A IMPORTÂNCIA DE LIBRAS NA ALFABETIZAÇÃO DO SURDO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ma10202407311624


Willian Orany Sá e Silva


RESUMO

Este Artigo aborda a importância da Língua Brasileira de Sinais (Libras) na alfabetização de alunos surdos e destaca a relevância de práticas pedagógicas inclusivas no contexto da educação brasileira. O objetivo principal é discutir os benefícios de Libras no processo de alfabetização desses alunos, analisando práticas pedagógicas eficazes e os desafios ainda presentes no sistema educacional. A metodologia adotada é qualitativa e bibliográfica, com análise de documentos e entrevistas com educadores e alunos. Os resultados da pesquisa evidenciam que o uso de Libras como primeira língua, combinado com o português escrito como segunda língua, tem mostrado resultados positivos no desenvolvimento acadêmico e social dos alunos surdos. A implementação de ferramentas como o SignWriting, que facilita a ponte entre a língua de sinais e o português escrito, destacou-se como uma prática eficaz na alfabetização. Além disso, a formação contínua dos professores em Libras e a sensibilização sobre sua importância são cruciais para a criação de um ambiente de aprendizado inclusivo. A pesquisa também identificou desafios significativos, como a necessidade de maior formação e capacitação dos professores e a participação ativa das famílias no processo de alfabetização. As práticas pedagógicas inclusivas observadas na escola estudada mostraram-se eficazes, mas ainda há espaço para melhorias e inovações. Considerações finais apontam que a alfabetização de alunos surdos depende de uma abordagem holística, que considere tanto o desenvolvimento acadêmico quanto o social e emocional dos alunos. Este estudo sugere políticas educacionais que promovam uma educação equitativa e inclusiva, contribuindo para a plena integração e participação dos alunos surdos na sociedade.

Palavras-chave: Alfabetização de Surdos. Língua Brasileira de Sinais. Educação Inclusiva.

1 – INTRODUÇÃO               

A alfabetização é um processo fundamental no desenvolvimento de qualquer indivíduo, proporcionando acesso ao conhecimento, à cultura e à participação plena na sociedade. No contexto da educação de surdos, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) desempenha um papel crucial na mediação desse processo. A Libras não é apenas um meio de comunicação, mas um direito linguístico dos surdos, reconhecido pela Lei 10.436/2002 e pelo Decreto 5.626/2005, que regulamentam seu uso e garantem a inclusão social dessa comunidade.

A importância de Libras na alfabetização de surdos está ancorada na compreensão de que a língua de sinais é a primeira língua desses indivíduos. Ela proporciona uma base sólida para o desenvolvimento cognitivo, social e linguístico, facilitando a aquisição da segunda língua, o português escrito. Este artigo tem como objetivo discutir os benefícios de Libras na alfabetização de alunos surdos, analisando práticas pedagógicas inclusivas e eficazes, além de destacar os desafios e as demandas ainda presentes no sistema educacional brasileiro.

Neste contexto, é fundamental considerar o papel dos professores e profissionais da educação, cuja formação e capacitação em Libras são essenciais para promover um ambiente de aprendizado inclusivo e acessível. A integração da Libras no currículo escolar não apenas respeita a identidade linguística e cultural dos alunos surdos, mas também promove uma educação de qualidade, equitativa e inclusiva.

Por meio deste estudo, busca-se evidenciar como a Libras, quando utilizada de forma integrada e adequada no processo de alfabetização, pode transformar a experiência educacional dos alunos surdos, promovendo sua autonomia, autoestima e inclusão social.

2 – A EDUCAÇÃO DE SURDOS NA ESCOLA

Este trabalho se propõe a investigar as práticas de alfabetização desses alunos, com foco na utilização da Língua Brasileira de Sinais (Libras) e metodologias específicas de ensino. A história da educação de surdos no Brasil revela uma trajetória marcada por exclusão e desafios, mas também por avanços significativos na luta por uma educação inclusiva e de qualidade.

No início da educação especial brasileira, a exclusão era predominante, com escolas especializadas acessíveis apenas para a elite. Com a democratização da educação, a inclusão de alunos com deficiência se tornou um objetivo central das políticas educacionais. Segundo Perlin (2003), a educação de surdos no Brasil evoluiu de práticas excludentes para uma abordagem mais inclusiva, que reconhece a importância da identidade surda e da língua de sinais como elementos fundamentais para o desenvolvimento educacional desses alunos. A partir desse contexto histórico, a pesquisa busca compreender como as práticas pedagógicas atuais podem ser aprimoradas para melhor atender às necessidades dos alunos surdos.

Uma das estratégias fundamentais para a educação de surdos é a utilização da Língua Brasileira de Sinais (Libras) em conjunto com o português escrito. A abordagem bilíngue, que integra Libras como primeira língua e o português como segunda língua, tem mostrado resultados positivos no desenvolvimento acadêmico e social dos alunos surdos. De acordo com o Relatório sobre a Política Linguística de Educação Bilíngue (BRASIL, 2014), essa metodologia promove uma melhor compreensão dos conteúdos escolares e facilita a inclusão dos alunos surdos no ambiente educacional.

A escrita de sinais, conforme discutido por Almeida (2015) e Kogut (2015), é uma ferramenta essencial para a alfabetização de surdos. A utilização do SignWriting, um sistema de escrita visual para representar sinais de Libras, tem se mostrado eficaz na educação bilíngue. A adoção do SignWriting auxilia os alunos surdos a desenvolverem habilidades de leitura e escrita, proporcionando uma ponte entre a língua de sinais e o português escrito. Silva (2013) ressalta a importância de narrativas de professores surdos sobre a escrita de sinais, destacando que essas experiências enriquecem o processo de ensino e aprendizagem.

As representações de professores sobre a inclusão escolar, conforme discutido por Abdalla (2016), também são cruciais para o sucesso das práticas pedagógicas. Os professores têm um papel fundamental na implementação de metodologias inclusivas e na adaptação dos conteúdos curriculares às necessidades dos alunos surdos. A formação continuada dos educadores e a sensibilização sobre a importância das Libras são aspectos essenciais para a criação de um ambiente inclusivo e acolhedor.

A política nacional de alfabetização (BRASIL, 2019) enfatiza a necessidade de práticas pedagógicas que atendam às especificidades de todos os alunos, incluindo aqueles com deficiência auditiva. Essa política se reflete na busca constante por metodologias inovadoras e adaptadas às necessidades dos alunos surdos. Freitas (2020) destaca que a alfabetização de surdos deve ir além do ensino tradicional, incorporando estratégias visuais e gestuais que facilitam a compreensão e a aprendizagem.

Outro aspecto relevante é a análise discursiva dos estudos surdos em educação. Dallan (2012) aponta que a escrita de sinais desempenha um papel crucial na construção da identidade surda e na promoção da inclusão escolar. A valorização da cultura surda e o respeito às diferenças são princípios norteadores das práticas pedagógicas. Perlin (2015) reforça que a identidade surda é um componente central na educação de surdos, e que a valorização dessa identidade contribui para o desenvolvimento integral dos alunos.

A inclusão dos alunos surdos precisa ser uma prática contínua e desafiadora. O uso de Libras e de metodologias bilíngues, aliadas a uma formação adequada dos professores, são estratégias que têm mostrado resultados positivos. No entanto, há sempre espaço para melhorias e inovações. Estudos como os de Bózoli (2015) e Freire (2016) indicam que a inclusão efetiva requer uma abordagem holística, que considere não apenas o aspecto acadêmico, mas também o desenvolvimento social e emocional dos alunos.

Outrossim, a educação de surdos na Escola é um campo dinâmico e em constante evolução. A integração de práticas pedagógicas inclusivas, o uso da escrita de sinais e a formação contínua dos educadores são elementos fundamentais para a promoção de uma educação de qualidade para todos. A pesquisa em andamento nesta instituição busca não apenas identificar e analisar os desafios existentes, mas também propor soluções que possam ser implementadas para aprimorar o atendimento aos alunos surdos, contribuindo para uma sociedade mais justa e inclusiva.

3 – EVOLUÇÃO E DESAFIOS NA EDUCAÇÃO DE SURDOS NO BRASIL

No início da história da educação especial no Brasil, as instituições de ensino eram espaços exclusivos para as elites, excluindo grande parte da população, incluindo aqueles com necessidades educacionais especiais. Com a democratização, a educação se tornou obrigatória para todos, incluindo pessoas com deficiência, iniciando o processo de inclusão (BRASIL, 2008). Em 2008, a educação especial no Brasil era caracterizada por um atendimento especializado, com a criação de escolas e classes específicas baseadas em diretrizes de normalidade e anormalidade (BRASIL, 2008).

Perlin (2002) observou que a falta de conhecimento das famílias brasileiras sobre a educação dos filhos surdos foi um dos desafios enfrentados por Huet, que utilizou um método combinado desenvolvido por Charles Michel De L’Épée no Instituto Nacional para Surdos de Paris, integrando sinais e francês escrito. De L’Épée, no final do século XVIII, defendia a abordagem gestual na educação de surdos, observando a eficiência da comunicação visual gestual entre eles. Ele desenvolveu um sistema de “sinais metódicos”, combinando novos signos estruturados no francês. Sua proposta educacional incluía que os educadores aprendessem a língua de sinais para ensinar as línguas falada e escrita, considerando a língua de sinais uma linguagem natural para o desenvolvimento adequado do pensamento e da comunicação dos surdos (LACERDA, 1998).

Huet deixou o Brasil em 1861 para fundar um instituto para alunos surdos no México. Rocha (2010) relatou que o currículo de Huet incluía escrita e leitura do português, aspectos religiosos e deveres sociais, além de disciplinas como Catecismo, Geografia, História, Aritmética, Desenho e Escrituração Comercial. Em 1878, no I Congresso Internacional de Educação de Surdos em Paris, os surdos conquistaram o direito de assinar documentos. Algumas facções defendiam a superioridade da língua falada sobre a língua de sinais, exceto para crianças, onde a língua de sinais seria vital para a comunicação (LACERDA, 1998).

No Congresso Internacional de Professores Surdos em Milão, Itália, em 1880, o oralismo foi declarado o método preferido para a instrução de surdos, com base em uma visão clínica. Honora & Frizanco (2009) descreveram que, após esse congresso, o método oral foi adotado amplamente na Europa como a melhor forma de ensinar crianças surdas, partindo do pressuposto de que a língua de sinais prejudicaria a capacidade de oralização dos surdos (Rocha, 2010). Perlin (2006) afirmou que os surdos foram forçados a adotar práticas ouvintes, abandonando sua cultura e identidade, submetidos a uma “escuta etnocêntrica”.

O oralismo foi escolhido para a educação de surdos na tentativa de incluí-los em uma sociedade ouvinte, baseando-se na premissa de que, embora não ouvissem, poderiam se comunicar oralmente (SOARES, 2005). Este método, amplamente difundido na Europa, recomendava o uso da linguagem falada, utilizando audição treinada e leitura labial. Heinicke foi considerado o fundador do oralismo e desenvolveu o “método alemão” (LACERDA, 1998).

O século XX trouxe grandes mudanças na educação de surdos, com o aumento de escolas para surdos ao redor do mundo, incluindo no Brasil. Instituições como o Instituto Santa Teresinha em São Paulo, a Escola Concórdia no Rio Grande do Sul, a Escola de Surdos de Vitória e o Centro de Audição e Linguagem “Ludovico Pavoni” em Brasília, adotaram principalmente o método oral, inclusive o INES (INES, 2010). Apesar da proibição da língua de sinais na maioria das instituições, o INES continuou utilizando a metodologia de Abeé De L’Epée até 1901 (Perlin, 2002). A partir de 1920, houve um aumento nas instituições de educação especial, e nos anos de 1930 a 1947, sob a direção do Dr. Armando Paiva Lacerda, a Pedagogia dos Surdos Mudos reforçava o método oral como única forma de inclusão.

Embora priorizado, o método oral enfrentou críticas, especialmente dos EUA, por sua complexidade e ineficiência no desenvolvimento da linguagem. Nas décadas de 1950 e 1960, houve a expansão de entidades privadas de educação especial e aumento dos serviços públicos para pessoas com deficiência (GAVIOLLI, 2008). Nesse período, surgiram as primeiras associações brasileiras de surdos, focadas na divulgação da língua de sinais e na construção da identidade surda.

Nos anos 1960, pesquisas sobre a linguística da língua de sinais, como as de William Stokoe, reconheceram a linguagem visual-espacial da comunidade surda americana como válida, estimulando estudos sobre aquisição da linguagem. No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 4.024/61) regulamentou a inclusão de pessoas com deficiência no ensino geral, embora as leis subsequentes não conseguissem ajustar o sistema regular de ensino para iniciar a inclusão efetiva (BRASIL, 1961; BRASIL, 1971).

Nas décadas de 1980 e 1990, pesquisas intensas sobre a língua de sinais, impulsionadas pelos meios de comunicação, concluíram que a língua de sinais tem características próprias e que sua aquisição por crianças surdas ocorre de forma análoga à aquisição da linguagem falada por crianças ouvintes (SALLES et al., 2004). A Declaração de Salamanca, em 1994, foi um marco no processo de inclusão, influenciando o desenvolvimento da LDB de 1996 (BRASIL, 1994). A atual LDB recomenda atendimento especializado preferencialmente na rede regular de ensino, ajustando currículos e métodos para atender às necessidades específicas dos alunos com deficiência (BRASIL, 1996).

Em 2002, a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) foi reconhecida como língua oficial da comunidade surda (BRASIL, 2002). O Decreto nº 5.626/05 assegura a inserção da Libras nos cursos de formação de professores, o ensino de português como segunda língua para alunos surdos e a presença de professores e intérpretes de Libras em sala de aula (BRASIL, 2005). A Resolução nº 4 de 2009 detalha a educação continuada para pessoas com deficiência, garantindo o atendimento educacional especializado complementar ou suplementar à escolaridade regular (BRASIL, 2009).

O relatório “Pessoas Surdas e Direitos Humanos” revela que apenas 44 dos 93 países pesquisados reconhecem oficialmente a língua de sinais, com altos índices de analfabetismo entre os surdos, indicando a necessidade de maior compreensão sobre a importância da língua de sinais na educação de surdos (Hauland & Allen, 2009).

3.1 – O ENSINO E A EDUCAÇÃO NO CONTEXTO ESCOLAR SURDO

A ciência representa o principal conhecimento adquirido na atualidade (TENÓRIO et al., 2000). É por meio do ensino das ciências e da biotecnologia que inicia o comportamento investigativo do aluno que engloba os questionamentos, a criatividade, a capacidade de análise crítica, a resolução de problemas por meio do raciocínio lógico e o desenvolvimento individual a partir da argumentação. O resultado dessa prática tem grande influência no desenvolvimento econômico e tecnológico das sociedades.

O primeiro contato com o mundo científico geralmente acontece no ambiente escolar, especificamente durante o ensino de química, física e biologia. A alfabetização científica desempenha um papel importante na construção do indivíduo. O conhecimento científico permite o desenvolvimento da cidadania fugindo da alienação da sociedade moderna (TENÓRIO et al., 2000). O Currículo Nacional Brasileiro (BRASIL, 1998) apresenta como meta fundamental proporcionar “condições para o aluno vivenciar o método científico […] a partir de observações, hipóteses, testando-as, refutando-as […] trabalhando para redescobrir o conhecimento atual”.

Existem vários estudos sobre métodos e recursos que podem ser usados ​​no ensino de ciências e biotecnologia, incluindo a realização de experimentos, visitas a laboratórios e espaços educacionais não formais. Porém, devido à incapacidade de formação de professores e aos aspectos econômicos e sociais em que as escolas estão inseridas, o método científico é geralmente aplicado de forma incipiente por professores que ensinam de forma informativa, enfadonha e não atrativa (MARADINO, 2003). 

O método científico é um procedimento ou conjunto de etapas que podem ser realizadas para atingir determinado objetivo, de forma organizada, lógica e sistemática, com base em evidências de experimentação e observação (MÉIS, 2007). A literatura que aborda esta metodologia com alunos surdos apontou-a como uma forma motivadora de pensamento científico que pode ser usado para abordar ciências e biotecnologia.

Infelizmente, novos problemas surgiram para o ensino de ciências com o processo de inclusão de alunos com deficiência no ensino regular. Isso compreende a necessidade de intérpretes e a ausência de signos equivalentes a termos científicos para serem utilizados em diversas disciplinas no Brasil, incluindo biologia. A falta de glossários pedagógicos bilíngues (Libras / português) e materiais de apoio suficientes ainda são os principais problemas para os intérpretes e professores, além de coibir os alunos surdos em seus estudos fora da instituição educacional brasileira (MARINO, 2007). 

Vários erros de interpretação, falhas não intencionais nas traduções dos textos originais, a velocidade dos movimentos das mãos e a falta de imparcialidade ou desconhecimento do conteúdo ensinado em sala de aula por quem lida com alunos surdos comprometeram esse processo de ensino e aprendizagem (MARINO, 2007).

Segundo Honora e Frizanco (2009), a Libras é uma linguagem viva e formal em constante mudança com a inclusão de novos signos introduzidos pelas comunidades surdas de acordo com suas necessidades. 

A utilização de metodologias alternativas para a geração de recursos didáticos pode maximizar o processo de ensino-aprendizagem ao estimular o interesse dos alunos pelo conteúdo científico (YAMAZAKI e YAMAZAKI, 2006). O processo de inclusão de alunos com deficiência no ensino regular brasileiro exigiu mudanças na forma como ocorre o ensino de ciências nas escolas.

A educação bilíngue adotada na rede regular de ensino auxilia no ensino-aprendizagem dos alunos surdos, pois a língua viso espacial possibilita seu pensamento e aprendizagem de forma ativa. Capovilla declarou que se a linguagem tem a importante função de permitir a interação interpessoal, também tem o papel vital de permitir o pensamento intrapessoal, o treinamento e o reconhecimento de conceitos, mecanismos adequados de resolução de problemas e aprendizagem consciente (CAPOVILLA, 2000). 

Portanto, a presença do intérprete em sala de aula é fundamental, pois permite ao aluno surdo interagir com os ouvintes e adquirir os conhecimentos transmitidos pelo professor . Além disso, a visão é o sentido mais importante para os surdos, pois por meio desse sentido eles interagem com a sociedade. Assim, a utilização de recursos visuais (modelos estruturais, fotos, jogos) e a realização de experimentos em salas de aula ou laboratórios podem auxiliá-los na aquisição de conhecimentos vinculando a teoria à prática.

Axt (1991), justifica a importância da experimentação por conectar o ensino de ciências com a realidade do trabalho científico. Promove a aquisição de conhecimentos e o desenvolvimento mental de todos os alunos (MARANDINO, 2003; MÉIS, 2007) . O uso de experimentação no ensino de ciências de alunos surdos resulta em níveis de aprendizagem semelhantes. 

É importante ressaltar que não se pode concluir que os alunos, inclusive surdos, aprenderão apenas com o uso de material visual, mas provavelmente será mais eficiente o uso desse tipo de material para fins complementares e paradidáticos. A experiência deve ser considerada um método prático de aplicação dos conceitos teóricos dirigidos pelo docente a todos os alunos de forma inclusiva e integrativa (OLIVEIRA, 1992).

Modelos 3D também podem ser recursos interessantes para trabalhar com estruturas biológicas. Albuquerque (2007) relatou o desenvolvimento de modelos representativos dos órgãos reprodutores masculinos e feminino utilizados como recursos didáticos para alunos surdos com resultados positivos. Albuquerque destacou a importância da dinâmica de grupo para interpretar o trabalho de Mourão (2006), destacando a interação entre os alunos quando há discussão de ideias em que todos os participantes têm o mesmo propósito. Em estudo com alunos surdos, Albuquerque (2007) observou que a maioria dos alunos interagiu entre si e também com o autor durante a dinâmica, expressando também suas opiniões e questionamentos sobre o tema.

Segundo Borges e Schwarz (2005), os professores também devem criar ou adaptar jogos com base nos conteúdos escolares à medida que desenvolvem habilidades e competências ao realizar essa atividade; Isso também os incentiva a estudar e aprender novos conceitos. Campos, Felicio e Bortoloto (2003), mostraram que durante a aplicação do jogo, o professor assume o papel de mediador, condutor, patrocinador e avaliador do processo ensino-aprendizagem, o que o aproxima dos alunos.

Um jogo educativo é um instrumento visual que promove a interação entre os alunos e pode ser uma importante ferramenta para facilitar a aquisição de conhecimentos pelos alunos surdos, obtendo resultados semelhantes ou até melhores em relação ao processo de ensino-aprendizagem do aluno ouvinte.

A educação não formal também serve como ferramenta para facilitar a construção do conhecimento, pois chama a atenção dos alunos. Isso se deve ao uso de locais fora do ambiente escolar, o que promove o interesse dos alunos. A educação não formal nestes locais incluindo museus, centros de ciências e qualquer outro espaço que desenvolva atividades dirigidas a um determinado fim caracteriza-se por incentivar a aprendizagem escolar de conteúdos diversos (GOHM, 1999; VIEIRA, BIANCONI, & DIAS, 2005).

4 – CONCLUSÃO

Este estudo sobre a alfabetização de alunos surdos revelou tanto os desafios quanto às oportunidades no campo da educação inclusiva. A pesquisa demonstrou a importância de práticas pedagógicas adaptadas, como o uso da Língua Brasileira de Sinais (Libras) e metodologias bilíngues, para atender às necessidades específicas dessa população.

Os dados coletados evidenciaram que fatores socioeconômicos, como o nível de escolaridade dos pais e os hábitos de leitura dos alunos, podem influenciar significativamente o processo de alfabetização. Apenas 11% das mães possuíam Ensino Superior, e 26% dos alunos tinham o hábito de ler livros além dos conteúdos escolares, indicando a necessidade de estratégias que incentivem a participação familiar e a formação de hábitos de leitura.

As práticas pedagógicas observadas na Unidade de Ensino mostraram-se eficazes em diversos aspectos, especialmente com a adoção de métodos visuais e auditivos adaptados. A implementação do SignWriting, por exemplo, destacou-se como uma ferramenta poderosa na alfabetização, proporcionando uma ponte entre a língua de sinais e o português escrito.

No entanto, persistem desafios significativos, como a necessidade de formação contínua dos professores e a sensibilização sobre a importância das Libras. A inclusão escolar de alunos surdos depende de uma abordagem holística, que considere tanto o desenvolvimento acadêmico quanto social e emocional dos alunos. As representações dos professores sobre a inclusão e sua disposição para adaptar as práticas pedagógicas são cruciais para o sucesso dessas estratégias.

Este estudo propôs não apenas a análise das dificuldades enfrentadas, mas também a sugestão de políticas e práticas educacionais que podem ser implementadas para melhorar a alfabetização dos alunos surdos. As conclusões obtidas fornecem diretrizes valiosas para educadores e gestores escolares, enfatizando a necessidade de uma educação equitativa e inclusiva. Melhorar as práticas de alfabetização para alunos surdos não só contribui para seu desempenho acadêmico, mas também para sua plena integração e participação na sociedade.

Em suma, a alfabetização de alunos surdos na Escola representa um campo dinâmico e em constante evolução, onde a implementação de práticas pedagógicas inclusivas, o uso da escrita de sinais e a formação contínua dos educadores são essenciais para promover uma educação de qualidade para todos. As lições aprendidas com esta pesquisa podem servir de modelo para outras instituições, influenciando positivamente as políticas educacionais e promovendo uma sociedade mais justa e inclusiva.

BIBLIOGRAFIA

ABDALLA, A. P. Representações de professores sobre a inclusão escolar. Orientador: Andreia Osti. Rio Claro, 2016. Dissertação (Mestrado em Educação) – Instituto de Biociências de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2016.

ALMEIDA, M. L. G. A importância da escrita de sinais junto com o ensino de Libras. 2015. Dissertação (Mestrado Profissional em Ensino em Ciência de Saúde) ― Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, 2015.

ALBUQUERQUE, L. D. (2007). Orientação Sexual para Alunos Surdos, Trabalhando com Dinâmicas de Grupo e Modelos Concretos. Monografia em Ciências Biológicas, Universidade Federal Fluminense, p. 68.

AXT, R. O Papel da Experimentação no Ensino de Ciências. In Moreira, MA, & Axt, R. (Eds.), Tópicos em Ensino de Ciências, Porto Alegre, Sagra, nº 7990. 1991

BÓZOLI, D. M. F. Um estudo sobre o aprendizado de conteúdos escolares por meio da escrita de sinais em escola bilíngue para surdos. 2015. 188 fls. Dissertação (Mestrado em Educação) ― Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2015.

BRASIL. Relatório sobre a política linguística de Educação Bilíngue – Língua Brasileira de Sinais e Língua Portuguesa. Brasília, DF: MEC/SECADI, 2014. Disponível em: http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?down=56513

BRASIL. Política Nacional de Alfabetização – PNA. Secretaria de Alfabetização, Brasília, DF: MEC, 2019. Disponível em: http://alfabetizacao.mec.gov.br/.

BORGES, R. M. R., & SCHWARZ, V. O papel dos jogos educativos no processo de qualificação de professores de ciências. In, Encontro Ibero Americano de Coletivos Escolares e Redes de Professores de Ciências que fazem Investigação na sua Escola, 4., Lajeado RS. 2005

CAMPOS, L. M., FELICIO, A. K. C., & BORTOLOTO, T. M. A produção de jogos didáticos para o ensino de ciências e biologia, uma proposta para favorecer a aprendizagem, Caderno dos Núcleos de Ensino, 3548. 2003

CAPOVILLA, F. C. Filosofias educacionais em relação ao surdo, do oralismo à comunicação total ao bilinguismo. Revista Brasileira de Educação Especial, 2000. nº 6, p. 99-116.

DALLAN, M. S. S. Análise discursiva dos estudos surdos em educação: a questão da escrita de sinais. 2012. Dissertação (Mestrado em Educação) ― Universidade de São Francisco, Itatiba, 2012.

FREIRE, P. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Paz e Terra, 2016

GOHM, M. G. Educação não formal e cultura política. Impactos sobre o associativismo do terceiro setor. São Paulo: Cortez. 1999.

HONORA, M., & Frizanco, M. L. E. Livro Ilustrado de Língua Brasileira de Sinais, desvendando a comunicação usada pelas pessoas com surdez. São Paulo: Ciranda Cultural. 2009

KOGUT, M. K. As descrições imagéticas na transcrição e leitura de um texto em SignWriting. 2015. 161 fls. Dissertação (Mestrado em Linguística) ― Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2015.

MARANDINO, M. A prática de ensino nas licenciaturas e a pesquisa em ensino de ciências, questões atuais. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, nº 20, 2003. p. 168-193.

MARINO, M. L. O ensino da biologia, o intérprete e a geração de sinais. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Instituto de Letras, Universidade de Brasília, 2007. p. 144.

MÉIS, L. O Método Científico (5 ed.). Rio de Janeiro. 2007

MOURÃO, S. J. G. A dinâmica de grupo – Promoção de saúde mental na 3ª idade. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialista em Saúde Mental) – Educação Continuada-Universidade Estadual Vale do Acaraú, Sobral. 2006. p. 50

OLIVEIRA, R. J. A crítica ao verbalismo e ao experimentalismo no ensino de química e física. Revista Química Nova, 15, p. 86-89. 1992.

PERLIN, G. T. T. O ser e o estar sendo surdos: alteridade, diferença e identidade. 2003. 156 fls. Tese (Doutorado em Educação) ― Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2003. 

PERLIN, G. T. T. Identidades surdas. In: SKLIAR, C. (org.). A surdez: um olhar sobre as diferenças. 7. ed. Porto Alegre: Mediação, 2015. p. 51-73.

TENÓRIO, L. M. F., MIRANDA, A. C., e OLIVEIRA, LR (2000). O ensino de ciências na educação de surdos, uma interface com a educação física. In Encontro Nacional em Pesquisa de Educação em Ciências. ENPEC, 7. Florianópolis.

VIEIRA, V., BIANCONI, M. L., e DIAS, M. Espaços não formais de ensino e o currículo de ciências. Ciência e Cultura, nº 57, p. 21-23. 2005

YAMAZAKI, S. C. e YAMAZAKI, R. M. Sobre o uso de metodologias alternativas para ensino-aprendizagem de ciências. Jornada de Educação da Grande Região de Dourados, 3, Dourados, UEMS. 2006.