ESTUDO REFLEXIVO SOBRE O USO DAS FEIRAS DE CIÊNCIAS COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA PARA A ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8411143


 Hélio Peres da Silva1
Fecinei Fatim Pereira2
Ana Carla Peres da Silva3
Elenilce da Silva Suterio4
Hélio Peres da Silva Júnior


RESUMO

Esta pesquisa tem como objetivo realizar um estudo reflexivo sobre analisar a importância do uso da feira de ciências como uma ferramenta pedagógica para a alfabetização científica na educação básica, tendo o intuito de refletir sobre as contribuições que esse recurso pode trazer na alfabetização científica dos alunos, utilizando-se de uma revisão de literatura a fim de se obter resultados plausíveis para a construção do pensamento filosófico desse estudo. Trata-se de uma revisão bibliográfica, sendo analisado o contexto das feiras de ciências no Brasil e uma reflexão sobre a alfabetização científica dentro das feiras de ciências. Desse modo, pode-se inferir que a feira de ciências fornece uma plataforma para alunos e professores, onde eles podem aprender com as experiências uns dos outros e se motivarem a projetar e desenvolver algo significativo e inovador, permitindo a promoção do pensamento criativo e das habilidades de manipulação entre as crianças através de projetos ou modelos científicos auto-concebidos.

Palavras-chaves: Feira de Ciências. Ferramenta pedagógica. Alfabetização científica. Educação básica.

ABSTRACT

This research aims to carry out a reflective study on the analysis of the importance of using science fairs as a pedagogical tool for scientific literacy in basic education. I intend to reflect on the contributions that this resource can bring to students’ scientific literacy, using a review of literature in order to obtain plausible results for the construction of philosophical thought in this study. This is a bibliographical review, analyzing the context of science fairs in Brazil and a reflection on scientific literacy within science fairs. Thus, it can be inferred that the science fair provides a platform for students and teachers, where they can learn through joint experiences and will be motivated to design and develop something meaningful and innovative, allowing the promotion of creative thinking and manipulation skills. among children. through self-designed scientific projects or models.

Keywords: Science Fair. Pedagogical tool. Scientific literacy. Basic education.

INTRODUÇÃO

De acordo com Santos & Ferreira (2018), o processo de ensino-aprendizagem vem passando por um logo período de transformação, sendo evidente a necessidade da busca por novas ferramentas e até mesmo estratégias pedagógicas, a fim de abranger um número máximo de estudantes que possam verdadeiramente assimilar de forma satisfatória os conteúdos administrados em sala de aula e consequentemente compreenderem a importância de se estudar cada assunto dentro da nova globalização (ALVES, 2020).

O que se pode observar é que, para se obter o conhecimento significativo, o estudante deve participar de maneira ativa do processo de ensino-aprendizagem. Então, o professor, na concepção de Weber (2016) e Machado & Wollmann (2020) deve ser o orientador e mentor de cada aluno, para se obter eficácia na estratégia aplicada, repensando sua prática e trabalhando efetivamente no letramento científico, possibilitando uma vertente relacionada a função social com finalidade de romper com o modelo de ensino tradicionalista ainda praticando em muitas escolas. 

Neste contexto, a alfabetização científica, segundo Araújo (2015) aparece como um fator chave para o processo de ensino e deve ser incentivada na educação básica por intermédio de atividades que oportunizem a autonomia dos alunos e o exercício de uma prática docente que não seja embasada na repetição de conteúdos e reprodução do conhecimento.

Dentro dessa perspectiva, as feiras de ciências, vem ao longo dos anos, ganhando força e se tornando uma prática pedagógica muito requisitada em diversas escolas (LIMA, 2018), consolidando-se como uma ferramenta plausível ao ser aplicada com o intuito da promoção da melhoria do processo de ensino-aprendizagem, abrangendo a interdisciplinaridade, a contextualização e a divulgação científica (RODRIGUES et al., 2019).

Na concepção de Weber (2016), há eficiência na utilização da feira de ciências como prática de ensino, produzindo como benefícios pedagógicos o interesse dos alunos no quesito científico e principalmente no incentivo à pesquisa. Dessa maneira, as feiras de ciências se apresentam como uma fonte fundamental de aprendizagem, que contribui, de acordo com as pesquisas levantadas sobre a temática, para o desenvolvimento das mais diversas habilidades e competências pelos estudantes, além de oportunizar a aproximação entre a comunidade e a escola por intermédio da divulgação científica e da socialização do conhecimento acadêmico (ARAÚJO, 2015).

Desse modo, esta pesquisa tem como objetivo realizar um estudo reflexivo sobre analisar a importância do uso da feira de ciências como uma ferramenta pedagógica para a alfabetização científica na educação básica, tendo o intuito de refletir sobre as contribuições que esse recurso pode trazer na alfabetização científica dos alunos, utilizando-se de uma revisão de literatura a fim de se obter resultados plausíveis para a construção do pensamento filosófico desse estudo. 

CONTEXTO HISTÓRICO DAS FEIRAS DE CIÊNCIAS NO BRASIL: CENÁRIO EDUCACIONAL

De acordo com Rolan (2016), a ideia de Feira de Ciências foi concebida e discutida pelo professor José Reis junto ao Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura (IBECC/SP), nos anos de 1956 e 1957, buscando estabelecer um diálogo entre o meio acadêmico, representado pelas universidades e a sociedade, fora dos muros universitários. 

Na época, o IBECC que possuía entre outras finalidades a de melhorar a qualidade de ensino das ciências experimentais, através de projetos de divulgação científica, tais como as Feiras de Ciências, passa a ser responsável pela produção de material didático e kits de ciências.

Diante disso, percebe-se a inusitada interação entre educação em ciências, divulgação científica e inovações tecnológicas, onde em 1958 o IBECC foi convidado a sediar o Concurso Cientista de Amanhã, durante a Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). 

Assim desde 1958 o Concurso Cientistas de Amanhã passou a ser realizado nas cidades onde acontecia a Reunião Anual da SBPC. O objetivo educacional à época era a estimulação dos alunos para a participação nas variadas etapas da aplicação do método científico, desde a identificação do problema até a análise dos resultados obtidos. Ou seja, buscava-se a aplicação do pensamento lógico e racional, considerando a necessidade de que o cidadão comum pudesse aplicá-lo à tomada de decisões e resolução de problemas em relação ao meio em que vive (MACEDO, 2017). 

Na década de 1960, mais precisamente em 1961, foi elaborada a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) nº 4.024, que teve como uma de suas medidas o caráter obrigatório da disciplina: Iniciação à ciência, a partir da série equivalente nos dias atuais, ao sexto ano do ensino fundamental. Também ocorreu um aumento expressivo da carga horária das disciplinas de Biologia, Física e Química no então chamado Colegial, que atualmente corresponde ao Ensino Médio. 

Surgiram em 1963 em nosso país, as iniciativas no Ministério da Educação (MEC) que originaram a criação dos Centros de Ciências, que favoreceram a aplicação da metodologia científica, iniciando-se assim as atividades dos Centros de Ciências, aliadas com uma atuação expressiva do IBECC. Nesta época, entre 1963 e 1965, ocorreu a criação da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento do Ensino de Ciências (FUNBEC), tais estratégias consideradas pioneiras na iniciação às ciências, permitiram aos professores e estudantes a realização de experimentos fora do ambiente escolar, representando assim, em nosso país as primeiras atividades de utilização de espaços não formais para atividades educativas, tais como as Feiras de Ciências.

As feiras de ciências além de serem realizadas nas escolas, eram realizadas em clubes de ciências. Nesse sentido, encontramos nos estudos do Programa Nacional de Apoio às Feiras de Ciências da Educação Básica – FENACEB (OLIVEIRA, 2013), a referência à relevância dos Centros de Ciências, que proporcionaram o surgimento e a consolidação de inúmeras atividades voltadas para a prática do Ensino de Ciências, propiciando a divulgação científica e preparação de jovens da escola primária e secundária na iniciação científica, através da execução de atividades práticas variadas, onde se destacaram os Clubes de Ciências e as Feiras de Ciências como atividades desses Centros. 

Segundo Vitor (2016), a expansão do movimento das Feiras de Ciências aconteceu, efetivamente, quando recebeu apoio das Secretarias Estaduais de Governo através do suporte dado aos Centros de Ciências, vinculados ao Ministério da Educação, assumindo dimensões nacionais. Considera-se então que, de acordo com o levantamento pesquisado, que durante a década de 60, começaram a ser realizadas as primeiras Feiras de Ciências no Brasil, acontecendo na cidade de São Paulo nas instalações da Galeria Prestes Maia, fomentadas pela união IBECC/UNESCO. 

Durante este levantamento bibliográfico observou-se o valioso apontamento referente à execução da primeira Feira Nacional de Ciência (I FENACI) ocorrida em 1969, entre 22 a 29 de setembro no Rio de Janeiro, no Pavilhão de São Cristóvão, reunindo o total de 1.633 trabalhos. Vários estados e até mesmo territórios brasileiros participaram, totalizando 4.079 alunos de todo o Brasil. 

Os primeiros anos de 1970 marcam o surgimento do Projeto Nacional para Melhoria do Ensino de Ciências (PNMEC), em virtude da não efetividade das ações realizadas na década anterior, e da total ausência de modificações significativas no ensino de ciências. O referido projeto ainda se baseava na adaptação de projetos estrangeiros, mas o PNMEC, mesmo com o apoio financeiro externo, possibilita a elaboração de novos materiais e propostas para o ensino de ciências, com ampliação da produção de programas nacionais. 

Em 1971 foi promulgada a Lei 5.692 (Lei 5.692/71), impactando intensamente em vários aspectos do sistema educacional brasileiro. A antiga escola secundária, não mais serviria à formação do futuro cientista ou profissional liberal, mas principalmente para o trabalhador em geral, elemento imprescindível para consecução do desenvolvimento abrangente em todas as esferas sociais. Desta forma o CECIRS conseguiu programar as maiores Feiras de Ciências daquela época, sendo que no ano de 1973 conseguiu reunir experiências de todas as Regionais numa primeira grande Feira Estadual, a I FECIRS. 

A disciplina de Ciências Naturais após a promulgação da referida Lei, passou a ser obrigatória no primeiro grau composto pelas oito séries de então, da 1ª à 8ª séries. Que correspondem, ao ensino fundamental, 1º e 2º segmento dos dias atuais. O despreparo dos professores neste contexto tornava necessário o uso do livro-texto como único suporte, sendo este muitas vezes de má qualidade.

 Como alternativa o trabalho com o estudo dirigido passou a figurar como uma alternativa ao uso do livro-texto. Em contrapartida, às ações estabelecidas nessa época que reforçaram a importância do método experimental por meio da valorização dos materiais didáticos, possibilitaram a utilização dos kits de laboratório, uma melhor aproximação ao método da experimentação atrelado à Metodologia Científica. 

De uma maneira indireta, a Metodologia Científica continuou a ser utilizada por longo tempo na dinâmica da prática de sala de aula, como metodologia ativa de ensino de ciências. Assim, o livro-texto, o estudo dirigido e a Metodologia Científica aplicada ao uso dos kits, constituíram as abordagens ao ensino de ciências neste período, influenciando a realização das Feiras de Ciências no Brasil (SANTOS E FERREIRA, 2018). 

No final da década de 1970, devido à crise socioeconômica pela qual o país passava, com uma taxa de desemprego muito alta, o diploma de conclusão de curso superior não mais se constituía garantia de emprego. Em decorrência do aumento da demanda social pelo acesso à escolarização, e ao despreparo para lidar com tal demanda, as escolas passaram a enfrentar uma crise educacional e uma consequente perda de qualidade, mesmo com aumento do número de escolas havia excesso de alunos nas turmas. Em correlação com o aumento da demanda, ocorria o aumento de professores despreparados. 

No âmbito da pedagogia geral, as discussões entre educação e sociedade são determinantes para o surgimento das tendências progressistas que no Brasil se organizaram em correntes importantes, como a Educação Libertadora e a Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos. Foram correntes que influenciaram o ensino de ciências em paralelo à tendência CTS. Era traço comum a essas tendências a importância conferida aos conteúdos socialmente relevantes e aos processos de discussão em grupo.

Na década de 1980, os professores de Ciências, nas séries que hoje em dia equivale ao Ensino Fundamental, foram convidados a participar de cursos de treinamento, com a finalidade de introduzir, no currículo, as Aulas de Laboratório e as Feiras de Ciências como forma de viabilizar o método científico, tal ocorrência pode ser interpretada como uma transição das atividades até então desenvolvidas nas Mostras Científicas, para os moldes da realização das primeiras realizações com o título de Feiras de Ciências (ROLAN, 2016).

A década de 1980 foi especialmente produtiva no que tange à realização de atividades diversificadas relacionadas ao Ensino de Ciências, seja nas aulas teóricas de Ciências, nas aulas de Laboratório ou na realização das Feiras. Neste momento as Feiras de Ciências adquiriram um viés de atividade voltada ao aprendizado e ao ensino, com utilização de espaços não formais de ensino-aprendizagem, através da utilização de praças públicas e áreas comunitárias dos bairros onde se situavam as escolas. Contudo um aspecto negativo ganhou força após este momento, em virtude de que as atividades realizadas assumiram um cunho de mera reprodução da execução de experimentos a partir de um roteiro pré-determinado sem maiores considerações. 

Entre 1988 e 1995, foi realizada a Mostra Nacional da Ciranda da Ciência, organizada pela Fundação Roberto Marinho e Hoechst do Brasil, realizada somente na cidade de São Paulo, mas com grande importância na divulgação científica. Na década de 1990, diante da crise econômica, as Feiras de Ciências ficaram em segundo plano no cenário científico nacional, principalmente no ensino fundamental e no ensino médio, componentes da educação básica no Brasil. Mesmo assim, o enfoque conhecido como Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), sempre presente nas atividades das Feiras de Ciências, voltou a inspirar o crescimento da produção de reflexões curriculares e didáticas. 

Nessa perspectiva, é promulgada então, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (nº. 9394/96) (LDB), que delimita o marco legal atualmente estipulado para a oferta do ensino médio em nosso país. Com a promulgação da nova LDB e com a preocupação em relação aos compromissos acima citados com os organismos internacionais, grandes mudanças no setor educacional foram planejadas. De forma quase concomitante, foram publicados os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) – (MANCUSO, 2006). 

Posteriormente, surgiram os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (BRASIL, 1999) e as Orientações 32 curriculares para o ensino médio: volumes 1, 2 e 3. (BRASIL, 2008). Dois aspectos da referida Lei, dentre outros não menos importantes, são notórios para justificar este estudo sobre a realização das Feiras de Ciências, primeiramente em relação às finalidades que são atribuídas ao ensino médio: o aprimoramento do educando como ser humano e sua formação ética, o desenvolvimento de sua autonomia intelectual e de seu pensamento crítico, sua preparação para o mundo do trabalho e o desenvolvimento de competências para continuar seu aprendizado (Art.35).

 O segundo aspecto se relaciona a organização curricular com os seguintes componentes: 

– Base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada que atenda especificidades regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e do próprio aluno (Art.26); 

– Planejamento e desenvolvimento orgânico do currículo, superando a organização por disciplinas estanques; 

– Integração e articulação dos conhecimentos em processo permanente de interdisciplinaridade e contextualização; 

– Proposta pedagógica elaborada e executada pelos estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as de seu sistema de ensino; 

– Participação dos docentes na elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino. 

Tais aspectos possibilitam uma maneira objetiva de pensar o espaço escolar, sua realidade e sua relação com o trabalho coletivo como atividade formadora em nível conceitual, atitudinal e comportamental. E é justamente este o foco que corrobora a realização das Feiras de Ciências, enquanto atividade que possibilita a concretização dos aspectos citados da referida Lei. 

A importância da área de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias na realização das Feiras de Ciências no Ensino Médio, passa a considerar além da quantidade, da qualidade dos conceitos tratados nas quatro componentes curriculares das disciplinas das áreas de Biologia, Física, Matemática e Química. Desta forma, mesmo entendendo que cada componente curricular tenha suas peculiaridades, seu objeto de estudo, seu sistema de conceitos e seus procedimentos metodológicos, trabalhando a apreensão de conceitos muitas vezes distintos, passa-se a considerar que as atitudes e os procedimentos, trabalhados e desenvolvidos conjuntamente com a apropriação de conceitos através da realização das Feiras de Ciências. Tal entendimento visa englobar todas as áreas do saber, possibilitando um diálogo interdisciplinar e transdisciplinar, que possa se completar, inovando as possibilidades de um aprendizado tríplice em relação ao conhecimento: aprendizado de comportamentos, atitudes e conceitos. 

Desta forma as Feiras de Ciências podem constituir-se, através da pesquisa, como os espaços interativos de planejamento e acompanhamento coletivo da ação pedagógica, caracterizando um ensino contextualizado e interdisciplinar -os coletivos organizados – propostos nos PCNEM e PCN+ (BRASIL, 1999).

 Em 2003 foi realizada a 1ª edição da FEBRACE – Feira Brasileira de Ciências e Engenharia, um grande evento anual realizado na Universidade de São Paulo, que visa reunir jovens talentos pré-universitários em Ciências e Engenharia, caracterizando-se como um movimento nacional de estímulo à cultura científica, à inovação e ao empreendedorismo na educação básica, nos níveis fundamental, médio e técnico. 

A FEBRACE tem como principais objetivos estimular novas vocações em Ciências e Engenharia e induzir práticas pedagógicas inovadoras nas escolas. De acordo com a concepção do evento, este se propõe a realizar o estímulo a novas vocações por meio do desenvolvimento pelos estudantes de projetos criativos, inovadores para eles e para a sociedade. Considerando que práticas pedagógicas inovadoras proporcionam situações e orientações para que os estudantes possam conceber e desenvolver projetos investigativos. 

A aproximação entre escolas e universidades e a interação espontânea entre estudantes, professores, profissionais e cientistas através da criação de espaços para troca de experiências, de novas oportunidades e de ampliação de horizontes relativos às fronteiras do conhecimento também é objetivada pelos organizadores da FEBRACE 2018.

 Alguns aspectos importantes relativos às regras para participação na FEBRACE 2018 citam que podem enviar projetos estudantes matriculados nos 8º e 9º anos do Ensino Fundamental, alunos do Ensino Médio e do Ensino Técnico no ano de 2017, de escolas públicas e particulares de todo o território nacional durante o ano de desenvolvimento e submissão do projeto, contudo a feira não custeia a estadia dos participantes que forem classificados a apresentar seus trabalhos na USP em São Paulo. 

Outro aspecto se refere à idade dos participantes, que deverão possuir até 20 anos, e não poderão completar 21 anos antes do mês de maio de 2018. Os projetos podem ser desenvolvidos individualmente ou no máximo três alunos, com a participação de um adulto orientador e se enquadrar em uma das Categorias das Ciências e Engenharias. 

Um aspecto interessante é que os estudantes podem ser de idades, séries, escolas, cidades ou estados diferentes. Não poderão participar projetos desenvolvidos por mais do que estudantes e a submissão dos projetos é gratuita devendo ser feita até a data limite publicada no calendário oficial da FEBRACE. 

O estudante deverá fazer referências e incluir créditos em todo conteúdo inserido em sua pesquisa que não é de sua própria autoria, identificando os autores e as fontes destes materiais. Os projetos que possuam conteúdos plagiados ou copiados sem as devidas referências serão desclassificados. 

Uma proposta interessante da FEBRACE se baseia na possibilidade de que os participantes possam desenvolver seus projetos através da Metodologia ou Método da Engenharia, registrando todos os passos através de esboços, anotações, coletas, testes, resultados, e análises, em um Diário de bordo. Todos os projetos inscritos devem apresentar: Plano de Pesquisa, Relatório de projeto e um cadastro das informações do projeto além de eventuais formulários adicionais que se fizerem necessários. 

Os projetos devem estar enquadrados em uma das seguintes categorias: Ciências Agrárias, Ciências Biológicas, Ciências Exatas e da Terra, Ciências Humanas, Ciências da Saúde, Ciências Sociais Aplicadas e Engenharia. São selecionados aproximadamente 300 projetos para participarem da Mostra de Finalistas da FEBRACE. 

Os finalistas são selecionados a partir dos projetos submetidos diretamente, avaliados pelo Comitê de Pré-avaliação e selecionados e pelo Comitê de Seleção e a partir de finalistas indicados pelas Feiras Afiliadas da FEBRACE. Os estudantes finalistas devem apresentar na Mostra de Finalistas, a documentação da realização do seu projeto, incluindo o Plano de Pesquisa, o Relatório, o Resumo e o Diário de Bordo do Projeto. 

UMA REFLEXÃO SOBRE A ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA DENTRO DAS FEIRAS DE CIÊNCIAS 

Para Chassot (2003), Beuren (2016) e Filho (2018), Alfabetização Científica é a combinação de conhecimentos que possibilitam aos sujeitos a compreensão do mundo em que vivem, sendo necessário que os indivíduos não somente tenham facilidade de leitura deste mundo, mas que compreendam a necessidade de transformá-lo a fim de se ter uma sociedade melhor e mais justa. 

Na verdade, a Alfabetização Científica defende a utilização da História da Ciência na perspectiva de superação do presenteísmo, que é a vinculação exclusiva ao presente, na crença exagerada no poder da Ciência e/ou a atribuição à mesma de efeitos apenas benéficos. 

Quando se fala em Alfabetização Científica, têm-se a ideia de uma aquisição de atitudes e comportamentos, juntamente com aprendizagem de conceitos que permitam ao estudante o entendimento das conjunturas do mundo que o cerca, bem como a possibilidade real de identificar os aspectos positivos e negativos envolvidos neste entendimento. 

Na concepção de Farias e Gonçalves (2007) e Vitor (2016) quaisquer que sejam as expressões utilizadas, tanto Enculturação Científica, quanto Letramento Científico, quanto Alfabetização Científica, desde que tragam como objetivos a promoção de capacidades e competências entre os estudantes, que conduzam à uma formação crítica e participativa, com intervenção nos processos de decisão cotidianos, os obstáculos linguísticos e semânticos serão aceitos. Nesta perspectiva, o ponto de convergência será capacitar o sujeito para a leitura e para o entendimento da linguagem científica que permeia o mundo em que vive e para o desenvolvimento de atitudes e comportamentos. 

Nesta mesma linha de entendimento, Oliveira (2013) afirma que a Alfabetização Científica seria, enfim, um processo pelo qual os estudantes, futuros cidadãos, compreendem os conhecimentos, procedimentos e valores relativos à ciência de modo a tomar decisões e a perceber tanto as utilidades da ciência quanto suas limitações e consequências negativas. 

Diante dos entendimentos sobre a Alfabetização Científica apresentados, considera-se ainda as ideias de Freire (1996), que traz a exigência da consciência do inacabado, o reconhecimento de sermos condicionados, a apreensão da realidade, a alegria e esperança, a curiosidade e convicção de que a mudança é possível aos sujeitos, como fatores preponderantes no processo de AC. Estes entendimentos compõem a base de nossos estudos em relação à realização da Alfabetização Científica nas atividades das Feiras de Ciências. 

Na literatura especializada ou na mídia que realiza sua divulgação, os termos “alfabetização científica”, “ciência, tecnologia e sociedade” e “compreensão pública da ciência”, entre outros termos, são expressões correntes. Contudo, uma questão a ser considerada para uma necessária análise seria: qual a necessidade da Alfabetização Científica? E, também: quais seriam as características de uma pessoa alfabetizada cientificamente? Primeiramente, entendemos que é necessária uma Alfabetização Científica para que os alfabetizados cientificamente tenham além da possibilidade de leitura do mundo em que vivem o entendimento da necessidade de transformá-lo, e transformá-lo para melhor.

De modo geral, conhecer a Ciência é assunto quase velado àqueles que não pertencem à comunidade científica. Não se trata de pretender a vulgarização da Ciência, mas do fato de que a compreensão de seus mecanismos de ação deva ser do conhecimento de todos os componentes da sociedade. Desta forma, uma primeira característica da Alfabetização Científica, bem como da pessoa alfabetizada cientificamente, deveria ser a eliminação da exclusão em relação aos instrumentos de leitura da natureza e entendimento da Ciência, para que não se configurem como algo fechado sobre si mesmo. 

A alegação de motivos relacionados com a segurança e a economia fizeram a Ciência adquirir uma característica de determinismo irremediável, uns desconfiando de outros e em competição voraz pelos desenvolvimentos dessa mesma Ciência na busca constante da supremacia sobre seu semelhante. Outras deveriam ser as características para a Alfabetização Científica, tais como, voltar-se à liberdade de acessar essa mesma Ciência, igualdade para usufruir dos seus benefícios e a fraternidade entre os homens. Desta forma podemos dizer então, que a linguagem científica assim compreendida em sua atuação na vida em sociedade, terá tanta importância quanto à língua materna (VIZZOTTO E PINO, 2020). 

Os obstáculos para a realização de uma Alfabetização Científica são enormes, tendo em vista os estudos de Chassot (2003)  e Sasseron (2015), ao se referir ao fato de que em nosso país, grande parte da população adulta não sabe ler e escrever, e os que o fazem, fazem de modo precário, tendo assim, limitado acesso ao conhecimento. 

No ensino fundamental, pelo menos durante quatro anos, há estudos na área de Ciências. A grande interrogação é para quem são úteis todos esses anos de estudos. Como, os conteúdos estabelecidos historicamente e definidos como importantes, se pode dar aos estudantes uma incipiente alfabetização científica?

No caso das atividades das Feiras de Ciências voltadas à Alfabetização Científica, as atividades não devem ser voltadas exclusivamente para um saber técnico, mesmo que este aponte para os seus impactos ambientais, por exemplo, mas também na busca de um saber conviver ainda não atingido e que pode ser aplicado a todas as áreas da convivência humana. Saber respeitar o outro, saber ouvir, debater sem ofender, buscar soluções em grupo, saber trabalhar em grupo, seriam entre outros saberes, componentes da Alfabetização Científica.

Estes saberes, inegavelmente poderiam contribuir para uma educação que pudesse vir a ser, de fato, transformadora conforme as palavras de Paulo Freire: Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo. Defende-se que através da Educação Ambiental há também uma Alfabetização Científica e, nesse sentido, concorda-se com Santos e Ferreira (2018) ao dizer que a apropriação crítica de conhecimentos sobre o ambiente só se realiza se partirmos de uma concepção ampla de ambiente.

Desta forma, nas Feiras de Ciências as atividades relacionadas à proposição da Alfabetização Científica podem englobar e transcender a problemática ambiental que nos cerca quanto aos resultados que temos obtido em sociedade, com a aplicação da tecnologia oriunda da ciência que desenvolvemos, causando a degradação do meio ambiente em que vivemos.

Dentro da análise do nível de AC que tratamos, é importante que esta possa atingir uma dimensão multidimensional. Nesta perspectiva é importante analisar o entendimento da ação educacional da Alfabetização Científica, para deixar clara a necessidade do estudo da AC como agente transformador de atitudes e comportamentos juntamente com o campo conceitual. 

Tal representatividade nos remete à análise do discurso da sustentabilidade, quando então se revela um campo de estratégias teóricas e práticas, sempre tendo em foco a apropriação da natureza, colocando a questão do poder e do poder no saber, em primeiro plano, em relação às estratégias do conhecimento e da ação da própria educação ambiental (SOUZA, 2016). 

A necessidade de se alfabetizar cientificamente, através da busca de um saber ambiental, se justifica diante da possibilidade ensejada ao sujeito de se tornar capaz de atuar com autonomia na tomada de decisões e além disso de criar novos direcionamentos em relação aos existentes, ou seja, não é porque utilizamos o que aprendemos como utilizamos até agora, que devemos perpetuar ações e formas de aprendizado.

Neste sentido, as características de uma Alfabetização Científica seriam aquelas que possibilitaram atingirmos um nível de entendimento e atuação ainda não atingidos. Seja em relação a uma proposta de educação ambiental para a sustentabilidade, seja em relação à formação de sujeitos sociais críticos, participativos, que atuem na construção de uma sociedade na qual a sustentabilidade representa ações para o bem estar de todos, entendidas e praticadas de forma individual e coletiva. 

O saber ambiental construído por uma Alfabetização Científica voltada para a busca de novas atitudes e comportamentos, estabeleceria uma relação entre realidade e conhecimento dotada de uma nova particularidade, a busca para completar o conhecimento da realidade existente através da orientação para a construção de outra organização social. 

Após o que foi apresentado até este ponto, é necessário observarmos que um obstáculo se interpõe para atingir este nível de Alfabetização Científica. Verifica-se que a dificuldade  de realizar a mensuração do nível de AC atingido durante o processo de sua execução, constitui um entrave, considerando-se que haja menor complexidade de se verificar se alguém é alfabetizado em língua materna ou se detém uma Alfabetização Matemática. Porém, verificar o quanto alguém sabe ler, interpretar e compreender as coisas do mundo natural ou a linguagem científica é mais complexo.

 Em relação à ausência de uma Alfabetização Científica, Chassot (2003) e Weber (2016) utilizam a expressão: analfabeto científico no sentido da inexistência de capacidade de leitura e entendimento científicos e cita o fato de não existir um teste para fazer esta verificação. Considera-se o entendimento construído neste trabalho, quanto à realização da Alfabetização Científica nas Feiras de Ciências, diante da necessidade nos dias atuais, do desenvolvimento de atitudes, comportamentos e de aquisição de conceitos, já existentes, em um primeiro momento.

Diante desta exposição, entende-se que para a Alfabetização Científica tornar-se realizável, seria necessário que durante a busca da aquisição da capacidade de ler e interpretar a linguagem científica, o reconhecimento da necessidade de uma mudança de paradigma ocorresse concomitantemente, pois, não se trata de fazer um pouco mais do mesmo, mas de buscar um fazer diferente. 

Na verdade, observa-se que para a execução da Alfabetização Científica faz-se necessária a caracterização de princípios para a realização de um ensino de Ciências voltado para a formação da cidadania, sendo que este precisa ser contextualizado socialmente, destacando o papel social da Ciência e suas interações multidisciplinares com os aspectos sociais, políticos, históricos, econômicos e éticos, diferentemente da visão que reproduz uma concepção de Ciência pura e neutra. 

Entende-se que as propostas para uma Alfabetização Científica implicam diretamente nos currículos das Ciências. Estes, cada vez mais, em diferentes países têm buscado uma abordagem interdisciplinar, na qual a ciência é estudada de maneira inter-relacionada com a tecnologia e a sociedade (SILVA, ALMEIDA e LIMA, 2018).

O favorecimento do processo de Alfabetização Científica na realização das Feiras de Ciências se deve ao conjunto formado pelas discussões, pela escolha do tema e pelos direcionamentos tomados durante toda a execução do trabalho, através das colocações dos alunos e dos professores. Ressaltamos que o foco não é somente a experimentação ou a demonstração da resolução de problemas que se relacionam com fenômenos da Natureza ou  Ciência e Tecnologia, o cerne do processo que alavanca e promove a AC nas Feiras de Ciências é a possibilidade de questionar e discutir durante a execução da pesquisa apresentando argumentos e escutando argumentos fornecidos pelo grupo, o que constitui uma influência que vai além da aquisição de conceitos sobre o que se pesquisa, possibilitando tornar a construção do trabalho tão importante quanto o próprio trabalho executado, tais aspectos da prática da alteridade ao aprender a ouvir e a se posicionar buscando o bem comum, constituem a base comportamental e atitudinal da AC. 

De acordo com Souza (2016) a democratização da educação escolar, encarada como promotora do desenvolvimento do educando, baseia-se preliminarmente em três elementos básicos: o acesso universal ao ensino; permanência na escola e qualidade de ensino. 

Desta forma, a Alfabetização Científica voltada ao Letramento Científico, através da aprendizagem de conceitos e princípios de determinada área ou conhecimento científico, está diretamente ligada à identificação dos Níveis de AC atingidos pelos alunos. 

O entendimento dos Níveis que a Alfabetização Científica pode atingir diante de tais aspectos a serem considerados, possibilita uma avaliação do quanto se progrediu em relação a um determinado ponto, quanto às atividades realizadas no âmbito escolar. 

Nesta perspectiva, são colocados os seguintes questionamentos: Quais são os indicadores da Alfabetização Científica? Como identificar um sujeito cientificamente alfabetizado? As características consideradas desejáveis a um indivíduo alfabetizado em ciências, seriam: possuir interesse pelos assuntos que envolvam ciência e tecnologia; desenvolver a compreensão de conceitos científicos básicos; desenvolver a iniciativa de aprender mais; ter facilidade de aplicar seus conhecimentos de forma que exterioriza esses interesses; manifestar apreço pelas ciências e reconhecer que o conhecimento é útil na solução dos problemas e assuntos cotidianos; entender a natureza e a história das ciências em relação aos esforços, ideias e práticas da atualidade; ser capaz de expor as ideias das ciências para outras pessoas, apresentar criatividade para buscar soluções em face de problemas a serem enfrentados e; demonstrar autoconfiança e segurança ao lidar com as ciências (CHASSOT, 2003). 

Estas possíveis e desejáveis características nos indicam que a perspectiva da realização da Alfabetização Científica possui uma dimensão que ultrapassa os limites de letramento científico, no sentido de envolver valores atitudinais e comportamentais que, muitas vezes, são desconsiderados nos processos tradicionais de ensino e aprendizagem. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em um olhar reflexivo verifica-se que o mundo se encontra em constante transição, que acontece de forma rápida e repentina. Nesse sentido, a atuação do homem como ser cidadão e como profissional também deve ser progressiva, a fim de serem capazes de atender às solicitações da globalização, oportunizando uma educação crítica e significativa, que forme cidadãos comprometidos com as causas políticas, econômicas, culturais e sociais. 

Muitos entraves são observados na educação regular, principalmente relacionados aos alunos matriculados em escolas públicas, mais especificamente no interior do Estado, como evasão escolar, falta de incentivo à pesquisa e novas metodologias e estratégias para alcançar essa demanda ainda pouco estimulada, dentro do âmbito da realidade atual.  

Nesse contexto, as Feiras de Ciências surgem como uma alternativa para estimular o exercício da crítica individual dos alunos e despertar suas habilidades e competências, podendo até mesmo auxiliar na resolução de problemáticas enfrentadas pela própria comunidade e vizinhança. Isso deve-se ao fato de que a Feira de Ciências é uma atividade técnica, científica, cultural e social, que oportuniza o crescimento em grandes proporções aos estudantes do Ensino Básico, quando realizam trabalhos de investigação científica e quando expõem o resultado de seus estudos e pesquisas. 

Desse modo, esta pesquisa faz um estudo reflexivo sobre  diversos questionamentos, dentre eles a importância do uso das feiras de ciências como ferramenta pedagógica para alfabetização científica na educação básica, podendo ser construído um pensamento reflexivo e analítico como parâmetro para os novos modelos de ensino na atualidade. 

Logo, a feira de ciências fornece uma plataforma para alunos e professores, onde eles podem aprender com as experiências uns dos outros e se motivarem a projetar e desenvolver algo significativo e inovador, permitindo a promoção do pensamento criativo e das habilidades de manipulação entre as crianças através de projetos ou modelos científicos auto-concebidos.

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1Mestrando em Ciências da Educação Educação. E-mail: helio_bio@chris
2Especialista em Gestão Escolar. E-mail: fecineifatim@alexandre
3Mestranda em Ciências da Educação. E-mail: anacarla.peres10@alexandre
4Especialista em neuropsicopedagogia. E-mail: silvaelenilce12316@alexandre
5Licenciado em Matemática. E-mail: hpdsj.mat19@uea.edu.br