REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11167232
Maria Do Parto Ramalho Venâncio; Rejane Dias Da Silva Carvalho; Tatiane Cavalcante De Azevedo; Orientadora: Professora Alyne Linhares do Nascimento.
RESUMO- Este artigo bibliográfico tem como objetivo apresentar teórica e verticalmente a importância da família na educação infantil e esclarecer as consequências da relação entre família e escola, diante do novo ano letivo, pós pandemia. E visa entender como as instituições família e ensino podem trabalhar juntas para atingir seus papéis, metas e objetivos, obtendo resultados importantes no desenvolvimento infantil não apenas na formação acadêmica, mas também no caráter, princípios e motivações. As escolas têm atingindo papeis que devem ser da família, a melhor escola, com preços mais caros, em sua melhor metodologia, não substitui a presença da família na educação da criança, mas um não anula o outro, observa-se o cenário de pandemia que permitiu perceber a necessidade da escola na vida da criança, diante disso questiona-se: Qual a importância da família na educação infantil, pós pandemia? Após a pesquisa conclui-se que a presença dos familiares no dia a dia, não somente no momento de lazer, mas na participação diária na vida dos filhos, é extremamente importante para o desenvolvimento infantil, contudo não anula a educação básica formada nas escolas, um complementa o outro, a necessidade e motivação atual deve estar focada em ambos esforçarem para reaver o conteúdo defasado, com base na proposta comum para cada etapa educacional na vida das crianças.
PALAVRAS-CHAVE: Criança, Família. Educação, Pós-Pandemia.
1 INTRODUÇÃO
A aprendizagem é um processo contínuo, desde o nascimento até a morte o ser humano vive em constante evolução, de acordo com Gagné o aprendizado é uma alteração da capacidade do indivíduo que não pode ser estática, está em evolução de acordo as vivencias e experiências, não apenas pelo simples processo de crescimento. (GAGNÉ,1974)
É do conhecimento comum que as crianças encontram seus primeiros modelos a seguir, dentro da família, seus referenciais de escolhas e atitudes partem do que veem em seu espaço diário. É fundamental que as famílias reconheçam o valor em todos os momentos da vida de seus filhos, por meio do comprometimento, envolvimento, colaboração e atenção aos problemas cognitivos e comportamentais que surgem para intervir quando necessário, mesmo quando o necessário é estabelecer limites.
Contudo com a evolução dos tempos e meios de trabalho a família foi deixando as crianças em centros de apoio familiar para que os responsáveis pudessem trabalhar e conseguir meios de custear as despesas familiares e decorrente a isso, as crianças ainda muito novas, passavam boa parte do dia em contato com outras crianças e adultos, formando traços compartilhados diariamente uns com os outros.
A Educação Infantil, anteriormente, foi criada para atender a essas mudanças sociais, principalmente com as mulheres entrando no mercado de trabalho e tendo que pensar onde os filhos poderiam ficar enquanto trabalhavam. No entanto, documentos legais foram elaborados ao longo dos anos, por exemplo a Lei Diretrizes e Bases (LDB/1996) que definiu a educação infantil como o primeiro nível de educação básica, abrangendo crianças de 0 a 5 anos em creches e pré-escolas. Portanto, a partir desta fase a criança teve momentos de interação e socialização com intenções educativas e pedagógicas.
As escolas por sua vez, são locais onde ocorre a interação professor-aluno, propiciam o acesso ao conhecimento formal sobre um determinado contexto cultural e são instrumentos no processo educacional. Contudo, sabe-se que a aprendizagem da criança não ocorre apenas no ambiente escolar, existindo outros referenciais que não devem ser esquecidos ou negligenciados nesse processo.
Como instituição social, a escola deve ser especializada para a educação, estar à disposição das famílias e das crianças e proporcionar atividades e programas culturais e educativos. Para Piletti (2004) nem sempre as experiências de cunho social fazem parte do currículo escolar, a ênfase é, em última análise, parcialmente limitada às questões do desenvolvimento infantil e não é considerada como uma entidade social e cultural historicamente contextualizada.
E tendo em vista os aspectos sociais e culturais, que não podem ser ignorados, cabe mencionar as realidades e limitações humanas, os avanços e tecnológicos, as políticas e fatores econômicos que influenciam a vida do ser humano como um todo, um fato recente que pode ser mencionado foi a pandemia, que afetou a muitas pessoas e de diferentes modos impactou a sociedade. Este período entre os anos de 2020 e 2022, decorrente do vírus COVID-19, foi um momento em que muitas famílias necessitaram ficar em casa para evitar a transmissão e contágio do vírus, os sintomas e riscos maiores, comércios e instituições sofreram para preservação do distanciamento e isolamento da população.
As soluções comuns para a manutenção dos meios sociais, nesse momento, foram reuniões digitais, com a utilização de dispositivos eletrônicos para encontros virtuais e um setor que necessitou de adaptação especial foi a Educação, que sofreu grandes impactos durante essa fase, contudo essa adaptação não aconteceu de forma célere, como se esperava, isso agravou o desenvolvimento escolar de toda uma geração.
Nesse período as famílias tiveram que intervir e acompanhar diretamente na educação de seus filhos e suas casas, que antes era lugar de lazer e descanso, tornou-se um ambiente de estudo e esforços para manutenção do conhecimento.
E agora, início de 2023, as rotinas de trabalho, convívio social e estudos retornaram aos moldes anteriores a pandemia, contudo há muitas áreas com defasagens que necessitam de recuperação, readaptação e organização com as novas técnicas que outrora estavam em utilização, a Educação Infantil é uma área que chama bastante atenção no momento.
Pensando nisso, o objetivo deste trabalho foi fazer um levantamento bibliográfico para identificar e destacar a importância da família na aprendizagem e desenvolvimento das crianças, como base de apoio, compreensão, atenção e carinho após a pandemia.
Este estudo representa a pesquisa bibliográfica como base teórico-metodológica para aprofundar o tema proposto por meio do estudo de livros, sites e artigos científicos.
2 DESENVOLVIMENTO
A educação infantil é uma etapa muito importante no desenvolvimento da criança, conforme Pacievich (2022), ela gera o impulso à descoberta e enriquecimento de novos conhecimentos, psicológico (construção mental do indivíduo), intelectual (capacidade de pensar), social (interação com os outros). Grande parte do processo de ensino e aprendizagem tem origem no ambiente em que a criança vive portanto, torna-se influenciada pela escola, pelo lar e pelo ambiente social.
Aprender é um processo de construção e observação e a família tem um papel muito importante quando se fala em educação infantil. Segundo Oliveira (2014), as crianças com envolvimento parental tendem a ser mais positivas com maior desempenho e desenvolvimento escolar do que as crianças sem essa criação, pois as experiências que as crianças vivenciam no ambiente doméstico são alicerces para o processo de desenvolvimento.
Fernandez 2004 afirma que, para aprender, a pessoa usa seu organismo, corpo, inteligência e desejos individuais herdados, e que a aprendizagem começa no útero. Na aprendizagem sistemática, as crianças são estruturadas em ordem do que já sabem para o que é novo, aumentando a dificuldade. Por isso, é muito importante considerar o conhecimento prévio do aluno para desenvolver uma aprendizagem significativa.
Para Barros (1998) a aprendizagem escolar segue um processo de assimilação de conhecimentos específicos e comportamentos físicos e mentais, organizados e orientados no processo de ensino. Os resultados da aprendizagem se manifestam em modificações nas atividades externas e internas do sujeito, em relação ao ambiente físico e social.
A escola precisa propiciar meios para a construção do conhecimento e promover o desenvolvimento do aluno, especialmente na primeira etapa da educação infantil que tem a finalidade de desenvolver integralmente a criança. A família e a escola precisam buscar sempre um ambiente saudável para a criança e estimulando a sua educação e aprendizagem, pois a qualidade da educação infantil depende cada vez mais da parceria entre família e escola.
Para Souza (2009) a boa relação entre família e escola precisa estar presente em qualquer trabalho educativo, pois é a ação conjunta, orientando e discutindo sobre variados assuntos para a definição dos meios de ação, que pode proporcionar o bom desenvolvimento e desempenho social e escolar da criança.
Ainda sobre escolas, o conhecimento não é adquirido apenas pelos educadores, a aprendizagem é uma atividade compartilhada, podendo e deve haver espaço para a colaboração entre os alunos, defende Vygotsky (1998).
Nessa visão, nota-se que a educação não se aplica apenas ao espaço das escolas e professores, mas envolve a sociedade em geral, os professores e demais profissionais, de modo direto e indireto que atuam no processo educativo, trabalhadores escolares, alunos e suas famílias (Moraes et al., 2021).
Historicamente, criar e educar os filhos era responsabilidade exclusiva da família. As crianças eram instruídas pelos adultos e aprendiam as regras e tradições culturais de cada família. Assim, a interação e a socialização da criança aconteciam por meio dos membros adultos de sua família, bem como em ambientes públicos e religiosos. No entanto, com a pesquisa e discussão sobre os direitos da criança e as mudanças na sociedade atual mencionadas acima, as crianças agora têm o direito de participar de ambientes que proporcionem interação e socialização entre pares. Portanto, como diz DIDONET (2001): falar de creche e educação infantil é mais do que falar de instituições, suas potencialidades e carências, suas necessidades sociais ou sua importância educacional. Trata-se de crianças, de um ser humano.
Nesse sentido, surgiram no Brasil algumas instituições de caráter filantrópico e assistencialista. Diferente dos países europeus, no Brasil, os primeiros de centros assistenciais de creches, asilos e orfanatos surgiram com o intuito de auxiliar as mulheres que trabalhavam fora de casa e as viúvas desamparadas, salienta Paschoal e Machado, (2009).
Segundo Mello e Sudbrack (2018), as creches e os orfanatos visavam atender crianças de baixa renda por meio de práticas voltadas ao atendimento de necessidades básicas como higiene e alimentação. A educação não tinha base legal e as crianças eram mantidas apenas por meio de programas de ajuda e saúde. Porque a política pública inicialmente se concentrava apenas na educação primária e era regida por economias capitalistas e neoliberais.
Ocorreu então, um movimento de Reconhecimento da importância da educação infantil em documentos oficiais que ajudaram a trazer destaque para esse nível de ensino, dentre eles:
- O Artigo 208, inciso IV, da Constituição Federal (CF) de 1988, aponta a Educação Infantil como “um dever do Estado e um direito da criança”;
- Lei nº 8.069/1990, artigo 54, inciso IV, do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) assegurando o direito da criança como nova construção de valorizar a criança: criança que tem o direito de ser criança, com direito à vida, à liberdade, à saúde, à alimentação, à dignidade, ao respeito, à educação, ao esporte, ao lazer, à cultura, e à convivência familiar e comunitária;
- Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº 9.394/1996, que visava a Educação Infantil como o primeiro nível da Educação Básica, voltada para o desenvolvimento integral da criança até 6 anos de idade;
- Base Nacional Comum Curricular (BNCC) de 2018, Documento normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagem básica que todos os alunos devem desenvolver nas etapas e modalidades da educação básica.
Esses documentos são consensuais quanto à necessidade de uma educação infantil que promova a integração das dimensões física, emocional, emocional, cognitiva e social da criança. Em um conceito mais amplo, cuidar é entendido em termos de proteção, saúde e nutrição, incluindo a necessidade de afeto, interação, estimulação, segurança e brincadeiras que permitam a exploração e a descoberta.
Segundo Silva (2017), a família é o primeiro contato da criança após o nascimento, sendo o fator socializador mais importante na vida do sujeito, influenciando sobremaneira a construção de sua identidade. Como intermediário entre o sujeito e a sociedade, a instituição infantil e familiar deve se relacionar e interagir para garantir que a criança tenha um desenvolvimento integral.
É importante ressaltar as singularidades de cada família, com regras próprias, ao contrário do ambiente escolar, o papel da família não substitui as instituições infantis, atentando ao contexto de isolamento social, em que as crianças vivenciaram aulas remotas, tendo seus pais como educador responsável. Concordando com Araújo e Freitas (2010, p. 13), “Montessori (1983) sempre afirmou a importância do ambiente familiar em suas atividades educativas para atender adequadamente o desenvolvimento da criança”.
Diante de algumas mudanças que as condições culturais, sociais e econômicas trouxeram para o sistema familiar, a família continua sendo o alicerce fundamental para o desenvolvimento, construção e cultura das identidades infantis na sociedade conforme afirma Leite e Carvalho (2018). A família atua como intermediária entre o sujeito e a sociedade, permitindo que a criança aprenda a perceber o mundo e se posicione como sujeito ativo.
O convívio dos pais e familiares com os professores, alguns minutos de conversa entre educadores e familiares ao início ou final das aulas, são momentos importantes para construção do futuro da criança, a presença dos familiares no dia a dia da criança auxilia no acolhimento e acompanhamento de sua história de vida, seus desafios, vitórias, perdas e conquistas, os pais aprendem a ser inclusivos também, passam a conviver, a ter empatia as diferenças humanas, em contato com outros pais, filhos e professores.
É importante ressaltar que família se refere a todos os responsáveis pela criança, respeitando a estrutura familiar em que a criança está inserida, e as escolas devem se preparar para interagir e dialogar com os novos modelos. Famílias monoparentais, famílias com pais separados, famílias biparentais, famílias reconstituídas, famílias com casais homoafetivos famílias com filhos adotivos, em todos os casos deve haver relações de respeito em prol da educação da criança com colaboração de todos. Além disso as famílias estão com vida cotidiana mais agitada, e agitada de modo que o tempo e o lazer em casa são dedicados à recreação, as experiências com os filhos se tornam menos flexíveis e o valor de uma família solidária na criação dos filhos diminui.
Para isso, é importante que as famílias sejam sensibilizadas para as propostas educativas da escola, que sejam convidadas a participar no desenvolvimento e implementação deste projeto. Esta é uma ação que aproxima as famílias à escola e diminui as barreiras existentes. Por exemplo, as escolas podem fornecer aos pais informações e conceitos básicos sobre o desenvolvimento de seus filhos. Orientar os pais a educarem seus filhos sobre conteúdos e conhecimentos acadêmicos. Proporcionar oportunidades de troca de informações e realizar atividades conjuntas entre pais e professores em reuniões estruturadas.
Nessa perspectiva, uma instituição de educação infantil deve ser um ambiente que favoreça o aprendizado e a interação social e amorosa e compartilhe com as famílias o objetivo de inserir a criança no mundo da cultura.
É notório que o conceito de família mudou à medida que a sociedade mudou, e isso teve um impacto direto na relação entre famílias e escolas. Agora, com o cenário de pós pandemia, quando o ensino esteve à distância, as famílias tiveram que lidar com essa situação e ‘assumir’ o papel de escolas internas de acordo com as diretrizes da educação infantil.
Entre 2020 e 2022, ocorreu um problema mundial que afetou diversas cadeias produtivas mundiais, a propagação do vírus COVID-19, ligado a sintomas de Síndrome Respiratória Aguda, e desde então, a vida mudou praticamente em todo o mundo, o ritmo nas cidades mudaram, as ruas e locais de reunião pública ficaram vazios, salas de aulas vazias, algumas atividades foram suspensas, lojas fechadas, pessoas perderam seu emprego de repente.
A quarentena foi imposta a pessoas assintomáticas doentes e “saudáveis” e foi uma medida extrema de isolamento obrigatório para evitar a propagação da doença. A prática de quarentena visa afastar os pacientes de outros pacientes, termo utilizado desde os tempos antigos escritos pelos chamados hipocráticos.
Enquanto a Organização Mundial de Saúde estava em alerta, realizava várias pesquisas e estudos a respeito das vacinas e métodos eficazes para conter os sintomas ou apenas evitá-los que surgissem, muitas famílias se uniam como podiam em suas residências, para conseguir conter o vírus e garantir sua sobrevivência, algumas pessoas permaneciam em trabalhos externos, como profissionais da saúde, militares, pesquisadores, dirigentes, dentre outros, mas muitos profissionais que conseguiam realizar seu trabalho remotamente, deveriam tentar pelo menos.
Todo contato humano extraordinário as condições restritas, exigia-se o teste nasológico, com essa fragilidade visível em todos os jornais, diariamente, desde a primeira até quarta onda de surtos e sintomas, Nardi et al. (2020) cita que ocorria o aumento do sofrimento psicológico e doenças mentais, seja pelos contágio do vírus ou não, muitas pessoas apresentavam quadros de ansiedade, depressão, desesperança e isso afetava também as crianças, pois em suas residências elas deveriam adotar as mesmas medidas, vivenciavam notícias de falecimento ou internação de algum familiar ou de vizinhos, amigos, isso já causava desconforto, desanimo.
Nesse contexto, as crianças e os jovens não foram os protagonistas das atenções, pois o total de pessoas acometidas pela Covid-19, os casos diagnosticados em crianças e adolescentes variaram em 1%, apresentando sintomas leves. No entanto, conforme Nardi et al. (2020), quando se observa para a saúde mental, os mais jovens são um grupo particularmente vulnerável durante surtos de doenças infecciosas, diretamente afetados por bloqueios, o estresse dos pais, crises econômicas, doenças familiares, ensino à distância, falta de atividade física, distanciamento dos amigos podem afetar a vida de crianças e jovens, causando alterações no funcionamento mental e, por fim, levando a transtornos mentais são alguns dos possíveis fatores.
Sinais de estresse leve são mudanças leves ou temporárias no comportamento as crianças por exemplo, podem expressar medo, ansiedade e raiva sobre as situações, ligeiras alterações na impaciência, resistência, padrões de sono e apetite. Os pais têm um papel fundamental no desenvolvimento da criança, reconhecendo esses sinais e ajudando a criança a identificar, processar e lidar com situações estressantes.
Para Tânia Resende, professora UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e coordenadora do Observatório Sociológico Família-Escola (OSFE), explica que a suspensão das aulas presenciais levou a uma infinidade de cenários: desde um aprofundamento do contato com a família e interação com a escola, até o caso de outras famílias em situações mais extremas, que não tiveram os meios de manter o acompanhamento online e cujas escolas não conseguiram criar alternativas.
Nardi et al. (2020) apresenta uma pesquisa feita entre um grupo de quase 100 especialistas, dirigentes de alto nível, representantes de ONGs, investidores, CEOs e outros líderes empresariais, de todos os continentes, incluindo acadêmicos, discutiram e propuseram áreas-chave do ‘novo normal’, efeito da pós pandemia. Neste documento e em vários outros, relata claramente a tendência para o trabalho remoto é uma realidade inevitável adotada pela maioria das empresas, e a passagem para residências mais confortáveis nas proximidades das grandes cidades. Isso obviamente altera alguns outros aspectos, como a morfologia da locomoção humana nesses grandes centros e polos comerciais e a escolas como local fundamental da vida de um ser humano já se preparam para um modelo de educação híbrida.
Há diversas interpretações de como incluir métodos digitais ao dia a dia contemporâneo, o foco não se limita ao método somente e sim no efeito que causou e pode continuar causando com decorrer do tempo, Vládia Maria Eulálio Raposo Freire Pires, que trabalha na Secretaria Municipal de Educação de Campina Grande (PB) como supervisora pedagógica e formadora de professores da Educação Infantil, relata: “Eu vi professores dialogando com pais, acolhendo situações diversas, pensando em como, mesmo no híbrido, a gente poderia tentar fazer encontros em pequenos grupos. Senti que foi uma aproximação muito grande com a família”.
Como as crianças vivenciaram a educação por bastante tempo de forma digital, em casa, com seus familiares por perto durante muitas horas do dia, com horários de sono, lazer e estudos desajustados ao padrão antes da pandemia, há outros desafios a serem enfrentados, só o fato delas voltarem a participar, interagir, conviver com outras crianças, trocarem experiencias, isso já torna um precursor de grandes avanços na sociedade futura.
Seguindo essa visão de convívio Vládia declara: “Estamos tentando mostrar que o melhor que eles (educadores) podem fazer pelas crianças é permitir que elas interajam, que brinquem nos ambientes externos. Isso não quer dizer que é sem planejamento e que não vai haver aprendizagem. Pelo contrário, a gente vai dar a elas o direito de aprenderem como precisam aprender: por meio da brincadeira, da interação, da exploração dos espaços externos, da liberdade na escolha de materiais”.
Laís Michelle de Souza Araújo Bandeira, professora da EM Professora Maria Lúcia de Macedo Leite, em Nísia Floresta (RN) diz: que o início do ano letivo presencial para turma do 1º ano do Ensino Fundamental, ocorreu dos pais estarem ansiosos, inquietos a ponto de perguntarem a professora o porquê de não enviarem atividade para casa, mas ela estava focada em mapear a turma, a ponto de perceber que as crianças não identificavam as letras e era preciso apresentar o alfabeto como se fosse a primeira vez. As crianças ainda pediram para brincar de massinha, o que não era muito comum no Ensino Fundamental, mas a professora entendeu que era um momento de recriar o acolhimento de resgate do Ensino Infantil.
Esses relatos reforçam a necessidade da criança em brincar, em aprender, de interagirem com outras crianças diferentes, seja com brinquedos ou atividades físicas e lúdicas, sabendo conviver com as diferenças, o pós pandemia trouxe reflexos negativos quanto a aprendizagem, há defasagens que necessitam ser reparadas na educação e demais setores da sociedade, entretanto a adaptação é um sinal positivo, para a evolução, a utilização de ferramentas digitais não são impedimento para o ensino, pelo contrário são facilitadores para conexões mais ágeis, além de ser mais um meio de ensino para interações e possíveis descontrações entre crianças e os adultos.
A responsabilidade da escola é identificar as conquistas e dificuldades dos alunos, bem como manter o diálogo de como a criança está desenvolvendo e apresentar propostas de melhoria, quando aplicável, para os familiares, mantê-los atualizados sobre o andamento dos trabalhos, informando a metodologia utilizada para a aprendizagem dos alunos, priorizando sempre o bem-estar dos alunos e de cada indivíduo.
A aprendizagem também depende dos recursos de cada criança, estando dentre estes a linguagem corporal, a oposição, a imitação, o faz-de-conta (Brasil, 1998). Portanto, considera-se essencial envolver as crianças em atividades manuais, pois as elas aprendem a partir de atividades determinadas pelas ações/atos intencionais, dirigidas/mediadas do professor (Vygotsky, 1998).
Nesse contexto, podemos distinguir o que é cuidar e educar: segundo Mattos (2005), cuidar significa: Faça o que precisa ser feito para evitar que algo de ruim aconteça a uma pessoa ou coisa: Cuide, trate – Os pais cuidam dos filhos. Cuidar de uma criança na escola não tem nada a ver com educar de uma criança na escola. Porque, segundo o dicionário, cuidar significa tomar conta, proteger, e educar significa ensinar academicamente e ensinar o indivíduo para a vida.
Para a criação dos filhos não basta apenas o amor, não basta apenas pagar as melhores escolas para eles, apenas sustentar, se não se envolverem com a preparação deles, sem a participação autêntica na educação com afeto responsabilidade social, sem o respeito com os colegas, professores dos filhos. Os pais devem buscar conversar, conhecer os filhos, trocar experiencias com pessoas que tenham o mesmo propósito de educação, mais humanizada dos filhos.
“Ninguém luta contra as forças que não compreende, cuja importância não mede, cujas formas e contornos não discerne” disse Paulo Freire (1979, p. 22). As famílias e os educadores devem aprender a adaptar-se e vencer a nova realidade exposta, pós pandemia, diante das limitações e excessos, cada um executando seu papel, em prol do desenvolvimento das crianças, tornando-os jovens mais resistentes as dificuldades e capazes de tornar uma sociedade mais empática e equilibrada dia após dia.
3 CONCLUSÃO
Por meio de pesquisa bibliográfica, este artigo identificou a importância do envolvimento e conscientização da família no desenvolvimento infantil, a força motivadora e os benefícios que a relação família/escola gera para seus filhos, fortalece a criança, tornando-a mais segura, amigável, confiante e confortável, refletindo em seu rendimento escolar positivo progressivo.
Por momentos, contrapôs a noção de que muitas famílias sustentavam que as instituições educacionais por si só cumpriam seu papel na educação foi desmentida pelas frequentes críticas, quando o fato é que as mudanças sociais pressionam os pais à outras realidades, e não estavam cumprindo seus deveres, o lugar que ocupam na formação do indivíduo.
Demonstrar afeto e amor é de extrema importância para todo ser humano, por isso os pais precisam estar presentes para seus filhos e dedicar um tempo para desenvolver um relacionamento emocional e positivo com eles. O tempo livre para a família é fundamental para o desenvolvimento saudável da criança, mas a vida profissional dos pais está roubando cada vez mais seu tempo e o acesso e apoio de que seus filhos precisam no ambiente doméstico.
As instituições educacionais, por sua vez, diante da pandemia da Covid-19, readaptou seus métodos de ensino em especial a educação infantil se tornou uma arena de lutas sociais e políticas para garantir os direitos das crianças e adolescentes. Durante esse tempo de isolamento social essas instituições redefiniram a etapa educativa por meio remoto, desconsiderando por momentos, as especificidades e limitações da educação infantil. E as famílias tiveram o protagonismo nessa função de readaptação, para inclusão da criança na forma do saber, auxiliando os educadores na instrução do conhecimento.
Diversos eventos ocorreram nesse período que impactou muitas famílias, negativamente, contudo as medidas sanitárias e vacinas, esforços das famílias quanto a educação, manutenção dos ensinos, ainda que a distância, a colaboração mútua durante o isolamento, foram surtindo efeitos positivos na sociedade, até que chegassem os tempos atuais e a população voltasse a interagir de modo que outrora viva.
Diante disso pode concluir neste artigo que a família e a escola são aliados fundamentais para o alcance do desenvolvimento na vida da criança e adolescente, o trabalho contínuo em conjunto gera progresso na sociedade. Seja a família ou a escola, entes próximos a criança, cada um deve assumir seu papel com qualidade, pois estão envolvidos na história de indivíduos, que estão inseridos em uma comunidade, cidade, estado e país, não são apenas um, é a construção de uma sociedade no futuro, que com trabalho eficaz, pode tornar uma sociedade melhor.
Portanto o tema abordado neste artigo tem uma amplitude em seus desmembramentos e com essa pesquisa, foi possível entender a relevância que ela tem, não se trata apenas de um aluno, ou uma criança, trata-se da relação da formação do caráter e educação para toda uma geração.
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