REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202410282118
Marcos Douglas Garcia Costa,
Orientador (a): Dr. Graziano Medeiros Carvalho De Souza
RESUMO
A Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) é um distúrbio respiratório que impacta significativamente a qualidade de vida dos indivíduos, aumentando o risco de diversas condições de saúde, como doenças cardiovasculares e problemas psicológicos. Este trabalho revisa a eficácia da cirurgia ortognática como uma intervenção terapêutica para a SAOS, destacando sua capacidade de melhorar a funcionalidade das vias aéreas superiores e reduzir os episódios de apneia. A análise da literatura revela que pacientes com deformidades dentofaciais, como retrognatia e hipoplasia maxilar, apresentam melhorias significativas após a cirurgia. A abordagem multidisciplinar, envolvendo a colaboração entre odontologia e medicina do sono, é essencial para otimizar os resultados do tratamento. O estudo conclui que a cirurgia ortognática deve ser considerada uma opção valiosa no manejo da SAOS, com a necessidade de mais pesquisas para aprimorar as práticas clínicas e promover um sono reparador.
Palavras-Chaves: Apneia, Apneia Obstrutiva do Sono, Cirurgia Ortognática.
ABSTRACT
Obstructive Sleep Apnea Syndrome (OSAS) is a respiratory disorder that significantly impacts individuals’ quality of life, increasing the risk of various health conditions, including cardiovascular diseases and psychological issues. This study reviews the effectiveness of orthognathic surgery as a therapeutic intervention for OSAS, highlighting its ability to improve the functionality of the upper airways and reduce apnea episodes. Literature analysis reveals that patients with dentofacial deformities, such as retrognathia and maxillary hypoplasia, show significant improvements post-surgery. A multidisciplinary approach, involving collaboration between dentistry and sleep medicine, is essential to optimize treatment outcomes. The study concludes that orthognathic surgery should be considered a valuable option in the management of OSAS, with a need for further research to enhance clinical practices and promote restorative sleep.
Keywords: Apnea, Obstructive Sleep Apnea, Orthognathic Surgery.
1. INTRODUÇÃO
A Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) é um distúrbio caracterizado pela obstrução total (apneia) ou parcial (hipopneia) das vias aéreas superiores (VAS). Este transtorno tem um impacto significativo na vida do indivíduo, aumentando o risco de ansiedade, depressão, perda de memória, doenças cardiovasculares e até acidentes domésticos ou automobilísticos. A SAOS diminui os níveis de oxigênio no sangue, o que pode manifestar-se por sintomas como ronco, agitação durante o sono, pausas na respiração durante o sono, sensação de sufocamento ao acordar, além de condições sistêmicas como hipertensão arterial (Fursel et al., 2021).
A SAOS geralmente ocorre durante o sono REM (Rapid Eye Movement) é uma das fases do ciclo do sono caracterizada por movimentos rápidos dos olhos, aumento da atividade cerebral e sonhos vívidos. Essa fase é crucial para a consolidação da memória e a regulação das emoções, Nessa fase ocorre atonia (o relaxamento muscular) muscular, levando à obstrução das vias aéreas superiores (VAS), resultando em despertares ou micro despertares para restaurar os tônus muscular e eliminar a obstrução das VAS. Como resultado, esses episódios causam fragmentação e superficialização do sono (Basso, 2022).
A Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) é uma condição médica complexa que pode ser abordada por uma variedade de medidas terapêuticas, incluindo intervenções conservadoras. Essas medidas visam não apenas tratar os sintomas associados, como o ronco e as interrupções respiratórias, mas também melhorar a qualidade do sono e a saúde geral do paciente. Entre as opções conservadoras, destacam-se os dispositivos intrabucais, como os retentores mandibulares ou aparelhos de avanço mandibular. Quando corretamente indicados e confeccionados, esses dispositivos ajudam a manter as vias respiratórias abertas durante o sono, reduzindo ou eliminando o ronco e as apneias (Poluha et al., 2016).
Já as intervenções cirúrgicas têm como objetivo ampliar as vias aéreas superiores, incluindo os espaços nasofaríngeo e bucofaríngeo, com o intuito de melhorar ou eliminar completamente a SAOS. É crucial ressaltar que a abordagem ortognática não é um tratamento padrão, pois é eficaz apenas quando a SAOS é causada por deformidades maxilofaciais que afetam a anatomia dos tecidos moles (Rabelo, 2021).
Apesar de ser uma condição médica, o cirurgião-dentista desempenha um papel fundamental no diagnóstico e tratamento da SAOS e de seus sintomas associados. A intervenção terapêutica odontológica abrange desde medidas conservadoras ou cirúrgicas, como as cirurgias ortognáticas (Limberger, 2016).
Este trabalho é justificado pela necessidade de abordar a síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS) de forma abrangente e eficaz, especialmente em casos onde as terapias convencionais se mostram inadequadas. Sendo assim o presente estudo tem por objetivo analisar através de uma revisão de literatura a eficácia da cirurgia ortognática como uma abordagem terapêutica no tratamento da Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono, visando melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
2. METODOLOGIA
Este trabalho trata-se de uma revisão integrativa de literatura, com foco na relação entre cirurgia ortognática e síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS). Foram utilizadas bases de dados como PubMed, Scielo e Web of Science, onde foram selecionados estudos pertinentes dos últimos 10 anos. Uma combinação de termos de busca foi empregada, como “cirurgia ortognática”, “apneia obstrutiva do sono”, e “efeitos da cirurgia ortognática na apneia do sono”, entre outros, garantindo uma busca abrangente.
Foram incluídos estudos experimentais de caso-controle, revisões sistemáticas e meta-análises, com exclusão de estudos não relacionados ao período de 2014 a 2024. A análise detalhada dos estudos selecionados permitiu compreender a eficácia da cirurgia ortognática no tratamento da SAOS, abordando técnicas cirúrgicas, resultados pré e pós-operatórios, e desfechos clínicos, contribuindo para uma abordagem mais embasada e eficaz no manejo dessa condição específica.
3. REVISÃO DE LITERATURA
3.1 Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS)
A Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) é o distúrbio do sono mais prevalente na população. Ela se caracteriza pela ocorrência de cinco ou mais episódios de bloqueio parcial ou completo das Vias Aéreas Superiores (VAS) durante o sono, com duração mínima de 10 segundos. Entre os principais sintomas estão a sonolência durante o dia, ronco noturno, sono agitado e cansaço excessivo, os quais impactam diretamente a qualidade de vida do paciente (Reis et al., 2021).
A SAOS exerce um impacto significativo na qualidade de vida dos pacientes, principalmente devido às alterações respiratórias que ocorrem durante o sono. Essas interrupções na respiração resultam em uma oxigenação inadequada do corpo, causando múltiplos despertares durante a noite, mesmo que o paciente não tenha consciência deles. Como consequência, há uma fragmentação do sono, que reduz sua qualidade e impede que o indivíduo atinja fases profundas e restauradoras do descanso (Cardozo et al., 2024).
Essa condição pode levar a uma série de efeitos negativos ao longo do dia, como sonolência excessiva, cansaço, dificuldade de concentração, irritabilidade e uma maior propensão a acidentes. Além disso, o cansaço crônico pode interferir no desempenho profissional e nas relações sociais. A longo prazo, a SAOS também está associada a um risco aumentado de desenvolver doenças cardiovasculares, como hipertensão arterial, arritmias e até mesmo infarto do miocárdio e AVC, ampliando ainda mais os impactos sobre a saúde e o bem-estar dos pacientes (Pacheco et al., 2024).
A fisiopatologia da SAOS envolve uma série de processos sistêmicos, que estão relacionados à alteração na capacidade de dilatação da faringe devido a mudanças nas forças musculares. Além disso, há uma conexão direta com a anatomia das vias aéreas superiores, como retrognatia, hipoplasia maxilar e micrognatia. Essas alterações resultam em um colapso repetitivo das vias aéreas durante o sono, aumentando a resistência ao fluxo de ar e comprometendo as trocas gasosas. Como consequência, ocorrem dessaturação de oxigênio, aumento nos níveis de dióxido de carbono (hipercapnia), fragmentação do ciclo do sono e sonolência excessiva durante o dia (John et al., 2018).
O diagnóstico da Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) é realizado por meio da polissonografia, considerado o exame padrão ouro. Esse procedimento registra diversos sinais sonoros durante o sono, como a frequência cardiorrespiratória, a atividade cerebral e muscular, a presença de roncos, a saturação de oxigênio e os episódios de interferência das vias aéreas. Esses eventos adversos são quantificados através do Índice de Apneia-Hipopneia (IAH), que avalia o número de eventos respiratórios (Curran et al., 2021).
Estudos recentes classificam a gravidade da apneia obstrutiva do sono com base no número de eventos de apneia-hipopneia por hora: de 5 a 14 eventos indicam nível de apneia, de 15 a 29 eventos leves a apneia moderada, e 30 ou mais eventos caracterizam a forma grave da doença. Essa classificação é fundamental para monitorar a resposta ao tratamento, permitindo uma avaliação precisa do sucesso terapêutico e do controle dos sintomas após a intervenção (Vigneron et al., 2017).
A SAOS é uma condição ainda muito subdiagnosticada e se não for devidamente examinada e tratada pode resultar em danos crônicos à saúde geral do paciente. Por isso exige uma avaliação abrangente do paciente, que deve incluir um exame clínico e físico detalhado, realizado idealmente por um cirurgião dentista especializado. Este exame é fundamental para identificar possíveis anomalias e características anatômicas que podem contribuir para a obstrução das vias aéreas (Panissa et al., 2018).
O tratamento da SAOS é ajustado de acordo com a gravidade da condição. Para casos leves, pode ser recomendada a perda de peso ou o uso de aparelhos intraorais, que ajudam a manter as vias aéreas abertas durante o sono. No entanto, para casos moderados a severos, a cirurgia ortognática de avanço maxilomandibular pode ser uma opção. Essa intervenção cirúrgica não só oferece benefícios estéticos e funcionais, como também visa alterar a dimensão das vias aéreas superiores. Com o avanço dos maxilares, a cirurgia facilita a passagem de ar, contribuindo para uma melhora significativa na qualidade de vida do paciente, promovendo um sono mais reparador e reduzindo os sintomas da apneia (Maahs et al., 2019).
As terapias cirúrgicas desempenham um papel crucial na resolução de casos específicos de Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS). A cirurgia ortognática, especialmente o avanço maxilomandibular, é indicada para pacientes com SAOS severa que apresentam obesidade mórbida, deficiência mandibular grave e saturação de oxigênio abaixo de 70%, além de não terem obtido sucesso com outros tratamentos. Esse tipo de intervenção cirúrgica visa melhorar a anatomia das vias aéreas superiores, promovendo um aumento significativo no espaço aéreo e, consequentemente, aliviando os sintomas da apneia obstrutiva (Poluha et al., 2016).
Dessa forma, estudos indicam que o tratamento da Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) pode incluir abordagens não cirúrgicas, com as escolhas de tratamento baseadas na gravidade do diagnóstico. Estratégias não invasivas podem envolver mudanças no estilo de vida, além do uso de dispositivos de pressão positiva nas vias aéreas, como o CPAP (pressão positiva contínua nas vias aéreas) (Santana et al., 2024).
3.2 Odontologia e Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono
A odontologia do sono é um campo emergente que promove a colaboração entre a medicina e a odontologia, destacando o papel do cirurgião dentista como um agente importante no tratamento de distúrbios do sono. Esse campo evidencia como as habilidades e conhecimentos do cirurgião dentista sobre o sistema estomatognático podem complementar o manejo da via aérea obstruída durante o sono, oferecendo soluções eficazes para questões que os médicos enfrentam. A sinergia entre essas duas áreas permite uma abordagem mais integrada e abrangente no diagnóstico e tratamento de condições como a apneia obstrutiva do sono, melhorando os resultados para os pacientes (Cardozo et al., 2024).
Atualmente, com os avanços na Odontologia do Sono, o diagnóstico da Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) pode ser realizado não apenas por médicos e otorrinolaringologistas, como era feito anteriormente, mas também por cirurgiões-dentistas. Essa evolução reflete a crescente especialização dos cirurgiões-dentistas na identificação e manejo de distúrbios do sono (Schmidt et al., 2019).
Embora a SAOS seja uma condição médica, o cirurgião-dentista desempenha um papel fundamental no diagnóstico e tratamento da doença e dos sintomas associados. O tratamento pode variar desde abordagens conservadoras ou clínicas até procedimentos mais invasivos ou cirúrgicos. Entre as opções conservadoras, destacam-se os dispositivos intraorais, que, quando indicados e confeccionados adequadamente, podem reduzir ou eliminar parcialmente o ronco e a SAOS. Esses dispositivos ajudam a manter as vias aéreas superiores abertas durante o sono, proporcionando alívio significativo dos sintomas e melhorando a qualidade do sono e a qualidade de vida dos pacientes (Poluha et al., 2016).
O cirurgião dentista deve estar capacitado para identificar sinais e sintomas da Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS), que podem se manifestar através de alterações anatômicas nas estruturas intraorais. Ele pode realizar avaliações usando testes como Mallampati e de Epworth. Com base nos resultados, o cirurgião-dentista pode encaminhar o paciente a um especialista para tratamento adicional ou, dependendo da gravidade do caso, iniciar o tratamento apropriado. Essa abordagem permite um manejo eficiente da SAOS e a implementação de intervenções adequadas para melhorar a qualidade de vida do paciente (Martins, 2018).
Dado o impacto significativo da SAOS na saúde ocupacional, social e pessoal dos pacientes, é crucial incentivar pesquisas adicionais para a prevenção e tratamento da condição, especialmente no campo da odontologia. O conhecimento do cirurgião-dentista sobre o diagnóstico precoce da SAOS é de extrema importância. Isso inclui a capacidade de solicitar exames complementares adequados, como radiografia panorâmica, telerradiografia e polissonografia, além de compreender as diferentes classificações da síndrome e implementar medidas terapêuticas assertivas conforme as necessidades individuais de cada paciente (Souza et al., 2023).
O cirurgião-dentista desempenha um papel fundamental na identificação e encaminhamento de pacientes com SAOS. Ele pode reconhecer sinais e sintomas, realizar avaliações iniciais e orientar os pacientes sobre a necessidade de consultar um médico especialista em medicina do sono para uma avaliação mais aprofundada e diagnóstico definitivo. Dada a complexidade e a natureza multifacetada da SAOS, um manejo efetivo geralmente requer uma abordagem multiprofissional, envolvendo colaboração entre dentistas, médicos e outros especialistas para garantir um tratamento abrangente e eficaz (Cardozo et al., 2024).
3.3 Cirurgia Ortognática como solução para síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS)
Com o avanço das pesquisas sobre a Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS), diversos tratamentos foram desenvolvidos para mitigar os distúrbios do sono associados à condição. Esses tratamentos podem ser classificados em quatro categorias gerais: comportamental, farmacológico, clínico e cirúrgico. A escolha do tratamento mais adequado deve ser baseada em uma análise detalhada de cada caso, levando em consideração a gravidade da apneia e suas consequências. Os objetivos dos tratamentos são promover uma ventilação e oxigenação noturnas mais próximas do normal, reduzir ou eliminar o ronco e minimizar a fragmentação do sono, com o intuito de melhorar significativamente a qualidade de vida do paciente (Oliveira et al., 2023).
Dentre os procedimentos cirúrgicos disponíveis para o tratamento da Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS), a cirurgia ortognática é uma excelente opção para pacientes com alterações anatômicas na maxila e mandíbula que causam o estreitamento ou obstrução das vias aéreas superiores. Esse tipo de cirurgia visa corrigir as deformidades estruturais, promovendo um avanço dos maxilares e aumentando o espaço das vias aéreas, o que pode aliviar significativamente os sintomas da apneia e melhorar a qualidade do sono (Ribeiro et al., 2020).
A eficácia do tratamento da Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) pode ser significativamente aprimorada quando a cirurgia ortognática é associada ao uso imediato de biomateriais de reconstrução óssea, como o cimento ósseo de fosfato de cálcio. Esses biomateriais são utilizados para melhorar a estabilidade óssea e garantir a manutenção dos resultados a longo prazo. O cimento ósseo de fosfato de cálcio ajuda a promover uma integração óssea adequada e a acelerar a recuperação pós-operatória, contribuindo para a correção eficaz das alterações anatômicas nas vias aéreas superiores. Essa abordagem não apenas melhora a qualidade dos resultados cirúrgicos, mas também ajuda a assegurar a durabilidade das melhorias obtidas no tratamento da SAOS (Panissa et al., 2017).
De acordo com Ribeiro et al., (2020) a Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) está associada a diversos fatores de risco, que podem levar a problemas de saúde com elevada morbidade. O diagnóstico preciso e o planejamento adequado do caso são fundamentais para a escolha correta dos movimentos cirúrgicos necessários. A cirurgia ortognática combinada tem demonstrado excelentes resultados, alta previsibilidade e eficácia a longo prazo na estabilidade do tratamento da SAOS. Essa abordagem cirúrgica não só melhora a anatomia das vias aéreas superiores, mas também contribui para uma redução significativa dos sintomas da apneia e para a melhora na qualidade de vida dos pacientes.
4. DISCUSSÕES
A relação entre a cirurgia ortognática e a síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS) tem sido amplamente discutida na literatura, com diversos autores apresentando tanto evidências a favor quanto críticas sobre a eficácia desse tratamento. Ribeiro et al. (2020) afirmam que a cirurgia ortognática é uma intervenção eficaz para o tratamento da SAOS, pois corrige anomalias dentofaciais que contribuem para o colapso das vias aéreas superiores durante o sono. Essa correção anatômica é fundamental, uma vez que a obstrução das vias aéreas pode levar a episódios frequentes de apneia, resultando em fragmentação do sono e sonolência diurna excessiva. A cirurgia não apenas melhora a estética facial, mas também promove uma funcionalidade respiratória aprimorada, o que é crucial para a qualidade de vida dos pacientes.
Além disso, Panissa et al. (2017) relatam casos clínicos onde a cirurgia ortognática resultou em melhorias significativas na qualidade do sono e na redução dos episódios de apneia. Esses resultados positivos são frequentemente observados em pacientes que apresentam deformidades estruturais severas, como retrognatia ou hipoplasia maxilar, que são fatores de risco conhecidos para a SAOS. Maahs et al. (2019) também destacam que a correção das deformidades faciais não apenas melhora a estética, mas também a funcionalidade respiratória, sugerindo que a cirurgia ortognática deve ser considerada uma opção viável para pacientes com SAOS que apresentam características anatômicas desfavoráveis.
Por outro lado, Pacheco et al. (2015) levantam questões sobre a eficácia universal da cirurgia ortognática, argumentando que nem todos os pacientes com SAOS se beneficiam igualmente do procedimento. Eles sugerem que a abordagem deve ser individualizada, considerando fatores como a gravidade da apneia, a presença de comorbidades e a anatomia específica de cada paciente. Essa crítica é importante, pois ressalta a necessidade de uma avaliação cuidadosa antes de optar pela cirurgia. A individualização do tratamento é essencial, uma vez que a SAOS pode se manifestar de maneiras diferentes em cada paciente, e a resposta ao tratamento pode variar amplamente.
Adicionalmente, Martins et al. (2018) enfatizam o papel da odontologia na gestão da SAOS, sugerindo que intervenções menos invasivas, como dispositivos de avanço mandibular, podem ser alternativas eficazes para alguns pacientes, especialmente aqueles com apneia leve a moderada. Esses dispositivos são projetados para manter as vias aéreas superiores abertas durante o sono, proporcionando alívio significativo dos sintomas sem a necessidade de cirurgia. Essa abordagem conservadora pode ser particularmente benéfica para pacientes que não apresentam deformidades anatômicas severas, permitindo uma gestão eficaz da condição com menor risco e tempo de recuperação.
A discussão entre os autores revela um espectro de opiniões sobre a cirurgia ortognática no tratamento da SAOS. Enquanto alguns defendem sua eficácia e necessidade em casos específicos, outros alertam para a importância de uma abordagem mais conservadora e individualizada. Essa diversidade de opiniões é crucial para a prática clínica, pois enfatiza a necessidade de uma avaliação abrangente do paciente antes de decidir pela cirurgia. A colaboração entre diferentes especialidades, como odontologia e medicina do sono, é fundamental para garantir que os pacientes recebam o tratamento mais adequado às suas necessidades (Santos et al., 2023).
Além disso, a literatura sugere que a cirurgia ortognática pode ser mais eficaz quando combinada com outras intervenções, como a terapia com pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP) ou o uso de biomateriais para estabilização óssea. Essa abordagem multidisciplinar pode maximizar os resultados do tratamento e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. A integração de diferentes modalidades de tratamento, considerando as particularidades de cada caso, é essencial para o manejo eficaz da SAOS e para a promoção de um sono reparador (Gomes et al., 2024).
A Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) é uma condição que impacta significativamente a qualidade de vida dos indivíduos, e a cirurgia ortognática se destaca como uma intervenção eficaz para o seu tratamento. Evidenciando que a cirurgia não apenas reduz os episódios de apneia, mas também promove um sono mais reparador. Estudos a respeito do tema tem detalhado que pacientes com anomalias estruturais, como retrognatia e hipoplasia maxilar, apresentam melhorias significativas após a cirurgia, refletindo em sua qualidade de vida (De Sousa et al., 2024).
5. CONCLUSÃO
A revisão da literatura evidencia a importância de uma abordagem multidisciplinar no diagnóstico e tratamento da SAOS, destacando o papel fundamental que os cirurgiões-dentistas podem desempenhar na identificação e manejo dessa condição. A cirurgia ortognática se mostra uma intervenção eficaz, especialmente para pacientes com deformidades dentofaciais, proporcionando melhorias significativas na funcionalidade das vias aéreas superiores e na qualidade do sono.
A Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) é uma condição complexa que afeta significativamente a qualidade de vida dos indivíduos, com implicações que vão além do sono, incluindo riscos aumentados de doenças cardiovasculares e problemas psicológicos.
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