A INFLUÊNCIA DA NUTRIÇÃO NA SAÚDE PERIODONTAL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102410111335


Amanda Lessa de Araújo
Matheus Willy Souza Nogueira
Orientador: Prof. José Henrique Nascimento Souza Junior


RESUMO

O presente trabalho analisa a influência da alimentação na saúde periodontal, abordando como as mudanças nos padrões alimentares contemporâneos, especialmente o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados, afetam a saúde bucal, apresentando como objetivo geral entender esse impacto, a pesquisa investiga a relação entre hábitos alimentares e condições de saúde periodontal, enfatizando a importância de uma nutrição equilibrada, para isso foi realizado uma revisão bibliográfica, a qual possibilitou compreender que uma alimentação saudável, rica em nutrientes essenciais e alimentos funcionais, é fundamental para a manutenção da saúde bucal e prevenção de doenças periodontais. Além disso, destaca-se a necessidade de intervenções que promovam a educação nutricional e o acesso a alimentos frescos, a fim de melhorar a qualidade de vida da população, portalto a promoção de hábitos alimentares saudáveis não apenas contribui para a saúde periodontal, mas também para o bem-estar geral dos indivíduos.

Palavras-chave: Alimentação. Saúde Bucal. Nutrição.

ABSTRACT

This study analyzes the influence of diet on periodontal health, addressing how changes in contemporary eating patterns, especially the increase in the consumption of ultra-processed foods, affect oral health. The general objective is to understand this impact, investigating the relationship between eating habits and periodontal health conditions while emphasizing the importance of balanced nutrition. A literature review was conducted, which revealed that a healthy diet, rich in essential nutrients and functional foods, is fundamental for maintaining oral health and preventing periodontal diseases. Additionally, the need for interventions that promote nutritional education and access to fresh foods is highlighted to improve the population’s quality of life. Therefore, the promotion of healthy eating habits contributes not only to periodontal health but also to the overall well-being of individuals.

Keywords: Diet. Oral Health. Nutrition.

1. INTRODUÇÃO

A alimentação desempenha um papel central na vida humana, moldando a saúde e o bem-estar das pessoas ao longo dos tempos. Com o avanço da sociedade, os padrões alimentares passaram por mudanças significativas, e o aumento do consumo de alimentos industrializados tem gerado diversas preocupações, sendo que segundo Azevedo (2017), esses alimentos, frequentemente ricos em açúcares e gorduras, têm substituído opções mais saudáveis, o que impacta negativamente a nutrição da população. Essa mudança no padrão alimentar está associada a um aumento significativo de doenças crônicas e deficiências nutricionais.

O crescente consumo de produtos ultraprocessados tem se tornado uma preocupação significativa para a saúde pública, uma vez que esses alimentos estão associados a diversas condições de saúde adversas. Bayão e Damous (2020) apontam que a transição para uma dieta dominada por produtos industrializados tem contribuído para o aumento da prevalência de doenças como obesidade e diabetes. Esses alimentos, frequentemente ricos em açúcares, gorduras saturadas e aditivos químicos, não apenas proporcionam pouca nutrição, mas também são projetados para serem altamente palatáveis, o que facilita o seu consumo excessivo.

A alimentação também está intimamente ligada à saúde bucal e periodontal, sendo um fator fundamental na manutenção da saúde dos dentes e gengivas, a ingestão frequente de alimentos ricos em carboidratos e açúcares favorece a formação de placa bacteriana, o que, por sua vez, aumenta o risco de cáries dentárias. A acidificação do ambiente bucal, resultado do metabolismo dessas substâncias pelas bactérias, é um fator crítico na desmineralização do esmalte dental, promovendo a deterioração da saúde bucal, assim como Moura-Grec et al. (2014) destacam que a ausência de uma nutrição equilibrada pode comprometer a integridade dos tecidos periodontais, favorecendo o desenvolvimento de doenças como gengivite e periodontite, sendo que a saúde bucal é, assim, diretamente influenciada pelos hábitos alimentares das pessoas, o que destaca a importância de analisar essa relação.

Bayão e Damous (2020) enfatizam a necessidade de intervenções que promovam uma alimentação mais saudável, incluindo a educação nutricional e a disponibilização de alimentos frescos e acessíveis, sendo que compreender como os hábitos alimentares impactam a saúde periodontal e bucal auxilia gerando conhecimento para a comunidade, de forma que se compreenda a importância de uma orientação nutricional e hábitos alimentares saudáveis, gerando não apenas a saúde bucal, mas também a qualidade de vida para com a população.

Tendo isso em vista, o objetivo geral deste trabalho é analisar o impacto da alimentação na saúde periodontal. Entre os objetivos específicos, busca-se compreender as mudanças nos padrões de consumo alimentar e seus impactos, avaliar as condições periodontais e de saúde bucal que podem ser afetadas pelos hábitos alimentares, e identificar a importância de uma alimentação saudável para a qualidade de vida das pessoas.

2. MÉTODO

A metodologia adotada para a realização da pesquisa baseia-se em uma revisão bibliográfica conforme descrito por Gil (2020), sendo uma etapa fundamental no processo de elaboração de pesquisas científicas, sendo que esta metodologia consiste na busca, seleção, análise e síntese de materiais bibliográficos relevantes sobre o tema de estudo, o objetivo desse meio de pesquisa é conhecer o estado da arte, identificar lacunas no conhecimento existente e embasar teoricamente a pesquisa. A revisão bibliográfica permite ao pesquisador explorar o que já foi produzido sobre o tema em questão, seja em artigos científicos, livros, teses, dissertações ou outras publicações acadêmicas, sendo que não se limita apenas a compilar informações, mas também envolve uma análise crítica e síntese dos principais pontos abordados pelos autores.

A pesquisa baseou-se na seleção e análise de 22 materiais relevantes entre artigos científicos e livros, com o objetivo de proporcionar uma visão abrangente e atualizada sobre o impacto da saúde periodontal devido aos hábitos alimentares, as fontes foram obtidas principalmente por meio de buscas nas bases de dados Google Acadêmico e SciELO (Scientific Electronic Library Online), garantindo acesso a uma vasta gama de conteúdos acadêmicos e científicos. Para garantir a pertinência das informações e a contemporaneidade das discussões, foram selecionados apenas materiais publicados nos últimos 10 anos e em língua portuguesa.

3. DESENVOLVIMENTO

3.1. A ALIMENTAÇÃO NA SOCIEDADE

A nutrição e a alimentação é uma necessidade fundamental para o corpo humano, sendo um direito inalienável, e uma atividade cultural que envolve uma ampla gama de crenças, tabus e tradições alimentares. O ato de comer não é apenas um processo biológico, mas também uma experiência social que oferece oportunidades para convívio e diferenciação. De acordo com Carneiro (2017) a sociedade desenvolveu seus hábitos e costumes alimentares ao longo da história, tendo até mesmo influência das religiões que definiram algumas restrições que deviam ser seguidas pelos povos que as seguissem. A alimentação é uma das necessidades mais básicas da necessidade humana e biológica, sendo ela baseada em um sistema complexo de significados sociais, sexuais, políticos, religiosos, éticos, estéticos e etc. (CARNEIRO, 2017).

Carneiro (2017) demonstra a comercialização e tráfico do açúcar, o processo de moagem, estocagem e conservação utilizadas pelas famílias que muitas vezes possibilitavam as trocas/vendas entre povos, um dos grandes marcos para a alimentação como conhecida atualmente foi a conquista dos mares e a comercialização, com a integração dos diferentes continentes a alimentação se tornou ainda mais diversa, assim como a influência da revolução industrial e a expansão das cidades, todos esses fatores fizeram com que a globalização ocorresse e fosse disseminado o uso de diversos alimentos, temperos ou até mesmo práticas de preparo, além disso, é destacado que com o crescimento populacional ocorrido na Europa no século XX, foi ocasionado uma maior oferta de tipos de produtos alimentícios, assim como uma redução dos preços comercializados, colaborando com o surgimento dos fast foods e acesso a alimentação.

Azevedo (2017) defende que a alimentação se tornou um tema ainda mais relevante na sociedade atual, gerando impactos em aspectos culturais e sociais, tendo em vista que ela é discutida desde questões como saúde pública até a cultura popular, sendo que a alimentação é um elemento central da construção da identidade de um grupo social, atualmente uma das características da alimentação moderna é a escassez de tempo para preparo e consumo de alimentos, dessa forma foram desenvolvidas novas maneiras de se preparar os alimentos em menos tempo e de conservá-los por uma maior quantidade de tempo.

No Brasil, são destacados diversos grupos culturais, sendo então diversas as possibilidades e hábitos alimentares no país, atualmente, devido aos avanços das tecnologias e propagação da industrialização é possível verificar que o hábito alimentar do brasileiro prevalece para o consumo de alimentos industrializados e a diminuição do consumo de alimentos frescos, impactando até mesmo na saúde da população (AZEVEDO, 2017), além disso, é destacado que a preocupação em seguir uma alimentação saudável não se restringe apenas aos discursos médicos-científicos, sendo comum encontrar recomendações sobre a escolha dos alimentos, utensílios de cozinha, valor nutricional e etc., em revistas, programas de TV e páginas da internet, sendo que muitos influenciadores e apresentadores incentivam o cuidado ou o modo de alimentação, sendo então muito discutido sobre a proveniência dos alimentos, assim como suas composições, taxas de açúcar, valor energético e etc. (BAYÃO; DAMOUS, 2020).

Os industrializados são uma crescente demanda no país, apesar da atual preocupação com alimentação saudável A rotina acelerada da sociedade brasileira contribui para a preferência por produtos com baixo teor nutritivo, que são, muitas vezes, ricos em açúcares, gorduras saturadas e aditivos químicos. Esse padrão alimentar está associado ao aumento da obesidade e ao surgimento de diversas doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares. As transformações nos hábitos alimentares da população são evidentes, e Bayão e Damous (2020) ressaltam que estamos vivendo uma transição demográfica, epidemiológica e nutricional que impacta diretamente o perfil das enfermidades no país, sendo que apesar de iniciativas para promover hábitos alimentares saudáveis, a dificuldade em romper com a cultura do consumo de produtos industrializados persiste, contribuindo para a deterioração da saúde pública.

3.2. A ALIMENTAÇÃO E SEU IMPACTO NA SAÚDE PERIODONTAL

A alimentação desempenha um papel crucial na saúde periodontal, sendo o consumo de alimentos industrializados e ricos em açúcares um dos principais fatores que impactam negativamente a saúde bucal. O aumento de produtos ultraprocessados nas dietas modernas está relacionado ao declínio da qualidade alimentar e ao aumento de doenças periodontais, caracterizadas por inflamações e infecções que afetam os tecidos de suporte dos dentes. Veladas (2020) destaca que os alimentos processados, que geralmente contêm altos níveis de açúcar e gorduras, contribuem significativamente para o desenvolvimento de problemas periodontais, já que promovem a formação de placa bacteriana e agravam o estado inflamatório da gengiva.

O açúcar é amplamente reconhecido como um substrato ideal para o crescimento de bactérias patogênicas na cavidade oral, pois serve como fonte de energia e é rapidamente metabolizado por diversas espécies bacterianas. Quando ingerido, o açúcar é fermentado por bactérias presentes na boca, como Streptococcus mutans, que produzem ácidos como subprodutos desse processo. Esses ácidos, principalmente o ácido láctico, causam a desmineralização do esmalte dentário, abrindo caminho para o surgimento de cáries e doenças periodontais. Magalhães (2021) observa que a rápida fermentação dos açúcares, especialmente aqueles presentes em alimentos processados, favorece a acidificação do meio bucal, o que acelera a destruição dos tecidos dentários e gengivais.

A fermentação dos açúcares pelas bactérias também cria um ambiente propício para a proliferação de outras bactérias nocivas que compõem o biofilme dental, também conhecido como placa bacteriana, sendo que à medida que os ácidos são produzidos, o pH da boca cai, e um ambiente ácido se torna ideal para o crescimento de microrganismos acidúricos, ou seja, aqueles que prosperam em ambientes ácidos. Veladas (2020) afirma que essa mudança no ecossistema bucal, promovida pelo consumo constante de açúcares, facilita o crescimento de colônias bacterianas mais agressivas, aumentando significativamente o risco de gengivite e periodontite, além de acelerar a deterioração das estruturas de suporte dos dentes.

Esse processo é exacerbado pelo consumo frequente e prolongado de açúcar ao longo do dia, o que impede a neutralização adequada dos ácidos produzidos, o consumo constante de açúcar, como em bebidas adoçadas e snacks industrializados, resulta em picos de acidez que duram por longos períodos, afetando a capacidade natural da saliva de neutralizar os ácidos. Feitoza (2018) destaca que a saliva tem um papel crucial na remineralização dos dentes, mas a exposição contínua ao açúcar compromete essa função, aumentando o risco de desmineralização permanente do esmalte dentário e danos às gengivas.

Além do efeito direto na cavidade bucal, o consumo de açúcar tem impactos sistêmicos que também afetam a saúde periodontal, a ingestão excessiva de açúcares refinados está associada ao aumento de inflamações no corpo como um todo, o que compromete as defesas do organismo contra infecções. Silva (2022) aponta que a inflamação sistêmica decorrente de dietas ricas em açúcar pode enfraquecer a resposta imune, tornando o corpo mais vulnerável a infecções, incluindo aquelas que afetam os tecidos periodontais. Dessa forma, o açúcar não apenas promove a proliferação de bactérias na boca, mas também diminui a capacidade do corpo de se defender contra seus efeitos nocivos.

Assim como é observado que produtos ultraprocessados frequentemente contêm aditivos e conservantes que também prejudicam a saúde periodontal. Feitoza (2018) destaca que dietas que carecem de nutrientes essenciais, como vitaminas e minerais, são prejudiciais para a saúde bucal, a falta de nutrientes como a vitamina C, por exemplo, pode comprometer a integridade das gengivas, favorecendo a progressão de doenças periodontais, sendo que essa vitamina é fundamental para a síntese de colágeno, que é um componente estrutural das gengivas e do ligamento periodontal. Sua ausência pode resultar em gengivas frágeis e propensas à inflamação, o que favorece o desenvolvimento de doenças periodontais, como a gengivite e a periodontite.

Assim como são observados a falta de outros nutrientes, como o cálcio, que é essencial para a formação e manutenção de ossos e dentes, contribuindo para a resistência do esmalte dentário e a estabilidade dos dentes. Veladas (2020) explica que a deficiência de cálcio pode enfraquecer as estruturas ósseas de suporte dos dentes, como o osso alveolar, que é responsável por manter os dentes firmemente posicionados. A ausência de cálcio suficiente no organismo pode resultar em perda óssea, o que agrava as condições periodontais e pode levar à perda dental, Silva (2022) observa que os produtos ultraprocessados não apenas carecem de vitaminas e minerais essenciais, mas também contêm aditivos e conservantes que podem prejudicar a saúde bucal a longo prazo.

Além disso, o consumo de alimentos industrializados e ricos em açúcares é diretamente relacionado à obesidade, que também pode influenciar negativamente a saúde periodontal. Pesquisas indicam que a obesidade está associada ao aumento do risco de inflamação crônica, incluindo a gengivite e a periodontite. Oliveira et al. (2016) afirmam que pessoas com obesidade têm maior propensão a desenvolver doenças periodontais, uma vez que a inflamação sistêmica resultante do excesso de peso contribui para a deterioração dos tecidos periodontais. Isso sugere que a alimentação inadequada não apenas afeta diretamente a saúde bucal, mas também desempenha um papel indireto por meio de comorbidades associadas.

É observado que uma dieta equilibrada, rica em frutas, vegetais e alimentos integrais, pode atuar como um fator protetor contra doenças periodontais, de acordo com Silva (2022), o consumo de alimentos ricos em antioxidantes, como a vitamina C e o betacaroteno, desempenha um papel essencial no fortalecimento do sistema imunológico e na reparação dos tecidos gengivais. Esses nutrientes protegem as gengivas contra processos inflamatórios, que podem resultar em doenças como a gengivite e a periodontite. Além disso, uma dieta equilibrada composta por frutas, vegetais e alimentos integrais contribui para a manutenção de um equilíbrio saudável de bactérias na cavidade oral, evitando a proliferação de microrganismos patogênicos.

Alimentos ricos em fibras, por exemplo, promovem a produção de saliva, o que ajuda a neutralizar os ácidos produzidos pelas bactérias na boca. Além disso, a ingestão de vitaminas como a vitamina D e o cálcio, presentes em alimentos como laticínios e vegetais verdes, é crucial para a manutenção da saúde dos ossos que suportam os dentes. A deficiência desses nutrientes pode levar a uma maior susceptibilidade a infecções e à perda de dentes, especialmente em indivíduos com predisposição genética para doenças periodontais (Veladas, 2020).

O impacto positivo de uma alimentação rica em nutrientes na saúde periodontal também é destacado por Feitoza (2018), segundo o autor, dietas que incluem alimentos minimamente processados e com alto teor de vitaminas e minerais ajudam a preservar a integridade do esmalte dentário e do tecido gengival. Alimentos como legumes, frutas e grãos integrais fornecem os nutrientes necessários para fortalecer as gengivas e os ossos que sustentam os dentes, além de melhorar a resposta imunológica contra infecções periodontais. Assim, é evidente que uma dieta pobre em nutrientes pode agravar o quadro de doenças periodontais, enquanto uma alimentação saudável tem o potencial de prevenir o desenvolvimento dessas condições.

Além disso, a importância de uma alimentação saúdavel também é observada durante os tratamentos odontológicos, como o uso de aparelhos ortodônticos, sendo que pacientes em tratamento ortodôntico enfrentam maiores desafios na higienização bucal, o que aumenta o risco de acúmulo de placa bacteriana. Nesse contexto, uma alimentação saudável e com baixo teor de açúcar é fundamental para minimizar os riscos de complicações periodontais. O consumo excessivo de açúcar favorece a proliferação de bactérias prejudiciais à saúde bucal, o que pode agravar a inflamação gengival e levar à deterioração dos tecidos periodontais durante o tratamento ortodôntico, sendo que uma dieta equilibrada é um dos fatores mais importantes para a prevenção de doenças periodontais a longo prazo (Magalhães, et al. 2023).

3.3. CONDIÇÕES PERIODONTAIS E DE SAÚDE BUCAL ASSOCIADAS A MÁ-ALIMENTAÇÃO: Gengivite, Periodontite e Cáries Dentais

Conforme ressaltado anteriormente, a á alimentação é um dos fatores mais influentes no desenvolvimento de diversas condições periodontais, como gengivite, periodontite e cárie dentária. Essas doenças, muitas vezes associadas ao consumo excessivo de carboidratos e à carência de nutrientes essenciais, afetam a integridade dos tecidos bucais, causando inflamações, perdas dentárias e comprometimento da saúde geral. Segundo Araújo (2022), a gengivite é uma inflamação das gengivas causada pela acumulação de placa bacteriana, que ocorre devido a uma higiene bucal inadequada e à ingestão frequente de alimentos ricos em açúcar. A má alimentação favorece a proliferação de bactérias nocivas, que, ao produzirem ácidos, desmineralizam o esmalte dentário e irritam os tecidos gengivais.

A gengivite é caracterizada por sinais como vermelhidão, inchaço e sangramento das gengivas durante a escovação ou o uso do fio dental, e é a forma inicial da doença periodontal, Porto (2023) destaca que, embora a gengivite seja reversível com a adoção de medidas adequadas de higiene bucal e uma dieta balanceada, a persistência desse quadro pode evoluir para a periodontite, sendo que a má alimentação, especialmente rica em carboidratos e açúcares refinados, promove o crescimento de bactérias anaeróbias que causam inflamação, destruindo progressivamente o tecido de suporte dos dentes.

Por sua vez, a periodontite, uma forma mais grave da doença periodontal, é causada pela progressão da gengivite não tratada e está diretamente associada à dieta pobre em nutrientes, Moura-Grec et al. (2014) destacam que, à medida que a doença evolui, a inflamação se aprofunda, atingindo os ligamentos periodontais e o osso alveolar, que são responsáveis por manter os dentes fixos. A destruição dessas estruturas leva à perda da estabilidade dental, podendo resultar em mobilidade dos dentes e, em casos mais avançados, à perda dentária, e isso não apenas compromete a função mastigatória, mas também afeta a estética e a fala.

Assim como é observado que a resposta inflamatória gerada pela infecção periodontal pode exacerbar condições inflamatórias sistêmicas, aumentando o risco de complicações cardiovasculares, como aterosclerose, e dificultando o controle glicêmico em pacientes com diabetes. Isso se dá porque a periodontite eleva os níveis de mediadores inflamatórios no corpo, sobrecarregando o sistema imunológico e exacerbando condições preexistentes, e que um dos fatores que agravam esse processo são as dietas deficientes em nutrientes como vitamina C, vitamina D e cálcio agravam a progressão da periodontite. A vitamina C é essencial para a síntese de colágeno, que é necessário para a reparação dos tecidos gengivais danificados. A falta de vitamina D e cálcio, por sua vez, compromete a manutenção da densidade óssea, facilitando a reabsorção óssea ao redor dos dentes afetados pela periodontite. Portanto, a carência de nutrientes agrava a destruição dos tecidos de suporte dental, acelerando a evolução da doença (Moura-Grec, et al. 2014).

Além das doenças periodontais, a cárie dentária é outra condição frequentemente relacionada à má alimentação. Alves e Pires (2022) afirmam que o consumo excessivo de alimentos ricos em carboidratos fermentáveis, como doces, refrigerantes e pães, contribui para a formação de ácidos que desmineralizam o esmalte dentário. Esse processo leva à formação de cavidades nos dentes, que, se não tratadas, podem progredir para infecções mais graves e até mesmo à perda do dente.

Santos et al. (2019) observam que a cárie dentária é um problema comum, especialmente entre crianças, cuja dieta muitas vezes inclui alimentos ultraprocessados e ricos em açúcar, isso porque a ingestão frequente de alimentos açucarados altera o pH da boca, favorecendo o ambiente ácido ideal para a proliferação de bactérias cariogênicas, como Streptococcus mutans. Essas bactérias, ao metabolizarem os carboidratos, produzem ácidos que corroem o esmalte dos dentes. Dessa forma, a introdução de hábitos alimentares saudáveis desde a infância é essencial para a prevenção da cárie e a manutenção da saúde bucal ao longo da vida.

Uma das consequências mais imediatas da cárie em estágio avançado é a dor dentária, que ocorre quando a cárie atinge as camadas mais internas do dente. Segundo Santos et al. (2019), essa dor pode variar de leve a intensa, dependendo da extensão da lesão. Quando a polpa dentária, que contém nervos e vasos sanguíneos, é afetada, o paciente pode sentir dor espontânea, especialmente ao consumir alimentos ou bebidas quentes, frias ou doces. Essa sensibilidade é um sinal de que a infecção pode estar se alastrando, e a intervenção odontológica torna-se essencial.

Se a cárie não for tratada a tempo, ela pode evoluir para uma infecção mais grave, como um abscesso dentário. Santos et al. (2019) explicam que o abscesso é uma bolsa de pus que se forma ao redor da raiz do dente infectado e pode causar dor intensa, inchaço, febre e, em casos mais graves, até a disseminação da infecção para outras partes do corpo. Nesses casos, o tratamento de canal pode ser necessário para remover a polpa infectada e evitar a perda do dente, assim como é observado a possibilidade da perda dentária, que além de afetar a estética e a autoconfiança do paciente, compromete a função mastigatória, dificultando a alimentação adequada e podendo gerar desconforto ao mastigar certos alimentos (Alves e Pires, 2022).

3.4. A QUALIDADE DE VIDA E A IMPORTÂNCIA DA BOA ALIMENTAÇÃO PARA A SAÚDE BUCAL

A saúde bucal, conforme Salles e Silva (2021), exerce impacto significativo na qualidade de vida de adultos, o consumo frequente de alimentos ultraprocessados, como doces e refrigerantes, leva à proliferação de bactérias prejudiciais à saúde oral, agravando condições como cáries e doenças periodontais. Além disso, a ingestão inadequada de nutrientes compromete a imunidade e favorece o surgimento de inflamações gengivais, aumentando o risco de complicações sistêmicas.

A qualidade de vida das pessoas está ligada à sua saúde bucal e aos hábitos alimentares que cultiva, sendo que a má alimentação afeta não apenas a saúde bucal, mas também o bem-estar geral e a disposição, contribuindo para o surgimento de outras doenças, segundo Braga e Pereira (2020), uma alimentação rica em carboidratos e açúcares impacta diretamente as condições periodontais, resultando em inflamações, perda dentária e comprometimento da qualidade de vida. Portanto, uma dieta balanceada desempenha papel crucial na prevenção dessas condições e na manutenção da saúde física e psicológica.

O impacto da má alimentação também reflete na disposição e na saúde geral dos indivíduos, uma vez que alimentos ricos em açúcar e gordura não oferecem os nutrientes necessários para manter a energia e a vitalidade. Segundo Martins et al. (2019), a deficiência de nutrientes essenciais, como vitaminas C e D, compromete o sistema imunológico e a capacidade do organismo de se recuperar de infecções. No campo da saúde bucal, isso é evidenciado pelo aumento da suscetibilidade a doenças periodontais, que afetam tanto a estética quanto a funcionalidade dos dentes, prejudicando a autoestima e a socialização.

Além de afetar diretamente a saúde bucal, a má alimentação pode levar ao desenvolvimento de outras condições de saúde, como a obesidade. Braga e Pereira (2020) observam que o consumo elevado de carboidratos e alimentos ultraprocessados não apenas agrava a cárie dentária, mas também contribui para o ganho excessivo de peso. A obesidade, por sua vez, está associada a uma série de complicações sistêmicas, como diabetes e doenças cardiovasculares, que podem influenciar a resposta inflamatória do organismo e exacerbar problemas bucais já existentes, como a periodontite.

é essencial considerar que a introdução de hábitos alimentares saudáveis desde a infância é uma das formas mais eficazes de prevenir problemas bucais ao longo da vida. Segundo Martins et al. (2019), a adoção de uma dieta equilibrada, associada a bons hábitos de higiene, reduz significativamente o risco de cáries e doenças periodontais. Além disso, a promoção de uma alimentação adequada contribui para a manutenção de um peso saudável, prevenindo a obesidade e suas complicações associadas, tanto para a saúde bucal quanto para a saúde sistêmica, sendo que a orientação sobre uma boa alimentação também boa ser passada pelo profissional, assim como deve ser feito as orientações necessárias sobre o risco de desenvolvimento de doenças para aqueles que fazem tratamentos, como nos casos de uso de aparelho ortodôntico. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como observado por Braga e Pereira (2020), a saúde bucal é uma parte integrante da saúde geral, e seu cuidado deve ser priorizado desde cedo para evitar complicações futuras. A alimentação equilibrada, rica em nutrientes essenciais, não apenas preserva os dentes e as gengivas, mas também promove a saúde e o bem-estar em todas as etapas da vida, contribuindo para uma maior longevidade e melhor qualidade de vida.

A relação entre alimentação e saúde periodontal vai além do consumo de carboidratos. Esteves et al. (2020) afirmam que alimentos funcionais, como frutas, vegetais e oleaginosas, têm propriedades antioxidantes que ajudam a reduzir a inflamação gengival e a promover a saúde periodontal. Uma dieta rica em alimentos naturais favorece o equilíbrio da microbiota bucal e fortalece o sistema imunológico, prevenindo a progressão de doenças periodontais. Em contraste, uma dieta pobre em nutrientes essenciais, como cálcio e vitamina D, compromete a regeneração dos ossos alveolares, contribuindo para a perda óssea associada à periodontite.

Por fim, Santos et al. (2018) destacam que uma dieta equilibrada, aliada a uma higiene bucal adequada, é fundamental para o controle das doenças periodontais e da cárie dentária. A má alimentação, especialmente rica em açúcares e pobre em nutrientes essenciais, não apenas contribui para o desenvolvimento dessas condições, mas também pode dificultar a recuperação dos tecidos afetados. Portanto, é imprescindível que as estratégias de prevenção e tratamento incluam tanto a educação nutricional quanto o incentivo à adoção de hábitos alimentares saudáveis, promovendo a saúde bucal e prevenindo complicações mais graves.

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Trabalho de conclusão de curso de Graduação em Odontologia, da Instituição de Ensino Superior de Cacoal – FANORTE