ATIVIDADE ARTESANAL DO CAPIM DOURADO NA REGIÃO DO JALAPÃO/TO: UMA ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO PARA AS MULHERES COM BASE NO EMPODERAMENTO

ARTISANAL ACTIVITY OF CAPIM DOURADO IN THE JALAPÃO/TO REGION: AN ANALYSIS OF ECONOMIC DEVELOPMENT FOR WOMEN BASED ON EMPOWERMENT

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10008821


Aline Tavares de Sousa1
Temis Gomes Parente2


Resumo

Este artigo científico analisa a atividade artesanal do capim dourado na região do Jalapão, Tocantins, e seu impacto no desenvolvimento econômico, com foco nas mulheres. O capim dourado é uma planta nativa da região e suas fibras são utilizadas na confecção de produtos artesanais, como bolsas, chapéus e bijuterias. O estudo explora a importância socioeconômica dessa atividade para as mulheres, considerando seu papel na geração de renda, empoderamento feminino e sustentabilidade local. Utilizando métodos de pesquisa qualitativa, como entrevistas e observação participante, foram coletados dados junto às artesãs locais, associações e cooperativas. A análise dos resultados revela que a atividade artesanal do capim dourado oferece oportunidades de emprego e renda para as mulheres da região, muitas das quais encontram na arte uma alternativa econômica sustentável.

Palavras-chave: Atividade artesanal com capim dourado. Desenvolvimento econômico. Mulheres. Sustentabilidade. Igualdade de gênero.

Abstract: This scientific article analyzes the artisanal activity of golden grass in the region of Jalapão, Tocantins, and its impact on economic development, focusing on women. The golden grass is a plant native to the region and its fibers are used in the manufacture of handcrafted products, such as bags, hats and jewelry. The study explores the socioeconomic importance of this activity for women, considering its role in income generation, female empowerment and local sustainability. Using qualitative research methods, such os interviews and participant observation, data were collected from local artisans, associations and cooperatives. The analysis of the results reveals that the artisanal activity of golden grass offers employment and income opportunities for women in the region, many of whom find in art a sustainable economic alternative.

Keywords: Craft activity with golden grass. Economic development. Women. Sustainability, Gender equality.

INTRODUÇÃO

A atividade artesanal do Capim Dourado na região do Jalapão, em Tocantins, tem ganhado reconhecimento pela sua beleza única e intrincado design. Esta tradicional técnica é predominantemente produzida por mulheres e se tornou uma importante fonte de renda para muitas famílias na região. No entanto, apesar da crescente popularidade, pouco se sabe sobre o impacto econômico do Capim Dourado na vida das mulheres e de suas comunidades. 

Este artigo tem como objetivo analisar o desenvolvimento econômico gerado pelo Capim Dourado na região do Jalapão, com um enfoque específico no papel das mulheres na produção e comercialização deste artesanato. Ao explorar o significado econômico e social do Capim Dourado, este artigo busca destacar o potencial dos artesanatos tradicionais como meio de empoderamento feminino e de promoção do desenvolvimento econômico sustentável em comunidades rurais.

Para se alcançar os resultados desejados em relação às informações, dividiu-se essa pesquisa e seus respectivos resultados: a) pesquisa realizada no ano de 2012, capaz de revelar com detalhes o cotidiano das mulheres estavam ainda emergindo na realidade considerada, processo de empoderamento; b) nova abordagem 10 anos após, a primeira com algumas mulheres do grupo original, para saber do novo olhar sobre o que seria desenvolvimento econômico e as suas consequências.

Ao utilizar a história oral para discutir o empoderamento das mulheres artesãs a partir desses fatores impulsionadores e inibidores, é possível não apenas compreender melhor suas experiências individuais, mas também identificar padrões e tendências mais amplas que podem auxiliar na formulação de políticas e ações voltadas para o fortalecimento dessas mulheres no campo artesanal.

Metodologicamente, é preciso observar que esse estudo se valeu de escuta qualificada, com roteiro escrito apenas para a pesquisadora, que o material foi obtido em tom de conversa, não necessitando, assim, de autorização de instâncias superiores para a sua aprovação, apenas o contrato verbal estabelecido com as mulheres. Conforme Santos (2014), tal termo faz referência ao resgate do respeito à vida   humana, levando-se   em   consideração   as circunstâncias   sociais, éticas, educacionais e psíquicas   implicadas   em   todo   relacionamento humano (SANTOS, 2014). 

A atividade artesanal com o capim dourado 

A região XVI do Estado do Tocantins, conhecida como Jalapão, é composta por sete municípios e possui uma área de 53,3 mil km², com destaque para as belezas naturais, como dunas, serras, rios e cachoeiras, que atraem turistas de diversos lugares. Essa região é composta pelos municípios de Ponte Alta do Tocantins, Santa Tereza, Lizarda, Novo Acordo, São Felix do Tocantins, Rio Sono e Mateiros de acordo com Tocantins (2019). 

Nesse cenário, o artesanato do capim dourado desponta como uma atividade econômica relevante desde a década de 90, impulsionado pela grande procura dos visitantes pelos produtos confeccionados com a planta. O governo estadual, em parceria com entidades como a Fundação Cultural do Tocantins e o SEBRAE, estimulou a criação de associações de artesãos a partir do ano 2000, o que tem sido fundamental para o desenvolvimento coletivo da atividade (TOCANTINS, 2015)

A origem do artesanato com capim dourado se deu na comunidade Mumbuca, em Mateiros-TO, e hoje é fonte de renda para muitas mulheres da região, que não precisam abandonar suas atividades domésticas para se dedicar exclusivamente à produção das peças. Essa autonomia financeira é um dos fatores que tornam a atividade artesanal com o capim dourado tão importante para as mulheres da região do Jalapão (TOCANTINS, 2015)

Atualmente grande parte das moradoras encontram na produção do artesanato renda que mantem suas despesas imediatas além de proporcionar melhor qualidade de vida para a população. O artesanato é considerado como uma atividade informal porque o produtor direto é o possuidor dos instrumentos de trabalho e/ou do estoque de bens para a realização do seu trabalho e responsável pela renda, isto se dar, por ser uma atividade informal, caracterizada pela relação do artesão, autônoma, relativo aos seus meios de produção e à gestão de sua renda. Embora, não se possa fornecer referências externas específicas, pode-se explicar o contexto em que essa afirmação é geralmente válida (RODRIGUES, 2021). 

Para a autora, o termo “informal” refere-se a atividades econômicas que ocorrem fora das estruturas formais do mercado, como empresas registradas, regulamentadas e com vínculos empregatícios definidos. O artesanato muitas vezes se enquadra nessa definição, pois é frequentemente realizado por indivíduos ou pequenos grupos de artesãos que trabalham de forma independente, sem uma estrutura formal de negócios.

Uma característica-chave do artesanato é que o próprio artesão é o produtor direto das peças, possuindo os instrumentos de trabalho necessários, como ferramentas e materiais, bem como o estoque de bens prontos para venda. Essa autonomia e posse direta dos meios de produção são aspectos distintivos do artesanato. Além disso, o artesão também é responsável por gerir sua renda. Ao vender diretamente suas peças ou por meio de canais de comercialização, como associações, feiras ou turismo, o artesão assume o controle total do processo de venda e da obtenção de sua renda (RODRIGUES, 2021).

Essa autonomia e responsabilidade do artesão em relação aos seus meios de produção e renda podem caracterizar o artesanato como uma atividade informal, já que não está necessariamente vinculado a uma estrutura empresarial formalizada. No entanto, é importante observar que nem todos os artesãos operam exclusivamente de forma informal, e algumas iniciativas podem adotar estruturas mais formais, como cooperativas ou microempresas (LIÃO, 2018, p.85)

A importância para as mulheres que trabalham com o capim dourado reside no fato de que elas não precisam abandonar suas responsabilidades diárias no âmbito doméstico para se dedicarem exclusivamente ao artesanato. Pelo contrário, as mulheres conciliam as atividades, uma vez que não incorrem em custos adicionais para deslocamento – na maioria das vezes. Elas são responsáveis por todo o processo, desde a colheita da matéria-prima, o capim, até a confecção das peças e sua venda nas associações. Esse envolvimento abrangente lhes proporciona um empoderamento significativo.

Trabalho doméstico x atividade laboral das mulheres

De acordo com IBGE (2022), em 2019, a população com 14 anos ou mais de idade dedicava, em média, 16,8 horas semanais aos afazeres domésticos ou ao cuidado de pessoas, sendo 21,4 horas semanais para as mulheres e de 11,0 horas para os homens. De 2016 para 2019, essa diferença entre as médias masculina e feminina aumentou de 9,9 para 10,4 horas semanais (IBGE, 2022). 

Para Ferreira (2015), a questão do trabalho doméstico é um assunto incômodo, pois revela a disparidade social e de gênero. A literatura sobre o assunto, especialmente a produzida nos anos 70, indicava a possibilidade de substituir o trabalho doméstico individual por alternativas governamentais: serviços de lavanderia, restaurantes, creches e escolas. A responsabilidade pelo cuidado deveria ser atribuída ao Estado e ao coletivo, e não às unidades familiares. Essa perspectiva apontava em direção oposta à nova forma de capitalismo que emergiu nas últimas décadas do século passado, mas, em grande medida, o trabalho doméstico continuou a ser realizado no âmbito

doméstico.

Pesquisa realizada em abril de 2020 pelo LinkedIn indicou que 62% dos entrevistados estão mais estressados com o trabalho do que antes. Estes afirmam que têm trabalhado mais horas (68% têm trabalhado pelo menos uma hora a mais por dia, sendo que 21% chegam a trabalhar até quatro horas a mais). Além disso, 20% apontam dificuldades para conciliar as demandas do trabalho com o cuidado dos filhos (TOBIAS, 2020).

Esses resultados refletem os desafios enfrentados pelas pessoas neste período, especialmente durante épocas de instabilidade, como a pandemia, onde a fronteira entre trabalho e vida pessoal pode se tornar difusa, levando a um aumento do estresse e a dificuldades na conciliação de papéis. Evidenciando, que o mundo viveu entre março de 2020 a 05 de maio de 2023 uma emergência em saúde provocada pela pandemia de Covid-19. 

O PROCESSO DE EMPODERAMENTO DAS ARTESÃS

O conceito de empoderamento tem sido amplamente empregado em várias áreas do conhecimento, experimentando um aumento significativo, especialmente a partir da década de 90. O foco central desse conceito reside na força e na capacidade das pessoas de explorar e cultivar suas habilidades, a fim de superar desafios tanto individuais quanto coletivos (LISBOA, 2003).  

Assim, o ofício fomenta a autoestima e traz para as artesãs a sensação de pertencimento social e o efetivo empoderamento, fazendo com que o artesanato represente uma forma de resistência e independência, passando a ser a voz de como essas mulheres se expressam e se colocam no mundo (LEMES, 2022).

Neste trabalho utilizamos o conceito de empoderamento numa perspectiva feminista.

Primeiramente, empoderamento feminino é diferente de feminismo. Feminismo é resumidamente um movimento que prega a ideologia da equidade social, política e econômica entre os gêneros. Empoderamento feminino é a consciência coletiva, expressada por ações para fortalecer as mulheres e desenvolver a equidade de gênero. É uma consequência do movimento feminista e, mesmo estando interligados, são coisas diferentes. Empoderar-se é o ato de tomar poder sobre si. Dessa forma, também é possível fazer o empoderamento de outros grupos sociais, como o empoderamento negro e até empoderamento dos idosos, por exemplo (ASSIS, 2017).

              Ainda de acordo com a autora, as pessoas oprimidas ou que recebem menos atenção na nossa sociedade, muitas vezes não têm consciência de seu próprio poder, e as mulheres estão incluídas neste grupo. É daí que surge o empoderamento. Mulheres precisam reconhecer que elas são capazes, para então poder começar a fazer mudanças (ASSIS, 2017) 

Em 2010, a ONU lançou os princípios de empoderamento das mulheres, a fim de pôr em prática seus propósitos para um mundo melhor. São eles:  

  1. Estabelecer liderança corporativa sensível à igualdade de gênero, no mais alto nível.
  2. Tratar todas as mulheres e homens de forma justa no trabalho, respeitando e apoiando os direitos humanos e a nãodiscriminação.
  3. Garantir a saúde, segurança e bem-estar de todas as mulheres e homens que trabalham na empresa.
  4. Promover educação, capacitação e desenvolvimento profissional para as mulheres.
  5. Apoiar empreendedorismo de mulheres e promover políticas de empoderamento das mulheres através das cadeias de suprimentos e marketing.
  6. Promover a igualdade de gênero através de iniciativas voltadas à comunidade e ao ativismo social.
  7. Medir, documentar e publicar os progressos da empresa na promoção da igualdade de gênero.

Assim sendo, o fortalecimento implica uma transformação profunda nos procedimentos e nas estruturas que perpetuam a posição submissa da mulher. No âmbito das discussões sobre progresso, algumas organizações não governamentais (ONGs) enxergam o empoderamento como a estratégia principal para combater a pobreza e promover mudanças nas dinâmicas de poder. Entre as condições prévias para o empoderamento feminino, encontramse a existência de espaços democráticos e participativos, assim como a organização coletiva das mulheres (LISBOA, 2009)

Deve-se considerar, ainda, que o empoderamento é entendido como um processo através do qual, aqueles/as a quem era negado a capacidade de fazer escolhas estratégicas para suas vidas, adquirem tal capacidade. O empoderamento não é um processo linear, ocorre de forma diferente para cada pessoa (DEERE & LÉON, 2002, p. 55).

 Foi o que se percebeu durante a pesquisa com as mulheres artesãs, identificamos diferentes fases do processo, tanto os fatores inibidores como os impulsionadores.  O empoderamento implica, portanto, na expansão dos limites de fazer escolhas estratégicas, num contexto no qual isso era antes impossível/proibido/negado.   

Nesse artigo abordou-se os fatores impulsionadores e inibidores do empoderamento trazidos por Zapata (2003). Para esta autora os fatores impulsionadores são: 1 – renda suficiente, 5-participação em redes, 3 -acesso ao reconhecimento formal, 4 – informações, 5 -confiança e autoestima, 6 – desenvolvimento de habilidades e 7-desenvolvimento de lideranças. Já os fatores inibidores são: 1 -as responsabilidades domésticas, 2 – a opressão, 3 – a dependência econômica, 4 – a falta de apoios, 5 -a falta de capacitação e 6 – a falta de participação.  

Para discutir o processo de empoderamento das mulheres artesãs a partir dos fatores impulsionadores e inibidores utilizamos a história oral. Segundo Lang (2006, p. 93) a história oral constitui uma metodologia qualitativa de pesquisa voltada para o tempo presente; permite conhecer a realidade presente e o passado ainda próximo pela experiência e pela voz daqueles que o viveram”. Sobre o uso da história oral na pesquisa acadêmica Parente e Guerrero (2011) afirmam que: torna-se importante quando ela ultrapassa o modelo de simples coleção de histórias pessoais e se transforma em diálogo sobre o passado, estimulando novas interpretações (PARENTE E GUERRERO, 2011, p. 182).

Dessa forma a história oral permitiu entender as perspectivas individuais e coletivas das mulheres a partir da percepção da relevância de suas atividades como artesãs, e nos possibilitou, através das suas narrativas trazer para as nossas reflexões os fatores impulsionadores e inibidores do empoderamento. Trabalhar com a oralidade, a história e memória, como nos mostra Velôso (2013), não é buscar somente a verdade do que realmente aconteceu, é, porém, ir à busca dos significados que os indivíduos dão para as experiências que vivenciaram, isto é, em busca da subjetividade. (TEDESCHI, 2014, p. 27). 

 A história oral, portanto, é um gênero multivocal, resultado do trabalho comum de uma pluralidade de autores em diálogos argumenta Porteli (2017 p.20). 

E é por meio desse diálogo que é possível compreender nas palavras das artesãs o motivo, o momento e a forma como elas iniciam suas atividades com o capim dourado. Além das questões financeiras e da necessidade de sustentar suas famílias, elas também expressam o preconceito existente em relação ao trabalho artesanal com o capim dourado naquela comunidade. No entanto, à medida que essa atividade passa a gerar lucro e proporcionar segurança para suas famílias, a percepção se transforma e, consequentemente, há um investimento e uma preocupação em aprender o ofício. Essa é a mensagem transmitida pelas entrevistadas.

O que me levou a fazer o artesanato foi à questão, assim do melhoramento da vida financeira para estar ajudando na minha vida, na minha casa, e porque eu trabalho mais o que eu ganho não é suficiente. Então quando eu cheguei aqui, que eu estava morando em Palmas, eu vi o pessoal fazendo e não sabia de nada e falei assim: eu não vou aprender isso aí é nunca confiado em mim comer e dá comida para alguém com isso   eu não vou viver. Quando eu vi pagando bem, aí, eu disse: vou é tentar. E tentei aí consegui fazer e gostei (MARIA,2012)[1]  

Melhorou a vida das pessoas. Muito porque antes do capim dourado a gente não tinha geladeira, um fogão a gás, uma cama confortável para deitar, que antes era aquelas caminhas de reio e esteira e não tinha um colchão.   Não tinha nada disso e hoje através do capim dourado, tem ajudado muita gente que tem um fogão a gás, tem uma cama tem um colchão e temos tudo isso graças ao capim dourado tem um conforto e mesmo que a gente espera mais coisa para a comunidade Mumbuca a gente tem o desejo, que aconteça mais. Mais já melhorou muito, muito mesmo (JOANA, 2012)[2]

É notório em todas as casas das mulheres que participam das atividades com o capim dourado melhores condições de vida no contexto doméstico, pois a renda que essas mulheres têm adquirido com a venda do artesanato é investida em bens que tornam a vida de suas famílias mais confortáveis. Para Deere & Léon (2002), na América Latina, há um volume crescente de evidências demonstrando que a mulher tem maior probabilidade de colocar qualquer renda que receba individualmente no fundo como para o benefício da família.

O homem tem maior probabilidade de gastar parte de sua renda em desejos pessoais (especialmente bebidas alcoólicas e fumo), contribuindo com apenas uma parte de seus ganhos para o fundo da família.

É possível perceber que as atividades das artesãs com o capim dourado não são mais como uma ajuda. Através das narrativas, a renda que elas conseguem com a venda das peças mantêm as suas casas com todas as despesas. Veja abaixo o seguinte relato da entrevistada: 

Aqui, a gente ver, assim que as mulheres tão mais habituadas mais enturmadas. As mulheres têm mais forças.  Os homens são mais tímidos e acaba que as mulheres tomam a frente porque também a comunidade foi criada por uma mulher, as mulheres sentem que tem maior peso.  Elas são as que mais trabalham. Porque elas costuram cuida da casa os homens não tem essa responsabilidade. A responsabilidade da casa fica grande para a mulher além dela costurar ela trabalha em casa e as vezes o homem só trabalha na roça. O peso mesmo é das mulheres. Quem sustenta é ela que produz capim dourado porque os homens não têm salário não tem nenhum serviço para trabalhar (ANA, 2012)[3]

É assim, porque a gente além da preocupação e de a gente trabalhar e esforçar e ver que o marido não está pegando dinheiro para sustentar, é um momento que é difícil para gente tolerar. Difícil assim quando eu chego hoje em casa não tem nada em comparação, faltaram as coisas aí eu chego nele e ele não tem dinheiro às vezes no momento em que eu não tenho não vendeu alguma peça minha, aí como é que eu vou ficar.  Eu fico pensando como é que é. Agora você não tem dinheiro e minha peça que eu coloquei na loja ainda não vendeu e agora? Aí é um pouco difícil quando eu vou à associação e vejo que vendeu alguma peça minha, chego lá compro o açúcar o sabão compro outras coisas (JOAQUINA, 2012)[4]

Cabe que se evidencie, que os diálogos apresentados neste tópico foram obtidos na escuta realizada em 2012. Em atenção ao que determina a lei relativo à proteção de dados por meio da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), Lei n° 13.709/2018, promulgada para proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade e a livre formação da personalidade de cada indivíduo, Brasil (2018), atribuiu-se pseudônimo às entrevistas nos dois períodos, em 2012 e em 12023.   

Nestas falas, desponta um dos fatores impulsionadores no processo de empoderamento que é a renda. A renda que essas mulheres recebem com a produção do artesanato é um meio delas contarem com uma segurança para suas famílias e um conforto para elas nas suas atividades domésticas, pois, é a partir dessa atividade que elas vão adquirir bens domésticos, coisas que elas nunca tiveram. Apesar dessas mulheres terem consciência que sua qualidade de vida melhorou, em suas falas, não fica claro que não percebem que são elas que sustentam suas famílias e acrescentam que o que elas estão fazendo é justamente ajudar nas despesas de casa, em muitos casos os seus maridos ficam muitos meses sem ter nenhuma atividade remunerada. 

As falas das mulheres entrevistadas fortalecem o que afirma Lisboa (2013, p. 126).

A autoridade masculina está relacionada com o mundo externo e é abalada quando o homem não garante o teto e o alimento à família. Ficar desempregado é “desmoralizador” para os homens, não tanto pelo fato de não exercer plenamente seu papel de provedor, mas porque numa cultura patriarcal é vergonhoso ser sustentado pela mulher (LISBOA, 2013, p. 126)

As mulheres em momento algum durante as entrevistas admitem que seus maridos sejam sustentados por elas, como nos mostra o trecho a seguir: 

Assim, às vezes meu esposo diz assim: lembre-se que eu que sou o homem (risos). Só que ele volta atrás e fala que hoje os direitos são iguais que as mulheres tão percebendo que elas tão tendo mais oportunidades até mesmo de mandar na casa de comprar as coisas de casa que às vezes a mulher trabalha até mais que o homem. Então, eu acho assim que no meu caso eu não o ultrapasso porque sei que ele que é o homem, o que eu posso fazer como mulher eu to fazendo. Ultrapassar assim falar assim: é eu que decido é eu que faço isso, é meu isso, foi eu que comprei isso aqui, é eu que tenho que fazer. Eu deixo na decisão dele ele que é homem (ISABEL, 2012)[5].

Além da contribuição da renda que gera às atividades com o artesanato, o contato com outras artesãs faz com que as mulheres das associações percebam a importância das informações trocadas entre elas, proporcionando uma formação de rede que visibiliza a importância delas naquele contexto.

Como demonstra a entrevistada, os homens, até tentam reconhecer os direitos das mulheres, mas são considerados sujeitos dominadores na visão dessas mulheres e as mesmas já tem a consciência de que são eles, quem mandam, e, que detém o poder de decidir, quanto acontecimentos da casa, e não tem noção do grau de sujeição em que se encontram. Esse reconhecimento do marido, que ele tenta transmitir quando começa a reconhecer os direitos das mulheres, pode ser considerado um ponto positivo no processo de empoderamento, mas acaba sendo dificultado quando ela afirma que não se materializam nas ações cotidianas. 

O que acontece, por exemplo, com a situação vivida por essa mulher é o que Bourdieu (2003, p. 47), categoriza como uma violência simbólica. 

A violência Simbólica se institui por intermédio da adesão que o dominado não pode deixar de conceder ao dominante (e, portanto, a dominação) quando ele não dispõe, para pensar, ou melhor, para pensar sua relação com ele, mais que instrumentos de conhecimento que ambos têm em comum e que, não sendo mais que a forma incorporada da relação de dominação, fazem esta relação ser vista como natural (BOURDIEU, 2003, p. 47).

 Dessa forma o processo de empoderamento torna se difícil, pois outro passo para o empoderamento deve ser o despertar da consciência por parte das mulheres em relação à discriminação de gênero: reconhecer que existe desigualdade entre homens e mulheres, indignar-se com esta situação e querer transformá-la, é o que reforça (LISBOA, 2013).  O que não acontece com essas mulheres, elas não se indignam com a situação, para elas é normal viver essa situação de opressão e que são os homens que “mandam”, mesmo sendo às mulheres responsáveis pela manutenção das famílias. 

A maioria das mulheres entrevistadas possuíam ocupações formais, como merendeiras, copeiras e faxineiras em escolas. No entanto, nenhuma delas deixa de cumprir as tarefas domésticas, tendo que equilibrar seu tempo entre o lar e os empregos fixos. Nesse contexto, o artesanato é visto apenas como uma forma de “aumentar a renda”, embora em suas palavras seja evidente que essa atividade tenha proporcionado uma melhoria em sua qualidade de vida.

É um bem bolado que eu faço lá e consigo assim: eu trabalho um período no meu serviço e no outro período eu estou em casa para cuidar da casa de alguma coisa na casa e aquele tempinho que eu tenho eu vou lá e vou costurar mais, quando eu estou com pedido ai eu tenho que deixar mais a casa de lado e pegar mais no artesanato e costurar se não, não dou conta de entrega na época certa (RITA,

2012)[6] 

Pela narrativa acima é possível perceber a riqueza das informações das atividades cotidianas das mulheres artesãs e os lugares de gênero que todas elas ocupavam naquele momento. Mesmo com os compromissos de entrega das peças de artesanato elas não ficavam sem as responsabilidades das atividades domésticas, poderiam até atrasar, mas nunca deixavam de fazer. Sendo essas responsabilidades domésticas um dos elementos em que contribuem para inibir o empoderamento. 

Como afirma Deere e Léon (2002) o empoderamento é visto como a base para gerar visões alternativas por parte da mulher, assim como o processo pelo qual estas visões se tornarão realidades, à medida que as relações sociais mudarem. Dentre as condições prévias para o empoderamento da mulher, estão espaços democráticos e participativos, assim como organização das mulheres (DEERE; LEON, 2002, p.53).

  Na região do Jalapão como já foi abordado anteriormente a partir da repercussão adquirida do artesanato começou a ser criadas associações como uma forma de organização dos artesãos locais, iniciando um processo embrionário de engajamento político, principalmente por parte das mulheres. A partir das associações as mulheres perceberam que tinham o poder de decidir e de intervir em buscar melhorias para o coletivo. As associações dos artesãos do capim dourado na região são “espaços possíveis de visibilidade da mulher enquanto sujeito” (PINTO, 1992, p. 129). 

É o que explicita a seguinte narrativa: 

Fui a primeira presidente da associação do Mumbuca. Eu tive muita dificuldade assim, eu viajava porque o presidente não fica parado é o tempo todo viajando, trazendo informação. Eu não conhecia muito a cidade, depois a gente foi acabando mais as dificuldades, pegando informação de pedir as coisas, acabando a timidez, tinha medo muito medo aí fui abrindo com as pessoas, dando informação, pedindo informação para a comunidade, aí fui acabando mais o acanhamento até que fim. A gente foi viajando mais longe pedindo, contando a história da comunidade, o que precisavam, o que a gente queria, aí foi acabando mais o “enfocamento”, aí a gente foi levando as peças do capim dourado feita para Brasília, Rio de Janeiro, Goiânia, Goiás Velho e outras cidades. Fui várias vezes (MADALENA, 2012)[7].

Compreendemos então a partir da fala dessas duas mulheres artesãs, as suas lutas por melhorias, engrenagens do processo de desenvolvimento econômico para as mulheres em regiões específicas, como é o caso do Jalapão. As mulheres que vivem em áreas rurais desempenham um papel econômico crucial, contribuindo de várias maneiras para a renda familiar e para o desenvolvimento de suas comunidades. No entanto, ao longo da história, essas mulheres têm enfrentado dificuldades devido à estrutura desigual das relações sociais de gênero. Seu papel como trabalhadoras e cidadãs na unidade produtiva muitas vezes é invisibilizado, o que acaba reforçando sua posição no espaço doméstico (SANTOS, ET AL., 2016, p. 131)

  No segundo depoimento verifica-se, nitidamente aspectos da

subjetividade presente na história oral, pois, ao contar sobre as suas dificuldades a mulher mostra o seu real significado de estar à frente da presidência, recorda dos problemas e revela seus temores. Para as autoras, embora haja avanços significativos no reconhecimento da contribuição do trabalho da mulher para o desenvolvimento, ainda existem muitos desafios a serem superados (SANTOS, ET AL., 2016, p. 131).

Identifica-se, elementos impulsionadores do empoderamento como a participação em redes, visível a partir do momento em que adentram na associação, principalmente quando ocupam algum cargo e este proporciona o

desenvolvimento de liderança, com o consequentemente aumento da autoestima. Como afirma Saffioti (2004), o empoderamento significa atribuir poderes às mulheres, elevando, por exemplo, sua autoestima.  As mulheres só irão se empoderar quando se unirem, pois sozinhas elas não vencerão essa luta

Participar e assumir algum cargo nas associações é um dos fatores que podem promover o empoderamento. Porém a falta de apoio dos maridos companheiros é uma constante, principalmente no início, a narrativa abaixo ilustra as muitas falas das mulheres que ocuparam ou ocupam as presidências das associações:

É muito difícil você ter que assumir o cargo de presidente, difícil por causa do marido, porque ele não compreendia eu tá viajando, de não está presente em casa, de passar da hora de fazer o almoço que às vezes acontecia, não era fácil (MADALENA, 2012)

A insistência dessas mulheres de enfrentarem essas dificuldades coaduna com o que Lisboa infere: que o início da participação da mulher no espaço público leva ao rompimento com certas normas vigentes no interior da família. A decisão de levar adiante uma situação política provoca a resistência dos maridos e dos filhos e a quebra das rotinas do cotidiano familiar e de certos padrões morais predominantes no interior da família e da comunidade.   No processo de empoderamento as mulheres precisam obter essa ajuda em casa de seus maridos como, por exemplo, a divisão das tarefas domésticas, o marido precisa aceitar que a mulher tem um compromisso fora do lar que ela tem capacidade de realizar funções além das domésticas. Como mostra Deere & Léon (2002, p. 48) “enquanto os papéis de gênero persistirem e a divisão do trabalho por gênero permanecer a mesma, homens e mulheres não terão a mesma igualdade de oportunidades”. Enquanto isso, o homem continuou a querer exercer o poder sobre todas as decisões no lar e a mulher sendo responsável pelas atividades domésticas no espaço privado, sendo acusada de ter acesso ao espaço público.

Uma visão atual do desenvolvimento econômico por meio do artesanato

Não é surpreendente que o artesanato tenha se estabelecido como uma ferramenta crucial para a manifestação cultural e a obtenção de receita. Ao contrário, esse formato de emprego opera como um paradoxo, uma vez que emerge de um conservadorismo histórico e uma reinvenção constante na variedade social das localidades brasileiras.

Para Peixoto (2020), assim, os frutos obtidos se tornam uma maneira de assegurar a subsistência de inúmeras famílias, com a maior parte desse trabalho sendo realizado por mulheres. Ao longo da história, as artesãs uniram suas ideias e converteram sua criatividade em arte, utilizando tecidos, pedaços de tecido, objetos decorativos, utensílios domésticos, costura e uma variedade de outras formas para expressar suas emoções.

De acordo com o que se verificou neste segundo bloco de conversa com algumas mulheres, é perceptível a consciência da importância da atividade econômica para elas, a exemplo da fala das artesãs entrevista em 2023: 

Houve melhorias sim o capim dourado é uma renda, eu costumo dizer é o ouro do jalapão, porque o capim dourado chegou e melhorou a vida de muita gente não só a minha mais de muita gente, então tem muita gente que depende do capim dourado para sobreviver. Então é uma renda que às vezes as pessoas, param até, de ir à prefeitura pedir alguma coisa porque essa renda é satisfatória, porque aí não fica sem ter o seu próprio dinheiro (FÁTIMA, 2023)[8]

Sim, já teve melhorias sim eu acho que muitas pessoas já conseguiram muita coisa a partir do artesanato do capim dourado. Eu já consegui muita coisa com dinheiro de capim dourado (BRANCA, 2023)[9]

Acredito que sim acho que minha vida já mudou muito com capim dourado do tempo que eu costuro, emprego aqui é muito difícil e as vezes tem gente que consegue ganhar mais com artesanato do que trabalhando (BENEDITA, 2023)[10]

As associações constituem espaços propícios para a troca de experiências e o aprimoramento das habilidades artesanais, além de proporcionarem interações com outros órgãos e agentes externos. Nesse contexto, as artesãs destacam a relevância desses espaços ao evidenciar sua importância:

A associação está bem organizada agora somos 19 mulheres atualmente, quando chega o pedido é dividido certinho é através dela que estamos crescendo. E principalmente quando tem as feiras nos organizamos para participar, e vende bastante. A associação junto as mulheres tem desenvolvido bem (BENTA, 2023)[11]

A associação para mim está bem organizada já teve períodos piores com a não participação das mulheres e muitas vezes as mulheres não assumia a presidência e fica aquela coisa, ruim, ninguém querer tomar de conta, mais agora está bem organizada está tendo muitos pedidos de clientes de fora (CARLOTA, 2023)[12]

A associação está boa nos últimos tempos tem mulheres que bota suas peças lá e conseguimos vender aos poucos. E tem os pedidos que vem de compradores que aí divide o pedido (EVA, 2023)[13]

A participação das mulheres em associações desempenha um papel crucial no empoderamento feminino, uma vez que proporciona não apenas a troca de informações, mas também o desenvolvimento de habilidades, o aumento da confiança e da autoestima, além do fomento ao processo de desenvolvimento de liderança.

É importante ressaltar que as associações são compostas tanto por homens como por mulheres, e em alguns casos, homens já ocuparam cargos de presidente. Na comunidade Mumbuca, por exemplo, houve apenas uma vez em que um homem assumiu a presidência, enquanto em outros municípios a realidade difere significativamente, com os homens assumindo frequentemente a diretoria ao longo de diferentes mandatos. No entanto, as próprias mulheres que integram essas associações percebem a diferença quando uma mulher assume a posição de liderança, o que reforça os papéis de gênero que são perpetuados através da atividade artesanal do capim dourado. Isso é bem visível na fala a seguir. 

Eu tava era bem aqui em casa descansando só que as mulheres sempre dizem assim que com funcionário homem ou presidente homem elas não sentem a vontade na associação. Eu nem sei em que medida elas não sentiam a vontade, mas acho que não é a mesma coisa. Elas falaram quando eu entrei: Vanda agora eu me sinto mais a vontade na associação sinto mais assim que to pertencendo a associação. Eu acho assim que a mulher ela é mais compreensiva assim de entender as outras não é querer desfazer dos homens, não, mas acho que tem uma compreensão melhor às vezes um homem não e muito dedicado assim nas tarefas (VANDA, 2012)[14]

A partir das declarações das artesãs, podemos compreender as dinâmicas de gênero presentes nos espaços associativos. Para as mulheres, é evidente que ocupar uma posição de liderança é mais satisfatório quando a líder é uma mulher em vez de um homem. Percebe-se que essas artesãs enfrentam dificuldades ao lidar com questões relacionadas à dinâmica interna da associação, resultando em sentimentos de inferioridade quando estão sob a liderança de um presidente do sexo masculino. No entanto, quando uma mulher ocupa a posição de liderança, elas se sentem mais confortáveis para se expressar, dialogar de forma clara e expor suas opiniões individuais sem receios.

Neste segundo bloco de conversa, pode-se evidenciar algumas questões em tom de análise da situação vivenciada pelas artesãs do capim dourado:  suas respostas demonstram uma mentalidade empreendedora e um desejo de crescimento constante. No entanto, as respostas sobre as condições de trabalho entre homens e mulheres mostra certa falta de clareza e coerência. Menciona que as mulheres são mais organizadas e têm mais tempo para trabalhar com capim dourado, enquanto os homens têm outros afazeres. Essa resposta sugere que as condições de trabalho não são iguais entre os gêneros.

Para se alcançar os objetivos da pesquisa, optou-se no segundo bloco, por saber qual a relevância das políticas públicas. Elas destacam o papel das políticas públicas de atendimento à mulher, que promovem o empoderamento feminino. Apontam a importância de cursos e palestras oferecidos pelo Sistema S, embora ressalte que gostaria que houvesse mais iniciativas desse tipo no município. 

Esses dados fornecem uma visão geral das opiniões e percepções dos entrevistados sobre empreendedorismo, igualdade de gênero, comercialização de peças, melhoria na qualidade de vida, políticas públicas e organização da associação que em tese também, se aplicam ao que propôs a pesquisa realizada. 

CONSIDERAÇÕES 

Através das reflexões contidas nos depoimentos das mulheres artesãs, constata-se que o trabalho artesanal com o capim dourado tem se apresentado como uma alternativa de renda em uma região marcada por escassez de oportunidades de trabalho tanto para homens quanto para mulheres. É somente por meio do estímulo ao turismo na região e do reconhecimento do valor do artesanato do capim dourado que essa realidade poderá ser transformada, impactando as condições de vida de muitas famílias residentes no Jalapão. A princípio, observa-se uma melhoria significativa nas condições materiais dessas famílias.

Os depoimentos da maioria das mulheres demonstram satisfação em fazer parte de um grupo que compartilha um objetivo comum: a produção artesanal. Ao participarem das associações, elas aprenderam a valorizar mais seus produtos, eliminando a venda para intermediários que não ofereciam um preço justo. Além disso, afirmam que a qualidade dos produtos comercializados melhorou devido ao aprimoramento adquirido coletivamente. As mulheres sentem-se mais confiantes e capazes, reconhecendo que, coletivamente, há uma maior possibilidade de compartilhar experiências e conhecimentos.

No entanto, ao compreendermos suas falas, percebemos que, apesar da melhoria significativa das condições de vida delas e de suas famílias, essas mulheres não estão plenamente conscientes de que, devido à herança cultural das desigualdades de gênero – entendida aqui como fatores que inibem o empoderamento -, é impossível alcançar o que Dias e Romano destacam em relação ao empoderamento feminino, o qual pode viabilizar ações transformadoras. Uma mudança dessa natureza, que se desenvolve no cotidiano, implica enfrentar a dor das escolhas necessárias, a negação ou a recusa de uma tradição e de sua zona de conforto, além de demandar um esforço adicional considerável.

Ao mesmo tempo, essas mulheres têm ampliado suas capacidades de agir e lutar, aproveitando as oportunidades proporcionadas pela participação nas associações, o que tem permitido o desenvolvimento da confiança e autoestima por meio do aprimoramento e valorização das atividades relacionadas ao artesanato do capim dourado.

REFERÊNCIAS

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[1] MARIA. Escuta realizada no município de Mateiros-TO em outubro de 2012

[2] JOANA. Escuta realizada no município de Mateiros-TO em outubro de 2012

[3] ANA. Escuta realizada na Comunidade Quilombola Mumbuca/Mateiros-TO em outubro de 2012

[4] JOAQUINA. Escuta realizada na Comunidade Quilombola Mumbuca/Mateiros-TO em outubro de 2012

[5] ISABEL. Escuta realizada em Mateiros-TO em outubro de 2012

[6] RITA. Escuta realizada em Mateiros-TO em outubro de 2012.

[7] MADALENA. Escuta realizada na Comunidade Quilombola Mumbuca/Mateiros-TO em outubro de 2012

[8] FÁTIMA. Escuta realizada em Ponte Alta do Tocantins-TO em maio de 2023

[9] BRANCA. Escuta realizada em Ponte Alta do Tocantins-TO em maio de 2023

[10] BENEDITA. Escuta realizada em Ponte Alta do Tocantins-TO em maio de 2023

[11] BENTA. Escuta realizada em Ponte Alta do Tocantins-TO em maio de 2023

[12] CARLOTA. Escuta realizada em Ponte Alta do Tocantins-TO em maio de 2023

[13] EVA. Escuta realizada em Ponte Alta do Tocantins-TO em maio de 2023

[14] VANDA. Escuta realizada em Ponte Alta do Tocantins-TO em maio de 2012


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