A DESINDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA E O IMPACTO NO EMPREGO E BALANÇA COMERCIAL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202505191118


João Vitor Ferraz Santos1
Marcio Gomes da Silva2
Orientador: Júlio Cesar Molon Bevilaqua3


RESUMO

Este trabalho analisa o processo de desindustrialização no Brasil, seus fatores determinantes e os impactos socioeconômicos associados. A pesquisa revela que a perda do setor industrial compromete a geração de empregos qualificados, reduz o poder de compra da população, limita a mobilidade social e prejudica a balança comercial ao aumentar a dependência de importações. Além disso, compromete a capacidade de inovação e o desenvolvimento sustentável do país. O estudo conclui que políticas públicas estruturadas são essenciais para reverter esse processo e fortalecer a economia nacional.

PALAVRAS-CHAVE: Desindustrialização; Economia brasileira; Emprego; Política industrial; Desenvolvimento sustentável; Balança comercial.

ABSTRACT

This paper analyzes the deindustrialization process in Brazil, its determining factors, and the associated socioeconomic impacts. The research shows that the decline of the industrial sector compromises the creation of skilled jobs, reduces purchasing power, limits social mobility, and harms the trade balance by increasing dependence on imports. Furthermore, it weakens the country’s innovation capacity and sustainable development. The study concludes that structured public policies are essential to reverse this process and strengthen the national economy.

KEYWORDS: Deindustrialization; Brazilian economy; Employment; Industrial policy; Sustainable development; Trade balance.

1 INTRODUÇÃO

A desindustrialização, no Brasil, nas últimas décadas, tem sido um fenômeno prejudicial para a economia brasileira, evidenciada pela redução do setor industrial no Produto Interno Bruto, refletindo negativamente na geração de emprego. O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) aponta que, a partir dos anos 1990, a indústria de transformação vem perdendo relevância saindo de 27% do PIB, em 1985, chegando a 11,3 %, em 2021 (IEDI, 2022). Esse declínio implica profundamente não apenas na estrutura produtiva do país, mas também no mercado de trabalho e na balança comercial, já que a indústria é historicamente associada a empregos de maior qualidade e a ganhos de produtividade (BASTOS, 2019). Dani Rodrik (2016), utiliza o termo: Desindustrialização precoce fazendo referência ao fenômeno que afeta países de renda média, como o Brasil, antes de atingirem o pleno desenvolvimento levando a reprimarização da pauta exportadora com commodities representando mais de 70% das vendas externas em 2023 (MDIC, 2023). Somada ao aumento das importações de bens manufaturados, essa dependência de produtos básicos amplia o déficit nos setores intensivos em tecnologia reduzindo a capacidade de inovação da economia (OCDE, 2020). Com base nesse contexto, o artigo analisa como o emprego e a balança comercial sofrem os efeitos da desindustrialização.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A economia brasileira possui origens históricas em um modelo baseado na exploração de recursos naturais e na inserção dependente no mercado internacional. Desde o período em que o Brasil vivia sob domínio português, o país estruturou sua produção para atender à demanda externa por produtos agrícolas e minerais, o que resultou em uma industrialização tardia e dependente (FURTADO, 2000). Segundo Tavares (1972), essa forma de inserção condiciona o padrão de desenvolvimento nacional, ao restringir a autonomia tecnológica e limitar a diversificação produtiva.

No contexto contemporâneo, essa dependência se expressa na reprimarização da pauta exportadora brasileira. Dados do Ministério da Economia (2023) apontam que produtos como soja, minério de ferro, petróleo bruto e carne representam mais de 60% das exportações do país. Esse perfil limita a capacidade de agregar valor à produção nacional e reforça a vulnerabilidade externa às oscilações dos preços internacionais de commodities (BRESSER-PEREIRA, 2019).

2.1 O Que é Desindustrialização

A desindustrialização, segundo Paulo Gala (2017), é o processo de redução da participação da indústria de transformação no PIB de um país, neste contexto estamos falando do Brasil. Os principais fatores que levam ao processo de desindustrialização são: falta de proteção à indústria nacional; modelo de crescimento baseado em commodities (o Brasil é um dos maiores exportadores de soja, minério de ferro e petróleo); falta de investimento em inovação e capacitação – o Brasil, historicamente, enfrenta dificuldades para o devido investimento em pesquisas e desenvolvimento no setor industrial, o que acarreta em uma indústria nacional mais prejudicada.

2.2 Desindustrialização Precoce no Brasil

Em países mais desenvolvidos como Estados Unidos, China e Rússia, a desindustrialização ocorre após um longo tempo de estabilização do ramo industrial. No Brasil, esse processo teve início antes que a indústria alcançasse certa maturidade para sustentar o crescimento econômico. Trata-se do que alguns autores chamam de desindustrialização precoce, marcada pela queda da participação da indústria no PIB e na geração de empregos, mesmo sem a consolidação de um setor industrial forte (OREIRO; FEIJÓ, 2010).

Figura 1 – Participação da indústria no PIB

Fonte: Folha de S.Paulo (2024), com dados da CNI e do IBGE

De acordo com Cano (2012), essa tendência decorre de uma combinação de fatores, como a adoção de políticas macroeconômicas que desfavoreceram a indústria, a abertura comercial sem planejamento adequado para proteger setores estratégicos e a valorização cambial, que comprometeu a competitividade dos produtos nacionais. 

Essa retração industrial tem consequências importantes. A indústria desempenha papel fundamental na difusão de inovações, na organização de cadeias produtivas integradas e no aumento da produtividade. Sua perda de peso na economia compromete, portanto, a capacidade do país de crescer com qualidade e gerar empregos mais qualificados (KUPFER; FERRAZ, 2018).

2.3 Efeitos sobre o trabalho e a qualidade de vida

Com a perda de espaço da indústria, observa-se uma pequena mudança na estrutura do mercado de trabalho, com o crescimento do setor de serviços e das atividades primárias. Para atestar isto, apenas em 2024 o setor de serviços cresceu em 3.1%, segundo um levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em geral, os empregos industriais oferecem melhores salários e condições mais estáveis. Sua substituição por ocupações menos qualificadas contribui para o avanço da informalidade e a maioridade de empregos de baixa produtividade (SALM; NASCIMENTO, 2016).

Esse cenário tem impacto direto na desigualdade de renda e na mobilidade social. A redução do emprego industrial dificulta o acesso dos trabalhadores a carreiras que exigem formação técnica e oferecem oportunidades de ascensão, o que colabora para a estagnação salarial e o aumento das disparidades socioeconômicas (PIKETTY et al., 2019).

Além disso, a centralização da produção em setores voltados à exportação de commodities, muitas vezes controlados por grandes corporações, aprofunda as desigualdades regionais. Regiões com base econômica ligada à mineração ou à agricultura enfrentam desafios como a baixa variedade produtiva, falta de serviços públicos e condições de trabalho mais inseguras (CEPAL, 2020).

2.3.1 Impactos da Desindustrialização no Mercado de Trabalho

Com a queda da indústria no Brasil, o mercado de trabalho também tem mudado bastante. Muitos empregos que antes estavam no setor industrial, que pagavam melhor e eram mais estáveis, estão sumindo e dando lugar a trabalhos no setor de serviços. Esses novos empregos, em geral, são mais informais, com salários mais baixos e menos garantias para os trabalhadores (GALA, 2017).

Isso afeta diretamente a vida de muita gente, porque sem um trabalho fixo e com bons direitos, fica mais difícil ter uma vida estável. Além disso, segundo o IBGE (2022), o número de pessoas trabalhando sem carteira assinada tem crescido, o que mostra o quanto o emprego informal vem ganhando espaço com essa mudança.

Outro ponto importante é que, com menos vagas na indústria, a procura por trabalhadores qualificados também diminui. Isso desvaloriza cursos técnicos e profissionais que estudaram para atuar nesse setor. A OCDE (2020) destaca que essa falta de oportunidades e de políticas para requalificar os trabalhadores acaba dificultando ainda mais a vida de quem quer se manter no mercado de trabalho.

2.4 Indicadores de Desindustrialização

Para mensurar adequadamente o processo de desindustrialização, é necessário considerar múltiplos indicadores:  

1) Indicador Produtivo:

–  Participação da indústria de transformação no PIB  

–  Taxa de crescimento da produção industrial  

–  Grau de sofisticação tecnológica da produção  

2) Indicador Comercial: 

–  Participação de manufaturados nas exportações  

–  Grau de penetração de importações no mercado interno  

–  Saldo da balança comercial de produtos industrializados  

3) Indicador Laboral:  

–  Participação do emprego industrial no total da ocupação  

–  Qualidade dos postos de trabalho industriais  

–  Remuneração média do setor 

2.5 O Que é Balança Comercial

Para Tavares (1972), o comércio exterior é um dos desenvolvimentos mais essenciais para o desenvolvimento econômico, e por conta disso a balança comercial expressa a capacidade de aparição de um país no mercado global.

A balança comercial destaca a diferença entre o valor total das importações e exportações em determinado período de tempo. Podemos considerar a balança comercial como um KPI (Key Performance Indicator), pois ela funciona como um termômetro das finanças comerciais de determinado país.

2.5.1 O Que é Superávit Comercial?

 O superávit comercial acontece quando o valor final das exportações de bens e serviços de determinado país supera o valor total de suas importações em um período X. Esse saldo positivo na balança comercial indica que o país está exportando mais do que comprando, o que resulta numa economia exportadora forte ou uma demanda interna tomada por produtos estrangeiros.

 Segundo Vasconcellos e Garcia (2014), o saldo comercial positivo representa uma entrada líquida de divisas, o que pode fortalecer a posição externa do país e contribuir para a acumulação de reservas internacionais.

2.5.2 O Que é Déficit Comercial?

 O déficit comercial acontece quando o valor final das importações de bens e serviços de determinado país supera o valor total de suas exportações em um período X. Este saldo negativo na balança comercial quer dizer que o país gasta mais com produtos estrangeiros do que recebe com a venda das suas próprias mercadorias para o exterior, o que pode resultar em influências sobre a balança de pagamentos e demandar financiamento externo.

 Segundo Vasconcellos e Garcia (2014), o déficit comercial representa uma saída líquida de divisas, que pode comprometer a saúde das contas externas de um país.

2.5.3 O Que é Equilíbrio Comercial?

 O equilíbrio comercial acontece quando o valor final das exportações de determinado país é igual ou próximo ao valor total de importações em um período X. Neste cenário, a balança comercial apresenta um saldo nulo ou pequeno, indicando que o país não está acumulando nem perdendo divisas no mercado internacional.

 Segundo Vasconcellos e Garcia (2014), o equilíbrio na balança comercial reflete uma situação em que o país consegue manter sua inserção no mercado externo sem gerar pressões adicionais sobre suas contas externas, o que é desejável para a estabilidade macroeconômica.

Figura 2 – Ilustração da balança comercial

Fonte: Toda Matéria, 2025

2.6 Balança comercial x Desindustrialização

 No caso do Brasil, a desindustrialização impacta negativamente a balança comercial quando pensamos em reduzir a capacidade do país de exportar produtos com grande valor agregado. Este tipo de ocorrência é comum em casos de perda de participação da indústria de transformação. A pauta exportadora se concentra cada vez mais em commodities primárias. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC, 2023), estas matérias-primas representam mais de 70% das exportações do Brasil apenas em 2023.

 Figura 3 – Os 10 produtos mais exportados pelo Brasil até novembro de 2023

Fonte: Conexos Cloud, com dados coletados no Comex Stat (2024)

3. METODOLOGIA

Este estudo adota uma abordagem qualitativa com base em revisão bibliográfica e análise documental. Serão utilizados dados secundários de instituições como IBGE e CEPAL, além de artigos científicos, livros, notícias e relatórios que tratam de comércio exterior, desindustrialização e mercado de trabalho.

A pesquisa se estrutura a partir da Economia Política do Desenvolvimento, com ênfase em autores estruturalistas e desenvolvimentistas, como Celso Furtado, Maria da Conceição Tavares, Bresser-Pereira, Paulo Gala e outros estudiosos contemporâneos.

4. AS CAUSAS DA DESINDUSTRIALIZAÇÃO NO BRASIL

4.1. Questões Internas

4.1.1. A Crise dos Anos 1980

A chamada “década perdida” representou um ponto de inflexão para a indústria brasileira. A combinação de crise da dívida externa, hiperinflação e instabilidade macroeconômica criou um ambiente extremamente desfavorável para os investimentos industriais.  

4.1.2. A Abertura Comercial dos Anos 1990  

A política de abertura comercial implementada a partir de 1990, sem as devidas salvaguardas para setores industriais estratégicos, expôs a indústria nacional à concorrência desleal de produtos importados, especialmente da China a partir dos anos 2000.  

4.1.3. A Questão Tributária

O sistema tributário brasileiro, extremamente complexo e oneroso, coloca a indústria nacional em desvantagem competitiva. Estima-se que a carga tributária sobre a indústria seja cerca de 30% superior à média dos países da OCDE.  

4.1.4 Ausência de Política Industrial 

 A falta de uma política industrial constante é diretamente proporcional ao cenário atual de desindustrialização no Brasil. Isto acontece quando a participação da indústria de transformação no PIB e na geração de empregos diminui antes que o país atinja um nível elevado de desenvolvimento econômico.

 Aqui estão algumas formas de relacionar a ausência de política industrial x desindustrialização:

4.1.4.1 Ausência de Diretrizes Estratégicas

Sem uma política industrial clara, o Estado deixa de orientar e incentivar setores estratégicos com alto potencial de inovação, produtividade e geração de empregos qualificados. Isso faz com que a indústria nacional perca competitividade frente a países que promovem ativamente seus setores industriais, como China, Alemanha e Coreia do Sul. Exemplo: fim do Plano Brasil Maior (2011-2014). O Brasil teve o Plano Brasil Maior como tentativa de incentivo à política industrial, mas foi descontinuado após 2014, sem que algum outro programa tivesse espaço em seu lugar.

4.1.4.2 Baixo Investimento em Tecnologia e Inovação

Políticas industriais bem estruturadas costumam incluir incentivos à pesquisa, desenvolvimento e inovação. A ausência desses incentivos no Brasil limita a capacidade da indústria de competir tecnologicamente no mercado global, levando o país a estagnar no mesmo local ou até mesmo sofrer quedas na produção industrial. 

4.1.4.3 Câmbio e Juros Desfavoráveis

 Sem política industrial, o país também tende a negligenciar a coordenação entre política econômica e industrial. Juros altos e câmbio valorizado — comuns na economia brasileira — tornam os produtos industriais menos competitivos, favorecendo as importações e desestimulando a produção local.

4.1.4.4 Deslocamento da Produção para Outros Setores

A ausência de incentivo à indústria leva ao crescimento de setores com menor valor agregado, como o setor de serviços de baixa produtividade (camelôs, vendedores ambulantes, serviços domésticos, motoristas de aplicativos, cabeleireiros) ou a exportação de commodities primárias (soja em grão, minério de ferro, café em grão verde, petróleo bruto). À medida que a indústria perde espaço e empregos, muitos trabalhadores migram para esse tipo de serviço como alternativa de sobrevivência, o que freia o crescimento da produtividade geral da economia e reduz a capacidade de gerar riqueza de forma sustentada.

4.1.4.5 Desalinho das Cadeias Produtivas

 Sem políticas de conteúdo local, proteção temporária e apoio a fornecedores nacionais, muitas cadeias produtivas industriais se desorganizam, com empresas sendo forçadas a importar componentes ou até a sair do país. Exemplo: enquanto países asiáticos adotaram políticas industriais agressivas nas últimas décadas (subsídios, zonas econômicas especiais, formação técnica etc.), o Brasil abandonou gradualmente sua política industrial desde os anos 1990, confiando excessivamente nas forças de mercado. O resultado foi uma crescente perda de espaço da indústria no PIB, que caiu de cerca de 27% nos anos 1980 para menos de 11% em 2024.

4.2. Questões Externas

4.2.1. A Doença Holandesa

A doença holandesa é um fator econômico que acontece após uma nação começar a exportar grandes quantidades de recursos naturais (petróleo, minérios ou alimentos) e entra muito dinheiro estrangeiro no país. Esse grande movimento de capital valoriza a moeda local, assim o câmbio fica mais forte.

O problema é que, com uma moeda mais valorizada, os produtos industriais nacionais ficam mais caros para o resto do mundo e também perdem competitividade frente aos produtos importados. O setor industrial, então, começa a perder espaço

A explosão das commodities no século 21 levou a uma apreciação cambial que prejudicou severamente a competitividade da indústria exportadora brasileira (BRESSER PEREIRA, 2008).  

O Brasil viveu um cenário parecido, especialmente durante os períodos de boom das commodities (como soja, minério de ferro e petróleo), principalmente nos anos 2000. Com a entrada massiva de dólares pelas exportações desses produtos: 

•        O real se valorizou; 

•        Importar ficou mais barato do que produzir internamente; 

•        A indústria brasileira perdeu competitividade; 

•        Empresas passaram a importar insumos e produtos finais em vez de produzi-los aqui;   

•        Empresas passaram a importar insumos e produtos finais em vez de produzi-los aqui;   

•        Empresas passaram a importar insumos e produtos finais em vez de produzi-los aqui;   

•  Muitos setores industriais fecharam, encolheram ou deixaram de crescer. 

Esse processo gerou um deslocamento de recursos da indústria para o setor primário (agronegócio, mineração), o que reforçou a reprimarização da economia — exportando produtos com pouco valor agregado e importando manufaturados.

4.2.2. A Ascensão Chinesa

A entrada da China na Organização Mundial do Comércio em 2001 representou um desafio sem precedentes para a indústria brasileira, que não conseguiu competir com os baixos preços dos produtos chineses.  

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Este trabalho nos permite entender o quão prejudicial é para um país e para seu povo o processo de desindustrialização que é multifatorial: Baixo nível educacional, abertura comercial abrupta, apreciação cambial, falta de política industrial bem estruturada de médio a longo prazo, pesquisa e desenvolvimento, economia baseada em serviços não sofisticados e commodities. Esses fatores afetam diretamente o trabalhador e a sua qualidade de vida e de seus familiares. Prejudica o poder de compra do indivíduo diminuindo seu consumo de bens duráveis e serviços, além de encarecer o acesso aos manufaturados já que com a perda do tecido industrial é necessário serem esses importados. Diminui a mobilidade social com o aumento de empregos com baixa renda que não requerem conhecimento técnico para seu desenvolvimento ou até mesmo a informalidade que resulta na precarização ainda maior do trabalho com remunerações ainda menores, forçando o trabalhador a trabalhar, apenas, para comer e pagar contas. Esse cenário que nos leva a diminuição da oferta gerando mais desemprego, logo, menos consumo e assim por diante, um ciclo vicioso, que deteriora a economia do país.

Além disso, a perda de protagonismo da indústria na composição do PIB brasileiro compromete a inserção internacional do Brasil em cadeias de valor mais complexas. A concentração das exportações em commodities torna o país vulnerável às oscilações dos preços internacionais e à desaceleração da demanda global, principalmente da China, maior parceira comercial do Brasil. Isso fragiliza a balança comercial e exige maior dependência de importações de produtos manufaturados, gerando déficits em setores intensivos em tecnologia.

Do ponto de vista estrutural, a ausência de uma política industrial coordenada e contínua aprofundou o desalinhamento das cadeias produtivas, com impactos negativos no emprego formal e na inovação. O enfraquecimento do setor industrial limita as possibilidades de geração de empregos mais qualificados e com melhores salários, restringindo as oportunidades de formação técnica e ascensão profissional.

Por fim, os dados analisados evidenciam que a desindustrialização precoce, ao ocorrer antes da consolidação de uma base industrial robusta, coloca obstáculos ao desenvolvimento sustentável do país. A reversão desse quadro exige um reposicionamento estratégico do Estado, com foco em políticas industriais modernas, incentivo à inovação, reforma tributária, educação técnica de qualidade e integração produtiva regional. Apenas por meio desse conjunto de medidas será possível interromper o ciclo de empobrecimento produtivo e recolocar o Brasil em uma trajetória de crescimento com geração de valor, emprego e redução das desigualdades.

6. CONCLUSÃO

A análise da desindustrialização no Brasil revela um fenômeno complexo, com raízes estruturais e conjunturais que estão correlacionadas ao longo das últimas décadas. Longe de se tratar de um processo natural ou exclusivamente vinculado ao avanço tecnológico, a desindustrialização brasileira apresenta características prematuras, com impactos sobre o trabalho, a produtividade e a balança comercial.

A desestruturação da indústria nacional, evidenciado pela baixa participação no PIB e exportações, tem resultado em uma maior vulnerabilidade externa e na deterioração da qualidade do mercado de trabalho. A substituição de empregos industriais por ocupações no setor de serviços, muitas vezes informais e de baixa remuneração, compromete o desenvolvimento sustentável e inclusivo do país.

Ademais, a deterioração da balança comercial, especialmente no que se refere ao déficit crescente em produtos manufaturados, reforça a urgência de políticas públicas que priorizem a reindustrialização com base em inovação, capacitação tecnológica e fortalecimento do mercado interno. O Brasil necessita de um novo projeto nacional de desenvolvimento que reconheça o papel estratégico da indústria como vetor de crescimento, geração de empregos qualificados e diversificação da economia.

Portanto, reverter os efeitos da desindustrialização requer um esforço coordenado entre governo, setor produtivo e sociedade civil, com foco em uma política industrial ativa, investimentos em infraestrutura, educação técnica e científica, e mecanismos eficazes de defesa comercial. Somente assim será possível reconstruir as bases de uma economia mais robusta, autônoma e socialmente justa.

REFERÊNCIAS

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GALA, Paulo. Brasil, uma economia que não aprende. 1. ed. São Paulo: Editora XYZ, 2017.

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TAVARES, M. C. Da substituição de importações ao capitalismo financeiro: ensaio sobre a economia brasileira. Revista Ensaios Econômicos, n. 1, p. 1-32, 1972.

VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval de; GARCIA, Manuel Enriquez.Macroeconomia: teoria e política. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2014.


1 (Fatec Zona Leste) Joao.santos394@fatec.sp.gov.br
2 (Fatec Zona Leste) Marcio.silva158@fatec.sp.gov.br
3 Julio.bevilaqua@fatec.sp.gov.br