A EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA E SUA RELAÇÃO COM AS TIC’S NA COMUNIDADE VISTA ALEGRE, BOA VISTA-RR

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7635926


Dâmaris Souza de Nojosa Pais1
Gedália Lima Santos2
Marcos Vieira Araujo3
Silvane Pereira de Oliveira4
Josele da Rocha Monteiro5
Rafael Durant Pacheco6
Raimunda Mota de Carvalho7
Vilma Lucas Neto8


RESUMO

O uso das tecnologias tem revolucionado a comunicação em diferentes partes do mundo, e dentro desse contexto os povos indígenas também tem se apropriado das diferentes ferramentas para se comunicar e buscar meios para beneficiar suas comunidades. Apesar dos benefícios que essa acessibilidade proporciona, uma das maiores dificuldades no uso das tecnologias é manter as tradições, culturas e principalmente a língua materna, sendo essa uma motivação para algumas lideranças não apoiarem a entrada desses recursos em suas comunidades, sendo, portanto, necessária à capacitação dos educadores para desenvolver estratégias que possibilitem não só conhecer as TICs e sua importância como ferramenta pedagógica, mas também seu uso no processo de valorização cultural e linguística dos povos indígenas de Roraima. Este trabalho propõe repensar o processo de revalorização da cultural indígena por meio das TIC’s. Assumindo esse compromisso, o trabalho tem como objeto de estudo a capacitação em TIC’s dos professores indígenas da Escola Estadual Genial Thomé Macuxi, na comunidade Vista Alegre-RR, focalizando o professor como principal agente de transformação. O trabalho permitiu a capacitação em informática e utilização das TIC’s no contexto escolar e de valorização da cultura indígena, visando propor novas estratégias metodológicas para o planejamento dos professores. Assim, partindo da luta pela educação indígena diferenciada no Estado e dos projetos realizados para implantar melhorias nesse âmbito, até a entrada da TIC’s na educação indígena, analisou-se por meio de questionamento o grau de importância da capacitação docente por meio da oficina de informática. No ambiente educacional da comunidade, a informação disponível através de pesquisa bibliográfica e a análise de dados, colhidos em questionários aplicados aos professores relatamos e propomos novas metodologias usando as TIC’s como ferramenta potencializadora do processo de educação e ainda de valorização da cultura indígena.

Palavras chaves: TIC’s, valorização cultural, professores.

ABSTRACT

The use of technology has revolutionized communication in different parts of the world, and within this context indigenous peoples also has appropriated the different tools to communicate and seek ways to benefit their communities. Despite the benefits that provides accessibility, one of the greatest difficulties in the use of technology is to keep the traditions , cultures and especially the mother tongue, and this is a motivation for some leaders do not support the entry of these resources in their communities, therefore, necessary the training of educators to develop strategies that enable not only know the ICT and its importance as a pedagogical tool, but its use in the process of valuing cultural and linguistic diversity of indigenous peoples of Roraima. This paper proposes rethinking the process of revaluation of indigenous cultural through ICTs. Assuming that commitment, the work aims to study the training of teachers in ICT Indigenous State School Genial Makushi Thomé, community – RR Vista Alegre, focusing on the teacher as the primary agent of transformation. The work allowed the computer training and use of ICTs in the school context and appreciation of indigenous culture in order to propose new methodological strategies for teacher planning. Thus, from the struggle for indigenous education differentiated in the State and of the projects to implement improvements in this area, to the entrance of ICTs in Indigenous education, was analyzed by means of questioning the degree of importance of teacher training through computer workshop. In the educational environment of the community, the information available through literature search and analysis of data collected from interviews with the teachers reported and propose new methodologies using ICTs as a tool powerful mechanism for education and further appreciation of indigenous culture.

Keywords: ICT, cultural appreciation, teachers.

1 INTRODUÇÃO

Na sociedade indígena a família, a comunidade e o povo exercem um enfoque prático e unitário no aprendizado educativo de todos os seus membros, indo desde os afazeres comunitários até a busca e preparo da comida, o aprendizado mútuo ultrapassa gerações com o repassar dos saberes dos mais velhos aos mais novos nas reuniões e conselhos dos líderes da comunidade o Tuxaua e o Pagé formando a singular cultura de cada etnia que povoa as partes do território brasileiro com suas diferentes línguas, costumes, crenças e estilos de vida em harmonia com a natureza.

Luciano (2006) afirma que todos os bens adquiridos e serviços desempenhados entre os povos indígenas são para benefício da comunidade em que vivem, dessa forma, se todos vão bem à comunidade também vai. A formação das novas gerações é da responsabilidade de todos, pois o menino ou menina indígena está sendo formado para ser útil em sua comunidade, saber fazer uma maloca, plantar uma roça, fazer a damurida e o caxirí, entre outras coisas consideradas sabedorias práticas da educação indígena. Entretanto, o autor destaca que a miscigenação da cultura indígena com a cultura de diversos povos, nos quais anteriormente não eram conhecidos, ocorreram diversas readaptações no seu modo de vida.

Maher (2006) considera que, na maioria das vezes, o abandono da cultura identitária indígena é notório e profundamente sentido pelos povos indígenas, restando-lhes apenas adaptarem-se a um modo globalizado de vida. O autor menciona que a educação anteriormente era de cunho prático e da responsabilidade de todos da comunidade, mas que a colonização tomou capitalista, onde a formação acadêmica configura-se uma prioridade para o sustento da família.

O processo educativo indígena atual, segundo Grupioni (2006) busca incessantemente a reconquista da identidade cultural de cada etnia indígena, com suas peculiaridades, para viabilização de propostas educativas significativas que tornem oportuno a perpetuação da cultura para as gerações vindouras, isso pode ser viabilizado por meio de capacitação profissional interdisciplinar dos indígenas em que se priorize a cultura, limitações e hábitos peculiares. Nesse sentido, Santos (2008) afirma que o processo autônomo da educação indígena pode ser incorporado na democratização da prática intercultural e na inserção do processo de apropriação das TIC’s nas comunidades, respeitando às diferenças culturais e a cosmologia tradicional.

Os povos indígenas de Roraima também se organizaram na luta por uma educação diferenciada que priorize os valores culturais, o que fortaleceu a educação indígena e a união entre os povos do Estado em busca da garantia dos seus direitos, reivindicando políticas públicas garantam a diversidade sociocultural nas escolas indígenas (REPETTO, 2008).

Repetto (2008) fala sobre os avanços da educação indígena no Estado de Roraima, compartilhando as conquistas da ampliação do sistema escolar indígena, inclusive o a cesso à formação superior. Neste último ponto é destacada a importante criação, na Universidade Federal de Roraima, do Instituto Insikiran de Formação Superior Indígena, e do curso de Licenciatura Intercultural, o qual atende à demanda por formação dos professores indígenas. Dentro desta perspectiva, de formação específica, as escolas indígenas têm sido beneficiadas com o fortalecimento da cultura e língua materna, fundamentais para o perpetuamento das tradições de cada povo. Semelhantemente, Manduca, Silva e Almeida (2009) destacam a luta contra a desvalorização da cultura e da língua materna, e como os mais velhos sofrem e lutam para que esses valores sejam respeitados e até mesmo revalorizados.

Santos (2009) ressaltam a importância de capacitações em informática para professores indígenas, o qual favorece o processo de aprendizagem, facilita o planejamento do professor e a dinamização de suas aulas, constituindo-se em uma ferramenta que pode potencializar e fortalecer a cultura indígena de cada povo.

Em vista disto, esta pesquisa busca intervir na relação contemporânea das TIC’s na educação indígena objetivando o repensar das práticas pedagógicas, no que diz respeito a sua inserção e aplicabilidade associada à criatividade do educador com os recursos tecnológicos disponíveis na comunidade. O trabalho foi realizado por meio de questionários, o levantamento das TIC’s disponíveis, e a capacitação dos professores indígenas da comunidade Vista Alegre, como extensão do tema contextual de Informática na Educação Indígena do curso de Licenciatura Intercultural no Instituto Insikiran de Formação Superior Indígena na UFRR.

Com isso espera-se que os professores repensem sua prática pedagógica associando os saberes tecnológicos aos conhecimentos tradicionais da comunidade indígena em questão, possibilitando o fortalecimento de sua identidade cultural.

2 METODOLOGIA

Para o desenvolvimento desta pesquisa, foi realizada como procedimento técnico inicial, uma revisão bibliográfica buscando o uso das TIC’s nas práticas educacionais indígenas, com o foco no desenvolvimento pedagógico bem como a aplicabilidade nas atividades educacionais. Em seguida já com o caráter de pesquisa da natureza aplicada houve o levantamento das soluções do problema correlacionado ao contexto específico local, foi realizada uma pesquisa de campo na escola da comunidade indígena Vista Alegre Genival Thomé Macuxi com a exploração do ambiente, e a caracterização e definição do problema.

A abordagem da pesquisa seguiu com o modo de tratamento qualitativo onde o processo e seu significado, englobaram o contexto comunitário indígena. Tendo por classificação dos objetivos, os modos exploratório e descritivo. Com a visitação e capacitação em campo, a pesquisa desenvolvida em campo teve o apoio do Instituto Insikiran pertencente à Universidade Federal de Roraima – UFRR.

A oficina de informática desenvolvida teve o objetivo de capacitar os professores da comunidade indígena na utilização das TIC’s disponíveis como recurso pedagógico de valorização cultural, possuindo por ementa duas abordagens: informática básica e informática na educação, totalizando uma carga horária de 20 horas tanto para as turmas de professores da manhã, e da tarde que participavam da oficina no contra turno de seus horários de expediente na escola. Os programas utilizados na primeira abordagem, informática básica, foram os aplicativos do pacote de escritório LibreOffice 4.1, editor de texto (Writer), editor de planilha (Calc) e editor de apresentação (Impress).

Na abordagem de Informática na Educação, foram utilizados os programas: Movie Maker, versão 2011, para o desenvolvimento de vídeos, destacando o fortalecimento da cultura e língua macuxi; o programa AtubeCatcher, versão 2.0, para o download de vídeos e a mudança das extensões dos arquivos para o uso na TV Pendrive; o editor de histórias em quadrinho Hagaquê, versão 1.5, gratuito. E a coleção de jogos educacionais GCompris, versão 13.06, onde foi motivado o uso dos jogos educativos instalados nos computadores que possuem o sistema operacional Linux Educacional 2.0 e 3.0.

Os recursos utilizados na oficina foram os seguintes: um retroprojetor, notebook, giz e quadro negro e atividades didático pedagógicas.

Para o levantamento de dados e opiniões relevantes a comunidade indígena pesquisada houve a elaboração e a aplicação de três questionários: o primeiro questionário fez o levantamento do público que seria atendido na oficina de capacitação docente e sua relação com as TIC’s no uso do contexto pedagógico; o segundo questionário buscou identificar a situação dos professores indígenas quanto aos conhecimentos em informática e a aplicação das TICs na Educação na escola investigada; e, o terceiro questionário foi executado após a aplicação da oficina para comparação da percepção dos professores sobre a importância da informática na educação escolar indígena antes e após a oficina. Os dados coletados, foram tabulados editor de planilha eletrônica Excel do pacote de escritório Microsoft Office, gerando gráficos relevantes à pesquisa desenvolvida na comunidade indígena.

3 RESULTADOS

Para melhor organização, os resultados foram divididos em quatro seções indo desde o diagnóstico do ambiente educacional até a aplicação e finalização da oficina de informática para os professores, nos quais os dados serão apresentados e analisado nos seguintes tópicos.

3.1 DIAGNÓSTICO DA ESCOLA ESTADUAL INDÍGENA PROFº GENIVAL THOMÉ MACUXI DA COMUNIDADE VISTA ALEGRE

A Escola dispõe de uma copa, banheiros masculino e feminino, almoxarifado, caixa d’água, laboratório de informática, e duas salas para coordenação da escola, em uma funcionando a secretaria, e na outra a direção, tendo a capacidade de atender a demanda dos alunos da própria comunidade e adjacentes com educação em nível fundamental e médio, com aulas pelo período da manhã, tarde e noite, tendo em seu rol de funcionários os professores indígenas; e aos finais de semana há aulas de ensino superior do curso de matemática com os professores da Universidade Estadual de Roraima – UERR.

Segundo a professora responsável pelo laboratório os computadores chegaram à comunidade por volta do ano de 2002, ainda possuem o mesmo sistema operacional e não sabe o motivo da disparidade dos sistemas; mencionando o descaso por parte dos órgãos responsáveis pela manutenção e atualização dos hardwares dos laboratórios das escolas públicas.

A internet que há na escola para utilização tanto do corpo discente e docente acontece pelo laboratório de informática que é oriunda da conexão via satélite onde o sinal é recebido pela antena e distribuído em rede para os computadores do laboratório; entretanto, estavam funcionando durante a oficina somente três entradas do servidor de rede, pois no período da reforma da Escola os aparelhos do laboratório e o servidor ficaram sem local fixo, e armazenamento adequado, sendo alguns dos equipamentos eletrônicos danificados inclusive as outras entradas do servidor, restando apenas três entradas que são constantemente revezadas entre os computadores de mesa do laboratório e os notebooks dos professores.

Nas duas primeiras visitas a comunidade foi diagnosticado as características iniciais e realizado o contato e houve uma intervenção no laboratório da comunidade onde foram instalamos alguns softwares de cunho educativo, download de vídeos da internet e edição de vídeos, e também o pacote de escritório LibreOffice 4.1 essenciais para a realização da oficina. Para o conhecimento geral da comunidade foi aplicado o primeiro questionário com perguntas relacionadas à comunidade, ao uso das TIC’s e a expectativa quanto à realização da oficina.

Foram instalados os softwares compatíveis com o operacional Windows nos dois computadores os quais possuem um processador Corel duo e 2,5 GB de memória, o software: Movie Maker para edição rápida e fácil de vídeos, o AtubeCatcher para o download de vídeos do site You Tube, Hagaquê para a elaboração de histórias em quadrinhos, Gcompris para o desenvolvimento dos movimentos no mouse e conhecimento do teclado entre crianças e adultos. Nos outros quatro computadores cujo sistema operacional é o Linux Educacional nas versões 2.0 e 3.0, foi feita a opção da permanência do sistema operacional vigente por conter uma gama de softwares educativos, ausência de vírus, gratuidade da licença, e principalmente pela incapacidade do processador que é Celeron com 1 GB de memória de não suportar os programas atuais exigem uma maior capacidade de processamento e memória.

3.2 DIAGNÓSTICO INICIAL

Em relação ao tempo em que os professores vivem na comunidade, os dados revelaram que 40,0% dos professores moram na comunidade num período entre 05 a 10 anos, 20,0% de 11 a 16 anos de vivencia na comunidade, e 40,0% moram na comunidade de Vista Alegre entre 17 a 39 anos.

Em relação ao uso do laboratório de informática na escola da comunidade, para pesquisas e apoio a disciplina, apenas 30%dos professores afirmam usar diariamente, 40,0% afirmam não fazerem uso dos computadores do laboratório e 03 (30,0%) disseram que usam apenas às vezes. Isso mostra que existe uma grande necessidade de incentiva-los a usar estas ferramentas em suas atividades.

Figura 1 : Uso do Laboratório de Informática

Fonte: Autores da pesquisa (2013)

Para tanto, é extremamente necessário que todos os computadores da escola estejam funcionando perfeitamente, o que não condiz com a realidade, pois como mostra a pesquisa, O laboratório de informática da escola possui dez computadores, no entanto, somente 60,0% estão em condições de uso; dois deles tem o sistema operacional Windows, outros 20,0% têm o sistema operacional Linux Educacional 2.0, e os outros 20,0% restantes, o sistema operacional Linux Educacional versão.

A maior dificuldade que os professores enfrentar em relação ao uso laboratório, está no fato de não saber as funções básicas do computador, pois metade dos entrevistados 50,0% afirmaram não ter a menor noção de informática básica, e os demais 50,0% declararam ter noções básicas em relação aos recursos disponíveis no laboratório.

Figura 2 : Conhecimento em Informática Básica

Fonte: Autores da pesquisa (2013)

O fato de 50,0% dos professores afirmarem não saber usar nenhum tipo de recurso tecnológico revela que existe uma grande necessidade em capacita-los para usar as TIC’s na educação, como mostra a figura 3.

Figura 3 : Os recursos tecnológico conhecidos

Fonte: Autores da pesquisa (2013)

Dos que possuem conhecimento em informática básica, foram 50,0% dos professores, dos quais se distribuem da seguinte forma: 10,0% afirma saber usar apenas editores de texto, 10,0% afirma usar editores de texto, planilha e internet; outros 20,0% usam editores de texto, apresentação e internet e apenas 10,0% conhece e usa todos os recursos tecnológicos disponíveis na escola. Esse resultado se dá pelo fato dos 50% dos entrevistados possuírem computador pessoal.

Segundo os professores, as TIC’s disponíveis na escola são: TV Pendrive, datashow, notebook, aparelho de DVD, caixa de som, tablets, impressora, fone de ouvido e pendrive. Perguntou-se a eles se já tinham feito curso ou oficina de capacitação para uso destas ferramentas. Conforme mostra a figura 4, dos entrevistados, 50% nunca participaram de capacitação na área de informática.

Figura 4 : Capacitação anterior na área de informática

Fonte: Autores da pesquisa (2013)

Além disso, os mesmos 50% dos entrevistados não sabem si quer, fazer uma pesquisa na internet, como mostra figura 5.

Figura 5 : Uso de internet como meio de pesquisa

Fonte: Autores da pesquisa (2013)

Foi dada a oportunidade dos professores darem sua opinião no questionário a respeito do que achavam que veria mudar na gestão pedagógica da escola a principal reivindicação e que precisam ter orientações em relação ao planejamento de suas aulas, que precisam de mais capacitação, oficinas de informática e de metodologias do ensino, pois querem mudar a forma como ministram suas aulas, acreditam que a escola deveria ser mais envolvida com as tecnologias, os computadores deveriam periodicamente passar por manutenção, ou serem trocados por novos.

Os professores indígenas relataram estarem satisfeitos, pois esperavam conhecerem novas possibilidades de melhorar suas aulas e aprimorar seus conhecimentos durante a oficina de informática básica, queriam aprender as funções básicas de um computador visto que a maioria não sabia nem como ligar ou desligar um computador, “nunca tentei ligar nem desligar um computador do laboratório tenho medo de quebra- ló”, afirma um professor, mostraram também querer mudar a forma como ministram suas aulas como afirma outro professor, “precisamos aprender a utilizar novos recursos para melhorar o planejamento de nossas aulas”, poder usar os recursos disponíveis na escola dentro da sala de aula é uma das metas dos professores, pois acreditam que o uso da tecnologia pode contribuirá para o fortalecimento da cultura indígena, por isso pretendem usá-la para melhora o planejamento de suas aulas.

3.3 QUESTIONÁRIO APLICADO AOS PROFESSORES ANTES DA OFICINA INFORMÁTICA

No primeiro dia de oficina foram aplicados 10 questionários com os professores presentes na oficina, foram obtidos os resultados seguintes: dos participantes da oficina 80% foram professores, 10,0% coordenador e outro 10,0% secretário da escola.

Segundo resultados da pesquisa, as TIC’s são bem aceitas na comunidade, porém nem todos sabem como introduzi-las em suas aulas, 10,0% dos professores utilizam as TIC’s sempre, outros 40,0% utilizam às vezes, sempre que podem utilizam: caixa de som, projetor, TV, computadores, porém 50,0% dos professores nunca fizeram uso de qualquer tipo de TIC’s, na sala de aula, e necessitam de apoio e orientações para planejar suas aulas, como mostra a figura 6.

Figura 6 : O uso das TIC’s no cotidiano escolar

Fonte: Autores da pesquisa (2013)

Segundo relatos pelos professores as que os professores mais usam pra deixarem suas aulas mais atrativas são: DVD, celular, Data show, caixa de som, Televisão, computador, Brincadeiras e jogos.

Foi perguntado se as tecnologias trouxeram algum malefício para a comunidade, 20,0% dos entrevistados acreditam que as tecnologias trouxeram alguns malefícios para a comunidade, outros 30,0% acham que as tecnologias não ocasionaram nem um tipo de maleficio e outros 50,0% não souberam responder como mostra a figura 7.

Figura 7 : Malefício das TIC’s

Fonte: Autores da pesquisa (2013)

Quanto a maior dificuldade enfrentada na comunidade em relação às TIC’s, os professores relataram que e a falta de manutenção dos computadores da escola, isso atrapalha muito o desempenho da educação na escola, pois a maioria dos computadores estão danificados, a falta de conhecimento em relação ao manuseio das TIC’s existentes da escola é grande, a maioria dos professores declaram que precisam de auxilio, precisam realizar um curso de informática, um dos constantes problemas apresentados na escola, também mencionados e que embora haja energia em toda comunidade, a mesma oscila muito e as faltas são constantes.

3.4 QUESTIONÁRIOS APLICADOS AOS PROFESSORES APÓS A OFICINA DE INFORMÁTICA

Ao final da realização da oficina foram aplicados os últimos questionários, para saber o nível de conhecimento atingido, e o grau de satisfação dos participantes e no que influenciou essa capacitação para melhoria suas práticas pedagógicas. As perguntas, em sua maioria foram questões abertas.

Foi questionado aos professores sobre quais ferramentas TIC’s passaram a conhecer após o treinamento 100% dos professores afirmaram ter conhecido e aprendido como usar umas das varias TIC’s apresentadas, dentre elas destacam-se, edição de texto e de vídeo, Planilhas eletrônicas (LibreOffice, Calc) e programas para download de vídeos.

Sobre o grau de satisfação e o que acharam das novas ferramentas apresentada na oficina, 90,0% dos professores acharam ótimo ter participado deste treinamento, além disso, passaram a conhecer como utilizar as TIC’s disponíveis na comunidade, outros 10,0% disseram que o nível de satisfação foi razoável, o que se pode observar é que o grau de satisfaço e de aprendizado dos professores foi positivo, como mostra a figura 8.

Figura 8 : TIC’s na Educação

Fonte: Autores da pesquisa (2013)

Sobre quais das TIC’s apresentadas, iriam aplicar em suas aulas, mostra que dos 10 professores, 90,0% afirmaram que irão usar de alguma forma as TIC’s em suas aulas futuras, dentre as ferramentas apresentadas as que mais se destacaram entre os professores foram o  AtubeCatcher para download de vídeo, o editor de texto Writer e a planilha eletrônica Calc para programação de sua aulas, enquanto apenas 1 afirmou que precisa aprender mais sobre as TIC’s para só então colocarem em pratica na sala de aula. Entretanto, todos acharam que o conhecimento adquirido durante a oficina irá contribuir para sua vida docente, como mostra a figura 9.

Figura 9 : Conhecimento adquirido na Oficina

Fonte: Autores da pesquisa (2013)

Suas possibilidades de criatividade em sala de aulas aumentaram, pois conheceram varias formas de utilizar as ferramentas tecnológicas que existem na comunidade se comprado com os dados do inicio da oficina onde 50,0% dos professores antes nunca tinham usado um computador e agora 100,0% dos professores conhecem e aprovam o uso das tecnologias existente na comunidade.

Foi pedido aos professores que atribuíssem uma nota ao conhecimento adquirido na oficina num intervalo de 0 a 10, o cálculo das respostas foi uma média de 8,5. Isso se dá pelo fato de os professores descobrirem novas possibilidades para melhorar suas aulas. A figura 10 mostra que todos aprenderam a usar os computadores pra fazer pelo menos as operações básicas.

Figura 10 : Utilização básica do computador

Fonte: Autores da pesquisa (2013)

Assim todos os professores poderão utilizar os computadores em suas atividades educacionais inclusive no planejamento de suas aulas. Pois, como mostra o gráfico 11, 90,0% dos professores afirmaram que sempre que possível irão usar tais ferramentas contra 10,0% que diz usar a maioria das vezes.

Figura 11 : Planejamento de aulas com as TIC’s

Fonte: Autores da pesquisa (2013)

E por último, 100,0% dos professores acharam os jogos educacionais muito interessantes e que irão utilizar em suas aulas.

4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Os resultados mostraram que metades dos professores da comunidade indígena de vista alegre nunca haviam participado de uma capacitação em informática, portanto não sabiam utilizar os recursos disponíveis.

Os professores que usavam os computadores e o recurso disponíveis haviam feito um curso de computação antes por isso, sabiam utilizar os computadores, todos os professores com noções em informática ainda que pouco possuíam também notebook que utilizavam para uso pessoal em diversos fins.

Muitos professores pelo fato de não terem noção de computação não tentavam nem ligar e desligar os computadores muito menos aprender por conta própria, pois tinham medo de quebrar os computadores, foi comprovado que o descaso é grande e as dificuldades são muitas para com essa comunidade, os órgãos responsáveis em dar suporte a eles não se preocupam em acompanhar e nem resolver o problema que surgem, a situação e bem preocupante, pois nem sempre os professores indígenas tem a oportunidade de participarem de uma oficina nem para estarem atualizados.

Pode se observar que todos os professores estavam ansiosos para começar a oficina, pois queriam muito conhecer ainda que o básico de informática e tinham expectativas e esperam que a oficina mudasse sua realidade pois pretendiam em breve pode utilizar  os computadores da escola e as TIC’s na sala de aula.

Durante a capacitação pode se perceber o grande interesse e esforços dos professores para absorver o máximo de informação possível sobre o conteúdo apresentado, e como podemos ver nos gráficos anteriores, a satisfação e os resultados foram positivos, 100% dos professores afirmaram que aprenderam como utilizar as principais TIC’s que existem na comunidade e pretendem utilizar na sala de aula, isso mostra que os resultados superaram as expectativas, pois todos os professores aprenderem a usar mais de uma ferramenta que afirmaram ter sido  fundamental terem participado da oficina.

Embora o governo ofereça tablete, internet, e outras tecnologias, não oferecem a oportunidade de se capacitarem a realidade inicial da comunidade era que apenas metade dos professores sabiam utilizar de alguma forma os computadores hoje 90,0% dos professores conhecem, e acham importante utilizar as TIC’s na sala de aula, apenas 01 dos professores afirma ainda ter que se capacita um pouco mais para colocar em pratica o uso das TIC’s na sala de aula.

Portanto aplicar a oficina em benéfico dos professores da comunidade vista alegre além de um ato social importantíssimo teve uma contribuição inestimável para o desenvolvimento intelectual dos professores, da comunidade e dos alunos, pois os professores iram colocar em pratica na sala de aula o que aprenderam durante a capacitação, os dados antes da oficina comprovam que metade dos professores se sentiam oprimidos, pois não sabiam manusear os computadores da escola, não podiam oferecer aos seus alunos uma educação de qualidade por não saberem como utilizar as TIC’s na sala de aula, e nem tinham ideia de quando poderiam participar de uma e aprender a usar ferramentas  importantes  como: digitar, baixar vídeos, montar tabelas, gerar gráficos entre outros.

As mudanças ocorridas na escola da comunidade indígena vista Alegre impulsionam e motiva a construção do conhecimento e a implantação de ideias tecnologias na sala de aula e no cotidiano da comunidade.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos resultados obtidos ficou evidente que as TIC’s podem proporcionar aos professores e alunos indígenas a possibilidade de valorização cultural e uma melhor didática em sala de aula, tornando-as mais dinâmicas e criativas, proporcionando a construção de um conhecimento mais significativo, possibilitando mudanças positivas e benefício para toda comunidade.

Verifica-se a importância de capacitação e mais investimento na formação dos professores indígenas, de modo que lhes possibilite conhecer as melhores formas de como usar as TIC’s na sala de aula e na própria comunidade, pois, a maior dificuldade presente na comunidade indígena em questão, não se atribuiu à falta de ferramentas e tecnologias, mas sim de capacitação para usá-las.

É de suma importância que as comunidades sejam acompanhadas nesse processo de inclusão tecnológica que hoje é uma realidade presente em seu cotidiano, sendo portanto, necessário mais atenção às necessidades da comunidade, pois é evidente a carência de políticas públicas educacionais e projetos voltados para capacitação através de oficinas e  cursos, e que esses projetos sejam realmente colocados em prática, pois nem sempre o acesso às comunidade indígenas são fáceis, o que dificulta ainda mais a inserção de tais eventos na comunidade. Os professores indígenas precisam ser incentivados a usar as TIC’s em favor do fortalecimento de sua cultura o que beneficiará não só a escola, mas toda a comunidade.

REFERÊNCIAS

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MAHER, T. M. A Formação de professores indígenas: uma discussão introdutória. GRUPIONI, L. D. B. Formação dos professores indígenas: repensando trajetórias. SECAD/MEC/UNESCO. Brasília, 2006.

REPETTO, M. Marco Conceitual do Projeto Educação Cidadã intercultural no contexto da Escola Indígena em Roraima – Brasil. REPETTO, M. [et. al] (org.) Propostas Educativas em Cidadania Intercultural. Boa Vista: Editora da UFRR, 2008.

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1Faculdade Estácio da Amazônia
2Faculdade Estácio da Amazônia
3Especialista em Informática da Educação do Instituto Federal do Amazonas-IFAM Instituição: Universidade Federal de Roraima.
4Mestranda em ciências da educação Universidade Dele Sol-UNADES no Paraguai.
5Doutorando em Ciências da Educação pela Facultad Interamericana de Ciencias Sociales – FICS, Paraguai.
6Doutorando em Ciências da Educação pela Facultad Interamericana de Ciencias Sociales – FICS, Paraguai.
7Mestranda em Ciência da Educação pela Universdad Politécnica y Artística Del Paraguay. Instituição: Secretaria de Estado da Educação e Desporto de Roraima – SEED/RR
8Mestranda em ciências da educação Universidade Dele Sol- UNADES no Paraguai.