CÃO COM LESÃO TRATADO COM BARBATIMÃO (STRYPHNODENDRON ADSTRINGENS) APÓS PICADA DE ARANHA MARROM: RELATO DE CASO

DOG WITH LESION TREATED WITH BARBATIMÃO (STRYPHNODENDRON ADSTRINGENS) AFTER BROWN SPIDER BITE: CASE REPORT

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10019638


Aline Luciana Mendes1; Maria Raquel Silva2; Ana Paula Castello Ferreira3; Luciano Wagner Dorea Reis4; Elys Rejanne Marques Cruz Araújo5; Vitória Erlym Dias Muniz6; Maria Andreza Santos de Moraes7; Leticia Silva Lima8; Joyce Magalhães Silva9; Julia Rezende Santos10; Livia Nascimento Zabalar11; Gabriele Rossi12


Resumo: O aracnídeo conhecido como aranha-marrom pertence ao gênero Loxosceles. Na área da medicina veterinária, os incidentes causados por mordidas desses aracnídeos são raramente descritos, e seu diagnóstico é considerado um desafio formidável. O presente trabalho traz à luz os desfechos alcançados na terapêutica empregada em um cão da raça poodle de oito anos, que apresentou lesão dermonecrótica após ser atingido por aranha pertencente ao gênero Loxosceles. O paciente apresentou lesões de considerável extensão, livres de infecções secundárias e notavelmente desafiadoras na cicatrização. Para o tratamento, foi preconizada a utilização de hepatoprotetores, antieméticos, antibióticos, analgésicos, anti-inflamatórios, complexos vitamínicos, pomadas e soluções antissépticas. Ademais, uma terapia de reposição de fluidos foi aplicada, sua seleção pautada nos sinais clínicos manifestados pela paciente. Por fim, submeteu-se a cuidados medicinais por um período de três dias, seguido por tratamento domiciliar, conduzido com destreza por sua guardiã, utilizando o pó derivado da casca da planta Stryphnodendron adstringens, conhecida como barbatimão. Esta intervenção ocorreu em ambiente domiciliar duas vezes ao dia, até a completa regeneração dos tecidos afetados. Ao fim do ciclo terapêutico que abrangeu cinco semanas, registrou-se a restauração integral dos tecidos previamente acometidos. O fenômeno de cicatrização revelou-se sobretudo vinculado à presença substancial de taninos na casca da mencionada planta. Os benefícios da etnoveterinária foram observados com tratamento à base do pó obtido da casca do barbatimão foram análogos àqueles previamente descritos para extratos derivados da mesma casca da planta. Após trinta dias de tratamento, observou-se uma significativa melhora tanto nas lesões de dermonecrose quanto nos níveis das enzimas hepáticas.

Palavras-Chave: Cura. Dermonecrose. Etnoveterinária. Plantas medicinais. Aracnídeo.

Abstract: The arachnid known as the brown spider belongs to the genus Loxosceles. In the field of veterinary medicine, incidents caused by bites from these arachnids are rarely described, and their diagnosis is considered a formidable challenge. The intoxication resulting from the bite of this species is called loxoscelism, and the clinical syndrome can manifest itself in two different ways: cutaneous or cutaneous-visceral, the former called dermonecrosis characterized by hemolysis. This study brings to light the results of the therapy used on an eight-year-old spiderless dog (SRD) that suffered intoxication after being hit by a spider belonging to the Loxosceles genus. The patient had dermonecrotic lesions of considerable extent, free of secondary infections and remarkably difficult to heal. Treatment was recommended using hepatoprotectors, antiemetics, antibiotics, analgesics, anti-inflammatories, vitamin complexes, ointments and antiseptic solutions. In addition, fluid replacement therapy was applied, its selection based on the clinical signs manifested by the patient. Finally, she underwent medicinal care for a period of three days, followed by home treatment, skillfully conducted by her guardian, using powder derived from the bark of the Stryphnodendron adstringens plant, known as barbatimão. This intervention took place at home twice a day, until the complete regeneration of the skin.

Key Words: Cure. Dermonecrosis. Ethnoveterinary. Medicinal plants. Arachnid.

1 INTRODUÇÃO

As aranhas Marrons (Loxosceles sp), possuem uma distribuição global e ocorrências já foram relatadas nas Américas, Europa, Ásia, África e Oceania (SILVA et al., 2004). Essas aranhas possuem um comportamento sedentário e são ativas durante a noite. A natureza noturna e a picada indolor das aranhas castanhas são características que dificultam a identificação do aracnídeo responsável (DE ASSIS SANTOS et al., 2023).

Os aracnídeos do gênero Loxosceles podem ser encontrados em todas as regiões do vasto território brasileiro. Entre as espécies mais corriqueiras desse gênero, mencionam-se a Loxosceles intermedia, Loxosceles laeta e Loxosceles gaúcho (SILVA et al., 2004).

 De acordo com as observações de Faria et al (2021), e como verificado na figura 1, a imagem da aranha-marrom é semelhante a encontrada pela tutora.

Esses aracnídeos não ostentam comportamento agressivo, sendo notórios por seus hábitos noturnos. No entanto, é preciso salientar que somente picam quando submetidas à pressão ou percebem uma ameaça, e tal picada é caracterizada por ausência de dor (DE ASSIS SANTOS et al., 2023).

Segundo Mazini et al (2007), na esfera da medicina veterinária, os incidentes resultantes das mordidas desses aracnídeos são infrequentes e o diagnóstico é reconhecido como uma tarefa de extrema complexidade, a menos que o aracnídeo seja avistado ou encontrado.

O veneno produzido pela Loxosceles sp. exerce uma ação citotóxica, cuja principal enzima é a esfingomielinase D (fosfolipase D), além de hialuronidases, metaloproteases, peptidases, lipases, colagenases, fosfatase alcalina, 5’ribonucleotideo fosfatase, e componentes inorgânicos como cálcio e sódio. A toxina bacteriana do Clostridium perfringens pode ser introduzida no local da picada, o que pode agravar o quadro clínico do paciente. Ao interagir com os componentes da membrana celular, a enzima esfingomielinase D (fosfolipase D) desencadeia um processo inflamatório de intensidade notável no local da picada, resultando na ativação da cascata de sistemas complementares, coagulatório e plaquetário (AGUIAR,  2021).

O diagnóstico de loxoscelismo repousa sobre os achados clínicos, podendo ser complementado por exames adicionais. A celeridade na obtenção do diagnóstico é crucial para mitigar os efeitos mais severos provocados pela ação venenosa (FREZZA, 2007).

Qualquer condição patológica que induza alterações na pele e extensa necrose tecidual local deve ser considerada como diagnóstico diferencial de loxoscelismo (CADERNOS TÉCNICOS, 2014).

Existem diversas medidas terapêuticas para o tratamento do envenenamento por aranhas do gênero Loxosceles. Entre elas, destaca-se a utilização de soro antiveneno específico, que é administrado para neutralizar a ação do veneno, porém não é uma rotina na medicina veterinária (CADERNOS TÉCNICOS, 2014).

Além disso, são utilizados medicamentos como anti-histamínicos, corticoides e antibióticos para controlar os sintomas e prevenir possíveis infecções. Em casos mais graves, pode ser necessário realizar procedimentos cirúrgicos, como remoção de tecidos necróticos e aplicação de enxertos de pele (SÁNCHES-OLIVAS et al., 2011).

Também é importante utilizar cicatrizantes para auxiliar no processo de cicatrização das feridas.

Do ponto de vista medicinal, a casca do barbatimão verdadeiro, Stryphnodendron adstringens (Martius) Coville, é amplamente utilizada no tratamento de diversas condições de saúde devido às suas propriedades adstringentes, anti-inflamatórias e cicatrizantes. Essa planta é nativa do Brasil e possui uma longa história de uso na medicina tradicional (PEREIRA et al., 2013; RODRIGUES et al., 2013).

No território brasileiro, a aplicação etnoterapia de diversas plantas como agentes cicatrizantes é amplamente difundida, sobretudo entre as comunidades indígenas, os remanescentes de quilombos, os habitantes das zonas rurais e os residentes urbanos de recursos financeiros limitados. A casca de barbatimão é muito utilizada como cicatrizante (PEREIRA et al., 2013; RODRIGUES et al., 2013). Na veterinária o uso de medicina alternativa chamamos  de etnoveterinária.

O propósito do presente estudo consiste em relatar um caso clínico tratado em uma clínica particular, no qual se observou a manifestação de loxoscelismo. Após o diagnóstico apropriado e a aplicação de tratamentos ambulatoriais e domiciliares com a utilização de barbatimão, que por fim, o animal apresentou prognóstico favorável.

2 METODOLOGIA

2.1 Relato de caso

Um cão da raça poodle, de oito anos de idade, que buscou atendimento na clinica veterinária “Pet Vet Mais”,  em São Bernardo do Campo- SP. O acidente ocorreu no mês de junho de 2020. O tutor relatou que por volta de 10 horas da manhã quando o cão voltou de seu passeio matinal no quintal, foi observado as alterações físicas, que de acordo com a tutora, foi observado um inchaço na região da escápula esquerda do animal, acompanhado de dificuldade em apoiar o membro no chão ao se locomover da cama para o local onde normalmente urina no quintal.

No final da tarde, o membro afetado estava supurando sangue, o animal sentia dificuldade de se locomover, e a urina estava mais amarela do que o usual. A tutora quando foi ao quintal onde o animal costumava fazer suas necessidades fisiológicas, verificou uma aranha morta aos pedaços, a mesma a recolheu e supondo que a cadela tivesse sido picada, a trouxe à Clínica para receber o tratamento médico necessário.

 Foi observado que a aranha tinha uma cor marrom, corpo pequeno e pernas longas. Após examinar o cão e analisar a situação, a veterinária identificou que o aracnídeo responsável pela picada era uma aranha- marrom do gênero Loxosceles conforme Figura 1.

O animal apresentava febre, com temperatura em 39,3 ºC, e quadro de emese.
Foram administrados medicamentos pela tutora para combater a hipertermia infecções, inflamações e dores, porém, a mesma não sabia informar quais e suas dosagens. Após a tricotomia local confirmou-se a lesão sanguinolenta no local da picada conforme mostra a figura 2.
Após a tricotomia local confirmou-se a lesão sanguinolenta no local da picada conforme mostra a figura 2.

 Figura. 1- Imagem do aracnídeo gênero Loxosceles.

 Fonte: Entomoly Today, 2021.  

 Figura 2- Local da lesão com esxudato sanguinolento.

                                          Fonte: Arquivo pessoal, 2021.

O animal recebeu os cuidados veterinários pertinentes, mas devido ao custo alto da internação, foi levado para casa; infelizmente, o tratamento recomendado não foi realizado, por questões pessoais de sua tutora. A ferida continuou a piorar por mais cerca de uma semana sem apresentar sinais de melhora.

Devido ao agravamento da lesão, a tutora decidiu por conta própria usar o pó da casca do barbatimão para ajudar na cicatrização da ferida.

O barmatimão é uma planta que possui um tronco com cascas que podem ser utilizadas para produzir o pó da planta.  Para promover a cicatrização e recuperação da lesão, o proprietário utilizou pó de casca de barbatimão, uma planta com propriedades adstringentes e cicatrizantes, na posologia de duas vezes ao dia.

O vendedor explicou que o processo para obter o pó é simples: as lascas da casca da planta são coletadas e depois desidratadas em uma estufa, trituradas logo em seguida. Esse pó era aplicado duas vezes ao dia na área da ferida, após fazer a lavagem da área com uma solução de cloreto de sódio 0,9%. Depois da lavagem, a área era seca com uma toalha de papel descartável. Esse processo de aplicação foi repetido todos os dias até que a ferida cicatrizou completamente.

 Logo no começo do tratamento, foi possível observar que a quantidade de líquido que saía da lesão diminuia e, em seguida, deixou de ocorrer. Essa nova formação de tecido apresentava uma cor ao redor da picada de aspecto brilhante, o que indicava um processo saudável de cicatrização.

 Na quarta semana de tratamento, notou-se uma melhora significativa na área da ferida. O leito da ferida estava mais limpo e saudável, e tecido cicatricial com crostas que continuavam a crescer. Ao final da quinta semana de tratamento, não havia nenhuma área de tecido exposta, evidenciando que a cicatrização tinha se completado.

A pele ao redor da ferida estava íntegra e a região apresentava uma aparência normal. A tutora retornou à Clinica com os dados que foram coletados,  e confirmou-se o crescimento de pêlos, embora em menor quantidade do que nas áreas próximas à lesão inicial como verificado nas figuras 3 e 4.

Figura 3- Animal após limpeza em processo de cicatrização.

 Fonte: Arquivo pessoal, 2021.

Figura 4- Pele em processo final de cicatrização após tratamento  com pó de casca de barbatimão (Stryphnodendron adstringens).

Fonte: Arquivo pessoal, 2021.

Após cinco semanas de tratamento, observou-se regeneração completa dos tecidos lesionados.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Acidentes com aranhas e humanos são comuns em todo o mundo, especialmente em áreas tropicais. Estima-se que ocorram mais de 23 mil casos de acidentes com aranhas por ano no Brasil. Esses casos são mais comuns nos estados do Paraná, São Paulo e Santa Catarina (FREZZA, 2007; SANTANA et al., 2020).

As aranhas geralmente são encontradas dentro de residências, causando reações significativas nos indivíduos afetados. No entanto, acidentes envolvendo animais são pouco relatados na literatura devido à falta de obrigatoriedade de notificação (COLASSICO et al., 2008; SANTANA et al., 2020).

Porém, é importante ressaltar que a falta de registros epidemiológicos com animais também é observada em outros países da América. Apesar de serem raros, há relatos de acidentes envolvendo cães (HERNANDEZ et al., 2022; COLASSICO et al., 2008; HOLZLSAUER et al., 2021).

De maneira geral, a aranha marrom só ataca quando é pressionada contra o corpo. O verão é a estação do ano com mais casos (MARQUES-DA-SILVA; FISCHER, 2005), a mesma época do acidente relatado neste caso O diagnóstico geralmente é feito com base em informações sobre a propagação da doença e nos sintomas apresentados pelo paciente, já que é raro sentir dor no momento da picada, o que dificulta a identificação da espécie responsável pelo acidente (MÁLAQUE et al., 2002).

O diagnóstico raramente é feito com base na identificação da aranha, pois é difícil capturá-la. Na maioria dos casos, os médicos se baseiam nos sinais clínicos e nos sintomas apresentados pelo paciente (CARDOSO et al., 2003). Em nosso relato, ainda pode ser somada a sintomatologia com o aspecto morfológico do aracnídeo encontrado pela tutora.

O tratamento com medicamentos adequados foi iniciado assim que os primeiros sinais de envenenamento foram identificados, o que é essencial para um prognóstico favorável (COLLACICO et al., 2008; MACHADO et al., 2009; MÖRSCHBÄCHER et al., 2019), o que foi feito pela tutora e depois na Clínica veterinária pós diagnóstico.

Conforme estudos de Collacico et al. (2008), e Frezza et al. (2007), nos primeiros estágios do envenenamento, durante a fase aguda, o animal pode manifestar sintomas clínicos não específicos, como foi observado na primeira avaliação do paciente, que relatou episódios recorrentes de vômitos por três dias.

Outra manifestação clínica relevante foi a detecção de regiões alopécicas na pelagem do animal, bem como a identificação de feridas localizadas (MAZINI et al., 2007).

Afirmam Collacico et al. (2008), e Frezza et al. (2007), que nos primeiros estágios do envenenamento, durante a fase aguda, o animal pode apresentar sintomas clínicos pouco específicos, como foi observado na primeira avaliação do paciente, como áreas de alopécicas na pelagem do animal, além da observação de lesões na região da escápula, local da picada, apresentando características crostosas e secreção viscosa, semelhantes às descritas em outros estudos (MAZINI et al., 2007).

Segundo Coutinho et al. (2014), é importante ressaltar a importância do diagnóstico diferencial com outras doenças, como infecções estafilocócicas e/ou estreptocócicas com expressão necrótica, para garantir um tratamento adequado e evitar complicações. No caso da paciente do relato, não houve necessidade de exames de rotina ou complementares para fechar o diagnóstico, uma vez que a percepção da tutora facilitou totalmente a causa da patologia como um todo.

A prevenção de acidentes com aranhas marrons envolve medidas como o uso de luvas e roupas protetoras ao manusear objetos em áreas potencialmente infestadas, além de evitar o contato direto com as aranhas (DUARTE, 2018); o que não ocorreu, pois felizmente a aranha já estava morta quando encontrada.

Os acidentes causados por aranhas do gênero Loxosceles são graves na Medicina Veterinária, devido às lesões que causam e às possíveis complicações sistêmicas que podem levar até à morte do animal (SILVA et al., 2004). Não foi o caso do paciente acolhido, pois o diagnóstico foi bastante facilitado pela descoberta rápida do agente causador da lesão.

Devido à falta de conhecimento sobre como o veneno das aranhas do gênero Loxosceles age e sobre o tratamento para acidentes com essas aranhas em cães, é importante realizar estudos de relatos de casos para obter mais informações (COLLACICO et al., 2008).

A intoxicação provocada pela aranha-marrom conduz a uma dermonecrose com propagação descendente, caracterizada por uma resposta inflamatória acentuada, e com menor frequência de manifestações sistêmicas, tais como insuficiência renal e distúrbios hematológicos. O perfil de lesões observado e descrito neste relato coincide com as descrições encontradas na literatura, indicando o desenvolvimento de dermatonecrose após a picada por aranhas do gênero Loxosceles, principalmente em acidentes com cães, como no relato descrito (COLLACICO, 2008), porém não foi identificada insuficiência renal no paciente em questão.

O uso de fitoterápicos tem aumentado como uma opção para tratar diferentes condições em humanos e animais (HÉRNANDEZ et al., 2022).  A utilização de fitofármacos tem experimentado um aumento constante como uma opção para o tratamento de várias patologias tanto em seres humanos quanto em animais (PEREIRA et al., 2013; RODRIGUES et al., 2013).  O pó extraído da casca do Barbatimão foi um fitoterápico eficaz usado na lesão da picada de aranha-marrom após uma assepsia bem feita.

Segundo Nascimento et al. (2021), o Stryphnodendron adstringens (barbatimão), é considerado como uma das espécies botânicas de maior relevância na Medicina Veterinária, especialmente devido aos seus efeitos cicatrizantes, anti-inflamatórios e adstringentes.

Os taninos são compostos químicos presentes em diversas plantas, como uvas, chás e frutas vermelhas, possuindo propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, além de serem capazes de inibir o crescimento de microrganismos (TRAVISAN et al., 2020; COSTA et al., 2010), sendo um dos componentes da planta Barbatimão, que serviu como insumo farmacêutico pela interação dos taninos com as proteínas presentes na derme, o que causa adstringência e facilita o fechamento das feridas (LOPEZ et al., 2005), favorecendo o processo de cicatrização da cadela do relato de caso.

Além da ação dos taninos, o processo de cicatrização de feridas cutâneas também pode ser favorecido por outras atividades biológicas já demonstradas para o barbatimão, como a atividade antibacteriana (COSTA et al., 2010).

 No relato do presente trabalho, mesmo com uma grande área de tecidos cutâneos e musculares expostos, não houve ocorrência de infecção secundária. A fase inflamatória do processo de cicatrização foi marcada pela resposta do organismo à lesão, com a liberação de mediadores inflamatórios, e a migração de células inflamatórias para o local da ferida (LIMA et al., 2009).

 Embora não tenha sido feita uma documentação fotográfica adequada para uma análise macroscópica detalhada, há indícios de que essas fases tenham ocorrido de maneira satisfatória, levando à recuperação dos tecidos afetados

Portanto, o quadro da lesão observado e descrito neste relato é consistente com as descrições encontradas na literatura, indicando dermonecrose desenvolvida após a picada de uma aranha do gênero Loxosceles. Devido à falta de conhecimento sobre como o veneno, ainda não definido, age e como tratar acidentes com Loxosceles em cães, sendo essencial realizar estudos de casos para obter mais informações.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No curso deste estudo, foi viável constatar a relevância da obtenção de um diagnóstico célere, ainda que presumido, aliado a uma intervenção terapêutica apropriada. Isso porque um indivíduo que poderia experimentar um desfecho de prognóstico desfavorável em virtude do seu acentuado comprometimento sistêmico decorrente da intoxicação, acabou por manifestar um prognóstico favorável.

Os resultados confirmam que o Stryphnodendron adstringens é um insumo terapêutico de uso etnoveterinário eficaz para o tratamento de lesões dermonecróticas na pele de cães, como o do caso de lesão por loxoscelismo, apresentando um efeito cicatrizante semelhante ao descrito na literatura para outros extratos da mesma planta.

Em conclusão, os relatos de casos são importantes para a construção do conhecimento sobre o tratamento de lesões decorrentes de loxoscelismo em animais, uma vez que não existe um protocolo terapêutico específico e o sucesso do tratamento varia de indivíduo para indivíduo.

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1Coordenadora e Docente de pós-graduação de Medicina Veterinaria Canabinoide- Unyleya; Co- autora do Tratado de Medicina Canabica

2Perita Forense Veterinária pela Forensic Med Vet; Revisora de trabalhos Acadêmicos e Científicos; Pós-graduada em Medicina veterinária legal; Ciências forenses e Criminologia pela FACUMINAS; Bacharel em direito pela Universidade Estadual da Paraíba-UEPB.

3Mestranda em Biociência Animal com ênfase em doenças infecto-contagiosas pela FZEA-USP.

4Biólogo, graduando de medicina veterinária, atualmente trabalhando com animais silvestres, com ênfase a animais marinhos, trabalhos com clínica e cirurgia de equinos. Realizando trabalhos com clínica e cirurgia de pequenos animais.

5Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Agronomia – UFPI, na área de Manejo de Espécies Vegetais, com área de concentração a Fitossanidade.

6Graduanda do 9º período em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão.

7Graduanda do 9° período de Medicina Veterinária pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

8Médica Veterinária pela Universidade de Santo Amaro-UNISA

9Doutora em Biotecnologia pela RENORBIO/UFPI.

10Pós-graduanda em clínica médica de animais de companhia pela UniFil.

11Graduanda do 4° período de medicina veterinária pela Faculdade Doutor Francisco Maeda (FAFRAM) – Ituverava- SP.

12Graduanda do 10° período de Medicina Veterinária pela Universidade de Sorocaba (UNISO).