REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7814793
João Paulo Romero Miranda1
Michele Vieira de Oliveira2
Francyllayans Karla da Silva Fernandes3
Jéssica Rabelo Nascimento4
Resumo: O objeto desta pesquisa é a variação e mudança linguística da Língua Brasileira de Sinais (Libras) dos estudos da linguagem e da sociolinguística. O objetivo geral desta pesquisa é analisar a enunciação lexical da mudança linguística em Libras na comunicação de surdos no Brasil. Os objetivos específicos são: apresentar as leis da Língua Brasileira de Sinais (Libras), identificar os sujeitos surdos que utilizam a Língua de Sinais dos surdos da região e analisar a mudança no tempo das línguas entre os surdos brasileiros. O surdo se comunica por meio da Língua de Sinais e se desenvolve linguisticamente quando esse contato é feito o mais precocemente possível. Trata-se de uma pesquisa de campo de natureza quanti-qualitativa, baseada em estudos de caso. A pesquisa mostrou que mesmo com dificuldades de comunicação, os surdos da região se comunicam em Língua de Sinais, sendo os surdos brasileiros em sua maioria usuários históricos de Libras. Dessa forma, entendemos que a região linguística é um espaço propício para o aprendizado tanto da Libras, porém as mudanças linguísticas das Línguas de Sinais ajudam a aproximar os surdos desses países, sendo a Libras a Língua Brasileira de Sinais.
Palavras-chave: Libras, Estudos de Linguagens, Sociolinguística, Mudança Linguística
INTRODUÇÃO
A base dos estudos de linguagens e da sociolinguística, fundamenta-se na mudança linguística teórico-descritiva na evolução histórica, por meio dos surdos sinalizantes utilizam-se da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS na comunidade surda brasileira. A comunicação entre pares pode ser desenvolvida de diferentes maneiras, incluindo as línguas de sinais, que são utilizadas por comunidades surdas em diferentes regiões do mundo.
Devido às rigorosas pesquisas realizadas por especialistas na área de estudos de linguagem para pessoas surdas (com deficiente auditiva) em usuários da língua de sinais, é um natural na comunidade surda, os estudos relativos à surdez avançaram significativamente nas últimas décadas. Neste contexto, esta investigação justifica-se pela importância de recuperar a história da língua gestual e pela necessidade de provas, especificamente as baseadas na experiência pessoal e fundamentadas teoricamente nos parâmetros (unidades fonemas) de Libras. Desta forma, espero contribuir para o estudo de questões relacionadas com a estrutura linguística das línguas gestuais, particularmente a variação linguística e os fenómenos de mudança.
Este trabalho propõe uma viagem deste olhar a partir da realização de uma leitura preliminar dos processos discursivos da língua brasileira de sinais (LIBRAS) no léxico variação e mudança, à teoria enunciativa de Bakhtin. Transforma-se importante focalizar que com esta (re)leitura, não se está negando o ilimitado valor dos estudos anteriores, pois, graças a eles, as línguas de sinais passaram a ser reconhecidas em seus respectivos países, a circularem nos meios acadêmicos e a serem consideradas como fundamentais para a educação dos surdos. Trata-se apenas de um novo olhar para ela, atribuindo-lhe novas significações, que vêm se somar às discussões anteriormente realizadas por outros autores.
Para uma investigação mais detalhada e para fundamentação teórica dos estudos utilizaremos como base teórica os estudos de linguagens, as línguas de sinais linguísticas e sociolinguística dos autores Benveniste (1989 e 2006), Flores & Teixeira (2005), Bakhtin (2002), Fiorin (2002), Labov (2007), Brito (1995), Diniz (2011). O instrumento de análise será a observação dos sinais na comunidade surda, verificando quais são unidades parâmetros de Libras nas mudanças linguísticas que ocorrem na perspectiva de estudos linguísticos.
O objetivo geral deste estudo é examinar os sinais lexicais da mudança linguística na enunciação das Línguas de Sinais na comunicação de surdos brasileiros. Para cumprir nosso objetivo primordial, também especificamos nossos objetivos específicos, que são apresentar as leis da Língua Brasileira de Sinais (Libras) em uma língua reconhecida do Brasil para pessoas surdas, identificar os sujeitos surdos da região que falam a Língua de Sinais e analisar as evoluções das línguas entre os surdos brasileiros ao longo do tempo.
Como sabemos agora, a Libras é uma língua humana, assim como as outras línguas faladas, e contém sua própria estrutura linguística, embora de forma diferente. Como qualquer língua humana, a Libras passa por um processo contínuo e progressivo de variação e mudança, seja por motivos internos ou pelo contato com outras línguas, como a língua portuguesa. Este estudo tem como foco a mudança analisando três documentos históricos, ou dicionários de sinais criados em diversas épocas e locais. Como resultado, reunimos uma parte da história de Libras para reconhecimento e divulgação junto às comunidades científica e social.
Iniciando a Constituição Federal de 1988, além de representar um marco para a democracia no estabelece como língua oficial, a língua portuguesa. Apenas a partir do ano de 2002, a Língua Brasileira de Sinais, LIBRAS, foi oficialmente reconhecida e aceita como segunda língua brasileira para pessoas surdas, através da promulgação da Lei 10.436, de 24 de abril de 2002. Essa data é, portanto, significativa para as pesquisas sobre Libras no Brasil, que se intensificaram com o reconhecimento oficial da língua. Desde então, houve um avanço crescente no alcance e uso da Libras, a língua da comunidade surda brasileira. Essa expansão se deve, em grande parte, às políticas adotadas no âmbito federal, voltadas à divulgação da Libras, bem como à sua oficialização.
A Língua dos surdos brasileiros através da Libras existe no Brasil há pelo menos 165 anos, pois no ano de 1857 foi fundado na instituição de Escola de Surdos do Brasil, chama-se Instituto Nacional para Educação de Surdos – INES em Rio de Janeiro. Anteriormente à criação do instituto, a língua já existia nas ruas, nas casas, com menor difusão e estabilidade, no contexto das comunidades surdas.
Historicamente, em geral, os Surdos têm o relato de sua história distorcida pela falta de registros em sua língua. Strobel (2016) faz uma retomada da história dos Surdos que, desde os primeiros registros, foram narrados por ouvintes ligados a Comunidades Surda:
A maioria dos registros históricos foi escrita através de meta narrativas ouvintes, depoimentos de profissionais que trabalharam com os sujeitos surdos, fatos vivenciados por eles, avanços tecnológicos e observações de familiares e amigos ouvintes, tornando a história de surdos em uma visão crítica, isto é, a história de surdos na visão de sujeitos ouvintes (STROBEL, 2016, p. 109-110).
É importante destacar que, conforme apontado por Strobel (2016), essas memórias se tornam meta narrativas e, por isso, não podem ser consideradas uma memória oral, uma fonte histórica dessa comunidade, afinal memórias são os relatos dos momentos vividos por um sujeito e só ele pode falar de suas experiências, só ele tem capacidade de expressar o que significa essa retomada de ideias. A memória pertence a esse sujeito e se seu registro exclui a sua língua, exclui também sua subjetividade e sentido, que só o detentor da memória possui.
Em convergência com o que diz Strobel (2016), Benveniste afirma que:
É na linguagem e pela linguagem que o homem se constitui como sujeito: porque só a linguagem fundamenta na realidade, na sua realidade que é a do ser, o conceito de ‘ego’. A “subjetividade” de que tratamos aqui é a capacidade do locutor para se propor como “sujeito”. Define-se não pelo sentimento que cada um experimenta de ser ele mesmo (esse sentimento, na medida em que podemos considerá-lo, não é mais que um reflexo) mas como a unidade psíquica que transcende a totalidade das experiências vividas que reúne, e que assegura a permanência da consciência. (BENVENISTE, 1995, p. 286)
Transpondo o que propõe Benveniste para o Surdo, esse sujeito, por meio de seu discurso, torna-se o eu que se dirige a um tu, assumindo o papel de relator de suas memórias na sua forma mais complexa, a partir das vivências e das escolhas que carregam o sentido em si.
Nossa pesquisa envolveu a análise de 2 (duas) sinais lexicais de “E-MAIL” na mudança linguística, demonstrando como distinguir entre os constituintes (unidades fonemas) da Libras em vários níveis fonológicos à medida que o léxico muda ao longo do tempo.
A mudança linguística nos estudos da linguagem para as Línguas de Sinais, aquela que investiga os léxicos sinais de Língua Brasileira de Sinais – Libras. Possui várias leituras de textos clássicos no campo da sociolinguística para oralizados/falantes, muitos pesquisadores têm se dedicado ao estudo do conceito de mudança linguística em geral é ao processo de transformação e modificação que todos as línguas vivenciam em geral e as unidades linguísticas de cada um dos seus níveis particulares.
Este estudo da mudança de fatos evolutivos da lexical ao longo do tempo revela o significado do desenvolvimento social e histórico da língua, bem como seu desenvolvimento linguístico real. De acordo com o pesquisador Faraco (2005), podemos ver neste instante dois tipos diferentes de fatores operando na mudança linguística nesse desenvolvimento: fatores externos e internos. Para analisar os fatores externos, é preciso observar como as línguas mudaram ao longo do tempo em termos de suas funções sociais e contextos, bem como suas interações com a comunidade. A investigação da evolução da língua como resultado do funcionamento de determinados processos gramaticais nas áreas de fonologia, morfologia, sintaxe e léxico é feita por meio da análise de fatores internos.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DE ENUNCIATIVA E MUDANÇA LINGUÍSTICA
Nesta parte serão abordados os pressupostos da estudos de linguagens, no qual apresentamos e discutimos questões como: A definição de mudança linguística na sociolinguística e as Línguas de Sinais. Ao falarmos de mudança linguística e lexicais, trazemos alguns exemplos que ocorrem com línguas orais, demonstrando os exemplos de sinais que acontecem com a língua de sinais em geral.
Émile Benveniste foi um linguista do século XX que propôs o que seria a primeira teoria linguística que se preocupa com o uso da língua, não somente com seu estado “sólido” e, sim, com a volubilidade dela: sua renovação a cada ato enunciativo. Ele contribuiu para uma expansão do paradigma linguístico concebido por Ferdinand de Saussure.
Podemos perceber que os textos de Benveniste se complementam. Assim, em “O aparelho formal da enunciação” (BENVENISTE, 1989, p. 81), ele explica essa espécie de dispositivo que as línguas têm para que possam ser enunciadas. Isso nada mais é do que a marcação da subjetividade na estrutura da língua. E então, toda a língua seria dêitica:
O ato individual pelo qual se utiliza a língua introduz em primeiro lugar o locutor como parâmetro nas condições necessárias da enunciação. Antes da enunciação, a língua não é senão possibilidade de língua. Depois da enunciação, a língua é efetuada em uma instância de discurso, que emana de um locutor, forma sonora que atinge um ouvinte e que suscita uma outra enunciação de retorno. (BENVENISTE, 1989, p. 83-84).
Assim, toda a língua é didática, visto que precisa ser referida ao sujeito da instância do discurso para ter sentido. Flores & Teixeira (2005, p. 42) ainda dizem que, desta forma, Benveniste apaga as fronteiras entre o sistema língua e a fala de um sujeito. Esse mecanismo de referência pensado por ele constitui tanto língua como fala, sendo, dessa forma, uma importante teoria para analisar ambas as instâncias.
No conceito dos léxicos de variação e mudança da sociolinguística é os estudos científicos nas línguas das sociedades, nesta um enorme das pesquisas nossa subdivisão da linguística, foco investiga-se a mudança linguística a qual preocupa-se em estudar a língua usada pelas comunidades surdas e de fala, considerando seus aspectos linguísticos e sociais, para poder entender como ela se comporta. É uma área que não se fecha em si mesmo, pois a conversa com outras áreas de conhecimento, através de estudos de fenômenos que possam vir a influenciar nas línguas em estudo. Uma das preocupações da sociolinguística é investigar a mudança linguística, algo comum nas línguas naturais humanas, desvendando seus motivadores estruturais e sociais.
No conhecimento desse estudioso, a língua(gem) não reside na mente do usuário (como pensa Chomsky), nem é um sistema tomado em sua abstração (como sugere Saussure), independentemente das condições sociais. “A língua é [sim] um trabalho empreendido conjuntamente pelos falantes, é uma atividade social, é enunciação […] compreendida como uma réplica do diálogo social […] a natureza da língua é essencialmente dialógica […] a enunciação é de natureza social, portanto ideológica” (BAKHTIN, 1929/2002, p. 152-153).
Conceitualiza de enunciação do Benveniste (2006 (1974), a enunciação é um mecanismo geral, um ato de produzir qualquer enunciado, qualquer texto, não só os linguísticos, mas qualquer expressão de sentido (poesia, discurso, música, dança, pintura etc.). Ela é entendida também, pelo autor, como um ato individual de colocar a língua em funcionamento. Para Benveniste, é muita clara a ideia de que, antes da enunciação, “a língua não é senão a possibilidade da língua” (p.83). E, para ele, é ela que está por trás da instauração das categorias discursivas que tomarão estruturas abstratas e narrativas mais concretas. O autor define a enunciação, então, como a instância do eu, do aqui e do agora, responsável por fazer a passagem entre o sistema (a língua) e o processo (o discurso).
Segundo Benveniste, o homem só se constitui como sujeito quando usa a língua: “é ego quem diz ego”. Para o autor, essa capacidade de se tornar sujeito por meio da linguagem é chamada de subjetividade. Segundo Fiorin (2002: 41-42), a categoria de pessoa é fundamental para que uma “linguagem se tome um discurso”. Quando um sujeito diz “eu”, ele designa a si próprio como um eu e estabelece automaticamente outra pessoa, um tu, que pode ser concreto ou abstrato, presente ou ausente, existente ou inexistente”: uma pessoa para quem eu vou dizer alguma coisa.
Nas línguas de sinais, a(s) mão(s) do enunciador representa(m) o objeto, enquanto o espaço em que o movimento se realiza (o espaço de enunciação) é a área em torno do corpo do enunciador (Ferreira Brito e Langevin, 1995). O sujeito que enuncia o enunciador determina, além do tu, quem são as não-pessoas da enunciação, ou seja, os não-tus. Como esse sujeito enuncia em um determinado espaço e em um dado tempo, o espaço e o tempo, então, também se organizam a partir desse sujeito. Por isso se diz que a enunciação é o lugar do ego, hic et nunc e as línguas humanas são egocêntricas (tudo no discurso é um efeito de sentido criado a partir do ponto de referência do eu). O aqui (hic) é o espaço do eu, o lugar onde o sujeito produz seus enunciados. E o agora (nunc) é o tempo em que coincidem o momento do evento narrado ou descrito e o ato de enunciação, que é o momento em que o sujeito produz os enunciados. Todo e qualquer texto produzido terá, portanto, relações temporais. Essas relações, no entanto, serão expressas de alguma maneira, marcadas ou não marcadas nos enunciados de forma explícita.
Segundo Fiorin (2008), a sucessão diz respeito à forma como os acontecimentos são ordenados numa linha temporal. O português, por exemplo, dispõe de advérbios e locuções adverbiais sequenciadoras, como “depois”, em seguida”, “depois de dois dias”, etc., e de orações temporais, para criar, nos textos verbais, a ideia de que os acontecimentos se sucedem. A libras conta também com itens lexicais que correspondem a esses advérbios do português, para criar as a ordem dos fatos em seus textos. A simultaneização é quando diferentes eventos ocorrem em um mesmo intervalo de tempo. Na linguagem verbal, linear, é preciso contar com advérbios, ou tempos verbais e até o procedimento da descrição, que indica uma concomitância durativa a um momento, para construir os acontecimentos simultâneos. Nas línguas de sinais, há a possibilidade de o sinalizador realizar um evento com cada mão, ou com o corpo e as mãos. Também há, nas línguas sinalizadas, o uso de descrições. Por fim, a inversão é o procedimento discursivo que muda a ordem natural.
Antes de entrarmos nos temas em questão, será abordado um assunto que tem ligação direta com o conteúdo da mudança linguística das Línguas de Sinais, pois os estudos iniciais remetem primeiramente a ela. Mudança linguística é um campo de pesquisa da linguística que foi estudado durante o século XXI, o qual analisava e classificava as línguas em grupos nas comunidades surdas.
Em uma conversação com Labov (2007), no caso de questionado sobre qual seria seu objeto de estudo, responde que é:
Existem outros ramos da Sociolinguística que estão preocupados primordialmente com questões sociais: o planejamento linguístico, a escolha pela ortografia oficial e outros que se preocupam com as consequências das ações de fala. Todas essas são importantes áreas de estudo, mas eu sempre tentei abordar as grandes questões da Linguística, como determinar a estrutura da linguagem – suas formas e organizações subjacentes – e conhecer o mecanismo e as causas da mudança linguística. Os estudos da linguagem usada no dia a dia provaram ser bastante úteis para alcançar esses objetivos (LABOV, 2007, p. 02)
Além da mudança lexical, também é de interesse de Labov, os estudos sociolinguísticos ao levar em conta a linguagem em uso na sociedade, compreende melhor o que levou a uma determinada mudança a ocorrer.
O estudo da mudança evolutiva revela a importância do desenvolvimento social e histórico da língua, bem como do desenvolvimento propriamente linguístico da língua. Neste desenvolvimento, podemos então observar, de acordo com o pesquisador Faraco (2005), dois tipos de fatores em operação na mudança linguística: fatores externos e fatores internos. Para análise dos fatores externos, investiga-se a evolução da língua ao longo do tempo em suas funções e contextos sociais, bem como nas relações com a comunidade. Para análise dos fatores internos, investiga-se a evolução da língua que ocorre devido à operação de determinados processos gramaticais na fonologia, morfologia, sintaxe e no léxico.
A MUDANÇA LEXICAL DAS LÍNGUAS DE SINAIS
Na Libras, assim como em qualquer outra língua, é natural a pronúncia dos fenômenos da variação e da mudança, segundo variáveis sociais e linguísticas. De modo geral, para que a mudança efetivamente aconteça, é necessário um período em que as velhas e novas formas da língua coexistem, o que pode, como consequência, acarretar a mudança, conforme afirmam Weinreich (2006, p. 139), as “velhas e novas formas variantes rivalizam num mesmo momento de tempo e essa alternância pode representar uma transição para um outro estado da língua”. Nesse sentido, qualquer que seja a mudança, esta pressupõe a variação. Quer dizer que, para que efetivamente a mudança sobrevenha, a língua necessariamente deve passar por uma fase em que há variação e que coexistem duas ou mais variantes (CHAGAS, 2012).
Em contexto o campo de estudo tem como precursor o pesquisador William Labov, que fundou a teoria Sociolinguística variacionista, propondo uma forma diferenciada de se analisar a estrutura da língua e os fenômenos de variação e mudança linguística que ocorrem com ela. De acordo com ele, não tem como estudar a língua sem considerar o componente social, pois ele a estuda em seu contexto social levando em conta os aspectos sociais e históricos que Saussure e Chomsky passaram a manter fora da análise da língua.
A conceitualização da mudança lexical de McCleary (2009), é um fenômeno completamente natural. Acontece em todas as línguas. É necessário e uma expressão da criatividade humana. Mesmo assim, a mudança lexical não é completamente tranquila. Existe muita polêmica sobre o uso de novas palavras.
Na produção de alguns sinais, também é possível verificar a influência da língua de origem nessas línguas, cabendo a linguística comparativa e histórica analisá-las. O estudo das mudanças que ocorrem com as línguas ao longo do tempo é chamado por Saussure (1969) de linguística diacrônica. Porém, também existem aquelas que ocorrem em um determinado momento no tempo, de forma síncrona, e essa sincronia também é estudada pela linguística.
A mudança linguística é o estágio final das variações linguísticas. Saussure conseguiu perceber e analisar que as línguas não eram as mesmas desde suas criações, pois foi sofrendo transformações que a levaram a ter mudanças. E mesmo em casos de variação linguística, há a compreensão do que os sujeitos estão falando, pois estão usando a mesma língua.
Diniz (2011) nos apresenta um estudo sobre mudanças fonológicas e lexicais da Libras, mostrando que ela passou por um processo que é comum também nas línguas visuoespaciais, apresentando questões sobre variações que levaram a ocorrer essas mudanças.
Outro exemplo de variação diacrônica é a do sinal da palavra e-mail, surgida através do empréstimo da palavra em português para a Libras, “inicialmente estruturada com as configurações de mão em “e” e em “m” e com o movimento da mão direita sendo realizado no meio da mão esquerda, iconicamente representando a palavra meio do português”. (Diniz, 2011, p. 58-59).
A figura 01 ilustra o processo de mudança da palavra de sinal de “e-mail”:
Figura 01: O Processo de Mudança de um sinal: E-MAIL
É possível perceber, tanto a estratégia de tematizar, que é formular os valores de forma abstrata, como procedimento de figurativização, que são as figuras, concretas, que recobrem os temas abstratos. Percebemos antes e depois destes sinais na imagem particularmente bem o processo de empréstimo de palavras de uma língua para outra. Em português, a palavra emprestada do Inglês, e-mail, já sofreu um processo de regularização fonológica, sendo pronunciada como “emeio” ou “imeio”. Quando a palavra já adaptada do Português foi emprestada para a Libras, ela foi inicialmente estruturada com as configurações de mão em “E” (mão esquerda da sinalizadora) e em “M” (mão direita), e com o movimento da mão direita sendo realizada no “meio” da mão esquerda, iconicamente representando a palavra “meio” do Português.
Na Língua Brasileira de Sinais, assim como ocorre com as línguas orais, como também de sinais, temos vários tipos de variações, algumas relativas a regiões diferentes, a diatópica, como também por idade, algumas passíveis de sofrer mudança linguística, a exemplo de sinais feitos por surdos idosos que os jovens surdos os estranham e não as usam, podendo ser suprimidos ao longo das gerações.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A fundação do Instituto de Surdos-Mudos, hoje conhecido como INES, no Rio de Janeiro, em 1857, solidifica a história do ensino do surdo no Brasil por meio do uso de língua de sinais, que teve início no período do império com a chegada do professor de surdo Edward Huet. Porque para o trabalho do professor Huet, a língua de sinais francesa teve um impacto significativo na Libras. Assim, levando em conta a relação histórica entre os dois em questão, este trabalho buscou contribuir para a análise dos fenômenos de variação e mudança linguística.
As análises aqui apresentadas permitem reconhecimento do Brasil como um país de políticas historicamente caracterizadas pela hegemonia de interesses privados em relação ao interesse público. Nossa formação estatal se deu anterior à formação de uma sociedade.
Ao compararmos dois termos de sinalização em Libras de falantes surdos dos dois tempos passado e presente, verificamos que houve manifestações diferenciadas para um mesmo significado de palavra. Como exemplo, citamos o sinal para a palavra “e-mail”, o qual é feito de forma diferenciada no tempo passado e no tempo presente. Foi estabelecido como critério seguir os Parâmetros fonológicos da Língua Brasileira de Sinais, para fazer as comparações dos sinais e assim entender o que foi modificado e assim classificar em que níveis as variações ocorreram, se fonológico ou lexical.
Partimos dos pressupostos da Sociolinguística para entender que a língua não ocorre de forma homogênea com seus falantes, mas sim heterogênea. Nesse sentido, o autor Labov, precursor da teoria sociolinguística do variacionismo, considera os fatores sociais e a língua usada no cotidiano pelas comunidades de fala como elementos importantes para sua análise.
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1Doutorando em Estudos da Linguagem pela UFMS, Mestre em Linguística pela UFSC, Especialista em Educação Especial e Inclusiva, Atua como Professor Assistente da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul-UFMS em Campus Pantanal-CPAN. E-mail: paulo.miranda@ufms.br.
2Mestra em Estudos da Tradução pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Graduada em Letras-Libras de UFGD. Membro do Grupo de Pesquisa em Interpretação e Tradução de Línguas de Sinais – InterTrads da UFSC. Email: mih.libras@gmail.com
3Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Educação Especial (UFSCAR), Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Letras (UFPB), Mestre em Educação (UFPB), Graduada em Pedagogia (UEPB), Letras-Libras (UFPB), Psicologia (UNIPE), Especialização em Libras – Tradução (FACEN), Especialização em Ciência da Linguagem com ênfase no ensino da Língua Portuguesa como L2 para Surdos (UFPB), Especialização em Libras – docência (UNIVASF). Professora Assistente de Libras (UESB). E-mail: francyllayans@gmail.com
4Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Letras (UFMS), Mestre em Estudos de Linguagens (UFMS), Graduada em Letras Bacharelado ênfase em Linguística (UEMS), Graduada em Letras-Libras (UNIASSELVI), Especialização em Libras e Educação Especial pela Faculdade São Luiz. Professora Assistente de Libras (UFMT). E-mail: jessicarabelonascimento95@gmail.com.