A DEFICIÊNCIA INTELECTUAL E O BRINCAR NO DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM DAS CRIANÇAS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10.5281/zenodo.10372666


Luila Tássia Silva Miranda


RESUMO:

O presente artigo apresenta a importância das atividades lúdicas no procedimento de aprendizagem da criança com deficiência intelectual, bem como contribuir para o desenvolvimento não só no aspecto cognitivo da criança, mas também no seu desenvolvimento social, motor e afetivo. A metodologia adotada foi a pesquisa exploratória e bibliográfica. O tema que se trata o estudo é sobre o lúdico como desenvolvimento da aprendizagem em crianças com deficiência intelectual. O objetivo geral da pesquisa foi apontar a importância de se trabalhar o lúdico no desenvolvimento da aprendizagem nas crianças com deficiência intelectual nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Mais especificamente o estudo buscou descrever a importância do lúdico como forma de desenvolver a criança com deficiência intelectual no processo ensino aprendizagem.

Palavras-chaves: Jogos e Brincadeiras. Educador. Inclusão. Deficiência Intelectual.

ABSTRACT:

This article presents the importance of playful activities in the learning process of children with intellectual disabilities, as well as contributing to the development not only in the child’s cognitive aspect, but also in their social, motor and affective development. The methodology adopted was exploratory and bibliographical research. The theme of the study is about play as the development of learning in children with intellectual disabilities. The general objective of the research was to highlight the importance of working on play in the development of learning in children with intellectual disabilities in the Early Years of Elementary School. More specifically, the study sought to: describe the importance of play as a way of developing children with intellectual disabilities in the teaching-learning process.

Keywords: Games and Play. Educator. Inclusion. Intellectual Disability.

Introdução

Ao longo da história a criança com deficiência intelectual sofreu com o preconceito existente, e com a exclusão de qualquer atividade de integração à sociedade. A criança com deficiência intelectual tem a chance de desenvolvimento social, e inclusão como sujeito pertencente e participar das práticas culturais da sociedade. 

O brincar ultrapassa a diversão e o lazer, e se torna essencial para o seu desenvolvimento cognitivo, afetivo e social. Desta forma os jogos e brincadeiras são utilizados na escola como uma importante atividade inserida como um meio pedagógico para auxiliar na construção do processo de desenvolvimento e ensino aprendizagem, pois estimula a socialização, a imaginação e a criatividade. 

Esta forma peculiar de se conduzir o processo de ensino aprendizagem pode ser utilizada pelo professor para auxiliar as crianças com deficiência intelectual.
Sendo a brincadeira e o jogo algo inerente à infância, acredita-se que a pode auxiliar de forma bastante significativa nas aprendizagens das competências e habilidades esperadas nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. 

Para operacionalizar os objetivos propostos para o estudo do tema, segundo recomendam Moreira e Caleffe (2006) a pesquisa se caracterizou como sendo exploratória e bibliográfica. A partir do conceito de Andrade (2001), a pesquisa exploratória tem como objetivos fornecer dados de um determinado tema de pesquisa. De outra forma, segundo Moreira e Caleffe (2006, p. 74) a pesquisa bibliográfica “é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”.

Desenvolvimento

1. Deficiência intelectual e o brincar no desenvolvimento da aprendizagem

Segundo o Documento Subsidiário à Política Nacional de Inclusão: “Deficiência Mental é a incapacidade caracterizada por limitações significativas tanto no funcionamento intelectual quanto no comportamento adaptativo expresso em habilidades conceituais, sociais e práticas” (PAULON, 2007, p.13). Neste caso vários debates foram realizados para alteração do nome, a deficiência mental (DM) passou a ser chamada deficiência intelectual (DI). 

Os processos de inclusão são ainda questionados por muitos, o direito de igualdade de participar de uma educação inclusiva é de todos independente de sua limitação, isso nos reflete a uma sociedade de mudanças que teve várias discussões e também no ambiente escolar. A inclusão social da pessoa com deficiência intelectual deve ser inserida no contexto das lutas pela conquista da cidadania de todos os cidadãos envolvidos. Para D’ Antino (1997, p. 21): 

A inclusão é o resultado de uma longa jornada histórica que vem sendo construída por todos ao longo de milhares de anos de registro histórico da humanidade. É certo que tivemos tempos de integração e até retrocesso, mas a caminhada continua e a perseverança é mãe do tempo.

É necessário para a formação global de qualquer indivíduo que ele participe do convívio com outros. A inclusão de alunos com deficiência intelectual é de real importância para acelerar o desenvolvimento de suas habilidades. É preciso haver democracia para todos indiscriminadamente oferecendo condições de acesso à informação, conhecimento, formação e autonomia.

De acordo com Sassaki (1997) ao referir-se a inclusão nota-se os processos bilaterais citam-se a minorias excluídas da população que procuram ajuda e parceiras para solucionar os problemas pertinentes a todos. Segundo o mesmo autor, a inclusão foi colocada pela Disabled People International (DPI), uma organização não governamental criada por líderes deficientes em sua declaração de Princípios de 1981. A Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994) traz como importante conceito de que as crianças com deficiência intelectual podem desenvolver o processo de aprendizagem de forma simples, visto que, respeitar e valorizar a diversidade pode-se desenvolver uma sociedade inclusiva.

Para compreender melhor os direitos que toda criança tem, o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990) em seu artigo quinto, os direitos constitucionais fundamentais da criança, no artigo 54 confere o direito de atendimento especializado aos portadores de deficiência. Na LDB (BRASIL, 1996) em seu artigo 2º tem por finalidade o pleno desenvolvimento do aluno e acesso e permanência na escola e são características principais para se alcançar definitivamente às igualdades a todos no processo ensino aprendizagem. Neste caso, o Ministério da Educação tem promovido projetos voltados à inclusão das crianças com deficiência intelectual no qual está quebrando barreiras que ainda existem em relação à exclusão destes alunos.

As brincadeiras desenvolvidas com portadores de necessidades educativas especiais devem ser lúdicas e demonstrar aos alunos o prazer pela mesma. Muitos docentes encontram problemas em salas regulares, as quais são solucionadas neste recurso e contribuindo para aprendizagem dos alunos com deficiência. 

Ensinar através do lúdico desenvolve a formação da criança com deficiência intelectual, na concentração, atenção, e interação social. Deste modo a criança com a utilização do brinquedo desenvolve o conhecimento, a forma de relacionar-se com os colegas e na sociedade na qual está inserida.

De acordo com Sahda citada por Kishimoto (2008, p. 25): “Há um aprendizado significativo associado à satisfação e ao êxito”. Assim, a criança com deficiência intelectual vai assimilar de acordo com seu intelecto, sendo que a autoestima da criança auxiliam na aprendizagem, favorecendo a elaboração do conhecimento e desenvolvimento das potencialidades que permite o desenvolvimento global, a partir de valores como respeito, aceitação e admiração.
Segundo Sahda, citada por Kishimoto (2008, p. 96):

O jogo possibilita à criança deficiente mental aprender de acordo com seu ritmo e suas capacidades. Há um aprendizado significativo associado à satisfação e ao êxito, sendo este a origem da autoestima. Quando esta aumenta, a ansiedade diminui, permitindo à criança participar das tarefas de aprendizagem com maior motivação.

O professor poderá dar oportunidades à criança com deficiência intelectual de criar e reinventar o mundo, liberar sua afetividade e suas fantasias, explorar seus próprios limites. Dentro destes pressupostos, a inclusão deve ser colocada em prática, porque é uma realidade, os alunos com deficiência intelectual têm os mesmos direitos e deveres.

Verifica-se que a criança com deficiência intelectual apresenta dificuldades em assimilar conteúdos abstratos, desta forma Mafra (2008, p. 4) afirma:

Fazem-se necessárias a utilização de material pedagógico concreto, e de estratégias metodológicas práticas para que esse aluno desenvolva suas habilidades cognitivas e para facilitar a construção do conhecimento. Os jogos e brincadeiras são estratégias metodológicas que apresentam as duas características acima citadas. Proporcionam a aprendizagem através de materiais concretos e de atividades práticas, onde a criança cria, reflete, analisa e interage com seus colegas e com o professor.

Conforme Ferreira (1993, p.69), “[…] as mudanças necessárias na educação não se darão em função do deficiente, mas além dele”.

Uma das principais atividades da criança durante a infância são os jogos e brincadeiras e com a criança deficiente intelectual não é diferente. Mesmo apresentando atrasos em seu desenvolvimento cognitivo e motor, também precisa de atividades lúdicas no seu dia a dia. Segundo Mafra (2008, p. 15) “talvez até mais do que as outras crianças, por necessitar de muito mais estímulos para desenvolver suas habilidades cognitivas, motoras e sensoriais”. Segundo a mesma autora (2008, p. 15) os jogos e brincadeiras para as crianças com deficiência intelectual “constituem atividades primárias que trazem grandes benefícios do ponto de vista físico, intelectual e social”. 

De acordo com Vygotsky citado por Mafra (2008, p. 15): A arte de brincar pode ajudar a criança com necessidades educativas especiais a desenvolver-se, a comunicar-se com os que a cercam e consigo mesma. Através dos jogos e brincadeiras a criança com deficiência intelectual pode desenvolver a imaginação, a confiança, a autoestima, [sic] o autocontrole [sic] e a cooperação. Os jogos e brincadeiras proporcionam o aprender fazendo, o desenvolvimento da linguagem, o senso de companheirismo e a criatividade.

Deve-se ter claro que a ludicidade não significa apenas um divertimento, ou a brincadeira pela brincadeira, mas algo que deve ser meticulosamente preparado pelo professor, assim como afirmou Piaget citado por Almeida (1974, p. 25) “os jogos não são apenas uma forma de desafogo ou entretenimento para gastar a energia das crianças, mas meios que enriquecem o desenvolvimento intelectual”. 

Os portadores de necessidades educativas especiais são muito criativos, e os alunos esperam algo diferente e prazeroso quando são estimulados, e é através do lúdico que devemos dar esse estímulo ao aluno, principalmente se está na fase de fantasiar e brincar, então nos resta criar um mundo fantástico de brincadeira e diversão importantes ao mesmo tempo. 

2. Importância dos jogos no processo de aprendizagem

Tanto o jogo, a brincadeira, como o brinquedo, além de fazerem parte da cultura popular, propicia o desenvolvimento da criança. Através dos jogos é possível exercitar os processos mentais e o desenvolvimento da linguagem e hábitos sociais.
Na concepção de Piaget (1978), o desenvolvimento do conhecimento é um processo espontâneo, ligado ao desenvolvimento do corpo, do sistema nervoso e das funções mentais. Já a aprendizagem situa-se ao lado oposto do desenvolvimento, geralmente é provocada por situações criadas pelo educador, pois o mesmo deverá planejar sua práxis pedagógica, organizando suas ações, estar sempre atento às brincadeiras, interagindo e oferecendo novos elementos no contexto, pois a deficiência intelectual é um enorme desafio para a educação, pela própria complexidade que a envolve.

O jogo é um recurso pedagógico indispensável, porém, o professor inclusivo deve adotar uma metodologia não convencional com recursos alternativos e inovadores.
De acordo com Vygotsky (1998), a arte de brincar pode ajudar a criança com necessidades educativas especiais a desenvolver-se, a comunicar-se com os que a cercam e consigo mesma, pois o aprendizado é uma ação humana inerente a cada indivíduo e, se aprender é uma ação individual, pelo contrário, ensinar é um ato coletivo, no qual se espera que o professor disponibilize a todos os alunos sem exceção um mesmo conhecimento.

Desta forma, é importante salientar o ensino envolvendo jogos, principalmente quando falamos de alunos com deficiência intelectual.

O brincar desperta a imaginação, abrindo novas possibilidades de aprendizagem, pois, neste estágio, a criança tem liberdade de criar, imaginar e é por meio da ludicidade que a criança exterioriza seus anseios e imita o mundo dos adultos. Ao fazer de conta, ela desenvolve a imaginação, idealizando um mundo real ao criar situações. 

Os jogos e as brincadeiras são estratégias metodológicas que proporcionam uma aprendizagem concreta por meio de atividades práticas.

3. O lúdico como recurso pedagógico no desenvolvimento da criança com deficiência intelectual

Considerando que o educando com deficiência intelectual apresenta problemas em assimilar conteúdos, faz-se essencial o uso de material pedagógico com temas concretos e de táticas metodológicas práticas, para que esse estudante aumente sua capacidade cognitiva, promovendo a construção do conhecimento.

Mafra (2008, p. 15) afirma que quando é utilizado o jogo como recurso didático, ele contribui aumentando a aprendizagem da criança com deficiência intelectual, pois “através desse recurso, ela poderá vivenciar corporalmente as situações de ensino-aprendizagem, exercendo sua criatividade e expressividade, interagindo com outras crianças, exercendo a cooperação e aprendendo em grupo”. 
Segundo Ide (2008, p.30) ao referir-se ao jogo para deficientes afirma que:
O jogo possibilita à criança deficiente mental aprender de acordo com seu ritmo e suas capacidades. Há um aprendizado significativo associado à satisfação e ao êxito, sendo este a origem da autoestima [sic]. Quando esta aumenta, a ansiedade diminui, permitindo à criança participar das tarefas de aprendizagem com maior motivação. O uso do jogo também possibilita melhor interação da criança deficiente mental com os seus coetâneos normais e com o mediador.

A criança com deficiência tem suas dificuldades e suas potencialidades. O jogo é um recurso que favorece um tratamento para que se trabalhem esses níveis de dificuldades, de forma lúdica, prazerosa. Todo esse processo irá contribuir para o desenvolvimento do seu potencial, mas somente se houver estimulação adequada.
De acordo com Ide, citado por Mafra (2008, p. 17) ao referir-se a criança deficiente mental esclarece que:

A possibilidade de exploração e de manipulação que o jogo oferece, colocando a criança deficiente mental em contato com as normais, com adultos, com objetos e com o meio ambiente, propiciando o estabelecimento de relações e contribuindo para a construção da personalidade e do desenvolvimento cognitivo, torna a atividade lúdica imprescindível na sua educação. 

Assim é necessário que os envolvidos na educação de uma criança com deficiência intelectual tenham consciência de que essa criança é um todo integrado e necessita de um amplo desenvolvimento, sendo condição básica para o êxito com a utilização de diversos brinquedos e brincadeiras. O professor que possui essa postura metodológica pautada no lúdico deverá “organizar o seu trabalho de forma a estimular ao máximo o desenvolvimento das habilidades do seu aluno, estando sempre ao seu lado, participando, mediando e orientando-o nas atividades realizadas com o brinquedo”. (MAFRA, 2008, p. 17). 

Conclusão

A partir da revisão bibliográfica realizada, constatamos a importância dos jogos pedagógicos no atendimento aos alunos com deficiência intelectual, pois é possível adaptar o meio às necessidades especiais do deficiente intelectual, respeitando suas capacidades e ajudando no processo ensino aprendizagem, pois proporcionam inúmeras possibilidades de desenvolvimento da prática pedagógica. 
É importante ressaltar que os jogos são instrumentos de desenvolvimento das crianças, podem proporcionar desenvolvimento físico, intelectual, social, ético e afetivo. Seu principal aspecto é a motivação.

A participação de jogos em grupos com um objetivo comum a todos é a melhor maneira de fazer com que as crianças com deficiência intelectual interajam totalmente na inclusão.

Através do artigo, constatamos também que o professor deve estar consciente de que os jogos pedagógicos devem ser desenvolvidos como provocação a uma aprendizagem significativa e estímulo à construção de um novo conhecimento com o desenvolvimento de novas habilidades, pois com os mesmos há motivação, disciplina e interesse pelo que está sendo ensinado.
Assim consideramos o lúdico como um aliado a ser utilizado amplamente para atuar no desenvolvimento e na aprendizagem da criança com deficiência intelectual, respeitando suas diferenças.

REFERÊNCIAS 

ALMEIDA,  Paulo  Nunes  de.  Educação Lúdica:  técnicas  e  jogos  pedagógicos. 9. ed.  São Paulo: Edições Loyola,  1974.

ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à metodologia do trabalho científico: Elaboração de trabalhos na graduação. 5. Ed. São Paulo: Atlas, 2001.

D’ ANTINO, Rosita E. Removendo barreiras para a aprendizagem: educação inclusiva. Porto Alegre: Mediação, 1997.

FERREIRA, Júlio Romero. A exclusão da diferença: a educação do portador de deficiência. Piracicaba: UNIMEP, 1993.

IDE, Sahda Marta. O jogo e o fracasso escolar. In: KISHIMOTO, Tisuko M. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez, 2008. p. 89-107.

MAFRA, Sônia Regina Corrêa. O Lúdico e o Desenvolvimento da Criança Deficiente Intelectual, 2008. Disponível em Acessado em 25 jun.2014.

MOREIRA, Herivelto; CALEFFE, Luis Gonzaga. Metodologia da pesquisa para o professor. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.

PAULON, Simone Mainiere. Documento Subsidiário à politica de inclusão / Simone Mainiere Paulon, Lia Beatriz de Lucca Freitas, Gerson Smiech Pinho. – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2º ed., 2007.

SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão. Construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997.

UNESCO. Declaração de Salamanca e linha de ação sobre necessidades educativas especiais. Brasília: ACORDE, 1994.