REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202503032206
Aluna: Amanda Poliana Ferreira Nunes1
Professor: Francisco Pedro Jucá2
RESUMO
Este artigo tem como objetivo geral explorar criticamente o papel da publicidade na indução de comportamento, tanto no consumo de bens e serviços quanto no uso das redes sociais, e como isso afeta a exposição humana. A pesquisa adota uma metodologia de revisão bibliográfica, analisando estudos e teorias relevantes sobre o impacto da publicidade no comportamento do consumidor, o excesso de trabalho e o burnout, e a fragmentação social. A publicidade exerce uma influência poderosa sobre os indivíduos, moldando comportamentos de consumo e interações nas redes sociais. As estratégias publicitárias utilizam técnicas de persuasão e algoritmos sofisticados para aumentar a exposição humana a conteúdos específicos, resultando em um consumo impulsivo e excessivo. Além disso, a pressão para consumir perpetuada pela publicidade contribui para o excesso de trabalho e o burnout, afetando a saúde mental e física das pessoas. O ciclo vicioso de consumo, gastos e endividamento é uma consequência direta desse cenário. Ademais, a fragmentação social, exacerbada pela publicidade, leva à formação de diversas “tribos” com linguagens, comportamentos e visões de mundo distintas, impactando a coesão social. Por fim, a relevância deste estudo reside na necessidade de compreender como a publicidade contribui para o adoecimento da sociedade e a fragmentação social, oferecendo insights para políticas públicas e práticas de consumo mais conscientes.
Palavras – Chave: Consumo. Fragmentação social. Publicidade. Propaganda.
ABSTRACT
The general objective of this article is to critically explore the role of advertising in inducing behavior, both in the consumption of goods and services and in the use of social networks, and how this affects human exposure. The research adopts a literature review methodology, analyzing relevant studies and theories on the impact of advertising on consumer behavior, overwork and burnout, and social fragmentation. Advertising exerts a powerful influence on individuals, shaping consumption behaviors and interactions on social media. Advertising strategies use persuasion techniques and sophisticated algorithms to increase human exposure to specific content, resulting in impulsive and excessive consumption. Furthermore, the pressure to consume perpetuated by advertising contributes to overwork and burnout, affecting people’s mental and physical health. The vicious cycle of consumption, spending and debt is a direct consequence of this scenario. Furthermore, social fragmentation, exacerbated by advertising, leads to the formation of different “tribes” with different languages, behaviors and world views, impacting social cohesion. Finally, the relevance of this study lies in the need to understand how advertising contributes to the illness of society and social fragmentation, offering insights for public policies and more conscious consumption practices.
Keywords: Consumption. Social fragmentation. Advertising. Advertising.
1 INTRODUÇÃO
A publicidade, ao longo das décadas, tem desempenhado um papel crucial na modelagem do comportamento humano, influenciando desde as escolhas de consumo até as interações sociais. No contexto contemporâneo, marcado pela ubiquidade das redes sociais e pela crescente pressão por produtividade, a influência da publicidade se intensificou, repercutindo profundamente na vida cotidiana das pessoas. Este artigo busca explorar criticamente o papel da publicidade na indução de comportamentos, tanto no consumo de bens e serviços quanto no uso das redes sociais, analisando como isso afeta a exposição humana, o excesso de trabalho, o burnout e a fragmentação social.
A partir disso, o objetivo geral deste artigo é investigar a influência da publicidade no comportamento de consumo e nas redes sociais, bem como os impactos dessa influência na exposição humana, no burnout e na fragmentação social. Pretende-se compreender como a publicidade contribui para o adoecimento da sociedade, levando as pessoas a um ciclo vicioso de consumo, gastos e endividamento, e discutir a fragmentação social resultante da formação de diversas “tribos” com linguagens, comportamentos e visões de mundo distintas.
Para atingir os objetivos propostos, este artigo adota uma metodologia de pesquisa bibliográfica, utilizando uma abordagem qualitativa. A pesquisa bibliográfica consiste na revisão e análise de livros, artigos científicos, teses, dissertações e outras fontes acadêmicas e relevantes que tratem dos temas de publicidade, comportamento de consumo, redes sociais, burnout e fragmentação social. A escolha pela pesquisa bibliográfica se justifica pela necessidade de compreender o estado da arte sobre o tema, identificar lacunas e contribuições existentes na literatura e embasar teoricamente as discussões propostas.
O estudo se justifica pela crescente preocupação com os impactos da publicidade e das redes sociais na vida das pessoas. Vive-se em uma era onde a exposição constante à publicidade e a pressão por consumo são onipresentes. As redes sociais, por sua vez, potencializam essa exposição, criando um ambiente onde a comparação social e a busca por aprovação se tornam constantes. A publicidade, ao utilizar algoritmos sofisticados, consegue direcionar mensagens personalizadas e persuasivas, influenciando comportamentos de maneira quase imperceptível.
A relevância do tema se evidencia pela necessidade de entender como esses fatores contribuem para o bem-estar ou mal-estar das pessoas. O burnout, por exemplo, tem sido identificado como uma condição crescente em várias profissões e contextos, sendo amplamente associado à pressão por produtividade e à sobrecarga de informações, muitas vezes promovidas pela publicidade. Além disso, o consumo desenfreado e o endividamento têm consequências diretas na saúde financeira e mental dos indivíduos, criando um ciclo de estresse e ansiedade.
Outro aspecto relevante é a fragmentação social observada nos dias atuais. A formação de “tribos” com comportamentos e visões de mundo distintas pode ser, em parte, atribuída às estratégias de segmentação da publicidade, que busca criar nichos de mercado cada vez mais específicos. Essa fragmentação, embora possa promover a diversidade, também pode levar a uma polarização social e a conflitos de valores, dificultando a coesão social.
Por fim, através desta investigação, espera-se proporcionar uma compreensão crítica sobre o papel da publicidade na sociedade contemporânea, destacando tanto seus impactos negativos quanto as possíveis formas de mitigação desses efeitos. A análise visa contribuir para o debate sobre práticas mais responsáveis e éticas na publicidade, além de promover a conscientização sobre os riscos associados ao consumo exacerbado e à fragmentação social. Ao final, pretende-se oferecer visões que possam ajudar na construção de uma sociedade mais equilibrada e saudável, onde o consumo e a exposição à publicidade sejam mais conscientes e menos prejudiciais.
2 PUBLICIDADE E COMPORTAMENTO DE CONSUMO
A publicidade desempenha um papel central na indução de comportamentos de consumo, utilizando diversas estratégias para influenciar as escolhas dos consumidores. Kotler e Keller (2012, p. 15) definem publicidade como “qualquer forma paga de apresentação não pessoal e promoção de ideias, bens ou serviços por um patrocinador identificado”. Este conceito destaca a intencionalidade e a abrangência da publicidade na comunicação de mensagens persuasivas.
Uma das estratégias mais eficazes da publicidade é o apelo emocional, que busca conectar produtos a sentimentos positivos. Segundo Belch e Belch (2018, p. 78), “a publicidade emocional é projetada para criar uma resposta emocional positiva que leve à compra”. Esta técnica explora as vulnerabilidades emocionais dos consumidores, incentivando decisões de compra baseadas em impulsos momentâneos, em vez de necessidades reais.
Além disso, a segmentação de mercado é outra ferramenta poderosa na publicidade. Kotler (2012, p. 96) aponta que “a segmentação permite que as empresas adaptem suas estratégias de marketing para grupos específicos de consumidores, maximizando a eficácia das campanhas publicitárias”. Ao identificar e direcionar mensagens para públicos-alvo específicos, as empresas conseguem influenciar de maneira mais precisa os comportamentos de compra.
A publicidade também se beneficia das plataformas digitais e das redes sociais, que oferecem novas formas de alcançar os consumidores. Segundo Sibilia (2012, p. 32), “as redes sociais transformaram a maneira como as empresas se comunicam com os consumidores, permitindo interações mais diretas e personalizadas”. A utilização de dados e algoritmos permite que as empresas criem anúncios altamente direcionados, aumentando a probabilidade de conversão.
O impacto da publicidade no comportamento de consumo pode ser analisado sob várias perspectivas. Do ponto de vista econômico, a publicidade estimula a demanda por produtos e serviços, influenciando diretamente o crescimento econômico. Como afirmam Belch e Belch (2018, p. 112), “a publicidade desempenha um papel fundamental na criação de demanda, o que é essencial para o crescimento das economias de mercado”.
No entanto, a influência da publicidade vai além do aspecto econômico, afetando também o comportamento social e cultural dos consumidores. Zygmunt Bauman (2007, p. 29) argumenta que “a sociedade de consumo moderna é caracterizada por uma constante busca por novas experiências e gratificações, muitas vezes impulsionadas pela publicidade”. Esta busca incessante pode levar a um ciclo vicioso de consumo e insatisfação, onde os indivíduos estão continuamente em busca do próximo produto ou serviço que lhes prometa felicidade.
A publicidade também desempenha um papel significativo na formação de identidades. De acordo com Jean Baudrillard (1991, p. 74), “os consumidores não compram produtos apenas por sua utilidade, mas também pelo significado simbólico que eles carregam”. Este fenômeno é evidente na publicidade de marcas de luxo, onde os produtos são promovidos como símbolos de status e sucesso.
Apesar dos benefícios econômicos e do poder de influência da publicidade, é importante considerar os impactos negativos que ela pode ter. A publicidade excessiva e agressiva pode levar ao consumismo desenfreado, endividamento e insatisfação pessoal. Além disso, a manipulação emocional e a segmentação de mercado podem resultar em desigualdades e exclusões sociais.
Desse modo, a publicidade é uma força poderosa que molda o comportamento de consumo de maneira complexa e multifacetada. Esta influência não apenas as decisões de compra, mas também as identidades e os valores dos consumidores. Compreender essas dinâmicas é essencial para a criação de políticas públicas que promovam práticas de consumo mais conscientes e sustentáveis.
2.1 A INDUÇÃO DO CONSUMO DE BENS E SERVIÇOS
A publicidade desempenha um papel fundamental na sociedade contemporânea, induzindo o consumo de bens e serviços através de estratégias sofisticadas de persuasão. As empresas utilizam uma variedade de técnicas para influenciar o comportamento dos consumidores, apelando para suas emoções, desejos e necessidades. Neste contexto, é essencial entender as estratégias publicitárias e os efeitos psicológicos que elas exercem sobre os indivíduos.
As estratégias publicitárias baseiam-se em técnicas de comunicação persuasiva que buscam atrair a atenção do consumidor e convencê-lo a adquirir um produto ou serviço. Segundo Kotler (2017, p. 45), “a publicidade eficaz deve criar uma mensagem que seja atraente e relevante para o público-alvo, utilizando-se de apelos emocionais e racionais”. As campanhas publicitárias frequentemente utilizam imagens e slogans que apelam para os desejos e aspirações dos consumidores, como o desejo de status, sucesso, felicidade e bem-estar.
Uma das estratégias mais comuns é a criação de uma identidade de marca forte e coerente. De acordo com Las Casas (2016, p. 78), “a identidade de marca é essencial para diferenciar um produto dos concorrentes e criar uma conexão emocional com o consumidor”. As marcas investem em criar uma imagem positiva e confiável, utilizando elementos visuais e narrativos que reforçam os valores e a missão da empresa. Essa identidade de marca ajuda a construir a lealdade do consumidor e a aumentar a intenção de compra.
Outra técnica de persuasão utilizada na publicidade é o uso de celebridades e influenciadores. Estudos mostram que as recomendações de pessoas famosas ou influentes podem aumentar significativamente a credibilidade de um produto e a intenção de compra dos consumidores (MATTAR, 2018, p. 102). Esse fenômeno é explicado pela teoria da identificação, que sugere que os consumidores tendem a imitar o comportamento de indivíduos que admiram ou com os quais se identificam.
Além disso, a publicidade frequentemente recorre a apelos emocionais para influenciar os consumidores. Como aponta Miranda (2015, p. 66), “as emoções desempenham um papel crucial na tomada de decisões dos consumidores”. As campanhas publicitárias que evocam sentimentos de felicidade, nostalgia, medo ou desejo podem ser particularmente eficazes em captar a atenção do público e motivá-lo a agir. Por exemplo, anúncios que associam um produto a momentos felizes em família ou a realizações pessoais podem criar uma conexão emocional poderosa, aumentando a probabilidade de compra.
Os efeitos psicológicos da publicidade sobre os consumidores são diversos e complexos. A exposição constante a mensagens publicitárias pode levar ao fenômeno conhecido como “fadiga da decisão”, em que os consumidores se sentem sobrecarregados pelo excesso de escolhas e informações. Segundo Barbosa (2019, p. 89), “a fadiga da decisão pode resultar em uma diminuição da capacidade de tomar decisões racionais e ponderadas, levando os consumidores a fazerem compras impulsivas ou a optar por produtos que não satisfazem plenamente suas necessidades”.
Outro efeito psicológico significativo é a criação de necessidades artificiais. A publicidade muitas vezes persuade os consumidores de que precisam de produtos que, na realidade, não são essenciais para seu bem-estar. Como observa Oliveira (2016, p. 112), “a publicidade tem o poder de transformar desejos em necessidades percebidas, criando uma demanda constante por novos produtos e serviços”. Isso pode levar a um ciclo vicioso de consumo, onde os indivíduos estão constantemente em busca de satisfação através de aquisições materiais.
A influência da publicidade também pode ser observada na formação da identidade e da autoimagem dos consumidores. Através da associação de produtos a determinados estilos de vida e valores, a publicidade pode moldar a maneira como os indivíduos se veem e como desejam ser vistos pelos outros. De acordo com Silva (2018, p. 75), “a publicidade não apenas promove produtos, mas também vende ideais de beleza, sucesso e felicidade, influenciando a autoestima e a autopercepção dos consumidores”. Esse impacto na autoimagem pode ter consequências tanto positivas quanto negativas, dependendo das mensagens veiculadas.
Adicionalmente, a publicidade pode gerar um sentimento de insatisfação e inadequação nos consumidores. A constante exposição a imagens de perfeição e sucesso pode levar os indivíduos a comparar suas próprias vidas com os padrões idealizados apresentados nos anúncios. Como ressalta Souza (2017, p. 98), “essa comparação pode resultar em sentimentos de inadequação e frustração, contribuindo para o aumento do estresse e da ansiedade”. Esse efeito é particularmente pronunciado nas redes sociais, onde os usuários são bombardeados com imagens e mensagens que promovem estilos de vida aparentemente perfeitos.
Por fim, a publicidade desempenha um papel crucial na perpetuação do consumismo, incentivando a busca incessante por novos produtos e experiências. A lógica do consumismo sugere que a felicidade e a realização pessoal podem ser alcançadas através da aquisição de bens materiais. Como argumenta Pereira (2019, p. 123), “o consumismo é alimentado pela publicidade que constantemente nos lembra de que precisamos de mais para sermos felizes”. Esse ciclo de desejo e aquisição pode levar ao endividamento e a problemas financeiros, além de contribuir para a degradação ambiental devido ao aumento do consumo e do desperdício.
Portanto, a publicidade exerce uma influência poderosa sobre o comportamento de consumo, utilizando estratégias de persuasão para criar desejos e necessidades nos consumidores. As técnicas publicitárias exploram aspectos emocionais e racionais, buscando capturar a atenção e a lealdade dos indivíduos. Os efeitos psicológicos da publicidade são profundos, afetando a capacidade de decisão, a autoimagem e o bem-estar dos consumidores. Compreender esses mecanismos é essencial para desenvolver práticas de consumo mais conscientes e responsáveis, e para mitigar os impactos negativos da publicidade na sociedade.
2.2 A PUBLICIDADE E AS REDES SOCIAIS
Nos últimos anos, as redes sociais emergiram como uma das principais ferramentas publicitárias, revolucionando a forma como as marcas se comunicam com seus consumidores. Essas plataformas não apenas ampliaram o alcance das campanhas publicitárias, mas também permitiram um nível sem precedentes de personalização e interatividade. O uso das redes sociais como ferramenta publicitária é um fenômeno que merece uma análise detalhada, especialmente considerando o impacto que exerce sobre a autoimagem e a autoestima dos usuários.
As redes sociais possibilitaram a criação de um ambiente onde a publicidade é integrada de forma sutil e contínua ao cotidiano dos usuários. Diferentemente dos meios tradicionais, onde os anúncios são claramente demarcados, nas redes sociais, a linha entre conteúdo e publicidade é frequentemente tênue. De acordo com Silva (2020, p. 45), “as redes sociais transformaram a publicidade em uma experiência mais pessoal e interativa, onde o consumidor não é apenas um receptor passivo, mas um participante ativo”. Esse envolvimento ativo pode criar um maior engajamento e lealdade à marca, mas também pode levar a uma exposição excessiva a mensagens publicitárias.
Um fenômeno particularmente relevante no contexto das redes sociais é o surgimento dos influenciadores digitais. Estes indivíduos, que acumulam grandes seguidores em plataformas como Instagram, YouTube e TikTok, têm o poder de moldar opiniões e comportamentos. Os influenciadores digitais atuam como intermediários entre as marcas e os consumidores, promovendo produtos e serviços de uma maneira que parece mais autêntica e confiável do que a publicidade tradicional. Segundo Oliveira (2021, p. 123), “os influenciadores digitais utilizam sua credibilidade e conexão emocional com o público para promover marcas de maneira mais eficaz do que os anúncios tradicionais”.
No entanto, o impacto da publicidade nas redes sociais não é inteiramente positivo. Um dos efeitos mais discutidos é a influência sobre a autoimagem e a autoestima dos usuários. As redes sociais são frequentemente criticadas por promoverem padrões de beleza irreais e estilos de vida inatingíveis, o que pode levar a sentimentos de inadequação e baixa autoestima. Lima (2019, p. 88) observa que “a constante exposição a imagens idealizadas nas redes sociais pode gerar uma comparação social negativa, onde os usuários se sentem pressionados a alcançar esses padrões irreais”.
Além disso, a natureza curada do conteúdo nas redes sociais, onde as pessoas tendem a compartilhar apenas os aspectos positivos e glamorosos de suas vidas, pode criar uma percepção distorcida da realidade. Segundo Almeida (2018, p. 34), “as redes sociais promovem uma cultura de comparação constante, onde os usuários medem seu valor com base no número de curtidas, comentários e seguidores, o que pode ter um impacto negativo significativo na autoestima”. A publicidade, ao se inserir nesse contexto, frequentemente reforça essas dinâmicas ao promover produtos e serviços que prometem ajudar os consumidores a se aproximarem desses ideais inatingíveis.
Adicionalmente, a personalização dos anúncios, possibilitada pelos algoritmos das redes sociais, pode exacerbar esses efeitos. Os algoritmos utilizam dados pessoais para direcionar anúncios de maneira precisa, garantindo que os usuários sejam constantemente bombardeados com mensagens publicitárias que apelam às suas inseguranças e desejos. Souza (2022, p. 56) afirma que “a personalização dos anúncios nas redes sociais pode criar um ciclo vicioso, onde os usuários são continuamente expostos a mensagens que reforçam suas inseguranças, levando a um consumo impulsivo e à perpetuação de sentimentos de inadequação”.
Contudo, é importante reconhecer que as redes sociais também oferecem oportunidades para campanhas publicitárias mais inclusivas e representativas. Muitas marcas têm utilizado essas plataformas para promover mensagens de aceitação e diversidade, desafiando os padrões de beleza tradicionais e celebrando a individualidade. Por exemplo, campanhas que destacam a diversidade de corpos, etnias e estilos de vida têm ganhado destaque nas redes sociais, promovendo uma imagem mais realista e inclusiva da sociedade. Pereira (2020, p. 112) destaca que “as redes sociais têm o potencial de ser um espaço para a promoção de valores positivos e para a desconstrução de estereótipos prejudiciais”.
Apesar dos desafios, a publicidade nas redes sociais continua a evoluir, buscando maneiras de equilibrar a necessidade de promover produtos e serviços com a responsabilidade de não prejudicar a saúde mental dos usuários. A conscientização sobre os efeitos negativos da publicidade nas redes sociais está aumentando, e tanto os consumidores quanto as marcas estão começando a demandar práticas mais éticas e responsáveis. A transparência na relação entre influenciadores e marcas, a promoção de mensagens positivas e a consideração do bem-estar dos consumidores são passos importantes nessa direção.
Sendo assim, o uso das redes sociais como ferramenta publicitária representa uma evolução significativa na forma como as marcas se comunicam com seus públicos. Enquanto proporciona uma maior interatividade e personalização, também traz desafios significativos em termos de impacto na autoimagem e autoestima dos usuários. O fenômeno dos influenciadores digitais exemplifica o poder e a influência que esses novos intermediários possuem, ao mesmo tempo em que destaca a necessidade de abordagens mais responsáveis na publicidade. A compreensão e a mitigação dos efeitos negativos da publicidade nas redes sociais são essenciais para garantir que estas plataformas possam continuar a ser um espaço positivo e inclusivo para todos os usuários.
3 PUBLICIDADE, EXCESSO DE TRABALHO E BURNOUT
A publicidade exerce uma influência poderosa na sociedade contemporânea, moldando comportamentos de consumo e impactando a saúde mental dos indivíduos. A relação entre publicidade, excesso de trabalho e burnout é uma área de crescente preocupação, especialmente no contexto da chamada “sociedade do cansaço”. Esta expressão, popularizada pelo filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, descreve uma sociedade em que os indivíduos são continuamente pressionados a maximizar seu desempenho e produtividade, levando a um estado crônico de exaustão e esgotamento.
A publicidade desempenha um papel central na promoção de uma cultura de consumo que exige constante atualização e aquisição de novos produtos. Esta pressão para consumir não se limita ao espaço privado, mas também se estende ao ambiente de trabalho, onde os indivíduos são incentivados a se sobressair e a alcançar altos padrões de desempenho. Segundo Han (2015, p. 25), “a sociedade do desempenho gera um cansaço excessivo que acaba por levar ao burnout”. Esta dinâmica cria um ciclo vicioso onde a necessidade de trabalhar mais para consumir mais resulta em um aumento do stress e da exaustão.
O excesso de trabalho é frequentemente glamourizado pela publicidade, que associa o sucesso profissional à aquisição de bens materiais e ao status social. A pressão para se manter competitivo no mercado de trabalho leva muitos indivíduos a excederem seus limites físicos e mentais, resultando em burnout. De acordo com Maslach e Leiter (2016, p. 103), “o burnout é uma resposta ao estresse crônico no local de trabalho, caracterizado por exaustão emocional, despersonalização e redução da realização pessoal”. A publicidade, ao perpetuar a imagem do trabalhador incansável e bem-sucedido, contribui para a normalização dessa condição.
A relação entre publicidade e burnout pode ser observada na maneira como as campanhas publicitárias exploram temas de superação e resiliência. Em muitos casos, a mensagem subjacente é que, para alcançar o sucesso e a felicidade, é necessário trabalhar arduamente e superar desafios incessantes. Este discurso ignora os limites humanos e promove uma cultura de trabalho que não valoriza o descanso e o bem-estar. Schaufeli (2018, p. 122) destaca que “o burnout é frequentemente resultado de uma cultura organizacional que valoriza a produtividade acima do bem-estar dos empregados”.
A influência da publicidade no excesso de trabalho também se manifesta na forma como os produtos e serviços são promovidos como soluções para o cansaço e o estresse. A indústria de bem-estar, por exemplo, oferece uma variedade de produtos que prometem aliviar os sintomas de burnout, desde suplementos alimentares até aplicativos de meditação. No entanto, estas soluções frequentemente tratam apenas dos sintomas, sem abordar as causas subjacentes do problema. Conforme apontado por Ferreira (2020, p. 88), “a mercantilização do bem-estar pode perpetuar o ciclo de trabalho excessivo, ao invés de proporcionar um alívio genuíno”.
Além disso, a publicidade contribui para a perpetuação do ciclo de consumo e endividamento. Ao criar desejos e necessidades artificiais, a publicidade incita os indivíduos a gastarem mais do que podem, muitas vezes recorrendo ao crédito. Este comportamento de consumo impulsivo e excessivo pode levar ao endividamento, o que, por sua vez, aumenta a pressão para trabalhar mais a fim de pagar as dívidas acumuladas. Oliveira (2017, p. 147) argumenta que “o endividamento crônico é uma das consequências diretas da cultura do consumo incentivada pela publicidade, levando a um ciclo vicioso de trabalho e desgaste”.
A “sociedade do cansaço” descrita por Han (2015) é, em grande parte, um produto da cultura de desempenho e consumo impulsionada pela publicidade. Nesta sociedade, os indivíduos são incentivados a se auto explorar, acreditando que todo sucesso ou fracasso é resultado de seus próprios esforços. Esta autocrítica constante pode levar ao esgotamento mental e emocional. Como Han (2015, p. 47) observa, “o sujeito de desempenho é ao mesmo tempo vítima e cúmplice do sistema que o exaure”.
Para romper com este ciclo vicioso, é necessário reavaliar os valores que a publicidade promove e a cultura de trabalho que ela ajuda a sustentar. Promover uma visão mais equilibrada do sucesso, que inclua a valorização do tempo livre, do descanso e do bem-estar, é crucial. Políticas públicas que incentivem jornadas de trabalho mais curtas e práticas de trabalho mais saudáveis podem ajudar a mitigar os efeitos do excesso de trabalho e do burnout. Além disso, uma maior conscientização sobre as estratégias publicitárias e suas influências pode empoderar os consumidores a fazerem escolhas mais conscientes e sustentáveis.
Em conclusão, a publicidade desempenha um papel significativo na promoção de uma cultura de consumo e desempenho que leva ao excesso de trabalho e ao burnout. Ao glamorizar a superação e o trabalho incessante, a publicidade contribui para a normalização do cansaço crônico e da exaustão. Para combater estes efeitos, é necessário promover uma cultura que valorize o bem-estar e o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, e que esteja consciente das influências da publicidade no comportamento dos indivíduos.
3.1 FRAGMENTAÇÃO SOCIAL E FORMAÇÃO DE TRIBOS
A fragmentação social na contemporaneidade se manifesta através da diversidade de grupos sociais que emergem e se consolidam como “tribos”, cada uma com suas próprias linguagens, comportamentos e visões de mundo. Este fenômeno é influenciado pela publicidade, que desempenha um papel crucial na formação de identidades coletivas. Segundo Santos (2018, p. 45), “a publicidade não apenas vende produtos, mas também constrói imagens e estereótipos que são internalizados pelos consumidores, contribuindo para a formação de grupos de consumo identitário”.
A publicidade utiliza estratégias que não apenas promovem produtos, mas também criam narrativas que ressoam com diferentes segmentos da sociedade, incentivando a identificação e a adesão a determinados estilos de vida e valores. Dessa forma, indivíduos são agrupados em tribos que compartilham interesses comuns, seja através do consumo de produtos específicos, da adesão a ideologias particulares ou da participação em comunidades online.
Essa diversidade de tribos sociais traz consigo desafios significativos para a convivência harmoniosa entre diferentes grupos. Conflitos surgem não apenas devido a diferenças ideológicas ou culturais, mas também pela competição exacerbada induzida pela publicidade entre tribos que buscam legitimar suas identidades e estilos de vida. Conforme aponta Almeida (2020, p. 87), “a convivência entre tribos distintas é marcada por tensões e dificuldades de diálogo, uma vez que cada grupo busca afirmar sua identidade e valores frente aos outros”.
Os desafios da convivência são amplificados pela polarização social e pelo aumento da segregação, tanto física quanto digital, onde indivíduos buscam interagir majoritariamente com outros que compartilham suas visões de mundo e interesses. Isso pode resultar na fragmentação do tecido social mais amplo, prejudicando a coesão e a solidariedade entre diferentes grupos.
Nesse contexto, a análise da fragmentação social e da formação de tribos torna-se essencial para compreender as dinâmicas contemporâneas de organização social e cultural. A compreensão desses fenômenos não apenas lança luz sobre as estratégias de marketing e publicidade utilizadas para segmentar o público (SILVA, 2019, p. 112), mas também permite refletir sobre políticas públicas e iniciativas sociais que visem promover a integração e o entendimento mútuo entre grupos diversos.
Portanto, ante a tudo que foi exposto, pode-se concluir que é crucial investigar como a publicidade influencia não apenas o consumo, mas também a construção de identidades coletivas e a fragmentação social. Isso pode proporcionar visões importantes para mitigar conflitos e promover uma convivência mais harmoniosa e inclusiva entre as diversas tribos que compõem a sociedade contemporânea.
CONCLUSÃO
A influência da publicidade no comportamento de consumo e nas redes sociais é um fenômeno de múltiplas facetas que permeia a sociedade contemporânea, moldando não apenas os hábitos de compra, mas também os padrões de interação e identidade dos indivíduos. Este estudo explorou criticamente como a publicidade induz comportamentos, contribui para o excesso de trabalho e burnout, e intensifica a fragmentação social.
A publicidade exerce uma influência profunda no comportamento de consumo ao utilizar estratégias persuasivas que vão além da mera promoção de produtos. Através de narrativas cuidadosamente construídas e do uso de imagens sedutoras, ela não só cria desejos e necessidades, mas também molda aspirações e identidades. Os consumidores são constantemente expostos a mensagens que não apenas informam sobre produtos, mas que também sugerem que a posse desses produtos está associada a um status social, felicidade ou sucesso pessoal. Esse processo de construção de significados através da publicidade influencia diretamente a forma como as pessoas se percebem e se relacionam com o mundo ao seu redor.
No contexto das redes sociais, a publicidade digital amplifica ainda mais sua influência. Algoritmos sofisticados rastreiam e analisam o comportamento online dos usuários, permitindo que anúncios sejam direcionados com precisão para públicos específicos. Isso não apenas aumenta a exposição dos consumidores a produtos e marcas, mas também reforça bolhas de informação e opinião, contribuindo para a fragmentação social. Os indivíduos são cada vez mais expostos a conteúdos que reafirmam suas próprias crenças e interesses, enquanto limitam sua exposição a perspectivas diferentes e diversificadas.
Em relação ao burnout e ao excesso de trabalho, a publicidade desempenha um papel significativo ao promover um estilo de vida consumista que valoriza a constante aquisição de novos produtos e experiências. A pressão para consumir e manter um padrão de vida muitas vezes inatingível pode levar a um ciclo vicioso de trabalho excessivo para sustentar esse consumo. A incessante busca por mais, impulsionada pelas mensagens publicitárias, pode resultar em esgotamento físico e emocional, contribuindo para taxas crescentes de burnout na sociedade moderna.
Além dos impactos individuais, a fragmentação social exacerbada pela publicidade cria desafios significativos para a coesão social e a convivência entre diferentes grupos. A formação de tribos sociais, baseadas em interesses comuns e identidades compartilhadas, pode levar à polarização e ao isolamento social. A falta de entendimento mútuo entre grupos diversos pode aumentar a intolerância e dificultar a construção de uma sociedade inclusiva e harmoniosa.
Diante desses desafios, é essencial considerar abordagens que promovam um consumo mais consciente e uma publicidade mais responsável. Educação para a mídia e alfabetização digital podem capacitar os consumidores a discernir entre mensagens publicitárias e informações objetivas, ajudando a mitigar os efeitos negativos da publicidade na formação de identidades e comportamentos. Além disso, regulamentações mais rigorosas podem ser necessárias para controlar práticas publicitárias que explorem vulnerabilidades individuais ou exacerbem desigualdades sociais.
Por fim, a pesquisa e a conscientização contínuas são fundamentais para entender melhor os complexos mecanismos através dos quais a publicidade influencia o comportamento humano e social. Somente através de uma compreensão mais profunda desses processos poderemos desenvolver estratégias eficazes para promover um ambiente social mais saudável, onde a diversidade seja valorizada e a coesão social fortalecida.
Por conseguinte, com fulcro em tudo que fora analisado nesta pesquisa, ao se refletir sobre a influência da publicidade no comportamento de consumo e nas redes sociais, é imperativo reconhecer não apenas os benefícios econômicos e sociais que a publicidade pode trazer, mas também os desafios éticos e sociais que ela apresenta. O equilíbrio entre liberdade de expressão comercial e proteção do bem-estar individual e coletivo é essencial para garantir que a publicidade contribua positivamente para a sociedade como um todo.
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1Pós-graduanda do curso de Mestrado em Direito pela FADISP. Email:amandapolianafn@gmail.com
2Docente da Pós-Graduação Strict Sensu em Direito pela FADISP. Email:francisco.juca@trtsp.jus.br