A IMPORTÂNCIA DA LIDERANÇA E DA GESTÃO COLABORATIVA NA EDUCAÇÃO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202503251620


Rafael Santos Lima
Jaquelline Barbosa Camarinha
Leidiana da Silva Moreira
Viviane Claudiano de Lima Ribeiro
Patrícia Lucio Alves


RESUMO

Este artigo enfatiza a importância da liderança e da gestão colaborativa no contexto educacional, ressaltando como a participação efetiva de gestores, professores, estudantes e famílias enriquece o processo de ensino-aprendizagem, ao passo que estruturas hierárquicas rígidas e tomadas de decisão unilaterais tendem a inibir a corresponsabilidade e a inovação, especialmente diante dos desafios contemporâneos que exigem estratégias pedagógicas mais inclusivas e flexíveis. Observa-se que a liderança transformacional, baseada em motivação, diálogo e inspiração, favorece o engajamento e a criatividade, enquanto a gestão colaborativa cria espaços de tomada de decisão coletiva, fortalecendo o sentimento de pertença na comunidade escolar, mas ambos os modelos encontram barreiras culturais e estruturais que podem retardar sua implementação, tais como a resistência a mudanças, a ausência de formação específica e a carência de recursos materiais e humanos. A formação continuada de diretores e coordenadores aparece, nesse cenário, como ponto essencial para promover habilidades de gestão, mediação de conflitos e comunicação eficaz, ampliando a possibilidade de construir um ambiente propício a práticas democráticas. Ao mesmo tempo, a integração em redes de aprendizagem entre diferentes escolas e parceiros potencializa o compartilhamento de experiências, permitindo a difusão de metodologias bem-sucedidas e a reflexão conjunta sobre obstáculos comuns, embora seja fundamental considerar as particularidades de cada contexto e a necessidade de avaliação qualitativa dos resultados. 

Palavras-Chave: Gestão colaborativa. Participação Efetiva. Desafios Contemporâneos. Decisão Coletiva.

1. INTRODUÇÃO

A educação é considerada um dos pilares mais importantes para o desenvolvimento de uma sociedade. É por meio dela que se formam cidadãos conscientes, responsáveis e capazes de gerar transformações positivas em diferentes contextos. Nesse sentido, a gestão escolar assume uma posição de grande relevância, pois desempenha um papel fundamental na organização do trabalho pedagógico e na mediação de conflitos que possam surgir no ambiente educacional.

Nas últimas décadas, a figura do gestor educacional e o estilo de liderança adotado têm sido alvo de inúmeras pesquisas e discussões, especialmente no que diz respeito à qualidade do ensino e à formação integral dos estudantes. A capacidade de liderar, motivar equipes e envolver a comunidade escolar em processos decisórios é apontada como uma das principais variáveis que explicam o sucesso ou o fracasso de muitas instituições de ensino, sejam elas públicas ou privadas.

A gestão colaborativa emerge como uma abordagem estratégica capaz de potencializar as ações educativas. Por meio de práticas dialógicas, da participação coletiva e da co-responsabilidade na condução dos projetos pedagógicos, a escola se fortalece e passa a oferecer um ambiente propício ao desenvolvimento de professores, alunos, gestores e demais atores envolvidos. Este artigo tem como objetivo principal discutir a relevância da liderança e da gestão colaborativa no âmbito educacional, evidenciando seus fundamentos teóricos, aplicações práticas e desafios contemporâneos. 

2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA LIDERANÇA E DA GESTÃO COLABORATIVA

No campo educacional, a liderança está fortemente relacionada à capacidade que gestores, coordenadores e outros profissionais possuem de influenciar positivamente o ambiente escolar, engajando professores, estudantes, famílias e funcionários em torno de objetivos comuns. Historicamente, o estudo da liderança evoluiu de teorias personalistas baseadas em traços de personalidade de líderes carismáticos para abordagens mais participativas e situacionais, que consideram o contexto e as relações interpessoais.

Em escolas e instituições de ensino, a liderança pode (e deve) ser exercida em diferentes níveis. Embora o diretor ou coordenador pedagógico costume ser a figura central, professores e até mesmo estudantes podem assumir um papel de liderança em situações pontuais, seja na elaboração de projetos ou na condução de atividades específicas. O que caracteriza uma liderança efetiva nesse cenário é a habilidade de promover um clima organizacional favorável à aprendizagem, bem como atitudes e processos que gerem confiança, motivação e engajamento entre todos (Luck, 2000).

Entre as diversas abordagens de liderança, a chamada liderança transformacional ganha destaque na educação. Esse modelo enfatiza a capacidade de inspirar e envolver as pessoas, estimulando a autonomia, a criatividade e a corresponsabilidade. O líder transformacional busca desenvolver o potencial de cada indivíduo, promovendo uma cultura de cooperação e melhoria contínua. Além disso, também se destacam os conceitos de liderança instrucional, cujo foco está na qualidade do processo pedagógico, e de liderança distribuída, que defende a descentralização do poder decisório.

A gestão colaborativa, por sua vez, é caracterizada pela participação ativa de diferentes atores na tomada de decisões e na execução de planos escolares. Essa abordagem valoriza o diálogo, a transparência e o compromisso coletivo na solução de problemas e no desenvolvimento de projetos educacionais. Assim, reconhece-se que a escola é um espaço vivo e heterogêneo, composto por sujeitos com diferentes conhecimentos, experiências e interesses. Por esse motivo, a participação de professores, estudantes, familiares e membros da comunidade deixa de ser apenas desejável e passa a ser imprescindível para a construção de um ambiente inclusivo e estimulante (Paro, 2007).

Há alguns princípios centrais que orientam a gestão colaborativa. Entre eles, destacam-se a democracia interna, que implica a promoção de processos de discussão e votação para legitimação das decisões; a comunicação efetiva, que envolve manter canais abertos e claros para a troca de informações; e a horizontalidade, que busca atenuar hierarquias rígidas, valorizando a contribuição de todos, independentemente de cargo ou função. Outro princípio fundamental é a corresponsabilidade, incentivando cada pessoa a sentir-se responsável pelos resultados do grupo. Além disso, a formação continuada surge como uma necessidade para aprimorar conhecimentos, debater ideias e manter a equipe preparada para os desafios.

Libâneo (2004) ressalta que, tanto as concepções de liderança quanto as de gestão colaborativa encontram embasamento em teorias sobre aprendizagem organizacional e psicologia social. O trabalho de Kurt Lewin, por exemplo, já indicava a importância do envolvimento coletivo nas mudanças de comportamento grupal. Posteriormente, pesquisadores como Peter Senge popularizaram a noção de “organização que aprende”, enfatizando a visão sistêmica e a corresponsabilidade na tomada de decisões. 

Esses referenciais reforçam, no ambiente escolar, a necessidade de uma cultura em que a participação e a construção conjunta de saberes sejam práticas corriqueiras, expandindo o potencial de inovação e o desenvolvimento integral de todos os envolvidos.

Nesse a gestão escolar passa a demandar um líder ou uma equipe gestora que seja, ao mesmo tempo, inspiradora e mediadora, capaz de unir as demandas institucionais com os anseios e as necessidades da comunidade. Quando bem estruturada, essa liderança fortalece o espírito de cooperação, a autoestima dos professores, o protagonismo dos estudantes e a aproximação das famílias, assegurando resultados mais sólidos no processo de ensino e aprendizagem (Paro, 2007).

3. A APLICAÇÃO DE UMA LIDERANÇA TRANSFORMACIONAL E COLABORATIVA NA EDUCAÇÃO

A aplicação prática de uma liderança transformacional e colaborativa na educação envolve diversos aspectos, começando pelos papéis desempenhados pelo gestor e pela equipe. Embora muitas vezes se associe a liderança apenas à figura do diretor ou coordenador pedagógico, na realidade ela pode e deve ser compartilhada e ampliada. Para Souza (2024), é fundamental que haja uma equipe gestora como direção, coordenação pedagógica, orientadores, supervisores e professores líderes atuando de forma integrada e solidária, pois cada membro pode contribuir com experiências, conhecimentos e habilidades específicas. 

Ainda de acordo com Souza (2024), nessa perspectiva, o diretor frequentemente assume a função de articulador, equilibrando as demandas institucionais como currículos e metas educacionais com as necessidades e interesses da comunidade escolar. Já o coordenador pedagógico, por exemplo, pode impulsionar a formação continuada dos professores e incentivar a inovação nas práticas de ensino. Em todos os casos, adota-se uma postura ética, empática e visionária, garantindo que cada participante seja convidado a opinar e colaborar. Vale ressaltar que: 

Na liderança transformacional criam-se expectativas positivas na equipa educacional, inspirando-se o desenvolvimento pessoal e capacitando-se os professores para exceder os níveis normais de desempenho.” (Gomes, 2018, p. 5)

Para que a gestão colaborativa se concretize, é essencial criar ambientes que facilitem o trabalho conjunto, tanto presenciais quanto virtuais. Os conselhos escolares, compostos por representantes de diferentes segmentos (professores, pais, alunos e funcionários), reúnem-se para debater questões administrativas, pedagógicas e financeiras, contribuindo para a transparência e a corresponsabilidade. As reuniões de planejamento coletivo também ocupam papel de destaque, pois permitem que os educadores alinhem currículos, compartilhem experiências bem-sucedidas e desenvolvam estratégias didáticas em parceria. 

Observa-se que projetos interdisciplinares se mostram poderosos instrumentos de integração, uma vez que unem diferentes áreas de conhecimento em torno de objetivos comuns, incentivando o protagonismo estudantil e a troca de saberes entre docentes. Nesse processo, o uso de ferramentas digitais de comunicação e organização como plataformas de gestão de projetos e aplicativos de mensagens agiliza a troca de informações e viabiliza o planejamento contínuo mesmo fora do horário escolar (Weinstein; Simiellli, 2022).

A adoção de uma liderança transformacional e de práticas colaborativas traz benefícios significativos para a escola. Em primeiro lugar, há a melhoria do clima institucional, pois quando as pessoas se sentem ouvidas e valorizadas, o ambiente de trabalho torna-se mais harmonioso. Consequentemente, o engajamento docente tende a aumentar, pois professores que participam das decisões enxergam seu papel de forma ampliada, percebendo-se corresponsáveis pelo sucesso coletivo. 

Esse tipo de envolvimento também favorece o desenvolvimento de competências socioemocionais, tanto nos educadores quanto nos estudantes, uma vez que todos aprendem a lidar com divergências, negociar soluções e atuar em equipe habilidades cada vez mais valorizadas em um mundo em constante transformação. Ademais, há ganhos concretos na aprendizagem, pois pesquisas mostram que uma liderança escolar efetiva, aliada à participação ativa dos profissionais, cria condições mais propícias ao desenvolvimento dos estudantes. 

Verifica-se que outro positivo é o fortalecimento do vínculo entre a escola e a comunidade, já que a gestão colaborativa costuma envolver os pais e a vizinhança em questões pertinentes ao cotidiano escolar, ampliando o senso de pertencimento e a busca conjunta por soluções para problemas que extrapolam o ambiente da sala de aula. 

De acordo com Mammen (2023) é fundamental destacar que a inovação no âmbito pedagógico tende a melhorar em cenários onde há uma colaboração efetiva entre gestores e professores. Em um clima de confiança e participação, os professores se sentem encorajados a testar novas metodologias de ensino, explorar tecnologias digitais e propor diferentes formas de avaliação. 

Ainda de acordo com Mammen (2023), o gestor, por sua vez, atua como facilitador, reconhecendo e divulgando experiências de sucesso, ao mesmo tempo em que acolhe falhas como oportunidades de crescimento e aperfeiçoamento. Nesse cenário, a inovação não se limita a recursos tecnológicos, mas abrange também a busca por práticas pedagógicas que promovam a criatividade, a pesquisa e o protagonismo discente. Desse modo, a liderança transformacional e a gestão colaborativa tornam-se elementos-chave para o avanço educacional, contribuindo para a formação de cidadãos críticos, autônomos e comprometidos com a transformação social.

4. DESAFIOS DA LIDERANÇA E DA GESTÃO COLABORATIVA NA EDUCAÇÃO

A liderança e a gestão colaborativa na educação têm sido temas recorrentes em debates acadêmicos, pesquisas e práticas de formação, pois as escolas do século XXI enfrentam pressões cada vez maiores por resultados, inclusão e inovação. Nesse cenário, a busca por modelos de liderança que valorizem a participação de todos e a corresponsabilidade assume papel fundamental na conquista de uma qualidade de ensino mais consistente e na promoção de um clima escolar acolhedor. 

Ferreira, (2019), a implementação efetiva de práticas colaborativas não ocorre de maneira simples, pois esbarra em diversos obstáculos estruturais, culturais e políticos. Para compreender melhor esses entraves, é preciso analisar como as resistências de diferentes segmentos da comunidade escolar, a escassez de recursos e a ausência de formação específica podem influenciar o dia a dia de quem atua na liderança educacional.

Ainda de acordo com Ferreira (2019), um dos primeiros desafios diz respeito à cultura organizacional ainda fortemente hierarquizada em muitas escolas. Historicamente, a figura do diretor foi associada à autoridade máxima, detentora do poder de decisão e controle. Embora, em teoria, o conceito de gestão participativa seja bem aceito por educadores e legisladores, na prática, muitas instituições resistem em compartilhar responsabilidades por medo de perder eficiência ou por falta de familiaridade com processos democráticos. 

A liderança transformacional, que incentiva o trabalho em equipe e o protagonismo docente, pode encontrar resistência por parte de profissionais que se acostumaram com estruturas verticalizadas. Assim, a construção de um ambiente verdadeiramente colaborativo demanda uma mudança de mentalidade, exigindo paciência e tempo para que todos se adequem a novos padrões de diálogo e tomada de decisão.

A gestão do trabalho pedagógico na escola exige do diretor o exercício de atividades que envolvam e responsabilizem todos os segmentos professores, funcionários, alunos, pais e comunidade com a intenção de melhorar o trabalho na sala de aula e buscar sucesso na aprendizagem de todos os alunos (Nessler, 2012, p. 17).

Outro obstáculo significativo é a falta de formação específica para os gestores e para as equipes escolares no que se refere à liderança e à mediação de conflitos. Muitos dos que ocupam cargos de direção ou coordenação chegam a essas posições sem preparação adequada para lidar com as complexas nuances das relações humanas, especialmente em contextos de diversidade socioeconômica e cultural. A ausência de programas de capacitação continuada, voltados para o desenvolvimento de competências de gestão, negociação e comunicação, pode comprometer a implantação de práticas colaborativas (Carvalho, 2017).

Observa-se Carvalho (2017) que, quando a própria liderança não domina ferramentas e metodologias que estimulem a participação, é provável que se percam oportunidades de envolver a comunidade escolar em processos decisórios que poderiam enriquecer a rotina pedagógica e administrativa. A carência de recursos materiais e humanos também se destaca como um desafio relevante. 

Em muitas redes de ensino, sobretudo na esfera pública, a falta de infraestrutura, a sobrecarga de trabalho e a insuficiência de investimentos em tecnologias ou capacitações prejudicam a consolidação de espaços de debate e planejamento conjunto. Professores acumulam inúmeras turmas e tarefas, tendo pouco tempo para se reunir e refletir coletivamente sobre práticas pedagógicas. Já os diretores, muitas vezes, ficam sobrecarregados com questões burocráticas, o que reduz o tempo que poderiam dedicar à coordenação de equipes e à escuta ativa das demandas da comunidade. 

A implantação de um modelo colaborativo, que requer constantes encontros e diálogo, pode se tornar inviável ou se diluir em meio às urgências cotidianas. Para Costa (2013), adicionalmente, há o desafio da sustentabilidade das práticas colaborativas ao longo do tempo. Ainda que uma escola consiga, em determinado momento, implementar um projeto de gestão democrática e participação de toda a comunidade, a continuidade dessas iniciativas pode depender de variáveis externas, como mudanças na legislação, alterações nas políticas educacionais ou substituições frequentes nos quadros de liderança.

Um diretor ou coordenador que acredite veementemente em processos participativos pode deixar o cargo, dando lugar a outro profissional menos disposto a partilhar decisões, o que interrompe o ciclo positivo construído até então. Da mesma forma, medidas governamentais que priorizam metas quantitativas de desempenho podem pressionar a instituição a retomar um estilo de gestão centralizador, em busca de resultados rápidos, mas nem sempre sustentáveis em termos pedagógicos (Costa, 2013).

É preciso considerar a heterogeneidade das expectativas dos diferentes agentes envolvidos na dinâmica escolar. Enquanto alguns professores se mostram entusiasmados para participar de decisões, propor inovações didáticas e investir em projetos interdisciplinares, outros preferem manter-se em rotinas já conhecidas, seja por insegurança, seja pela descrença na efetividade de mudanças. 

Com as famílias, a situação pode se tornar ainda mais complexa: alguns pais desejam influenciar as diretrizes escolares, enquanto outros não se sentem habilitados a participar ou sequer dispõem de tempo para isso. A liderança precisa, portanto, encontrar mecanismos inclusivos que deem voz a todos, mas também que estabeleçam limites e responsabilidades claras, evitando conflitos e sobreposições de funções.

Diante de tais obstáculos, o principal desafio da liderança e da gestão colaborativa na educação é equilibrar as demandas que surgem do contexto escolar com o compromisso de manter uma postura dialógica e participativa. Conforme Carvalho (2017), o investimento em formação continuada revela-se essencial, pois permite que líderes e docentes desenvolvam competências fundamentais, como a escuta ativa, a resolução de conflitos, a negociação de objetivos comuns e a gestão emocional, todas indispensáveis para lidar com a diversidade de posturas e visões de mundo no ambiente educacional.

Ao mesmo tempo, a busca por parcerias e redes de apoio com outras escolas, universidades, ONGs e órgãos governamentais pode fornecer recursos e conhecimentos complementares, capazes de reduzir lacunas estruturais e ampliar as possibilidades de ação. As escolas que almejam implementar processos de liderança e gestão colaborativa precisam estar cientes dos múltiplos desafios associados a essa transformação. Trata-se de um caminho que requer perseverança, abertura ao diálogo e disposição para rever continuamente a prática. 

Os potenciais benefícios de se construir uma cultura de participação e corresponsabilidade para Carvalho (2017)são expressivos como o desenvolvimento de um clima escolar mais harmonioso, a maior satisfação dos profissionais, o envolvimento das famílias e a formação de estudantes críticos e criativos. Ao reconhecer as barreiras existentes e trabalhar para superá-las, a comunidade escolar pode caminhar gradualmente em direção a uma realidade na qual a gestão colaborativa se consolide como estratégia-chave para uma educação mais inclusiva, democrática e significativa.

5. PERSPECTIVAS FUTURAS: CAMINHOS DE FORTALECIMENTO

Observa-se que na medida em que as escolas enfrentam demandas cada vez mais complexas, o fortalecimento de uma liderança efetiva e de práticas colaborativas aparece como uma estratégia promissora para a melhoria contínua do processo educacional. Tanto a pesquisa acadêmica quanto a experiência de gestores e professores têm indicado que a participação de todos os envolvidos docentes, famílias, estudantes e comunidade local pode gerar resultados mais sólidos em termos de aprendizagem, clima escolar e desenvolvimento socioemocional (Ferreira, 2019).

Romper a solidão, o isolamento das lideranças educacionais e contribuir para organizá-las numa perspectiva de fortalecimento em uma prática de autoformação cooperada são os principais motivadores da organização ‘Incubadora de Gestores’ (David, 2015, p. 26).

Para consolidar tais práticas no futuro, algumas iniciativas e mudanças estruturais se destacam como fundamentais. Em primeiro lugar, há a necessidade de políticas públicas que incentivem e deem sustentação à gestão colaborativa, contemplando-a em programas de formação de gestores, coordenadores pedagógicos e professores. 

Ainda que algumas redes de ensino já ofereçam cursos que abordem metodologias participativas, negociação de conflitos e planejamento estratégico, muitos profissionais assumem cargos de liderança sem o devido preparo. Além disso, as políticas educacionais podem ampliar a autonomia das escolas para tomarem decisões coletivas, estimulando formas mais democráticas de organização. 

Dutra (2018) ressalta que isso requer investimentos em capacitação contínua e em recursos que viabilizem encontros e espaços de discussão, de modo que a colaboração não se restrinja a reuniões pontuais, mas permeie toda a dinâmica escolar. Outro caminho de fortalecimento reside na integração em redes de aprendizagem. O intercâmbio entre escolas que adotam a gestão colaborativa permite não apenas a troca de experiências bem-sucedidas, mas também a reflexão conjunta sobre dificuldades e estratégias de superação.

Nesses espaços, podem surgir parcerias com universidades e organizações não governamentais, que contribuiriam com pesquisas e formações, ampliando a capacidade de inovação pedagógica de cada instituição. Ademais, a cooperação entre diferentes escolas sejam elas públicas ou privadas, urbanas ou rurais estimula o senso de que todos fazem parte de um sistema educacional mais amplo, responsável pela formação de cidadãos competentes e críticos.

De acordo com Poubel (2022), a avaliação qualitativa desponta, igualmente, como elemento relevante para reforçar a gestão colaborativa no longo prazo. Embora os indicadores quantitativos (como taxas de aprovação e resultados em avaliações externas) sejam importantes para nortear políticas educacionais, aspectos como a satisfação docente, a participação efetiva dos estudantes e a relação com as famílias não podem ser ignorados. 

Ao adotarem instrumentos de autoavaliação e discussão coletiva, as escolas passam a reconhecer acertos e fragilidades de maneira mais completa, engajando o corpo docente e a comunidade em propostas de melhoria contínua. Para Dutra (2018), esse tipo de avaliação, longe de ser meramente burocrática, convida todos os envolvidos a repensarem rotinas, metodologias e formas de convivência.

A inclusão de tecnologias de colaboração pode potencializar iniciativas de gestão participativa. Plataformas on-line e aplicativos de comunicação podem ser utilizados para organizar grupos de trabalho, acompanhar tarefas, compartilhar documentos e colher opiniões de professores, pais e estudantes. Isso é particularmente benéfico em contextos onde o tempo presencial para reuniões é limitado ou onde as distâncias geográficas representam um obstáculo. Ao mesmo tempo, é fundamental que a adoção de ferramentas digitais seja acompanhada de formação específica, de modo a evitar desigualdades de acesso ou uso inadequado (Poubel, 2022).

A valorização profissional e o reconhecimento de quem atua na educação são fatores cruciais para o futuro das lideranças colaborativas. Salários justos, condições de trabalho adequadas e a promoção de um clima institucional positivo contribuem para que diretores, coordenadores e docentes sintam-se motivados a investir em práticas participativas. Além disso, o envolvimento da comunidade em momentos de celebração de conquistas ou em debates sobre políticas educacionais fortalece o vínculo entre as famílias e a escola, reforçando a ideia de que a formação escolar depende de um esforço coletivo.

As perspectivas futuras para o fortalecimento da liderança e da gestão colaborativa na educação indicam que se trata de um processo contínuo de aperfeiçoamento, que exige suporte governamental, redes de cooperação, avaliação abrangente e uso estratégico de tecnologias. A consolidação dessas ações tende a criar ambientes onde todos compartilhem responsabilidades e decisões, construindo uma cultura de participação que valorize tanto o desenvolvimento acadêmico quanto às dimensões cidadãs e socioemocionais dos estudantes.

Dessa forma, a escola se consolida não apenas como lugar de transmissão de conteúdo, mas como um espaço vivo, capaz de dialogar com as múltiplas vozes que a compõem e que, juntas, apontam caminhos para uma educação mais democrática e expressiva.

6. CONCLUSÃO

A liderança e a gestão colaborativa emergem como elementos centrais para a melhoria da qualidade da educação em todos os níveis. Ao contrário de práticas centralizadoras, que podem resultar em desmotivação e falta de envolvimento, o exercício de uma liderança transformacional favorece o engajamento de professores, alunos, pais e demais funcionários, criando um ecossistema em que o aprendizado e o desenvolvimento integral se tornam objetivos de todos.

A cultura de participação e corresponsabilidade se torna, assim, o alicerce para que a escola desempenhe eficazmente seu papel social, formando cidadãos capazes de dialogar, trabalhar em equipe e enfrentar os desafios contemporâneos. Nesse processo, o gestor educacional atua como um facilitador, criando condições para que cada membro da comunidade expresse suas ideias e contribua para o planejamento e execução de projetos. 

A implementação de modelos colaborativos de gestão não está livre de obstáculos. Resistências culturais, falta de formação específica e limitação de recursos são fatores que podem retardar ou inviabilizar o processo de transformação da cultura escolar. 

Perspectivas futuras indicam uma trajetória de fortalecimento dessas práticas, sobretudo quando políticas públicas e iniciativas institucionais valorizam o trabalho em equipe, a inovação pedagógica e a participação democrática uma vez que, a liderança transformacional e a gestão colaborativa constituem ferramentas poderosas para a evolução da educação, aproximando a escola de sua missão maior: formar cidadãos críticos, solidários e comprometidos com a construção de uma sociedade mais justa e sustentável.

7. REFERÊNCIAS

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