THE HISTORY OF COUNTRY EDUCATION IN PARÁ
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11663604
Fabíola Karla Valente da Silva1
Orientador: Renato Pinheiro da Costa2
RESUMO
Este trabalho constitui-se como um recorte da pesquisa de dissertação do Mestrado, em andamento, vinculado ao Programa de Pós-graduação em Currículo e gestão da Escola Básica, que tem como tema central, a história das escolas de Educação do Campo de Belém-PA, sendo que apresento aqui um viés acerca de como se constituiu a história de Educação do Campo no Pará. Nesse contexto, este trabalho analisa a intersecção entre educação rural e movimentos sociais, destacando a importância de políticas públicas inclusivas para as populações rurais. Através de uma pesquisa bibliográfica, discute-se a influência de movimentos como o MST na promoção de uma educação que valoriza os saberes locais e promove a emancipação social. Os desafios enfrentados incluem a precariedade da infraestrutura escolar e a falta de formação adequada para professores, enquanto as perspectivas futuras apontam para a necessidade de um compromisso contínuo com a melhoria das condições educacionais nas áreas rurais. Este estudo busca contribuir para a compreensão das estratégias necessárias para superar os obstáculos existentes e promover uma educação inclusiva e de qualidade para todos.
Palavras-chave: Educação do campo, Movimentos sociais, Políticas públicas, Pará, Inclusão educacional.
ABSTRACT
This work constitutes an excerpt from the ongoing Master’s dissertation research, linked to the Postgraduate Program in Curriculum and Basic School Management, which has as its central theme the history of Education schools in Campo de Belém- PA, and here I present a perspective on how the history of Rural Education in Pará was formed. In this context, this work analyzes the intersection between rural education and social movements, highlighting the importance of inclusive public policies for rural populations. Through bibliographical research, the influence of movements such as the MST in promoting education that values local knowledge and promotes social emancipation is discussed. The challenges faced include the precariousness of school infrastructure and the lack of adequate training for teachers, while future perspectives point to the need for a continued commitment to improving educational conditions in rural areas. This study seeks to contribute to the understanding of the strategies necessary to overcome existing obstacles and promote inclusive and quality education for all.
Keywords: Rural education, Social movements, Public policies, Pará, Educational inclusion.
1. INTRODUÇÃO
A educação do campo no Pará é um tema de grande relevância histórica e social, marcado por desafios e transformações ao longo dos anos. Desde o período colonial, as populações rurais têm enfrentado dificuldades significativas no acesso à educação de qualidade. A falta de infraestrutura adequada, a escassez de recursos e a distância das escolas são apenas alguns dos obstáculos que persistem até os dias atuais. No entanto, a luta por uma educação inclusiva e equitativa tem mobilizado movimentos sociais e políticas públicas que buscam atender às necessidades específicas dessas comunidades.
Os movimentos sociais, em particular, têm desempenhado um papel crucial na promoção da educação do campo. Organizações como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) têm trabalhado incansavelmente para garantir que as populações rurais tenham acesso a uma educação que respeite e valorize suas culturas e saberes. Estas iniciativas visam não apenas melhorar a qualidade do ensino, mas também promover a emancipação social e econômica das comunidades do campo. Neste contexto, a educação do campo é vista como um direito fundamental e uma ferramenta essencial para o desenvolvimento sustentável.
Este estudo justifica-se pela importância de compreender os desafios e as perspectivas da educação do campo no Pará, um estado com grande diversidade geográfica e cultural. A problemática central que guia esta pesquisa é: como os movimentos sociais e as políticas públicas podem contribuir para a melhoria da educação nas áreas rurais do Pará? Esta pergunta é fundamental para identificar as estratégias que podem ser adotadas para superar os obstáculos existentes e promover uma educação inclusiva e de qualidade para todos.
Os objetivos deste trabalho são analisar os principais desafios enfrentados pela educação do campo no Pará, discutir a influência dos movimentos sociais na promoção de políticas públicas voltadas para as populações rurais e identificar as perspectivas futuras para a melhoria da educação nessas áreas. Pretende-se também destacar as práticas educativas inovadoras que têm sido implementadas e avaliar seu impacto nas comunidades do campo.
A metodologia adotada neste estudo é baseada em uma pesquisa bibliográfica, utilizando fontes acadêmicas e documentais que abordam a educação do campo no Pará. Através da análise crítica de artigos, livros e relatórios, busca-se compreender a evolução histórica, os desafios atuais e as possíveis soluções para melhorar a qualidade da educação nas áreas rurais. Esta abordagem permite uma visão abrangente e fundamentada sobre o tema, contribuindo para o debate e a formulação de políticas públicas mais eficazes.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Origem e Desenvolvimento da Educação do Campo no Pará
A educação do campo no Pará teve suas primeiras iniciativas durante o período colonial, com a chegada dos missionários europeus que buscavam catequizar e educar a população indígena local. Esses primeiros esforços, contudo, eram limitados e frequentemente subordinados aos interesses coloniais e religiosos. Segundo Silva (2017), a educação proporcionada pelos missionários visava mais à dominação cultural e religiosa do que ao desenvolvimento integral das comunidades indígenas.
Com o avanço do século XIX, o Pará começou a experimentar mudanças significativas em sua estrutura econômica, especialmente com o crescimento da produção agrícola. Esse período viu a criação de algumas escolas rurais, embora ainda insuficientes e mal distribuídas. Moraes (2003) aponta que as poucas escolas existentes eram voltadas principalmente para as elites agrárias, deixando a maior parte da população rural sem acesso adequado à educação.
O século XX trouxe consigo uma série de transformações sociais e políticas que impactaram profundamente a educação do campo no Pará. A partir dos anos 1950, com a intensificação da industrialização e urbanização no Brasil, surgiram movimentos sociais e sindicais que passaram a exigir do governo políticas públicas mais inclusivas para as populações rurais. Esses movimentos foram essenciais para o reconhecimento da educação do campo como um direito fundamental e para a implementação de políticas específicas para essas comunidades.
A década de 1980 marcou um ponto de inflexão importante com a redemocratização do Brasil e a promulgação da Constituição de 1988, que garantiu o direito à educação para todos os cidadãos, independentemente de sua localização geográfica. Almeida (2016) destaca que, nesse contexto, começaram a ser formuladas políticas públicas voltadas especificamente para a educação do campo, com o objetivo de promover a inclusão e equidade educacional.
A partir da década de 1990, diversos programas e iniciativas foram implementados para fortalecer a educação do campo no Pará. Um dos marcos significativos foi a criação do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA) em 1998, que visava proporcionar educação de qualidade para os assentados da reforma agrária. Gomes e Silva (2018) afirmam que o PRONERA teve um impacto positivo significativo, promovendo a alfabetização e formação técnico-profissional das comunidades rurais.
No entanto, apesar dos avanços, a educação do campo ainda enfrenta inúmeros desafios. A precariedade da infraestrutura escolar, a falta de recursos didáticos adequados e a escassez de professores qualificados são problemas persistentes. Silva (2017) observa que muitos professores que atuam no campo não possuem a formação específica necessária para lidar com as particularidades dessa modalidade de ensino, o que compromete a qualidade da educação oferecida.
Os movimentos sociais têm desempenhado um papel crucial na defesa e promoção da educação do campo no Pará. Esses movimentos, compostos por sindicatos, associações de agricultores e organizações não-governamentais, têm lutado incansavelmente por políticas públicas que atendam às necessidades específicas das populações rurais. Souza (2021) destaca que esses movimentos não apenas pressionam o governo, mas também desenvolvem iniciativas próprias de educação comunitária, fortalecendo a autonomia das comunidades rurais.
A atuação desses movimentos tem sido fundamental para a construção de uma educação do campo que valorize as culturas e saberes locais, promovendo uma educação contextualizada e relevante para os estudantes. A participação ativa das comunidades na gestão escolar e na formulação de políticas educacionais é um dos princípios defendidos por esses movimentos, contribuindo para a democratização do ensino e a construção de uma educação mais justa e inclusiva.
O futuro da educação do campo no Pará depende da continuidade e aprimoramento das políticas públicas e da mobilização social. É necessário que o Estado mantenha um compromisso firme com a educação rural, assegurando os recursos necessários para a construção e manutenção de escolas, formação de professores e desenvolvimento de materiais didáticos apropriados. Almeida (2016) argumenta que a sustentabilidade das políticas educacionais no campo requer uma abordagem integrada e participativa, envolvendo todos os atores sociais relevantes.
Além disso, é crucial que as políticas públicas sejam flexíveis e adaptáveis às mudanças sociais e econômicas. A educação do campo deve ser capaz de responder às novas demandas e desafios que surgem com o desenvolvimento rural e as transformações no mercado de trabalho. O fortalecimento das parcerias entre governo, sociedade civil e iniciativa privada pode contribuir para a implementação de programas educacionais mais eficazes e sustentáveis.
Um dos aspectos mais críticos para o desenvolvimento da educação do campo no Pará é a formação de professores. A capacitação docente deve ser voltada para as especificidades do meio rural, levando em consideração as particularidades culturais, econômicas e sociais das comunidades atendidas. Silva (2017) enfatiza que a formação continuada é essencial para que os professores possam desenvolver práticas pedagógicas inovadoras e contextualizadas, que realmente façam sentido para os alunos do campo.
Programas de formação específicos, como o PRONERA, têm demonstrado a importância de capacitar os educadores para atuar nas escolas rurais. No entanto, é necessário ampliar essas iniciativas e garantir que todos os professores tenham acesso a oportunidades de desenvolvimento profissional contínuo. Além disso, a valorização e o reconhecimento do trabalho dos professores do campo são fundamentais para manter esses profissionais motivados e comprometidos com a qualidade do ensino.
A promoção da inclusão e equidade na educação do campo é um objetivo central das políticas públicas. A educação deve ser acessível a todos, independentemente da localização geográfica ou condições socioeconômicas. Para isso, é necessário investir em infraestrutura escolar adequada, incluindo transporte escolar, materiais didáticos específicos e tecnologias educacionais que possam facilitar o aprendizado dos estudantes rurais.
Gomes e Silva (2018) ressaltam que a equidade educacional não se resume apenas ao acesso à escola, mas também à garantia de um ensino de qualidade que respeite as diversidades e necessidades dos alunos. Isso inclui a implementação de currículos que valorizem os saberes locais e promovam uma educação contextualizada, que esteja em sintonia com a realidade das comunidades do campo.
Os impactos das políticas públicas e programas educacionais na educação do campo no Pará são visíveis em diversas áreas. A melhoria dos índices de alfabetização, a elevação da escolaridade média e a formação técnico-profissional são alguns dos resultados positivos alcançados. Além disso, programas como o PRONERA têm contribuído para a emancipação social e econômica das comunidades rurais, promovendo a cidadania e o desenvolvimento sustentável.
No entanto, para que esses impactos sejam duradouros, é necessário garantir a continuidade e aprimoramento das políticas públicas. Moraes (2003) aponta que a sustentabilidade das iniciativas depende da capacidade de adaptação às novas realidades e da articulação entre os diferentes níveis de governo e a sociedade civil. A participação ativa das comunidades na gestão escolar e na formulação de políticas educacionais é fundamental para a construção de uma educação do campo que seja verdadeiramente transformadora.
2.2 Políticas Públicas e Programas Educacionais
A educação do campo no Pará tem suas raízes fincadas no período colonial, quando as primeiras tentativas de escolarização foram direcionadas às populações indígenas e escravizadas. Com o passar dos anos, a necessidade de educação nas áreas rurais se intensificou, especialmente com o crescimento das atividades agrícolas e a formação de comunidades rurais. Essas primeiras iniciativas, no entanto, eram esparsas e frequentemente inadequadas para atender às necessidades específicas dessas populações.
Nos tempos modernos, a luta pela educação do campo ganhou força com a criação de movimentos sociais e sindicais, que passaram a exigir do Estado políticas públicas voltadas para o desenvolvimento educacional das áreas rurais. Molina e Hage (2020) ressaltam que essas lutas foram fundamentais para a consolidação de uma educação que respeitasse as particularidades culturais, econômicas e sociais das comunidades do campo.
Uma das principais políticas públicas voltadas para a educação do campo no Pará é o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA). Criado em 1998, o PRONERA tem como objetivo principal promover a educação para jovens e adultos assentados da reforma agrária, com vistas à elevação da escolaridade e à formação técnico-profissional. Hage e Cunha (2019) apontam que o PRONERA representa um marco significativo na política educacional brasileira, pois reconhece a importância da educação para o desenvolvimento sustentável e a cidadania plena das populações rurais.
No entanto, apesar dos avanços proporcionados pelo PRONERA, há ainda muitos desafios a serem superados. A implementação de políticas públicas enfrenta obstáculos como a falta de infraestrutura adequada, a escassez de recursos financeiros e a resistência política em alguns contextos. Além disso, a formação de professores para atuar no campo continua sendo uma questão crucial. Silva (2019) destaca que a formação docente específica para as realidades do campo é essencial para garantir uma educação de qualidade que atenda às necessidades dos estudantes rurais.
Os programas educacionais voltados para o campo no Pará têm desempenhado um papel fundamental na transformação das comunidades rurais. Programas como o PRONERA não apenas elevam o nível de escolaridade, mas também promovem a emancipação social e econômica dos assentados. Caldart (2017) enfatiza que a educação do campo deve ser vista como um direito humano e uma ferramenta para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Outro programa relevante é o Programa de Apoio à Formação Superior em Licenciatura em Educação do Campo (Procampo), que visa a formação de professores para atuar nas escolas rurais. Giovannini e Caldart (2016) discutem que o Procampo tem contribuído significativamente para a qualificação dos educadores e, consequentemente, para a melhoria do ensino nas áreas rurais. No entanto, os autores também alertam para a necessidade de uma maior articulação entre os programas de formação de professores e as políticas públicas de educação do campo.
A educação do campo no Pará enfrenta diversos desafios que precisam ser abordados para garantir a efetividade das políticas públicas e programas educacionais. A precariedade da infraestrutura escolar, a dificuldade de acesso às escolas devido às condições geográficas e a falta de recursos didáticos adequados são alguns dos principais obstáculos. Além disso, há a questão da valorização e formação contínua dos professores, que muitas vezes são recrutados sem a devida preparação para lidar com as especificidades do ensino no campo.
Para superar esses desafios, é fundamental que as políticas públicas sejam pensadas e implementadas de maneira integrada, considerando as realidades locais e ouvindo as vozes das comunidades envolvidas. Molina e Hage (2020) argumentam que a participação ativa das comunidades rurais na elaboração e gestão das políticas educacionais é essencial para o sucesso dessas iniciativas. Somente com uma abordagem participativa e inclusiva será possível construir uma educação do campo que seja verdadeiramente transformadora.
Além disso, é importante que haja um compromisso contínuo por parte do Estado em assegurar os recursos necessários para a implementação das políticas e programas. Isso inclui investimentos em infraestrutura, materiais didáticos, formação de professores e transporte escolar. Hage e Cunha (2019) destacam que a sustentabilidade das políticas públicas depende não apenas de sua concepção, mas também de sua execução e monitoramento ao longo do tempo.
2.3 Desafios e Perspectivas da Educação do Campo
A precariedade da infraestrutura escolar é um dos maiores desafios enfrentados pela educação do campo no Pará. Muitas escolas rurais operam em condições inadequadas, com edifícios precários, falta de materiais didáticos e ausência de recursos tecnológicos. Barbosa (2014) aponta que essa infraestrutura deficiente é um obstáculo significativo para a oferta de uma educação de qualidade, afetando tanto o ensino quanto a aprendizagem dos alunos.
Além da infraestrutura, a formação e a qualificação dos professores que atuam no campo são questões cruciais. Muitos docentes não possuem formação específica para lidar com as particularidades do ensino rural, o que compromete a eficácia das práticas pedagógicas. Amaral (2019) destaca que a formação continuada e a valorização dos professores são essenciais para a melhoria da educação no campo. A falta de programas de capacitação específicos e a baixa remuneração dos docentes são problemas persistentes que necessitam de atenção urgente.
Outro desafio importante é a dificuldade de acesso às escolas rurais. As condições geográficas do Pará, com sua vasta extensão territorial e áreas de difícil acesso, tornam o deslocamento até as instituições de ensino uma tarefa árdua para muitos estudantes. Santos (2013) observa que a falta de transporte escolar adequado contribui para a evasão escolar e dificulta a regularidade da frequência dos alunos.
Os movimentos sociais têm desempenhado um papel fundamental na luta pela melhoria da educação do campo no Pará. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), por exemplo, tem sido um ator crucial na reivindicação de políticas públicas educacionais que atendam às necessidades das populações rurais. Mendes (2016) destaca que a mobilização desses movimentos tem sido essencial para pressionar o governo a implementar programas e projetos voltados para a educação do campo.
As políticas públicas, como o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA), têm contribuído significativamente para a inclusão educacional nas áreas rurais. Garcia (2014) enfatiza que essas políticas visam não apenas a elevação da escolaridade, mas também a formação técnica e profissional dos jovens e adultos do campo. No entanto, apesar dos avanços, a implementação dessas políticas enfrenta desafios como a falta de recursos financeiros e a resistência política em alguns contextos.
As perspectivas para a educação do campo no Pará envolvem a necessidade de um compromisso contínuo com a melhoria das condições educacionais nas áreas rurais. Investir em infraestrutura escolar adequada é fundamental para garantir um ambiente de aprendizagem propício. Além disso, é crucial desenvolver programas de formação continuada para os professores, capacitando-os para lidar com as especificidades do ensino no campo.
A integração das tecnologias educacionais também representa uma perspectiva promissora. Amaral (2019) sugere que o uso de recursos tecnológicos pode facilitar o acesso ao conhecimento e contribuir para a qualidade do ensino nas áreas rurais. No entanto, isso requer investimentos em infraestrutura tecnológica e capacitação dos docentes para o uso eficaz dessas ferramentas.
Outro aspecto importante é a valorização e o fortalecimento dos movimentos sociais e das comunidades locais na gestão e formulação de políticas educacionais. A participação ativa das comunidades na construção das políticas públicas é essencial para garantir que essas iniciativas sejam realmente eficazes e atendam às necessidades específicas das populações rurais. Mendes (2016) argumenta que a educação do campo deve ser construída com base no diálogo e na cooperação entre governo, movimentos sociais e comunidades locais.
2.4 Educação do Campo e Movimentos Sociais
A história da educação do campo no Pará é marcada por profundas desigualdades e desafios estruturais. Desde o período colonial, a educação nas áreas rurais foi negligenciada, com escolas frequentemente mal equipadas e localizadas em áreas de difícil acesso. Santos (2013) destaca que essa negligência histórica resultou em baixos índices de alfabetização e escolaridade entre a população rural, perpetuando um ciclo de pobreza e exclusão social.
Com a redemocratização do Brasil nos anos 1980, surgiram novas oportunidades para a promoção de políticas educacionais mais inclusivas. Os movimentos sociais começaram a ganhar força, pressionando o governo a reconhecer e atender às necessidades específicas das populações do campo. Silva (2017) aponta que a atuação desses movimentos foi crucial para a criação de programas e políticas públicas voltadas para a educação rural, como o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA).
Os movimentos sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), têm desempenhado um papel central na luta pela educação do campo no Pará. Esses movimentos não apenas reivindicam políticas públicas mais inclusivas, mas também desenvolvem práticas educativas próprias, baseadas nos princípios da pedagogia crítica e da educação popular. Amaral (2019) ressalta que o MST, em particular, tem sido um ator importante na promoção de uma educação que valoriza os saberes e as culturas locais, contribuindo para a emancipação social e econômica das comunidades rurais.
A educação do campo promovida pelos movimentos sociais vai além da simples transmissão de conhecimentos acadêmicos. Ela busca formar sujeitos críticos e conscientes de seus direitos e deveres, capazes de atuar ativamente na transformação de suas realidades. Garcia (2014) observa que essa abordagem educativa é fundamental para romper com o ciclo de exclusão e marginalização que historicamente afetou as populações rurais no Pará.
As políticas públicas voltadas para a educação do campo no Pará têm sido influenciadas significativamente pelas demandas e pela atuação dos movimentos sociais. Programas como o PRONERA foram concebidos em resposta às pressões desses movimentos e visam proporcionar uma educação de qualidade para os assentados da reforma agrária. Almeida (2016) destaca que, embora esses programas tenham alcançado importantes avanços, ainda há muitos desafios a serem superados, como a falta de recursos e a resistência política em alguns contextos.
A inclusão educacional nas áreas rurais requer uma abordagem integrada e participativa, envolvendo não apenas o governo, mas também as comunidades locais e os movimentos sociais. Silva (2017) argumenta que a participação ativa das comunidades na gestão escolar e na formulação de políticas públicas é essencial para garantir que essas iniciativas sejam realmente eficazes e atendam às necessidades específicas das populações do campo.
Apesar dos avanços alcançados, a educação do campo no Pará ainda enfrenta inúmeros desafios. A precariedade da infraestrutura escolar é um dos principais obstáculos, com muitas escolas rurais operando em condições inadequadas. Além disso, a formação e a qualificação dos professores que atuam no campo continuam sendo questões críticas. Amaral (2019) observa que muitos docentes não possuem formação específica para lidar com as particularidades do ensino rural, o que compromete a qualidade da educação oferecida.
Outro desafio importante é a dificuldade de acesso às escolas, devido às condições geográficas do Pará. A falta de transporte escolar adequado contribui para a evasão escolar e dificulta a regularidade da frequência dos alunos. Santos (2013) aponta que essas barreiras logísticas precisam ser superadas para garantir o direito à educação para todas as crianças e jovens das áreas rurais.
Os movimentos sociais têm sido fundamentais na busca por soluções para os desafios enfrentados pela educação do campo no Pará. Eles atuam não apenas como agentes de pressão sobre o governo, mas também como promotores de práticas educativas inovadoras e inclusivas. Garcia (2014) destaca que a pedagogia da alternância, por exemplo, é uma metodologia desenvolvida pelos movimentos sociais que combina períodos de estudo na escola com períodos de trabalho nas comunidades, promovendo uma educação contextualizada e relevante para a realidade rural.
A participação ativa das comunidades na gestão das escolas e na formulação de políticas públicas é outro aspecto crucial para a melhoria da educação do campo. Almeida (2016) argumenta que as comunidades locais devem ser vistas como parceiras no processo educacional, contribuindo com seus saberes e experiências para a construção de uma educação que realmente atenda às suas necessidades.
As perspectivas para o futuro da educação do campo no Pará envolvem a necessidade de um compromisso contínuo com a melhoria das condições educacionais nas áreas rurais. Investir em infraestrutura escolar adequada é fundamental para garantir um ambiente de aprendizagem propício. Além disso, é crucial desenvolver programas de formação continuada para os professores, capacitando-os para lidar com as especificidades do ensino no campo.
A integração das tecnologias educacionais também representa uma perspectiva promissora. Amaral (2019) sugere que o uso de recursos tecnológicos pode facilitar o acesso ao conhecimento e contribuir para a qualidade do ensino nas áreas rurais. No entanto, isso requer investimentos em infraestrutura tecnológica e capacitação dos docentes para o uso eficaz dessas ferramentas.
Outro aspecto importante é a valorização e o fortalecimento dos movimentos sociais e das comunidades locais na gestão e formulação de políticas educacionais. Mendes (2016) argumenta que a educação do campo deve ser construída com base no diálogo e na cooperação entre governo, movimentos sociais e comunidades locais. Essa abordagem participativa é essencial para garantir que as políticas públicas sejam realmente eficazes e atendam às necessidades das populações rurais.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os movimentos sociais, como agentes de mudança, têm desempenhado um papel vital na promoção de políticas públicas que visam atender às necessidades específicas das comunidades do campo. Eles não apenas pressionam o governo, mas também desenvolvem práticas educativas que valorizam os saberes locais e promovem a emancipação social e econômica. Essas práticas têm mostrado que é possível construir uma educação contextualizada, relevante e transformadora.
Apesar dos avanços, muitos desafios ainda persistem. A precariedade da infraestrutura escolar e a necessidade de formação específica para os professores são questões que requerem atenção contínua. Além disso, a dificuldade de acesso às escolas devido às condições geográficas do Pará continua sendo uma barreira significativa para a universalização do direito à educação.
O futuro da educação do campo no Pará depende de um compromisso contínuo com a melhoria das condições educacionais nas áreas rurais. É fundamental investir em infraestrutura adequada, programas de formação continuada para os professores e integração de tecnologias educacionais. Além disso, a participação ativa das comunidades locais na gestão escolar e na formulação de políticas públicas é essencial para garantir que essas iniciativas sejam eficazes e atendam às necessidades específicas das populações do campo.
A construção de uma educação do campo inclusiva e de qualidade requer um esforço conjunto de todos os atores envolvidos: governo, movimentos sociais, comunidades locais e sociedade em geral. Somente com a colaboração de todos será possível superar os desafios existentes e construir um sistema educacional que contribua para o desenvolvimento social e econômico das áreas rurais. A trajetória até aqui mostra que, apesar das dificuldades, há um caminho promissor à frente, marcado pela resiliência e pela esperança de um futuro melhor para todos.
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1Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Currículo e Gestão da Escola Básica pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Email: ffabiolla7@gmail.com
2Doutorado em Educação pela Universidade Federal do Pará (PA). Líder do Grupo de Pesquisa HISTEDBR_ SECÇÃO, Altamira – PA. Professor de História da Educação na (UFPA). Email: renatopc@ufpa.br