REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8040555
Fernando Rodrigues da Gama1
Ginarajadaça Ferreira dos Santos Oliveira2
Mara Regina Kossoki Félix Rezende2
RESUMO:
Este trabalho objetivou-se analisar teses, artigos e dissertações acerca da hormonioterapia em pacientes transexuais, especificamente, mulheres trans que a utilizam para feminilização e para aceitação social. A metodologia consistiu em identificar na produção científica nacional indicadores específicos sobre evolução da quantidade de publicações sobre tal tema, em particular, os anos que mais houve pesquisas, os periódicos que mais possuem publicações, os tópicos mais abordados, as instituições mais engajadas, os países que mais publicam sobre o tema e os autores com mais publicações, cabe destacar que o período trabalhado foi de 2018 a 2022. Os achados desta pesquisa tendem a identificar lacunas de estudo e incrementar o estado da arte com dados quantitativos a fim de compreender e se atualizar no que diz respeito às inúmeras especificidades do comportamento humano, bem como a transexualidade.
PALAVRAS-CHAVE: saúde, transexual, terapia, hormonal, bibliometria.
ABSTRACT:
This work aimed to analyze theses, articles and dissertations about hormone therapy in transsexual patients, specifically, trans women who use it for feminization and for social acceptance. The methodology consisted in identifying in the national scientific production specific indicators on the evolution of the amount of publications on this theme, in particular, the years that there were more researches, the journals that have more publications, the most covered topics, the most engaged institutions, the countries that publish more on the subject and the authors with more publications, it should be noted that the period worked was from 2018 to 2022. The findings of this research tend to identify study gaps and increment the state of the art with quantitative data in order to understand and update regarding the numerous specificities of human behavior, as well as transsexuality.
KEY WORDS: health, transsexual, therapy, hormone, bibliometric.
INTRODUÇÃO:
No mundo atual as discussões no que cerne minorias sociais vem se intensificando, o que possibilita o confronto e desmistificação de ideologias ultrapassadas, as pessoas transexuais são alvo de grandes debates na literatura internacional, logo que os governos não oferecem subsídios para este público específico. À priori, é necessário entender o conceito de tal identidade de gênero.
Segundo RIBEIRO, (2020) transexuais são pessoas que já fizeram ou ainda estão em processo de redesignação de gênero. Além disso, o teórico acrescenta que tais indivíduos que se identificam com o gênero oposto, por sua vez, abandonam o sexo biológico designado ao nascimento.
O preconceito e o estigma vivenciados pelas pessoas transgêneros são muitas vezes sustentados por concepções históricas, constatando-se assim uma grande dificuldade repetida ao longo dos anos de distinguir gênero de orientação sexual de um indivíduo. Diante do exposto, SILVA et al., (2020), afirma que identidade de gênero é tida como o sexo que a pessoa se identifica e se expressa e que pode ser identificado como transgênero ou cis gênero, o que difere de orientação sexual logo que isto constitui-se na vivência de sexualidade de um indivíduo, por exemplo, no qual pode ser listado como heterossexual, homossexual, bissexual etc.
Ademais, dentre as pessoas transgêneros há as travestis que respectivamente constroem e se reconhecem como mulheres, vale destacar ainda não compete a identidade de gênero, esta foi reconhecida como um dos direitos humanos pela organização das nações unidas que desencadeou toda uma série de documentos que tratam da proteção e da não discriminação desse grupo populacional. Dessa forma (SANTOS; SILVA; FERREIRA, 2019) entram num consenso onde o ambiente de atenção à saúde oferecido a essa população por direito deve ser acolhedora assim como para todos os outros grupos sociais, deve ainda ser entendido como um conjunto de elementos externos aos indivíduos que geram influências tanto sobre eles quanto sobre as pessoas com as quais interagem.
A ausência dessa percepção pode redundar em uma ambiência conflituosa entre os atores envolvidos, na qual minorias como a população LGBT muitas vezes encontram-se ou se percebem em um ambiente desrespeitosos e hostil, no qual lhe são negados direitos básicos como por exemplo, respeito ao nome social.
Segundo SANTOS et al., (2019) a população LGBT encontra-se marginalizada no sistema de saúde, devido ao preconceito e ao estigma que sofrem, que aliados a falta de conhecimento dos prestadores de cuidados de saúde e falta de sensibilidade às suas necessidades acarretam prestação de serviço de má qualidade. Destarte, a atenção aos preceitos éticos no cuidado ao usuário torna-se uma questão importante para os profissionais de saúde que atuam em todos os níveis de atenção. Logo, o enfermeiro deve permear a sua conduta e assistência com vistas às determinações do seu código de ética profissional, NORA et al., (2015) ressalta que a completude de suas ações resulta em um atendimento humanizado, eficaz e de respeito a diferença.
Conforme VASCONCELOS et al., (2020) a sociedade atual define o gênero dos indivíduos baseando-se na sua genitália, fazendo que com estes defrontem de inúmeras dificuldades como por exemplo, acessar um serviço básico como saúde sexual, reprodutiva e respeito ao nome social.
Em suma, denota-se que na área da saúde ainda há grande desrespeito com a população LGBT, visto que mesmo após a implantação da Política Nacional de Saúde LGBT (PORTARIA Nº 2.836, DE 1º DE DEZEMBRO DE 2011), há uma fragilização no atendimento por parte dos profissionais da saúde de pessoas que a identidade de gênero difere do sexo biológico, o qual contribui para a violação dos direitos humanos básicos como, por exemplo, a violação do direito à saúde, por não ter um atendimento humanizado. Diante dessa perspectiva, o objetivo deste estudo é analisar a assistência de enfermagem ao paciente transexual no Brasil.
OBJETIVO GERAL:
Avaliar publicações científicas acerca da assistência de enfermagem prestada ao paciente transexual.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
Analisar a assistência de enfermagem às mulheres transexuais no Brasil; Caracterizar tendências científicas acerca da hormonioterapia em transexuais; Constatar a abordagem de teses, dissertações e artigos referente ao tema; Identificar nos periódicos a maior quantidade de publicações sobre o assunto;
REFERENCIAL TEÓRICO:
O termo identidade de gênero consolidou sua definição em meio ao debate sobre a transexualidade no movimento LGBT no final dos anos 1990 e início dos anos 2000, por um lado travestis e transexuais, e por outro lado gays, lésbicas, pansexuais e afins. Os primeiros começaram a preencher os requisitos de sua identidade sexual, já os segundos, referente à sua orientação sexual. (CARVALHO; CARRARA, 2013)
Nesse sentido, a identidade de gênero é sobre como as pessoas mudam e se veem socialmente (masculino/feminino/não-binário), não apenas considerando o gênero atribuído no nascimento (JESUS, 2012). Portanto, pode ser considerada uma autodefinição e crença pessoal em pertencer a homem, mulher, ambos ou nenhum.
O processo da transexualidade (PrTr) contém um conjunto de estratégias de tratamento introduzidas no Sistema Único de Saúde (SUS) em 2008 (Decreto nº 2.803, de 19 de novembro de 2013) com o objetivo de atender e receber tratamento integral para transexuais e travestis que desejam fazer modificações corporais adaptando sua aparência e função sexual de acordo com sua identidade de gênero. (SANTOS ET AL. 2019)
A identidade de gênero refere-se à maneira única como uma pessoa se define, seja como homem, mulher ou outro gênero. Isso corresponde à crença interna de ser “masculino”, “feminino” ou alguma outra definição. (SANTOS ET AL. 2019)
Dentro dos parâmetros desses protocolos médicos, existem serviços que atendem transexuais que desejam se submeter à cirurgia de mudança de gênero e/ou simplesmente mudar de corpo com hormônios que eles fornecem. Para entender como essas questões estão inseridas neste trabalho, é necessário fazer um breve histórico das decisões e regulamentações sobre a inclusão da transexualidade na assistência à saúde no Brasil. (SANTOS 2013)
As pessoas transexuais também devem seguir as características das suas normas de gênero. Segundo um interlocutor, no centro médico havia transexuais femininas que não se vestiam totalmente com as chamadas roupas femininas, o que causou inúmeras dificuldades em sua aceitação pela equipe de saúde. Segundo Benton (2006), existe a assepsia de gênero, ou seja, transexuais devem agir e se vestir de acordo com seu gênero preferido para provar a veracidade de sua subjetividade e afastar quaisquer ambiguidades existentes. (SANTOS 2013)
Portanto, o processo de “assepsia sexual” se deu principalmente através da terapia hormonal, e para iniciá-la, o transexual deve passar por vários exames principalmente endocrinológicos para saber se ele é forte o “suficiente” para receber uma dose de hormônios sem prejudicar sua saúde. Segundo Costa e Mendonça (2009), o papel da endocrinologia é na inversão de gênero, que provoca a manifestação de características sexuais secundárias de acordo com a identificação psicossexual do paciente e constitui a dose ideal do medicamento. (SANTOS 2013)
Esta relação com a dose ideal está essencialmente relacionada com o imaginário dos interlocutores que acreditam que “quanto mais, melhor”. A ideia de que a quantidade de hormônios facilita a construção do corpo da mulher é casual entre interlocutores transexuais que tomam copiosamente pílulas anticoncepcionais e injeções. É importante ressaltar que o tamanho dessa dose ideal é modificado de acordo com cada contexto em que o transexual está inserido. Muitos deles seguem os conselhos e orientações de amigos travestis e amigos gays. (SANTOS 2013)
Vivendo nessa intensa pressão social que exige um modelo de corpo feminino, mulheres transexuais usam hormônios para alcançar o modelo desejado. Quando começam o processo de hormonioterapia, há expectativas sobre as mudanças em seu corpo, muitas relatam, por exemplo o desenvolvimento da mama, mudanças no crescimento e textura do cabelo, e algumas até tentam evitar o crescimento de pelos faciais. (ALMEIDA 2017)
Essa relação de construção de manifestações de feminilidade com o corpo faz com que a mulher tome medidas perigosas e prejudiciais à sua saúde. Essa busca consciente de que devem atender a um padrão historicamente construído para interagir com os outros, a sociedade e ser aceita por seu grupo, são alguns dos fatores que levaram algumas mulheres a participarem deste estudo, iniciam os próprios hormônios, tomando essas decisões com base nas experiências de pessoas que passaram pelo mesmo processo ou estão em processo de mudanças corporais. (ALMEIDA 2017)
A “criatura” feminina de Castro e Sá (2016) é o resultado esperado após tantas modificações corporais. O corpo é um produto social, desde o tamanho de sua forma visível até os comportamentos e formas que expressam sua relação com o mundo social. Por meio dele somos vistos e chamados de mulheres ou homens.
No entanto, é preciso dizer que as mulheres que vivenciam a transexualidade em suas vidas têm características específicas que destacam: acesso desigual a meios médicos e farmacológicos para mudar seus corpos, e desconhecimento de sua vida como homem. Na medida em que normas que trazem significados de humanidade e abjeção a isolam de entendimentos essenciais de homens e mulheres com base na presença ou ausência de pênis ou vagina, a vida dos transexuais mudou da humana para campo abjeto. (ROCON et al. 2018)
O Processo Transgênero é um programa de saúde, uma série de tratamento que apresenta estratégias de saúde para pessoas transgênero, incluindo transformação corporal. Originalmente abrangia apenas atendimentos para mulheres trans, que foram ampliados e redefinidos, agora incluindo pessoas trans (e travestis), oferecendo hormônios cruzados e operações como mamoplastia masculinizante, histerectomia e afins. O programa foi fundamental na jornada médica dessa população, mas também mostra que suas necessidades de saúde foram reduzidas ao desejo de suficiência física, ignorando o princípio da integridade, que deveria encaminhá-los para os cuidados de saúde. Além disso, o ingresso no programa e a transição com o auxílio da equipe de saúde é possível por meio do diagnóstico e patologização dessas vivências. (RIBEIRO et al. 2022)
No entanto, quando questionadas sobre o significado do procedimento cirúrgico e da transexualidade, as participantes apontam a cirurgia como uma correção, não como cura para alguma anormalidade, mas para dar consistência às expectativas que criam de seus corpos para viver e vivenciar as relações sexuais. (ROCON et al. 2018)
A transexualidade relacionada à doença reduz o preconceito e a discriminação conforme percebido pelos participantes. Este relatório revela que o uso da patologização da transexualidade não é apenas uma estratégia para obter serviços transexuais, como mostram os estudos, mas também um meio de identificar outras pessoas com suas vidas. Bento e Pelúcio (2021) mostram que o movimento social utiliza um discurso patologizante como estratégia para garantir a oferta de serviços transexuais por meio do SUS. (ROCON et al. 2018)
Estabelecer uma política pública para garantir o acesso aos serviços de saúde para todos os cidadãos, independentemente de gênero ou orientação sexual, direito garantido pela Constituição Federal, implementada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que em suas diretrizes não direciona esse direito a um gênero específico, mas também não respalda a criação de um modelo igualitário de saúde que inclua ou acomode aqueles cujos corpos biológicos diferem do gênero com o qual se identificam. (GOMES et al. 2022)
Um problema que poderia justificar a invisibilidade transexual nos processos primários de trabalho seria a insatisfação corporal transexual. Por ser entendido como um fator de tendência, pode determinar a exclusão de uma pessoa ou grupo dos serviços de saúde prestados, mais especificamente da rede básica onde foi estudado o grupo transgênero. Assim, o corpo nojento pode ser aquele o que não se reconhece, o que não se percebe, é o corpo rejeitado e invisível para a sociedade que nega seus direitos ao não reconhecer sua existência. (GOMES et al. 2022)
Ainda nesse sentido, as políticas públicas de saúde específicas do Brasil contemplam atendimentos às pessoas trans em geral e às pessoas trans em particular, e medidas de atenção primária à saúde (promoção da saúde e prevenção de doenças) e atendimentos especiais (serviços especiais), acompanhamento clínico, hormonioterapia e cirurgia de redesignação transexual no SUS são os mais procurados (Ministério da Saúde do Brasil, 2013). Ressalta-se que, apesar de sua óbvia importância, a saúde da comunidade trans não se limita ao processo transgênero (cuidados especiais) e inclui atenção primária à saúde. (COHEN, TILIO, 2020)
TERAPIA HORMONAL EM TRANSEXUAIS:
Durante anos de acompanhamento, às mulheres transexuais se submetem a tratamento hormonal para modificação de características sexuais secundárias. As alterações físicas produzidas pelo uso dos hormônios são consideráveis e facilmente perceptíveis, pode-se conseguir um aumento significativo das mamas, que se tornam definidas, evidencia-se que a maior parte das mulheres trans já vivem conforme o gênero de identificação no seu cotidiano e fazem uso de hormônios por indicação conhecidos (BRASIL, 2019)
Segundo Rocon (2013), há evidências na urgência de produzir um corpo com características femininas rapidamente, não importam os riscos inerentes ao processo de automedicação, o interesse é de evidenciar, em seu corpo, o signo de feminilidade socialmente reconhecido que as mamas representam.
Para Silva (2018), a voz é outra característica alterada através da terapia hormonal, que se torna mais aguda, as pessoas que se submetem ao Processo Transexualizador nos serviços públicos de saúde contam com o atendimento de fonoaudiologia, o que possibilita treinamentos e exercícios de empostação vocal, pois a voz se caracteriza como um elemento importante na identificação e na atribuição de gênero.
Cardoso et. Al (2016), evidencia o quanto o gênero é performático, apesar de apresentado como uma dimensão natural e uma essência do sujeito feminino no contexto da cultura. Os serviços de saúde se apropriam e normatizam as aprendizagens de gênero que são efetivadas de forma naturalizada nos processos de socialização aos quais somos submetidos na família, na escola e nas demais relações sociais e que nos vão transformando em mulheres e homens de determinados tipos (ROCON, 2016).
Conforme Rocon (2018), os estrógenos interferem no crescimento dos pelos, podendo torná-los mais suaves, diminuindo seu crescimento em algumas áreas corporais. Observa-se que os indivíduos apresentam imenso desconforto em relação à presença de pelos corporais no rosto, tratamentos como depilação definitiva ou outros são caros e dolorosos, retirar os pelos diariamente, barbeando-se, provoca o crescimento rápido e o endurecimento do pêlo, técnicas de maquiagem e depilação dos mais variados estilos são tema de discussão e de troca de informações entre as mulheres transexuais na direção de atenderem ao modelo de hegemônico de feminilidade.
Os efeitos da hormonioterapia sobre o crescimento dos pelos também são variáveis, em algumas pessoas o pelo do couro cabeludo cresce mais rapidamente tornando-se mais suave. Em outros casos, essas alterações são menos perceptíveis. Uma característica corporal afetada pelos hormônios diz respeito à distribuição da gordura corporal, que é modificada pela administração de estrógenos, tornando as formas corporais suavizadas. Outro aspecto refere-se à interferência da hormonioterapia em relação à sexualidade, as mulheres trans apresentam redução acentuada de ereções, pois há a atrofia da glândula prostática e das vesículas seminais (CARDOSO, SILVA et. Al, 2014).
Para Mueller (2015), perceber e denominar o pênis é quase que proibitivo para essas mulheres, ao evitar falar a palavra pênis elas ratificam o diagnóstico que determina que, para ser uma verdadeira mulher, há que ter aversão ao órgão sexual masculino, bem como não os utilizar com o objetivo de satisfação sexual. Assim, através da declaração de transexualidade elas conferem sentido ao aglomerado de vivências capazes de promover um modo de significar a sua existência. O critério que identifica o transexual pela aversão aos órgãos genitais é amplamente criticado, pois enfatiza o poder disciplinador que preconiza aos indivíduos terem que sentir desejo sexual da forma como se prescreve que deveriam ou poderiam sentir. Trata-se de submeter o corpo não só a performatizar expressões de gênero, mas vai além, pois visa criar modos de sentir este corpo, sujeitando-o a perceber sensações conforme socialmente prescrito, não deixando espaços para outras possibilidades de existência (BRASIL, 2017).
O humor também é afetado sob o uso de estrógenos, existem relatos de pessoas que ficam mais sensíveis e que choram por qualquer motivo, esses efeitos acabam por ratificar no indivíduo a representação de uma característica que nossa cultura naturaliza como sendo feminina, ela estaria, agora, mais mulher. Trata-se de um efeito colateral que confere ao seu corpo, inundado de hormônios femininos, dimensões daquilo que se reconhece como sendo uma identidade feminina (MUELLER, 2011).
Nesse sentido, evidencia-se que experienciar sensações tidas como do escopo do feminino permitem preencher os requisitos para se reconhecer e se sentir reconhecida como humana, os efeitos colaterais da terapia por estrógenos se configura em importante aspecto sobre o qual as mulheres transexuais necessitam conhecer e apesar dos riscos inerentes ao tratamento, elas decidem usá-los para conseguir seus objetivos.
METODOLOGIA:
Refere-se a uma revisão sistemática de abordagem quantitativa, sendo analisados obras literárias e artigos científicos, onde foram utilizados como Descritores em Ciências de Saúde: “transexualidade”, “terapia de reposição hormonal” e “mulher transexual”, objetivando discutir o estado da arte, a fim de propiciar atualização do conhecimento científico. Os critérios de inclusão e avaliação foram publicações nacionais, de 2018 a 2022, últimos 5 anos, quanto às obras literárias, foram todas aquelas que abordassem o assunto em pleito, extraídas das bases de dados: Scientific Eletronic Library Online, Publisher MEDLINE e LILACS. Os arquivos descartados foram aqueles que não tratavam do tema da pesquisa, sendo assim não contribuem para a discussão, nestes campos de pesquisa supracitados foram encontrados.
RESULTADOS:
Gráfico 1 – Quantitativo de publicações nacionais sobre o tema no banco de dados do Scientific Eletronic Library Online (SciELO), no período de 2018 a 2022. Foram encontradas um total de 66 publicações nacionais que abordam o tema nos últimos 5 anos (2018, 2019, 2020, 2021 e 2022) no banco de dados do SciELO, sendo 7 publicações no ano de 2018, 16 publicações no ano de 2019, 13 publicações no ano de 2020, 14 publicações no ano de 2021 e 16 publicações no ano de 2022.
Gráfico 2 – Demonstrativo do quantitativo de publicações sobre o tema no banco de dados do Publisher MEDLINE (PubMed), no período de 2018 a 2022.
Foram encontradas um total de 38 publicações nacionais que abordam o tema nos últimos 5 anos (2018, 2019, 2020, 2021 e 2022) no banco de dados do PubMed, sendo 4 publicações no ano de 2018, 10 publicações no ano de 2019, 11 publicações no ano de 2020, 18 publicações no ano de 2021 e 5 publicações no ano de 2022.
Gráfico 3 – Quantitativo de publicações sobre o tema no banco de dados da Biblioteca LILACS, no período de 2018 a 2022. Foram encontradas um total de 62 publicações nacionais que abordam o tema nos últimos 5 anos (2018, 2019, 2020, 2021 e 2022) no banco de dados do LILACS, sendo 6 publicações no ano de 2018, 15 publicações no ano de 2019, 14 publicações no ano de 2020, 10 publicações no ano de 2021 e 17 publicações no ano de 2022.
Gráfico 4 – Demonstrativo Geral de publicações nacionais constantes nos bancos de dados pesquisados. Foram encontradas um total de 166 publicações nacionais que abordam o tema nos últimos 5 anos (2018, 2019, 2020, 2021 e 2022) sendo 66 publicações no SciELO, 38 publicações no PubMed e 62 publicações no LILAC.
CONCLUSÃO:
Os resultados demonstram que ainda há pouca produção científica referente a assistência prestada aos usuários transexuais do SUS em tratamento de terapia hormonal, e intensifica a sua necessidade, visto que as pessoas transexuais apresentam diversos transtornos de imagem devido a sua condição biológica natural, e consequentemente acabam se submetendo a práticas clandestinas, cujo objetivo é alcançar a tão desejada imagem feminina para se aceitarem, e eventualmente, serem aceitas na sociedade em que vivem. Os achados de pesquisa nessa área se concentraram em realidades municipais e por região de alguns estados da federação, havendo um número quase irrelevante de trabalhos de âmbito nacional. As pesquisas qualitativas dominaram o cenário da produção estudada, com trabalhos pertinentes sobre o tema, porém, quase sempre centrados na busca do entendimento da identidade em comparação com o gênero e a orientação sexual. Os artigos abordaram dimensões distintas da vulnerabilidade das pessoas trans e diversas acepções de vulnerabilidade, relacionando-as a fatores socioeconômicos, biológicos, programáticos, nutricionais e psicológicos. Essas dimensões e acepções caracterizam o perfil das pessoas transexuais, pois elas constituem uma população carente de cuidados e políticas realmente efetivas para a melhora de sua qualidade de vida, considerando que essas pessoas na maioria das vezes são expulsas ou abandonam o seu próprio lar, onde nessa jornada turbulenta não encontram outro caminho a não ser a capitalização de seu próprio corpo, muitas vezes em processo de tratamento hormonal ou terapia medicamentosa, resultado de sua profissão configurada perigosa pelos conselhos de saúde. Não se pode considerar a transexualidade como uma doença, já que tal objeto não consta na classificação internacional de doenças. Mas infelizmente, as pessoas transexuais irão enfrentar o estigma, o medo e todas as outras manifestações sociais que entendem a transexualidade como uma abominação, altamente transmissível, incurável e outros estereótipos do tipo pelo resto de suas vidas. Ademais, a transexualidade é uma identidade que envolve fatores que vão além do fato biológico e a história natural do indivíduo. De fato, a capacitação dos profissionais da área da saúde com ênfase na enfermagem, é cada vez mais necessária, considerando que o acolhimento, denominado atendimento primário, deve ser realizado pelo enfermeiro. Encontrar a vulnerabilidade socioeconômica em pesquisas não parece fornecer informações relevantes, pois a maioria das pessoas trans dependentes diretamente do SUS precisam de melhores condições de vida.
Deve-se franquear a desconsideração comum dos profissionais e pesquisadores da saúde em relação ao conhecimento das pessoas sobre sua condição de vida e da própria transexualidade. Isso se alinha com uma insensibilidade geral em relação às condições culturais, religiosas e sociais da pessoa, e, por extensão, à capacidade de discernimento acerca da própria identidade. Assim, a educação e a promoção da saúde são entendidas como pilares desta mudança de paradigma, que se concretiza em todas as instituições e é inclusiva. O trabalho deve ser feito em colaboração com a educação, para que essa informação chegue às escolas e se espalhe entre os jovens e crianças que levam o conhecimento para casa. Todas as esferas da saúde e seus níveis, federal, estadual e municipal, deveriam trabalhar em conjunto e com as especificidades de cada localidade. O objetivo deste trabalho foi gerar e contribuir para uma compreensão mais acurada dessa população, um grupo de pessoas que busca viver, não apenas sobreviver. Com essa visão sobre a sociedade que a saúde coletiva nos proporciona, espera-se contribuir para a construção de políticas públicas para o entendimento da transexualidade, para o desenvolvimento de novos estudos e para aguçar a escuta a essas pessoas e suas necessidades.
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1Discente do Curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade Martha Falcão Wyden
2Docentes do Grupo Wyden Educacional da Faculdade Martha Falcão