A ESCOLA SOB O IMPACTO DAS TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS E CULTURAIS DA ERA DIGITAL¹

THE SCHOOL UNDER THE IMPACT OF THE SOCIAL AND CULTURAL TRANSFORMATIONS OF THE DIGITAL AGE

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ma10202409201406


Adriano Pereira2


RESUMO Essa pesquisa tem como objetivo conhecer os impactos das transformações digitais na escola e na sociedade. Conhecer a escola como ela e foi concebida e buscar discutir a transição do modelo escolar obsoleto para um modelo que atenda a expectativas da geração digital e que ao mesmo tempo seja capaz de promover uma formação consiste e que prepare os   alunos para difusão de informações, enfrentamento notícias falsas, do consumismo e da superexposição na redes. 

Palavras-chave: escola. redes sociais. sociedade. fake news. 

ABSTRACT  This research aims to know the impacts of digital transformations on school and society. To know the school as it was conceived and to seek to discuss the transition from the obsolete school model to a model that meets the expectations of the digital generation and that at the same time is able to promote a training consists and that prepares students for dissemination of information, confronting fake news, consumerism and overexposure in the networks. 

Keywords: school. social networks. Society. fake News. 

O presente artigo faz parte do trabalho final   da disciplina : Questões  Contemporâneas  na  Educação do Mestrado em Educação da FacMais. 2

Mestrando  em Educação pela  FacMais. Pós-Graduado em Psicopedagogia pela Universidade 

Estadual de  Goiás – UEG, Licenciada em Pedagogia  pela Universidade Estadual de Goiás – UEG E-mail: adrianopereira@aluno.facmais.edu.br 

INTRODUÇÃO 

A escola sempre foi vista como uma das mais importantes instituições da sociedade, e a ela atribuída às mais diferentes funções de acordo com as mais diferentes intencionalidades, sejam elas de governos, das classes sociais e econômicas. Mas nenhuma dessas situações trouxe tanto impacto para a escola quanto o advento das tecnologias e mídias digitais. 

Acompanhar a evolução da sociedade sempre foi um desafio da escola, engessada na naturalização de um processo de ensino baseado na disciplina e no controle, visando formar um adulto maduro, racional, competente, social e autônomo. 

As mídias digitais e as redes sociais estão a redefinir a escola como conhecemos e o papel do professor. Incorporar e lidar com as novas tecnologias vão além de reconhecer a necessidade de adequar a escola aos novos tempos.  

A pandemia trouxe mudanças significativas, permitindo que alunos e professores pudessem se conectar virtualmente para realizar as atividades de maneira remota. A pandemia própria dinâmica do mercado de trabalho mudou e continua mudando de forma muito rápida com adoção das soluções digitais para manter a continuidade dos negócios e com a implementação do trabalho home office, e mudando também as expectativas do capital face à escola. 

Sabemos que as notícias falsas e os processos de desinformação precedem o digital, mas foi a partir da difusão da redes sociais  que surge o  novo conceito para as notícias falsas; denominadas fake News,  que agora circulam e proliferam rapidamente fomentando a desinformação a partir de interesses ideológicos, políticos, econômicos com vistas a manter uma hegemonia ou até mesmo  destruir as democracias. E a educação no seu processo pedagógico deve conceber instrumentos que propiciem aos alunos a capacidade de identificar através da consciência  crítica e das ferramentas digitais o que é verdadeiro e o que é falso. 

DESENVOLVIMENTO 

Começo a reflexão abordando o livro ―Redes ou paredes: a escola em tempos de dispersão‖ livro da pesquisadora argentina Paula Sibilia. A autora aborda a crise da escola na contemporaneidade, em que a sociedade da informação e o mercado influenciam a subjetividade dos alunos e dos profissionais da educação. 

É fato que o debate do papel da escola na modernidade tem sido cada vez mais presente. Hoje a escola estaria falhando duplamente,  não consegue disciplinar seus alunos para a vida em sociedade dentro de uma concepção histórica que foi concebida, e ao mesmo tempo não consegue atender a subjetividade das crianças da atualidade.  

E neste contexto surgem as perguntas: Para que serve a Escola? Será que a escola tornou-se obsoleta? Responder essas perguntas não parece ser uma tarefa fácil em função da complexidade do momento que vivemos.  Essa pergunta feita Paula Sibilia (2012) se dá pelas surpresas que o século XXI tem trazido, ostentando seus feitiços tecnológicos e seu estilo de vida globalizado. O debate se volta para a maneira como as novas tecnologias impactam o transformam o estilo de vida das pessoas e sua  relação com a escola. Para a pesquisadora é muito difícil responder a esta interrogação de modo categórico; talvez as possíveis respostas ainda sejam impronunciáveis. 

Entre tantas perguntas em aberto e cada vez mais difíceis de responder, em função de sua crescente especificidade e da dificuldade de imaginar alternativas para o nosso futuro, uma certeza é quase óbvia e poderia servir aqui como ponto de partida: a escola está em crise. Por quê? Os fatores que levaram a essa situação são inúmeros e sumamente complexos, mas um caminho para compreender os motivos desse mal-estar consiste em recorrer à sua genealogia. Ao observá-la sob o prisma historiográfico, essa instituição ganha os contornos de uma tecnologia: podemos pensá-la como um dispositivo, uma ferramenta ou um intrincado artefato destinado a produzir algo. E não é muito difícil verificar que, aos poucos, essa aparelhagem vai se tornando incompatível com os corpos e as subjetividades das crianças de hoje. A escola seria, então, uma máquina antiquada. Tanto seus componentes quanto seus modos de funcionamento já não entram facilmente em sintonia com os jovens do século XXI. (SIBILIA, 2012,  p. 10) 

O antagonismo de uma escola antiquada, cujos valores, objetivos foram definidos e seguidos desde séculos, frente aos novos modos de ser e comportar no mundo onde a informação circula de maneira instantânea e global. Para a autora vivenciamos uma divergência de época, um desajuste coletivo entre os colégios e seus alunos na contemporaneidade, que se confirma e provavelmente se reforça no dia a dia na experiência de milhões de crianças e jovens pelo mundo, que hora são visto com a expressão nativos digitais  ou geração digital. Nas escolas os alunos se vocacionam, não mais para serem jogadores de futebol, médicas, atrizes, pilotos, entre outras inúmeras profissões. Os sonhos dessas  crianças e adolescentes se dão nas redes, com o desejo de milhares de curtidas ou visualizações. 

Sibilía (2012) destaca que o modelo de escola que temos foi concebido com objetivo de atender a um conjunto de demandas do projeto histórico que a planejou e procurou colocá-la em prática: a modernidade. Ela destaca que antes havia escolas, mas elas não se equiparam ao que temos hoje por esse termo. Nesse período sua função era a formação tanto moral como intelectual das crianças, e um  meio  de adestrá-las, graças a uma disciplina mais autoritária.  

As escolas permanecem norteadas pela disciplina onde os alunos são condicionados a determinadas rotinas, filas, cumprimento de horários, frequência escolar mínima, ou seja um ambiente disciplinador, em contraposição às distrações. 

Nessa direção Manzi escreveu: 

Essa escola teria um objetivo que as crianças e jovens aprendessem os  imperativos  morais e a forma correta de  se pensar para ser um cidadão instruído em uma sociedade cosmopolita – no caso, burguesa/capitalista nascente sob o jugo da fraternidade, igualdade  e liberdade. Para criar esse cidadão universal e disciplinado, desde a infância, no seio familiar, a criança já disporia de um ambiente disciplinador, culminando na escola e, posteriormente, o meio social/trabalho, evitando a todo custo as distrações (entretenimento) A caracterização desse modelo disciplinar seria a rotina: em que os alunos cumpram horários; fiquem sentados; se comportem; saibam a hora de falar e de ouvir etc. tratar-se –ia de uma adequação do corpo infantil,  que é ―irrequieto‖, com o modelo na qual, a todo tempo, cumpre-se alguma tarefa. Longo e difícil foi o caminho de naturalizar essa forma de ser nas crianças e jovens  (MANZI, 2020, p.16-17) 

As profundas transformações na sociedade têm implicações diretas no modo de vida, de cultura e de relações sociais. Nessa metamorfose, Sibilia (2012) destaca que as escolas deixaram de agir como aparelhos disciplinares, dedicados a produzir um tipo peculiar de corpos e modos de ser, para se tornarem uma espécie de empresas cujo fim consiste em prestar serviço.  E nesse contexto como qualquer empresa está sujeita a diversos graus de sucesso ou fracasso.  

Com isso vemos avanços da globalização e do neoliberalismo o estado perde sua capacidade centralizadora da organização dos sistemas de ensino. Sibilia descreve essas mudança: 

Como fruto desses processos, extinguiram-se as condições que permitiam produzir aquele tipo de subjetividade moderna que se poderia adjetivar de estatal, cidadã, pedagógica, institucional, disciplinada e introdigirida. Continua a haver escolas no século XXI, é claro: há milhões delas em todo o mundo, funcionando cotidianamente e afetando de modo direto as vidas de uma parte enorme da população planetária. No entanto, seu estatuto parece ser outro, pois se esgotou o dispositivo que as insuava e, junto com ele, mudaram os tipos de corpos e os ―modos de ser‖ que eram compatíveis com essa aparelhagem. Não se trata somente das subjetividades do aluno e do cidadão, mas também das do soldado e do operário, por exemplo, hoje igualmente agonizantes e em mutação, como as instituições que costumavam produzi-las. Ainda que estas persistam, afrouxaram-se os laços orgânicos que as ligavam a todas as demais. Isoladas nessa fragmentação, tornaram-se impotentes porque afundou o solo em que se arraigavam: elas perderam sua capacidade de nutrir o projeto moderno que constituiu suas bases, mas que foi corroído nas últimas décadas. (SIBILIA, 2012,  p. 81) 

A construção de um novo modelo de escola tem encontrado dificuldades para responder aos desafios dessa nova demanda. Seriam as tecnologias que causaram esse conflito? Ou será que a tecnologia seria a solução? É preciso reinventar essa nova escola, uma nova forma de ensinar e aprender, mas como? São perguntas recorrentes que precisam ser debatidas de forma urgente, uma vez que a escola antiga não funciona mais. Evidente que haverá inúmeras perguntas sem respostas na busca de como construir um novo modelo de escola, ressignificando seu papel para atender as demandas da sociedade digital e da informação.  

Sibilia (2012) pontua que essa nova escola, deve ser construída considerando essa nova realidade trazida pelas redes e pelas novas tecnologias, deve estar inserida também na conectividade ou seja a escola não pode ser um espaço alheio a essas transformações. A autora pontua as inovações e debates em torno de estratégias ousadas e geradoras de disputa de implementação de novas tecnologias no ambiente escolar como um computador por aluno. 

Iniciativas como essas partem da evidente constatação de uma defasagem, que constitui a medula deste livro e pode ser resumida da seguinte forma: enquanto os alunos de hoje vivem fundidos com diversos dispositivos eletrônicos e digitais, a escola continua obstinadamente arraigada em seus métodos e linguagens analógicos; isso talvez explique por que os dois não se entendem e as coisas já não funcionam como se esperaria. Ante esse quadro e essa hipótese, quase todos concordam em que tanto a instituição de ensino, em geral, quanto o desprestigiado papel do professor, em particular, deveriam se adaptar aos tempos da internet, dos celulares e dos computadores. Por isso, apesar dos enormes investimentos de capital exigidos por esses programas, equipar os colégios e seus habitantes com tecnologia de ponta parece ser o primeiro passo para tentar vedar essa brecha. Apesar de dispendioso e temerário, esse primeiro passo é o mais fácil de dar. Pois a tão buscada adequação entre a escola e o mundo atual não deve limitar-se a ―usar as tecnologias como recursos didáticos‖, ou a ―fazer da telemática um instrumento a favor do barateamento e da disseminação do ensino‖. (SIBILIA, 2012,  p. 162-163) 

Construir um amplo debate com alunos e professores de todos os níveis, e o primeiro passo, com a compreensão de que hoje as paredes das unidades escolares não nos separam mais do mundo. Portanto a dispersão provocada pelas redes ocorre em todos os ambientes.  A ideia da escola sempre foi utilizar das paredes, do silêncio, da concentração, ou seja, a ideia de disciplina sempre foi colocada como fator facilitador da aprendizagem. Porém mesmo que a escola tenha um controle rigoroso dos meios eletrônicos a dispersão irá continuar. Crianças de 6 anos de idade dominam tecnologias com mais profundidade que muitos professores. Sibilia (2012), destaca a importância da reflexão, face aos novos desafios e a necessidade que possa voltar a acontecer alguma coisa nas aulas, mas que isso seja diferente do que acontecia algum tempo atrás porque assim era estipulado pelos regulamentos: agora, contra o tédio e a dispersão, é preciso dar densidade à experiência, despertando entusiasmo e vontade de aprender:  

será necessário transformar radicalmente as escolas, e para isso não basta dar o vertiginoso primeiro passo que consiste em desativar o confinamento mediante a irrupção das novas tecnologias. Falta, sem dúvida, o mais difícil: redefini-las como espaços de encontro e diálogo, de produção de pensamento e decantação de experiências capazes de insuflar consistência nas vidas que as habitam. Não se trata, de modo algum, de restaurar a velha instituição oitocentista, supostamente boa porque ―funcionava bem‖, tampouco de atualizá-la transformando-a em mais um nó das redes de conexão para dissolvê-la fatalmente nessa metamorfose. (SIBILIA, 2012,  p. 190) 

O PAPEL DA ESCOLA, REDES E AS FAKE NEWS 

A escola deve constituir um referencial fundamental no combate da desinformação. Ela é responsável pela formação intelectual e social dos alunos, com finalidade de formá-los  com capacidade crítica e consciência de mundo. Neste contexto, a escola deve se valer dos recursos tecnológicos como ferramentas de enfrentamento e conscientização visando prepará-los para identificar o que é verdadeiro ou falso. 

Esse assunto é extremamente importante e trouxe  preocupações até mesmo para a ONU (Organização das Nações  Unidas). Desta forma, em 2017, em meio ao aumento da proliferação de notícias falsas foi realizado um fórum para debater o assunto, buscando caminhos para levar aos cidadãos conhecimento e ferramentas visando avaliar a credibilidade dos conteúdos da mídia ou provenientes dos mais diferentes meios, principalmente os digitais. 

As notícias falsas existem desde os primórdios da humanidade. Mas ganhou maior notoriedade nas eleições americanas de 2016, quando Donald Trump foi eleito. No Brasil na eleição de Bolsonaro em 2018. 

Sua consequência é devastadora em todos os sentidos, vale lembrar da Fake News, do caso de uma mulher que foi morta por moradores do Guarujá ao ser confundida  e acusada de praticar magia negra em crianças. Casos da Baleia Azul, que criaram uma onda de mutilações no país e que se tratava de uma notícia falsa que se originou na Rússia. E recentemente também surgiram um grande número de notícias falsas sobre um dia de  massacre nas escolas que colocaram as autoridades, estudantes e familiares em alerta.  

Construir nos alunos uma consciência crítica coletiva da importância da verificação das informações recebidas e dos riscos inerentes  ao uso das redes, face ao risco de informações manipuladas, anúncios falsos, golpes e de crimes cibernéticos. Os alunos precisam compreender que a internet é praticamente uma terra sem lei. Nesse ponto o professor tem um papel preponderante no sentido de provocar um debate utilizando o próprio conhecimento e diversidade de experiências das interações digitais dos alunos. 

Dessa forma o desafio da nova escola supera a barreira da sua própria adaptação dos meios digitais, mas também da capacidade da escola em preparar alunos com consciência crítica para lidar com o grande volume de informações vindas dos mais diferentes meios. A democratização do acesso a internet e do crescimento das redes sociais trouxe o fim das barreiras ao acesso à informação. Porém ficou mais difícil identificar o que é verdadeiro ou falso. E é nisso que apostam os difusores de fake News construir de maneira industrial e com requintes de realismos as informações falsas que serão introduzidas na sociedade, sempre rotuladas de informações ou notícias bombásticas e de cunho ideológico que atenda determinados grupos da sociedade, sejam políticos, religiosos, econômicos e sociais, tendo sua disseminação de forma instantânea principalmente na fragilidade  comunicativa da internet. Masili, traz considerações importantes sobre as fake news: 

Compreender o processo de contaminação das informações digitais pelas fake news exige realizar uma verificação do papel da informação e da comunicação na formação da sociedade e, por isso, é preciso entender a relação da internet como principal meio de realizar troca de informações e perquirir como a propagação de notícias inverídicas detém força para alterar a percepção da realidade e abalar a organização democrática. Essas questões fundamentais implicam percorrer os principais aspectos sob a perspectiva dos indivíduos e da sociedade. ( MARSILI, p. 17.  Edição do Kindle.)  

Manzi (2020) traz uma reflexão sobre o livro  Fabrenheit 451, que descreve a sociedade entre o final do século XX e XXI.  A história se passa em uma sociedade onde os livros são proibidos e o trabalho dos bombeiros é queimar qualquer livro que seja encontrado. O personagem principal, Guy Montag, é um bombeiro que começa a questionar sua profissão e a falta de liberdade intelectual na sociedade em que vive. Ele decide se rebelar contra o sistema e se juntar a um grupo de pessoas que memorizam livros para preservar seu conhecimento. Manzi relata:  

É uma obra classificada normalmente como distópica, ou seja, uma ficção que trataria de uma situação anômala da sociedade. Poderia concordar com essa adjetivação somente se estarmos levando em conta essa ficção ao ―pé da letra‖.  Bradbury parte da percepção da eleição de alguns princípios  que se desapontam em sua época; o que ele faz é os elevarem ao máximo/extremo, criando assim uma espécie de ―exagero‖ . tal  tática torna clara a que nossa sociedade chegaria se continuássemos a reforçar tais princípios. Essa situação de ―exagero‖, de fato, é distópica; entretanto a sociedade que ele descreve não é muito distante da nossa se tivermos em conta que os princípios  que ela denuncia estão presentes de forma velada entre nós. Nesse sentido , apesar da distópica, a obra é uma espécie de denúncia social  ou mesmo um prognóstico de uma sociedade que vela em si uma patologia social. (Manzi, 2020, p.16-17) 

A intenção desta referência é demonstrar que  produção e distribuição de Fake News têm objetivos diversos, mas se fundamentam em construir uma realidade ou verdade paralela como a do livro Fabrenheit 451. Desta forma  manipulam a opinião pública, criando teorias conspiratórias visando interesses pessoais,  políticos e  financeiros.   

Com a capacidade de mudar  a percepção da realidade, a fake News age em sentido duplo, um no sentido descredibilizar as informações verdadeiras  e no outro uma das notícias falsas e da desinformação para  provocar no leitor sentimentos diversos, como raiva, desconfiança, indignação. Submetem muitas pessoas a viverem num mundo paralelo, induzindo a uma inversão de valores. Tudo isso se dá na maioria das vezes sem que haja questionamentos. Nesse sentido ocorre um processo de naturalização da desinformação e trago novamente Manzi (2020), que descreve que as pessoas da sociedade narrada por Bradbury, não via mais sentido em questionar a sua forma de ser, pois as pessoas sentem literalmente bem com a situação, simplesmente aceitam como natural. No processo de desinformação oriundo da fake News ocorre processo semelhante. Manzi escreve: 

Na verdade, recentemente, como se mostrou nas últimas eleições presidenciais do Brasil (2018) , essa inversão da realidade foi ditada pelo o que recentemente se denomina pós-verdade. Próximo a isso: as fake news – um fenômeno que instaurou uma nova forma de verdade e que mostrou sua eficácia de forma impressionante nessas eleições. (Manzi, 2020, p. 84) 

A fake News traz todas as características dos noticiários só que agora nos meios digitais uma terra sem lei. E é nas redes sociais que as notícias falsas encontram as melhores condições de circulação, num tempo de submissão a tecnologia e do abandono da reflexão, buscando o imediatismo comunicacional. 

Outro ponto trazido por Marsili bastante preocupante é a superexposição que os usuários se submetem ao divulgar os aspectos individuais de vida nas redes. Diante disso, diversas empresas utilizam essas informações para os mais diferentes fins, podendo traçar perfis individuais de consumo, ideologia política, entre outras. O autor escreve: 

As realidades pública e privada deixaram de ser ambivalentes no contexto digital, uma vez que a transparência das informações tornou majoritariamente os conteúdos públicos. Se por um lado trouxe visibilidade ao tratamento de questões de interesse público, por outro, assuntos banais do cotidiano particular ganharam publicidade, em um comportamento exibicionista, típico da conformação da sociedade do espetáculo com a mudança paradigmática do que se realmente é para o que se parece ser. (MARSILI, p. 65. Edição do Kindle.) 

Nas salas de aulas e nas redes sociais é comum que crianças de diferentes faixas etárias já  exibem seus corpos em movimentos e danças ao ritmo de músicas impronunciáveis. A escola outrora moralista se depara com uma nova infância e adolescência, com outros valores.  

O modelo empresarial de ser teria colonizado todas as nossas formas de vida, culminando com um culto ao desempenho, e que toda a ideia neoliberal pensada sobre o capital humano é incorporada e naturalizada em nossa sociedade, difundindo o empreendedorismo de si mesmo.  Desta forma Manzi escreve: 

Nossa cultura empresarial enaltece o sucesso individual, a visibilidade, a satisfação rápida e momentânea, buscando a promessa de felicidade, de corpo perfeito, a autoestima etc. Tem-se claramente um ideal de felicidade que busca o bem-estar individual – corporal, emocional  e/ou profissional. De gerir a própria vida, criando um eu como se fosse uma marca a ser vendida e apreciada, buscando obviamente, o Máximo de visibilidade (promoção de si) (MANZI, 2020, p.135) 

Nesses novos tempos o culto ao desempenho individual ganha espaço,  com a desnaturalização do infantil. Se antes as crianças eram vistas um ser incompletos, sendo a infância um mero preparativo para transformar a criança imatura, irracional, incompetente, associal e acultural num adulto maduro, racional, competente, social e autônomo.  As crianças que nos deparamos nas escolas já trazem a conexão com a nova realidade midiática das  redes sociais, dos jogos online, e da comunicação instantânea e do conhecimento e domínio de inúmeros recursos tecnológicos. Sibilia descreve bem essa nova infância : 

A criança atual já não é frágil nem ingênua: ao contrário, presume-se que saiba muitas coisas e seja capaz de escolher, opinar e consumir. Não é mais um infante — cuja etimologia remete, justamente, àquele que não fala — nem se supõe que deva ser ―formada‖ para o futuro, mas é constantemente bombardeada por informações que lhe mostram como ser um garoto ou uma menina de hoje. Isso não significa, é claro, que esteja imune a qualquer fragilidade, mas que mudaram os modos como esta última se manifesta: trata-se de uma vulnerabilidade semelhante à que agora afeta também os adultos — embora, às vezes, os pequenos pareçam mais seguros e ―senhores de si‖ que seus pais e professores. (SIBILIA, 2012,  p. 97) 

Sibilia, (2012) deixa uma reflexão: agora, um dos mecanismos mais eficazes para nos sujeitar não é o confinamento, mas algo que está mais associado às conexão permanente e voluntária. E destaca também que é sempre insuficiente e escoa depressa demais, de que tudo é urgente e veloz, de que estamos atrasados,  que temos uma quantidade infinita de alternativas. Para a autor o problema é ao ―sofrer por superfluidez‖, nada é filtrado e pouco se assenta na própria experiência , em consequência disso perdendo tudo. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Em suma, durante a pesquisa, foi feito um aprofundamento a fim de compreender o contexto histórico da escola, e as implicações desse modelo obsoleto que poucas mudanças sofreu por séculos e que agora demanda uma transição rápida para atender as expectativas da geração digital. 

Este artigo constata o quanto é desafiador o papel da escola no ambiente digital.  O surgimento de novas tecnologias e ferramentas provoca uma desconexão dos alunos com a escola. Até o presente momento já vimos inúmeras tentativas de inserir a escola no contexto digital, a maioria fracassada por não levar em consideração o preparo dos profissionais de educação e a infraestrutura das unidades e próprio conhecimento dos alunos, bem como suas diferentes realidades sociais e econômicas. Projetos de laboratórios de informática já existem nas escolas há mais de duas décadas, mas por motivos diversos pouco contribuíram para a inclusão digital das escolas.  

Por outro lado somos uma geração de professores que não foram preparados para lidarem com as mídias digitais, das quais boa parte dos alunos são mestres.  

 Talvez seja preciso conceber uma nova forma de escola, em que as paredes não sejam obstáculos para o uso das mídias digitais. Creio que o primeiro passo não seja necessariamente digitalizar as escolas, mas preparar os profissionais que atuam na escola para lidarem com o digital. Antes do equipamento é preciso ofertar  a formação  para  os professores poderem trabalhar com o digital e aproveitar todas as suas possibilidades.  

É preciso criar um dinamismo maior nas escolas, um trabalho em equipe, onde todos possam aprender e crescer juntos, professores e alunos.   

A pandemia trouxe a necessidade do uso das ferramentas digitais, porém deixou traumas nas famílias e nos professores principalmente pela dificuldade em função do pouco conhecimento das ferramentas e do elevado grau de improvisação das atividades desenvolvidas. 

Portanto, a inclusão digital deve ser feita com uma reformulação profunda nos métodos de ensino, buscando um equilíbrio entre a implementação das ferramentas pedagógicas digitais e também com a manutenção de valores educacionais da escola, visando não perder valores importantes para a formação social dos indivíduos. 

Ficou claro que existe um profundo processo de exclusão digital de nossas crianças, com famílias que não tem sequer acesso a internet ou possuem apenas celulares com requisitos mínimos de acesso. Dessa forma o digital ainda não traz a inclusão das classes sociais mais pobres a essas novas ferramentas de conhecimento. Durante a pandemia por motivos diversos apenas demonstrou o abismo existente entre diferentes realidades regionais, sociais econômicas que contribuem para o fracasso da escola e consequentemente dos alunos. 

Muitas das ferramentas que surgiram ou que massificaram na pandemia estão sendo utilizadas na rede privada e poderão ser aproveitadas nas redes públicas, mas isso implicaria em investimentos na conectividade dos alunos carentes e com doação de equipamentos, seja tablets ou notebooks para os estudos.  

A construção de uma educação de qualidade e uma sociedade melhor no mundo em constante evolução passa pela adequação da escola de forma eficiente a realidade digital, sem perder o foco nos valores coletivos de sociedade, e ao mesmo tempo levar nossos alunos a se tornar pessoas bem informadas, críticos, para poderem lidar com os benefícios e riscos da hiperconexão, e enfrentamento das fake news.  

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 

MANZI, Ronaldo. Uma leitura sobre ideologia, mídia e educação: o que é real e o que é ficção?/ Ronaldo Manzi – 1.ed. – Curitiba:  Brasil Publishing, 2020 

SIBILIA, Paula. Redes ou paredes – A escola em tempos de dispersão. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012. 
Tratamento 

MARSILI, Tarsila. Fake news: fake news como instrumento de influência estrangeira na manipulação do eleitor em um ambiente digital global (Portuguese Edition) (p. 1).  Edição do Kindle


1O presente artigo faz parte do trabalho final   da disciplina : Questões  Contemporâneas  na  Educação do Mestrado em Educação da FacMais
2Mestrando  em Educação pela  FacMais. Pós-Graduado em Psicopedagogia pela Universidade Estadual de  Goiás – UEG, Licenciada em Pedagogia  pela Universidade Estadual de Goiás – UEG E-mail: adrianopereira@aluno.facmais.edu.br