A EFICÁCIA DO TRATAMENTO E MANEJO CLÍNICO DA ESPOROTRICOSE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7148869


Autoras:
Beatriz Negreiros da Mota1
Marina Pandolphi Brolio2
Victoria de Cássia Soares Porto3


RESUMO

A esporotricose é assunto de saúde pública em todo o mundo, visto que é uma doença que afeta não só os animais como os seres humanos. A maior relevância se dá principalmente ao fato de os animais domésticos, principalmente felinos, serem os principais transmissores atualmente e, possuírem a capacidade de carregar grande quantidade de esporos do fungo. Dessa forma, torna-se necessário entender o tratamento e manejo clinico da doença para que se obtenha um diagnóstico positivo visando o sucesso no tratamento, principalmente por ainda existir diversos profissionais da área da saúde e tutores desinformados que indicam tratamento inadequado ou eutanásia. O presente trabalho trata de uma revisão de literatura que tem como objetivo mostrar a importância da doença do quesito saúde pública e como o tratamento tem sido eficaz para obtenção de prognósticos positivos. A busca foi realizada com a seleção de artigos nas principais bases de dados como: Google Acadêmico, Lilacs, Scielo e PubMed, apontando os métodos de tratamento disponíveis e suas vantagens e desvantagens para cura da micose. Podemos concluir que o tratamento inclui não somente o uso de medicamentos mas como ações completas de diagnóstico e cuidados antes, durante e após o cursor da doença.

Palavras-chave: esporotricose, itraconazol, tratamento.

ABSTRACT

Sporotrichosis is a public health issue around the world, as it is a disease that affects not only animals but also humans. The greatest relevance is mainly due to the fact that domestic animals, mainly felines, are the main transmitters today and have the ability to carry large amounts of spores of the fungus. Thus, it is necessary to understand the treatment and clinical management of the disease in order to obtain a positive diagnosis aiming at successful treatment, mainly because there are still several health professionals and uninformed tutors who indicate inadequate treatment or euthanasia. The present work deals with a literature review that aims to show the importance of the disease in public health and how the treatment has been effective in obtaining positive prognoses. The search was carried out with the selection of articles in the main databases such as: Google Scholar, Lilacs, Scielo and PubMed, pointing out the available treatment methods and their advantages and disadvantages for curing mycosis. We can conclude that the treatment includes not only the use of medication but also complete diagnostic and care actions before, during and after the course of the disease.

Keywords: sporotrichosis, itraconazole, treatment.

1. INTRODUÇÃO

A Esporotricose é uma micose subcutânea causada pelo fungo dimórfico Sporotrix schenkiinn. O fungo encontra-se disseminado na natureza, em vegetações e solos, com predominância nos climas: tropical úmido e temperado. O primeiro relato da doença ocorreu nos Estados Unidos, em 1898, por Benjamim Scheck e, no Brasil por Lutz e Splendore, no ano de 1907, sendo atualmente de ocorrência mundial. (SILVA et.al., 2018).

A doença possui caráter agudo ou crônico e tem como características clínicas a presença de lesões nodulares que podem evoluir de uma supuração, ou seja, um processo de formação de pus frente à um processo infeccioso para ulceração e necrose, com perda tecidual. (NEVES et.al., 2018). Afeta homens e animais, com destaque aos felinos. O gato doméstico é uma das principais fontes de infecção ao homem, pois acaba se contaminando em jardins devido ao ato de escavar e de cobrir seus dejetos ou outros locais em que o fungo esteja presente transmitindo aos que podem ser infectados. Todavia, são encontrados relatos em outros animais como: equinos, bovinos, cães, suínos, dentre outros (ARAÚJO et.al., 2020).

A forma de transmissão se dá através da inoculação do fungo de forma traumática. O momento pode ser ocupacional, onde profissionais como: veterinários, jardineiros, agricultores, horticultores adquirem maior possibilidade de infecção pelo fungo no desempenho de suas funções ou zoonótico, em que há contaminação por meio de mordeduras e arranhaduras de animais infectados durante atividades de lazer (ALMEIDA et.al., 2018; NEVES et.al., 2018).

Devido à ocorrência em diferentes espécies, a esporotricose apresenta diferentes características clínicas, sendo divididas em forma cutânea: (1) localizada; (2) linfática; (3) extra cutânea. Os nódulos podem ser isolados ou disseminados. Em geral, cães e humanos manifestam formas que afetam no máximo a pele e o tecido subcutâneo, sendo raro a forma disseminada. Já os felinos costumam desenvolver a forma generalizada da doença com pápulas, úlceras e nódulos afetando na região cefálica, cauda e membros posteriores, evoluindo para lesões oculares, linfáticas e neurológicas (NUNES et.al., 2018; ALMEIDA et.al., 2018).

O diagnóstico se dá através de exames clínicos e complementares. O padrão ouro para diagnóstico da doença é a cultura fúngica, visto que, essa forma é capaz de isolar o fungo Sporotrix. Todavia pode-se fazer uso também do exame citopatológico, sendo o mais usado em rotinas clínicas devido ao seu custo e rapidez quando comparado à cultura. Em felinos, o PCR e o teste ELIZA se mostram também bons métodos no diagnóstico da esporotricose. O tratamento se dá através de antifúngicos, no qual se destaca o itraconazol mas, em alguns casos, pode haver intervenção cirúrgica. (NAGASU et,al., 2021; GONSALES et.al., 2019; NEVES et.al., 2018).

Nesse contexto, visto que a esporotricose é uma zoonose presente em todo o mundo e afeta homens e animais torna-se necessário entender o tratamento e manejo clínico da doença, seu panorama atual e os aspectos fundamentais para o sucesso clínico. Este artigo tem como objetivo realizar uma revisão de literatura a cerca da eficácia no tratamento e manejo clínico da esporotricose em Manaus através de levantamentos de dados, visto que, ainda existem profissionais da saúde saúde desinformados ou que indicam tratamento inadequado ou eutanásia.

Para realização desse estudo foram pesquisados artigos nas bases de dados PubMed, Scielo e Google Acadêmico utilizando os seguintes descritores: esporotricose, itraconazol, tratamento. Foram incluídos artigos de revisão de literatura e dados fornecidos pelas secretarias de saúde, além de casos clínicos e artigos de pesquisa. Os materiais selecionados foram publicados entre 2017 e 2022 nas línguas inglesa e portuguesa.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Epidemiologia

A esporotricose é problema de saúde pública considerada enfermidade emergente, sendo necessárias ações para controlar a doença. Até o século XIX houveram diversos surtos até sua descoberta na qual a população mais afetada eram os trabalhadores de atividades agrícolas e em contato com o solo em regiões periféricas (FILHO et.al., 2020).

Atualmente, os felinos são aqueles que possuem maior papel transmissão e na propagação da doença, isso se dá, principalmente pelo hábito do livre acesso à rua, arranhar objetos, escavar e lamber o próprio corpo para se higienizar somados à não castração. Além disso, soma-se o fato de suas lesões conterem maiores cargas de células fúngica, o que facilita sua disseminação (ALMEIDA et.al., 2018; MICHELON et.al.,2019).

As maiores prevalências se encontram em regiões com clima subtropical e tropical, destacando-se países como: África do Sul, Peru, Guatemala, Brasil. Colômbia e Estados Unidos. No Brasil, o estado que possui maiores casos da doença é o Rio de Janeiro, onde em dezessete anos, já foram registrados mais de 5.000 casos da micose espalhando-se aos municípios arredores do epicentro (POESTER et.al., 2019).

O segundo destaque de casos está na região sudeste e sul do país – principalmente no sul do Rio Grande do Sul, com maiores registros nos municípios de Rio Grande e Pelotas. A dermatozoonose é reportada ainda com maiores casos em Minas Gerais, São Paulo e Paraná (MICHELON et.al., 2019; MÂCEDO-SALES et.al., 2018).

2.2. Diagnóstico

A micose possui como principal agente etiológico os fungos do complexo Sporothrix schenckii. Atualmente, sabe-se que existem pelo menos seis tipos de espécies causadoras da doença, destacando-se: S. albicans, S. globosa, S. luriei, S. Mexicana e o Sporothrix brasiliesis – identificado no Brasil (MÂCEDO- SALES et.al., 2018).

O diagnóstico definitivo envolve exames clínicos e laboratoriais. O médico veterinário é o profissional competente e capacitado para identificar a doença, através de uma minuciosa anamnese associada aos achados epidemiológicos locais e etapas laboratoriais, visto que as lesões não são tão características e podem ser confundidas com outras patologias (JUNIOR et.al., 2022).

O procedimento laboratorial para a doença já é bem consolidado. O padrão-ouro para a doença é a cultura dos fungos do complexo Sporothrix schenckii. Na prática clinica do veterinário, o exame citopatológico é o mais usado, principalmente pela rapidez e baixo custo quando comparado à cultura – que pode levar até 20 dias. O método consiste na elaboração de uma lâmina de vidro corada através do imprint ou swab da lesão – que evidencia as estruturas do fungo (MÂCEDO-SALES et.al., 2018).

2.3 Tratamento

O tratamento se dá através de fármacos antifúngicos e antimicóticos. Os mais usados são os derivados azólicos. Estes agentes agem na inibição da produção de lipídeos presentes na membrana dos fungos e são considerados métodos efetivos e seguros. Dos medicamentos, destacam-se o itraconazol e o cetoconazol, tanto em humanos como em outros animais. Além desses, em menor escolha e como alternativas viáveis tem-se a anfotericina B, fluconazol, iodeto de potássio, terbinacina, a termoterapia local e o tratamento cirúrgico de ressecção (PIRES et.al., 2017)

2.3.1 Fármacos de escolha para tratamento em humanos e animais

O Itraconazol é o fármaco de escolha no tratamento da esporotricose tanto em humanos quanto em animais. Pertencente à classe dos triazóis, o antifúngico é o que garante aos pacientes menor toxicidade (FILHO et.al., 2020). Seu mecanismo de ação se baseia na sua ligação ao citocromo P-450 do fungo, inibindo a síntese de ergosterol, deixando sua membrana celular mais permeável, com alterações no metabolismo celular que resultam em necrose. O medicamento tem biodisponibilidade maior em pH baixo, a esse motivo, sugere-se que seja administrado junto ou após as refeições. O tratamento varia sua dose de acordo com o paciente, geralmente, a dose é de 10mg/kg/dia podendo ser dado uma vez ou dividida em doses de 5mg/kg e até 100mg/gato duas vezes ao dia, via oral. Os intervalos recomendados de administração são de 12 ou 24 horas. O uso poder estender-se até 30 dias após a cura clínica. (ARAÚJO et.al., 2020; ROSA et.al., 2017; PIRES et.al., 2017).

Já o cetoconazol é um antifúngico muito usado contra micoses sistêmicas. Foi o primeiro dos derivados azólicos a ser usado, porém, não possuía alta eficiência no combate ao agente, o que levava ao uso prolongado com maiores efeitos sistêmicos. Pode ser usado tanto em humanos quanto em animais na dose 5-10mg/kg de 12 ou 24h dependendo do quadro do paciente. (BEROCAL; GOMES 2020; ROSA et.al., 2017).

A anfotericina B é um fungicida e fungistático eficaz em casos mais graves. Em humanos, é recomendado em gestantes e nas formas mais graves que acometem as crianças. Sua ação se dá de forma semelhante ao itraconazol e sua via de administração é endovenosa, mas também pode ser subcutânea e intralesional. Possui como efeito negativo a nefrotoxicidade. Na veterinária o uso é mais restrito, não podendo exceder 0,5mg/kg/dia. (SERRANO et.al., 2022; ROSA et.al., 2017).

O Fluconazol um fungistático que age independentemente do nível de acidez gástrica. Possui a capacidade de penetrar o líquor, justificando seu uso em quadros em que há comprometimento do sistema nervoso central (SNC). Seu uso é indicado apenas em casos de intolerância a outras opções, pois possui resposta inferior quando comparado aos outros fármacos. A dose em gatos é de 50mg e em humanos e cães varia de 5-10mg/kg, via oral, a cada 24h. (ROSA et.al., 2017).

Outro fármaco que pode usado, tanto em humanos quanto em animais, é o iodeto de potássio. A solução saturada foi introduzida por volta de 1900 mostrando-se eficaz no tratamento da esporotricose cutânea. Apresenta melhores resultados quando associados a outros derivados azólicos, estimulando o sistema imunológico. O ponto negativo se dá devido a seus efeitos

colaterais como: perda de peso, náuseas, febre e gosto metálico. Ademais, é contraindicado para mulheres gestantes devido ao seu alto potencial tóxico. A dose recomendada varia de 10-20 mg/kg a cada 12 ou 24 horas. (JUNIOR et.al., 2022; SANTOS et.al., 2018; ROSA et.al., 2017; SERRANO et.al., 2022).

2.3.2 Soluções alternativas ao uso dos fármacos

2.3.2.1 Termoterapia

A termoterapia é indicada a mulheres em período de amamentação, visto que, não existe uma total segurança quanto ao uso dos medicamentos receitados para doença. Consiste em aparelhos específicos que emitem raios e aquecem os tecidos a aproximadamente 43ºC, impedindo o crescimento de fungos não termófilos. É incomum na medicina veterinária, restringindo-se ao uso humano (ROSA et.al., 2017).

2.3.2.2 Intervenções cirúrgicas

As intervenções cirúrgicas podem ser realizadas tanto em humanos quanto em animais. São raramente utilizadas, pois requerem lesões localizadas e locais em que a ressecção cirúrgica seja possível. Sendo sendo preconizado o tratamento farmacológico e o cirúrgico apenas quando esgotado outros meios (ROSA et.al., 2017).

Independentemente do método escolhido para tratamento, os tutores devem ser orientados sobre a doença e a administração correta do medicamento de escolha, cuidados com animais e notificações ao centro de controle de zoonoses em caso de óbito do animal, para incineração do corpo, ou o surgimento das lesões em humanos (SILVA et.al., 2019). Os animais infectados devem ser isolados e tratados até a completa cicatrização das lesões (ARAÚJO et.al., 2020).

2.4. Prevenção e controle

A prevenção se dá através de orientações dos tutores e da população de forma geral e envolve a guarda responsável, a restrição dos animais à rua, castração, tratamento dos infectados e a eutanásia em casos em que não possível a terapêutica medicamentosa. O morte e abandono dos animais doentes são casos comumente visto, o que se dá em razão do surgimento de casos onde convive e ao desconhecimento e impossibilidade de tratamento. Os locais geralmente são terrenos baldios ou o próprio lixo comum, o que favorece a transmissão do fungo ao ambiente (SANTOS et.al., 2018).

Outro ponto importante de destacar é a manipulação do animal pelo tutor e medico veterinário. Ao desconfiar de lesões sugestivas de esporotricose, deve- se sempre fazer uso de equipamentos de proteção individual, como: avental de manga longo e elástico nos punhos, luvas de procedimento descartáveis, óculos, gorro e máscara para evitar o contato com as lesões ou arranhaduras e mordeduras. Além disso, a higienização das mãos antes e após a consulta (MERLINI et.al., 2021).

Os tutores também devem ser orientados em como manipular e cuidar do animal infectado, principalmente os felinos, já que são de altíssimo risco zoonótico. Assim como os veterinários, os donos devem fazer uso de camisas com mangas compridas e luvas, além de isolar os animais infectados dos sadios até a cura completa. Outro cuidado é a desinfecção do ambiente com hipoclorito de sódio e, no caso de óbito do animal, entrar em contato com centro de controle de zoonoses para que façam o descarte correto da carcaça. Também devem ser estimulada a castração dos felinos e que os mantenham em casa para evitar disputas territoriais e possíveis contaminações (PÁSSARO et.al., 2021).

3. DISCUSSÃO

A esporotricose é assunto de saúde pública, principalmente por afetar homens e animais e por sua rápida disseminação. A doença está presente em todo o mundo e desde a década de 90 são relatados casos no Brasil. Nesse contexto, é importante discutir as medidas que estão sendo tomadas no tratamento e na prevenção de novos casos.

Poester et.al., (2019) avaliou o conhecimento dos profissionais a cerca da micose em região hiperendêmica, relatando quais atividades estavam sendo realizadas no âmbito através de questionários semi-estruturados. O estudo mostrou que apenas metade dos profissionais da saúde conheciam que a ocorrência dos casos no município, com 40% apontando o agente etiológico errado, apenas 30% apontando a inoculação traumática para o início e evolução da doença e 32% apontando o felino como principal agente transmissor para humanos e outros animais. Dessa forma, infere-se que ainda é necessário a conscientização dos profissionais da saúde e da população quanto ao conhecimento da doença, principalmente em áreas endêmicas.

Na mesma linha de raciocínio, Pássaro et.al., (2021) analisou o conhecimento acerca da doença em voluntários de ONGs e protetores de animais em São Paulo. A pesquisa revelou que quase metade dos entrevistados (41,4%) só ouviram falar ou desconheciam a doença. Apenas 27% faziam uso de EPIs adequados, 49% somente em animais agressivos e 24% não fazem uso, demonstrando que existe bastante desinformação ou não conhecimento mesmo por parte daqueles que lidam diretamente com os animais.

Síven et.al., (2017) realizou uma pesquisa sobre o manejo dos tutores em manter a posologia da terapêutica medicamentosa receitada pelo médico veterinário. O estudo mostrou que apenas uma pequena parcela relatou conseguir administrar a medicação sem nenhum problema (35%) e 24% disse não conseguir mantê-la em um total de 46 donos. Esse fato pode se dar devido à reação dos felinos frente a situações de estresse, podendo responder com agressividade. Essa situação coloca o tutor em risco, visto que, ao tentar fazer com que o animal faça uso do remédio, a resposta contraria seja uma mordedura ou arranhões, causando a inoculação traumática.

O artigo de Michelon et.al.,   (2019)   trouxe   dados   epidemiológicos da esporotricose felina na região Sul do Rio Grande do Sul. Seu estudo consistiu na aplicação de questionários aos tutores dos gatos acometidos pela doença. Os resultados mostraram que a maioria dos gatos afetados eram machos, não castrados e que já se encontravam em lares definitivos, mas com acesso à rua e contato com outros felinos. Além disso, o aparecimento das lesões já datava entre seis a doze meses de início, a maioria fazendo uso de antifúngicos sem orientação veterinária, com predomínio de escolha pelo itraconazol. Silva et.al., (2018) estudou um surto da doença na região metropolitana de Recife e constatou a presença maior em machos jovens, em fase reprodutiva e semi- domiciliados semelhante aos achados de Michelon et.al., (2019).

Ainda sobre a esporotricose em felinos domésticos, Almeida et.al., (2018) analisou os casos na cidade de Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro. Foram selecionados 100 felinos domésticos com lesões suspeitas. Dentre esses, 66 testaram positivo, sendo 46 machos não castrados e 15 fêmeas não castradas, no qual a maioria era semi-domiciliados (89,3%) corroborando com os estudos de Michelon et.al., (2019) e Silva et.al., (2018) realizados em outras localidades.

Macêdo-Sales et.al., (2018) analisou o exame citopatologico como método diagnostico em gatos suspeitos de esporotricose no estado do Rio de Janeiro, sob o qual mostrou que a sensibilidade foi menor (52,6%) quando comparada à cultura micológico (95,2%). Ademais, mostrou que o uso prévio do antifúngico (dose diária ≥100mg/dia) pode levar a resultados falso-negativos, o que é alarmante, visto que, atualmente, com o aumento do acesso às redes de buscas, não é incomum a automedicação prévia à consulta veterinária.

Junior et.al., (2022) realizou um estudo no município de Vitória (ES) para analisar o manejo clinico e tratamento da esporotricose felina através de 270 casos, com resultado positivo em 95 deles.   Dos   diagnosticados   24% foram eutanasiadosimediatamente devido ao avanço da doença e 76% tratados com itraconazol associado ou não ao iodeto de potássio. Ao final, mostrou que 94,2% apresentaram cura e somente em 5% a terapêutica foi ineficiente. Dessa forma, concluindo que o procedimento medicamentoso apresenta excelentes resultados quando realizado de forma correta e sem interrupção.

Silva et.al., (2019) destacou a importância do médico veterinário no cursor da doença e na prevenção de novo casos. Este deve incentivar a domesticação, o tratamento e detecção de novos casos, assim como, o de orientar o não abandono do animal ou o descarte inadequado em caso de morte, além da notificação ao centro de controle de zoonoses da cidade.

Em Manaus, segundo dados da Secretária Municipal de Saúde (SEMSA) em conjunto com o Centro de Controles de Zoonoses da capital, só no ano de 2020 foram registrados mais de 240 casos de esporotricose animal – com predominância em felinos e 167 casos em humanos. De forma similar ao encontrado em outras cidades e demonstrados nos artigos, mais da metade (57,1%) dos animais apresentavam acesso livre à rua e transmitiram a micose aos seus tutores e a outros animais. Uma pequena parte adquiriu de forma ocupacional (5,5%), ou seja, em contato com ambiente contaminado e no decorrer de suas atividades. Na cidade, ações de ampliação de atendimento especializado e conscientização de alunos vêm sendo tomadas a fim de reduzir os casos.

4. OBJETIVOS

4.1. Geral

Mostrar a importância da doença e como o tratamento clinico tem sido eficaz para obtenção de prognósticos positivos.

4.2. Específicos

  • Apresentar a doença, seu agente etiológico e suas formas de transmissão;
  • Relatar os principais medicamentos usados no tratamento da doença;
  • Relacionar os achados e mostrar como levam a prognósticos favoráveis;

5. METODOLOGIA

O presente estudo consiste em uma revisão de literatura construída a partir de um levantamento de fontes bibliográficas. A busca foi realizada em bases de dados eletrônicas, como: Scielo, Google Acadêmico, Pubmed e Lilacs. O projeto foi realizado pelo método de pesquisa básica para explanação à comunidade acadêmica dos conhecimentos atuais sobre a esporotricose. A pesquisa pelo material bibliográfico foi durante o período de julho a setembro de 2022.

5.1. Critérios de inclusão

Na busca, foram usadas as seguintes palavras-chaves: esporotricose, itraconazol e tratamento. Os mesmos descritores foram usados em artigos disponíveis nas bases de dados com idioma estrangeiro (inglês). A procura retornou com centenas de monografias, projetos acadêmicos e artigos científicos sobre o tema. Foram selecionados apenas artigos científicos com até cinco anos anteriores a 2022 que fossem mais específicos sobre a esporotricose e seu tratamento. Dentre eles, estão inclusos revisões bibliográficas e relatos de casos. Após selecionar todo o conteúdo, a revisão de literatura foi elaborada a fim de contribuir historicamente ao assunto, assim como, incentivar outros acadêmicos a se informarem e pesquisarem acerca do tema.

5.2. Critérios de exclusão

Os critérios de exclusão foram trabalhos de conclusão de curso (TCC) e monografias. Além disso, foram excluídos aqueles que não versavam sobre o tema proposto ou que continham poucas informações relevantes ao trabalho.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A esporotricose é uma micose preocupante devido a sua alta transmissibilidade e ação em humanos e animais. O Brasil possui cidades com maiores focos da doença, onde se observa uma maior dificuldade em controlar os casos. O diagnóstico e o tratamento são fundamentais nesse processo. Além disso, incluem-se medidas comuns de desinfecção e descarte dos animais que não resistiram à doença. Para o sucesso do tratamento, é necessário ainda o conhecimentos dos profissionais de saúde e da população de forma geral sobre as medidas de prevenção e controle da doença. Os tutores também devem ser orientados à realizar a castração, principalmente em felinos, e evitar que saiam às ruas. Dessa forma, o tratamento completo envolve não somente o uso de antifúngicos mas de ações de saúde complementares, com conscientização e controle.

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1Acadêmica do curso de medicina veterinária do Centro Universitário Fametro (CEUNI)
Email: beatrizmoota18@gmail.com

2Doutora e docente do curso de odontologia do Centro Universitário Fametro (CEUNI)
E-mail: Coord.medveterinaria@fametro.edu.br

3Acadêmica do curso de medicina veterinária do Centro Universitário Fametro (CEUNI)