a aprendizagem, melhorar as habilidades sociais e enriquecer as experiências de comunicação dessas crianças Aplicativos interativos, jogos educativos e plataformas de aprendizado online podem proporcionar um ambiente adaptável que atende às necessidades específicas de cada criança, promovendo um engajamento que muitas vezes é mais difícil de se obter em contextos tradicionais. No entanto, a integração da tecnologia na vida de crianças com TEA também apresenta desafios, como a potencial dependência excessiva de dispositivos digitais e a possibilidade de isolamento social.

Diante desse cenário, torna-se essencial investigar de maneira crítica a influência da tecnologia digital no desenvolvimento de crianças com TEA, buscando compreender não apenas os benefícios, mas também as armadilhas e os riscos associados ao seu uso. Esse entendimento permitirá a elaboração de práticas mais eficazes para o uso da tecnologia na educação e no cuidado desses indivíduos.

A pesquisa tem como base a revisão da literatura com vistas nas análises de  fundamentos teóricos presentes  em artigos científicos, livros, revistas, encontrados em sites e plataformas educacionais. Seguindo esse contexto esta pesquisa se realizou por meio de procedimentos bibliográficos, tendo enfoque de natureza qualitativa. 

Este artigo apresenta a seguinte estrutura em tópicos e sub-tópicos: 2 O Transtorno do Espectro Autismo, breve contextualização bibliográfica sobre TEA. 3. A Tecnologia Digital no processo de inclusão social. 3.1 A Tecnologia Digital na perspectiva do desenvolvimento da criança com TEA. 4 Procedimentos metodológicos. 5 Análises dos dados. Por fim o tópico 6 As considerações finais.

2. O TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neurodiversa caracterizada por dificuldades na comunicação, interação social e comportamentos repetitivos. Sendo que as características principais são: dificuldades de comunicação: falta de linguagem ou dificuldade para entender e usar linguagem. dificuldades de interação social, a criança sente dificuldade para entender e interpretar sinais sociais. E, comportamentos repetitivos, que são os movimentos estereotipados, interesses restritos ou rituais que a criança apresenta.

A terminologia de TEA refere-se às características associadas e à classificação diagnóstica do transtorno desenvolvida nos sistemas de classificação do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais e da Classificação Internacional de Doenças (CID) (SCHWARTZMAN, 2011).

Ritvo em 1976, passou a considerá-lo uma síndrome relacionada com um déficit cognitivo e não uma psicose, caracterizando assim um transtorno do desenvolvimento. Assim, a relação autismo-deficiência mental passou a ser cada vez mais considerada, pois o autismo já vinha sendo, nos últimos anos, enfocado sob uma ótica desenvolvimentista, sendo relacionado com deficiência mental, uma vez que cerca de 70-86% deles são deficientes mentais (KUCZYNSKI, 2015).

Segundo o Ministério da Saúde (2012):

O autismo, a partir dos anos 1980, deixa de ser incluído entre as “psicoses infantis”, e passa a ser considerado um “transtorno invasivo do desenvolvimento” (TID). Nas classificações mais difundidas, a CID 10, da Organização Mundial da Saúde (1992) e o DSM-IV, da Associação Psiquiátrica Americana (1994), são descritos, além do autismo, a síndrome de Asperger, o transtorno desintegrativo, a síndrome de Rett e os quadros atípicos ou sem outra especificação. Na quinta versão do DSM (DSM-V), a ser lançada em 2013, passa-se a usar a denominação “Transtornos do Espectro do Autismo”, localizados no grupo dos “Transtornos do neurodesenvolvimento”.

Desde a década de 1980, o autismo não foi mais incluído na “psicose infantil” e agora é considerado “transtorno invasivo do desenvolvimento” (TID). Na classificação mais ampla, além do autismo, síndrome de Asperger, doença em desintegração, Rett e se há características atípicas, o CID 10 da Organização Mundial da Saúde (1992) e o DSM-IV (Psiquiatria Americana) The Society (1994), estipulam de outra forma. Na quinta edição do DSM (DSM-V), que será lançada em 2013, é utilizado o nome “Transtorno do Espectro do Autismo”, que está no grupo “Doenças do Neurodesenvolvimento”.

Com o passar dos anos e maior compreensão dos sintomas pelos autores, o diagnóstico foi sendo reformulado e definido. Para uma melhor explanação sobre o modo de como foram definidas as classificações e as nomenclaturas, apresentamos abaixo um quadro baseado especificamente na classificação do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, que mostra a evolução da nomenclatura que atualmente entendemos como TEA (Transtornos do Espectro Autista) (SCHWARTZMAN, 2011).

Quadro 1– Evolução nomenclatura DSM

AnoNomenclaturaClassificação
DSM II1968Esquizofrenia InfantilNão se aplica
DSM III1980Transtorno AutistaTranstorno Mental
DSM IV2002Autismo Infantil Transtorno Global do Desenvolvimento
Síndrome de Asperger
DSMV2014Transtorno do Espectro Autista Transtorno do Neurodesenvolvimento

Fonte: MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012 (ADAPTADO).

Assim, o termo autismo só apareceu como diagnóstico no DSM em 1980, quando passou de sintoma de esquizofrenia infantil para desenvolvimento de acordo com as características da condição diagnóstica encontrada. O termo transtorno autista durou 22 anos até apresentar duas vertentes e ser chamado de autismo infantil e diferenciado da síndrome de Asperger devido à heterogeneidade de características após algumas pesquisas nesta área (SCHWARTZMAN, 2011).

3. A TECNOLOGIA DIGITAL NO PROCESSO DE INCLUSÃO SOCIAL

O cenário educacional atualmente vem se diversificando ao apresentar como meios de formação e construção do conhecimento, as tecnologias digitais de informação e comunicação, que no meio educacional tem se destacado ao longo da última década, 2010 em diante, e assim, vem sendo utilizada para o desenvolvimento de atividades inovadoras. Ampliam-se assim, a conectividade entre as pessoas, por meio das redes sociais e sites de busca, como Google acadêmico, e bancos de dados como: banco de teses e dissertações da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), SCIELO (Scientifi c Eletronic Library Online) para pesquisa dos mais variados temas de pesquisa, contribuem para ampliação do nosso repertório cultural, além de possibilitar a participação do maior número de pessoas na produção do conhecimento. (BERSCH, 2020)

Mediante a perspectiva de inovação tecnológica na inclusão social Falar de ferramentas e aplicativos para atender às necessidades educacionais especiais não significa apenas atender a alunos com alguma deficiência, transtorno de aprendizagem ou síndromes, mas atender também às dificuldades de aprendizagem que podem estar relacionadas à maturidade da criança, aos métodos adotados pelos professores, ao contexto familiar e socioeconômico da criança, ou seja, a tantos fatores que a impedem de aprender ou demonstrar o que aprendeu. Atender a alunos do ensino regular, das salas de atendimento educacional especializado, classes especiais, atendidos em atividades de contraturno ou escolas de modalidade de Educação Especial. 

Para garantir o acesso de crianças com deficiência no ensino regular, o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069/1990, assegura “A PNEE, atendimento especializado no SUS e trabalho protegido” (artigo 11), conforme consta no artigo 55, todas as crianças em idade escolar devem, obrigatoriamente, estar matriculadas na rede regular de ensino (BRASIL, 1990, s.p.). Ainda, nessa década, foi publicada a Declaração Mundial de Educação para Todos (UNICEF, 1990), com objetivo de promover a satisfação das necessidades básicas de aprendizagem, bem como a Declaração de Salamanca (1994), que dispõe sobre os princípios e práticas na área das necessidades educativas especiais. Esses documentos influenciaram a formulação das políticas públicas da educação inclusiva. 

Entretanto, pensando na possibilidade de melhorar a educação de alunos com deficiência, surgiu uma proposta para implementar o uso de recursos tecnológicos no ensino regular e atender ao item VIII, do artigo 3º, do plano Viver Sem Limite, foi a regulamentação do Programa Um Computador por Aluno (PROUCA) e o regime especial de incentivo a computadores para uso educacional (REICOM) por meio do Decreto nº 7.750, publicado em 2012, que beneficiou as redes públicas de ensino desde as redes municipais, estaduais, federais, a fim de beneficiar o atendimento à pessoa com deficiência, mediante a utilização de soluções de informática. (BRASIL, 2011)

Assim, a tecnologia surge como uma ferramenta considerada funcional na promoção para inclusão social. As tecnologias da informação e comunicação – TIC podem interferir e mediar os processos do conhecimento e comunicação envolvendo a pessoa com TEA, isso porque ela abrange um conjunto de tecnologias, entre elas a de Tecnologia Assistiva (TA), conforme Bersch (2020, p. 31):

A tecnologia assistiva é uma expressão utilizada para identificar todo o arsenal de recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e, consequentemente, promover vida independente e inclusão.

É possível notar nas palavras de Bersch que há um arsenal de recursos e serviços, porém, o que não fica esclarecido é que esse arsenal é apenas na área da tecnologia por meio de programas de computadores, tablets, celular… Mediante a isso pode se dizer que esse arsenal, é muito mais amplo e ainda conforme Bersche (2020. p. 5), podem ser de baixo recurso, ou seja: 

Materiais e produtos que favorecem desempenho autônomo e independente em tarefas rotineiras ou facilitam o cuidado de pessoas em situação de dependência de auxílio, nas atividades, como se alimentar, cozinhar, vestir-se, tomar banho e executar necessidades pessoais.

Por esse ângulo conseguimos enxergar a dinamicidade da tecnologia e a comunicação por meio de suas diversas ferramentas. Assim, ela pode apresentar-se como importante aliada no processo de inclusão das pessoas com TEA em toda sociedade, tornando-se um instrumento importante na produção de conhecimento, comunicação e como uma alternativa para reduzir crises de ansiedades e comportamentais. Essa mediação, por meios tecnológicos, tem o interesse de oportunizar ou potencializar a comunicação entre os sujeitos com TEA e o seu meio, podendo ser de forma individual ou compartilhada.

Conforme Facci (2004), a interação em pessoas com atrasos de linguagem pode ter resultados positivos por meio de vários instrumentos, e não necessariamente por outro ser humano. Os dispositivos eletrônicos e digitais estão crescendo em um ritmo acelerado, ganhando popularidade à medida que se tornam mais acessíveis. Nesse sentido, Aragão, Bottentuit Junior e Zaqueu (2019, p. 3) continua que: 

É importante aproveitar as habilidades que as crianças desta geração apresentam, como predileção por máquinas fotográficas, celulares, computadores, tablets, jogos, entre outros dispositivos a favor da sua interação, para realizar atividades que promovam o avanço do desenvolvimento infantil.

Nesse sentido, é favorecido também meios novos para desenvolver habilidades de autoajuda, como interação social, comunicação, atenção, motivação, organização de hábitos diários, bem como conhecimento acadêmico. O desenvolvimento dessas novas habilidades tem impacto diretamente no comportamento amenizando as supostas crises de desorganização, que a pessoa com TEA venham a ter. Dessa forma, para a pessoa com TEA e a comunidade em que ela convive, observamos que as tecnologias quando bem utilizadas irá estimular e/ ou desenvolver habilidades necessárias a vida da pessoa, trazendo mudanças significativas.

          3.1 A tecnologia digital na perspectiva do desenvolvimento da criança com TEA

Estudos e pesquisas como a de Lima (2018) surge da necessidade de entender e auxiliar a interação, comunicação e comportamento das crianças e adultos com TEA, com préstimos da (Comunicação Alternativa – CA e Tecnologias da Informação e Comunicação – TIC). (SANTOS, 2020)

No Transtorno do Espectro Autista – TEA – a comunicação é uma das áreas mais afetadas. E quando os pais observam que há atraso na fala de seu filho, ele logo fica em alerta, visto que provavelmente pode ser um sinal mais conhecido de que a criança pode ter TEA. Porém, sabemos que cada caso é único quando se fala do desenvolvimento da linguagem da pessoa com TEA, visto que em algumas vezes a criança pode apresentar gagueira, alterações de prosódia, além do atraso, como apresentam as Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtorno do Espectro do Autismo (BRASIL, 2014).

De acordo com Mittler e Mittler (2001), a inclusão é um caminho a ser trilhado, e ainda há um longo caminho a percorrer, por isso, é preciso organização nos planejamentos de ensino a fim de atender e propor alternativas para que os alunos possam desenvolver as atividades, e a tecnologia é uma grande aliada para a proposta de inclusão. Não se pode esquecer de que para utilizar aplicativos, softwares para essa finalidade, é necessário avaliar as condições necessárias para que a atividade possa ser realizada. Inclui-se nessa avaliação, considerar as características da turma e dos alunos, sejam eles alunos com necessidades educacionais especiais ou não. 

Para auxiliar no desenvolvimento da criança autista foram criados diversos aplicativos, um deles é o ABC do Autismo, que foi desenvolvido com base no método TEACCH, que tem por objetivo auxiliar no processo de aprendizagem de crianças autistas por meio de atividades divertidas. O aplicativo está disponível em espanhol, português e inglês. Possui quatro níveis e 40 fases interativas, pode ser utilizado em sala de aula regular, sala de recursos multifuncional ou profissionais no atendimento psicopedagógico. Além deste, temos outros aplicativos mais específicos, são todos do mesmo desenvolvedor Dokye Mobile, são eles: ABC do Autismo – Animais; ABC do Autismo – frutas; ABC do Autismo – transportes; 123 Autismo, que podem ser instalados separadamente. (PASINI, 2020)

Esses aplicativos contribuem no processo de desenvolvimento do autista, com foco na comunicação, visto que esse fator é o que mais interfere no desenvolvimento da criança com TEA. Por isso, de acordo com Santos (2020) é importante pensar em novas formas e possibilidades de comunicação, alternativas que sejam favoráveis para melhorar a compreensão dos ensinamentos destinados aos autistas e por todos que vivem em sua volta. É nesse contexto se pensou em abordar as tecnologias digitais como forma incentivar a criança autista a buscar por aprendizados e assim dependendo do nível do TEA se tornar uma pessoa autônoma nas suas atividades cotidianas. Fazer uso das tecnologias da informação e comunicação pode ser uma alternativa favorável ao desenvolvimento cognitivo da criança autista. 

Entende-se então que a tecnologia digital na vida do autista pode ser uma ferramenta para complementar e suplementar, que de fato possa suprir a falta de estruturas mentais que o cérebro da pessoa com déficit de linguagem não foi capaz de criar.

Assim, a dificuldade imposta pela dificuldade em comunicar-se da pessoa com TEA tem gerado muitos desafios para a família e educadores, e os recursos tecnológicos têm se tornado um grande aliado em trazer transformações significativas em suas vidas. Conforme Campbell (2009, p. 123): 

Quanto mais o aprendizado se tornar algo valioso e significativo para a criança, igualmente será a oportunidade de buscar por seu desenvolvimento e, para que isso aconteça, o facilitador deverá ter uma base teórica sólida acerca do TEA de forma que não exiba ideias preconcebidas ou concepções equivocadas.

Desse modo, observa-se que a inclusão associada ao uso da tecnologia digital apresenta grandes possibilidades para o desenvolvimento de crianças com TEA, com isso ela vai ter mais facilidade para desenvolver inúmeras habilidades, que vai além da comunicação. E para auxiliar nesse desenvolvimento já podemos contar com diversas ferramentas tecnológicas inseridas no sistema de aplicativos. Por exemplo, O PECS (Picture Exchange Communication System), como um sistema digital que cabe no bolso, diferente das fichas físicas que também são muito utilizadas. (CAMPBELL, 2009)

O fato é que a tecnologia permite digitalizar essas fichas, mas isso não significa que não irá ser criado o relacionamento interpessoal, além de interação entre face a face e individual entre o sujeito e máquina. São tecnologias capazes de favorecer a autonomia, ampliar o repertório de interesses, desenvolvendo a sua funcionalidade, para obter avanços no processo de aprendizagem de forma global se bem utilizados. (SANTOS, 2020)

Isso porque, em geral, antes de desenvolver uma determinada tecnologia, segue-se um protocolo baseado em investigação teórica. No caso específico em desenvolver tecnologias para auxiliar a pessoa com TEA a se comunicar por meio de PECS, a maioria dos aplicativos criados foram baseados em estudos a partir de técnicas específicas da Psicologia Behaviorista por meio da metodologia ABA (sigla em inglês para Análise Comportamental Aplicada). Nesse contexto, Mello e Sganzerla (2013, p. 4-5) dialoga que:

A Psicologia Behaviorista dedica-se ao estudo das interações entre o ambiente (os estímulos) e o indivíduo (suas respostas), uma vez que “certos estímulos levam o organismo a dar determinadas respostas, isso ocorre porque os organismos se ajustam aos seus ambientes por meio de equipamentos hereditários e pela formação de hábitos […]. Pesquisas indicam que quando o PECS é implementado, a fala pode emergir em muitas pessoas. A Análise Comportamental Aplicada (ABA), citada anteriormente como base do PECS, […] analisa e explica a associação entre o ambiente, o comportamento humano e a aprendizagem.

De tal modo, percebemos que o uso de ferramentas digitais pode ser vistas como uma valiosa possibilidade para famílias e profissionais que atendem pessoas com TEA em qualquer idade, auxiliando com base na psicologia, pedagogia e tecnologia. Haja vista que as telas de computadores e os aplicativos que tanto entretêm os adultos, encanta também as crianças que, muitas vezes, manejam os dispositivos melhor do que os adultos. 

São inúmeras tecnologias digitais que podem ajudar no desenvolvimento da criança com TEA, é uma maneira de ampliar a capacidade de interação social e criar estratégias de comunicação e assim aumentar a possibilidade de desenvolver outras aprendizagens. As ferramentas digitais podem ser também uma alternativa para  modular o comportamento e desenvolver a autorregulação, para aperfeiçoar a habilidade de organização no ambiente. Em fim, a tecnologia é ricamente ampla nas suas contribuições positivas e veio para transformar nossas vidas, mas é preciso saber dosar seu uso, para não se tornar algo vicioso e sem objetivos construtivos. (SANTOS, 2020)

Embora, ainda tenhamos muito a dizer sobre a tecnologia digital e sua influência na vida das pessoas com TEA, é uma gama de recursos e ferramentas digitais existentes que auxiliam na inclusão social e ajudam no desenvolvimento da pessoa com TEA, contudo, oportunamente trouxemos muito conhecimento a respeito de recursos tecnológicos digitais para o processo de comunicação e desenvolvimento não somente de crianças, mas de todas as pessoas com TEA que juntamente com suas famílias buscam por meios de terem uma vida mais comunicativa e sociável. 

As tecnologias digitais na vida da criança com TEA podem favorecer benefícios como a melhoria da comunicação através de tecnologias como tablets e smartphones que podem ajudar crianças com TEA a se comunicar mais efetivamente através de aplicativos de comunicação alternativa. Outro benefício é a melhoria no desenvolvimento de habilidades sociais com uso de Jogos e plataformas online que podem auxiliar no desenvolvimento de habilidades sociais, como compartilhamento e cooperação. E também o aumento da motivação através de tecnologias interativas que podem aumentar a motivação e o interesse das crianças com TEA em aprender. (SANTOS, 2020)

Porém, sabemos que o uso de tecnológicas apresentam além de benefícios inúmeros desafios como: a sobrecarga sensorial, isto é estímulos visuais e sonoros intensos que podem causar desconforto e ansiedade; As dificuldades de navegação, que são as interfaces complexas, as quais podem ser difíceis de navegar para crianças com TEA; Os riscos de dependência, uma vez que o uso excessivo de tecnologia pode levar a dependência e diminuir a interação social; a segurança online, que são riscos de exposição a conteúdo inapropriado ou interações perigosas. (MELLO e SGANZERLA, 2020)

É preciso conhecer estratégias adequadas para uso eficaz da tecnologia para crianças com TEA, e tanto professores como pais devem saber personalizar e adaptar tecnologias às necessidades individuais de cada criança; é preciso ainda desenvolver um processo de monitoramento do uso de tecnologia para evitar riscos. Por isso, fazer uso de tecnologias para auxiliar no desenvolvimento da criança com TEA essencial, mas depende muito de um bom treinamento tanto para pais como para professores, para que possam ensinar como usar a tecnologia de forma eficaz e em favor da formação e construção de conhecimentos.

4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O objetivo desta revisão bibliográfica é examinar a literatura existente sobre a influência da tecnologia digital no desenvolvimento de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), destacando tanto os potenciais benefícios como os desafios. A revisão visa aprofundar a compreensão dos impactos da tecnologia no desenvolvimento cognitivo, social e emocional dessas crianças.

Quanto à definição dos critérios de inclusão e exclusão de artigos e outras fontes de pesquisa foram incluídos artigos acadêmicos, livros, dissertações e teses publicados nos últimos 10 anos. Além de estudos que abordem diretamente o uso de tecnologia digital (apps, jogos, plataformas) no desenvolvimento de crianças com TEA. E ainda publicações apenas em português. 

Quanto aos critérios de exclusão, foram a partir de artigos que não focam especificamente no TEA ou no impacto da tecnologia no desenvolvimento infantil. Estudos que não apresentaram dados empíricos ou análises relevantes ao contexto em estudo.

A escolha das fontes e estratégia de busca ocorreu a partir de bases de dados como: Scopus, Google Acadêmico e SciELO. Para se chegar a resultados positivos de busca pelo conhecimento a respeito da temática, utilizou-se de palavras-chave como: Tecnologia digital, Transtorno do Espectro Autista, Intervenções digitais TEA, Aplicativos educativos TEA. Os artigos e livros foram selecionados a partir da leitura do título e do resumo, para que se tornasse possível chegar aos objetivos propostos para esta pesquisa.        

Esta abordagem metodológica cuidadosamente planejada para uma revisão bibliográfica ajuda a reunir e analisar a evidência atual sobre a influência da tecnologia digital no desenvolvimento de crianças com TEA, fornecendo uma base sólida para futuras investigações e práticas. A revisão não apenas elucida os benefícios, mas também chama a atenção para a necessidade de cautela no uso da tecnologia, promovendo um uso equilibrado e informado.                       

5. ANÁLISE DOS DADOS

A pesquisa revelou que a tecnologia digital, incluindo aplicativos e plataformas online, tem oferecido acesso a recursos educativos que são adaptáveis às necessidades de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). É possível dizer que muitos pais já tem acesso a ferramentas digitais que ajudam na aprendizagem e na aquisição de habilidades sociais e de comunicação.

Observou-se nos argumentos teóricos presentes nesta pesquisa que através do uso da tecnologia digital houve um aumento significativo na comunicação em crianças com TEA que utilizam dispositivos de assistência, como tablets com aplicativos de comunicação aumentativa e alternativa (CAA). Há estudos que constam que pais e professores já observam mudanças no desenvolvimento de crianças com TEA que se utilizam dessas tecnologias para interagir no meio, as crianças já se sentem mais à vontade para expressar suas necessidades e desejos.

As plataformas digitais proporcionam ambientes de aprendizagem interativos que são mais envolventes para crianças com TEA. Jogos educacionais, vídeos e animações atraentes mantêm o interesse dos alunos, facilitando o aprendizado de novas habilidades.

Diversos aplicativos focados em regulação emocional demonstraram sucesso em ajudar crianças com TEA a identificar e expressar suas emoções, proporcionando estratégias para lidar com situações de estresse ou frustração.

A tecnologia digital tem um potencial transformador na vida de crianças com TEA, oferecendo suporte individualizado e opções de aprendizado que são frequentemente mais atraentes do que métodos tradicionais. O uso de dispositivos digitais pode ajudar na criação de um ambiente de aprendizagem mais inclusivo, permitindo que essas crianças prosperem de maneiras que podem não ser possíveis em configurações convencionais.

Entretanto, apesar dos benefícios, existem desafios significativos que devem ser abordados. A acessibilidade a dispositivos digitais e a qualidade dos conteúdos educacionais variam amplamente, o que pode criar disparidades no desenvolvimento. Além disso, o uso excessivo de tecnologia pode levar a problemas como isolamento social e diminuição da interação face a face, aspectos cruciais para o desenvolvimento social das crianças.

Outra questão é a formação adequada para educadores e pais sobre o uso eficaz da tecnologia é essencial. Muitos deles podem não ter as competências necessárias para integrar a tecnologia ao desenvolvimento das habilidades das crianças adequadamente, aumentando a importância de programas de formação contínua. Assim sendo, é fundamental que sejam estabelecidos mecanismos de monitoramento e avaliação do uso de tecnologias digitais para garantir que elas estão realmente beneficiando as crianças. A implementação de estratégias que envolvam profissionais de saúde, educadores e pais pode ajudar a maximizar os benefícios enquanto se mitigam os riscos associados ao uso da tecnologia.

Contudo, pode se dizer que o uso da tecnologia digital no desenvolvimento de crianças com TEA apresenta um vasto potencial para melhorar suas habilidades de comunicação, aprendizado e regulação emocional. No entanto, é necessário um cuidado considerável para superar os desafios associados e garantir um uso saudável e produtivo dessas ferramentas. O desenvolvimento de políticas educacionais que integrem a tecnologia de maneira equilibrada e informada será crucial para impulsionar esses benefícios e minimizar os riscos.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise da literatura sobre a influência da tecnologia digital no desenvolvimento de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) revela um panorama complexo e multifacetado, onde os benefícios e desafios coexistem e devem ser cuidadosamente equacionados. A tecnologia digital surge como uma ferramenta poderosa que, quando utilizada de forma intencional e adequada, pode promover significativas melhorias nas habilidades comunicativas, cognitivas e sociais das crianças com TEA. Aplicativos educativos, recursos interativos e plataformas digitais oferecem oportunidades valiosas para personalizar a aprendizagem e facilitar interações que, muitas vezes, não ocorrem de maneira natural em ambientes tradicionais.

Entretanto, é crucial estar ciente dos desafios associados ao uso de tecnologia digital. A possibilidade de isolamento social, a dependência excessiva de dispositivos e a falta de interações face a face são questões que requerem atenção. Para garantir que a tecnologia atue como uma aliada no desenvolvimento, é fundamental que educadores, profissionais da saúde e familiares estejam comprometidos em supervisionar e moderar a utilização desses recursos. A utilização da tecnologia deve ser integrada a uma abordagem holística que valorize a interação humana, a comunicação direta e o desenvolvimento de habilidades sociais em contextos variados.

Neste sentido, futuras pesquisas são essenciais para aprofundar a compreensão sobre a eficácia das várias ferramentas digitais disponíveis e para desenvolver diretrizes práticas que orientem seu uso. É necessário investigar não apenas os resultados positivos, mas também como abordar e minimizar os possíveis efeitos adversos do uso inadequado da tecnologia.

Conclui-se que a tecnologia digital, de fato, possui um enorme potencial para facilitar o desenvolvimento de crianças com TEA, mas sua implementação deve ser feita de maneira cautelosa e equilibrada. A educação e o suporte contínuos são fundamentais para maximizar os benefícios e garantir um desenvolvimento saudável e inclusivo, promovendo, assim, um futuro mais promissor para essas crianças no contexto digital e na sociedade como um todo.

6   REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

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1 Graduada em Letras – Língua Portuguesa, pela Universidade Federal do Pará – UFPA. Mestre em Ciências da Educação pela Facultad Interamericana de Ciencias Sociales – FICS. Atualmente, é docente na área de Educação Especial e Inclusiva.
2 Rosângila Louzada da Silva. Graduação em licenciatura plena em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Pará -UFPA (2011). Especialização em Leitura e Literatura pela UFPA (2014). Mestranda no programa de pós-graduação em Ciências da Educação pela faculdade de Ciências Sociais Interamericana -FICS.
3 Doutora em Educação-UFPA; Mestrado em Educação-UFPA; Especialização em gestão escolar-UFPA.