A DANÇA COMO MÉTODO DE REABILITAÇÃO EM PACIENTES COM DOENÇA DE PARKINSON: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

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O Registro DOI deste artigo é: 10/hp22
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Leticia de Pinho Paiva

Autores:
Leticia de Pinho Paiva¹;
Daiane Tokuta Figueiredo¹;
Josienne Santos da Silva¹;
Penielly Martins de Souza Santos¹;
Diuly Queiroz Rocha¹;
Wesley Carvalho cunha Júnior¹;
Denilson da Silva Veras².

1Acadêmico(a) Finalista do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário de Manaus – FAMETRO
2Fisioterapeuta Mestre; Docente do Centro Universitário de Manaus – FAMETRO


RESUMO

Introdução: A Doença de Parkinson é uma doença crônica, neurodegenerativa, que se dá devido morte de neurônios dopaminérgicos na substância negra. Pacientes com DP apresentam sintomas motores e não motores como rigidez, tremor, bradicinesia alterações na marcha e no equilíbrio, deficiências cognitivas e emocionais, que afetam a qualidade de vida desses indivíduos. A dança surge como uma proposta de intervenção no tratamento da DP, visto que tem uma maior taxa de aceitação do que os exercícios convencionais. Objetivo: Analisar os benefícios proporcionados pela dança em pacientes acometidos com Parkinson. Métodos: Foi realizada uma revisão integrativa da literatura utilizando as bases de dados, PUBMED, PEDro, LILACS e SCIELO relativo aos anos de 2011 a 2021, utilizando os seguintes descritores: Parkinson’s disease, Parkinson*, dance, therapy. Resultados e Discussão: A dança como método de reabilitação se mostrou eficaz nos sintomas da DP. Conclusão: foi possível observar que a dança promove uma melhora significativa nos sintomas motores e não motores da DP; como equilíbrio, marcha, mobilidade funcional, resistência, atuando também na função cognitiva e qualidade de vida.

Palavras- chaves: Parkinson’s disease, Parkinson*, dance, therapy.

ABSTRACT

Introduction: Parkinson’s disease is a chronic, neurodegenerative illness that occurs due to the death of dopaminergic neurons in the substantia nigra. Patients with PD have motor and non-motor symptoms such as rigidity, tremor, bradyknesia, changes in gait and balance, cognitive and emotional deficiencies which affect the quality of life of these individuals. Dance emerges as an intervention proposal in PD treatment since it has a higher acceptance rate than convencional procedures. Objective: To analyze the benefits provided by dancing in patients with Parkinson\’s. Methods: An integrative literature review was carried out using the PUBMED, PEDro, LILACS and SCIELO databases for the years 2011 to 2021, using the following descriptors: Parkinson\’s disease, Parkinson*, dance, therapy. Results and Discussion: Dance as a rehabilitation method proved to be effective in PD symptoms. Conclusion: It was possible to observe that dancing promotes a significant improvement in motor and non-motor symptoms of PD; such as balance, gait, functional mobility, endurance, also acting on cognitive function and quality of life.

Keywords: Parkinson’s disease, Parkinson*, dance, therapy.

INTRODUÇÃO

A doença de Parkinson (DP) é uma disfunção neurodegenerativa progressiva descrita primeiramente, por James Parkinson em 1817; Foi denominada “a paralisia do tremor”. (PORTER, 2005). Segundo Santana et al., (2015) a DP é mais predominante nos homens que nas mulheres, podendo surgir na faixa de 50 a 70 anos de idade. Almeida e Hamdan (2019), afirmam que há alterações nos neurotransmissores que levam a morte de neurônios dopaminérgicos na substância negra.

Para Rotondo et al., (2020) mesmo com pesquisas, as causas de DP não foram identificadas, mas há vários mecanismos colocados como causadores de danos nos grupos de neurônios da substância negra sendo uma delas a predisposição genética com fatores ambientais associados.

Manifestações não motoras como distúrbios do sistema nervoso autonômico, distúrbios do sono, depressão e perturbações cognitivas e neuropsiquiátricas podem preceder sintomas motores ou aparecem ao longo do curso da doença. (SOUSA E MACEDO, 2019). Conforme Barbosa e Fichman (2019), os danos cognitivos em pacientes com doença de Parkinson que agravam de maneira progressiva, podem resultar em demência em estágios avançados. Hindle et al., (2016) aponta o perfil neuropsicológico da DP com déficits nas funções executivas, habilidade visuoespaciais e memória. Sendo assim, Almeida e Hamdan (2019), afirmam que é uma doença capaz de debilitar pacientes de acordo com os sintomas demonstrados na escala de Hoehn e Yahr. 

De acordo com Tonial et al., (2019) a condição motora é caracterizada principalmente por quatro sinais cardinais que são rigidez muscular, bradicinesia, tremor de repouso e instabilidade postural. Ferraz (2005) define a bradicinesia como movimentos lentos, caracterizando em uma dificuldade de sustentação de movimentos repetitivos atos motores simultâneos, com um lado sendo mais acometido na DP. O tremor é o sintoma motor mais aparente na disfunção de DP. Normalmente de baixa frequência e rítmico, uma oscilação em repouso que desaparece de forma transitória quando o paciente realiza um movimento. (JANKOVIC e TOLOSA, 2015). Factor e Weiner (2007) caracterizam a rigidez como uma maior resistência ao estiramento passivo onde essa resistência é parecida nos músculos agonista e antagonista e constante em toda série de movimento da articulação a ser testada.

O’Sullivan e Schmitz (2010) apontam que pacientes com DP apresentam anormalidade postural e equilíbrio, sendo essas mais observadas com o progresso da doença podendo ser acompanhadas de oscilação corporal. Essas alterações são mais difíceis de ocorrer nos estágios iniciais.

De acordo com Santana et al., (2015) A progressão da doença é caracterizada pelo comprometimento da condição física e diminuição da independência funcional. Com o agravamento dos sintomas, a qualidade de vida (QV) poderá ser afetada.

Vianna (2005) define a dança como mover-se com ritmo, melodia e harmonia. E que através do movimento, a natureza e o homem se manifestam. Sharp e Hewitt (2014) afirmam que oferecer intervenções eficazes que promovam a participação de forma agradável, sendo uma delas a dança, tendo em vista que é uma atividade multidimensional, beneficiam afetados com DP desde sedentários aos mais ativos.

A adesão ao exercício é um desafio e existem muitas barreiras percebidas para se exercitar em adultos mais velhos, especialmente pessoas com DP. (MCNELLY, DUCAN E EARHART, 2015). Destarte, o presente estudo teve como objetivo analisar os benefícios proporcionados pela dança quando utilizada no tratamento de pacientes com Doença de Parkinson.

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, utilizando artigos científicos em português e inglês, publicados entre os anos de 2011 a 2021. Foram pesquisadas as bases de dados PUBMED, PEDro (Physiotherapy Evidence Database), SCIELO (Scientific Eletronic Library Online) e LILACS (Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde), no período de agosto a setembro de 2021. Utilizando a combinação dos seguintes descritores: Parkinson’s disease, Parkinson*, dance, therapy, estes descritores poderiam estar no título ou no resumo. Os termos foram combinados entre si através do operador “AND” e “OR”.

A busca dos artigos resultou em: 02 LILACS, 41 PUBMED, 3 PEDro, 01 SciELO. Foram incluídos artigos que abordassem sobre a dança na Doença de Parkinson, e excluídos aqueles que abordavam a dança, mas não aprofundaram a intervenção ou citavam outras patologias, artigos duplicados e incompatíveis após leitura do Título/Abstract. Seguindo os critérios de inclusão e exclusão foram selecionados artigos que contemplaram o desenho metodológico proposto.

Figura 1. Desenho Metodológico

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Duncan e Earhart (2012), realizaram em um ensaio controlado randomizado, um programa de tango comunitário, com duração de 12 meses para pacientes acometidos com DP em estágios avançados e funções físicas comprometidas. 62 participantes foram selecionados e designados de forma aleatória em grupo controle (sem intervenção) e grupo de intervenção, realizando uma sessão duas vezes por semana. Os participantes foram avaliados fora das medicações para Parkinson, no inicio do estudo, 3, 6 e 12 meses, primariamente através da Movement Disorder Society – Unified Parkinson Disease Rating Scale 3 (MDS-UPDRS-3), e secundariamente pela MDS-UPDRS-1, MDS-UPDRS-2, teste de equilíbrio MiniBESTest; Questionário de Congelamento da Marcha (FOG_Q); Teste de caminhada de 6 minutos (TC6); caminhada com variação de velocidade e direção, dupla tarefa e teste de nove buracos (9HPT). Em um contexto geral, houve mudanças significativas no grupo de intervenção na maioria das medidas a favor do grupo de dança, sendo assim o tango se mostrou eficaz na melhora da DP. Carapellotti, Stevenson e Doumas (2020), ressaltam em seu estudo que a dança promove melhorias nas deficiências motoras, especificamente equilíbrio e gravidade em indivíduos com sintomas de leve a moderados.

Hashimoto et al., (2015), efetuaram um ensaio piloto quase randomizado com o objetivo examinar a eficácia da dança nas funções motoras, funções cognitivas e sintomas mentais da doença de Parkinson. Foram selecionados 46 participantes de 6 associações de pacientes com DP, onde foram atribuídos aleatoriamente 3 grupos: dança, exercícios de DP e grupo controle (sem intervenção). Os grupos de dança e exercícios, foram submetidos a uma sessão de 60 minutos por semana durante 12 semanas. Todos foram avaliados antes e depois da intervenção. Como resultado, o grupo submetido a dança mostrou melhora da função motora, cognitiva e dos sintomas mentais, podendo ser considerada um método eficaz de reabilitação para pacientes acometidos com DP.

Romenets et al., (2015), efetivaram um ensaio de controle randomizado envolvendo quarenta pacientes com DP idiopática, para determinar os efeitos do TA nas manifestações motoras e não motoras da DP. Dois grupos randomizados: grupo (N = 18) com 24 aulas de tango em parceria, e grupo de exercício autodirigido controle (N = 15). Não houve diferença na intensidade motora entre os grupos MDS-UPDRS-3. A avaliação clínica do paciente de impressão global de mudança não diferiu, porém, a classificação do examinador melhorou em favor do tango. O Mini-BESTest melhorou no grupo de tango em comparação com os controles e de acordo com os participantes de tango, a atividade foi mais agradável e houve uma satisfação geral com o tratamento. Com base nos resultados os autores concluíram que o tango argentino beneficia no o equilíbrio e a mobilidade funcional, e pode ter sobre a cognição e fadiga na doença de Parkinson. De acordo com Sharp e Hewitt (2014) a dança é favorável em comparação a outras intervenções baseadas em exercícios ou nenhuma intervenção, apresentando melhoras no equilíbrio, funções motoras velocidade da marcha e qualidade de vida.

Shanahan et al., (2015) reuniram 13 estudos com o objetivo de avaliar e sintetizar as literaturas que utilizam da dança como intervenção para pacientes com Parkinson, afim de fornecer informações sobre variantes utilizadas e para fins de estudos futuros. Os benefícios da dança podem abranger diversos aspectos, nesta análise observa-se melhoras significativas nos balanços, déficit motor e resistência dos portadores de Parkinson, ressaltando que benefícios maiores podem ser vistos quando há maior duração da intervenção e seus efeitos variam com as modalidades de dança.

Delabary et al., (2017), realizaram uma revisão sistemática com meta-análise para examinar os efeitos da dança em pacientes com Parkinson quando comparada com outra intervenção ou nenhuma. Neste estudo, incluíram 5 ensaios clínicos randomizados, totalizando 159 pacientes. Observou-se que a terapia através da dança proporciona melhoras significativas demonstradas no UPDRSIII e no TUG, em relação a outros exercícios e também a ausência de intervenção, sendo assim confirmou-se que a dança auxilia na melhora dos parâmetros motores e na mobilidade funcional dos pacientes. Em concordância com os autores Hasan et al., (2021) destaca que há uma melhora nos sintomas da DP, quando a dança é utilizada como método de intervenção, especialmente nos sintomas motores; a dança apresenta benefícios no equilíbrio, mobilidade funcional e cognição.

Kalyani et al., (2019) em um ensaio clinico controlado, buscaram demonstrar se aulas de dança para Parkinson beneficiam na cognição, nos sintomas psicológicos e na Qualidade de Vida (QV) em DP. Para isso, os participantes foram alocados em dois grupos: Grupo de dança (GD n =17) e Grupo Controle (GC n =16), os mesmos tinham DP em estagio inicial, o GD foi submetido a uma aula de 1 hora, duas vezes por semana, por 12 semanas, enquanto o GC, realizou o tratamento convencional. Os resultados comprovaram que as habilidades cognitivas selecionadas (função executiva e memória), sintomas psicológicos (ansiedade e depressão) e QV, tiveram uma evolução considerável com a intervenção. Já Zhang et al., (2019), descobriram que há uma alteração significativa a favor da dança nas funções executivas (capacidade de planejar, coordenar e executar tarefas), entretanto, na função cognitiva global, depressão e apatia, não houve nenhum resultado eficaz.

Tillmann et al., (2020) executaram um ensaio clinico não randomizado, com o objetivo de verificar a influência do samba brasileiro nos sintomas não motores da doença de Parkinson em subtipos da doença: Tremor dominante (TD) ou Instabilidade postural e dificuldade de marcha (PIGD). O estudo foi realizado por meio de dois grupos, Grupo Experimental (n= 23) e Grupo Controle (n= 24), com duração de 12 semanas. Para obter-se resultados, foi aplicado um questionário, composto por instrumentos validados. A comparação entre os grupos mostrou uma melhora nos scores de todos os testes, confirmando que o samba beneficiou o GE, enquanto o GC apresentou uma queda desses valores. Quando comparado aos subtipos da doença, houve uma maior mudança no grupo com TD, concluindo que a intervenção pode trazer efeitos positivos sobre os sintomas não motores da doença.

Foster et al., (2013), em um ensaio clinico randomizado, para determinar os efeitos de um programa de dança na participação de atividades, na modalidade de tango, com duração de 12 meses entre os indivíduos com Parkinson em uma comunidade. De forma voluntária foram incluídos 52 participantes, designados aleatoriamente para um grupo controle (sem intervenção) e grupo de tango, totalizando 26 por grupo. Os resultados foram medidos através do cartão de atividades a participação em atuais, nova e removidas. O grupo de tango relatou maior envolvimento em atividades diárias, em atividades perdidas pela doença e o ingresso em novas atividades. Sendo assim, demonstrou-se que a dança promove a participação e consequentemente a qualidade de vida dessa população. Para Lötzke, Ostermann e Büssing (2015) a intervenção através da dança trouxe resultados satisfatórios em sintomas da DP, como na gravidade motora, equilíbrio e marcha, porém, observa-se efeitos positivos também quanto à fadiga e qualidade de vida, pois há uma maior participação social dos mesmos.

Tabela 2. Efeitos da dança na Doença de Parkinson

AnoAutorTipo de estudoResultados
2012Duncan e EarhartEnsaio controlado randomizadoNo estilo de dança TA, os estudos demonstram uma redução da gravidade da doença, assim como efeitos significativos na marcha, equilíbrio e extremidades superiores.
2013Foster et alEnsaio clinico randomizadoAtravés da dança (TA) houve um aumento na participação em atividades diárias e novas, recuperação das atividades perdidas, consequentemente uma maior qualidade de vida.
2015Hashimoto et al.Ensaio piloto quase randomizado
A dança se mostrou benéfica e abrangente nas funções do corpo como motoras, cognitivas e sintomas mentais, sendo essas melhorias observadas na marcha, equilíbrio, imaginação motora, depressão e apatia.
2015Romenets et al.Teste controlado e aletórioObservou-se que o tango argentino tem efeitos positivos sobre o equilíbrio e a mobilidade funcional, podendo também ser benéfico na cognição e fadiga na DP.
2015Shanahan et alMeta- análiseOs benefícios da dança podem ser multidimensionais, nesta análise as evidências avaliadas sugerem que duas aulas de dança de 1 hora por semana durante 10 a 13 semanas podem ter efeitos benéficos na resistência motora e equilíbrio.
2017Delabary et al.Revisão sistemática com meta-análiseA terapia da dança beneficia na melhora dos parâmetros motores e na mobilidade dos portadores de Parkinson.
2019Kalyani et alEnsaio clinico controladoIdentificou-se um grande impacto na qualidade de vida, na cognição e sintomas psicológicos utilizando a dança como terapia.
2020Tillmann et al.Ensaio clínico não randomizadoMelhoras no comportamento cognitivo foram observadas, pois a dança aumenta a atividade cerebral.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, é possível observar que a dança proporciona uma melhora nos sintomas motores e não motores da DP, como equilíbrio, mobilidade funcional, marcha, resistência, atuando também na função cognitiva e qualidade de vida. Sendo assim, pode-se considerar a dança como uma boa proposta de implementação no tratamento desta patologia.

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