NURSING AS A SUBSIDY IN HUMANIZED BIRTH: WOMEN’S ASSISTANCE AT ALL STAGES
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11223375
Elaene Lima Dos Santos1;
Jennifer Luane Castro Nogueira2;
Edméa M. De Paiva dos Santos3
RESUMO
O cuidado humanizado é um componente essencial no campo da saúde, porque o trabalho profissional da enfermagem busca fornecer serviços de qualidade aos pacientes que estão sofrendo e temem doenças ou o processo de morte. No contexto desta pesquisa, cabe à enfermagem fornecer cuidados essenciais para a mulher durante o parto humanizado. Assim, o principal objetivo deste trabalho foi encontrar evidências científicas sobre cuidados humanizados do parto a partir das perspectivas de enfermeiros e pacientes/grávidas em ambiente hospitalar ou domiciliar, a fim de compreender a importância dos cuidados humanizados no atendimento gravídico e apresentando as principais divergências e convergências ocorridas durante o parto humanizado. Para atender a esses objetivos de pesquisa, foi realizada uma revisão literária exploratória de artigos publicados em revistas científicas de alta qualidade de 2019 a 2024 usando a metodologia PRISMA nos bancos de dados Scopus, Scielo, PubMed, Eric e Medline, nos quais forneceram aproximadamente 26 estudos para esta pesquisa, nos quais foram revisados e adentrados no marco teórico deste artigo. As descobertas mostram que enfermeiros e gestantes percebem a necessidade de remover as barreiras que limitam o avanço do cuidado humanizado nas instituições hospitalares e domiciliares durante o parto porque exigem urgentemente que os profissionais de saúde em todos os ambientes, especialmente grávidas em estados críticos, fortaleçam seu papel humanizador compartilhando experiências de saúde cordiais e empáticas e respeitando seus costumes e crenças durante o processo de concepçāo. Como conclusão das descobertas, os profissionais de enfermagem-paciente no ato do parto humanizado concordam que o treinamento do pessoal de saúde é fundamental para fornecer atenção humanizada com qualidade no contexto hospitalar e/ou domiciliar, enfatizando que o treinamento profissional deve desenvolver na prática habilidades interpessoais, comunicação, ambiente de segurança e valores humanos.
Palavras-chave: Parto Humanizado. Práticas de Enfermagem. Atendimento à Mulher.
ABSTRACT
Humanized care is an essential component in the health field, because professional nursing work seeks to provide quality services to patients who are suffering and fear illness or the death process. In the context of this research, nursing is responsible for providing essential care for women during humanized childbirth. Thus, the main objective of this work was to find scientific evidence on humanized childbirth care from the perspectives of nurses and patients/pregnant women in a hospital or home environment, in order to understand the importance of humanized care in pregnancy care and presenting the main divergences and convergences that occurred during humanized birth. To meet these research objectives, an exploratory literature review of articles published in high-quality scientific journals from 2019 to 2024 was carried out using the PRISMA methodology in the Scopus, Scielo, PubMed, Eric and Medline databases, which provided approximately 26 studies for this research, which were reviewed and included in the theoretical framework of this article. The findings show that nurses and pregnant women perceive the need to remove the barriers that limit the advancement of humanized care in hospital and home institutions during childbirth because they urgently require health professionals in all environments, especially pregnant women in critical states, to strengthen their humanizing role by sharing cordial and empathetic health experiences and respecting their customs and beliefs during the design process. As a conclusion to the findings, patient-nursing professionals in the act of humanized birth agree that the training of health personnel is essential to provide quality humanized care in the hospital and/or home context, emphasizing that professional training must develop practical skills interpersonal, communication, safety environment and human values.
Keywords: Humanized Birth. Nursing Practices. Women’s Service.
1 INTRODUÇĀO
A complexidade das situações de saúde que os profissionais de enfermagem enfrentam em suas vidas diárias requer um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes que devem ser mobilizados de maneira articulada para atender às necessidades de saúde da população.
As Diretrizes Curriculares Nacionais de Enfermagem determinam que a aprendizagem é centrada no aluno como um assunto ativo neste processo, com o professor tendo o papel de facilitador e mediador. Este documento direciona estudos que apresentem a enfermagem e seus cuidados para a mulher durante o parto humanizado.
Assim, este artigo traz evidências científicas sobre cuidados humanizados do parto a partir das perspectivas de enfermeiros e pacientes/grávidas em ambiente hospitalar ou domiciliar, a fim de compreender a importância dos cuidados humanizados no atendimento gravídico e apresentando as principais divergências e convergências ocorridas durante o parto humanizado.
Assim, considerando o fato de que uma proporção significativa de gravidezes de alto risco é atualmente encaminhada para hospitais de nível terciário; e que uma grande proporção de mulheres de baixo risco obstétrico ainda procuram atendimento em hospitais para partos humanizados, é importante explorar os fatores que influenciam a experiência do parto nesses hospitais e/ou domicílios diante o conceito de assistência ao parto humanizado.
Para tanto, o objetivo deste estudo foi explorar os fatores organizacionais e culturais, que atuam como barreiras ou facilitadores na prestação de cuidados obstétricos humanizados em unidades hospitalares e qual a importância da humanização do atendimento em todo o percurso gravídico da mulher.
2 FACILITADORES E BARREIRAS DO ATENDIMENTO DE ENFERMAGEM AO PARTO HUMANIZADO
O parto é um fenômeno social e cultural com implicações políticas. Mudou drasticamente no século XX, tanto nos países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento. Desde a década de 1980, aumentos nas taxas de intervenções médicas ao nascer, como o uso de analgesia peridural e cesarianas, também levantaram preocupações não apenas entre as ativistas feministas em relação ao direito das mulheres de ter um parto ‘natural’ ou ‘normal’, mas também na Sociedade de Obstetras e Ginecologistas.
Em 2018 e 2019, as taxas totais de cesariana no Brasil foram de 26,3%. Além disso, cerca de dois terços (69,0%) de todos os partos vaginais foram precedidos por analgesia peridural. O Monitoramento Fetal Eletrônico (EFM), que foi originalmente projetado para gravidez de alto risco, é usado em até 90% das mulheres em trabalho nos últimos anos, apesar da falta de evidências de seus benefícios.
A taxa total de indução nos países desenvolvidos variou de 20 a 23 por 100 partos hospitalares. Na América do Norte, as taxas de natalidade prematura aumentaram de 6% no início da década de 1980 para 8% nos anos mais recentes, pelo menos parte do aumento é resultado da iatrogenecidade.
Notavelmente, o pedido das mulheres para cesariana ou para um parto sem dor parece ter desempenhado um papel importante no aumento das taxas de cesariana e analgesia peridural nos últimos anos. Evidências de Cortes, et al. (2018) argumentaram que muitas mulheres que escolhem cesariana ou analgesia peridural, podem não estar cientes dos efeitos colaterais dessas intervenções e são propensas a fazer escolhas com base em informações insuficientes. Além disso, as mulheres que escolhem partos hospitalares e tecnologia obstétrica parecem fazê-lo por preocupação com a segurança de seu bebê. De acordo com Benoit, et al. (2020), as mulheres americanas que optam pelo mais alto nível de tecnologia médica ao nascer, veem essas intervenções como uma forma de controle e empoderamento sobre o nascimento, em vez de uma perda de autonomia sobre ele.
Por outro lado, a atitude e as crenças dos profissionais de maternidade em relação ao parto e à maneira como veem o nascimento podem ter o maior impacto no cuidado do parto, especificamente no cuidado de parto humanizado. O estudo de Lansky, et al. (2022) sobre as atitudes dos profissionais de cuidados de maternidade em relação ao trabalho de parto e ao parto mostrou que os médicos de família que praticam cuidados intraparto, bem como os enfermeiros, tiveram pontuação intermediária em relação ao uso da tecnologia obstétrica; no entanto, os obstetras e os médicos de família que fornecem apenas cuidados pré-natais tinham atitudes mais positivas em relação à tecnologia.
Outros estudos de Lansky, et al. mostraram que os obstetras mais jovens eram mais pró tecnologia no parto normal, incluindo analgesia peridural de rotina, e menos apoio ao controle das mulheres em seu próprio parto. As descobertas preliminares deste estudo revelaram que a humanização do nascimento em um hospital altamente especializado é de fato percebida por meio de um conjunto diferente de conceitos-chave, sendo: segurança, tranquilidade e conforto. Estes conceitos foram atualizados levando em conta o acesso à tecnologia moderna, altos níveis de monitoramento e experiência profissional.
Nas instituições hospitalares abordadas nos estudos, o cuidado personalizado, a defesa das mulheres, o companheirismo, a recepção de apoio físico e psicológico contínuo pelos prestadores de cuidados de saúde, essencialmente enfermeiros, em um contexto centrado na família, mostraram-se como os melhores defensores do cuidado de parto humanizado.
Considerando o fato de que uma proporção significativa de gravidezes de alto risco atualmente recebe cuidados em hospitais altamente especializados; e que um número importante de mulheres de baixo risco também procura atendimento nesses hospitais, torna-se importante entender e explorar os fatores que podem influenciar a experiência do parto nesses hospitais, particularmente o conceito de cuidados de parto humanizados.
A humanização do cuidado em um hospital especializado não pode ser alcançada se os fatores organizacionais externos ou seus componentes internos forem concebidos separadamente nestes estudos.
3 METODOLOGIA
3.1 Seleção de Estudos
Devido à falta de literatura sobre humanização como conceito em países de alta e baixa renda, os termos anteriormente identificados como a presença de prática humanizada em uma análise de conceito recente foram usados para mapear os atributos e comportamentos da humanização na pesquisa, a partir de um estudo de revisão, norteado pelo método de análise PRISMA.
A busca por elementos qualitativos e quantitativos foi concluída simultaneamente nos bancos de dados eletrônicos Scopus, Scielo, PubMed, Eric e Medline. A revisão estava em conformidade com as diretrizes de Itens de Relatório Preferenciais para Revisões Sistemáticas e Meta-análises (PRISMA).
A estratégia de pesquisa incluiu termos booleanos “or” e “and” e truncamentos “*”. Os títulos de assuntos médicos (MeSH) foram aplicados quando aplicável. As listas de referência de estudos que atenderam aos critérios de inclusão foram digitalizadas para identificar outras publicações relevantes.
Deste modo, os termos de pesquisa usados, incluindo transações, foram: a) alto risco ou alto risco, gravidez*; b) parto humanizado, pré-natal ou pré-parto*; c) trabalho de parto ou intraparto humanizado*; d) interação*; e) comunicação*; f) colaboração*; g) confiança*; h) esperança e benevolência*; i) autoeficácia de enfermagem*; e j) autoeficácia e decisão enfermagem obstétrica*.
Os principais títulos eram “gravidez de alto risco” e “complicações trabalhistas de enfermagem”, “relações interpessoais do enfermeiro e paciente”, “confiança, relações profissional-paciente”, “tomada de decisão compartilhada” e “tomada de decisão paciente”. A pesquisa foi concluída no início de Maio de 2024.
Por se tratar de um estudo de revisão, a aprovação ética não foi necessária para este estudo.
Após a pesquisa, todos os estudos identificados foram baixados no software Covidence – Better systematic review management e as duplicatas foram removidas. A triagem de título e resumo foi concluída por uma revisão por partes realizada pelas autoras desta revisão. Na revisão do texto completo, todos os estudos foram revisados e o segundo revisor foi distribuído entre quatro fragmentos de elegibilidade.
Quaisquer desentendimentos foram resolvidos através da discussão de conflitos que surgiram entre as autoras.
Diante a avaliação da qualidade metodológica, todos os estudos que atenderam aos critérios de inclusão foram avaliados por sua qualidade metodológica usando a Ferramenta de Avaliação de Métodos Mistos (MMAT).
A ferramenta MMAT pode ser usada para estudos qualitativos, quantitativos e mistos de métodos e tem sido notada por sua eficiência, confiabilidade e validade de conteúdo. Há cinco perguntas para cada estudo e uma resposta de “Sim”, “Não” ou “Não posso dizer” é necessária para cada pergunta. Deste modo, todos os estudos foram avaliados quanto à sua qualidade metodológica.
O software Covidence julgou quaisquer desentendimentos sobre os títulos das obras selecionadas. Independentemente da qualidade metodológica, todos os estudos que atenderam aos critérios de inclusão foram incluídos para extração e síntese de dados, mas uma apresentação mais detalhada da qualidade metodológica e sintetizada é abordada nas secções de resultado e discussões deste artigo.
3.2 Coleta de dados
Um projeto segregado convergente foi realizado para extração e síntese. Como o foco da revisão foi em diferentes dimensões dos fenômenos do cuidado humanizado no parto, esta foi a abordagem mais apropriada. De acordo com uma abordagem convergente segregada, os dados foram extraídos simultaneamente pertencentes a dados qualitativos e quantitativos.
Dados quantitativos (incluindo dados quantitativos de estudos de métodos mistos) e dados qualitativos (incluindo dados qualitativos de estudos de métodos mistos) foram concluídos usando um modelo no Google Sheets (Programa de planilhas incluído como parte do pacote gratuito de Editores de Documentos Google).
Foram extraídas características de todos os estudos, que incluíram detalhes específicos sobre a população, contexto, cultura, localização geográfica, métodos de estudo e os fenômenos de interesse. As perguntas de pesquisa foram usadas para orientar a extração de dados. A extração de dados foi concluída, portanto, pela autora 1 e revisada em intervalos regulares pelo resto da equipe (autora 2).
3.3 Síntese e integração de dados
Seguindo a metodologia para uma abordagem segregada convergente, uma síntese independente de dados qualitativos e dados quantitativos foi concluída e depois integrada. A síntese qualitativa de dados foi conduzida usando uma abordagem meta-agregada. Essa abordagem, fundamentada no pragmatismo, coloca ênfase na produção de descobertas que informem a teoria em nível de prática com o objetivo de fazer declarações em vez de uma reinterpretação dos dados.
De acordo com uma abordagem meta-agregativa, três níveis de evidência foram usados; “inequívocas” (onde as descobertas foram acompanhadas por dados que estão além de dúvida razoável); “equívocas” (onde as descobertas foram acompanhadas por dados que não tinham uma associação clara com isso) e “não suportadas” (onde as descobertas não foram apoiadas pelos dados apresentados).
Cada estudo teve dados extraídos em uma planilha do Google relevante para as perguntas de revisão. Cada dado do estudo foi então transcrito em uma folha e codificado por cores para identificar visualmente dados não suportados, equívocos e inequívocos. Quando concluídas, as categorias foram formadas a partir dos resultados do estudo.
Descobertas sintetizadas foram desenvolvidas a partir das categorias identificadas. Uma análise de sensibilidade foi conduzida, por meio da codificação por cores dos níveis de evidência para garantir que os dados identificados como “não suportados” não afetassem excessivamente os resultados.
A síntese quantitativa de dados não foi possível devido à heterogeneidade dos resultados e, portanto, uma síntese narrativa foi concluída.
4 RESULTADOS
A estratégia de pesquisa identificou um total de 995 estudos. Foram 325 duplicatas removidas, o que resultou em 670 estudos rastreados para seu título e resumo. Um total de 450 estudos foram excluídos, resultando em 220 estudos avaliados quanto à sua elegibilidade na revisão do texto completo.
Houve 175 estudos excluídos, pois não eram sobre humanização, não eram de pesquisa primária, não pertencentes às opiniões dos profissionais de saúde, a população de alto risco não foi identificada na amostra, não possuíam um protocolo de estudo, incapazes de extrapolar resultados relativos a mulheres de alto risco e/ou ou era estudos de coorte de HCP que não era parteira, obstetra nem enfermeira em um campo obstétrico.
Não houve intervenções para apoiar a humanização encontrada nos estudos qualitativos ou quantitativos. Assim, vinte e cinco estudos atenderam aos critérios de inclusão e compreenderam 15 estudos qualitativos, 5 quantitativos e 6 métodos mistos. As datas de publicação variaram de 2019 a 2024, com apenas um estudo sendo publicado antes de 2015. Os estudos incluídos foram realizados em dez países de alta e baixa renda com o maior número publicados em países do continente Europeu, seguido do continente Americano (especificamente concentrados no continente Norte Americano).
Sete estudos identificaram apenas uma amostra participante de parteiras, dois estudos recrutaram apenas uma amostra participante de obstetras e um estudo identificou apenas uma amostra de enfermeiros. Um estudo descreveu os médicos que lidam com um evento obstétrico agudo como médicos, como é a norma para o país de origem dos estudos.
Nove estudos incluíram uma mistura de profissionais de saúde em sua população, três desses estudos separaram a amostra de parteira em hospital, baseada na comunidade ou holística, definida na literatura como parteiras que estão dispostas a ajudar mulheres que recusam o atendimento hospitalar recomendado, com um parto domiciliar planejado. Apenas um estudo não separou os profissionais de saúde na amostra do hospital e, portanto, parteiras e obstetras foram combinados como uma comparação com as parteiras da comunidade.
Os demais estudos foram caracterizados como estudos de revisão de literatura, revisão sistemática e revisão integrativa. Os métodos de coleta de dados nos estudos incluídos variaram de entrevistas semiestruturadas, entrevista aberta, observacional, grupos focais, questionário, experimento de escolha discreta, pesquisa ou uma combinação de ambos.
Cerca de cinco estudos foram analisados usando análise de conteúdo e quatro estudos usaram análise temática. Todos os estudos quantitativos usaram estatística descritiva e os estudos quantitativos usaram uma série de métodos estatísticos, regressão linear, correlação de Pearson e outros.
Por fim, para a qualidade metodológica, todos os estudos quantitativos foram avaliados sob os critérios descritivos quantitativos. Houve incerteza em relação à clareza da identificação de medidas apropriadas a representação da população-alvo e o reconhecimento do risco de viés de não resposta.
O estudo de métodos mistos não forneceu clareza para quatro dos cinco critérios de qualidade e foi metodologicamente o mais fraco. Dois estudos qualitativos não identificaram claramente uma abordagem qualitativa para responder às perguntas de pesquisa, mas os demais estudos restantes atenderam a todos os critérios.
5 DISCUSSŌES
Esta revisão de literatura de 25 estudos investigou a humanização na gravidez e no parto de alto risco a partir das perspectivas de parteiras, obstetras e enfermeiros. Não houve ferramentas identificadas para avaliar de forma independente a prática humanizada, então pode se argumentar que a prática é subjetiva à opinião de cada paciente.
A revisão destacou casos em que a voz da mulher e suas escolhas podem não ser priorizadas uma vez que a categorização de risco tenha sido concluída e a mulher seja classificada como de “alto risco”. Por outro lado, embora todos os estudos tenham autoidentificado sua amostra participante como de alto risco, nenhum explicou a ferramenta ou padrão usado para categorizar as mulheres como de alto risco em primeira instância.
A literatura identificou anteriormente que parteiras têm dificuldade em descrever a normalidade de medição, muitas vezes explicando-a na ausência de fatores de risco. Uma razão proposta para isso se deve aos profissionais de saúde que trabalham dentro de um sistema de vigilância projetado para identificar e gerenciar perigos.
Evidências sugerem que os profissionais de saúde podem usar seu próprio julgamento ao decidir o envolvimento da mulher na tomada de decisões de seus próprios cuidados implicando que as instituições hospitalares e/ou equipe especializada em atendimento domiciliar pode prosseguir com uma abordagem de tomada de decisão que não foi explicitamente discutida com a mulher.
Kuipers; Thomson (2023) sugeriu que há uma autonomia relacional na qual a autonomia da mulher depende de seu relacionamento com o hospital. Além disso, a autonomia de uma mulher pode ser impactada por sua confiança no profissional. A confiança pode substituir a autonomia de uma mulher e a decisão certa é confirmada se as mulheres confiarem em seu cuidador, mesmo que a decisão não esteja de acordo com seus desejos originais.
A capacidade do hospital de lidar com a incerteza intraparto pode afetar a capacidade da mulher de acessar sua abordagem preferida. Isso apoia a literatura anterior de que os profissionais de saúde podem controlar os limites das escolhas disponíveis para as mulheres. Desta forma, controlar o acesso e/ou recusar-se a prestar cuidados às mulheres não é uma prática humanizada, pois limita o controle que as mulheres têm sobre seus próprios planos de cuidados.
A dependência excessiva dos profissionais de saúde em políticas e protocolos não se prestavam ao cuidado humanizado. Uma dependência excessiva pode apoiar o impulso institucional, resultando no protocolo ou diretriz sendo priorizado acima da voz da mulher. Um bom conhecimento obstétrico foi visto para minimizar o excesso de dependência. Ao contrário da compreensão do hospital sobre a prática humanizada nesta revisão, a falta de tempo necessária para aconselhar adequadamente as mulheres em cenários complexos pode resultar em oportunidades reduzidas de negociação e mais ênfase na tomada de decisões.
Independentemente de a mulher optar por negociar cuidados fora das diretrizes e protocolos normais, a continuidade do cuidador para mulheres de alto risco apoiaria o desenvolvimento de um relacionamento que possa apoiar o aconselhamento, a negociação e o processo de tomada de decisão. A literatura mais ampla também identificou anteriormente a importância de construir e manter um relacionamento com um cuidador conhecido e agora é identificado como um caminho para alcançar um relacionamento harmonizado com as mulheres e um princípio de uma abordagem ética centrada nas mulheres.
Uma revisão integrativa publicada recentemente apoia a abordagem de continuidade do cuidador para todas as mulheres, independentemente do status de risco. Em contraste com os participantes da obstetrícia, os obstetras nos estudos de revisão apresentados não se perceberam medidos através da prestação de cuidados humanizados, mas sentiram que foram medidos fortemente apenas na sobrevivência e nos resultados quantitativos.
Os profissionais de saúde podem se beneficiar de serem vistos através da mesma lente ao entender como é a prática humanizada e como ela é medida, o que pode apoiar a promoção de um respeito mútuo e trabalho em equipe que foi encontrado faltando em relatórios recentes de maternidade. Com isso, o termo de Reciprocidade é um termo previamente identificado na relação parteira-mãe para este artigo de revisão, embora outro estudo designou o mesmo significado com o termo mutualidade.
Embora os termos sejam semelhantes, mutualidade e reciprocidade só tenham sido pesquisados em uma amostra de parteiras e poderiam se beneficiar de serem investigados nas profissões de obstetrícia e obstétrica. A presença de reciprocidade ou mutualidade pode apoiar a prática humanizada e reduzir o impacto psicológico da intervenção não planejada nas mulheres quando há uma mudança no cenário e as mesmas fazem a transição do ambiente de maternidade para outro.
Vários estudos na revisão dividiram os participantes da obstetrícia em três grupos profissionais separados; como a parteira clínica (parteira hospitalar), a parteira de cuidados primários (parteira comunitária) e a parteira holística (parteiras que estão dispostas a ajudar mulheres que recusam o atendimento hospitalar ou comunitário recomendado, com um parto domiciliar planejado).
Esta divisão é incomum, considerando que as parteiras são um grupo profissional, com um escopo de prática, uma filosofia profissional consistente e em um registro com um regulador nacional. A capacidade das parteiras de trabalhar em vários ambientes pode afetar sua capacidade de promulgar essa filosofia e alterar a percepção subjetiva do cuidado humanizado, particularmente na ausência de qualquer ferramenta que meça a humanização.
Além disso, o ambiente para cuidados na gravidez e no parto pode afetar sua compreensão de palavras como autonomia, empoderamento e tomada de decisão. A ênfase excessiva de resultados desfavoráveis e uma subestimação da previsão de parto vaginal espontâneo pelo hospital pode inadvertidamente levar ao aumento da prática intervencionista sob o disfarce de uma abordagem humanizada aos cuidados de maternidade de alto risco.
Isto demonstra que apesar da pesquisa baseada em evidências seja contraditória mais pesquisas são necessárias para entender como os profissionais de saúde praticam o cuidado individualizado para mulheres em risco no trabalho de parto e o impacto das relações interprofissionais na tomada de decisões, particularmente para as mulheres que desejam negociar o cuidado individualizado, uma vez classificados como de alto risco.
CONSIDERAÇŌES FINAIS
Os profissionais de saúde continuam reconhecendo a necessidade da presença de humanização na gravidez e no parto, mas sua capacidade de promulgar uma prática humanizada para mulheres que são classificadas como de alto risco pode ser reduzida quando a equipe e a carga de trabalho não atendem às necessidades do número de mulheres que estão sob seus cuidados.
O ambiente hospitalar, em particular, resulta em dificuldades para alcançar a humanização. A identificação de uma complicação identificada como prática humanizada pode incentivar o aumento da prática intervencionista e do ambiente clínico, mas a disponibilidade de uma intervenção deve ser equilibrada com o seu início.
Não parece haver um instrumento que examine o cuidado humanizado para mulheres de alto risco, o que pode contribuir para as discrepâncias na compreensão dos profissionais de saúde sobre a humanização para mulheres classificadas como de “alto risco”. A humanização requer o estabelecimento de um relacionamento e tempo, e uma continuidade do cuidador promove ambos.
Por fim, negociar com mulheres fora dos protocolos pode ter um impacto mais amplo no profissional, como o medo de danos à reputação se o resultado não for positivo. Mais pesquisas são necessárias para explorar como os profissionais de saúde individualizam o atendimento a mulheres que são de alto risco no trabalho de parto em um ambiente hospitalar.
REFERÊNCIAS
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1Acadêmica do curso de Enfermagem pela Universidade Nilton Lins (UNL). Manaus/AM. E-mail: elaenelima16@gmail.com;
2Acadêmica do curso de Enfermagem pela Universidade Nilton Lins (UNL). Manaus/AM. E-mail: jenniferluanecastro21@gmail.com;
3Graduação em Enfermagem pela Universidade Estácio de Sá (2019). Especialista em Obstetrícia. Especialista em Neonatologia. Professora Orientadora do Curso de Enfermagem pela Universidade Nilton Lins. Manaus/AM.