REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202507211915
Leliane Maria Barroso Pantoja1
Jaqueline Mendes Bastos2
RESUMO
A contação de histórias surge como uma prática pedagógica significativa, pois contribui para o desenvolvimento da linguagem, da imaginação, da criatividade e da memória dos pequeninos. A educação infantil é uma etapa fundamental para o desenvolvimento integral da criança, sendo o momento onde se formam as bases cognitivas, emocionais e sociais para a vida. Nesse contexto. Este artigo tem como objetivo analisar a importância do uso da metodologia Contação de História na educação infantil, ressaltando seu papel como um processo de reafirmação da memória e como ferramenta essencial no processo de ensino e aprendizagem. Como metodologia para elaboração deste artigo, utilizou-se de uma investigação bibliográfica, tendo como foco a análise de diversas literaturas dentre as quais destaca-se Ribeiro (2013) e Freire (2005); os resultados proporcionaram a ideia de que a contação de histórias é uma forte alternativa para elevar o desenvolvimento dos alunos à sua progressão educacional.
Palavras chave: Educação Infantil; Contação de história; Processo de ensino e aprendizagem.
INTRODUÇÃO
A contação de histórias é uma prática ancestral que atravessa culturas e tempos, e que permanece atual e essencial no contexto da Educação Infantil. Mais do que uma atividade lúdica, contar histórias é um ato pedagógico que contribui significativamente para o desenvolvimento da linguagem, da imaginação, das emoções e da memória da criança.
Na Educação Infantil, a contação de histórias ultrapassa o simples entretenimento. Ela se configura como uma prática educativa fundamental que estimula a escuta atenta, o gosto pela leitura e o desenvolvimento da oralidade. Ao ouvir histórias, as crianças ampliam seu repertório linguístico, desenvolvem a empatia e aprendem a organizar o pensamento de forma sequencial e lógica, Ribeiro (2013). O professor, como mediador do conhecimento, utiliza a narrativa para despertar o interesse das crianças e criar um ambiente propício à aprendizagem significativa.
Nesse sentido o estudo vem fazer uma abrangente abordagem a respeito do entendimento da relação da contação de história dentro da educação infantil, sendo assim o artigo traz como objetivo geral: Analisar a importância da contação de histórias na Educação Infantil como ferramenta pedagógica que contribui para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social das crianças, reafirmando a memória como elemento fundamental no processo de ensino e aprendizagem.
A contação de histórias é uma prática milenar que, ao longo do tempo, tem se mostrado essencial para a formação cultural e emocional dos indivíduos, especialmente das crianças. Na Educação Infantil, esse recurso pedagógico adquire um papel ainda mais significativo, pois atua diretamente no desenvolvimento da linguagem, da imaginação, da empatia e da capacidade de escuta e interpretação.
Contar histórias não é apenas entreter, mas possibilitar experiências que contribuem para a construção da memória e da identidade das crianças, além de promover a aprendizagem de forma lúdica e significativa. Ao ouvir narrativas, as crianças estabelecem conexões entre o real e o imaginário, entre o passado e o presente, fortalecendo suas referências culturais e sociais.
APRENDIZAGEM INFANTIL NA LDB 9394/1996
Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394/1996, em seu artigo 3º, todos têm direito a uma educação de qualidade, com igualdade de oportunidades. Com base nesse princípio, é essencial que a escola organize e planeje suas aulas de forma a proporcionar bem-estar aos alunos, assegurando uma formação sólida desde a Educação Infantil. Oferecer acesso ao ensino desde os primeiros anos significa construir as bases necessárias para o desenvolvimento integral do estudante ao longo de sua trajetória escolar.
Segundo o artigo 29 da LDB, “a educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até os cinco anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade” (BRASIL, 1996). Esta definição aponta para uma concepção ampliada de aprendizagem, que vai além do ensino de conteúdos escolares, valorizando as experiências, brincadeiras e interações que contribuem para o crescimento da criança em sua totalidade.
A aprendizagem na infância, de acordo com o que preconiza a LDB, deve ocorrer em ambientes educativos como creches e pré-escolas, que respeitem os tempos e ritmos de desenvolvimento das crianças. A LDB reforça o direito da criança à educação de qualidade desde os primeiros anos de vida, rompendo com uma visão assistencialista da infância que historicamente predominava nas instituições voltadas à primeira infância.
A LDB também destaca a importância de práticas pedagógicas adequadas e planejadas. O artigo 31 afirma que “na educação infantil a avaliação far-se-á mediante acompanhamento e registro do desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental” (BRASIL, 1996). Isso mostra uma ênfase na observação contínua da aprendizagem e no respeito ao tempo individual de cada criança, evitando a padronização de processos e o uso de instrumentos avaliativos tradicionais inadequados para essa fase da vida.
Essa abordagem está em consonância com os estudos de autores como Vygotsky (1991), que afirma que o aprendizado na infância ocorre por meio da interação social, sendo a brincadeira uma atividade fundamental nesse processo. Segundo ele, “é no brincar que a criança aprende a agir na esfera do significado, desvinculando o objeto do significado usual e atribuindo-lhe um novo” (VYGOTSKY, 1991, p. 121). Essa visão dialoga diretamente com os princípios da LDB, que ao valorizar o desenvolvimento integral da criança, reconhece o lúdico e o simbólico como centrais no processo de aprendizagem.
A educação infantil deve ser compreendida como um espaço de socialização, de construção de identidades e de significados sobre o mundo, que respeite as especificidades da infância e assegure às crianças experiências que contribuam para o seu desenvolvimento integral, nas dimensões física, afetiva, intelectual, linguística, moral, ética e estética” (BRASIL, 2010, p. 13)
Além disso, a LDB reafirma o papel dos profissionais da educação infantil como mediadores fundamentais no processo de aprendizagem. Conforme o artigo 62, é exigida formação mínima em nível médio, na modalidade normal, para a docência na educação infantil, sendo preferencial a formação superior em curso de licenciatura. Essa exigência visa garantir que os educadores tenham a formação adequada para compreender as especificidades do desenvolvimento infantil e para planejar práticas pedagógicas intencionais e significativas.
Nesse sentido, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, baseadas nos princípios da LDB, enfatizam que o currículo da educação infantil deve respeitar “os saberes e as experiências das crianças, suas múltiplas linguagens, o brincar, o cuidar e o educar como ações indissociáveis” (BRASIL, 2010). Isso significa que a aprendizagem não é vista apenas como aquisição de conhecimentos formais, mas como um processo que se constrói nas interações, no brincar, na escuta e na valorização do cotidiano das crianças.
Portanto, a LDB 9394/1996 representa um avanço significativo ao estabelecer diretrizes que reconhecem a infância como uma etapa fundamental do desenvolvimento humano. Ela rompe com práticas excludentes e homogêneas, promovendo uma educação voltada para o respeito à diversidade, à ludicidade e à singularidade de cada criança. Dessa forma, consolida-se uma compreensão da aprendizagem infantil como um processo complexo, interativo e profundamente humanizador.
É visível que a criança precisa de liberdade para se desenvolver criativamente em sala, é dever do professor oportunizar para esse aluno momentos de debates a respeito da história contada. Ainda a respeito da importância de se permitir a reflexão da história, Bettelheim (2003), coloca que quando os contos estão sendo lidos para a criança em sala de aula estás parecem ficar fascinadas.
O Art. 29, Seção II, Capítulo II, Título V da Lei de diretrizes e Bases da Educação-Lei nº9.394 de 1996, destaca que:
A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até os seis anos de idade, em seus aspectos: físicos, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.
Seguindo essa premissa fica claro a grande influência da leitura nesse processo de ensino ao ensino fundamental, segundo o Paulo Freire (2005), o ato de ler não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas se antecipa e se alonga na inteligência do mundo.
A leitura pode levar até o aluno de educação infantil, a realidade dele na forma de história ou mostrar como esse lugar deveria ser e também recriar momentos importantes de nossas vidas. Ou o professor pode utilizar de obras bem conhecidas as quais fazem parte do folclore nacional e regional, colocando esse aluno a conhecer a cultura, fato de suma importância para o desenvolvimento do mesmo.
É de extrema relevância que o professor reconheça os atributos e especificidades de cada criança dentro de sua turma, a pensar em brincar pode ser um momento que o professor tem para imergir sua metodologia e seus conteúdos em meio a distração. MOYLES 2006, deixa claro que: “O comportamento de brincar é uma maneira útil de a criança adquirir habilidades desenvolvimentais sociais, intelectuais, criativas e físicas” (MOYLES,2006).
O ato de contar histórias é concebido por muitos contadores como algo mágico, que envolve crianças e adultos, na mesma energia vital, na mesma intenção de imaginar e de criar, com base no que ouvem, as imagens construídas pela sua voz. […] Para as crianças que ainda não leem, ouvir a narrativa pressupõe um primeiro nível de leitura, em que o ouvinte, conhecendo o enredo da história, passa a imaginar as cenas, as personagens e os detalhes específicos de cada um. (SILVEIRA, 2012. p.169).
A citação de Silveira indica que o ato de escutar histórias torna-se a primeira forma de leitura para crianças pequenas, pois elas aprendem a “ver” mentalmente aquilo que está além das palavras. Esse processo fortalece funções cognitivas como a atenção, a memória e a imaginação simbólica. De acordo com estudos na psicologia histórico cultural, a interação da criança com signos, por meio da linguagem oral, é fundamental para o desenvolvimento dessas funções superiores. Ao ouvir, a criança não apenas reproduz a narrativa, mas transforma as imagens mentais, entrelaçando experiências vividas com a fantasia, resultando em uma elaboração criadora que lhe permite recriar o mundo interno da história.
Além disso, a escuta de narrativas tem um poderoso impacto emocional e social. Como apontam Abramovich e outros pesquisadores, histórias bem contadas despertam um estado de envolvimento afetivo profundo, um “encantamento” que desperta não só a fantasia, mas também promove reflexão crítica e senso de pertencimento cultural. Na esfera educativa, esse ritual de contar e ouvir histórias potencializa o diálogo, a empatia e a construção coletiva de significado, pois a criança conecta o enredo ao seu universo familiar, atribuindo novos sentidos às experiências e reforçando vínculos sociais e culturais.
A Educação Infantil é um espaço privilegiado, onde as crianças estão com a mente aberta e altamente receptiva ao aprendizado. Compreender o universo infantil e educar com sensibilidade e atenção é essencial para o desenvolvimento integral nessa fase. A contação de histórias, nesse contexto, contribui significativamente para o crescimento da criança de forma interdisciplinar, estimulando sua imaginação, criatividade e habilidades sociais. Essa prática favorece o processo de aprendizagem e descoberta, permitindo que a criança se desenvolva como sujeito ativo e participativo no ambiente educativo (RODRIGUES 2013).
Rodrigues (2013), destaca de forma sensível e assertiva a importância da Educação Infantil como etapa fundamental na formação das crianças. Ao reconhecer esse período como um momento em que os pequenos estão com a mente mais aberta ao aprendizado, valoriza-se a necessidade de práticas pedagógicas cuidadosas e intencionais. A contação de histórias é colocada como uma estratégia essencial nesse processo, pois vai além do entretenimento: promove o desenvolvimento da imaginação, da linguagem, da empatia e da interação social.
Nesse sentido também, o mesmo autor ressalta o caráter interdisciplinar dessa prática, o que é extremamente relevante. Ao ouvir histórias, a criança articula conhecimentos de diversas áreas, linguagem, emoções, valores, conhecimentos culturais, o que contribui para sua formação integral. O reconhecimento da criança como sujeito em processo de descoberta e aprendizagem aponta para uma visão pedagógica humanizada e construtivista, centrada no protagonismo infantil.
A contação de história é um instrumento muito antigo e de suma importância no estímulo à leitura e no desenvolvimento da linguagem oral. Sua prática é capaz de estimular o senso crítico, a criatividade, a imaginação, conceitos éticos e morais. Há várias maneiras de se contar história, e em todas elas o narrador deve usar o prazer de narrar, usando estratégias como gestos corporais, entonações sonoras, mímicas, para que assim o ouvinte consiga se materializar na história ouvida (MENDES 2019 p 03)
A citação de Mendes (2019), destaca com sensibilidade e precisão o valor da contação de histórias como prática pedagógica e cultural. Comentar essa passagem nos permite refletir sobre diversas dimensões educativas que ela abrange.
Primeiramente, a citação reforça que a contação de histórias é uma ferramenta ancestral, ou seja, faz parte da tradição oral que atravessa gerações e culturas. Esse aspecto histórico mostra que contar histórias vai além do entretenimento: é um recurso essencial para transmitir conhecimentos, valores e modos de ver o mundo. No contexto da educação infantil e do ensino fundamental, ela se torna uma poderosa aliada no desenvolvimento da linguagem oral e no incentivo à leitura, pois desperta o interesse das crianças pela palavra falada e escrita.
A autora enfatiza que a contação de histórias pode estimular o senso crítico, a imaginação, a criatividade e até valores éticos e morais. Isso ocorre porque, ao ouvir uma narrativa, a criança é convidada a refletir sobre os acontecimentos, as atitudes das personagens e os desfechos, construindo interpretações e posicionamentos. A história, nesse sentido, torna-se um espelho e, ao mesmo tempo, uma janela: reflete experiências internas e possibilita o contato com novos mundos.
Portanto, Mendes (2019), também ressalta a importância do narrador se envolver afetivamente com a história, utilizando entonação, expressões faciais, gestos e mímicas. Essas estratégias não apenas tornam a narrativa mais envolvente, mas também facilitam a compreensão e a conexão emocional do ouvinte com o enredo. Dessa forma, a contação de histórias se transforma em uma experiência viva e significativa de aprendizagem, promovendo vínculos entre linguagem, afeto e conhecimento.
Segundo Cavalcante (2002, apud SILVEIRA, 2012, p16),
[…] ouvir história consiste numa das relações mais prazerosas, satisfatórias de que o homem é capaz. A nossa relação de complementaridade com o eu e o outro está posta aí, numa tentativa maior de preencher as lacunas, de superar os conflitos, e em fim, de nos perceber como um “ser em projeto”, em busca do “prazer-feliz” de uma existência incompleta, mas capaz de criar sentidos, de fazer arte, de transformar o mundo em vários universos em constelações criadoras de magia, de sentimentos vários de humanidade.
Essa citação traz uma profunda e poética reflexão sobre o papel da escuta de histórias na construção do ser humano e na sua relação com o mundo. Ouvir histórias é descrito como um ato essencialmente humano, que vai além do entretenimento: é um encontro com o outro, uma tentativa de compreensão de si mesmo e de superação de conflitos internos e externos.
A ideia de que somos “seres em projeto” é central nessa reflexão. Isso remete à noção de que estamos sempre em processo de construção, incompletos, mas com capacidade de criar sentidos e significados por meio da linguagem, da arte e da imaginação. A escuta da história se apresenta, então, como um espaço simbólico onde o indivíduo se reconcilia com suas faltas, ressignifica experiências e amplia sua visão de mundo.
É visível, a citação valoriza a dimensão estética e afetiva da narrativa, ao afirmar que a escuta de histórias transforma o mundo em “universos” e “constelações criadoras de magia”. Essa metáfora sugere que, ao ouvir uma história, acessamos múltiplas possibilidades de existência, cultivamos sentimentos e desenvolvemos empatia, elementos fundamentais na formação ética e humana.
Portanto, esse trecho nos convida a compreender a escuta de histórias como um ato de humanização, de abertura ao outro e de reconstrução constante de si mesmo, revelando seu imenso valor pedagógico, emocional e existencial. É um chamado para que a contação de histórias seja reconhecida não apenas como técnica didática, mas como expressão profunda da condição humana.
RESULTADOS
Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394/1996, em seu artigo 3º, todos têm direito a uma educação de qualidade, com igualdade de oportunidades. Com base nesse princípio, torna-se essencial que a escola planeje e organize suas atividades de modo a proporcionar o bem-estar dos alunos e garantir uma formação sólida desde os primeiros anos escolares. Oferecer acesso à educação desde a infância é construir as bases do desenvolvimento integral da criança, respeitando seus aspectos físicos, psicológicos, intelectuais e sociais, conforme destaca o artigo 29 da mesma lei. Nesse cenário, a contação de histórias se apresenta como uma prática pedagógica significativa, que favorece o desenvolvimento global das crianças, promovendo aprendizagens que vão além do domínio cognitivo.
É evidente que a criança necessita de liberdade criativa para se desenvolver, e o professor tem o papel fundamental de oportunizar momentos de escuta, reflexão e diálogo a partir das histórias contadas. Bettelheim (2003) já apontava que os contos fascinam as crianças, pois despertam nelas uma escuta ativa e imaginativa. A leitura, portanto, não se resume à decodificação de palavras. Como afirma Paulo Freire (2005), ler é compreender o mundo, atribuindo sentido à realidade a partir da linguagem. Quando o professor utiliza narrativas que dialogam com o universo infantil, como histórias do folclore regional ou temas do cotidiano, ele proporciona ao aluno não apenas o acesso à leitura simbólica, mas também o fortalecimento de sua identidade cultural e do senso crítico.
Além disso, é fundamental que o educador reconheça as especificidades de cada criança, planejando atividades que integrem o brincar, a escuta e a expressão oral como ferramentas pedagógicas. Moyles (2006), afirma que o ato de brincar é um meio essencial para que a criança desenvolva habilidades cognitivas, físicas, sociais e criativas. A contação de histórias, inserida nesse contexto lúdico, estimula a imaginação e convida a criança a reconstruir mentalmente o enredo, as cenas e os personagens. Silveira (2012), reforça essa ideia ao afirmar que, para as crianças que ainda não leem, ouvir histórias representa um primeiro nível de leitura: elas imaginam o conteúdo narrado, atribuindo significados por meio de imagens mentais.
Esse processo de escuta ativa contribui para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores, como atenção, memória e imaginação simbólica, conforme apontam os estudos da psicologia histórico-cultural. A narrativa, ao ser internalizada pela criança, deixa de ser apenas uma repetição da fala do outro e passa a ser um exercício criativo, no qual ela transforma a informação em conhecimento, relacionando suas experiências com a fantasia. Abramovich e outros estudiosos destacam ainda o poder afetivo e social das histórias: elas encantam, envolvem, provocam reflexões e reforçam o senso de pertencimento cultural, fortalecendo vínculos entre o eu, o outro e o coletivo.
Nesse sentido, a Educação Infantil é reconhecida como um espaço privilegiado de abertura para a aprendizagem. Rodrigues (2013), ressalta que educar com sensibilidade nessa etapa é garantir que as práticas pedagógicas sejam intencionais e voltadas ao desenvolvimento integral da criança. A contação de histórias, portanto, assume um papel central nesse processo, por ser uma atividade que integra linguagem, emoção, valores e conhecimentos de diferentes áreas. Ao ouvir histórias, a criança articula conteúdos de maneira interdisciplinar, ampliando sua compreensão de mundo e desenvolvendo-se como sujeito ativo e participativo no ambiente escolar.
Mendes (2019), também destaca que a contação de histórias é uma prática ancestral que estimula o senso crítico, a imaginação e a formação ética das crianças. O narrador, ao utilizar entonações, gestos e expressões, transforma a narrativa em uma experiência sensível e significativa, despertando o interesse pela leitura e pela linguagem oral. Essa prática vai além do ensino formal: ela é uma forma de arte e um instrumento de transformação, que conecta o afeto ao conhecimento e promove vínculos entre as crianças e os conteúdos trabalhados. Já Cavalcante (2002, apud SILVEIRA, 2012), aprofunda essa visão ao afirmar que ouvir histórias é uma das experiências mais prazerosas do ser humano, pois permite que cada um se perceba como um “ser em projeto”, incompleto, mas capaz de criar sentidos, superar conflitos e transformar o mundo em constelações de magia, arte e humanidade. Em síntese, a contação de histórias na Educação Infantil deve ser compreendida como uma prática pedagógica potente, que contribui para o desenvolvimento cognitivo, emocional, cultural e social das crianças. Ela valoriza a escuta, a imaginação, o diálogo e a construção coletiva de conhecimento, inserindo o aluno em um processo educativo mais humano, sensível e significativo. Reconhecer esse valor é assegurar que a escola cumpra seu papel formador desde os primeiros anos de vida, conforme preconiza a legislação educacional e os princípios de uma pedagogia crítica e transformadora. Portanto, a pesquisa aqui abordada possibilitou a conclusão de que a contação de histórias apresenta um leque de colaborações para as crianças e deve ser uma abordagem pedagógica agregada de forma reflexiva e regular nas rotinas de sala de aula. Estima-se que este estudo terá um impacto significativo para o crescimento e aperfeiçoamento do trabalho pedagógico nos contextos da educação infantil.
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1Pedagoga pela Universidade Leonardo da Vinci (UNIASSELVI), Especialista em Educação Infantil e Saberes na Prática Educativa, pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e Especialista em Educação Especial Inclusiva pela Faculdade Educamais (UNIMAIS), Mestranda pela Universidade de Ciências Sociales (FICS).
2Professora Doutora Jaqueline Mendes Bastos