A INFÂNCIA NA ERA DIGITAL: DESAFIOS E POTENCIALIDADES DAS TECNOLOGIAS NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

CHILDHOOD IN THE DIGITAL AGE: CHALLENGES AND POTENTIAL OF TECHNOLOGIES IN CHILD DEVELOPMENT

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202505122314


Edvane Maria de Souza Oliveira1
Orientador: Professor Dr. Egídio Martins2


Resumo

O presente estudo teve como objetivo analisar as relações entre a infância e o uso das tecnologias digitais, refletindo sobre os impactos positivos e negativos dessas ferramentas no desenvolvimento cognitivo, social, emocional e criativo das crianças. A partir de uma pesquisa qualitativa e bibliográfica, foram mobilizados autores essenciais, como Paulo Freire (1996), Lev Vygotsky (1991; 2021), Pierre Lévy (1999), Henry Jenkins (2006) e Sonia Livingstone (2014; 2019), além de comentadores brasileiros, como Lynn Alves (2014; 2019), Maria Luiza Belloni (2019), José Manuel Moran (2013;2020) e Edméa Santos (2018; 2019). Os resultados apontam que as tecnologias digitais oferecem oportunidades significativas para a infância, possibilitando o aprendizado colaborativo, a construção ativa do conhecimento e a expressão criativa. Contudo, há riscos associados ao uso inadequado, como a alienação, o uso excessivo e a perda de experiências sensoriais e sociais fundamentais. Tais desafios demandam mediação crítica e equilibrada por parte de educadores, pais e responsáveis. O estudo conclui que, no contexto contemporâneo, a infância deve integrar as tecnologias como instrumentos de desenvolvimento, mantendo o equilíbrio entre o ambiente digital e as vivências essenciais para a formação integral das crianças.

Palavras-chave: infância; tecnologias digitais; desenvolvimento infantil.

1 INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, as tecnologias digitais têm desempenhado um papel central na transformação da sociedade, influenciando diretamente as dinâmicas familiares, as relações sociais e os processos de ensino-aprendizagem. A infância, considerada uma etapa crucial do desenvolvimento humano, não permaneceu imune a essas mudanças. Cada vez mais inseridas no universo digital, as crianças interagem com dispositivos tecnológicos desde cedo, o que suscita debates sobre os efeitos dessa interação em seu desenvolvimento cognitivo, emocional e social.

Nesse contexto, emergem questionamentos sobre a qualidade e a extensão das relações entre a infância e as tecnologias digitais. Seriam essas ferramentas capazes de potencializar a aprendizagem e o desenvolvimento infantil ou, ao contrário, contribuem para a alienação, a dispersão e a exclusão social? A inserção precoce das crianças no ambiente digital exige uma reflexão crítica acerca das oportunidades e riscos envolvidos nessa convivência.

A justificativa deste estudo reside na sua relevância social e acadêmica. Em uma sociedade cada vez mais mediada por dispositivos digitais, investigar como as tecnologias impactam a infância pode oferecer subsídios valiosos para pais, educadores e formuladores de políticas públicas. Tais investigações podem orientar o desenvolvimento de práticas mais conscientes e equilibradas no uso das tecnologias, promovendo benefícios ao mesmo tempo em que minimizam riscos. Além disso, o estudo contribui para o debate teórico ao analisar e comparar perspectivas de diferentes autores sobre infância e tecnologia, oferecendo uma visão crítica e fundamentada do tema.

O objetivo deste artigo é analisar as relações entre a infância e o uso das tecnologias digitais. Por meio de uma revisão bibliográfica, busca-se compreender como diferentes autores abordam esses conceitos e identificar as implicações do uso das tecnologias no cotidiano das crianças. Para isso, serão explorados as potencialidades e os desafios que emergem dessa relação, com base em um referencial teórico consistente e atualizado.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. Infância

2.1.1. Paulo Freire

Paulo Freire, um dos principais educadores brasileiros e referência mundial no campo da educação crítica, apresenta uma visão libertadora e humanista do processo educacional. Para Freire (1996), a infância deve ser compreendida como uma fase de construção ativa do conhecimento, em que a criança assume o papel de protagonista de seu aprendizado. Ele rejeita a concepção tradicional e bancária de educação, que trata a criança como um recipiente passivo, pronto para ser preenchido com informações. Em contrapartida, Freire (1996) propõe uma educação dialógica e problematizadora, fundamentada no diálogo, na reflexão crítica e no respeito à curiosidade e ao saber do educando. Logo,

A educação não pode ser entendida como um ato de depositar no educando conteúdos que ele deve receber, guardar e repetir. Isso seria transformar o educando em um mero objeto, negando sua humanidade. Educar é um ato de diálogo, um encontro entre sujeitos que constroem juntos o conhecimento, respeitando a curiosidade e o saber do outro (Freire, 1996, p. 58).

A crítica de Freire (1996), ao modelo tradicional de educação, revela uma preocupação fundamental com a passividade do aluno. No contexto contemporâneo, marcado pela presença constante das tecnologias digitais, essa reflexão adquire uma relevância ainda maior. Embora as ferramentas digitais possam oferecer recursos interativos e multimodais que potencializam o aprendizado, seu uso inadequado e acrítico pode reforçar a lógica da educação bancária.

Nesse sentido, Freire (1996) alerta para a necessidade de que a introdução das tecnologias no processo educacional seja mediada por práticas dialógicas e reflexivas. Pais e educadores têm o papel essencial de orientar as crianças a utilizarem as tecnologias como instrumentos de emancipação, promovendo um aprendizado criativo, ativo e crítico. A exposição passiva aos conteúdos digitais, sem mediação, pode limitar a capacidade reflexiva das crianças, transformando-as em meras consumidoras de informações.

Portanto, a aplicação das ideias freireanas no ambiente digital exige uma abordagem consciente e crítica, que valorize a curiosidade natural da criança e a incentive a participar ativamente da construção do conhecimento. A educação deve ir além da simples transmissão de conteúdos, proporcionando às crianças uma relação dialógica com as tecnologias, em que elas possam questionar, refletir e transformar sua realidade.

2.1.2. Emília Ferreiro

Emília Ferreiro, renomada psicóloga e educadora argentina, é amplamente reconhecida por suas contribuições no campo da alfabetização e do desenvolvimento cognitivo infantil, fundamentadas nas teorias construtivistas de Jean Piaget. Ferreiro (2001) revolucionou a compreensão do aprendizado ao afirmar que a criança é um sujeito ativo no processo de construção do conhecimento. Em vez de aprender de forma mecânica ou repetitiva, a criança formula hipóteses, experimenta e reorganiza suas percepções em interação constante com o ambiente e com as pessoas ao seu redor. Por isso,

A criança não aprende de forma mecânica ou pela repetição. Ela constrói hipóteses e explora possibilidades, reorganizando constantemente suas percepções e compreensões. O aprendizado, nesse sentido, é um processo ativo, individual e dinâmico, que exige interação com o ambiente e com os outros (Ferreiro, 2001, p. 73).

Essa citação ilustra a visão inovadora de Ferreiro (2001), que rompe com a ideia de que a aprendizagem se limita à memorização e imitação. Para ela, o aprendizado é ativo, dinâmico    e individualizado, dependendo das interações que a criança estabelece com o meio e com os outros.

No contexto atual, marcado pelo uso das tecnologias digitais, a teoria de Ferreiro (2001) adquire novas dimensões. Ferramentas digitais, como aplicativos interativos, jogos educativos e recursos multimídia, oferecem às crianças a oportunidade de formular hipóteses, testar soluções e reorganizar suas compreensões, ampliando as possibilidades de aprendizado. Essas interações tecnológicas funcionam como extensões do processo construtivista descrito por Ferreiro (2001), estimulando o desenvolvimento cognitivo e linguístico das crianças.

Contudo, a utilização das tecnologias digitais precisa ser acompanhada de mediação crítica e reflexiva por parte de educadores e pais. O papel do adulto é assegurar que essas ferramentas sejam usadas como instrumentos para a exploração criativa e a construção do conhecimento, e não apenas como meios de consumo passivo de informações. Sem essa mediação, o potencial das tecnologias pode ser desperdiçado, comprometendo a capacidade das crianças de desenvolver habilidades cognitivas e criativas.

Assim, ao incorporar as ideias de Emília Ferreiro (2001) ao contexto digital, é possível promover um aprendizado significativo, onde as crianças exercem seu protagonismo e desenvolvem suas capacidades de maneira ativa e autônoma. As ferramentas digitais, quando utilizadas de forma planejada e mediada, oferecem um ambiente propício para que as crianças construam o conhecimento por meio da experimentação, da exploração e do diálogo com o mundo ao seu redor.

2.1.3. Lev Vygotsky

Lev Vygotsky, psicólogo russo e um dos principais teóricos do desenvolvimento humano, trouxe contribuições fundamentais para a compreensão da infância por meio de sua perspectiva socio-interacionista. Diferentemente de abordagens que priorizam os aspectos individuais do desenvolvimento, Vygotsky (1991; 2021) enfatiza que a aprendizagem é mediada pelas interações sociais e culturais. Para ele, a criança desenvolve suas habilidades cognitivas e emocionais por intermédio do contato com o meio em que vive e das relações que estabelece com pais, educadores e colegas.

Um dos conceitos centrais de Vygotsky (1991) é a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), que representa a distância entre o que a criança consegue realizar sozinha (desenvolvimento real) e aquilo que pode alcançar com o apoio de um adulto ou de pares mais experientes (desenvolvimento potencial). A ZDP ressalta o caráter colaborativo da aprendizagem, onde o outro desempenha um papel essencial como mediador e facilitador do desenvolvimento infantil. Desse modo,

A aprendizagem desperta vários processos internos de desenvolvimento que são capazes de operar somente quando a criança interage com pessoas no seu ambiente e em cooperação com seus companheiros. A aprendizagem não é um processo isolado, mas um fenômeno social, em que as interações desempenham um papel fundamental no avanço do desenvolvimento (Vygotsky, 1991, p. 101).

Essa citação reforça a centralidade das interações sociais no processo de aprendizagem, conforme a teoria de Vygotsky (1991). No contexto das tecnologias digitais, essa reflexão se amplia. Ferramentas como jogos educativos, plataformas colaborativas e aplicativos interativos podem atuar como mediadores do desenvolvimento, permitindo que crianças avancem em tarefas mais complexas com o apoio de educadores, pais ou até mesmo de sistemas inteligentes programados. Ao expandirem as ZDPs, essas tecnologias podem proporcionar novas oportunidades de aprendizado.

Entretanto, Vygotsky (1991) alerta que o papel do adulto como mediador é indispensável. Sem uma mediação crítica e reflexiva, o uso das ferramentas tecnológicas pode se limitar às atividades superficiais, incapazes de contribuir efetivamente para o desenvolvimento das habilidades cognitivas e sociais das crianças. Além disso, Vygotsky  (1991) destaca que a aprendizagem é culturalmente mediada, e as tecnologias digitais, como produtos culturais, refletem valores, práticas e modos de pensar contemporâneos. A criança, ao interagir com essas ferramentas, internaliza significados culturais e constrói conhecimento em diálogo com o ambiente digital.

Assim, para que as tecnologias digitais sejam aliadas no desenvolvimento infantil, é fundamental que a mediação ativa de educadores e pais assegure que a aprendizagem ocorra de forma significativa e conectada à realidade da criança. Esse equilíbrio promove, não apenas o avanço cognitivo, mas também o desenvolvimento emocional e social, em consonância com os princípios da teoria vygotskiana.

2.1.4. Walter Benjamin

Walter Benjamin, filósofo e crítico cultural alemão, oferece uma perspectiva única sobre a infância ao abordá-la como uma fase marcada pela imaginação, descoberta e experimentação. Embora não tenha desenvolvido uma teoria sistemática, suas reflexões em obras como Infância em Berlim e Pequena História da Fotografia destacam a infância como um momento de interação sensorial e criativa com o mundo, onde o brincar desempenha um papel central. Assim,

Brincar é uma atividade em que a criança transforma qualquer objeto em um instrumento de imaginação. Ao observar uma criança brincando, percebe-se que o valor do objeto é menos importante do que sua capacidade de ser reinventado. A criança olha o mundo com olhos diferentes, transformando o comum em extraordinário e criando realidades paralelas onde a imaginação e a liberdade são plenas (Benjamin, 1987, p. 70).

Essa citação ilustra o valor do brincar como um processo criativo e simbólico, onde a criança transforma a realidade por meio de sua imaginação. No contexto contemporâneo, no entanto, essa reflexão ganha novos contornos diante da predominância das tecnologias digitais. Se, por um lado, os dispositivos digitais oferecem novas oportunidades de exploração e criação; por outro, podem limitar a experiência sensorial e a inventividade infantil.

A crítica de Benjamin (2020; 1987) à reprodutibilidade técnica se aplica ao uso das tecnologias digitais na infância. Conteúdos pré-formatados e padronizados, frequentemente encontrados em plataformas digitais, podem reduzir a capacidade criativa das crianças, transformando-as em consumidoras passivas de conteúdos visuais. Esse tipo de experiência tecnológica compromete o potencial imaginativo descrito por Benjamin (2020), ao restringir a liberdade simbólica e a autonomia criativa no processo de brincar.

No entanto, é possível integrar as tecnologias digitais ao universo infantil de maneira consciente e crítica, respeitando o caráter espontâneo e inventivo do brincar. Jogos e aplicativos que estimulam a imaginação livre e a criação de narrativas próprias podem atuar como aliados, desde que o uso das tecnologias não substitua experiências físicas e sensoriais fundamentais.

Assim, Benjamin (2020) alerta para a importância de equilibrar o uso das tecnologias digitais com vivências concretas e criativas, que preservem a riqueza simbólica do brincar e a interação direta com o ambiente físico. A infância, para ele, é um momento de exploração e descoberta que deve ser protegido das limitações impostas pela massificação e pela padronização das experiências mediadas pelas telas.

3 COMPARAÇÃO E RELAÇÃO ENTRE AS TEORIAS

As teorias de Paulo Freire (1996), Emília Ferreiro (2001), Lev Vygotsky (1991; 2021) e Walter Benjamin (2020; 1987) apresentam abordagens distintas sobre a infância, mas convergem em pontos essenciais ao reconhecer a criança como protagonista no processo de desenvolvimento e aprendizagem. Cada autor, a seu modo, contribui para a compreensão da infância como uma fase marcada pela construção ativa do conhecimento, pela interação social e pela exploração criativa do mundo. Esses elementos ganham novos contornos no contexto contemporâneo, amplamente influenciado pelas tecnologias digitais.

Freire (1996)  e Vygotsky (1991) compartilham uma visão que enfatiza a importância do diálogo e da interação social no desenvolvimento infantil. Freire (1996) critica a educação bancária, que trata a criança como um sujeito passivo, defendendo uma educação libertadora e crítica, baseada no diálogo e na reflexão ativa. Vygotsky (1991), por sua vez, introduz o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), ao destacar que o aprendizado ocorre no intervalo entre o que a criança pode realizar sozinha e o que ela é capaz de realizar com apoio de adultos ou pares mais experientes. Ambos valorizam o papel mediador do educador no estímulo ao desenvolvimento da criança.

A aprendizagem não pode ser entendida como uma simples absorção passiva de informações. Ela é um processo social e culturalmente mediado, em que a interação com o outro desempenha um papel fundamental. É na cooperação e no diálogo que as crianças alcançam níveis superiores de desenvolvimento, ampliando suas capacidades cognitivas e emocionais (Vygotsky, 1991, p. 115).

Essa citação reforça a centralidade das relações sociais e do diálogo para o desenvolvimento cognitivo, conforme destacado por Vygotsky (1991). No contexto das tecnologias digitais, ferramentas interativas como plataformas colaborativas e jogos educativos se apresentam como meios eficazes para expandir a ZDP. Com a mediação adequada, as crianças podem resolver problemas mais complexos e desenvolver habilidades cognitivas e sociais. Contudo, a ausência de mediação crítica pode levar a um uso superficial e mecânico das tecnologias, limitando o potencial transformador que elas oferecem.

Emília Ferreiro (2001), ao desenvolver suas pesquisas sobre alfabetização com base no construtivismo piagetiano, reforça a ideia da criança como um sujeito ativo na construção do conhecimento. Diferente das abordagens tradicionais que consideram a criança um recipiente passivo, Ferreiro (2001) defende que o aprendizado ocorre mediante a formulação de hipóteses e da reorganização progressiva do saber, por meio da experimentação e da interação com o ambiente. Dessa maneira,

O conhecimento não é algo que se transmite diretamente, mas algo que se constrói. A criança formula hipóteses, testa suas possibilidades e reorganiza suas percepções com base nas experiências que vivencia. O papel do educador não é transmitir verdades prontas, mas criar situações que favoreçam essa construção (Ferreiro, 2001, p. 85).

Essa perspectiva dialoga com as ideias de Freire (1996) e Vygotsky (1991)ao reforçar que o aprendizado é ativo e depende de experiências concretas. No ambiente digital, aplicativos e jogos educativos proporcionam ferramentas que permitem à criança explorar, formular hipóteses e desenvolver suas competências cognitivas e linguísticas. Entretanto, Ferreiro (2001) adverte que a mediação pedagógica é essencial. O uso isolado ou mecânico das tecnologias pode comprometer o caráter construtivista da aprendizagem, limitando a reflexão criativa e crítica da criança.

Por outro lado, Walter Benjamin (1987) traz uma perspectiva crítica ao valorizar a infância como uma fase de imaginação, experimentação sensível e liberdade criativa. Benjamin (1987) analisa o brincar como uma atividade essencial, que permite à criança reinterpretar o mundo através de sua imaginação simbólica. Por isso,

Brincar é uma atividade em que a criança transforma qualquer objeto em um instrumento de imaginação. Ao observar uma criança brincando, percebe-se que o valor do objeto é menos importante do que sua capacidade de ser reinventado. A criança olha o mundo com olhos diferentes, transformando o comum em extraordinário e criando realidades paralelas onde a imaginação e a liberdade são plenas (Benjamin, 1987, p. 70).

Benjamin (1987) alerta para os riscos da reprodutibilidade técnica no uso das tecnologias digitais, onde conteúdos padronizados podem substituir experiências sensoriais e criativas. A exposição excessiva a plataformas digitais pré-formatadas tende a reduzir o potencial inventivo e crítico das crianças, transformando-as em consumidoras passivas. Nesse sentido, Benjamin (1987) complementa as reflexões de Freire, Vygotsky e Ferreiro ao enfatizar a necessidade de equilibrar o uso das tecnologias com vivências físicas, sensoriais e lúdicas.

Pontos de Convergência:

  • Protagonismo Infantil: todos os autores defendem que a criança é um sujeito ativo no processo de aprendizagem e desenvolvimento.
  • Interação Social e Mediação: Freire (1996), Vygotsky (2021) e Ferreiro (2001) destacam o papel mediador do adulto ou do par na aprendizagem, enquanto Benjamin (1987) valoriza a relação da criança com o ambiente e o ato de brincar.
  • Crítica ao Uso Passivo das Tecnologias: Freire (1996) e Benjamin (1987) alertam para os riscos do uso acrítrico e alienante das tecnologias, que podem limitar a criatividade e a reflexão.
  • Valorização do Brincar e da Experiência Criativa: Benjamin (1987) destaca a importância da imaginação simbólica, que dialoga com as ideias de Freire (1996), Vygotsky (2021) e Ferreiro (2001) sobre a aprendizagem como um processo dinâmico e exploratório.

A comparação entre essas teorias evidencia que o uso das tecnologias digitais na infância deve ser equilibrado, consciente e mediado. Enquanto Freire (1996), Vygotsky (2021)  e Ferreiro (2001) percebem as ferramentas digitais como oportunidades para potencializar o aprendizado, Benjamin (1987) alerta para os riscos da alienação e da perda da criatividade infantil. A intersecção dessas perspectivas sugere que o uso das tecnologias deve ser complementado por experiências sensoriais, físicas e lúdicas, garantindo que a infância continue a ser um espaço de descoberta, reflexão crítica e construção significativa do conhecimento.

Por fim, o papel dos educadores e pais é crucial para mediar esse equilíbrio, assegurando que as crianças explorem as tecnologias de forma crítica e criativa, sem perder o contato com as experiências essenciais para seu desenvolvimento integral.

4 TECNOLOGIAS 

4.1. Manuel Castells: a sociedade em rede

Manuel Castells, em sua teoria da sociedade em rede, descreve como as tecnologias da informação transformaram profundamente a estrutura das relações sociais, culturais e educacionais. Para Castells (2003; 1987), vivemos em uma era marcada pela conectividade constante, em que o acesso à informação e a comunicação em rede redefinem as formas de aprender, interagir e perceber o mundo. Essa realidade impacta diretamente a infância que hoje está inserida em um contexto digital desde os primeiros anos de vida.

Na perspectiva de Castells (1987), as crianças do século XXI são consideradas nativas digitais, pois crescem em um ambiente, onde as tecnologias digitais integram o cotidiano e moldam suas experiências de aprendizado e socialização. Ferramentas como smartphones, tablets e computadores oferecem possibilidades inéditas, permitindo o acesso a uma vasta quantidade de informações, recursos interativos e ambientes colaborativos. Nesse sentido, as tecnologias digitais tornam o processo de aprendizagem mais dinâmico, descentralizado e não linear, rompendo com os modelos tradicionais de ensino. Logo,

Na sociedade em rede, a lógica de organização das relações humanas é mediada pela tecnologia, que redefine os modos de sociabilidade, educação e trabalho. Isso impacta diretamente os jovens e as crianças, que crescem em um contexto digital. Essas mudanças oferecem oportunidades de aprendizado sem fronteiras, mas também trazem riscos que precisam ser gerenciados por meio de políticas e práticas críticas e inclusivas (Castells, 2003, p. 72).

Essa citação evidencia a dualidade da sociedade em rede. Por um lado, as tecnologias democratizam o acesso à informação e criam novas formas de sociabilidade e aprendizado, permitindo que crianças participem de projetos globais, interajam com culturas diversas e desenvolvam uma visão crítica e inclusiva do mundo. Por outro lado, Castells (1987) alerta que a simples presença da tecnologia não garante um impacto positivo. A falta de mediação crítica e de políticas públicas adequadas pode gerar exclusão digital, alienação e o uso desregulado das ferramentas tecnológicas.

Outro ponto importante, levantado por Castells(1987),  é a necessidade de desenvolver uma educação crítica e mediada, que prepare as crianças para navegar no ambiente digital de forma consciente e responsável. A simples exposição às tecnologias não garante a aprendizagem significativa; é essencial que educadores e pais assumam o papel de mediadores ativos, orientando as crianças a utilizarem as ferramentas digitais como instrumentos de construção do conhecimento, diálogo e transformação social. Assim, a sociedade em rede, ao mesmo tempo em que oferece novas oportunidades, exige um olhar crítico para assegurar que as tecnologias realmente contribuam para o desenvolvimento integral da criança.

4.2. Pierre Lévy: a inteligência coletiva

Pierre Lévy, filósofo francês e um dos principais teóricos do impacto das tecnologias digitais na sociedade, introduz o conceito de inteligência coletiva como uma característica central da era digital. Para Lévy (1999), a inteligência coletiva é a capacidade das pessoas de compartilhar conhecimento, colaborar na solução de problemas e construir novos saberes em um ambiente mediado pelas tecnologias de informação e comunicação. Esse conceito é fundamental para entender o papel das tecnologias no desenvolvimento infantil, uma vez que as crianças, ao crescerem nesse cenário, podem participar ativamente da criação e disseminação do conhecimento.

Lévy (1999) argumenta que, na era digital, o conhecimento deixa de ser centralizado e hierárquico, como nos modelos tradicionais de ensino, e passa a ser distribuído em redes colaborativas. Nesse contexto, as crianças têm acesso a ferramentas e ambientes que as convidam a participar da construção do saber, rompendo com a lógica passiva de recepção de conteúdo. Logo,

A inteligência coletiva é uma inteligência distribuída em todos os lugares, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real e que resulta em uma mobilização efetiva das competências. No espaço digital, cada indivíduo participa como um elo ativo na criação do conhecimento, produzindo, compartilhando e construindo novas formas de pensar coletivamente (Lévy, 1999, p. 29).

Essa citação ressalta o papel ativo dos sujeitos no processo de construção do conhecimento em rede. No contexto da infância, ferramentas digitais como jogos colaborativos, plataformas de aprendizagem e ambientes virtuais permitem que as crianças desenvolvam a capacidade de trabalhar em equipe, resolver problemas e explorar suas próprias ideias. A lógica hierárquica do ensino tradicional é substituída por processos participativos, nos quais as crianças aprendem com educadores, colegas e interações culturais diversas.

No entanto, Lévy (1999) destaca que a participação efetiva na inteligência coletiva exige competências digitais e críticas. A ausência de mediação adequada pode resultar em um uso superficial das tecnologias, limitando o potencial criativo e reflexivo das crianças. Assim, cabe aos educadores e pais guiarem as crianças no uso consciente do ambiente digital, incentivando-as a se tornarem criadoras e colaboradoras ativas do conhecimento.

Outro ponto central na teoria de Lévy (1999) é a valorização da diversidade no processo de construção do conhecimento. Ao interagirem com diferentes culturas e perspectivas, as crianças têm a oportunidade de ampliar sua visão de mundo e desenvolver habilidades como respeito, empatia e colaboração intercultural. Essas competências são essenciais para a formação de uma geração preparada para os desafios da sociedade globalizada e conectada.

Em síntese, a teoria de Pierre Lévy (1999) oferece uma visão otimista do papel das tecnologias no desenvolvimento infantil, visto que, quando utilizadas de forma crítica e mediada, as ferramentas digitais podem promover o aprendizado colaborativo, a criatividade e a formação de uma consciência crítica. Cabe aos adultos criarem as condições necessárias para que as crianças possam aproveitar o potencial das tecnologias digitais, participando ativamente da inteligência coletiva e desenvolvendo as competências essenciais para atuar em um mundo conectado e em constante transformação.

4.3. Sonia Livingstone: crianças e as telas

Sonia Livingstone, renomada pesquisadora britânica no campo da mídia e comunicação, dedica-se a investigar os impactos das tecnologias digitais na vida das crianças, com foco especial no uso de dispositivos eletrônicos e telas. Em suas pesquisas, Livingstone (2019; 2014) adota uma visão equilibrada, destacando tanto os benefícios quanto os riscos que essas tecnologias oferecem ao desenvolvimento infantil. Sua análise se torna especialmente relevante em um cenário no qual as crianças são expostas, cada vez mais cedo, a dispositivos como tablets, smartphones, computadores e televisores.

Livingstone (2014) identifica que as crianças do século XXI são consideradas nativas digitais, crescendo em um ambiente onde as tecnologias digitais fazem parte integrante do cotidiano. Elas influenciam diretamente suas experiências de aprendizado, socialização e lazer. Segundo a autora, as telas oferecem oportunidades significativas para o desenvolvimento cognitivo e comunicativo, especialmente quando usadas de maneira consciente e mediada. Dessa maneira, 

As tecnologias digitais, quando integradas de forma consciente e mediada, podem transformar a aprendizagem infantil, oferecendo oportunidades multimodais de explorar o conhecimento. No entanto, o uso descontrolado pode comprometer o tempo de qualidade dedicado às experiências físicas e sociais, fundamentais para o desenvolvimento saudável das crianças (Livingstone, 2014, p. 96).

Essa citação ressalta a dupla natureza das tecnologias digitais. De um lado, elas oferecem novas formas de aprendizado multimodal, permitindo às crianças explorar conteúdos através de estímulos visuais, auditivos e interativos. Por outro lado, Livingstone (2014)  alerta para os riscos do uso excessivo e não supervisionado das telas, que podem comprometer atividades essenciais para o desenvolvimento sensorial, motor e social.

Assim, cabe a educadores e pais garantirem um equilíbrio entre o uso das tecnologias e outras experiências fundamentais, como atividades físicas, brincadeiras livres e interações presenciais. A mediação crítica é essencial para que o uso das telas proporcione um aprendizado significativo e não substitua vivências concretas, necessárias para o desenvolvimento integral das crianças. 

Além disso, Livingstone (2014) destaca o problema da exclusão digital, que acentua as desigualdades socioeconômicas. Muitas crianças em contextos de vulnerabilidade têm acesso limitado ou inexistente às ferramentas tecnológicas, o que restringe suas oportunidades de aprendizado e desenvolvimento. Para enfrentar esse desafio, Livingstone ressalta a importância de políticas públicas inclusivas, que garantam o acesso equitativo às tecnologias e promovam a alfabetização midiática desde cedo. Dessa forma, as crianças poderão usufruir das oportunidades digitais de maneira crítica e responsável.

4.4. Henry Jenkins: cultura da convergência e participação

Henry Jenkins, um dos principais estudiosos da cultura digital contemporânea, introduz o conceito de cultura da convergência para descrever a intersecção entre mídias tradicionais e digitais, em que os papéis de consumidores e produtores de conteúdo se misturam. No contexto da infância, Jenkins (2006) enfatiza que as tecnologias digitais permitem que as crianças deixem de ser consumidoras passivas de informações e se tornem criadoras e participantes ativas no ambiente digital.

Na cultura da convergência, as crianças são inseridas em um ecossistema midiático diversificado, onde coexistem vídeos, jogos, redes sociais e plataformas colaborativas. Essa diversidade oferece oportunidades únicas para o desenvolvimento infantil, pois permite que as crianças explorem conteúdos de maneiras multimodais e criativas. Assim,

As crianças hoje não são apenas consumidoras de mídia; elas são criadoras, colaboradoras e participantes ativas na cultura digital. Elas aprendem a contar suas histórias, interagir com narrativas complexas e contribuir com novas formas de expressão criativa em um mundo cada vez mais interconectado (Jenkins, 2006, p. 129).

Essa citação ilustra a transformação da relação das crianças com as mídias. Jenkins (2006) destaca o protagonismo infantil, evidenciando que o ambiente digital incentiva as crianças a desenvolver habilidades criativas, colaborativas e críticas. Plataformas como YouTube, TikTok e jogos interativos exemplificam esse potencial, ao oferecerem ferramentas que estimulam a expressão individual e promovem o compartilhamento de experiências.

Contudo, Jenkins (2006) também alerta para os desafios da cultura participativa. Nem todas as crianças têm acesso igualitário às tecnologias ou ao suporte necessário para desenvolver competências digitais. A exclusão digital e a falta de alfabetização midiática podem impedir que algumas crianças participem de forma efetiva e crítica desse ambiente. Além disso, o uso inadequado das ferramentas pode expô-las a riscos, como conteúdos inadequados e práticas de consumo excessivo.

Outro aspecto central na teoria de Jenkins (2006) é a valorização da colaboração como habilidade essencial para o século XXI. Jogos colaborativos, como Minecraft e Roblox, incentivam as crianças a trabalharem em equipe, resolver desafios coletivos e desenvolver competências sociais como comunicação, empatia e cooperação. Essas experiências, não apenas estimulam o raciocínio lógico e criativo, mas também contribuem para o desenvolvimento emocional e social.

Assim, as ideias de Jenkins (2006) reforçam a importância de promover uma cultura digital crítica e participativa na infância. As tecnologias digitais, quando utilizadas de forma equilibrada e mediada, podem transformar as crianças em protagonistas do conhecimento, incentivando o desenvolvimento de habilidades criativas, colaborativas e críticas. No entanto, é fundamental manter o equilíbrio com experiências físicas, sociais e sensoriais, assegurando um desenvolvimento integral e saudável.

5 RELAÇÃO CRÍTICA ENTRE TECNOLOGIAS E DESENVOLVIMENTO INFANTIL

A relação entre tecnologias digitais e desenvolvimento infantil é um tema complexo, que exige uma análise crítica e equilibrada, considerando tanto os benefícios quanto os desafios que essas ferramentas apresentam no cotidiano das crianças. A partir das perspectivas de autores como Manuel Castells (2003), Pierre Lévy (1999), Sonia Livingstone (2019; 2014) e Henry Jenkins (2006), é possível construir uma compreensão mais ampla dos impactos que as tecnologias exercem sobre o aprendizado, comportamento e socialização infantil no contexto atual.

De um lado, Manuel Castells (2003) ressalta que as tecnologias digitais oferecem às crianças acesso a informações de forma global, rompendo barreiras geográficas e culturais. Essa conectividade constante cria novos espaços de aprendizado e socialização, onde as crianças podem interagir, explorar e construir conhecimento de maneira dinâmica e participativa. No entanto, Castells (2003) também destaca que o uso desordenado dessas tecnologias pode gerar isolamento social, fragmentação da atenção e afetar o desenvolvimento saudável das crianças.

Por outro lado, Pierre Lévy (1999) introduz o conceito de inteligência coletiva, que enfatiza o poder das tecnologias digitais em promover um aprendizado colaborativo e a criação conjunta de saberes. Ao participarem de ambientes digitais interativos, as crianças desenvolvem habilidades como autonomia, raciocínio crítico e cooperação, rompendo com o modelo tradicional de aprendizado e incentivando a construção coletiva do conhecimento.

Henry Jenkins (2006), por sua vez, aborda a cultura da convergência, onde as tecnologias digitais transformam as crianças em protagonistas no ambiente virtual. Elas não apenas consomem conteúdos, mas também criam, compartilham e colaboram em plataformas digitais. Isso lhes permite desenvolver habilidades essenciais como expressão comunicativa, resolução de problemas e pensamento crítico, estimulando a criatividade e as interações sociais.

No entanto, Sonia Livingstone (2014) alerta para os riscos do uso excessivo e não supervisionado das tecnologias. O tempo reduzido dedicado a atividades físicas, brincadeiras livres e interações presenciais pode prejudicar o desenvolvimento motor, social e emocional das crianças. Além disso, a exposição prolongada às telas pode resultar em sedentarismo, fadiga ocular e distúrbios do sono, além de comprometer outras áreas essenciais do desenvolvimento infantil.

Outro desafio é a qualidade do conteúdo digital acessado pelas crianças. Sem a devida mediação, as crianças podem estar expostas a informações inadequadas, conteúdos violentos ou valores questionáveis. Tanto Livingstone (2014) quanto Jenkins (2006) enfatizam a importância da educação midiática, defendendo que pais e educadores atuem como mediadores ativos, orientando as crianças para o uso consciente e crítico das tecnologias.

Além disso, Castells (2003) destaca a exclusão digital, um problema crítico em contextos de vulnerabilidade social. Muitas crianças não têm acesso adequado às ferramentas digitais, o que amplia as desigualdades educacionais e sociais. Essa exclusão limita suas oportunidades de aprendizado e desenvolvimento, criando uma disparidade significativa entre as crianças com e sem acesso à tecnologia.

Em síntese, as tecnologias digitais, quando utilizadas de forma consciente e mediada, podem ser poderosas ferramentas de aprendizado, criatividade e desenvolvimento social. No entanto, é fundamental equilibrar o uso dessas ferramentas com experiências físicas, sociais e sensoriais, garantindo que as crianças tenham um ambiente de desenvolvimento diversificado e enriquecedor. A mediação ativa de pais, educadores e a implementação de políticas públicas inclusivas são essenciais para que as tecnologias atuem como aliadas no desenvolvimento infantil, e não como obstáculos.

5.1. Comentadores Brasileiros sobre Tecnologias e Infância

No contexto brasileiro, diversos autores têm contribuído para a compreensão crítica das implicações das tecnologias digitais no desenvolvimento infantil. Dialogando com os teóricos internacionais, esses pesquisadores oferecem uma perspectiva contextualizada, considerando as especificidades culturais, sociais e educacionais do Brasil. Entre os principais nomes estão Lynn Alves (2019; 2014) , Maria Luiza Belloni (2019), José Manuel Moran (2020; 2013) e Edméa Santos (2019; 2018), que abordam as tecnologias digitais sob diferentes enfoques.

Lynn Alves (2014) destaca os jogos digitais como ferramentas educativas que, quando bem aplicadas, promovem o desenvolvimento de habilidades cognitivas, como resolução de problemas, criatividade e raciocínio lógico. Alves (2019), no entanto, alerta para o uso excessivo e não supervisionado dos jogos, destacando a importância de equilibrar o ambiente virtual com experiências físicas e sociais, fundamentais para o desenvolvimento integral da criança. 

Maria Luiza Belloni (2019), por sua vez, explora o impacto das mídias e tecnologias na educação. Belloni (2019) defende que a sociedade contemporânea exige a formação de sujeitos críticos e competentes no uso das mídias. Ela ressalta a necessidade de desenvolver competências midiáticas e tecnológicas desde a infância, garantindo que as crianças sejam preparadas para navegar no ambiente digital de forma ética, reflexiva e consciente.

José Manuel Moran (2013) enfatiza a transformação digital no processo educacional, defendendo a integração das tecnologias ao ensino de maneira inovadora e crítica. Moran (2020) destaca que as tecnologias oferecem novas possibilidades de aprendizado, tornando-o mais dinâmico, colaborativo e conectado às demandas do mundo contemporâneo.

Por fim, Edméa Santos (2018) aborda as tecnologias sob a perspectiva da cibercultura e da educação híbrida. Santos (2019) propõe o uso das tecnologias como complemento às vivências físicas e sociais, defendendo políticas públicas que garantam o acesso equitativo às ferramentas digitais e combatam a exclusão digital.

Em síntese, os comentadores brasileiros reforçam que o uso das tecnologias na infância deve ser crítico, equilibrado e inclusivo, promovendo seu potencial educativo e respeitando as realidades socioculturais do país. A mediação ativa de educadores, pais e o apoio de políticas públicas são essenciais para assegurar que as tecnologias contribuam para um desenvolvimento integral e contextualizado das crianças brasileiras.

6 METODOLOGIA

A metodologia adotada neste estudo é de natureza qualitativa e bibliográfica, fundamentada em um levantamento sistemático de livros, artigos e documentos acadêmicos. O objetivo é investigar as relações entre a infância e o uso das tecnologias digitais, oferecendo uma análise crítica e fundamentada sobre os impactos dessas ferramentas no desenvolvimento infantil. Essa abordagem visa construir um referencial teórico sólido que permita refletir de maneira aprofundada e embasada sobre as potencialidades e os desafios das tecnologias, com base em perspectivas nacionais e internacionais.

6.1. Natureza Qualitativa

A pesquisa qualitativa foi escolhida por permitir uma análise descritiva, interpretativa e crítica das relações entre infância e tecnologias digitais. Essa metodologia não visa quantificar ou mensurar dados, mas compreender significados, impactos e interações que surgem no contexto tecnológico.

A abordagem qualitativa favorece uma reflexão aprofundada, na qual os conceitos e teorias são discutidos e relacionados ao cotidiano das crianças, explorando as repercussões das tecnologias nos âmbitos cognitivo, social, emocional e criativo. A partir de um diálogo teórico com autores relevantes, busca-se construir uma visão crítica e contextualizada do fenômeno.

6.2. Pesquisa Bibliográfica

A pesquisa bibliográfica foi conduzida a partir de fontes secundárias, como livros, artigos científicos, dissertações e teses. Essa metodologia possibilitou reunir, organizar e confrontar diferentes perspectivas sobre a relação entre a infância e o uso das tecnologias digitais.

Critérios para Seleção das Fontes:

  • Bases de dados científicas: foram utilizadas bases renomadas, como SciELO, Anais da ANPEd e Capes, bem como outras plataformas acadêmicas reconhecidas.
  • Autores de referência: O estudo mobiliza teóricos centrais, como Paulo Freire (1996), Lev Vygotsky (1991), Pierre Lévy (1999) e Henry Jenkins (2006), além de comentaristas contemporâneos brasileiros, como Lynn Alves (2014), Maria Luiza Belloni (2019), José Manuel Moran (2020) e Edméa Santos (2019).

A análise das fontes selecionadas foi conduzida de forma crítica e comparativa, buscando articular os principais conceitos e teorias apresentados pelos autores, bem como identificar convergências, divergências e lacunas no campo de estudo.

6.3. Etapas da Pesquisa

A realização desta pesquisa seguiu quatro etapas principais: 

Levantamento Bibliográfico

  • Busca sistemática de livros, artigos científicos, dissertações e teses relevantes ao tema.
  • Utilização de palavras-chave, como: “infância e tecnologias digitais”, “impacto das tecnologias no desenvolvimento infantil”, “cultura digital na infância” e “educação e tecnologias”.

Leitura e Análise Crítica

  • Leitura detalhada e sistematizada das fontes selecionadas.
  • Identificação dos principais conceitos, teorias e argumentos apresentados pelos autores.
  • Organização dos conteúdos em categorias temáticas, estruturando o referencial teórico e a análise crítica.

Síntese e Comparação Teórica

  • Comparação entre as contribuições teóricas dos autores, destacando pontos de convergência e divergência.
  • Análise crítica das implicações das tecnologias digitais no desenvolvimento infantil, com foco nos impactos sobre aprendizado, comportamento, criatividade e socialização.

Construção do Texto Final

  • Estruturação do conteúdo com base nas categorias analisadas.
  • Relação entre os conceitos teóricos e o problema e objetivos da pesquisa.
  • Revisão final para garantir clareza, coesão e rigor acadêmico no texto.

6.4. Limitações da Pesquisa

Por se tratar de uma pesquisa de caráter bibliográfico, a análise está limitada às informações disponíveis em livros e artigos acadêmicos. Não foram realizadas coletas de dados empíricos, como entrevistas ou observações, que poderiam fornecer uma visão prática mais detalhada do fenômeno.

No entanto, a profundidade teórica alcançada pelo levantamento bibliográfico proporciona uma base sólida para refletir criticamente sobre a relação entre tecnologias digitais e desenvolvimento infantil. As limitações foram compensadas por um rigoroso diálogo teórico que explora múltiplas perspectivas nacionais e internacionais.

7 JUSTIFICATIVA DA METODOLOGIA

A escolha da metodologia qualitativa e bibliográfica neste estudo visou promover uma análise aprofundada sobre os impactos das tecnologias digitais no desenvolvimento infantil. Essa abordagem é perfeitamente alinhada aos objetivos da pesquisa, que busca explorar as relações entre a infância e a cultura digital a partir de um levantamento teórico sólido. Ao dialogar com autores clássicos e contemporâneos, o estudo sistematiza o conhecimento existente sobre o tema, permitindo uma reflexão crítica sobre as potencialidades e os desafios que as tecnologias digitais representam no cotidiano das crianças.

8 CONCLUSÃO

Este estudo teve como objetivo analisar as relações entre a infância e o uso das tecnologias digitais, destacando tanto os benefícios quanto os riscos que essas ferramentas representam para o desenvolvimento infantil. A partir de uma revisão bibliográfica de autores fundamentais, como Paulo Freire (1996), Lev Vygotsky (1991; 2021), Pierre Lévy (1999), Henry Jenkins (2006) e Sonia Livingstone (2014; 2019), e comentadores brasileiros como Lynn Alves (2014; 2019), Maria Luiza Belloni (2019), José Manuel Moran (2013;2020) e Edméa Santos (2018; 2019), foi possível construir uma visão abrangente sobre as implicações do uso das tecnologias no desenvolvimento cognitivo, social, emocional e criativo das crianças.

As tecnologias digitais oferecem oportunidades valiosas para o aprendizado colaborativo, a construção ativa do conhecimento e o desenvolvimento de habilidades cognitivas, sociais e criativas, como destacado por Castells(2003) e Lévy (1999). Entretanto, o uso inadequado e excessivo dessas ferramentas pode prejudicar aspectos cruciais do desenvolvimento infantil, como apontado por autores como Sonia Livingstone (2014) e Henry Jenkins (2006), especialmente no que se refere à saúde física, à socialização e ao equilíbrio entre experiências digitais e não digitais.

A análise das especificidades brasileiras, a partir das contribuições de Alves (2014), Belloni (2019), Moran (2013) e Santos (2018), evidenciou a necessidade urgente de políticas públicas que garantam acesso equitativo às tecnologias. Tais políticas devem promover uma educação crítica e reflexiva, integrando as tecnologias de maneira saudável no cotidiano das crianças, sem substituir as experiências essenciais para seu crescimento integral.

Em síntese, este estudo reforça a importância de uma abordagem mediada e crítica no uso das tecnologias digitais. Elas devem ser vistas como ferramentas de desenvolvimento e emancipação, respeitando as necessidades fundamentais da infância, como o brincar livre, as interações sociais e o contato com o ambiente físico. Educadores, pais e formuladores de políticas públicas têm um papel essencial em promover um equilíbrio, garantindo que as tecnologias possam contribuir positivamente para o aprendizado das crianças, ao mesmo tempo em que preservam as vivências essenciais para o seu desenvolvimento saudável e integral.

REFERÊNCIAS 

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SANTOS, Edméa. Educação online e cibercultura: práticas integradas e críticas. Rio de Janeiro: E-Papers, 2019.

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VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 7 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2021.


1 Discente Mestranda em Ciências da Educação pela Faculdad Interamericana de Ciências Sociales – FICS. E-mail: edvaneoliveira03@hotmail.com
2 Doutor em educação – E-mail: martinsegydio@yahoo.com.br