REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7838646
Simone Isabel Timm dos Santos
RESUMO
A dependência química além de um problema para o indivíduo dependente e seu grupo familiar, também qualifica-se como um problema social de grande magnitude, tendo em vista que afeta diversas pessoas e grupos sociais, prejudicando a saúde e a vida do sujeito em sociedade, sendo considerado um problema de saúde pública com grandes impactos no âmbito da segurança. O presente artigo é constituído de pesquisa bibliográfica, tendo como objetivo compreender a importância da sociedade no tratamento de sujeitos dependentes químicos. Sendo assim o papel da família, escola, centros sociais, grupos de apoio e demais instituições no tratamento da dependência química como ferramenta de amparo social para o dependente, que pode utilizar destes meios para embasar o seu tratamento e recuperação, assim como o seu retorno aos ambientes, instituições e grupos sociais aos quais fazia parte. O social manifesta-se de forma a contribuir para que este desenvolva-se de forma saudável em sociedade.
Palavras-Chave: Tratamento, Social, Dependente Químico.
1 INTRODUÇÃO
Pode-se compreender a dependência química através de diversas áreas do conhecimento, social, psicológica, médica entre outras tantas. Sendo possível diversas interpretações sobre o conceito, sendo alguns até mesmo controversos, como aponta Araujo et al (2008), que afirma que a definição mais comum trata-se de um desejo intenso de utilizar substancias especificas, ou de experimentar os efeitos da droga no organismo, estando relacionado a fortes desejos, impulsos, pensamentos obsessivos e alivio após consumir a substancia pela qual estava em abstinência, sendo que após o uso o resultado imediato é considerado positivo pelo usuário.
Sendo possível uma interpretação da dependência química através da história e da sociologia por trás do comportamento dependente. Como aponta Gomes e Brilhante (2021) o uso de drogas remota desde a antiguidade, com o desenvolvimento das primeiras civilizações, no entanto é na contemporaneidade que o relacionamento dos sujeitos com substâncias psicoativas ganhou relevância e se tornou alvo de questionamentos e discussões. Os autores salientam que as drogas licitas, como álcool, cigarros e medicamentos tem reconhecimento social e não sofrem pela estigma das drogas ilícitas, que muitas vezes deforma a aceitação do sujeito na sociedade e no seu grupo familiar. Seja devido a seu caráter patologizante, as substancias químicas tidas como ilegais colocam o sujeito à margem da sociedade e o excluí de muitos contextos sociais.
Tendo em vista que o consumo de substancias químicas ilícitas tem provocado uma crescente social, mostra-se necessário pensar os possíveis fatores que auxiliariam o sujeito dependente químico a reorganizar-se em sociedade de forma adequada, tratando sua dependência e retornando uma vida saudável.
Para tanto mostra-se necessário analisar as possíveis causas da dependência em substancias químicas. Para Diehl et al (2011) é possível através de estudos atuais realizados sobre a dependência química compreender as causas da dependência. Os autores apontam que o prolongamento do uso de substancias psicoativas de abuso, podem levar a dependência, mas os aspectos sociais, como família, educação, cultura, e comportamento possuem papel decisório no desenvolvimento da dependência.
Tendo em vista a influência do ambiente social no desenvolvimento da dependência química, pode-se pensar que a utilização do mesmo no tratamento do indivíduo dependente, pode ser utilizado de forma a contribuir com o tratamento e com uma melhora efetiva na vida do mesmo.
2 DESENVOLVIMENTO
O consumo de substancias ilícitas, assim como o tráfico destas, ganhou destaque midiático e nos setores de saúde pública e segurança, assim como no meio acadêmico que busca estudar e analisar as condições que levam os sujeitos a tornarem-se dependentes das drogas. Diehl et al (2011) aponta que o consumo, e comercialização de substâncias ilícitas tornou-se um dos temas centrais a serem discutidos e analisados pelo público em geral, além dos setores especializados. Sendo que estes buscam soluções baseadas em evidencias cientificas e apoiadas nos direitos humanos. Tornando-se uma discussão de grande porte, não apenas nos setores acadêmicos mas entre os setores político e econômico, assim como entre os cidadãos.
O consumo de substancias psicoativas pode levar a dependência química, sendo a dependência alvo de diversos estudos, tendo em vista seu caráter modificador de comportamentos e da saúde do sujeito. Araujo et al (2008) ponta através de estudos que o desejo por repetir as sensações causadas pelo uso de substâncias recebe o nome de craving. Sendo que este desejo pode manifestar-se tanto no momento do consumo quanto no período de abstinência, estando relacionado a alterações de comportamento, humor e pensamentos.
A falta de prazer está relacionada ao craving, assim como a abstinência, Araujo et al (2008) os classifica em quatro tipos:
“…como resposta à síndrome de abstinência; como resposta à falta de prazer; como resposta condicionada a estímulos relacionados às substâncias psicoativas; e como tentativa de intensificar o prazer de determinadas atividades. Obviamente, é fácil perceber, que uma mesma situação pode fazer parte de mais de um destes grupos, tendo múltiplos determinantes.” (ARAUJO et al. p.60. 2008)
Percebe-se que a necessidade de sentir prazer está relacionado diretamente ao uso das substancias e a dependência química, assim como a vontade de intensificar o prazer já existente. Estando, portanto, a dependência ligada a uma busca por satisfação. Pratta et al (2009) afirma que o uso de drogas não trata-se de um fenômeno atual, mas que os seres humanos utilizam-se dessa pratica a muito tempo pois a humanidade sempre busca formas de aumentar o seu prazer e diminuir o seu sofrimento.
A utilização drogas lícitas e ilícitas atualmente é discutida no âmbito da saúde pública, tendo em vista seu caráter social, Cavalcante et al (2008) afirma que a utilização de álcool e demais drogas é considerado uma das principais causas de agentes desencadeadores de situações de vulnerabilidade no período da adolescência, sendo desencadeadores de acidentes automobilísticos, violência, suicídio, gravidez não planejada e transmissão de doenças pelo ato sexual e endovenosa, quando trata-se de compartilhamento de seringas e drogas injetáveis.
Desse modo percebe-se o impacto negativo que as drogas causam no desenvolvimento adequado do ser humano, sendo muitas o usuário responsável por causar danos a terceiros. Sendo que Minayo e Deslandes (1998) aponta que as drogas estão relacionadas com comportamentos violentos. Salientando que o álcool é responsável por comportamento agressivo entre seus usuários, pois causa mudanças de comportamento devido seus efeitos psicofarmacológicos. Assim como o uso da cocaína, anfetaminas e esteroides possuem propriedades que estimulam ações de violência.
O mais consistente e predizível vínculo entre violência e drogas se encontra no fenômeno do tráfico de drogas ilegais. Este tipo de mercado gera ações violentas entre vendedores e compradores sob uma quantidade enorme de pretextos e circunstâncias: roubo do dinheiro ou da própria droga, disputas em relação a sua qualidade ou quantidade, desacordo de preço, disputa de territórios, de tal forma que a violência se torna uma estratégia para disciplinar o mercado e os subordinados. (MINAYO E DESLANDES, p.38, 1998).
Dessa forma pode-se perceber o impacto social que o dependente químico causa no seu meio familiar, nas instituições que frequenta, nos grupos de iguais e na sociedade como um todo, tendo em vista seus hábitos podem gerar aumentos significativos no índice de violência. Sendo assim mostra-se importante compreender como a sociedade pode contribuir para a recuperação do sujeito, assim como a análise da sua importância nesse processo. Migott (2007) aponta que para compreender e tratar o fenômeno necessita-se de uma intervenção biopsicossocial, sendo que a interdisciplinaridade, social, psicológico e biológico se mostra o mais adequado.
A instituição família, possui um papel importante nesse processo, pois reproduz em parte as organizações sociais e pode exercer sobre o sujeito, influência positiva, ao mesmo tempo que fornece amparo. Rigotto e Gomes (2002) aponta alguns fatores que colaboram com a remissão do uso de drogas, sendo eles: a modificação de comportamento danosos para comportamentos que tragam benefícios e saúde para o sujeito e que possam competir com o uso da droga, disponibilidade para que o sujeito receba supervisão de outro, adesão em projetos de cunho positivo, e a recuperação da autoestima. Sendo estes fatores hábitos que podem ser desenvolvidos tanto pela família como por instituições preparadas para acompanhar o indivíduo. Sendo necessária estabelecer uma rede de apoio, tendo em vista que estes fatores de remissão não podem ser facilmente realizados por apenas um indivíduo e o acompanhamento de profissionais da saúde se mostra de grande valia.
O convívio em sociedade se mostra eficaz no amparo a modificação de hábitos. Diehl et al (2011) apontam que a interação social é um mecanismo capaz de modificar hábitos, o que inclui o consumo de substancias psicoativas. O desenvolvimento de hábitos de comunicação de expressão de sentimentos e de pensamentos mostra-se muito positivo na recuperação de dependentes químicos, pois desenvolve-se a aquisição de mecanismos que auxiliam a desenvolver recursos internos de enfrentamento de dificuldades e de construção de uma concepção de vida mais saudável.
A cultura exerce grande influência em todos os indivíduos, para o sujeito dependente químico que encontra-se em tratamento a exposição a droga ou a propagandas sobre a mesma podem influenciar no retorno ao consumo. Sendo assim Diehl et al (2011) afirmam que o controle social deve regulamentar o comercio e as propagandas de drogas licitas, pois estas também exercem influência sobre os sujeitos e podem levar a dependência química. Portanto o contexto social pode, além de auxiliar o sujeito no seu processo de recuperação, desenvolver estratégias de prevenção ao uso de drogas.
Retornar a sociedade durante o período de abstinência requer modificação na maneira do sujeito de interagir com o meio, para Carvalho et al (2011) a modificação de companhias possui aspectos negativos e positivos, pois o sujeito se separa de outros indivíduos dependentes químicos e não sofre mais com influência direta, no entanto fica ausente de amizades e pode sentir-se sozinho, para isso os autores ressaltam que os tratamentos que auxiliam o sujeito a desenvolver novas habilidades de enfrentamento de problemas sem o uso de drogas são indispensáveis, assim como desenvolver novas formas de relacionamento com a família, amigos que não sejam usuários e estabelecer uma reinserção social.
Sendo assim o papel da família e do contexto social para a efetividade do tratamento da dependência química se mostra necessário e de grande proveito pra o sujeito durante o processo de tratamento assim como para realizar a manutenção da sua saúde durante a vida, evitando reincidência.
3 CONCLUSÃO
A dependência química modifica o sujeitos não apenas externamente, mais internamente, pois fragiliza seu contato com os indivíduos aos quais mantinha em sua rede de afetos e convivência, em muitos aspectos tornando-se solitário, voltando-se apenas para seu objeto de prazer imediato, a droga.
Os indivíduos são constituídos por suas experiências, vivencias, contatos com o outro e percepções internas, sendo muito complexo trabalhar com as necessidades individuais dos sujeitos. No entanto, para o tratamento da dependência química, mostra-se necessário desenvolver uma rede de apoio que consiga trabalhar com todos os aspectos essenciais na vida do sujeito, pois este demostra um desgaste em diversos aspectos da vida comum, local de onde poderia retirar apoio para iniciar e dar continuidade ao tratamento da dependência química.
Diversos pesquisadores apontam a necessidade do sujeito retornar ao convívio social durante o tratamento da dependência química, pois nesses espaços pode vir a encontrar o amparo e apoio necessário para prosseguir o tratamento e desenvolver uma nova percepção da vida e das suas questões internas. A família, instituições, grupos de apoio e de amizades podem exercer uma influência positiva na vida do sujeito. Substituindo o prazer pelo usa das substancias químicas pelo convívio saudável e agradável com os demais.
O tratamento da dependência química mostra-se como um trabalho complexo, que requer acompanhamento de diversos profissionais capacitados para receber, acolher, tratar e se necessário medicar o sujeito. Concomitante ao tratamento, o retorno a sociedade e o apoio da mesma nesse busca por melhora, mostra-se essencial para que o tratamento tenha maior impacto na vida do sujeito e para que este desenvolva novas formas de atuar em sociedade e de perceber o seu cotidiano, aumentando as chances de que este não retorne para as drogas, mas sim que mantenha-se dentro das novas concepções que desenvolveu.
REFERÊNCIAS
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