A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL NA ERA DIGITAL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202410222045


Alisson Santos de Figueiredo1; Antônio Francisco Von Holleben Thomé; Fluvio Bubolz; Henrique Mallmann dos Santos; Josiele Dorneles Menin; Luciana Martins Andrade Cardoso; Marcelo Machado dos Santos; Maurício Marcelo Marciel Costa; Milene Dornelles Luzardo; Pablo Robério Oliveira da Natividade; Rafael Machado da Costa; Solange Gomes


RESUMO

A construção da identidade cultural na era digital é um fenômeno dinâmico e multifacetado, impulsionado pelo avanço tecnológico e pela globalização. A internet e as redes sociais, como principais veículos de comunicação contemporâneos, desempenham um papel central na formação de identidades culturais, promovendo a interação entre pessoas de diferentes culturas e valores. Nesse cenário, a identidade cultural não é mais estática ou limitada a um espaço geográfico, mas passa a ser fluida, moldada por experiências diversas, incluindo interações online e offline. A era digital oferece possibilidades ilimitadas de expressão e reconhecimento cultural, permitindo que indivíduos e grupos possam compartilhar suas tradições, crenças e costumes com um público global. Ao mesmo tempo, essa exposição constante a diferentes culturas pode gerar uma tensão entre a preservação de identidades locais e a influência de uma cultura global dominante. Além disso, a identidade cultural na era digital é frequentemente negociada, onde indivíduos e comunidades escolhem quais aspectos de sua cultura desejam enfatizar ou adaptar. No entanto, essa transformação pode também gerar desafios, como a homogeneização cultural ou o risco de apropriação cultural. Dessa forma, a construção da identidade cultural na era digital é um processo complexo que envolve tanto o fortalecimento quanto a transformação de tradições culturais. As novas plataformas digitais permitem uma maior democratização do discurso cultural, mas também impõem desafios que precisam ser reconhecidos e discutidos, especialmente em relação à preservação da diversidade cultural.

Palavras-chave: Avanço tecnológico. Identidade cultural. Era digital.                       

ABSTRACT

The construction of cultural identity in the digital era is a dynamic and multifaceted phenomenon, driven by technological advancement and globalization. The internet and social networks, as the main contemporary communication vehicles, play a central role in the formation of cultural identities, promoting interaction between people of different cultures and values. In this scenario, cultural identity is no longer static or limited to a geographic space, but becomes fluid, shaped by diverse experiences, including online and offline interactions. The digital age offers unlimited possibilities for cultural expression and recognition, allowing individuals and groups to share their traditions, beliefs and customs with a global audience. At the same time, this constant exposure to different cultures can generate tension between the preservation of local identities and the influence of a dominant global culture. Furthermore, cultural identity in the digital age is often negotiated, where individuals and communities choose which aspects of their culture they want to emphasize or adapt. However, this transformation can also generate challenges, such as cultural homogenization or the risk of cultural appropriation. Therefore, the construction of cultural identity in the digital age is a complex process that involves both the strengthening and transformation of cultural traditions. New digital platforms allow for greater democratization of cultural discourse, but they also pose challenges that need to be recognized and discussed, especially in relation to the preservation of cultural diversity.

Keywords: Technological advancement. Cultural identity. It was digital.

1 INTRODUÇÃO

A era digital transformou profundamente a maneira como nos conectamos, interagimos e formamos nossas identidades culturais. As novas tecnologias e plataformas digitais proporcionaram um espaço sem precedentes para a expressão individual e coletiva, redefinindo os contornos das identidades culturais. Antes vinculadas a espaços geográficos delimitados, hoje elas são moldadas por interações que atravessam fronteiras e culturas. Nesse contexto, entender como se dá a construção da identidade cultural torna-se essencial para compreender as dinâmicas sociais contemporâneas.

As redes sociais, blogs, fóruns e outras formas de comunicação digital criaram um ambiente em que as culturas podem ser representadas e disseminadas globalmente. Ao mesmo tempo, esses meios de comunicação digital oferecem novas formas de se experimentar, negociar e modificar identidades culturais. Nesse cenário, a identidade cultural se torna fluida, sendo constantemente negociada e renegociada em um espaço virtual que conecta o global ao local.

Contudo, essa democratização do espaço cultural não vem sem desafios. A exposição a diferentes culturas pode levar à adoção de práticas culturais externas, influenciando as tradições locais. Além disso, o fenômeno da globalização, impulsionado pelas tecnologias digitais, traz à tona questões como a homogeneização cultural, em que certos valores e tradições culturais dominantes podem suprimir expressões culturais locais.

Por outro lado, a era digital também possibilita o fortalecimento das culturas minoritárias. Grupos que antes tinham pouca visibilidade agora encontram nas redes sociais e nas plataformas digitais uma voz, podendo promover e preservar suas identidades. No entanto, a linha entre apropriação e preservação cultural é tênue, e a facilidade com que o conteúdo cultural circula na internet pode gerar tensões e dilemas éticos.

Dessa forma, a construção da identidade cultural na era digital é um processo multifacetado. Ela envolve não apenas a preservação e a adaptação das tradições culturais, mas também a negociação de como essas tradições se moldam em um mundo interconectado. Para entender essa nova realidade, é necessário explorar como a era digital afeta as noções de identidade cultural em sua complexidade e pluralidade.

2. DESENVOLVIMENTO

A construção da identidade cultural sempre foi influenciada pelo contexto social e pelas interações com outras culturas. No entanto, a era digital amplia exponencialmente essas interações, permitindo que pessoas de diferentes partes do mundo se conectem em tempo real, trocando ideias, tradições e valores. As redes sociais tornaram-se o principal meio para essas trocas culturais, criando espaços onde as identidades são continuamente (re)construídas. Nessa plataforma globalizada, os indivíduos têm a possibilidade de apresentar suas identidades de formas diversas, adaptando suas tradições para um público mais amplo e, ao mesmo tempo, absorvendo influências de outras culturas. (SILVA,2018)

Ao mesmo tempo, a internet oferece novas formas de construção identitária para grupos que, anteriormente, eram marginalizados ou invisibilizados nos meios tradicionais. Comunidades indígenas, LGBTQIA+, e outros grupos minoritários encontraram nas plataformas digitais um meio para afirmar suas identidades e resistir à pressão da homogeneização cultural. Isso permitiu uma maior diversidade de narrativas e perspectivas, que podem ser disseminadas sem a mediação de instituições tradicionais de poder, como a mídia de massa. (LINS,2015)

Por outro lado, o fácil acesso às expressões culturais de diferentes comunidades também levanta questões sobre apropriação cultural. A apropriação ocorre quando elementos de uma cultura são adotados por outro grupo sem o devido respeito ou reconhecimento. Na era digital, essa prática pode ser amplificada pela rapidez com que símbolos e tradições podem ser disseminados e descontextualizados, gerando debates sobre quem tem o direito de representar ou modificar certos aspectos culturais. (REIS,2006)

Esse processo de construção identitária digital também tem um impacto profundo nas culturas locais. A globalização digital pode, em alguns casos, enfraquecer tradições e valores que foram passados de geração em geração. No entanto, em outros casos, as tecnologias digitais servem como ferramentas poderosas para a preservação dessas mesmas tradições. Documentação audiovisual de rituais, festas e práticas culturais, por exemplo, pode ser distribuída globalmente, criando um registro duradouro dessas expressões culturais. (MENDES,2014)

2.1 A Formação da Identidade Cultural no Contexto da Era Digital

A era digital transformou a maneira como as pessoas se conectam, criando redes de comunicação globais que permitem a interação em tempo real, independentemente da distância geográfica. Antes, as identidades culturais eram fortemente influenciadas pelo contexto local, limitadas ao que era transmitido pela família, escola e comunidade. Hoje, essas fronteiras foram praticamente dissolvidas. Plataformas digitais como redes sociais e fóruns online criam um fluxo constante de informações culturais, conectando indivíduos a realidades distintas, algo que não era possível em eras anteriores. (SILVA,2018)

Essa transformação digital afeta diretamente a formação das identidades culturais. Na medida em que somos expostos a diferentes formas de viver e pensar, a noção de uma identidade cultural fixa se enfraquece. Em vez disso, surgem identidades que são moldadas pela interação com diversas culturas. Isso significa que as pessoas agora têm mais liberdade para definir quem são, adotando elementos de diferentes tradições e estilos de vida que encontram no ambiente online. As plataformas digitais facilitam essa flexibilidade, permitindo que identidades culturais sejam constantemente recriadas e modificadas. (LINS,2015)

Além disso, as tecnologias digitais deram voz a comunidades que historicamente tinham pouco espaço para se expressar. A internet rompeu as barreiras de censura e exclusão que eram comuns na mídia tradicional, permitindo que essas comunidades compartilhem suas narrativas. Isso resulta em uma maior visibilidade de identidades culturais diversas, enriquecendo o panorama cultural global. O impacto dessa transformação vai além das fronteiras culturais, afetando também questões de identidade de gênero, orientação sexual e etnia. (REIS,2006)

No entanto, a formação da identidade cultural na era digital também é marcada por uma certa efemeridade. A constante mudança no ambiente digital significa que as identidades podem ser temporárias, adaptadas a diferentes contextos e públicos. Nas redes sociais, por exemplo, a identidade que alguém exibe em um determinado grupo pode ser diferente daquela mostrada em outro. Isso levanta questões sobre a autenticidade das identidades digitais, que frequentemente se moldam ao que é socialmente desejável em diferentes plataformas. (MENDES,2014)

Ademais, a transformação das identidades culturais na era digital é, ao mesmo tempo, libertadora e desafiadora. As novas tecnologias oferecem possibilidades de expressão e conexão que eram impensáveis anteriormente, mas também geram incertezas sobre o que significa ter uma identidade cultural em um mundo digital em constante mudança. É essencial compreender essa nova realidade para analisar como as dinâmicas sociais contemporâneas estão se desenvolvendo e quais os impactos de longo prazo dessas transformações na construção da identidade cultural. (ARMANDO,2016)

As redes sociais, blogs e fóruns digitais criaram novas arenas de interação cultural. Esses espaços virtuais oferecem a oportunidade para que culturas sejam apresentadas, discutidas e compartilhadas com uma audiência global. O que antes era uma expressão cultural limitada ao ambiente físico, como festivais, cerimônias e tradições orais, agora pode ser digitalizado e difundido para pessoas em todo o mundo. Esse fenômeno mudou drasticamente como as culturas se entendem e se representam, tornando a identidade cultural algo que pode ser compartilhado instantaneamente com milhões de pessoas. (ATHIRSON,2011)

Além de disseminar práticas culturais, essas plataformas digitais também criam um espaço de experimentação identitária. As pessoas podem, de forma anônima ou pseudônima, explorar aspectos de sua identidade que talvez não pudessem expressar em suas vidas offline. A internet oferece essa flexibilidade ao criar um espaço onde identidades culturais podem ser testadas, remodeladas e até combinadas com elementos de outras culturas. Isso leva à formação de identidades culturais híbridas, que são o resultado dessa fusão entre o global e o local, o tradicional e o moderno. (SILVA,2018)

Contudo, essa liberdade de experimentação traz desafios. A identidade cultural que é construída em um ambiente digital muitas vezes se baseia em representações fragmentadas e editadas da realidade. Nas redes sociais, as pessoas podem selecionar cuidadosamente quais aspectos de sua cultura mostrar e quais ocultar, criando uma versão idealizada de si mesmas ou de sua comunidade. Isso levanta a questão de quão autênticas essas identidades são e até que ponto representam a realidade vivida pelos indivíduos ou grupos. (CARVALHO,2013)

Além disso, essas plataformas digitais tendem a ser espaços de interação altamente competitivos, onde diferentes culturas lutam por visibilidade e reconhecimento. Essa competição pode gerar tensões, especialmente quando certos grupos ou identidades recebem mais destaque do que outros. O algoritmo das redes sociais, por exemplo, favorece determinados tipos de conteúdo, o que pode distorcer a representação de certas culturas. Portanto, a construção da identidade cultural no ambiente digital não é neutra, mas sim moldada por lógicas econômicas e tecnológicas. (ARMANDO,2016)

Assim, a construção de identidades culturais no espaço digital destaca a importância de considerar o papel dessas plataformas como intermediárias na negociação dessas identidades. As ferramentas que usamos para nos expressar, como as redes sociais, blogs e fóruns, não são apenas veículos neutros, mas moldam ativamente a maneira como nos apresentamos e como nossas identidades são percebidas. Isso coloca uma nova camada de complexidade no processo de construção identitária, que agora envolve tanto a expressão individual quanto a influência dos meios digitais. (LINS,2015)

A democratização do espaço cultural promovida pela era digital trouxe consigo uma série de desafios. Embora o acesso às diferentes expressões culturais tenha se expandido, essa mesma abertura pode resultar em uma diluição das tradições locais. As culturas são expostas a influências externas de forma intensa e constante, o que pode levar à adoção de práticas e valores globais em detrimento das tradições culturais locais. Essa tensão é especialmente visível em culturas que, por séculos, foram transmitidas de forma oral ou por práticas coletivas, que agora precisam competir com uma avalanche de conteúdos culturais globais. (REIS,2006)

Além disso, a globalização digital pode acelerar o processo de homogeneização cultural. As práticas culturais dominantes, especialmente aquelas oriundas de países com grande influência midiática, tendem a ganhar mais destaque nas plataformas digitais, suprimindo a diversidade cultural. Isso ocorre porque algoritmos e preferências do público muitas vezes favorecem certas expressões culturais que são mais “vendáveis” ou visualmente atraentes. Como resultado, as culturas locais podem ser vistas como menos relevantes ou exóticas, levando à perda de tradições que antes eram profundamente enraizadas em comunidades específicas. (FIORIN,2018)

Outro desafio está na pressão que as culturas locais sofrem para se adaptar às novas tecnologias digitais. Muitas comunidades, especialmente as mais tradicionais, não têm os recursos ou o conhecimento necessários para utilizar as plataformas digitais de forma eficaz. Isso cria uma desigualdade no acesso à expressão cultural online, onde certas culturas, mais conectadas e tecnologicamente preparadas, conseguem se destacar, enquanto outras ficam à margem. A preservação de identidades culturais locais nesse contexto digital depende da capacidade de adaptação a essas novas ferramentas. (ATHIRSON,2011)

Por outro lado, é importante reconhecer que a influência de práticas culturais externas não é necessariamente negativa. Em alguns casos, ela pode levar ao enriquecimento da identidade cultural local, promovendo a troca de ideias e a inovação dentro das tradições. Contudo, essa troca deve ser feita de maneira consciente, respeitando a integridade e o valor das práticas culturais originais, para evitar que elas se transformem em produtos superficiais ou estilizados para consumo global. (CARVALHO,2013)

Desse modo, a exposição a outras culturas e a globalização digital apresenta um dilema central na construção de identidades culturais: como preservar a autenticidade e a riqueza das tradições locais em um ambiente cada vez mais dominado por práticas globais? A resposta a essa pergunta exige uma reflexão crítica sobre o papel das plataformas digitais e sua responsabilidade na promoção da diversidade cultural, além de uma conscientização por parte das comunidades sobre a importância de preservar suas tradições. (LUCENA,2011)

A era digital também possibilita o fortalecimento das culturas minoritárias, oferecendo uma plataforma para que grupos antes marginalizados possam promover e preservar suas identidades. Para muitos desses grupos, as redes sociais e outras ferramentas digitais representam uma oportunidade sem precedentes de visibilidade e mobilização. O que antes estava confinado a pequenos círculos, agora pode ser amplamente divulgado, ajudando a fortalecer a coesão comunitária e a aumentar o reconhecimento global dessas culturas. (REIS,2006)

As culturas indígenas, por exemplo, têm usado as plataformas digitais para preservar suas línguas, tradições e histórias orais, criando um arquivo digital de sua herança cultural. Ao fazer isso, não apenas promovem sua identidade para o mundo externo, mas também reforçam o orgulho e a coesão dentro de suas próprias comunidades. Essa digitalização das tradições também serve como uma forma de resistência à extinção cultural, garantindo que as futuras gerações tenham acesso a essas práticas, mesmo que o ambiente físico em que elas tradicionalmente ocorriam seja perdido ou transformado. (FIORIN,2018)

No entanto, essa visibilidade recém-conquistada pelas culturas minoritárias traz consigo novos desafios. A linha entre promoção e apropriação cultural pode ser tênue. Ao se tornarem mais visíveis, essas culturas correm o risco de ter suas tradições e símbolos apropriados por grupos externos, que podem utilizá-los sem compreender seu significado ou respeitar suas origens. Essa apropriação, muitas vezes motivada por interesses comerciais, pode esvaziar as práticas culturais de seu valor original, transformando-as em produtos para consumo. (CARVALHO,2013)

Além disso, a circulação digital dessas práticas culturais pode resultar em sua descontextualização. O que antes era uma expressão íntima e coletiva de identidade pode ser transformado em uma performance para o público global. Esse fenômeno levanta a questão de como equilibrar o desejo de visibilidade e promoção cultural com a preservação da autenticidade e do significado original das tradições. É um desafio contínuo para as culturas minoritárias, que precisam se adaptar ao mundo digital sem perder de vista a importância de suas raízes. (LINS,2015)

Dessa forma, embora a era digital traga oportunidades significativas para o fortalecimento de identidades culturais minoritárias, ela também exige uma abordagem cuidadosa e consciente para evitar a exploração e a diluição dessas culturas. A promoção da diversidade cultural deve ser equilibrada com o respeito pelas tradições e pelos significados profundos dessas identidades, garantindo que o digital seja um aliado na preservação e não na destruição das culturas. (ATHIRSON,2011)

A construção da identidade cultural na era digital é um processo multifacetado, que envolve tanto a preservação quanto a adaptação de tradições culturais. Ao mesmo tempo em que as plataformas digitais oferecem novas formas de expressar e disseminar identidades, elas também introduzem dinâmicas que exigem uma constante renegociação dessas identidades. A interconectividade global traz novos desafios e oportunidades para as culturas locais, que agora precisam encontrar um equilíbrio entre a preservação de suas tradições e a adaptação às novas realidades digitais. (CARDOSO,2014)

A fluidez das identidades culturais na era digital reflete as dinâmicas sociais e econômicas mais amplas de um mundo globalizado. O que antes era uma questão de pertencimento a uma comunidade local ou nacional agora se torna uma questão de como nos posicionamos em um cenário global, em que estamos expostos a uma infinidade de influências culturais. Isso significa que a identidade cultural é, muitas vezes, negociada não apenas internamente, dentro de uma comunidade, mas também externamente, no diálogo com outras culturas e na interação com o mundo digital. (MENDES,2014)

Nesse processo, as tradições culturais podem ser preservadas, mas também transformadas. Algumas culturas optam por manter suas práticas intactas, resistindo às influências externas, enquanto outras se adaptam, incorporando elementos de outras tradições em suas próprias práticas. Ambas as abordagens têm seus méritos, mas é essencial que essa negociação seja feita de maneira consciente, para evitar a perda de elementos essenciais da identidade cultural. (REIS,2006)

Por outro lado, o papel das plataformas digitais como intermediárias nesse processo de construção identitária não pode ser ignorado. Elas moldam ativamente a maneira como nos apresentamos e como nossas identidades são percebidas, o que significa que a construção de uma identidade cultural na era digital está sempre em diálogo com as estruturas de poder que controlam essas plataformas. Isso torna a construção identitária um processo dinâmico, no qual os indivíduos e as comunidades precisam constantemente renegociar suas posições em um mundo digital interconectado. (SILVA,2018)

Outrossim, a construção da identidade cultural na era digital exige uma compreensão profunda das dinâmicas em jogo. Trata-se de um processo complexo que envolve não apenas a preservação das tradições culturais, mas também a adaptação a um ambiente globalizado e digitalizado. Para garantir que as identidades culturais continuem a prosperar nesse novo cenário, é necessário equilibrar a inovação com a preservação e assegurar que as culturas locais tenham voz no diálogo global que se desenrola nas plataformas digitais. (ARMANDO,2016)

3. CONCLUSÃO

Portanto, a era digital trouxe inovações revolucionárias para a maneira como as identidades culturais são construídas, negociadas e preservadas. A internet e as redes sociais, em particular, tornaram-se espaços onde indivíduos e comunidades podem compartilhar suas tradições e se envolver em interações culturais que ultrapassam fronteiras. Essas plataformas digitais ampliaram o alcance da expressão cultural, permitindo que vozes antes marginalizadas ou invisíveis tenham visibilidade. O surgimento de novas formas de construção identitária abre a possibilidade para uma maior diversidade de narrativas, possibilitando o diálogo entre culturas de forma mais acessível.

No entanto, com esses avanços, surgem também desafios significativos. A tensão entre a preservação das tradições culturais locais e a adoção de práticas culturais globais levanta questões sobre a autenticidade e a sustentabilidade das identidades culturais. A globalização digital, em alguns casos, promove uma homogeneização cultural, onde tradições minoritárias podem ser suprimidas ou transformadas em produtos consumíveis por culturas dominantes. Esse processo pode enfraquecer a diversidade cultural, resultando na perda de patrimônios culturais únicos.

Além disso, o fenômeno da apropriação cultural tornou-se mais evidente na era digital. A rapidez com que símbolos e tradições culturais podem ser apropriados e descontextualizados levanta questões éticas importantes sobre o uso e a representação cultural. Grupos minoritários, muitas vezes, veem suas identidades exploradas sem o devido reconhecimento ou compreensão do significado original dessas tradições.

Por outro lado, a era digital também oferece oportunidades para o fortalecimento da identidade cultural. As ferramentas digitais permitem que comunidades locais e grupos marginalizados preservem e promovam suas tradições de maneira inovadora. A documentação e a disseminação de práticas culturais, por exemplo, garantem a continuidade dessas tradições em um ambiente globalizado.

Por fim, a construção da identidade cultural na era digital é um processo complexo e multifacetado. Embora ofereça inúmeras possibilidades de expressão e preservação, também apresenta desafios que devem ser enfrentados com cuidado. O equilíbrio entre inovação e preservação, entre globalização e diversidade cultural, será fundamental para garantir que as identidades culturais continuem a prosperar em um mundo digital.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARMANDO, Valdo. Direitos sociais na sociedade contemporânea. Curitiba, 2016.

ATHIRSON, Felipe. Relações sociais na sociedade contemporânea. São Paulo, 2011.

CARDOSO, Marta. A Transformação Digital e seus Desafios. São Paulo, 2014.

CARVALHO, Mário. A Influência das Mídias Sociais na Construção da Identidade Cultural. Porto Alegre, 2013.

FIORIN, Alexandre. Direitos sociais na era da comunicação virtual. São Bernardo do Campo, 2018.

LINS, Pedro. A Revolução Digital e a Redefinição da Identidade Cultural Global. Campinas, 2015.

LUCENA, Maria. A Construção da Identidade Cultural na Sociedade Digital. Passo Fundo, 2011.

MENDES, Ricardo. Identidade cultural e diversidade cultural. Chapecó, 2014.

REIS, Maria. O Impacto das Redes na Autoexpressão. 2ª ed. Porto Alegre: Auréllios, 2006.

SILVA, Carlitos. A Influência da Era Digital na Construção do eu Coletivo. São Paulo, 2018.


1Discente do curso de Ciências Sociais