A IMPORTÂNCIA DA UTILIZAÇÃO DE RECURSOS LÚDICOS NO DESENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA.

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10946354


Luana Cristine da Silva Miranda1
Yloma Fernanda de Oliveira Rocha2


RESUMO: O transtorno do espectro autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento com causas desconhecidas. Intervenções terapêuticas precoces são essenciais, iniciando-se ao suspeitar ou confirmar o diagnóstico, podendo ser isoladas ou multidisciplinares. As atividades lúdicas, como brincadeiras e jogos, são fundamentais no tratamento, melhorando a comunicação, interação social e desenvolvimento cognitivo. Este estudo tem como objetivo revisar a importância dos recursos lúdicos no desenvolvimento de crianças com autismo. Com relação a metodologia é uma revisão bibliográfica do tipo integrativa sobre a importância dos recursos lúdicos no desenvolvimento de crianças com autismo. Os dados foram coletados de artigos científicos nas bases de dados BVS, SciELO, MEDLINE e Taylor & Francis Online, utilizando descritores Autismo (Autism)”; “Jogos e brinquedos (Play and playthings)” e “Ludicidade (playfulness)”. Por fim, foram encontrados no total 183 artigos que após serem filtrados com critérios de inclusão e exclusão resultaram em 9 publicações compondo a amostra final. Os estudos deixam claro que estimular precocemente as crianças com TEA utilizando recursos lúdicos tem papel importante no impulsionamento da adaptação, inclusão e socialização na educação infantil, seja no ambiente escolar, domiciliar ou clínico. Os recursos lúdicos, como brinquedos, são essenciais no desenvolvimento de crianças com transtorno do espectro autista, melhorando habilidades sociais, cognitivas e comunicação de maneira estimulante e exitosa.

Palavras-chave: autismo; Jogos; brinquedos; ludicidade.

ABSTRACT: Autism spectrum disorder (ASD) is a neurodevelopmental condition with unknown causes. Early therapeutic interventions are essential, starting when the diagnosis is suspected or confirmed, and can be isolated or multidisciplinary. Playful activities, such as jokes and games, are fundamental in treatment, improving communication, social interaction and cognitive development. This study reviews the importance of playful resources in the development of children with autism. This study is an integrative review on the importance of playful resources in the development of children with autism. Data were collected from scientific articles in the VHL, SciELO, MEDLINE and Taylor & Francis Online databases, using Autism descriptors”; “Play and playthings” and “Playfulness”. Finally, a total of 183 articles were found which, after being filtered with inclusion and exclusion criteria, resulted in 9 publications composing the final sample. The studies make it clear that early stimulation of children with ASD using playful resources plays an important role in boosting adaptation, inclusion, and socialization in early childhood education, whether in the school, home or clinical environment. Playful resources, such as toys, are essential in the development of children with autism, improving social, communication and cognitive skills in a stimulating way.

Keywords: Autism, Play and playthings, Playfulness.

1 INTRODUÇÃO

O transtorno do espectro autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento, que afeta 1 a cada 160 crianças globalmente. Caracterizado por déficits clinicamente significativos e persistentes na comunicação (verbal e não verbal) e interação social, além de padrões repetitivos de comportamento (Balbino et al., 2021; Nicoletti, 2021). Suas causas são desconhecidas, mas evidências apontam que a origem esteja associada à anormalidade nas múltiplas regiões do cérebro desses indivíduos, que podem ser genéticas ou não (Silva et al, 2019). 

A intervenção terapêutica precoce é essencial para pacientes com TEA, devendo ser iniciada ao suspeitar ou confirmar o diagnóstico. A escolha da melhor alternativa depende das necessidades individuais, podendo serem intervenções isoladas (psicológicas, médicas, educacionais) ou multidisciplinares, envolvendo profissionais como psicólogos, psiquiatras, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e nutricionistas (Souza; Silva; Rodrigues, 2020).

Nesta perspectiva, desenvolver intervenções eficazes para TEA é desafiador, dada a necessidade de abordar as necessidades individuais. Abordagens alternativas e complementares são importantes (Lord et al., 2020). De acordo com Hirota et al. (2023), as intervenções comportamentais intensivas são benéficas para crianças acima de 4 anos, visando melhorar a linguagem, brincadeiras e comunicação social. Farmacoterapia é indicada para condições psiquiátricas concomitantes, como desregulação emocional ou transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).

Atividades lúdicas, como brincadeiras e jogos, são essenciais no tratamento do autismo, não apenas com terapias tradicionais. Essas práticas melhoram a comunicação, a interação social e o desenvolvimento cognitivo (Alves & Hostins, 2019). Os jogos, em particular, são ferramentas terapêuticas eficazes, pois envolvem as crianças de maneira divertida e educativa, oferecendo-lhes oportunidades valiosas de aprendizado. 

Este transtorno é caracterizado pelas dificuldades nas habilidades sociocomunicativas e comportamentais de seus portadores (APA, 2013). Sua causalidade é multifatorial, tendo relação com a interação aos fatores neurobiológicos e ambientais (Júlio-costa & Antunes, 2017). Nesta perspectiva, as dificuldades enfrentadas por estes pacientes estão associadas ao funcionamento do sistema nervoso central, responsável pelo desenvolvimento cognitivo, intelectual e sócio-interacionista (Belisário Filho, 2010).

Assim, este estudo tem como objetivo discutir, através de uma revisão integrativa da literatura, a relevância dos recursos lúdicos, como os brinquedos, no progresso das crianças com autismo. Este trabalho visa analisar o impacto desses recursos no desenvolvimento cognitivo, comunicativo e social das crianças, além de identificar estratégias úteis para sua aplicação em contextos escolares, clínicos e domiciliares. 

2 METODOLOGIA

Este estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura, baseado na agregação de informações produzidas acerca do tema “A importância dos recursos lúdicos (brinquedos) para ajudar no desenvolvimento de crianças com autismo”. 

Os dados foram obtidos a partir de artigos científicos indexados nas principais bases de dados científicos como: BVS (Biblioteca Virtual em Saúde); SciELO (Scientific Eletronic Library Online) e MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retirava System Online) através do PubMed e Taylor & Francis Online. As bases de dados foram selecionadas por serem de livre acesso e por serem consideradas abrangentes para o tema em estudo. Para a realização da busca, foram utilizados os seguintes descritores em português e inglês: “Autismo (Autism)”; “Jogos e brinquedos (Play and playthings)” e “Ludicidade (playfulness)” em associação. O cruzamento entre tais descritores foi por meio do conectivo booleano “AND”, e os dados obtidos no mês de fevereiro a março do ano de 2024.

Após a pesquisa nas bases supracitadas, foi realizada à leitura dos resumos com o intuito de qualificar os artigos como elegíveis sendo utilizados como critérios de inclusão: artigos de estudos experimentais, artigos originais, artigos de estudo de caso, estudo de coorte publicados em português e inglês entre os anos de 2018 e 2023. Já os critérios de exclusão, foram: capítulos de livro, publicações repetidas nas bases de dados, resumos de eventos, relatos de caso, editoriais, artigos de opinião e aqueles que não abordavam o tema. Os dados obtidos e informações coletadas foram organizados em quadros, tabelas e figuras por meio do programa Microsoft Word e Excel 2013.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Este estudo de revisão integrativa utilizou uma abordagem descritiva, quantitativa e qualitativa para analisar os resultados. Foram encontrados 183 artigos após a busca em bases de dados com os descritores “Autismo (Autism)”; “Jogos e brinquedos (Play and playthings)” e “Ludicidade (playfulness)”. Dentre esses, 25 foram considerados elegíveis, e finalmente, 9 artigos foram selecionados para análise. A Figura 1 a seguir demonstra o fluxograma relativo às etapas de seleção dos artigos.

Figura 1. Fluxograma do procedimento de seleção dos artigos para análise sistemática.

Diagrama

Fonte: Autoria própria, 2024.

Os artigos selecionados foram publicados entre 2018 e 2023, com 2019 e 2023, sendo os anos com mais publicações (3), seguido de 2021 (2) e 2018 (1). Não foram incluídos nenhum estudo realizado nos anos de 2020 e 2022. Os resultados estão resumidos no Quadro 1.

Quadro 1. Matriz de síntese dos artigos incluídos. 

AUTOR/ANOOBJETIVOPARTICIPANTESRESULTADOS 
KENT et al., 2018.O objetivo deste estudo é adaptar uma intervenção complexa para melhorar as habilidades lúdicas em crianças com TEA.20 crianças de 6 a 12 anos, sendo 10 diagnosticadas com transtorno do espectro autista e 10 parceiros, sendo estes selecionados pela família da criança com TEA.O teste de ludicidade para crianças com TEA e parceiros melhorou em ambientes clínicos e domiciliares, apesar da pequena amostra. as pontuações totais no teste de Piers-Harris 2, e suas subescalas, exceto de felicidade, satisfação e ausência de ansiedade, foram positivas.
CHICON et al., 2019.Examinar como as brinquedotecas podem ser um ambiente inclusivo e ajudar as crianças com autismo a brincar mais. O foco do estudo foi em como os brinquedos são organizadas e quais atividades são planejadas para facilitar a interação e o desenvolvimento dessas crianças.Participaram do estudo 17 crianças, de ambos os sexos entre 3 e 6 anos. Destas 6 tinham autismo, 1 síndrome de Down e as demais não apresentavam deficiência.O estudo revelou que houve uma melhora na inquietação das crianças com TEA durante a espera do atendimento, bem como a redução da agitação e do barulho, proporcionando um ambiente mais tranquilo. Além disso, percebeu-se a Redução de conflitos entre as crianças com e sem deficiência.
VOUSDEN et al., 2019.Exploraras habilidades lúdicas de crianças com TEA e seus colegas de classe combinados durante uma interação de jogo entre pares.10 crianças de 5 a 11 anos, sendo 5 diagnosticadas com transtorno do espectro autista e 5 parceiros, sendo este da mesma idade e sala da criança com TEA.As duas crianças com TEA que tiveram os melhores resultados no teste de ludicidade (ToP) também tiveram os melhores resultados sociais relatados pelos professores. Os Itens ToP, que refletem a suspensão da realidade e o enquadramento, foram mais difíceis para todas as crianças com TEA. Duas crianças com TEA tiveram ToP melhores do que seus colegas de classe. 
KENT et al., 2019.O objetivo desta pesquisa foi investigar as mudanças no desempenho da brincadeira quando uma criança com TEA e um companheiro de DT são acrescentados a uma díade existente de uma criança com TEA e um companheiro de DT.O estudo envolve 15 crianças com idades entre 6 e 12 anos, incluindo aquelas que vivem com TEA (5) e seus pares tipicamente desenvolvidos (10). A adição de uma criança típica melhorou o desempenho lúdico em quatro das cinco crianças com TEA, mas não afetou positivamente o desempenho no jogo em geral. O padrão de interação lúdica entre crianças com TEA e pares típicos mudou ao passar de uma díade para uma tríade.
BEAUMONT et al., 2021.Avaliar a eficácia de uma adaptação apoiada pelos pais do programa de habilidades sociais baseado em jogos de computador Secret Agent Society (SAS).As 70 crianças participantes estavam no espectro do autismo e tinham idade 7 a 12 anos.Especialmente em tempos de acesso restrito ao serviço presencial, como o COVID-19, os resultados indicam que uma intervenção pode ser uma solução terapêutica conveniente e barata.
HUANG & KANG, 2021.Investigar e comparar a participação em atividades de brincadeira e lazer de crianças pequenas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e crianças com desenvolvimento típico em Taiwan.Crianças com idades entre 2 e 6 anos, sendo 25 crianças com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e 25 crianças com desenvolvimento típico (TD) em Taiwan. As crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) demonstraram menor variedade e envolvimento menos intenso em atividades recreativas se comparadas às crianças com Desenvolvimento Típico (DT). Adicionalmente, elas apresentaram níveis significativamente mais baixos de funcionalidade em habilidades de autocuidado e interação social, incluindo comunicação, resolução de problemas e interações sociais, em comparação com seus pares com desenvolvimento típico.
LINIMAYR, JACOBSEN & FARIAS, 2023.O estudo visa entender as visões de professores sobre os desafios e apoios na promoção de brincadeiras entre crianças com TEA e seus pares típicos na educação infantil na Áustria, visando melhorar a inclusão e as oportunidades de brincadeira para crianças com TEA.Participaram 8 professores que trabalham na educação inclusiva na Áustria, sendo que eles possuíam experiencia em trabalhar com crianças com TEA e com desenvolvimento típico.Os professores discutiram várias coisas que afetavam as brincadeiras entre pares. Isso inclui questões individuais como sensibilidade ao barulho; dinâmica entre pares e famílias como preconceitos sobre crianças com TEA; e institucionais como salas lotadas e pouco espaço para distrações.
KARS & AKI, 2023.Investigar a relação entre as habilidades de jogo e o processamento sensorial em crianças com autismo.Os participantes do estudo foram crianças com autismo (29) e crianças tipicamente desenvolvidas (29). As crianças com TEA demonstraram uma idade de desenvolvimento significativamente inferior para brincar, com pontuações mais baixas em todas as áreas da Escala de Jogo Pré-Escolar Revisada de Knox, comparadas às crianças tipicamente desenvolvidas.
PERZOLLI et al, 2023.Avaliar as interações entre pais e crianças em idade pré-escolar diagnosticadas com TEA, focando nas disparidades observadas em suas brincadeiras simbólicas e exploratórias, bem como como os sintomas afetam o desempenho cognitivo da criança e a gravidade dos sintomas.Foram 144 participantes, sendo 72 díades mão-filho e 72 díades pai-filho. As crianças possuíam de 2 a 6 anos, enquanto a média de idade das pais era 39,39 anos e das mães 38,39 anos.Em comparação com os pais, as e menos exploratóriamente. Além disso, foi observado que o funcionamento cognitivo da criança teve um efeito sobre a maneira como as mães se envolveram em brincadeiras; no entanto, isso não teve um efeito sobre as características das brincadeiras dos pais. Essas descobertas mostram que há diferenças nas interações de brincadeira entre mães e pais de crianças com TEA. Eles também mostram quão importante é pensar nas habilidades e deficiências de ambos os cuidadores ao criar intervenções personalizadas para os comportamentos de brincadeira das crianças.

Fonte: Autoria própria, 2024.

A incorporação de atividades e brincadeiras lúdicas facilita a aprendizagem e promove o desenvolvimento emocional, social e comunicativo das crianças de forma positiva (Niles & Socha, 2014). De acordo com Mendes (2015) jogos são uma atividade imprescindível para o desenvolvimento infantil que traz além da diversão, socialização, colaboração, regras, desenvolve a atenção e trabalho em grupo. Esse fato é evidenciado por Kent et al. (2018) onde foi observado avanços no teste de ludicidade para crianças com TEA e parceiros foram observados no período de pós-intervenção e perduraram nos ambientes domiciliares e clínicos. As pontuações totais no teste de Piers-Harris 2 e suas subescalas, exceto felicidade, satisfação e ausência de ansiedade, foram promissoras.

Nas brincadeiras em paralelo, a criança começa a brincar e interagir ao lado de outra criança, estabelecendo contato de forma natural (Maluf, 2009). Outro estudo revelou que as interações de crianças com TEA e com desenvolvimento típico favoreceu a melhora na inquietação das crianças com TEA durante a espera do atendimento, bem como a redução da agitação e do barulho, proporcionando um ambiente mais tranquilo. Além disso, percebeu-se a Redução de conflitos entre as crianças com e sem deficiência (Chicon et al., 2019).

A utilização desse tipo de recurso, configura uma estratégia que motiva os alunos, visto que possibilita a exploração do corpo dentro do espaço, bem como permite o desenvolvimento de estratégias mentais para sobrepujar os desafios diários. Além disso, essas atividades promovem aprimorar suas habilidades pessoais e cognitivas, dada a promoção da cooperação, socialização e relações afetivas (Anastácio & Ramos, 2022). Esse fato fica evidenciado no estudo de Vousden et al. (2019), onde as duas crianças com TEA com os melhores resultados no teste de ludicidade foram as mais bem avaliadas socialmente pelos professores. Itens do teste que refletem a suspensão da realidade e o enquadramento foram mais desafiadores para todas as crianças com TEA, mas duas delas tiveram desempenho melhor do que seus colegas de classe.

É esperado que as crianças com TEA sejam capazes de usar e manter suas habilidades sociais recém-adquiridas em diferentes contextos (Chang & Locke, 2016). Partindo desse pressuposto, Kent et al., (2019) avaliaram as mudanças no desempenho da brincadeira quando um companheiro de DT é acrescentado a uma díade existente de uma criança com TEA e um companheiro de DT. Com isso foi possível averiguar que a adição de uma criança típica melhorou o desempenho lúdico em quatro das cinco crianças com TEA, mas não afetou positivamente o desempenho no jogo em geral. De acordo a Maluf (2009) brincadeiras cooperativas propiciam um ambiente grupal, onde a criança está envolvida, tomando parte em atividades compartilhadas, dividindo brinquedos e esperando a sua vez.

A compreensão e colaboração dos pais também são cruciais para um desenvolvimento bem-sucedido das crianças com esse transtorno (Rodrigues et al., 2023). Em corroboração a isso, um estudo realizado por Beaumont et al. (2021) buscou avaliar a eficácia de uma adaptação apoiada pelos pais do programa de habilidades sociais baseado em jogos de computador Secret Agent Society (SAS). Ainda de acordo com os autores, especialmente em tempos de acesso restrito ao serviço presencial, como o COVID-19, os resultados indicam que uma intervenção pode ser uma solução terapêutica conveniente e barata (Beaumont et al., 2021.).

Outro aspecto importante a ser levado em consideração é a qualidade das interações entre o cuidador. No entanto, os desafios sociocomunicativos enfrentados por crianças com TEA podem afetar a formação de relações saudáveis na idade cuidador-criança, resultando em trocas interativas desafiadoras (Senor, 2022). Perzolli et al. (2023) avaliaram o perfil das brincadeiras entre mãe-filho e pai-filho e verificaram que as mães apresentavam perfis de brincadeiras mais elaboradas e que focavam no desenvolvimento cognitivo da criança com TEA, enquanto os pais proporcionavam brincadeiras mais leves direcionadas ao social. Além disso, o tempo de duração da brincadeira maior com os pais foi relacionado ao fato de que eles tem a tendência maior a seguir o que a criança propõe, sem valorizar os níveis de brincadeira, mas deixando-se guiar pelas intenções da criança (Perzolli et al., 2023)

A intenção da educação inclusiva é dar às crianças com transtorno do espectro autista a oportunidade de interagir com pares com desenvolvimento normal (Lay et al., 2020). Nesta perspectiva, ao mediar o processo de ensino-aprendizagem o professor ara além de educar, cria e fornece condições de acesso e permanência dos alunos autistas nas escolas. Como destacam Linimayr, Jacobsen & Farias (2023) em seu estudo, os professores discutiram várias coisas que afetam as brincadeiras entre pares. Isso inclui questões individuais como sensibilidade ao barulho; dinâmica entre pares e famílias como preconceitos sobre crianças com TEA; e institucionais como salas lotadas e pouco espaço para distrações.

       A interação social entre crianças é fundamental no seu desenvolvimento, e é função da escola garantir oportunidades para experiências sociais, permitindo que as crianças desenvolvam processos psicológicos avançados. Todavia, a inclusão em contextos educacionais requer intervenção psicopedagógica que valorize a comunicação simbólica na interação com alunos com deficiência (Nuernberg, 2008). Kars & Aki (2023) confirmam esta importância em seu estudo, uma vez que observaram que as crianças com TEA demonstraram uma idade de desenvolvimento significativamente inferior para brincar, com pontuações mais baixas em todas as áreas da Escala de Jogo Pré-Escolar Revisada de Knox, comparadas às crianças tipicamente desenvolvidas. 

Outro estudo realizado em Tawian por Huang & Kang (2021) buscou comparar o perfil de brincadeiras entre crianças com TEA e crianças DT. Como resultado, observaram que as crianças diagnosticadas com TEA demonstraram menor variedade e envolvimento menos intenso em atividades recreativas se comparadas às crianças com Desenvolvimento Típico. Adicionalmente, elas apresentaram níveis significativamente mais baixos de funcionalidade em habilidades de autocuidado e interação social.

Desse modo, estimular precocemente as crianças com TEA utilizando recursos lúdicos tem papel importante no impulsionamento da adaptação e inclusão na educação infantil (De Lima Campos, 2020).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os recursos lúdicos, como brinquedos, desempenham um papel crucial no desenvolvimento de crianças com autismo. Eles oferecem oportunidades para aprimorar habilidades sociais, comunicação, e desenvolvimento cognitivo de uma forma atraente e estimulante. Ao proporcionar um ambiente de aprendizado interativo e positivo, os recursos lúdicos ajudam a promover o progresso e a qualidade de vida das crianças com autismo.

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1 Psicóloga pela faculdade FACID WYDEN, pós-graduada em gestal terapia pela faculdade Inspiraruanacris7@outlook.com
2 Psicóloga. Pedagoga. Psicopedagoga. Doutoranda em Saúde. Mestre em Saúde Mental e Transtornos Aditivos(UFRGS). Especialista em ABA, Neuropsicologia, Dificuldades de Aprendizagem e Docência do Ensino Superior.