DESIGUALDADES SOCIAIS: CONTRIBUIÇÕES PARA A REDUÇÃO EPISTÊMICA À LUZ DE THOMAS PIKETTY

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10042498


João Ramalho Alves Da Silva


RESUMO

Desigualdades Sociais: contribuições epistêmicas à luz de Thomas Piketty constituem tema de um artigo de Pós-doutorado em Ciências Jurídicas (área de concentração em Direitos Humanos e Sociais), cujo objetivo é mostrar que a Democracia, para garantir uma igualdade social, precisa implantar mecanismos com vistas a uma ampla reforma fiscal, tributando as grandes fortunas, aumentando o salário-mínimo e investimento do Estado na Educação, vetores que devem ser implementados pelos governos democráticos. O método utilizado é o dialético porque responde ao contexto sociopolítico e econômico que permeará o presente estudo para que seja possível apontar soluções para os problemas das desigualdades sociais nas democracias por motivo da enorme disparidade social. Esta pesquisa é de cunho bibliográfico e está dividida em três partes: 1) História dos Direitos Humanos 2) Sobre o pensamento de Thomas Piketty, e 3) Considerações finais em torno às desigualdades sociais.

Palavras-chave: Direitos Humanos. Desigualdades Sociais. Contribuições epistêmicas de Thomas Piketty.

RESUMEN

Desigualdades Sociales: contribuciones epistémicas bajo la luz de Thomas Piketty constituyen tema de un artículo de Postdoctorado en Ciencias Jurídicas (área de concentración en Derechos Humanos y Sociales), cuyo objetivo es mostrar que la Democracia, para garantizar la igualdad social, necesita implantar mecanismos con vistas a una amplia reforma fiscal, tributando las grandes fortunas, añadiendo el sueldo mínimo e inversión del Estado en la Educación, vectores a serem implementados por los gobiernos democratas. El método usado es el dialéctico puesto que responde al contexto sociopolítico y económico que norteará el presente estúdio. Se trata de uma investigación bibliográfica y está dividida em três partes, 1) Construcción Histórica de los Derechos Humanos;2)Sobre el pensamiento de Thomas Piketty, y 3) Consideraciones respecto a las desigualdades sociales.

Palabras llaves: Derechos Humanos. Desigualdades Sociales. Contribuciones epistémicas bajo la luz de Thomas Piketty.

1. CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS E AS DESIGUALDADES SOCIAIS

Direitos Humanos e Desigualdades Sociais: contribuições à luz de Thomas Piketty constituem tema de uma pesquisa para um artigo científico de pós-doutorado em Ciências Jurídicas cuja área de concentração são as desigualdades sociais.

Sabemos que a Democracia, para garantir uma igualdade social, precisa implantar mecanismos que garantam uma ampla reforma fiscal, tributando as grandes fortunas, aumentando o salário-mínimo e fortalecendo o investimento do Estado na Educação, estes são alguns dos vetores que devem ser implementados pelos governos democráticos.

Para tanto, faz-se mister abordar o tema num contexto sociopolítico e econômico que permeará o presente estudo para que seja possível apontar soluções para os problemas das desigualdades sociais nas democracias por motivo da enorme disparidade salarial .

As mudanças sociopolíticas e econômicas resultantes da Revolução industrial e das conquistas dos direitos individuais e civis da burguesia desencadeia um processo cultural libertador, o que oferece melhoria para o aspecto político do Estado moderno ocidental.

Para a problematização deste estudo, utilizamos o método dialético, inspirando-se em Lakatos (2012), posto que dito estudioso “penetra no mundo dos fenômenos através de sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno da mudança dialética que ocorre na natureza da sociedade” através de Leitura de textos da bíblia, para encontrar expressões idiomáticas e explicar em foco.

Para tanto, as aportações de Popper (1999, p.125) no sentido de que toda pesquisa começa e termina com problemas, só fundamentam o nosso conhecimento aumenta à medida que prosseguimos de velhos para novos problemas. É o que se faremos nesta pesquisa – investigar conteúdos existentes sobre os direitos humanos e as desigualdades sociais

1.1. Breve Comentário

Data de muitos séculos o surgimento das ideias sobre direitos humanos. Diz a tradição que surgiu na Babilônia aproximadamente nos anos 530 antes de Cristo. Mas os primeiros acordos sobre o tema em questão teve respaldo no Pacto dos Virtuosos. Ao longo da história houve muitos conflitos para que estes direitos fossem reconhecidos, pois eram imperdoáveis os maus tratos praticados contra os indivíduos, principalmente, os pertencentes às classes sociais inferiores, os trabalhadores, o homem do campo entre outros.

Os Direitos Humanos estão relacionados com a Democracia porque, no contexto das mudanças sociopolíticas e econômicas, provocadas pela Revolução Industrial e pela conquista paulatina d os direitos individuais e civis da burguesia, desencadeando um processo cultural libertador, melhorando o aspecto político do Estado moderno ocidental, o que, impulsionou, nas revoluções econômicas e financeiras a consolidação das sociedades emergentes. Na concepção de Simioni (2007).

Somente a partir da Revolução Francesa, com mais clareza, a luta pelos direitos políticos dos cidadãos, em uma visão antropocêntrica renascentista do indivíduo, afirma-se a busca de um governo republicano. Daí, segundo Krohiling (2009:47), “os Direitos Humanos são um fruto da Revolução Francesa posto que se exigiam direitos políticos do cidadão e se pregavam a resistência do cidadão, ao possível retorno da tirania e sustentavam os direitos conquistados na revolução deveriam alcançar ambos os sexos”.

Entretanto, as desigualdades sociais são enormes. Estas se referem a “processos relacionados na sociedade cujo efeito de limitou prejudicar o status de um determinado grupo, classe ou círculo social. As áreas de desigualdade social incluem o acesso aos direitos do voto, a liberdade de expressão e de reunião, a extensão dos direitos de propriedade e de acesso à educação, saúde, moralidade, qualidade, viajar, ter transporte, férias e outros bens e serviços sociais. Além de que também pode ser visto na qualidade de vida familiar e da vizinhança, ocupação, satisfação no trabalho e acesso ao crédito. Se estas divisões econômicas endurecerem, podem levar à desigualdade social. (In: Google. Desigualdade Social-wikipédia.org)

Historicamente, podemos afirmar que os instrumentos nacionais de defesa e proteção dos Direitos Humanos precedem os internacionais. Na realidade, a proteção internacional começou no século XX, fruto da consolidação dos valores dignidade, liberdade e igualdade em nível mundial.

Mas, ainda hoje, a sociedade burguesa, por tradição sempre contou com grupos adversos no tocante às origens socioeconômicas e as orientações político-ideológicas. Estes grupos se mantêm há três séculos com interesses os mais variados possíveis, mantendo forte resistência à nobre causa dos direitos do ser humano. No início da modernidade, seus principais inimigos eram representantes da nobreza, em especial da corte real e alto clero, além dos colonizadores metropolitanos. No século XIX, surge uma nova classe social também contrária, conservadora, radicalmente contrária a todas as reivindicações dos Direitos Humanos para os trabalhadores urbanos e o homem do campo, que era por demais escravizados, sem direito à terra, só de trabalham para enriquecer os senhores feudais. No século XX, acentuam-se os conflitos em volta dos Direitos Humanos a ponto de provocar regimes ditatoriais ferrenhos, como o nazismo e o stalinismo (MONDAINI, 2008:11-12), o que prejudicou deveras as ações dos direitos humanos. E os indivíduos eram massacrados com todo requinte de crueldade possível.

Nessa perspectiva, o caminho da luta pelo respeito e proteção aos Direitos Humanos é o mesmo. O novo é a maneira de caminhar. Hoje a luta pelos Direitos Humanos prossegue nos dois planos fundamentais: os dos direitos individuais e sociais, estes considerados como direito ao trabalho, a salário digno, à habitação, à saúde, à educação, lazer e segurança para todos. Sem a garantia desses direitos sociais, qualquer democracia não passa de algo meramente adjetivo, entretanto, sabemos que as desigualdades sociais são enormes.

Em síntese, as lutas pelos Direitos Humanos não só no Brasil como também nos países do Cone Sul, encontram-se hoje em uma encruzilhada. O desafio da democracia, com pleno funcionamento do exercício do poder político e a existência dos movimentos sociais de Direitos Humanos, no contexto atual, portadores de uma racionalidade política pós-autoritária nas sociedades pós-industriais.

Do ponto de vista da história, é a dignidade do homem, como se depreende do doutrinador jurídico, BOBBIO (1988), a luta permanente pela construção do reconhecimento e contra a exploração, o domínio, a vitimização e a exclusão do homem,

1.2. Direitos Humanos e Sociais na contemporaneidade

Habermas (2002a apud SILVA, 2014: 14-17) refere que os Direitos Humanos, hoje, são marcados por uma tensão fundamental: por um lado, há os que eles designam a forma fundamental da consciência moral social das nações, que alcançaram e conquistaram o Estado de Direito, mas sua efetivação em nível global constitui grande desafio ético-político do século XXI. Além disso, são diversas as resistências de forças econômicas e políticas e os questionamentos que provêm tanto da situação histórica nova como do ambiente filosófico contemporâneo interpelando-nos a repensar o significado da ética e do direito e suas tarefas no cotidiano humano e ser isto, o sentido e a política dos direitos humanos.

Dessa forma, os direitos humanos considerados como processos culturais libertadores fizeram-se parâmetro e fundamento ético do direito internacional.

Depreende-se que a falta da pressão moral e social faz com que a democracia se transforme rapidamente em oligarquia pela associação do poder político com todas as outras formas de dominação social. “Neste compreender, a democracia não surge do Estado de direito, mas do apelo a princípios éticos – liberdade e justiça – em nome da maioria sem poder e contra os interesses dominantes” (TOURAINE, 1996: 37).

Para Habermas, a modernidade é simplesmente um projeto incompleto. Ele questiona os enfoques de fundação doados à ciência, mas nega que isso impeça qualquer tipo de ciência social. O problema explicitado por Habermas, ao analisar os fundamentos das correntes pós-modernas, refere-se à incompreensão do conceito de modernidade formulado claramente por Hegel (HABERMAS, 2002b: 8).

Assim,a modernidade, enquanto projeto inacabado, no pensar Habermas ano, pode encontrar no consenso um critério fecundo para o delineamento de projetos sociais e jurídicos voltados para hegemonia dos Direitos Humanos na relação com a Democracia como entendimento recíproco que a humanidade tanto necessita.

Retomando-se o ponto principal da reflexão, o pobre tem, em primeiro lugar, direito à vida, isto é, o direito a uma convivência na justiça e à igualdade. Não há dúvida de que a mediação teórica nesse processo de transformação é, seguramente, o pensamento da libertação, revelando-se como filosofia assumindo sua responsabilidade frente ao mundo histórico.

A nova postura dialógica, a partir da sabedoria do povo, tem duas possibilidades fundamentais para o pensar. A primeira é a filosofia do ser em que as categorias fundamentais são: identidade, necessidade inteligibilidade e eternidade. A segunda, é filosofia do evento com as categorias fundamentais alteridade/diferença mistério novidade (historicidade). Neste binômio epistêmico, o pensamento latino-americano caracteriza-se pelo confronto com a tradução filosofia transcendental – e a nova metafísica estimulada pela fenomenologia e hermenêutica. A condição de possibilidade dessa novidade é a liberdade transcendente.

Como é possível se perceber, a luta pelos direitos humanosestá unida à limitação do poder político, e esta última surgiu da aliança entre a ideia de direito natural e a ideia de sociedade civil como sociedade econômica através da qual os atores reivindicam a liberdade de empreender, permutar e expressar suas ideias.

Portanto, a igualdade política, pressupõe que os membros mais frágeis de uma comunidade política tenham direito a uma atenção e respeito por parte do governo. A ideia de democracia não pode ficar separada da ideia de direitos e, por conseguinte, não pode ser reduzida ao tema de governo da maioria.

Nessa linha de raciocínio, conforme que fizemos alusão anteriormente, para que tenhamos igualdade social, faz-se necessária a implantação de mecanismos que garantam uma ampla reforma fiscal, tributando rendas, aumentando o salário-mínimo entre outras medidas em prol do bem-estar da coletividade.

A partir desse entendimento, pretendemos fazer uma sucinta abordagem sobre o pensamento de Thomas Piketty -objeto deste artigo- , nas suas duas obras: A economia da desigualdade e O Capital no século XXI.

2. SOBRE O PENSAMENTO DE THOMAS PIKETTY

Decidimos iniciar esta abordagem com ao art,23 da Declaração Universal dos Direitos Humanos:

Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de seu trabalho, as condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à proteção contra o desemprego.

Toda pessoa tem direito, sem discriminação alguma, a igual salário por trabalho igual.

Toda pessoa que trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe assegure, assim como a sua família, uma existência conforme a dignidade humana e que será completada, em caso necessário, por quaisquer outros meios de proteção social.

Toda pessoa tem direito a fundar sindicatos e a sindicalizar-se para a defesa de seus interesses.

Mondaini (2008: 12) alerta no sentido de que tanto na versão neoliberal, que busca identificar nos direitos humanos um obstáculo à realização racional da lucratividade pelo livre mercado, quanto na versão marxista ortodoxa, que busca observar nos direitos humanos um conjunto de formalidades responsáveis pela ocultação de classes e da luta entre estas no seio da sociedade capitalista, sendo, por conseguinte, direitos das classes dominantes; ou numa visão extremamente vulgar que define os direitos humanos como “direitos de bandidos”, o que se percebe claramente é a incapacidade de compreender a fundo seu caráter universal e democrático.

Entretanto, em vista do poderio avassalador do capitalismo que escraviza as classes dos cidadãos desprovidos, em função de aumentar sua renda, mas sem compartir com os que a produzem, a questão das desigualdades sociais repousa na redistribuição de rendas, o que responde pelos grandes conflitos políticos.

Conforme já fizemos referência, Democracia, para garantir uma igualdade social, precisa implantar mecanismos que garantam uma ampla reforma

fiscal, tributando as grandes fortunas, aumentando o salário mínimo e fortalecendo o investimento do Estado na Educação, estes são alguns dos vetores que devem ser implementados pelos governos democráticos.

Para tanto, faz-se mister abordar o tema num contexto sociopolítico e econômico que permeará o presente estudo para que seja possível apontar soluções para os problemas das desigualdades sociais nas democracias por motivo da enorme disparidade salarial.

As mudanças sociopolíticas e econômicas resultantes da Revolução industrial e das conquistas dos direitos individuais e civis da burguesia desencadeiam um processo cultural libertador, propiciando melhoria para o aspecto político.

2.1. A Economia na contramão da igualdade Social

Com fundamento em Piketty (2015:9), afirma-se que a questão da desigualdade e da redistribuição está no cerne dos conflitos políticos. De um lado, a posição liberal de direita afirma que só as forças do mercado, a iniciativa individual e o aumento da produtividade possibilitam uma melhoria efetiva da renda e das condições de vida dos mais desfavorecidos. De outro, a posição tradicional de esquerda afirma que somente as lutas sociais e políticas são capazes de reduzir a miséria dos menos favorecidos produzida pelo sistema capitalista.

Dessa maneira, esse conflito direita/esquerda mostra, em primeiro lugar, que as discordâncias quanto à forma concreta e à adequação de uma ação pública de redistribuição não devem necessariamente a princípios antagônicos de justiça social, mas sobretudo a análises antagônicas dos mecanismos econômicos e sociais que produzem a desigualdade.

Com efeito, há certo consenso a respeito de diversos princípios básicos de justiça social. […], se a desigualdade se deve, ao menos em parte, a fatores fora do controle dos indivíduos, como a desigualdade das dotações iniciais transmitidas pela família ou pela sorte – sobre as quais os indivíduos envolvidos não podem ser considerados responsáveis-, então, é justo o Estado buscar melhorar, da maneira mais eficaz possível, a vida das pessoas mais pobres, isto é, daquelas que precisaram enfrentar os fatores não controláveis mais adversos. (PIKETTY, 2015: 10).

Piketty (2015: 11-12) afirma que, na prática do conflito contemporâneo, muitas vezes, essa oposição entre redistribuição pura e redistribuição eficiente foi confundida com a oposição de amplitude moderada e outra mais ambiciosa. E que o conflito direita/esquerda tradicional, no entanto, complicou-se ao longo do tempo, desde que parte da esquerda passou a defender a adoção de uma “renda mínima de cidadania”, concedida a todos, financiada pelos impostos e que não interfira diretamente no funcionamento do mercado, o que implica dizer (com o autor) que a questão dos instrumentos de redistribuição não se confunde necessariamente com a questão da amplitude da redistribuição.

O verdadeiro conflito ocorre com frequência muito maior em relação à maneira mais eficaz de melhorar realmente as condições de vida dos mais pobres e à extensão dos direitos que podem ser concebidos a todos do que em relação aos princípios abstratos de justiça social.

O exemplo citado do conflito direita/esquerda reflete a importância da oposição entre diferentes tipos de redistribuição e diferentes instrumentos de redistribuição. Mas somente uma análise minuciosa dos mecanismos socioeconômicos que produzem a desigualdade é capaz de definir a parcela de verdade dessas duas visões extremas da redistribuição e talvez contribuir para a instauração de uma redistribuição mais justa e eficiente.

2.2. As desigualdades do Capital-trabalho

Pikettyenfatiza que a desigualdade social trata-se de um problema que envolve todas as camadas sociais, posto que a realidade concreta e orgânica da desigualdade é visível para todos os que a vivenciam e inspira, naturalmente, julgamentos políticos contundentes e contraditórios. Camponês ou nobre, operário ou dono de fábrica, servente ou banqueiro: cada um, a partir de seu ponto de vista peculiar e único, vê aspectos importantes sobre as condições de vida de uns e de outros, sobre as relações de poder e de dominação entre grupos sociais, e elabora sua própria concepção do que é justo e do que não é (PIKETTY, 2015: 10).

Conforme fizemos referência, as desigualdades político-sociais implicam as desigualdades do capital-trabalho, do capital humano, bem como e principalmente salariais.

Pelo que podemos constatar, os conflitos são gerados em torno de tantas desigualdades no tocante à distribuição da riqueza porque existirá sempre uma dimensão subjetiva e psicológica na referida questão. Para muitos, tal desigualdade é constantemente crescente e o mundo continuará sendo mais injusto, enquanto outros acreditam que esta desigualdade é naturalmente decrescente, senão que a harmonia ocorre automaticamente, e que nada se deve fazer que ponha em risco o equilíbrio feliz (PIKETTY; 2015: 10), o que nada acrescenta ao problema porque a desigualdade prossegue e os conflitos só aumentam destruindo a paz universal.

O pesquisador deste trabalho entende que sempre haverá poucos com muita riqueza e muitos desprovidos desta e, consequentemente, os conflitos jamais cessarão. O que pode ocorrer é a redução das desigualdades, jamais a extinção, lamentavelmente.

Nesse pensar, Piketty (2015: 15), abordando a questão da renda nacional, refere que a definição o capital abrange lucros industriais, renda territorial, aluguéis urbanos […] aumentou de modo considerável nos dos dois países [França e Inglaterra] durante a primeira metade do século XIX. Ela diminuiu ligeiramente nas últimas décadas do citado século, quando os salários recuperaram parte do atraso em relação ao crescimento econômico. Sabe-se que isto não ocorre no nosso país.

Piketty (2015:20-21), apresentando a curva de Kuznets, assim se expressa:

Kuznets sugere, de maneira quase ingênua, que a lógica interna do desenvolvimento econômico pode levar ao mesmo resultado, independente de qualquer intervenção política ou choque externo. A ideia era que a desigualdade aumenta durante as primeiras fases da industrialização, pois apenas uma minoria está em condições de se beneficiar dos ganhos iniciais do processo e, mais adiante, nas etapas mais avançadas do desenvolvimento, cai de forma automática, ou endógena, quando uma fração cada vez maior da população passa a desfrutar do crescimento econômico.

[…] Esse fenômeno deveria, em tese, ser capaz de se reproduzir mundo afora, o que incluiria os países subdesenvolvidos então assolados pela pobreza da era pós-colonial. Os fatos evidenciados por Kuznets […] se tornaram, de súbito, uma arma política poderosa. […] Ele preocupou-se em esclarecer que a intenção de suas previsões otimistas era simplesmente manter os países subdesenvolvidos ‘na órbita do mundo livre’. Em grande medida, portanto, a teoria da ‘Curva de Kuznets’ é produto da Guerra Fria.

Sonhar é preciso, e estimular o outro a lutar por dias melhores faz parte da ética cristã, é alteridade. E isto Kuznets soube muito bem, fazer – foi portador de notícias auspiciosas: “a desigualdade do mundo está diminuindo”. Daí, seu trabalho exerceu grande importância e despertou muitas reflexões, expressou uma ética científica, no dizer de Piketty.

Ocorre que na década de 1970, a desigualdade na distribuição de renda retomou um crescimento assustador, principalmente nos países ricos a exemplo dos Estados Unidos, Inglaterra, França etc.

Na concepção de Marx (1986), a divisão do trabalho torna-se realmente divisão apenas a partir do momento em que surge uma divisão entre o trabalho material e o espiritual.

Sabe-se que, nas sociedades capitalistas, os homens vão perdendo o contato com o produto final de seu trabalho, fazendo com que tanto o trabalho do homem como o produto derivado deste não sejam mais vistos como processo de produção da atividade humana, o que transforma o trabalho alienado porque ele deixa de pertencer a quem o produz, tornando o trabalho humano em mercadoria .

2.3. Breve Panorama da Desigualdade Salarial

A desigualdade salarial implica a desigualdade dos níveis de capital humano individual. É notório como a escalada das desigualdades salariais ocorreu de maneira desenfreada a partir de 1970, impulsionada pelos avanços tecnológicos que proporcionaram o fenômeno da globalização. E a questão política exerce grande influência nesse processo injusto que não só inquieta o homem como o angustia por trabalhar e não ter a recompensa do suor vertido para proporcionar uma vida digna à sua família.

Na obra O Capital, Piketty (2105: 99-100) se expressa:

Certas desigualdades salariais não podem ser explicadas apenas pela desigualdade subjacente do capital humano, tenha ela se produzido de maneira eficiente ou não. Por exemplo, determinados atores (sindicatos, empregadores) tentam manipular em proveito próprio a estrutura dos salários que seria fixada pelo mecanismo de concorrência da oferta e da demanda de capital humano. Outras considerações, como a necessidade de motivar os assalariados levando em conta o conjunto dos fatores envolvidos, e não só o nível de capital humano, também podem conduzir a violações importantes da teoria do capital humano, inclusive na ausência de atores tentando manipular explicitamente os preços do mercado de trabalho. […]

Seja como for, o fato é que os recursos utilizados pelos sindicatos para aumentar o nível geral das rendas do trabalho e diminuir a desigualdade entre os assalariados não são instrumentos eficientes de redistribuição.

Então, fica o questionamento de Piketty para reflexão: será que devemos deixar o mercado e seu sistema de precificação operar livremente e nos contentar em redistribuir a renda por meio de impostos e transferências fiscais? Ou devemos tentar modificar estruturalmente a maneira como as forças de mercado produzem a desigualdade.

Achamos oportuno destacar que, na concepção de Marx (apud FUMAGALLI & MEZZADRA, 2011: 118-124 lucro são as três categorias principais de distribuição de renda que surgem a partir das relações capitalistas e, como tal, têm um caráter histórico. Do ponto de vista lógico, no capitalismo, o salário designa a remuneração do trabalho produtivo, conceito do qual se entende o trabalho que produz mais-valia e que está na base da formação do lucro e do; o rendimento “é a renda que o proprietário de certos bens recebe com rendimentos em consequência do fato de que esses bens estejam, ou venham a estar, disponíveis em quantidades limitadas.”, o lucro é a remuneração do capital e consiste em obter uma rentabilidade à massa de capitais envolvidos na produção.

Assim, analisando o panorama da desigualdade social, entendemos ser esta, fruto do desrespeito escandaloso aos direitos humanos que há nesta sociedade, como flexibilização da força de trabalho; corrupção e desgovernos; fome e pobreza.

É oportuno destacarmos que, segundo Bobbio et all (2003), na Comunidade Internacional, os ideais humanitários foram, durante muito tempo e, evocados junto à defesa da própria soberania, membros da base da comunidade internacional. E somente no decurso da Segunda Guerra Mundial foi possível a criação de um perfil de ação internacional pela promoção e tutela do homem enquanto tal.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE AS DESIGUALDADES SOCIAIS

A crise financeira atual é a crise do sistema capitalista, cujo resultado são os conflitos no cenário social tendo em vista a desigualdade de rendas, de salário.

Retomando Piketty (2015: 9), a causa primordial dos grandes conflitos políticos consiste na desigualdade social e na má distribuição de rendas, embora o posicionamento dos liberais é no sentido de que só “as forças de mercado, a iniciativa individual e o aumento da produtividade possibilitarão, a longo prazo, uma melhoria efetiva de renda e das condições de vida, em particular, dos mais desfavorecidos.

Em entrevista ao Jornal Correio da Paraíba (Domingo, 26-04-2015 A7), o sociólogo argentino, Carlos Alberto Torres, da Universidade da Califórnia, afirma que os direitos humanos são desrespeitados. Segundo ele, estamos vivendo uma das etapas de maior desigualdade do mundo. Em conversa com o jornalista Luiz Carlos Sousa, ele refere que “há razões para ser otimista em relação ao futuro, mas há indícios fortes que levam ao pessimismo, como o aumento da pobreza. A globalização ainda tem de encontrar soluções para dois outros grandes problemas: O respeito aos direitos humanos e a proteção ao meio ambiente.

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