A INFLUÊNCIA DA RELIGIÃO NO DESENVOLVIMENTO DO SUJEITO, COMO SUPORTE NA CONSTITUIÇÃO PSÍQUICA.

THE INFLUENCE OF RELIGION ON THE DEVELOPMENT OF THE SUBJECT, AS SUPPORT IN THE PSYCHIC CONSTITUTION

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202509081048


Thatiane Cordeiro Kloster¹
Profa. Dra. Debora Ricklli Fiuza²


RESUMO

Este estudo busca compreender a influência da religião e seu impacto no desenvolvimento do sujeito, bem como sua atuação no suporte à constituição psíquica. Direcionado pelo viés psicanalítico e com foco na experiência religiosa, analisa sua função como recurso simbólico, no gerenciamento das emoções e na interação em grupos sociais no processo de construção subjetiva. Trata-se de uma pesquisa exploratória, descritiva, qualitativa e bibliográfica, fundamentada em obras clássicas e contemporâneas. Os resultados apontaram que a religião favorece a estrutura de identidade, a sustentação emocional e apresenta fatores restritivos de comportamento. Percebe-se a necessidade de um olhar atento ao fator cultural e subjetivo do histórico do indivíduo, pois, a depender do contexto, a experiência religiosa pode passar por alterações complexas. 

Palavras-chaves: Religião, Psicanálise, Construção Psíquica, Subjetividade. 

ABSTRACT

This study seeks to understand the influence of religion and its impact on individual development, as well as its role in supporting psychological development. Guided by a psychoanalytic approach and focusing on religious experience, it analyzes its function as a symbolic resource, in managing emotions, and in social group interaction in the process of subjective construction. This is an exploratory, descriptive, qualitative, and bibliographical study, based on classical and contemporary works. The results indicated that religion fosters identity structure and emotional support, and presents behavioral constraints. It highlights the need for a close look at the cultural and subjective factors of an individual’s history, as, depending on the context, religious experience can undergo complex changes.

Keywords: Religion, Psychoanalysis, Psychic Construction, Subjectivity 

1. INTRODUÇÃO 

A antropologia estuda o ser humano em sua totalidade biopsicossocial e espiritual e fundamenta o vínculo do homem com o sagrado, considerando-o como um elemento central da cultura humana, buscando respostas para a finitude da vida e o sentido de sua existência. Os autores Alexandre et al. (2024, p. 4806) afirmam que “desde tempos antigos, o homem, em suas diversas culturas, olhou para o céu e se questionou sobre o sentido da vida, a origem do universo e o mistério da existência”. Nesse sentido, a religião surge como uma resposta a estas perguntas, trazendo refrigério à inquietude da alma. 

Para melhor compreensão do contexto que está sendo explanado neste artigo, é necessário a compreensão da definição do que vem a ser religião e religiosidade. Carmo et al. (2022) explicam que a religião está voltada ao conjunto de métodos sistemáticos e crenças, vinculadas a uma instituição, enquanto a religiosidade caracteriza-se pela forma como o indivíduo vivencia e manifesta sua fé dentro dessa instituição. 

Dessa forma, a religião está diretamente relacionada à construção da subjetividade, influenciando a estrutura psicológica do sujeito e afetando inúmeros aspectos da sua vida, como comportamento, escolha política, ética, cultura e saúde mental. No campo da saúde, por exemplo, caso, oferece mecanismos de enfrentamento do estresse e da ansiedade, oferecendo senso de propósito de vida. 

Confirmando esta vinculação do homem ao sagrado, Moreira – Almeida et al. (2010) demonstram em sua pesquisa que 95% dos brasileiros, seguem alguma religião, 83% a definem com grande importância em suas vidas e nos que se declaram sem religião, pode-se observar a manifestação de práticas com aspectos religiosos. O autor também aponta que a vivência religiosa pode atuar como estratégia de enfrentamento, favorecendo a qualidade de vida subjetiva e auxiliando na elaboração de conflitos psíquicos. 

Na psicologia contemporânea, os aspectos da religião têm sido cada vez mais investigados, principalmente em relação à saúde mental. Este último, sendo amparado pela obra de Eliade (1992), corroborando, afirma que esta manifestação de comportamentos religiosos, se dá, às vezes, sem consciência do sujeito, evidenciando assim a profundidade da religião na construção subjetiva, independente da identificação com qualquer instituição religiosa.

A contribuição que a psicanálise oferece para a compreensão da função da religião no aparelho psíquico, vem pelas palavras de Freud, o pai da psicanálise, que, em sua obra O futuro de uma ilusão (2011), afirma que, diante das angústias e sofrimento da vida, a religião surge como refúgio. Compreende-se assim que a religião, não atua apenas como um sistema simbólico coletivo, mas como recurso de elaboração subjetiva. Com sua subjetividade alicerçada na fé, o sujeito encontra conforto em sua existência, suporte emocional e uma estrutura simbólica que funciona como suporte para sua identidade psíquica, organizando também afetos e conflitos. 

Em síntese, a religião tem um papel central na evolução da humanidade e na organização do mundo interno do sujeito. 

Atualmente, em que, a pauta de assuntos emergentes, está direcionada a saúde mental, o transtorno psíquico tem grande relevância. A religião emerge como mecanismo de defesa de proteção na elaboração de conflitos internos. Ressalta-se a importância da investigação científica transdisciplinar, justificando esta pesquisa exploratória, com objetivo de transpor o estudo da influência religiosa na construção subjetiva por meio de abordagem qualitativa e bibliográfica, alinhada às exigências metodológicas contemporâneas

2. METODOLOGIA 

Esta pesquisa é definida como exploratória, descritiva, qualitativa e bibliográfica, com o objetivo de compreender a influência da religião na constituição subjetiva do sujeito a partir de produções científicas e teóricas. Uma pesquisa qualitativa foi escolhida porque permite analisar a realidade por diferentes perspectivas, conforme afirma Gil (2019), possibilitando interpretar sentidos, valores e significados atribuídos ao fenômeno religioso. 

No critério de seleção, foram priorizados materiais publicados entre 2010 e 2025, considerando como palavras-chave os seguintes temas: religião, psicanálise, subjetividade, construção psíquica e psicologia. A busca foi realizada nas plataformas digitais e científicas Google Acadêmico e Scielo; também foram utilizados escritores clássicos como William James, Sigmundo Freud e Mircea Eliade, considerando sua relevância para o embasamento teórico. 

Foram encontrados 27 artigos científicos; 18 foram excluídos por não abordar diretamente a temática proposta, apenas 7 atenderam aos critérios, estes: publicados em periódicos com revisão por pares, completos em português. Foram excluídas publicações que não foram revisadas por pares, escritas em outro idioma, com foco biomédico, editoriais, resenhas, trabalhos acadêmicos, dissertações e teses.

A análise do material seguiu a orientação de Bardin (2011). Pré-análise: leitura do resumo para critério de inclusão e exclusão; leitura flutuante: exploração livre dos textos; categorização: identificados trechos relevantes e definido tema central, realizado o tratamento e interpretação de dados, analisando os padrões discursivos correntes. Emergiram duas categorias: a religião como estrutura simbólica e experiência subjetiva e religião como fator de saúde mental, enfrentamento e resiliência.

Tabela I: Etapas do processo de análise

Fonte: dados da pesquisa

Tabela II: Autores Clássicos

Fonte: dados da pesquisa

Tabela III: Estudos Contemporâneos

Fonte: dados da pesquisa

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 

3.1 A RELIGIÃO COMO ESTRUTURA SIMBÓLICA E EXPERIÊNCIA SUBJETIVA

A religião constitui um elemento essencial da experiência humana, funcionando como estrutura simbólica na formação da cultura e na constituição da subjetividade do sujeito. É necessário ir além do contexto institucional, explorar seus aspectos, como formas pelas quais ela se estrutura e atribui sentido à experiência do sagrado, para compreender seu impacto na organização psíquica do sujeito. 

Segundo Eliade (1992), ao pesquisar a função da natureza religiosa em diversas culturas, percebe-se o papel do sagrado como alicerce da existência humana e fundamento da realidade da vida. O autor afirma que, para o homem religioso, a vida cotidiana e sua própria existência só têm sentido a partir do sagrado; não é apenas uma prática externa, sendo que a existência só adquire pleno sentido por meio da participação desse domínio. 

Essa participação não se restringe a um conceito, mas, com base em vivências consolidadas, em que o sujeito reatualiza narrativas fundadoras, separa o espaço profano do sagrado e estabelece um “centro” a partir do qual pode orientar-se no caos de sua existência. O autor Mircea Eliade (1992) se refere a centralidade simbólica, o axis mundi, como ponto de encontro entre humano e sobrenatural, trazendo um norte para que o sujeito reencontre sua origem inicial. 

O sagrado está para além das experiências diárias do ser humano, sendo indescritível, é apenas sugerido por meio de uma experiência simbólica. Outras definições utilizadas pelo autor para essa experiência seria o tremendum ou seja, o temor profundo, a majestas, como majestade divina, e mysterium fascinans o mistério fascinante, que demonstram a intensidade do afeto dessa experiência, mesmo que limitados frente á sua totalidade, o ganz andere o “totalmente outro”, que transcende radicalmente a experiência natural. Caldeira et al. (2022) defende que a concepção do sagrado simbolicamente, coopera para uma formação do sentido de vida e para a organização psíquica do sujeito.

São componentes da individualidade de cada paciente, estando associados à personalidade, identidade, rede de apoio, saúde e adoecimento de forma subjetiva podendo caracterizar um fator protetivo ou de risco na manutenção da saúde e enfrentamento de patologias (Caldeira et al., 2022, p.12).

Destacando sua importância, como ponto de referência simbólica da identidade, compreendendo o sentido de vida. O surgimento do sagrado ao se inserir no meio psíquico, traz referências simbólicas, para a constituição identitária e orientações existenciais, como alicerce para formação subjetiva e construção da própria humanidade. 

Tendo em vista a religião como base simbólica na organização psíquica, percebe-se que ela atua como facilitadora entre representações do inconsciente e consciente da mente. Partindo da perspectiva psicanalítica, a simbologia religiosa atua como condensações de experiências afetivas e desejos reprimidos. 

Contudo, é necessário ressaltar que a mesma estrutura simbólica que direciona a vida, em algumas situações, pode concretizar representações rígidas que limitam a autonomia subjetiva. Portanto, mesmo que a religião funcione como organizadora de sentido. É preciso observar para que essa mediação não limite a consciência crítica. 

Dessa maneira, ainda que o sujeito creia ou não, no sagrado e profano, a vivência religiosa se apresenta de forma real na experiência subjetiva. Sem titubear, indivíduos descrevem experiências com o transcendente, conforme afirma Domingues et al. (2020, p. 567 apud Mano 2015, p. 163): “pessoas que relatam com convicção e riqueza de detalhes suas vivências com Deus e os anjos, com o diabo e seus demônios, sendo estes, protagonistas dos seus anseios, medos, conquistas e sofrimentos”. 

Compreendendo a religião como seguimento de natureza psicológica, William James (2005), em sua obra As Variedades da Experiência Religiosa, compreende esse fenômeno de forma individual e subjetiva. O núcleo da religião está na experiência pessoal do sujeito e não apenas de uma perspectiva teológica cercada de rituais. A religião pode ser entendida, como os sentimentos, ações e experiências, vivenciadas pelo indivíduo em sua subjetividade, na proporção em que se sentem em uma relação com algo divino. 

Partindo desta perspectiva existencial, compreende-se que o sagrado não se trata apenas de um credo, mas de uma vivência que desperta sentimentos intensos, influência  comportamentos, decisões e objetivos de vida. Ele também destaca o poder terapêutico da experiência religiosa, que pode trazer uma profunda transformação na vida psíquica, pois, ao contextualizar traumas, reorganizar dores e oferecer uma nova perspectiva sobre si e sobre o mundo, a fé pode auxiliar na convivência da identidade e na superação de crises existenciais. 

James define a “mente saudável” como, marcada por otimismo e harmonia interior, enquanto a “alma doente” é definida por inquietação e sofrimento. No entanto, ambos podem encontrar na prática religiosa um meio de reconciliação e recuperação. 

Mesmo que estes benefícios sejam incontestáveis, segundo James, é de suma importância ponderar, até que ponto estas experiências, quando vivenciadas como verdade absoluta, podem desencadear um fanatismo religioso. A obediência excessiva a crenças absolutas pode converter os benefícios da religião em adoecimento, fortalecendo sentimentos como, dependência, intolerância e negação. 

A religião não se define apenas como uma expressão da cultura. Para William James (2005), trata-se de uma força psíquica, um recurso ,capaz de transformar o indivíduo e afetar a formação de sua subjetividade, oferecendo capacidade de enfrentamento diante de crises. Pontua ainda que estas práticas religiosas, oferecem suporte na organização psíquica, o que traz benefícios a sua saúde mental, combate depressão, melancolia, torna o sujeito compassivo e caridoso, sentimentos de felicidade e liberdade, trazendo compreensão de si mesmo. 

3.2 RELIGIÃO COMO FATOR DE SAÚDE MENTAL, ENFRENTAMENTO E RESILIÊNCIA

Para Freud, a religião é uma ilusão psíquica, que nasce nas instâncias do inconsciente. Em O Futuro de uma ilusão (2011), o psicanalista argumenta que a fé se dá devido a necessidade de segurança e amparo perante as angústias da vida, projetando para o divino a dependência paterna vivida na infância. Esse mecanismo contribui para uma organização emocional e moral do sujeito, porém pode restringir sua liberdade subjetiva ao estabelecer regras e limites repressivos. 

Ela se apresenta quando atentamos para a gênese psíquica das ideias religiosas. Estas, que se apresentam como proposições, não são produto da experiência ou resultados finais do pensamento; são ilusões, são realizações dos desejos mais antigos, mais fortes e mais prementes da humanidade, e o segredo de sua força está na força desses desejos ( Freud, 2011, p. 52). 

Freud (2011) não negava o valor da religião, como fenômeno cultural e psicológico de grande importância, apenas definia como fator ilusório para as demandas dos desejos da alma humana. Ao validar sua relevância histórica e psicológica para a conexão social, defende, entretanto, que o desenvolvimento humano exige uma troca dessa dependência simbólica por uma atitude mais racional e independente. 

Autores contemporâneos selecionados para esta pesquisa, como Gomes (2024), apontam que a religiosidade ultrapassa a estrutura social/organizada, em que as práticas, normas e regras são legitimadas. Uma verdade é considerada absoluta e inquestionável dentro de uma religião e constituem um papel fundamental no equilíbrio e estabilidade. A fé traz um sentido de vida; a religiosidade se manifesta como um conjunto de valores e crenças pessoais que norteiam as ações, regulam emoções e organizam ações sociais, com impacto direto na identidade. 

Carmo et al. (2022) acrescentam que a fé funciona como uma ferramenta para lidar com doenças, lutas e crises existenciais, fornecendo proteção subjetiva e permitindo a ressignificação da dor. Esses elementos ajudam tanto na elaboração individual quanto na formação de laços sociais que podem fornecer apoio em momentos de vulnerabilidade. 

A religiosidade, não pode ser observada apenas como práticas de rituais. Alexandre et al. (2024) afirma que esta deve ser compreendida como algo para além da dimensão humana. A fé expressa-se também como significado mais profundo, permitindo a mediação entre experiências pessoais, culturais e a realidade, como recurso simbólico, ressignificando o sentimento diante de situações de sofrimento, aumentando o repertório de enfrentamento, propiciando assim que o sujeito tenha sustentação emocional diante de efeitos adversos, retificando a dor em perseverança. 

Para Domingues et al (2021), a religião/religiosidade afeta de maneira singular a experiência humana. Em dimensões como sociedade e cultura, é necessário entender e interpretar informações, para que seja possível superar uma visão reducionista, adotando uma abordagem holística e de pensamento complexo, considerando as inter-relações a multidimensionalidade e o contexto desse fenômeno, que acabam por limitar a saúde a um âmbito biológico.  

O autor considera que não são as doutrinas religiosas que são relevantes ao mecanismo de cuidado em relação à saúde mental, mas sim a abordagem humanizada, o apoio emocional e sua importância na organização psíquica, respeitando a particularidade de cada indivíduo.

A prática da fé tem impacto direto nos processos de saúde e doença. Brito e Jesus (2022) apontam o amparo e segurança e o auxílio nos mecanismos internos de auto-regulação emocional. Mais do que consolo, tais práticas fortalecem recursos internos e favorecem a autonomia psíquica, desde que vivenciada de forma crítica e não dogmática. Neste ponto, é fundamental compreender a prática saudável da fé e o extremismo religioso, pois o extremismo não permite a ampliação do repertório simbólico, visão limitada e exclusão daqueles de outra perspectiva religiosa. Do ponto de vista psicológico, é de suma importância o equilíbrio entre estes dois pontos. 

A fé sempre está correlacionada à religiosidade, crença e espiritualidade, pois apresentam uma concepção semelhante e atuam como complementos uma da outra trazem consigo o simbolismo e sentido da vida e seu ciclo, sensibiliza a reflexão sobre ser e ter, muda concepções e formas de ver, envolve tudo e todas as coisas e se apresenta suavemente nelas, portanto a fé representa um conjunto de termos separados, mas que possui uma mesma aplicação (SOLER et al., 2012, apud BRITO; JESUS, 2021, p. 50). 

Embora Freud (2011), tenha apontado a religião como ilusória para o suporte, a literatura contemporânea aponta que a religião faz parte da totalidade do sujeito, oferecendo, apoio, significado, referência de vida, contribuindo tanto para saúde mental, quanto social.  

Diante disso, a literatura aponta para a necessidade de que a psicologia e os campos de saúde mental reconheçam a religiosidade como dimensão legítima e potente, capaz de enriquecer práticas e cuidados. Uma inclusão sensível desse aspecto no contexto clínico favorece uma abordagem integral, ampliando a intervenção terapêutica para além da redução de sintomas, em direção ao fortalecimento das capacidades internas de enfrentamento e à promoção de uma saúde mental mais plena e integrada. 

No que tange ao setting analítico, o acolhimento da religião, compreende-se como uma expressão simbólica do inconsciente, observando sua contribuição na constituição da subjetividade para enfrentamento de conflitos. 

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Esta pesquisa demonstrou que a religião cumpre um papel estruturante na constituição subjetiva, concedendo ao indivíduo, um conjunto simbólico que processa as informações sensoriais que o cérebro recebe do ambiente e sustenta sua identidade. 

Mais que um fenômeno institucional, a religião se revela como linguagem cultural, que fornece critérios éticos, conjunto de regras e referências existenciais, permitindo ao sujeito se localizar em sua realidade e significando assim sua existência.

Simultaneamente, percebeu-se que a religiosidade, percebida como vivência do sagrado, é um fator de suma importância para o enfrentamento em situações de angústia e adoecimento. Os artigos revisados, apontam que a fé, traz benefícios positivos relacionados à capacidade de superação, quando sujeitos às situações adversas da vida, reduzindo o nível de estresse e fomentando redes de apoio, agindo como mediadora entre os obstáculos e o indivíduo. 

Mas, do que uma conexão com o divino, ultrapassa a prática religiosa institucional, manifestando-se de maneira particular e pessoal. O estudo realizado aponta o quão importante ela se apresenta para o equilíbrio psíquico, promovendo não só a saúde mental, mas também a qualidade de vida, desenvolvendo a autoconsciência, esperança, felicidade, a busca pelo sentido, unifica experiências de perdas, e vulnerabilidade na história pessoal do sujeito, ressignificando para algo maior. 

Também, pode-se observar, por meio desta análise, a importância da vida religiosa para uma saúde mental, que, sendo cada vez mais reconhecida, ainda enfrenta resistências no campo acadêmico e profissional, para acolhimento dessas dimensões. Perduram resistências que associam tais vivências práticas não científicas, que reforçam a necessidade de ampliar o diálogo interdisciplinar e de legitimar a importância desses elementos na clínica psicológica e nos contextos de cuidados em saúde. 

Pode-se, portanto, afirmar que a religião como estrutura simbólica e a religiosidade  como estratégia de enfrentamento, convergem para evidenciar que a manifestação religiosa, não deve ser reduzida a uma cosmovisão; ela deve ser assimilada como elemento formador da evolução humana. Considerando este aspecto, permite a implementação de intervenções psicológicas e sociais mais articuladas, respeitando a diversidade das trajetórias e amplificando os recursos subjetivos que contribuem à saúde psicológica e maior qualidade de vida. 

Este tema é de grande relevância para uma formação psicológica, pois compreender a influência da religião na constituição subjetiva expande a competência do profissional em acolher o paciente em sua plenitude, respeitando suas vivências simbólicas e culturais. 

O ponto de vista a respeito do assunto, corrobora com uma prática humanizada, sensível à diversidade e a singularidade dos indivíduos. Ademais, uma publicação e a divulgação de pesquisas relacionadas à religião e desenvolvimento psíquico, são necessárias para estimular o diálogo científico e interdisciplinar, reduzindo preconceitos ainda existentes e legitimando a religiosidade como dimensão relevante no campo da saúde mental.

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¹Thatiane Cordeiro Kloster
Acadêmica de Psicologia do Centro Universitário Campo Real Guarapuava-Pr
psi-thatianekloster@camporeal.edu.br 

² Debora Ricklli Fiuza
Psicóloga- Universidade Estadual do Centro oeste Unicentro
Doutora pelo programa de pós-graduação em Desenvolvimento Comunitário, pela Universidade Estadual do Centro Oeste, Unicentro.
prof_deborarickli@camporeal.edu.br