A EFICÁCIA DO USO DE BANDAGENS ELÁSTICAS EM ATLETAS COM INSTABILIDADE CRÔNICA DO TORNOZELO, PREVENINDO NOVAS LESÕES.

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202411141122


Angélica de Marchi Rodrigues
Taise Lima Christ
Thayson Andrey Dresch da Silva
Laura de Moura Rodrigues
Fabrício Vieira Cavalcante


RESUMO    

A bandagem elástica ou kinesio taping (KT) vem sendo utilizada na fisioterapia como estabilizador articular, redutor de quadro álgico e como um grande auxílio no tratamento de entorses em tornozelo em atletas. O objetivo deste estudo é evidenciar a eficácia da bandagem elástica em atletas com instabilidade crônica do tornozelo (ICT) evitando novas incidências, mencionando efeitos que reforçam a importância da bandagem no tratamento e prevenção de novas lesões. Método: este estudo se trata de uma revisão bibliográfica baseada em três bases de dados: PubMed, PEDRO, Scielo, utilizando descritores da saúde: instabilidade crônica de tornozelo, esporte, atleta e bandagem elástica (português); chronic ankle instability, sport, athlete e kinesio (inglês); todos associados ao operador booleano AND. E que estejam dentro do período de 2019 a 2024. Após os critérios de inclusão e exclusão restaram apenas 7 estudos elegidos. Resultados: foi possível verificar a importância da bandagem elástica no tratamento da entorse de tornozelo e também na prevenção de novas lesões. Pode-se concluir que a KT proporciona melhor estabilidade do tornozelo, ajuda na redução do quadro álgico e proporciona mais segurança ao atleta melhorando sua confiança e resultados, tendo assim grande importância no tratamento ICT em atletas. Devido à falta de mais estudos sobre o assunto, a comprovação da eficácia da bandagem se torna impraticável, mas abre espaço para que novos estudos e pesquisas sejam realizados sobre sua efetividade em atletas com ICT e comprovem sua praticabilidade de forma científica.  

Palavras-chave: Instabilidade crônica de tornozelo. Esporte. Atleta. Bandagem elástica.  

ABSTRACT    

Elastic bandage or kinesio taping (KT) has been used in physiotherapy as a joint stabilizer, pain reducer and as a great aid in the treatment of ankle sprains in athletes. The objective of this study is to demonstrate the effectiveness of elastic bandage in athletes with chronic ankle instability (CAI) preventing new incidences, mentioning effects that reinforce the importance of bandage in the treatment and prevention of new injuries. Method: this study is a bibliographic review based on three databases: PubMed, PEDRO, Scielo, using health descriptors: chronic ankle instability, sport, athlete and elastic bandage (Portuguese); chronic ankle instability, sport, athlete and kinesio (English); all associated with the Boolean operator AND. And that are within a time window in the period from 2019 to 2024. After the inclusion and exclusion criteria, only 7 selected studies remained. Results: It was possible to verify the importance of elastic bandage in the treatment of ankle sprains and also in the prevention of new injuries. It can be concluded that KT provides better ankle stability, helps in reducing pain and provides more safety to the athlete, improving their confidence and results, thus being of great importance in the treatment of ICT in athletes. Due to the lack of further studies on the subject, proving the effectiveness of the bandage becomes impractical, but it opens space for new studies and research to be carried out on its effectiveness in athletes with ICT and to prove its practicality in a scientific way.

Keywords: Chronic ankle instability. Sport. Athlete. Elastic bandage.

1. INTRODUÇÃO

A prática esportiva tem aumentado mundialmente, seja para promover saúde, qualidade de vida, melhorar ou manter o condicionamento físico. Concomitantemente, o número de lesões também estão crescendo, pois partes significativas destes atletas buscam seu alto rendimento em treinamentos excessivos, e por vezes, sem auxílio de um profissional (MORINI, 2016).  

A entorse de tornozelo é uma lesão com maior número de reincidência e frequentemente encontrada em atletas. Isso ocorre devido ao estresse na região do pé e tornozelo, deixando esse complexo articular altamente suscetível a lesões (PERRIN, 2014). Hamil et al (2016), complementam, que a estrutura anatômica do tornozelo é complexa, uma vez que é composta de 26 ossos irregulares, 30 articulações sinoviais, 30 músculos atuantes e mais de 100 ligamentos.  

Para os autores a articulação do tornozelo é uma estrutura complexa que permite uma ampla gama de movimentos, incluindo flexão, extensão, inversão e eversão. É formada pela articulação entre três ossos principais: a tíbia (osso da canela), a fíbula (osso lateral da perna) e o tálus (osso do pé). Os principais movimentos do pé acontecem em três articulações sinoviais: a talocrural, a talocalcânea e a transversa do tarso. (HAMIL et al 2016).  

Lin et al (2021) aponta que a prevalência de instabilidade crônica do tornozelo (ICT) em atletas com histórico de entorse de tornozelo é de 61%. No futebol, basquete e voleibol, 46% das entorses de tornozelo foram entorses recorrentes, desencadeando sintomas residuais. Em 74% dos atletas com entorse aguda de tornozelo sofreram de sintomas residuais que duraram 29 meses após a entorse inicial de tornozelo, como dor, percepção de instabilidade, fraqueza e edema.  

O International Ankle Consortium define a patologia dos sintomas residuais após uma entorse significativa do tornozelo como instabilidade crônica do tornozelo (ICT) e caracterizou ICT como uma condição na qual um indivíduo tem uma entorse significativa de tornozelo e/ou sofreu entorse recorrente e/ou sente instabilidade do tornozelo e/ou sofreu cedência pelo menos duas vezes nos últimos 6 meses.  

Segundo Guerra et al (2022), as principais lesões em entorses de tornozelos acontecem em ligamentos. “Há três grupos de ligamentos que podem ser lesados no tornozelo: os laterais, os mediais (deltoide) e os sindesmóticos. As entorses agudas ocorrem, em 85% das vezes, por supinação, o que condiciona uma lesão do complexo ligamentar lateral”. Para os autores, a maioria das entorses no tornozelo ocorre devido à inversão, onde o pé roda para dentro, causando estresse nos ligamentos laterais do tornozelo, sendo eles: o ligamento talofibular anterior, o ligamento calcaneofibular e o ligamento talofibular posterior. Por outro lado, as entorses mais graves geralmente ocorrem por eversão, onde o pé roda para fora. Esse tipo de entorse pode resultar em danos mais significativos aos ligamentos e até mesmo em fraturas. Os ligamentos do tornozelo são responsáveis por fornecer a integridade e a estabilidade à articulação do tornozelo, impedindo movimentos excessivos que possam levar a lesões. Eles ajudam a manter os ossos da perna (tíbia e fíbula) e do pé (tálus) alinhados durante os movimentos normais, como caminhar, correr e pular.  

A ICT prejudica regularmente a propriocepção, o equilíbrio, o padrão de movimento e provoca fraqueza muscular e alteração do reflexo bilateral, apresentam diminuição de ADM, osteocinemática restrita e ainda pode causar lesões adicionais, por exemplo: entorse recorrente de tornozelo, desenvolvimento precoce de osteoartrite pós- traumática, lesão tecidual secundária, e aumento da carga no ligamento cruzado anterior (LCA) (LIN et al, 2021). Hamil et. Al (2016), traz ainda que a ICT causa outros problemas físicos e afeta sistematicamente outras articulações, os músculos do tornozelo e do pé são responsáveis por mover as articulações, permitindo a flexão, extensão, inversão, eversão e rotação do pé, desempenhando um papel crucial no equilíbrio e na propriocepção. Eles trabalham em conjunto com os ligamentos para fornecer estabilidade às articulações.  

Por ser uma região vinculada diretamente ao equilíbrio e locomoção, o tornozelo recebe tensão, compressão e cisalhamento, pois é portador de um conjunto de movimentos. As lesões são mais recorrentes nas estruturas tendíneas, devido a sobrecarga ocasionada na atividade física, que muitas vezes se acentua diante da capacidade fisiológica de manutenção e recuperação da integridade das estruturas adjacentes (MORINI, 2016).  

O pé funciona como um adaptador flexível de superfícies instáveis e irregulares, além de suportar todo o peso do corpo, tanto na posição ereta quanto durante a locomoção (HAMIL et al, 2016). E por esses motivos citados, a National Athletic Trainer’s Association (NATA), menciona a colocação de bandagens elásticas uma das várias habilidades necessárias ao cumprimento eficaz do fisioterapeuta, sendo ela, altamente significativa na área esportiva em atletas com entorses recorrentes de tornozelo.  

A Kinesio Taping®, conhecida também por KT, mais popularmente chamada de bandagem elástica, é um método original e desenvolvido no Japão, pelo Dr. Kenso Kase, na década de 1970. Projetada para dar estabilidade e auxílio às articulações e músculos sem inibir a ADM corporal, promover uma melhora na circulação, prolongar os benefícios da manipulação dos tecidos moles da terapia manual, reduzindo inflamação e dor, além de facilitar o processo de cura natural do corpo otimizando o desempenho do organismo ao retorno a homeostase (MORINI, 2016).  

A bandagem elástica é uma fita adesiva porosa, composta de fibras de algodão com micro fios em elastano, não contém nenhum tipo de medicamento, é antialérgica e à prova d’água. Sua durabilidade é de aproximadamente sete dias (MORINI, 2000). Para Perin (2014), os benefícios da bandagem incluem suporte e redução da carga articular, alongamento da rigidez da fáscia, minimização da congestão linfática (pela estimulação do fluxo linfático quando a bandagem é voltada na direção dos coletores linfáticos), regularização da função muscular, auxiliando a facilitação muscular (redução da fadiga) e inibição (redução da hipertonicidade e cãibra), aumento do input proprioceptivo.  

Flenger (2023) e Fengler (2023), acreditam que como benefício do uso da bandagem a limitação do movimento doloroso e a restauração do movimento indolor, a correção e alinhamento postural e/ou articular. A ação da bandagem elástica no processo álgico acontece através da estimulação dos mecanorreceptores por meio da pressão, tensão, descompressão e tração da pele, informando os receptores sensoriais para ativação da teoria das comportas, consistindo em enganar a via de transmissão da dor das fibras A, delta e C, que conduzem a dor.  

O objetivo de utilização da bandagem elástica no tornozelo difere, de acordo com cada disfunção, por exemplo, para uma lesão crônica, posicionamos a bandagem a fim de proporcionar um estímulo inibitório na pele; para pacientes que apresentem dor ao movimento, posiciona-se a bandagem para melhorar a sensação de estabilidade; para entorses seguidos de edema, aplica-se a técnica de tratamento para estimular a drenagem linfática (JR, 2016).  

Contudo, a bandagem na estabilização do tornozelo age diretamente no alinhamento articular facilitando a relação e o equilíbrio entre os músculos agonistas, antagonistas e sinergistas, possibilitando o controle dos movimentos inadequados e a reeducação motora. A normalização biomecânica desencadeia o controle do tônus muscular promovendo a ação muscular, o aumento de ADM, a redução da dor articular e a melhora da propriocepção local (KASE et al, 2013).  

Assim, neste estudo de revisão bibliográfica, queremos demonstrar a eficácia do uso da bandagem elástica em atletas que são acometidos por instabilidade crônica do tornozelo (ICT), com o intuito de evitar novas lesões. Identificando os atributos da bandagem elástica ou Kinesio Taping (KT), com o propósito de auxiliar na estabilização de tornozelo em atletas com ICT. Verificando a durabilidade do efeito da bandagem elástica ou KT, com relação ao intervalo de tempo entre uma aplicação e outra. E diante dos estudos, realizar um comparativo entre os resultados obtidos que utilizam do uso de bandagem elástica ou KT, e os que o utilizam associado à fisioterapia convencional. 

2. METODOLOGIA

Este estudo trata-se de uma revisão da literatura com pesquisas realizadas nas bases de dados National Library Of Medicine of National Institutes of Health dos EUA (PubMed), Physiotherapy Evidence Database (PEDRO), Scientific Electronic Library Online (SCIELO). A janela temporal à qual foi feita a busca dos artigos é dentro do período de 5 anos (2019 – 2024), sendo estes pesquisados entre os meses de abril a outubro do ano de 2024.  

Critérios de inclusão: optou-se por artigos vinculados à entorse de tornozelo recorrente/ instabilidade crônica de tornozelo com a utilização de bandagens elásticas e/ou kinesio taping em atletas que demonstrassem a eficácia de sua utilização e que estivessem enquadrados no recorte temporal estabelecido (2019-2024).  

Critérios de exclusão: foram descartados os estudos não relacionados ao objetivo do tema proposto, artigos não gratuitos, artigos duplicados, os que não estavam no idioma português ou inglês, os que não abordavam o público-alvo (atletas) e artigos não vinculados às plataformas de pesquisa.  

Os descritores de saúde utilizados para busca foram: instabilidade crônica de tornozelo, esporte, atleta e bandagem elástica (português); chronic ankle instability, sport, athlete e kinesio (inglês); todos associados ao operador booleano AND.   

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Posteriormente a triagem dos artigos encontrados, se utilizando dos critérios de inclusão e exclusão, somente sete artigos tiveram elegibilidade para compor o atual estudo de revisão bibliográfica, porém a pesquisa resultou em um total de 113 artigos.  Elaborou-se então, uma tabela para demonstrar as principais informações dos artigos selecionados. Os dados abaixo apresentam uma sucessão de estudos clínicos e revisões literárias a respeito do uso de bandagem elástica em atletas com instabilidade crônica do tornozelo.   

Tabela 1. Dados dos artigos selecionados para a revisão bibliográfica 2024

O objetivo desse estudo foi analisar através de uma revisão bibliográfica, a efetividade da aplicação da bandagem elástica para pacientes com ICT, atuando na melhora de equilíbrio, propriocepção e ativação muscular.  

As entorses de tornozelo apresentam maior prevalência, com o complexo ligamentar lateral sendo uma estrutura mais frequentemente lesionada, representando até 85% das entorses. Estudos mencionam que a ICT ocorre a cada 7 pessoas de 10, lesões caracterizadas pela recorrência de entorses, com sintomas persistentes por pelo menos um ano após a lesão inicial (CHAMORRO et al, 2024).  

Chamorro et al (2024) e Biz (2022) afirmam que a instabilidade mecânica e funcional ocorre concomitantemente, e verifica-se a ICT comprometendo o equilíbrio estático e dinâmico, a propriocepção, a amplitude de movimento (ADM) e a ativação muscular. Esse é um problema que afeta muitos atletas, e se não for tratada adequadamente, a ICT pode fazer com que o tornozelo “ceda” durante atividades físicas, causando novos episódios de lesão e limitando o desempenho do atleta.  

Segundo Esposito et al (2021), a capacidade de equilíbrio é crucial para a execução de diversas atividades atléticas e exerce um papel essencial na prevenção de lesões. No futebol, essa habilidade é ainda mais importante, uma vez que, enquanto uma perna sustenta o peso corpo a outra, realiza movimentos específicos, como chutar ou driblar. Cerca de 45% das lesões nos membros inferiores, com alta incidência em jogadores de futebol, são no tornozelo, tornando essa uma lesão comum.  

Após revisão em estudos clínicos direcionados a ICT, podemos observar que o uso da bandagem elástica vem sendo relacionada ao tratamento conservador (cinesioterapia) associado a treinos preventivos, porém sua ação diverge entre os autores.  

Chamorro et al (2024) declaram em seu estudo a efetividade da bandagem elástica em diferentes variáveis que se destacaram na eficácia quanto na quantidade de evidências encontradas como: equilíbrio estático e dinâmico, cinemática + agilidade e controle motor. Os autores sustentam que a assertividade no efeito mecânico ocorre por tração exercida pela combinação de bandagem elástica e rígida através da reposição fibular corrigindo o alinhamento articular tornozelo/pé minimizando os movimentos biomecânicos errôneos da ADM patológica e este resultado é mantido por curto prazo, pois com os movimentos excessivos realizados pelos atletas, a integralidade da cola pertencente a estas bandagens é danificada, não contribuindo com uma estabilidade longínqua. Em conjunto observou-se uma ligeira melhora na excitabilidade reflexa espinhal do músculo sóleo, melhorando assim o equilíbrio e minimizando as recorrências de entorses. Foi verificado também, o efeito proprioceptivo ao estimular mecanorreceptores em musculatura antagonista da instabilidade pelo seu efeito elástico, facilitando a reação contrária do movimento, apontando menores recorrências de entorses, concedendo maior segurança aos atletas com ICT.  

Ataullah (2021) explica que em atletas com ICT, a aplicação de bandagem no músculo glúteo médio que contribui na estabilização de membro inferior, foi possível notar um aumento de 10,27% na força pela ativação muscular do quadril, minimizando o esforço ao realizar as tarefas e reduzindo a atividade eletromiografias testadas pelo estudo. Ele explica que a musculatura fragilizada do tornozelo após a ICT predispõe a força da musculatura do quadril, mas com a intervenção da bandagem a musculatura se mostrou mais eficiente ao realizar o movimento da contração e mais estável. Foi possível concluir que a execução de força do músculo glúteo médio foi satisfatória, evitando uma maior ADM nos movimentos de inversão e eversão do tornozelo minimizando a instabilidade e referindo um ganho de força dos músculos abdutores do quadril.  

Porém, Biz (2022) fez um estudo sobre atletas de esporte de contato mais populares (futebol, basquete, vôlei e beisebol) atribui que a aplicação de KT no tornozelo de atletas diminui a ativação muscular do músculo fibular longo, minimizando a sobrecarga e evitando a fadiga muscular, e assim como Ataullah (2021), ele explica que com a melhora do equilíbrio estático e redução da ADM dos movimentos de inversão e eversão, consequentemente exibe a melhora na velocidade do passo/passada, e o risco de novas lesões é diminuído favorecendo maior segurança e melhora na performance da marcha.  

Em contrapartida, Biz (2022) analisou em seu estudo que o equilíbrio de forma dinâmica com agilidade e aterrissagem não obtiveram resultados significativos com o uso de bandagens elásticas, e insinuou que para estes aspectos sejam realizadas fisioterapias com exercícios pliométricos associados a treinos proprioceptivos.  

Esposito (2021), por sua vez, avaliou o equilíbrio estático e dinâmico separadamente, pois estudos indicam que o equilíbrio estático e o dinâmico não são correlacionados, pois dependem de mecanismos diferentes no nosso corpo. Percebeu-se que o equilíbrio bem desempenhado está relacionado à prevenção de lesões de tornozelo, onde um tempo de estabilização mais rápido aumenta a segurança dos jogadores. Na pesquisa, os autores evidenciam que esportistas amadores percebem a segurança e estabilidade promovida pela bandagem, pois o fortalecimento da musculatura não é desenvolvido quando comparada à musculatura de atletas semiprofissionais. Entende-se, que a melhora na qualidade de desempenho e treinos de fortalecimento e equilíbrio impacta positivamente no controle postural articular do tornozelo em atletas. Conclui-se ao final do estudo, que os índices mensuraram que a aplicação de bandagem elástica não promoveu melhorias significativas no equilíbrio estático ou dinâmico em jogadores de futebol semiprofissionais, não sendo observadas diferenças relevantes ao comparar as condições avaliadas com bandagem, sem bandagem ou com placebo.  

Por conseguinte, no que repercute nos estudos de Kaminski (2019), Hussein (2023), Ataullah (2021) e Lee(2020), a percepção do contato da bandagem sobre a pele, gera uma ação de confiança na execução dos movimentos do tornozelo, próprio da estimulação sensorial cutânea, que recruta de mecanorreceptores favorecendo o efeito mecânico, ofertando de respostas proprioceptivas melhorando a confiança e tranquilidade ao executar funções como marcha, saltos, corridas, realizando uma melhor performance da estabilidade.  

Favorável ao efeito mecânico da bandagem elástica, o estudo de Hussein (2023) acresce: devido a ativação neural sobre o músculo tibial posterior, amplificou a potência muscular por excitabilidade e o resultado foi acentuado associado a treinos terapêuticos, reduzindo a oscilação postural e uma menor suscetibilidade de estresse por inversão mantendo a estabilidade. Os autores observaram uma melhoria na maioria dos escores ao final da intervenção. Contudo, os resultados variaram entre os grupos e foram percebidas diferenças significativas na estabilidade dinâmica, especialmente nas laterais e posteriores. Os resultados sugerem que a combinação de bandagem e exercícios melhora a estabilidade postural de maneira mais eficaz do que os exercícios isolados ou a aplicação da bandagem por si só.  

Com achados semelhantes, Kaminski (2019) realizou um estudo sobre a eficácia da aplicação de bandagens elásticas ao longo da musculatura fibular e do tarso como se fosse uma tala mecânica não sendo aplicada da forma convencional. Os autores relatam que a lesão ligamentar desencadeia alterações biomecânicas da articulação e modifica o controle neural da mesma. A qual passa a presentar uma cinemática que coloca em risco novas lesões. E a bandagem colocada em forma de ligadura, proporciona percepção de maior apoio, conforto e menor interferência da função articular. Porém ele defende que os apoios externos não são eficazes por si só e devem ser associados a ações preventivas como: fortalecimento da musculatura posicional de quadril e joelho otimizando o controle neuromuscular para adaptações em superfícies instáveis, inserir exercícios de alongamentos, equilíbrio, força e agilidade para um melhor controle da posição articular exercitando a estabilidade dinâmica, protegendo a articulação do tornozelo contra o estresse funcional e assim obter de resultados mais satisfatórios em atletas com ICT.  

Biz (2022) vai de acordo com os estudos de Kaminski (2019) e integra: seja a bandagem elástica quanto a bandagem rígida, apresentam efetividade na estabilidade do tornozelo em atletas com ICT, auxiliando no tratamento, bem como na prevenção de novos entorses. Eles também destacam um aumento na funcionalidade da articulação dos pacientes. Os autores ressaltam que a bandagem elástica além da função de ativação dos neuroreceptores, ainda traz uma consciência corporal aos pacientes que a utilizaram, gerando uma maior percepção e atenção ao movimento. Mas apesar dos autores concordarem com a eficácia da sua aplicação, quanto a melhora do equilíbrio e propriocepção, os mesmos relatam não ser possível comprovar tal afirmação cientificamente, devido a falta de mais estudos clínicos abordando a bandagem elástica.  

Por fim, Lee (2020), em seu estudo de caso por entorse bilateral de tornozelo por inversão, entendeu que a aplicação repetida da bandagem elástica terapêutica demonstrou ser uma intervenção eficaz na redução da dor, do inchaço propiciando a melhora da funcionalidade e ADM do tornozelo. O edema devido a aplicação de KT com estímulo linfático foi reduzido e controlado dentro de dois dias e a dor medida por EVA foi zerada após o plano terapêutico. A elasticidade da fita não só ofereceu suporte articular sem restrição de movimento, mas também potencializou a mobilidade funcional, atuando na restauração da articulação à sua posição anatômica normal durante o uso. Próprio disto, ele afirma: conforme a tensão colocada na KT sobre a pele, a força elástica por ela exercida visa o seu retorno ao comprimento original, e através dessa força é restaurada a posição articular.  

Além disso, Lee (2020) avaliou através de testes de funcionalidade o equilíbrio deste atleta e constatou que a distribuição média de pressão nas solas dos pés obteve melhora com a bandagem, resultando em um avanço positivo do equilíbrio e uma desenvoltura mais correta no passo/passada de marcha, sendo um marco relevante para o processo de recuperação funcional. Entretanto, o autor reforça que seu estudo foi específico para um caso de lesão rara de ocorrer (entorse bilateral por inversão) e propõe que sejam realizados mais estudos para se obter maiores evidências conclusivas na literatura quanto à eficácia da bandagem na redução de dor, edema e marcha.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final dessa revisão bibliográfica que estudou a eficácia da aplicação da bandagem elástica e suas funcionalidades, foram atribuídos resultados positivos para beneficiar o equilíbrio, a propriocepção e a força muscular em atletas com instabilidade crônica de tornozelo. Foi possível verificar a efetividade da bandagem elástica no aperfeiçoamento da estabilidade dinâmica e funcionalidade articular, especialmente em simultaneidade a cinesioterapia, promovendo uma ativação muscular e estímulo proprioceptivo evidenciando a melhora do fortalecimento muscular, marcha, amplitude de movimento e estabilidade articular auxiliando na prevenção de novas lesões por entorses de tornozelo.  

Ainda assim, estes resultados apresentam vieses como grupos de atletas, técnica de aplicação, tempo de uso da bandagem, sendo combinada com exercícios específicos ou algum outro método associado e conforme apontado por alguns autores, não há evidências conclusivas suficientes para assegurar cientificamente sua efetividade.  

No entanto, por se tratar de uma lesão recorrente no meio esportivo e na atualidade a qual vivemos rodeados de técnicas e tecnologias avançadas, existe uma carência de estudos atualizados, o que sugere a necessidade de mais trabalhos clínicos rigorosos para consolidar a compreensão sobre os benefícios reais da bandagem elástica em atletas com ICT.  

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