A ESTRATÉGIA EMPRESARIAL E A GESTÃO DE CRÉDITO: O RELACIONAMENTO ENTRE A PREVISÃO PARA CRÉDITO DE LIQUIDAÇÃO DUVIDOSA E O DESEMPENHO NO MERCADO FINANCEIRO

BUSINESS STRATEGY AND CREDIT MANAGEMENT: THE RELATIONSHIP BETWEEN LOAN LOSS PROVISIONS AND FINANCIAL MARKET PERFORMANCE

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202503101637


Tiago Mendonça Scavone
Juliano Lima Soares


Resumo:

O artigo se propôs de analisar se há correlação entre a variação da PCLD (Provisão de Crédito para Liquidação Duvidosa), o TK (Termômetro de Kanitz) e o Desempenho Financeiro das ações ON (ordinária) do Banco do Brasil S/A. A base teórica ocorreu por meio de três constructos. O primeiro trata da Estratégia Empresarial com as contribuições da RBT (Resource-Based Theory), através do modelo VRIO. O segundo constructo a partir da gestão econômica, análise dos Indicadores Financeiros. O terceiro constructo aborda o TK, a importância da análise da insolvência da empresa, destacando a sua capacidade de arcar com as suas obrigações. A composição do TK, visa analisar a sua saúde financeira e verificar se há risco de falência no futuro. A pesquisa tem como objetivo analisar a relação entre a variação (aumento ou diminuição) da PCLD no valor das ações ON negociadas na B3, durante o período de 2006 até 2016. A justificativa teórica visa ampliar a quantidade de trabalhos relacionados ao tema. A metodologia de pesquisa foi quantitativa com a coleta de dados secundários nos balanços contábeis e pelo software Economática. Foram investigadas 44 amostras de trimestres e a análise estatística utilizada foi a correlação ou o r de Pearson. Das hipóteses propostas apenas a terceira hipótese se confirmou com uma correlação negativa e moderada e com uma significância de 0,00%. Dessa forma podemos concluir que os investidores não levaram em consideração a variação da PCLD ou o índice no TK, quando foram realizar os seus investimentos no trimestre posterior.

Palavras-chave: Estratégia Empresarial, Instituição Financeira, Gestão de Crédito, Provisão de Crédito para Liquidação Duvidosa (PCLD).

Abstract:

The purpose of this paper was to analyze whether there is a correlation between the variation in the Loan Loss Provisions, the KT (Kanitz Thermometer) and the Finacial Performance of the ON (Ordinary Shares) of Banco do Brasil S/A. The theoritecal basis was provided by three main constructs. The first deals with Business Strategy with the contributions of RBT (Resource-Based Theory), through the VRIO model. The second is related to the economic management, analysis of the Financial Indicators. The third construct addresses the KT, the importance of the company’s insolvency margin, highlighting its ability to meet its obligations. The KT was designed to analyze the financial health of a company and to verify if there is any risk of bankruptcy in the future. The objective of this research is to analyze if there is a connection between the variation (increase or decrease) of the Allowance For Doubtful Accounts in the financial performance of the ON shares traded in B3 during the period from 2006 to 2016. The theoretical justification is to increase the number of works related to the topic. The research methodology was quantitative with the analysis of secondary data collected in accounting with the Economática software. The samples investigated were 44 trimesters and the statistical analysis used was correlation or Pearson’s r. Of the proposed hypotheses only the third was confirmed with a negative and moderate correlation and with a significance of 0.00%. In this way it is possible to conclude that investors did not take into account the variation of the Loan Loss Provisions or the index in the KT, when they made their investments in the subsequent trimester.

Keywords:  Business Strategy, Financial Institution, Credit Management, Loan Loss Provisions

1. Introdução 

O artigo tem como objetivo de analisar se a relação entre a variação (aumento ou diminuição) da Provisão de Crédito para Liquidação Duvidosa do Banco do Brasil S/A influência no trimestre posterior a sua publicação no desempenho das ações (BBAS3, código da ação na B3) negociadas na B3 (bolsa de valores brasileira), e verificar o grau no Termômetro de Kanitz (solvente ou insolvente) nos períodos pesquisados.

Este estudo tenta responder à seguinte questão: Qual é a relação da variação das Provisões para Créditos de Liquidação Duvidosa (PCLD), no período de 2006 a 2016, no que concerne ao preço médio da ação, ao volume médio das ações negociadas na B3 e na remuneração dos acionistas do Banco do Brasil S/A (BBAS3), e ao grau de solvência/insolvência nos períodos analisados?

Pesquisando no banco de dados de teses e dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (Capes), incluindo as palavras chaves “PCLD” e “Desempenho da Ação”, foram encontrados 14 trabalhos com a palavra “PCLD” abrangendo o período de 2007 a 2016, e 13 trabalhos com a palavra “Desempenho da Ação”, contabilizados no período 2000 a 2015. Quanto à primeira palavra, a maioria dos trabalhos está concentrada na área da administração e contabilidade, já os trabalhos indicados a partir da segunda palavra estão dispersos em várias áreas de concentração. Cabe salientar que nenhum trabalho foi encontrado com a combinação das duas palavras chaves, “PCLD e Desempenho da Ação”. 

A relevância do trabalho justifica-se pelo período em que foram analisados os dados referentes à PCLD e ao Desempenho das Ações, pois refere-se a um período de expansão de crédito no país e, posteriormente, a crise global de 2008.

A concessão de crédito é o ato que envolve a intermediação financeira entre o agente que possui o recurso financeiro e o agente que não possui, mas que precisa utilizá-lo (ROSA; AZZOLIN; SOARES, 2015). 

Uma instituição financeira que concede crédito a seus clientes (pessoa física ou jurídica) deve conhecer e observar as situações atual e futura deles. Visando analisar o grau de endividamento e a saúde financeira de seus clientes, a empresa determina se eles estão solventes ou insolventes (MATARAZZO, 2003).

O não recebimento dos empréstimos concedidos aos clientes impactará na composição da PCLD (Provisões para Créditos de Liquidação Duvidosa) da empresa, apresentada no balanço trimestral.

Na atividade bancária, a gestão da carteira de crédito é uma atividade importante, tendo em vista a quantidade de operações, os valores movimentados e o peso relacionado aos eventos de default (SILVA; RIBEIRO; MATIAS, 2016). 

O risco de inadimplência ou o risco do crédito ocorre quando o banco não recebe do seu cliente o principal e os juros do crédito, na data combinada (ASSAF NETO, 2015). 

Rosa, Azzolin e Soares (2015) salientam que uma eficiente gestão de crédito é demonstrada nos indicadores de inadimplência. 

2. Referencial teórico

Um tema presente na administração como ciência é a estratégia. Para definir estratégia, é necessário entender a origem da palavra grega Strategos. Essa palavra é composta pelas palavras stratos e agein, que significam, respectivamente, “exército” e “liderar” (VIZEU; GONÇALVES, 2010).

Na Antiguidade, o estrategista tinha as seguintes funções: planejar as ações e objetivos, organizar o exército e o país, dirigir os esforços da população para os objetivos, e controlar este processo (VIZEU; GONÇALVES, 2010).  

Os conceitos de estratégia migraram do ambiente militar para o ambiente corporativo, de acordo com as transformações ocorridas na sociedade e, especialmente, no meio empresarial (LOBATO et al, 2004). 

Vizeu e Gonçalves (2010) destacam que o termo estratégia foi introduzido no ambiente organizacional como uma força de metáfora, em que a realização empresarial é similar à realização militar. Ambas as práticas, a gerencial e a militar, apresentam-se por meio de uma ação pragmática, com o objetivo focado nos resultados práticos.

O objetivo da estratégia é obter a preferência do consumidor e, consequentemente, gerar vantagem competitiva para a empresa e para seus acionistas (BOSSODY e CHARAN, 2005).  

Dessa forma, a estratégia de uma empresa visa à obtenção de vantagens competitivas (DRUCKER, 1994). A melhor estratégia é aquela que trará a geração de vantagem competitiva (BARNEY e HESTERLY, 2011). 

Mintzberg et al (2010) ressaltam que a estratégia pode ser definida como um rumo ou direção que guiará a ação da companhia para o futuro. 

Porter (1996, p. 8) ratifica que as “[…] posições estratégicas podem ser baseadas nas necessidades dos clientes, na facilidade de acesso para os clientes ou na variedade de produtos e serviços da empresa.”. A empresa precisa estar atenta a essas demandas para que a estratégia presente não fracasse no futuro. 

Mintzberg et al (2010) salientam que uma empresa pode definir sua estratégia pretendida e, no futuro, observar que a estratégia realizada foi completamente diferente do que se definiu anteriormente.

Se as firmas forem flexíveis, poderão reagir rapidamente à concorrência e às mudanças ocorridas no mercado em que atuam. Se elas empregarem avaliações que as comparem continuamente com os seus concorrentes, buscarão continuamente as melhores práticas (PORTER, 1996).

De acordo com Barney e Hesterly (2011), é difícil profetizar com exatidão como será o desenvolvimento da competição em um setor, e se a estratégia adotada por determinada empresa será a melhor. Os autores salientam que a habilidade da empresa em mudar sua estratégia com rapidez, para responder às tendências emergentes em um setor, pode ser uma fonte de vantagem competitiva tão importante quanto a habilidade de concluir o processo de administração estratégica. 

Além disso, Barney e Hesterly (2011) destacam que a empresa deve estar atenta ao ambiente geral em que atua. Há seis elementos interrelacionados aos ambientes: mudanças tecnológicas, tendências demográficas, tendências culturais, clima econômico, condições legais e políticas, e acontecimentos internacionais específicos.

Figura I – O ambiente geral enfrentado pelas empresas

Fonte: Barney e Hesterly (2011, p. 26

A compreensão do ambiente geral pode auxiliar a empresa a identificar ameaças e oportunidades as quais enfrentará. Ocorre que, no ambiente geral, os impactos das ameaças e oportunidades são ocasionados pelo ambiente local. A análise do ambiente geral será importante para a empresa durante a aplicação do processo de gestão estratégica, e acompanhada de uma análise do ambiente local.

Na Figura 2, Barney e Hesterly (2011) sistematizam o processo de administração estratégica.

Figura II – Processo de administração estratégica

Fonte: Barney e Hesterly (2011, p. 4)

Porter (1979) apresenta a estrutura de cinco forças, em que são identificadas as cinco ameaças mais comuns enfrentadas pelas empresas em seus ambientes locais. 

Na figura 3, apresenta-se o modelo de cinco forças de ameaças ambientais: 

Figura III – Modelo de cinco forças de ameaças ambientais

Uma imagem contendo captura de tela

Descrição gerada automaticamente

Fonte: Barney e Hesterly (2011, p.31)

Pavão et al (2011) destacam a contribuição significativa de Porter referente ao pensamento estratégico, com a análise da cadeia de valor e as relações entre uma futura lucratividade e a estrutura de um setor.

Para Kretzer e Menezes (2009), o comportamento da firma, em suas discussões preliminares a respeito das características, funções e fatores, teve uma preciosa contribuição da economista Edith Penrose, em seu livro The theory of the growth of the firm, de 1959.

De acordo com Foss e Langlois (1997), Penrose teve a capacidade de antevir a propagação, na economia, da gestão estratégica e do comportamento organizacional, da variação, do aprendizado da firma, e da perspectiva baseada em recursos.

A gestão econômica de uma empresa tem a função de criar valor para os investidores, ou seja, maximizar da riqueza de seus proprietários. (BRITO et al, 2005; PADOVEZE, 2006; ASSAF NETO, 2015). Na condução de uma empresa, são necessárias diversas informações contábeis estruturadas (PADOVEZE, 2006).

Para medir o desempenho de uma companhia são os demonstrativos financeiros. Munidos desses dados, os gestores, investidores, entre outros agentes interessados, têm informações para ampará-los em suas decisões (PALEPU et al, 2013).

Brito et al (2005) ressaltam que o principal insumo para os investidores decidirem investir ou não em uma empresa é a informação. 

De acordo com Franco (2006), ajustes contábeis podem ocorrer nas contas de receitas e despesas, por causa de modificações futuras. Caso isso ocorra, podem ocorrer variações no patrimônio. Para prevenir a empresa de possíveis prejuízos, utiliza-se o critério contábil da provisão. 

Nas instituições financeiras, o termo utilizado é Provisões para Crédito de Liquidações Duvidosas (PCLD), visando a apurar possíveis perdas por conta de inadimplência nas operações de crédito.

Segundo Assaf Neto (2015), quando uma instituição financeira possui o valor de ativo superior ao valor de passivo, é considerada solvente, ou seja, possui um excedente classificado como patrimônio líquido.

No Brasil, a pesquisa do professor Stephen Charles Kanitz foi um dos primeiros estudos apresentados sobre a previsão de insolvência. O “termômetro de Kanitz” ou “termômetro de insolvência” foi elaborado com a finalidade de medir a possibilidade de falência das empresas. Os estudos tiveram início na década de 1970, e foram apresentados no artigo de Kanitz, “Como prever falências de empresas”, em 1974, e em sua tese de livre docência, “Indicadores contábeis e financeiros de previsão de insolvência: a experiência da pequena e média empresa brasileira”, em 1976. Esses estudos culminaram na publicação de seu livro “Como prever falências”, em 1978 (KANITZ, 1978; KASSAI, 2002; MARIO, 2002; GOMES et al, 2015).

De acordo com Kassai e Kassai (1998), para obter o “fator de insolvência” são necessárias as seguintes informações: 

• Rentabilidade do capital ou Retorno do PL; 

• Liquidez geral; • Liquidez seca; 

• Liquidez corrente; e 

• Endividamento total (grau de endividamento).

Como resultado desse cálculo, obtém-se o valor que determina o Fator de Insolvência e que determina, então, se há perspectiva de a empresa falir ou não (KASSAI; KASSAI, 1998; GOMES et al, 2015).

Como resultado do fator de solvência, o valor obtido estará em uma escala de 7 a -7. No intervalo de 0 a 7 a empresa é considerada solvente. Já para os valores entre -1 e -3 indica-se que a saúde financeira da empresa inspira cuidados, sendo classificada como penumbra. Se o resultado obtido estiver entre -4 e -7, indica-se que a empresa é insolvente e sua situação não é boa, requerendo cuidados e podendo vir à falência ou concordata (KASSAI; KASSAI, 1998; GOMES et al, 2015).

É importante destacar que na obtenção de um resultado positivo a empresa apresenta uma menor possibilidade de entrar em falência. Quanto mais positivo for o valor, menor será a possibilidade de vir a falir, enquanto que quanto mais negativo for o valor, maior será a possibilidade de falência (KASSAI; KASSAI, 1998; GOMEZ et al, 2015).

3. Metodologia

Os procedimentos metodológicos desta pesquisa científica, os quais foram utilizados para investigar o problema de pesquisa proposto. Assim, foram especificados o problema, a pergunta da pesquisa e a definição das categorias analíticas ou variáveis. Além disso, foram apresentados o delineamento e as etapas que foram seguidos na pesquisa, e os procedimentos de coleta, tratamento e análise das informações. O quadro 1 detalha os procedimentos metodológicos:

Quadro I – Descritores do Planejamento da Pesquisa

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Fonte: Adaptado de Cooper e Schindler (2016).

Este artigo pretendeu analisar se a variação da PCLD, no trimestre determinado, influenciou no desempenho financeiro das ações ordinárias do trimestre seguinte, na B3, referente ao valor médio das ações negociadas, no volume médio das ações negociadas, e na remuneração dos acionistas. Além disso, objetiva, também, analisar em qual grau do termômetro de Kanitz ou termômetro de insolvência encontrou-se a empresa em cada um dos trimestres analisados. O período de análise foram os anos de 2006 até 2016. Para uma melhor compreensão e embasamento, o problema central da pesquisa, é definido como: 

Qual é a relação da variação da Provisão para Crédito de Liquidação Duvidosa (PCLD), no período de 2006 a 2016, no que concerne ao preço médio da ação, ao volume médio das ações negociadas na B3 e na remuneração dos acionistas do Banco do Brasil S/A (BBAS3), e ao grau de solvência/insolvência nos períodos analisados?

3.1 – Hipóteses da Pesquisa

Hipótese 1: O valor da PCLD do trimestre anterior é negativamente relacionado (coeficiente moderado ou alto) ao desempenho das ações BBAS3, negociadas na B3, no trimestre seguinte.

Hipótese 2: O desempenho das ações BBAS3, negociadas na B3, é positivamente relacionado ao grau positivo no Termômetro de Kanitz (solvente).

Hipótese 3: O nível da PCLD é negativamente relacionado (coeficiente moderado ou alto) ao grau de solvência/insolvência no Termômetro de Kanitz.

Para atender aos objetivos desta pesquisa, a população e a amostra serão iguais, correspondendo a 44 trimestres. A população e a amostra da PCLD foram coletadas por meio das informações disponíveis nos demonstrativos contábeis do Banco do Brasil S/A, abrangendo o período do 1º trimestre de 2006 até o 4º trimestre de 2016. A população e a amostra referentes ao desempenho da ação foram coletadas através da ferramenta Economática, e abrangeram o período do 2º trimestre de 2006 até o 1º trimestre de 2017.

Para atender aos objetivos desta pesquisa, escolheu-se pelo estudo exploratório, com a coleta de dados secundários, com objetivo descritivo, tendo uma dimensão de tempo longitudinal, e sendo um estudo estatístico com as informações obtidas em um ambiente de campo. Esses critérios foram determinados visando a atender as hipóteses e aos questionamentos levantados pelo pesquisador.

Neste artigo foi feita uma análise secundária, com dados oriundos dos balanços contábeis apresentados trimestralmente pela empresa analisada, e com dados referentes ao desempenho financeiro na B3.

A variação da PCLD, foram obtidos no demonstrativo contábil referentes ao período do 1º trimestre de 2006 até o 4º trimestre de 2016. 

As informações relacionadas ao desempenho da ação BBAS3 no trimestre seguinte ao da divulgação da PCLD. Para a análise do desempenho das ações ON, na B3 (antiga BM&FBovespa), foram analisadas as informações do 2º trimestre de 2006 até 1º trimestre de 2017, totalizando 44 trimestres.

A análise e cálculo do grau em que a empresa se encontrou no termômetro de Kanitz ou termômetro de solvência. Para o cálculo do grau do termômetro de Kanitz, os dados analisados foram obtidos por meio das demonstrações contábeis da empresa, abrangendo o período do 1º trimestre de 2006 até o 4º trimestre de 2016.

O procedimento utilizado no tratamento e na análise de dados é de natureza quantitativa, com dados secundários e não experimentais (ex-post facto). As informações foram analisadas através do software de tratamento de dados estatísticos SPSS. Destaca-se, ainda, que foram utilizados os recursos de planilhas eletrônicas do MS Excel, no qual foram tabulados os dados. 

Nesta pesquisa foi utilizado o teste estatístico de Correlação.

4. Análise dos dados

Para a análise dos dados, foi utilizada a correlação. De acordo com Dancey e Reidy (2013), o objetivo da análise de correlação é verificar se há um relacionamento entre as variáveis e determinar a direção dessa variável (positivo, negativo ou zero), além de determinar o coeficiente de correlação que varia de 0, quando não há nenhuma relação entre elas, até 1, quando há relação perfeita entre as variáveis.

Field (2009) destaca que a correlação é uma ferramenta importante, porém, as variáveis não são previsíveis. Já na análise da regressão, é possível adequar o modelo preditivo aos dados analisados, visando prever os valores da variável dependente, por meio de uma ou mais variáveis independentes.

Para analisar o desempenho das ações BBAS3, foram definidos os seguintes critérios: volume médio das ações negociadas, valor médio das ações negociadas e rentabilidade distribuída aos acionistas, abrangendo o período do 2º trimestre de 2006 até o 1º trimestre de 2017, compreendendo um total de 44 trimestres.

Nas Tabelas 1, 2, 3 e 4 constam os resultados analisados: Média, Mediana, Assimetria, Curtose, Desvio Padrão e Variância.

Tabela I – Desempenho das Ações

Fonte: Dados da pesquisa.

Na tabela 2, foram verificados os dados patrimoniais disponibilizados na página de relacionamento com investidores da empresa analisada. 

Tabela II – Dados Patrimoniais

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Fonte: Dados da pesquisa.

No desenvolvimento deste artigo, foram pesquisados os valores trimestrais da PCLD (Provisão para Crédito de Liquidação Duvidosa), compreendendo o período que vai desde o 1º trimestre de 2006 até o 4º trimestre de 2016, totalizando 44 trimestres. Na tabela 3, consta a análise estatística desses dados: 

Tabela III – PCLD

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Fonte: Dados da pesquisa.

Para a análise do termômetro de Kanitz, foi necessário coletar informações nos balanços contábeis e no software Economática, abrangendo o espaço de tempo desde o 1º trimestre de 2006 até o 4º trimestre de 2016, somando um total de 44 trimestres.

Tabela IV – Termômetro de Kanitz

Fonte: Dados da pesquisa

O índice do Termômetro de Kanitz ou fator de insolvência é calculado a partir das seguintes informações: • Rentabilidade do capital ou Retorno do Patrimônio Líquido; • Liquidez geral; • Liquidez seca; • Liquidez corrente; • Endividamento total (grau de endividamento).

Na análise do Índice de Solvência, a média calculada foi de -1,259, com uma mediana de -1,239 e um desvio padrão de 0,622. A variância foi de 0,387, tendo uma curtose de -0,308 e uma assimetria de – 0,139.

A primeira hipótese testada nesta pesquisa é a de que haveria uma correlação negativa (moderada ou alta e significativa – teste de correlação) entre o desempenho da ação e a PCLD, sendo que quanto menor fosse a PCLD, maior seria o desempenho da ação. Cabe destacar que quanto menor a PCLD, menor será o default dos empréstimos, indicando que a estratégia utilizada na análise de crédito foi acertada.

Tabela V – Correlação e Significância da Hipótese 1

Fonte: Dados da pesquisa.

A partir desses resultados levantados, a primeira hipótese não se confirma na forma proposta, uma vez que essa hipótese previa uma correlação negativa (moderada ou forte) entre a intensidade do Valor PCLD e os itens que compõem o Desempenho da Ação. Os testes de correlação comprovam que o Valor e o Volume Médio Negociado foram positivos, com uma correlação moderada e forte, respectivamente, sendo assim, elas foram rejeitadas. Já a Rentabilidade dos Acionistas teve sua significância elevada, em 10,20%, o que significa que ela não pode ser considerada como válida para fins científicos, sendo esta última também rejeitada.

A segunda hipótese analisada nesta pesquisa, previa uma correlação positiva e significante entre o Termômetro de Kanitz e os itens que compõem o Desempenho da Ação, ou seja, quanto maior o Termômetro de Kanitz, menor seria o Desempenho da Ação.

Tabela VI – Correlação e Significância da Hipótese 2

Fonte: Dados da pesquisa.

Como pode ser observado, a correlação do Índice de Insolvência com o Valor Médio Negociado é negativa, em -0,251, sendo considerada de intensidade fraca. Além disso, há uma significância de 0,101, sendo assim, a probabilidade de esse resultado ter sido obtido ao acaso é de 10,10%, 

A análise da correlação do Índice de Insolvência com o Volume Médio Negociado é negativa, em -0,388, valor que aponta para uma intensidade fraca. A significância observada foi de 0,09, dessa forma, a probabilidade de que esse resultado tenha sido obtido ao acaso é de 0,90%. A última etapa desta análise acerca da correlação entre o Índice de Insolvência com a Rentabilidade dos Acionistas, aponta para a constatação de que essa é positiva, em 0,155, com intensidade fraca. Há ainda significância de 0,315, indicando a probabilidade de 31,50% de que esse resultado tenha sido obtido ao acaso. Apesar da correlação positiva, o índice de significância foi de 31,50%, o que significa que a análise desta correlação não pode ser considerada válida para fins científicos, sendo essa rejeitada.

A terceira hipótese, referia-se à possibilidade de a PCLD ser negativamente relacionada (moderada ou alto) ao Termômetro de Kanitz ou de Insolvência.

Tabela VII – Correlação e Significância da Hipótese 3

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Descrição gerada automaticamente

Fonte: Dados da pesquisa.

Na análise da tabela acima, identificou-se que a correlação da intensidade do valor PCLD é negativa em -0,625, sendo considerada de intensidade moderada. A significância dessa correlação é de 0,00, ou seja, a probabilidade de esse resultado ter sido obtido ao acaso é de 0,00%.  Sendo assim, a terceira hipótese se confirma, pois havia previsão de uma correlação negativa e moderada ou alta, e a correlação obtida é de fato negativa e com uma intensidade moderada, o que significa que essa hipótese deve ser aceita.

A hipótese 1 não foi confirmada, uma vez que há uma correlação positiva entre o Desempenho Acionário e a PCLD. Já a hipótese 2 teve uma correlação negativa, por esse motivo, essa não pôde ser confirmada a partir da proposta inicial desta pesquisa. Cabe destacar que a mensuração da hipótese 2 com a utilização do Termômetro de Kanitz, não se mostrou a ferramenta mais adequada para utilizá-la neste comparativo. Por fim, a hipótese 3 tem uma correlação negativa e foi confirmada a sugestão inicial de pesquisa, tendo uma correlação negativa entre a PCLD e o Termômetro de Kanitz.

5. Conclusão

Neste trabalho pretendeu-se analisar se a relação entre a variação da PCLD (Provisão de Crédito para Liquidação Duvidosa) do Banco do Brasil S.A., dos trimestres anteriores, teve influência no desempenho das ações BBAS3, dos trimestres posteriores na B3. Para tanto, o período da PCLD analisado foi desde o 1º trimestre de 2006 até o 4º trimestre de 2016, já o período do desempenho acionário explorado foi do 2º trimestre de 2006 até o 1º trimestre de 2017.

No que se refere às três hipóteses propostas neste artigo, foram feitas verificações e análises, constatando a não confirmação das hipóteses 1 e 2 e apenas a confirmação da hipótese 3. 

Para novos avanços em trabalhos que se preocupem com a inovação disruptiva no meio empresarial brasileiro, sugerem-se:

A partir dos resultados desta dissertação, temos a possibilidade de desenvolver, no futuro, uma pesquisa mais abrangente. A seguir apresentamos algumas propostas:  

a) Realizar esta pesquisa com mais as instituições financeiras com ações negociadas na B3, visando analisar a eficiência na concessão de crédito; 

b) Referente aos critérios adotados para definir o desempenho financeiro, podemos ampliar as suas variáveis, como por exemplo, utilizar, além dos indicadores usados, o ROE (Return on Equity), ROA (Return on Assets) e o Valor de Mercado; 

c) Utilizar o Teste de Estresse como parâmetro no lugar do Termômetro de Kanitz.

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